V – Passeando até à Escócia 2011

24 de Agosto de 2011

Depois de um dia no limbo, em que conduzir foi a coisa mais bonita que me podia ter acontecido, acabei por dormir numa Bed & Breakfast – Lyn Leven Guest House, muito simpática, junto ao Loch Leven, a 2 ou 3 quilómetros da Glencoe Village.

Ali conheci um senhor que viajava com a filha adolescente. Tinham chegado à Escócia naquele dia de manhã e andavam a passear num carro alugado. Foi muito engraçado e agradável descobrir que estávamos todos a conversar, com alguma dificuldade, em inglês quando eles eram franceses!

De repente soltaram-se as línguas, fomos jantar a um bar ali perto e falamos durante todo o serão! Que bem que soube voltar a falar sem ter de pensar nas palavras, reformular as frases e constatar que o meu vocabulário inglês é miserável!

De manhã fui tomar o pequeno-almoço e deliciei-me com tudo o que este incluía! Na Escócia não se passa fome!

Tinha um longo caminho a percorrer e uma longa fila de “coisas a visitar”! Ao reformular a minha viagem mantivera a ideia de ir a Aberdeen, depois de comunicar por mail a pousada de juventude, anunciando a minha “desgraça” e o meu atraso, recebera uma resposta muito simpática, desejando boa recuperação para a minha motita e a mudança da reserva para o dia 24, sem problema!

Por isso o meu destino era Aberdeen! E desatei a improvisar até lá! eheheh

Logo à frente o cemitério da vila era lindo! Acho que se vivesse naquele país iria andar a catar os cemitérios todos!

Depois comecei por explorar a zona, porque os lagos sempre me apaixonam e a beleza da zona era impressionante!

E fui até Fort William, que fica mais à frente, na margem de um outro lago maior, que faz fronteira com o Loch Leven: o Loch Linnhe

Fort William fica pertinho do sopé do Ben Nevis, a maior montanha da Grã Bretanha, que é impressionante não tanto pela sua altura, mas sim pela sua configuração: o maciço granítico eleva-se do chão quase verticalmente e a bruma permanente dá-lhe um ar enigmático.

Não o poderia ver, o tempo estava encoberto e eu tinha pouco tempo… teria de ficar para outra vez…

Fui recebida de novo por um dia cinzento, daqueles que fazem com que a manhã pareça tarde e a tarde pareça noite! Claro que a igrejinha me chamou a atenção, sempre com o cemitério em volta!

Já me habituara a não resistir àqueles sítios mágicos e sagrados!

The St Andrew’s Episcopal Church, uma igreja muito bonita do sec XIX, é conhecida como “Queen of Highland Churches” – Rainha das igrejas das terras altas!

Estavam 3 padres lá dentro e eu perguntei se podia tirar fotos à igreja, simpaticamente eles disseram que sim.

Só depois percebi que estava lá um caixão e que se estava preparar um funeral!!

O que havia para explorar em Fort William não estava ao meu alcance naquele momento, eu não poderia caminhar horas pela bruma para ver os montes e os penhascos, por isso dei uma volta pela zona e segui o meu caminho.

Afinal havia ali um lago lindíssimo a explorar e isso, eu podia fazer com a minha motita!

Naquele dia tudo em redor tinha o tal ar enigmático! Não conseguia parar de fotografar!

A minha motita lá andava com o trolley amarrado na garupa, sem ameaçar nunca voltar a parar! Eu ia voltando a recuperar a confiança nela e voltava também a parar a todo o momento, por vezes desafiando a sua bateria…

A beleza do lago é indescritível e eu queria captar o máximo dessa beleza, porque ela comportava uma grande sensação que eu sabia que iria associar para sempre às fotos que tirasse…

Fiz um caminho diferente no regresso a Glen Coe, dando a volta ao Loch Leven, vale sempre a pena ir por outros caminhos pois são sempre lindos!

O Glen Coe estava envolto em bruma, alguns picos não eram mais visíveis!

Uma perspectiva e uma sensação muito diferente da que tivera no dia anterior… uma experiencia maravilhosa!

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Continuei a improvisar!
A sensação de liberdade não podia ser perdida, por isso fui andando ao sabor do vento, mas sem perder de vista a direcção a seguir.

Encontrei o Loch Earn, com uma ruínha deliciosa que parecia ladeá-lo!
Nisso o GPS é um grande amigo pois, mesmo sem estar programado, vai mostrando as ruas que vou escolhendo e por ele vejo facilmente se cada ruínha tem saída!

O lago estava sempre ali ao meu lado esquerdo, com casas senhoriais e castelos de quando em quando a aparecer.

Sempre construções imponentes mas habitadas e propriedade privada.

Não chovia mas ía encontrando tudo molhado, a chuva estava à minha frente e parecia deslocar-se na mesma direcção que eu! Sou uma mulher de sorte!

Abandonei a moto diversas vezes para ir explorar a zona

Lá estava a minha Magnífica à minha espera lá à frente em cima da ponte!

Encontrei um parque de bungalows, estava a chegar à “civilização” da outra ponta do lago, certamente!

Chegava efectivamente à outra ponta!

St Filliens é logo ali à frente

E desci de novo até Stirling… eu não vira tudo o que queria quando lá estivera porque não estava no meu próprio meio de transporte! Mas agora estava!

Eu queria ver o monumento a William Wallace!

Fui lá acima, mais uma vez de mini-coach porque nenhum veículo lá pode ir e a subida prometia ser íngreme para ser feita a pé!

William Wallace foi um guerreiro escocês do sec XIII que conduziu os escoceses na resistência ao domínio inglês.

O seu comando foi fundamental na Guerra da Independência Escocesa, quando Eduardo I aproveitou a desordem e desunião provocada pelos conflitos entre os clãs e avançou sobre o país para o subjugar

Wallace venceu o exército de Eduardo I de Inglaterra na “Batalha da ponte de Stirling” ou “Stirling Bridge”. A sua história acaba numa terrível execução, mas a independência da Escócia pôde ser restabelecida por Robert the Bruce pouco depois.

The National Wallace Monument foi erguido, no sec XIX, no topo do Abbey Craig, uma colina de origem vulcânica. Este monumento foi motivo de diversas polémicas desde a discordância do local até ao estilo da construção (gótico vitoriano).

Cá fora pode-se acompanhar uma pequena encenação de uma conversa de Wallace e o seu confessor, sobre os seus pensamentos e raciocínios sobre a situação da Escócia e a sua acção junto dos escoceses.

Subi a torre, onde se pode seguir, andar a pós andar a história do herói e seu povo.

Lá pode-se ver uma réplica da sua espada e, segundo a legenda, a verdadeira também… mas, será ela a verdadeira? Dado que esta é uma espada de 2 mãos e ele usaria uma espada de uma só mão, pois a outra seguraria o escudo?

A espada é monumento nacional e mede 1.52 metros de comprimento e pesa 2.72 quilos.

Lá de cima pode-se ver Stirling e a colina do castelo ao fundo.

E a curva do Rio Forth, o tal que vai até Edimburgo.

Voltei à estrada, ainda envolvida pela história e pela sensação de ter estado tão perto de um herói que admiro…

Segui para St Andrews, a “casa do golf”, mas o que me chamava lá era mesmo a catedral!

A St Andrews Cathedral do sec XII foi deixada ao abandono com a reforma e hoje, em ruínas, mostra ainda a dimensão que teve e que fez dela uma das maiores do reino.

É sempre uma sensação forte encontrar um monumento daquela dimensão e importância em ruínas…

Aquela torre quadrangular pertenceu a uma construção anterior, românica

A grande catedral era gótica

Começava chover um pouco e as pingas da chuva estragaram algumas fotos, ao deixarem manchas na lente… uma pena!

Não podia deixar de pensar cá dentro no silêncio da minha cabeça “como puderam fazer tal bosta com um monumento destes e deixa-lo cair assim?”

Saí finalmente dali, depois de horas de contemplação, e fui ver a costa, ali mesmo ao lado

onde há mais ruínas, as do castelo do sec XIII!

A praia… não tem areia! Nem é praia! Chama-se o quê a uma “praia” sem areia e forrada de pedra?

Tudo parece estar reduzido a pedra sobre pedra naquela ponta da cidade!

Peguei na moto e fui ver o outro lado da cidade, lá, onde as coisas estão direitas e há gente e tudo!

Há casas que parecem monumentos nacionais!

E há a universidade! Uma das mais importantes do mundo de expressão inglesa!

Tinha de continuar o meu caminho para Aberdeen!

O Glamis castle estava fechado quando lá passei… mais um sitio a visitar da próxima vez!

E pus-me a andar para norte

sem deixar de espreitar por cima dos muros que cobriam mal palácios que mais pareciam castelos!

Fim do 19º dia de viagem!

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25 de Agosto de 2011

A sensação que tive ao passear-me por Aberdeen é de que tudo era cinzento naquela cidade! Desta vez não era apenas o céu que era cinzento, todas as casas e construções o eram!

Vim a descobrir então que ela é conhecida como a cidade do granito! E é nessa pedra que tudo parece ter sido feito!

Logo ali fica o Mar do Norte, aquele onde se pesca o bacalhau, mas não daquele lado! E a cidade tem 2 rios: o Don e o Dee, que se cruzam ali mesmo ao desaguar no mar.

A Union Street é uma das ruas principais da cidade e a rua das compras, toda ela cinzenta, também conhecida pela ‘Granite Mile’ e começa na “Castlegate”, ou “Mercat Cross”.

Esta “Castlegate” fica onde já existiu um castelo, daí o nome. Ali fica ainda a Castle Street!

Ao fundo fica ainda o The Salvation Army Citadel uma construção medieval no local onde ficava a porta do castelo no sec XIV.

O Marischal College é um edifício imponente! Pertence à Universidade de Aberdeen que é também uma das grandes universidades do país.

A Kirk of St Nicholas é a igreja paroquial da cidade

está rodeada por um cemitério muito estranho em que as tumbas parecem mesas pois as lápides estão colocadas horizontalmente sobre suportes! Aquilo dá-lhe um ar de desarrumação bizarro!

Aberdeen não é a cidade mais bonita do mundo nem é uma cidade para voltar a visitar! Para mim, foi mais uma cidade estratégica, que ficava numa zona que eu queria visitar, por isso segui em busca do que havia para ver por ali, a caminho de Inverness.

Logo à frente encontrei o castelinho de Tolquhon.

Uma das coisas que eu queria descobrir naquele país eram castelinhos desconhecidos, pouco fotografados e este era fofinho!

O Tolquhon Castle é um castelinho delicioso e pitoresco do sec XV, rodeado de um relvado impressionante tão fofo que os pés se enterravam profundamente nele!

Claro que molhei os pés todos, com a chuva da noite aquilo parecia uma esponja gigante embebida em água!

Fui explorando a beleza do caminho, parando aqui e ali para fotografar

Mais à frente umas milhas encontrei, num recanto do paraíso, encontrei mais um castelinho

Lá estava ele, o Kildrummy Castle, um castelinho encantador do sec XIII!

Embora em ruínas, continua a ser um bom exemplo de um castelo do século 13, é conhecido como o mais nobre dos castelos do norte!

Os meus pés que nem tinham tido tempo de secar voltaram a ficar ensopados em mais aquela relvinha fofa e molhada…

Na recepção do castelo a senhora falou-me de um outro, muito interessante, mais à frente um pouco, numa aldeia com um nome esquisito que tive de escrever num papel.

Fui procura-lo…

depois de passear um pouco por ruas muito interessantes, lá estava ele, um castelo bem fofinho, o Glenbuchat Castle.

Este é um exemplo notável de “Tower-House” (torre-casa) escocesa do sec XVI, a planta é em Z e tem torrezinhas redondas nas pontas! Muito bonito!

Mais uma molha nos pezinhos para explorar a zona relvada!

Havia cavalinhos por ali! Mesmo giros e pequeninos!

E não resisti em ir explorar um cemitério com uma igreja abandonada no meio, que vi da estrada!

Curiosa a entrada no cemitério! Por cima do muro com direito a escadinhas para o subir de um lado e descer do outro! Encontrei várias “entradas” como esta por lá! São práticos aqueles escoceses, heim?

A igreja de St Mary, uma antiga igreja paroquial do sec XIII, embora aparentemente abandonada, tem um relvado muito bem cuidado, tanto fora como dentro do templo em si!

Parece que todos os recantos daquele país são encantadores, basta a gente deixar-se ir e seguir calmamente a estrada

que os cenários idílicos cruzam connosco a todo o momento! Ao longe o Auchindoun Castle do sec XV.

E cheguei ao Balvenie Castle, um castelo do sec XII, que fica mesmo no meio de uma zona de destilarias!


Ao lado do castelo fica a destilaria Balvenie, que estava aberta a visitas.

Toda a redondeza cheira a açúcar e a álcool fresco e açucarado!

Continuei o meu caminho e cheguei de novo perto do Mar do Norte lá em cima, no norte, onde queria visitar a Elgin Cathedral… linda na sua beleza arruinada!

Elgin Cathedral foi dedicada à Santíssima Trindade, era gótica, do sec XIII e devia ter sido linda e imponente…

Não consigo ficar indiferente a uma construção desta envergadura e pressentida beleza, em ruínas! Como foi possível deixa-la chegar a este ponto?!

Andei por ali muito tempo…

Se um pouco de tecto tem toda esta a beleza e engenho, como seria o tecto da nave central da catedral!

Quando se confunde a perda de respeito por uma religião com a perda de respeito pela arte que lhe está associada… destrói-se beleza que foi incalculável, para sempre!

A sensação de perda deixada pela visita de mais uma catedral imensa em ruínas, acompanhou o meu caminho e permanece até hoje comigo… são muitas, são muito grandes, são muito bonitas! Mais bonitas terão sido na sua época, parece impossível que sejam tantas as que foram abandonadas e destruídas, sem dó nem piedade!

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Descobri que ali pertinho ficava uma destilaria desactivada que funcionava apenas como museu, a Dallas Dhu Distillery. Estava contemplada no meu passe Historic Scotland, o que queria dizer que não pagaria entrada.

Já visitara uma destilaria em pleno funcionamento em Stirling, agora podia visitar esta, como museu, e tirar fotos lá dentro e tudo!

A Dallas Dhu Distillery foi construída no final do sec XIX, na época do boom do whisky, e desactivada nos anos 80 do sec XX, quando passou a exposição.

Deixa ver se consigo explicar em meia dúzia de palavras o que aprendi sobre o processo de como se faz o whisky!

Depois da visita guiada em Stirling, esta segunda visita ajudou-me a entender melhor, pois nesta o audio-guia falava em inglês e na outra o outro senhor falava com sotaque gaélico! eheheh

O whisky é feito em 4 fases morosas:

1. Malting – quando se prepara a cevada para se transformar em malte

2. Mashing and fermentation – quando se transforma o amido em malte e a maltose no álcool do malt whisky, nestas “cubas” gigantescas.

3. Distillation – em varias destilações, nestes alambiques enormes de cobre, obtem-se o malt whisky com 65º (que moca!).

4. Maturation – o whisky é envelhecido em barris de carvalho durante 8 a 10 anos! Voilá!

Foi muito interessante visitar toda a destilaria por conta própria, enchi um bolso de malte que me acompanhou o resto a viagem até casa e tudo!

No fim da visita voltei a provar um delicioso whisky! Realmente lá ele tem um sabor único! Porque é de lá e porque é lá!

E lá fui eu toda alegre (alegre de contente, não de “bebida”!) para Inverness.

Pelo caminho fui visitar o Fort George, uma construção extraordinária em forma de estrela, que só é visível quando chegamos perto, dado que fica “enterrada” no solo!

Este forte é uma grande construção do sec XVIII e serviu para pacificar as Highlands em épocas menos pacíficas de rebeliões.

Quando lá cheguei o Fort estava quase a fechar, eram quase 5.00 h, por isso tinha pouco mais de 30 minutos para ver tudo o que pudesse!

E deu para ver bastante! Deu para ver, por exemplo que dali a paisagem sobre o braço de mar que entra em terra até Inverness é de uma beleza extraordinária!

Num pequeno relvado noutro nível da muralha via-se um cemitério tão bonito!

Todo o Fort apresenta um relvado lindíssimo, espesso e bem tratado, onde se pode caminhar ou sentar sem restrições!

Quando voltei à moto ela tinha feito uma amiga!

O sol quando aparece torna aquele pais um dos países mais belos que conheço…

E cheguei a Inverness!

Inverness é um daqueles nomes míticos para mim! Um nome que associo a lendas, historia e passado! Era uma das cidades que eu queria visitar desde sempre!

Os ingleses chamam-lhe “Mouth of the River Ness” (boca do rio Ness) na realidade o Loch Ness transforma-se em rio e atravessa a cidade até atingir o mar!

Lá em cima, na margem do rio, fica o castelo, recente, do sec XIX. Nem valia a pena tentar ir ver, estava fechado!

O rio Ness tem tanto de mítico como de lindo!

Fiquei tão maravilhada com a sua beleza que não me apeteceu andar tanto pelo centro da cidade e sim manter-me por ali!

Logo à frente começava o Loch Ness, um lago longo e estreito que contornei, calmamente, pressentindo o ambiente mítico que o rodeia!

Ali paira ainda a lenda do Monstro de Loch Ness, Nessie para os amigos, embora o governo escocês tenha declarado já que o bichinho não existe!

No entanto, dias antes de eu lá chegar, o noticiário da BBC comunicava que tinham sido registadas movimentações no interior das águas do lago…

Com águas tão calmas como estavam naqueles dias, a fazer efeito de espelho perfeito, não seria difícil registar qualquer movimentação debaixo das águas!

O Nessie é um brincalhão e o governo escocês devia ser mais inteligente e alimentar o bicho e o mito, pois o mundo inteiro passa por lá um dia por causa do monstrinho!

Eu iria dormir ali perto, em Great Glen, por isso tinha todo o tempo para explorar a zona e aproveitar o sol, lindo!

A felicidade é feita disto também! Passear pelo paraíso, sem nada para fazer para além disso!

Encontrei o memorial aos comandos. The Commando Memorial foi construído nos anos 50 do sec XX em homenagem a todos os comandos ingleses mortos na Segunda Grande Guerra

Fica ali, no meio de uma paisagem deslumbrante e tem sempre visitantes!

Ao lado fica The Garden of Remembrance, acrescentado posteriormente, um circulo onde as pessoas rendem homenagem aos seus entes queridos, mortos noutras guerras como nas Guerras das Malvinas, do Afeganistão ou do Iraque.

O sol começava a querer desaparecer no horizonte em tons e cores lindíssimas…

Fui para casa, que desta vez era nas highlands, pois a noite ía ser bastante fria!

Fim do 20º dia!

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26 de Agosto de 2011

“Precisava de tanto tempo mais para explorar este paraíso!

Todo o tempo do mundo seria pouco para eu poder ver o que esta terra tem para me mostrar… há uma infinidade de paisagens inesperadas, de castelos lendários, de lagos misteriosos, que me chamam e eu não posso ir!

Tenho de decidir para que lado, para que universo vou, porque apenas me resta 1 dia, quando eu precisava de tantos!

É difícil a decisão… quando me apetece decidir ficar!

Felizmente está sol, senão eu iria lamentar amargamente a sensação de perda que trago comigo desde Glasgow!

Tenho de ir para a ilha de Skye, não posso passar sem lá ir, e tudo o resto ficará na minha consciência como um peso como “aquilo que eu não pude ver”!

Um dia eu vou cá voltar e vou querer rever tudo o que vi, mas vou trazer comigo o tempo todo que preciso para explorar o mundo inteiro que não vi!”

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Estava sol e eu decidi ir para a ilha de Skye…

Decidi que, independentemente do tempo que tinha, não iria correr! Iria demorar todo o tempo que precisasse para visitar a ilha à minha maneira.

Skye é uma ilha lindíssima, agreste e pouco habitada, cheia de paisagens deslumbrantes e estradinhas bonitas de percorrer e eu fui ver tudo isso, sem mais nenhum objectivo na cabeça!

Valeu a pena!

Tudo valeu a pena, desde o momento em que saí do hostel, pois o percurso entre o Great Glen e a Skye Bridge (a ponte que liga a Escócia à ilha) é simplesmente deslumbrante!

Não conseguia progredir no caminho porque parava a todo o momento, tal era a beleza da paisagem!

“puxa, se o caminho é assim como será a ilha?” pensava eu a cada passo “será que já cheguei à ilha e nem dei por ela?!” lembrei-me em alguns momentos, considerando a fama de beleza da ilha, eu não imaginava muita coisa mais bonita do que estava a ver por ali!

O Great Glen, onde fica o Loch Ness, fica lá mais atrás, por baixo das nuvens!

E a paisagem parecia um cenário quase artificial, até para mim que estava lá, quanto mais agora, vendo-a na fotografia!

O loch Cluanie

Parei junto a uma berma cheia de montinhos de pequenas pedras! Não entendi o que era nem porque alguém os tinha feito! Julgo que foram feitos por muitas pessoas que ali vão ou passam, mas não entendi porquê! Não havia nada nem ninguém por perto que mo explicasse! Intrigante!

Cheguei ao loch Duich, já um lago de mar.

Logo ali fica o Lochalsh , um outro lago-mar que separa a ilha do pais em si.

Apenas “rolar” por aquelas estradas é já um deslumbramento! Tal como o Glen Coe, a montanha ali é surpreendente!

Eu costumo dizer que cada montanha, cada cordilheira, tem a sua personalidade. Podem até ser parecidas, mas há uma alma diferente que as distancia e as torna únicas!

Por isso Pirenéus, Picos da Europa, Alpes, até podem ser aparentemente “parentes”, mas são bem diferentes! Ali acontece o mesmo, até parecem os montes do Glen Coe, até fazem lembrar algumas paisagens verdejantes dos Alpes centrais da Suiça, mas não são! Sente-se!

A maré do lago estava baixa e a cor da turfa que deixava para trás era espantosa e fazia um efeito surpreendente!

O sol foi uma bênção naquele dia!

Graças a ele e ao céu azul, todas as fotos que tirei ficaram simplesmente espantosas!

E digo uma bênção porque estou a falar de um país que, por ano, não tem mais que uns 48 dias de sol! Isto é, mais de 80% do tempo é de chuva!

Eu tive a sorte de viver vários dias de sol, e um deles, foi este!

De repente ao longe vislumbrei um dos castelo que eu queria tanto ver! O Eilean Donan Castle, do sec XII, foi a casa do Clan Macrae, é hoje o castelo mais fotografado da Escócia.

Não o fui visitar. Na realidade eu nunca o quis visitar, apenas o queria ver e fotografar na sua paisagem, no seu ambiente!

Passei ali uma infinidade de tempo a satisfazer o meu desejo de o fotografar! Tirei umas dúzias de fotos! Eheheh

E lá fui seguindo o meu caminho, meio relutante, de tal maneira me senti bem ali…

A ponte de Skye é apenas um pouco mais à frente e entrei na mítica ilha…

A ilha tem diversos lagos, que não são mais do que braços de mar que entram nela. São os Sea-loch.

Cada milha que andava era mais uma milha de paraíso…

Ali ao fundo os rochedos afiados e escarpados a que chamam os “the old man of storr”

A estrada segue junto à costa e não é difícil acercarmo-nos das escarpas e dos pontos mais interessante a pé!

Pela dimensão das pessoas no topo esquerdo da foto pode-se sentir a dimensão do morro!

Skye, como toda a Escócia, é para ser visitada lentamente, docemente, sem correria, apenas deixar deslizar a moto suavemente por ali.

As ruas são estreitas por vezes e é preciso parar para deixar passar.
No outro extremo da ilha, ali logo depois de contornar a ponta e começar a voltar para cá, fica o The Skye Museum of Island Life, inaugurado em 1965, com o objectivo de preservar uma aldeia de cabanas de colmo, cada uma retratando, tão perto quanto possível, as condições existentes na ilha no final do século XIX …

Há muito poucas casas destas na ilha, por isso acho que o objectivo deste pequeno museu é louvável!

É curioso ver de perto como as coisas eram feitas e preservadas antigamente, como a forma de acondicionar o colmo e prende-lo com redes e pedras!

Dentro das casinhas pode-se ver como eram as mobílias e os utensílios domésticos e de trabalho da época.

Seguindo por uma ruínha estreita, logo à frente fica um cemitério histórico que fui visitar. O Cemitério Kilmuir é histórico por uma série de tumbas medievais que lá se podem ver, diferentes de tudo.

Mas o que faz este cemitério ser famoso é o jazigo de Flora MacDonald, que viveu no sec XVIII e ficou na história como uma heroína porque ajudou Charles Edward Stuart, conhecido por “Bonnie Prince Charlie”, quando este tentou reclamar o trono de Inglaterra. Não foi bem sucedido e Flora foi presa na Torre de Londres. Mais tarde foi libertada e emigrou para a América, mas foi morrer à sua terra, onde é até hoje aclamada pela sua coragem.

Diz-se que no seu funeral estiveram presentes 3.000 pessoas (uma enormidade para uma ilha tão deserta ainda hoje) e que estas pessoas beberam 300 litros de whisky, há que afogar a dor!

É curioso descobrir nos locais, sem contar, pormenores desconhecidos da história que se conhece!

Segui ainda a matutar na história que lera, por uma ruela única no meio de nada, longe da também estreita estrada nacional que fizera até ali. Gosto de explorar ruínas e ali então, era sempre um prazer e uma descoberta.

Quando voltei a encontrar a estrada nacional, de repente havia carros parados, assim sem mais nem para quê!

Só depois de observar melhor é que percebi o motivo: estava tudo a ver as vacas peludas!

Continuei o meu caminho pelo outro lado da ilha.

Até encontrar a Estrada que me levasse para a outra parte norte da ilha, a oeste, lá onde fica o Dunvegan Castle, o castelo do chefe do Clan Macleod!

Diz-se que é o castelo mais antigo habitado continuamente na Escócia e tem sido o reduto dos chefes do clã há quase 800 anos!

Tem os interiores bem conservados, cheios de retratos de família e pertences dos habitantes de outras épocas…

e jardins muito bonitos.

O castelo fica na margem do Loch Dunvegan, um lago-mar, de onde se pode partir de barco para ver as focas.

Não fui ver as focas, visitei o castelo e os jardins, andei por ali uma infinidade de tempo e continuei o meu caminho.

Ao fundo o Munro Blaven de Torrin, espantoso – Munro é um mote com mais de 3.000 pés de altitude.

Um dia vou explorar melhor aquele recanto do paraíso…

Aventurei-me um pouco por caminhos bem mais interessantes…

Mas de repente eu só tinha fome, dei-me conta de que não almoçara ainda! Eram quase 5.300h!

Fui para Portree e acabei por pedir o famoso fish and chips … não estava bom nem mau, (eles não temperam nada, nem o peixe nem as batatas e depois põem aqueles potinhos com molhos para a gente disfarçar a falta de gosto da comida!) mas com a fome que tinha qualquer coisa servia para eu comer!

E foi hora de…

Portree, não é bonita nem é feia! É a capital da ilha, tem uma paisagem envolvente bonita e mais nada!

Voltei para a estrada, havia ainda muita coisa lindíssima para ver!

Regressava para o Great Glen com a ideia de dar uma volta pelo Loch Ness

Todos os caminhos são deslumbrantes por ali, basta a gente perder-se um pouco por lá e simplesmente passear! Encontrei uma das raras casas típicas da ilha e tudo!

Mas de repente o tempo deu uma volta sobre si e mudou de forma drástica e o céu desabou sobre mim!

Só tive tempo de meter a maquina fotográfica dentro do blusão e seguir pelo meio do temporal que saiu nem eu sei bem de onde!

Refugiei-me no hostel e já não fui a mais lado nenhum, tinha esgotado o meu dia de sorte, era melhor não abusar!

Da janela do meu quarto ainda vi o tempo melhorar qualquer coisa, mas já não me apetecia sair de novo!

O céu estava baixo de qualquer maneira e o tempo gélido!

Fim do 21º dia de viagem!

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27 de Agosto de 2011

A reformulação da viagem, após a avaria, obrigara-me a deixar um percurso muito longo, no regresso a Londres, para tentar aproveitar ao máximo o tempo que pudesse na Escócia, por isso este dia foi passado quase totalmente a conduzir e fiz 1.050 km até ao meu destino.

Não resisti em partir sem dar uma volta pela zona. O tempo estava chuvoso mas mesmo assim fui dar a volta ao lago mais famoso, em tom de despedida. A vontade de ficar mais um pouco tornou a despedida triste, ainda por cima era bastante cedo e não havia ninguém nas ruas… enfim, todos os ingredientes para uma despedida como convém!

Há vários símbolos e representações do monstro do lago junto ao centro da NessieLand

Havia motards alojados no local, deixei a minha motita junto das deles para ficarem amigas.

Estava tudo a dormir ainda…

Tirei as últimas fotos com o lago como fundo

Fiquei ali a olhar longamente a paisagem, não tinha mesmo vontade nenhuma e partir!

Segui o meu caminho por via-rápida. Tinha muitos quilómetros para fazer não havia tempo para nacionais.

Fiz um grande trajecto atrás de um grupo de 5 motos da polícia, que me fascinou pela coordenação e plena confiança entre si, que demonstravam! Conduziam como se fossem um único veículo, moviam-se sem desfazerem a formação, mesmo quando se tratava de ultrapassar um camião, onde apenas os da direita tinham visibilidade para fazer a manobra! Fascinante forma de conduzir!

A distância entre eles era sempre constante, inclinavam todos exactamente ao mesmo tempo para uma ultrapassagem e nunca desfaziam a formação de 2+2+1! E não circulavam propriamente a velocidade legal! Eu ía a 140km/h, por isso eles iam a mais!

Mas eu também não sou pessoa para fazer uma corrida sem parar e havia ali uma cidade a meio do caminho que eu queria muito visitar. Tinha-me distraído na subida com outras coisas, mas não a podia deixar passar na descida!

Tinha de passar em Chester, uma cidade histórica lindíssima, a meio do país, cheia de ruínhas e casas medievais espantosas. Ali fica a loja mais antiga do mundo a funcionar desde o sec XI, não a encontrei…

Pedi a um polícia, junto da câmara da cidade, que me dissesse onde podia pousar a minha motita, pois não tinha tempo a perder a dar voltas e voltas à procura de um lugar!

E fui explorar a cidade, comer qualquer coisa e deliciar-me com tudo o que havia ali para ver!

A cidade tem imensos edifícios de paredes de madeira que remontam aos tempos de Tudor.

Uma terra encantadora onde apetece ficar uns dias!

Cada volta que se dá revela mais um recanto encantador!

A catedral deixou-me a pena de não a poder visitar, não teria tempo de o fazer!

Uma construção que vem desde o sec XI, mistura os estilos Românico e Gótico e é linda….

The Eastgate Clock, é o relógio mais fotografado da Inglaterra, depois o Big Ben! Está no sitio onde ficava a entrada da fortaleza romana que ali existiu.

Claro que fui procurar o caminho que me levasse lá acima!

O relógio diz ele próprio de que ano é, nem tive de perguntar a ninguém!

Lá de cima a vista sobre a rua com o mesmo nome: The Eastgate streat, para um lado

e para o outro

ali ao lado fica uma casa do ano 1395!!

Então continuei a minha viagem em direcção a Londres, sempre por via-rápida, apreciando o mesmo país que eu visitara por nacionais, dias antes, e o interesse era diminuto, perto que eu sabia que existia por ali para ver!

A minha vontade de sair e engrenar por uma ruela qualquer era grande mas fui-me contendo, nunca mais chegaria a Londres se me pusesse a explorar ruelas…

Lá fui tirando umas fotos de quando em quando, ao ver passar construções em feno nas bordas dos terrenos! Vi vários castelos feitos de fardos de feno mas foi um urso que me espantou!

Um urso construído em fardos de feno não é obra de qualquer um! Espantoso!

Lá cheguei a Londres cheia de fome (o meu estado natural, eheheh) e fui directa ao Ace Café, com a ideia no franguinho com batatas que lá comera “milhares” de dias antes!

Estava por lá uma animação! Um evento que reunia carros e motos antigos

O franguinho estava óptimo e a cerveja deliciosa!

Depois lá fui espreitar a festa, para lá de um carro da polícia, no palco, onde dois tipos imitavam o Blues Brothers acompanhados por uma série de fulanas de chapéu. Alguém sugeriu que eu fosse lá para o meio já que também tinha chapéu!

Ok dancem vocês que eu já trago uma “milena” de quilómetros no corpo!

Acabei a noite a conversar lá fora com uns motards muito simpáticos que queriam saber de onde eu vinha “eu venho da Escócia!” pois, mas de que país era eu? “há, sou portuguesa” e tinha vindo de Portugal com a moto no ferry? “não, fiz por terra tudo o que pude!” mas isso dava para aí uma porrada de quilómetros! “claro, aí é que está a piada!” e onde estavam os meus amigos? “os meus amigos?! Estão em Portugal porquê?” puxa eu tinha vindo sozinha? Não tinha medo? “o vosso país não é um país seguro?” sim claro “então de que devo ter medo?”…

Um dia querem vir à concentração dos Piguinos, não se sentiam atraídos por Faro por ser muito quente e eles não estão habituados ao calor, além de ser muito longe do ferry…

Fui finalmente para o hostel, uma casa giríssima que eu já conhecia de ter passado à porta quando estivera em Londres dias antes.

Casa gira, pessoal super simpático e ambiente muito agradável!

Sentei-me de pernas para o ar num grande sofá e liguei-me à net de borla, a falar com o mundo!

Fim do 22º dia de viagem…

(continua…)

8 thoughts on “V – Passeando até à Escócia 2011

  1. Gracinda, aqui fiquei sem palavras….

    Deslumbrante. Fantástico, cheio de beleza, de harmonia!
    Esta parte me encantou porque sou uma “apaixonada incondicional” da natureza.
    Simplesmente está lindo!!

    Bjs Simone

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