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– Passeando até à Suiça 2012 … e muito mais além!
– O dia do azar! –
Cucu!
Já de volta, começo a apreciar, escolher e reviver cada foto…
São muitas, são bonitas, são cheias de história, estórias e sentimentos.
Esta viagem foi das mais difíceis e mais sofridas que me lembro de ter feito!
Longe vai o tempo em que nada acontecia e eu partia e voltava em paz, depois de ter visto e visitado tudo o que encontrava pelo caminho! De repente, parece que tudo acontece antes de eu partir… e às vezes durante também!
Depois de ter decidido e decretado onde queria ir este ano… a minha Magnifica ressentiu-se do seu desgaste e pediu-me ajuda! Gastei todo o dinheiro amealhado no porquinho para a viagem, a mudar-lhe o alternador e a fazer a revisão para que ela pudesse continuar a gozar de boa saúde…
Claro que, na conjuntura atual, gastar as economias do porquinho mealheiro foi um golpe duro! De repente fiquei sem saber se poderia ir de viagem! Ainda eu nem sonhava o que mais se preparava para acontecer!
Lá me fui e me foram convencendo a continuar com o meu projeto e ir!
Sou uma pessoa que não precisa que a convençam do que quer ou deve fazer mas, numa situação destas ajuda um “Vais pois! O resto depois se verá!” (grande moçoilo!)
O programa foi-se aperfeiçoando, o percurso foi floreado, como eu gosto de fazer, procurar tudo o que poderá interessar no meu caminho e a alegria voltou a reinar cá pelo meu lado…
Então, apenas 4 dias antes de partir, foi o dia do azar, uma garrafa de água se abre dentro da minha carteira e afoga a minha máquina fotográfica e o meu telemóvel… sem concerto! Para além de empapar todos os documentos, papeis e até dinheiro!
Mas o azar não estava esgotado, no mesmo dia, ao estacionar a moto no lugar de garagem onde fica o Jeep, a moto do Filipe e a minha, encaixados como num puzzle, a manete do travão encrava, a moto não pára, bate na coluna, continua a andar e bate na moto do Filipe… caem as duas, contra as colunas…
Desespero, até para levantar as motos do chão está difícil pois caíram em recantos e posições que torna difícil a operação… O prejuízo? Nem convém falar!
Não sou uma pessoa frágil nem chorona mas há momentos que até os heróis choram e se desesperam!
“Filipe parti a minha moto e a tua! Não há nada a fazer, só trabalhar para pagar!” dizia-lhe eu ao telefone…
Quando ele chegou ficou pasmado com a obra! Mas não perdeu a sua calma. Pôs-se a trabalhar na minha moto com o mecânico da Honda – Motoboxe, que fica mesmo por baixo da minha casa, e costuraram a carenagem da minha Magnífica! Furinho aqui, furinho ali, umas fitinhas de plástico e a coisa ficou fixa!
“Vais fazer a tua viagem sim, porque o problema da moto é só plásticos e isso não a vai impedir de andar!” – determinou ele quando eu disse que já não ía a lado nenhum!
E foi assim que parti, com a Magnífica toda partida!
Decidi que nada diria sobre o acontecido para que ninguém se preocupasse nem me preocupasse com perguntas, nem me falasse do assunto durante a viagem! Já me bastaria ter de ver a minha Magnifica partida todos os dias… As fotos durante a viagem, seriam feitas sempre com a moto voltada do lado esquerdo! Se há quem goste de ser fotografado pelo seu melhor ângulo, porque não fazer o mesmo com a minha motita?
E lá fomos, eu e ela por 18.660 km…
Muita gente se preocupou, por esses países, e me abordou querendo saber se eu tinha tido um acidente, se estava tudo bem comigo! Muitas vezes tive de contar a história…
E o azar acabou e tudo acabou bem, no final…
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– De casa até Vitória-Gasteiz –
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Depois da desorientação inicial, depois de acalmar o meu coração que não parava de bater desordenado… encontrei a minha motita efetivamente costurada e segura! Tinha de decidir o que fazer! Passeei-me um pouco com ela, puxei-a, acelerei, travei! Nada acusava o “estalo” que ela tinha levado! Fui ver a manete do travão, estava tudo ressequido lá por dentro, foi retirada, vista e oleada…
Nunca mais encravou, mas eu nunca mais confiei nela! Eu, que uso essencialmente o travão de mão, comecei a usar mais o travão de pé, afinal aquilo tem Dual CBS a travagem seria assistida pelo travão de mão, de qualquer maneira!
Depois só me restava voltar à minha máquina mais antiga e seguir viagem!
Mas é triste, depois de me ter habituado a uma máquina melhor, justamente quando me preparava para ver coisas lindíssimas, ter de usar uma máquina inferior! Deu-me um ataque de inconformismo e comecei rapidamente a procurar uma máquina nova! Eu sabia que não era o momento de gastar mais dinheiro, com todas as despesas que se avizinhavam, mas que se lixasse o dinheiro! Eu nem sabia mesmo se ou quando viria a poder voltar a partir, depois de todas as despesas que o azar me obrigaria a fazer!
Por isso escolhi a maquina na net, fui procura-la ao melhor preço e comprei-a na Worten! Ao pagar, descobri que ela tinha um bom desconto em talão o que me “obrigava” a fazer outra compra com ele até ao final de Agosto a contar a partir do dia seguinte!
Ora no dia seguinte era o dia de eu partir de viagem e antes do fim de Agosto eu não estaria cá, por isso, fui até lá no dia seguinte, comprei um telemóvel (para substituir o que se afogou na inundação) e segui viagem com uma máquina que viria a descobrir, pouco a pouco, a cada dia de caminho… com ela tirei quase 14.500 fotos, das quais 14.000 estão ótimas! O azar acabava ali… ou talvez não…
Mas às vezes é precisa uma certa dose de inconsciência para não se desesperar e desistir de tudo!…
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30 de Julho de 2012
Eu não sabia quando poderia voltar a viajar, por isso esta viagem revestiu-se de significado, para além do que já tinha! Afinal eu iria voltar à Suíça, com todo o tempo para a explorar, tinha uma maquina nova para fotografar, só tinha de aproveitar o máximo do que se me deparasse no caminho! Mas olhar para a minha motita partida fazia-me tanto mal!
Segui direta sem paragens de importância, até Vitória onde passaria a primeira noite. A cidade é interessante, muito movimentada e cheia de recantos curiosos! Há muito que lá queria passar com calma e desta vez foi o que fiz!
É curioso que há ruas que parecem mais ladeiras e há até escadas para as subir e escadas rolantes exteriores para os mais cansados!
Os murais sempre me interessaram, já fiz muitos inclusivamente e por ali há vários bem interessantes!
Vitória tem um “casco antíguo” interessante, com construções pitorescas e igrejas góticas muito bonitas.
As casas muito juntinhas em ruínhas estreitas criam o ambiente certo para se passear, sobretudo quando o calor é muito e nem apetece apanhar sol!
Aproveitei uma igreja (iglesia San Pedro) para experimentar as capacidades da nova máquina fotográfica, porque cá fora, com luz natural, qualquer maquina se desenrasca, agora lá dentro, com pouca luz e sem flash é que a maquina mostra o que é capaz de fazer!
Gostei bastante dos resultados!
Depois dos “apertos” no coração, só me apetecia relaxar e viver a sensação de estar “on the road again”… sem me martirizar a catar a fundo a cidade, apenas vivendo-a!
Afinal viajar não é emprego, por isso não quero ter horários, nem preocupações e, sobretudo, não ter pressas!
Apenas passear e apreciar!
Encontrei um crocodilo lindíssimo junto à catedral nova da cidade. Que coisa mais bonita e perfeita!
A Catedral de María Inmaculada (catedral nova), é um edifício neogótico de meados do seculo XX, nunca a achei muito bonita por fora, sobretudo a fachada, mas tem ângulos interessantes!
A Catedral de Santa María de Vitoria, (Catedral Vieja), é muito mais interessante e tem a seus pés a Plaza de la Virgen Blanca, com esculturas bem curiosas! A Catedral estava em missa, por isso não pude entrar! Estes espanhóis são muito misseiros!
E a Plaza de España, que faz, juntamente com a Plaza de la Virgem Blanca, a ligação do casco antigo com a parte moderna da cidade!
Relaxei passeando pela cidade, calmamente, explorei mais a maquina fotográfica do que o mundo que me envolvia, mas isso nem era importante! Afinal este era apenas o inicio de uma grande viagem!
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– Saint Jean-Pied-de-Port – Andorra – Jaca –
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31 de Julho de 2012
Foi só ao segundo dia que eu comecei a relaxar um pouco! A motita parecia-me bem, não havia porque não fazer os caminhos que sempre gosto de fazer em viagem! Gosto de estradas secundárias, ruelas e caminhos, desde que tenham um piso razoável, que a minha Magnífica é desenrascada mas não é uma Trail!
Então engrenei pelos Pirenéus como tinha planeado, havia por ali uma ou duas coisas que eu queria ver desta vez! Digo desta vez porque outras vezes lá passei e deixei muito o que ver ainda!
Eu gosto das ruínhas onde quase só caibo eu e a minha motita!
E cheguei a Saint Jean-Pied-de-Port, uma cidadezinha muito pitoresca e acolhedora, que já foi a capital da província Basca da Baixa Navarra!
Em Saint Jean Pied de Port, convergem as três grandes vias do Caminho de Santiago no território francês, de Paris, Le Puy e de Vecelay (Chemin de Saint-Jacques des Pyrénées-Atlantiques) e isso é visível pelo centro de apoio e pela igreja de Nossa. Senhora.
Da ponte sobre o rio Nive, junto à torre da fortificação, a paisagem é muito bonita
Logo ali ao lado estavam duas esbeltas senhoras… por momentos eu teria pegado em qualquer uma delas e seguido caminho! Mas só me restava continuar com a minha Magnifica mutilada, pois então!
Esta foi a primeira cidade “fofinha” que visitei nesta viagem, que foi recheada delas!
Aquilo estava cheio de gente, não sei como consegui tirar fotos sem ninguém! Acho que estava tudo a ir para as esplanadas encher-se de cerveja, pois estava muito calor!
Eu também fui, mas tirei as minhas fotos antes! Eheheh
E depois de uma bela cerveja fresquíssima (estava gente ao meu lado a por gelo na cerveja! Nunca tal tinha visto!) segui pela montanha, ali mesmo ao lado os caminhos são super acolhedores!
As vaquinhas andavam por todos os lados! Uma coisa que me stressa um pouco! Nem quero imaginar o que seria de mim se uma embirrasse com a minha Magnífica!
Mas isso nunca aconteceu! Ainda vem que a minha motita é silenciosa, assim nem chegou a assustar ninguém à sua passagem!
As paisagens são deslumbrantes!
Aqui eu andava a testar a luminosidade do ambiente e as aberturas da máquina, por isso há céus meio pálidos e outros um pouco intensos demais!
E lá estavam mais vaquinhas no monte!
Nesta viagem vi vaquinhas de 7 ou 8 nacionalidades diferentes! Curioso que me parece que falam todas a mesma língua: língua de vaca, será?
Conheço-a estufada com puré e gosto muito!
Mesmo com as vacas por perto não resisti a parar por ali, no meio de nada, com ninguem à vista e fotografar e desenhar e estender-me na erva… é tão bom sentir a liberdade de nada fazer, apenas curtir o momento!
Mais à frente eram as ovelhas, taaaantas! Aqui na zona onde vivo chamam-lhes “mecas”! eheheheh
Não sei como não desmaiavam com o calor e toda aquela “roupa” em cima! Curioso, será que as ovelhas desmaiam?!
E as paisagens sucedem-se sempre fascinantes!
Decidi ir passear por Lourdes, era muito cedo para ir para casa e eu queria lá ir, por isso não deixei para o dia seguinte, embora fosse passar lá perto…
Fui por caminhos “travessos” e cheguei lá apanhando a Basílica de um angulo diferente! Gostei muito!
Como em Fátima o recinto está sempre cheio de gente!
O sítio onde se queimam as velas parece um crematório de tanta coisa que arde ao mesmo tempo!
“Cette lumière prolonge ma prière”
“Esta luz prolonga a minha oração”
Ali se juntam, num único conjunto, três construções próximas da Gruta de Lourdes: a Basílica da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, a Basílica de Nossa Senhora do Rosário e a da Cripta.
A minha paciência nunca me deixou ficar na fila para me aproximar da Nossa Senhora… ok, da sua estátua!
Ao longe o conjunto é imponente!
Desta vez visitei a Basílica do Rosário, que fica mesmo cá em baixo junto ao recinto.
Das vezes que lá passei, ou estava fechada, ou reservada a doentes!
E fui-me embora para Jaca, que já me apetecia afastar de tanta gente!
Ainda ponderei ir lá acima ao Château-Fort… mas não fui, não me apetecia caminhar mais!
Fui mas é para casa, encher-me de comida, beber uma litrada de agua, que o calor seca a gente!
Naquela noite a minha casa era em Jaca!
Fim do segundo dia de viagem…
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De Jaca até Andorra la Vella
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1 de Agosto de 2012
Normalmente é ao 3º dia que o corpo se habitua definitivamente à sua nova condição de viajante! Sim, que o hábito de um ano não chega até ao outro! É também no 3º dia que eu começo verdadeiramente a sentir-me em viagem!
Há uma leve euforia que se apodera de mim e que, de repente me faz querer ver tudo, por ruas e ruelas, até ao sol se pôr!
Ora eu acordei em Jaca, perto de tanta coisa para ver e a montanha ali ao lado, que comecei por um destino que pretendia conhecer há já algum tempo!
Depois da voltinha matinal por Jaca, em que o forte estava fechado mas a catedral não!
Um edifício lindíssimo a Catedral de San Pedro de Jaca, que é uma das mais antigas construções românicas do país!
Com o “casco antíguo” em seu redor.
Fui até ao Monasterio de San Juan de la Peña, uma construção belíssima encravada por baixo de uma grande rocha, que é afinal todo um monte!
Quem o vê nas fotos parece pequenito, quase uma construção à dimensão de crianças!
Na realidade não é muito grande mas é bem maior do que o que parece!
É uma construção fantástica, anterior à nossa nacionalidade
Que cresceu adaptando-se à forma e ao espaço cedido pelo penhasco
O claustro é uma obra extraordinária que facilmente nos faz pensar no quanto era importante um espaço destes para meditação!
Pequenino e fofinho que parece também ele de brincar!
Diz a lenda que o Santo Graal esteve guardado neste mosteiro por muito tempo!
Aliás, segundo as lendas o Santo Graal “passou” em diversos mosteiros espanhóis!
E lá está ele, encolhido por baixo da escarpa, desde o séc. XI, espantoso!
Depois de uma infinidade de tempo a cuscar todos os recantos do Mosteiro, deixei-me ir passeando pelos Pirenéus, que ali não faltam paisagens bonitas, nem é preciso procura-las!
As estradas de montanha são sempre fascinantes de fazer, embora por andarmos perto das nuvens corremos o risco de enfiar a cabeça nelas!
Sobe-se e encontram-se mais terrinhas!
Há sempre um Col à nossa espera! Ainda bem que eu fiz o Col de Marie Blanque no dia anterior com sol, porque as nuvens cobriam-no quando voltei a passar e aquelas estradas têm piada se a gente as vir!
Claro que a névoa também pode dar um certo ar de mistério às situações, porque lá mesmo no local sentia-se isso também!
Já não é a primeira vez que passo no Château de Mauvezin, um castelo medieval com origem lá pelo séc. XI, mas ainda não foi desta que o fui visitar por dentro!
Pelo menos desta vez aproximei-me mais um pouco que o costume, mas como só faço o que me apetece… não me apeteceu entrar!
Também vi lá ao fundo Sainte-Bernard de Comminges, mas só tirei fotos, não me aproximei! Também sabe bem apreciar os conjuntos históricos de longe, por vezes a gente luta para chegar perto, com trânsito e ruelas e de perto não tem qualquer interesse!
E cheguei a Saint Béat, uma terrinha na borda do rio Garonne, um rio cheio de coisas que eu quero ver! Um dia destes vou fazer um Passeando pelo Garonne, já prometi à minha nova motita!
Não é uma daquelas terrinhas de visita obrigatória, mas quando a gente passa é simpática para se parar um pouco!
Mais à frente Luchon, de que ouvira vários motards falarem… não tem outro interesse senão as esplanadas, o movimento das pessoas e mais esplanadas… cada qual gosta do que gosta !
E engrenei pelo Vale d’Arán que é muito bonito e se pode visitar repetidamente pois os seus encantos não têm fim!
Tudo o que sobe tem de descer, e há descidas fantásticas! Pena é a plantação de postes por aqueles lados que arruína grande parte da beleza do local!
O que eu gosto da montanha!
E é no meio das montanhas que fica Andorra la Vella. A Pousada de Juventude fica mesmo na encosta, a gente sobe, sobe e pronto, é lá em cima!
Depois foi descer, descer e vir cá abaixo comer! eheheh
Ali lembrei-me que o meu amigo Elísio me pediu fotos com vacas com maminhas grandes por isso tirei uma foto aquela vaquinha « classe » !
Andorra é muito mais calma à noite e até tem perspetivas giras para se fotografar !
E fui dormir, que amanhã era outro dia com tantas coisas bonitas para ver e fazer !
Fim do terceiro dia de viagem!
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De Andorra la Vella a Montpellier
2 de Agosto de 2012
É simplesmente delicioso acordar na montanha com o sol alegre e vistoso! Antes de partir para mais longe eu queria ir a Andorra la Vella comprar o meu perfume que deixo sempre para comprar lá pois cá custa o dobro do preço! Depois seguiria pela montanha, sempre por estradinhas secundarias para França.
Não há grande coisa para catar em Andorra la Vella, quando já se passou por lá tanta vez, mas os montes envolventes são muito acolhedores! O meu Patrick (GPS) dizia-me que não faltavam estradinhas aos SS por ali acima e por ali abaixo. E foi assim a minha voltinha matinal! Deliciosa, sem me afastar da cidade
Há gente que tem o privilégio de viver com uma paisagem destas, todos os dias, do lado de fora das suas janelas!
Tal como em todos os Pirenéus, tanto espanhóis como franceses, Andorra tem igrejas românicas lindíssimas!
Esta Igreja de São Miguel de Engolasters é das mais conhecidas de Andorra, é românica do sec XII e é super “mimi”! Muitas das pinturas e murais destas igrejas pirenaicas estão no Museu da Catalunha em Barcelona, incluindo as desta igreja. Foram retirados para que não se deteriorassem mais e no seu lugar foram colocadas réplicas, por isso as igrejas não estão despidas!
Mais acima um bocado fica o lago de Engolasters, um lago muito bonito que fica lá em cima a mais de 1600 metros de altitude!
A gente vê as placas e vai subindo e vai-se questionando se há mesmo um lago no topo do monte! E há mesmo!
E forma um autêntico espelho de água!
O comércio estava aberto quando desci do monte, por isso foi só comprar o perfume e seguir o meu caminho. Segui para França por Espanha por estradas cheias de paisagens e pormenores lindíssimos!
Belver de Cerdanya lá ao fundo!
Segui um pouco pela Route des Cols que, como o nome indica, é de subir e descer, curvar e chorar por mais!
E segui para Villefranche-de-Conflent, que eu queria visitar desde que passei por ali, no ano passado ao regressar da Escócia, e vi uma autêntica romaria de gente às portas da cidade!
A cidade muralhada é medieval e está muito bem conservada. Foi construída em mármore rosa e foi sendo restaurada e mantida ao longo dos séculos.
Acima da cidadela fica o Fort Libéria, que não visitei… uma coisa que eu aprendi é que não se sobem longas escadarias em viagem ou será muito duro conduzir depois, com os músculos espalmados!
No interior das muralhas há um ambiente de férias! Muitas lojinhas de tudo, muitos turistas e as ruas cheias de gente!
Há recantos que se têm de visitar sem ninguém ou não se conseguirá ver o que o local é, para além dos turistas por todo o lado!
Ainda dei umas voltas por terras próximas, mas nada se aproxima do encanto de Villefranche, por isso segui para onde o interesse me levava!
Continuava por “caminhos de Santiago” e o Monasterio de San Miguel de Cuixá é um exemplar fantástico neste percurso, desde a idade média!
Azar dos azares… estava fechado! Então dei-lhe a volta, comi dos pêssegos do seu pomar, estavam meio verdes mas eu gosto assim! E tirei fotos do exterior, pois então! 😀
As aldeias na encosta do monte sempre prendem a minha atenção!
Enquanto eu me dirigia para Limoux atravessando a Retenue de Vinça, uma represa que proporciona imagens interessantes!
A ideia é sempre sair dos caminhos cheios de carros e gente, normalmente as alternativas são deliciosas ruas estreitinhas com paisagens para mais tarde recordar!
Esta é uma imagem do paraíso, para mim, quando ando em viagem!
E cheguei a Limoux, uma cidade que eu tinha curiosidade de conhecer desde 2009, quando perdi o meu GPS e vim de Carcassonne até Andorra comprar outro. O nome Limoux estava por todo o lado, mas eu não tinha condições de pensar sequer em visitar a cidade!
Desta vez tirei as dúvidas, é uma cidade interessante sim! Com a sua Pont Neuf do Séc. XIV sobre o rio Aude, muito bonita!
E a catedral, ou Igeja de Saint Matin do séc. XII, muito bonita, embora enfiada no meio de um transito que devia passar mais longe…
Achei piada à grande pia de agua benta, que fiquei sem saber se não seria a pia batismal, dada a sua grande dimensão!!
O que mais me arrelia quando tento fazer uma panorâmica de uma cidade é o facto de haver sempre uma grua a lixar tudo!
E segui para Carcassonne que conheço bem e sabia que ficava ai bem perto!
Estava muito calor e eu não me quis meter pela cidadela cheia de gente!
Preferi explorar novas perspetivas das longas muralhas que envolvem a cidade e proporcionam enquadramentos lindíssimos e o rio Aude!
Nesta altura o calor já era muito, não se estava bem em lado nenhum, havia muita gente por todo o lado e tudo o que me apetecia era andar para arrefecer, mas a motita começou a querer falhar!
A princípio pensei que era apenas impressão minha, já no caminho me parecera senti-la desacelerar em andamento, mas logo a seguir não se sentia mais nada! Mas desta vez parecia que algo a iria impedir mesmo de andar!
Eu afastava-me já da cidade quando ela começou a soluçar! “Valha-me Deus! Querem ver que vou ficar sem moto? ” Eu dava-lhe um pouco de embraiagem e ela não ia abaixo, mas logo a seguir engasgava de novo! Parei junto ao um grupo de polícias que estava numa sombra a monitorizar um radar (pois, isso também há lá por todos os lados!) perguntei por uma oficina Honda. Para a frente não haveria nada, teria de voltar para Carcassonne.
Indicação de uns e de outros, um senhor numa estação de serviço deu-me um mapa e fez nele o desenho do percurso até à Honda, do outro lado da cidade “vá depressa que aquilo fecha cedo!”
Lá encontrei o que procurava e cheguei a tempo!
A moto não tinha nada! A única coisa que podia ser era impureza na gasolina. “mantenha o deposito cheio e reze para que seja apenas água, porque se for impureza, vai voltar a engasgar!
Mal enchi o depósito, deixou logo de falhar! Milagre, siga para Montpellier!
Já nem parei em mais lado nenhum, apenas para pôr gasolina, pois não deixei mais o deposito chegar sequer a meio… mesmo assim, ao chegar a Montpellier, voltou a soluçar, cada vez mais, cada vez mais forte até ir abaixo à porta do hotel onde iria dormir aquela noite!
“Obrigada fofinha, já que tinhas de ir ao menos fizeste-o no momento certo, já não fico por aí stressada na rua!”
Em Montpellier eu iria encontrar-me com o meu amigo Charles, que acompanhou algumas das minhas crónicas no meu blogue, sobretudo a de Marrocos. Como eu não podia mais ir até casa dele, veio ele até ao meu hotel. Fui jantar a sua casa, conhecer a sua esposa que tão simpaticamente cozinhou para nós. Amanhã iriamos à Honda ver o que a Magnifica tinha. Ele tem uma Pan igual, não haveria problemas, estava entre amigos!
Fim do quarto dia de viagem
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De Montpellier até Nice… cheia de receios!
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3 de Agosto de 2012
O hotelzinho onde fiquei era muito simpático e o patrão estava mesmo preocupado se eu tinha quem me ajudasse com a moto, senão ele mesmo encontraria um stand da Honda para me levar lá!
Mas não foi preciso, o meu amigo Charles Formosa lá estava à hora marcada, mais a sua Pan, para me acompanhar ao senhor doutor!
Ao princípio a minha motita engasgou um pouco, mas depois parecia que nada se tinha passado no dia anterior! E eu acompanhei o Charles sem qualquer dificuldade!
De repente parecia que iria ver as entranhas à minha moto todos os dias!
E tudo para ouvir a mesma coisa! A moto não tinha nada! Tudo funcionava como um relógio, nem dava para perceber que era uma moto com tantos quilómetros!
Mas a minha preocupação mantinha-se! Que adiantava que ela não tivesse nada na frente de toda a gente se, mal se visse sozinha comigo, começasse a falhar de novo?
Não sabia o que fazer, se seguir para a frente, e continuar a viagem, se voltar para trás e acabar com as inseguranças! E diz-me o “manda-chuva” do stand: “Vá para a frente sem medo! Afinal vai andar em países civilizados, a qualquer momento se a moto falhar, chama a assistência em viagem e vai para casa, não sem antes ter feito pelo menos parte da viagem!”
O Charles era da mesma opinião, aliás ele reforçava a sua ideia de que a Magnífica chegaria ao fim da viagem sim senhor! E eu lá fui…
Já não é a primeira vez que eu tenho planos para explorar a zona da Provença e algo me impede de faze-lo! Começo a pensar que tenho de lá ir direta com a única finalidade de a catar de ponta a ponta ou acho que nunca a conseguirei ver como quero!
Ainda dei umas voltas pela zona industrial de Montpellier e pela entrada da cidade a ver se algo acontecia enquanto estava perto da oficina…
Nada aconteceu, era como se ontem nada tivesse acontecido!
Então apanhei a via-rápida e fui por ali fora cheia de cautelas, como evitar permanecer na faixa de ultrapassagem, pois a moto podia engasgar de vez e deixar-me no meio da rua!
Mas nada disso aconteceu…
Eu não gosto de viajar por autoestradas nem vias-rápidas, por isso acabei por sair em Aix-en-Provence…
A moto estava normal mas eu não me aventurei muito pelo centro! Apenas passei e segui o meu caminho junto ao Mont de Saint Victoire, o monte que Sezanne tanto pintou quando ali viveu!
Não tinha vontade de parar, nem de ver nada, apenas chegar a Nice e ter a certeza que a moto estava bem e que não me abandonaria! A Provença? Não faltarão oportunidades para eu a catar de ponta a ponta!
Cheguei a Nice e enfiei-me na pousada de juventude, que por acaso era bem divertida e com uma paisagem bem bonita!
Fiquei ali a conversar com uns e com outros, pois toda a gente ficava, primeiro surpreendida por eu estar ali de moto, depois por a moto estar partida! Ofereceram-me cerveja, e tive um serão de horas de paleio!
E foi o fim do 5º dia de viagem, com direito a comida japonesa e muita conversa!
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– Passeando pelo Mónaco –
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4 de Agosto de 2012
E mais uma vez a motita deu o dito por não dito e amanheceu como se nada fosse! Tive de concluir que o seu problema fora com a gasolina de Andorra e que certamente tinha alguma gota de água misturada, porque se fosse impureza a moto teria continuado a soluçar e a tossir! Se não o fez mais, deveria ter encontrado água da gasolina e essa passa no filtro sem entupir, só que, como a moto não se move a água, engasgou, tossiu e parou, até passar para baixo, depois nada mais se sentiu!
De repente fiquei supercontente e cheia de vontade de continuar! É que me preparava para fazer grandes caminhos que sem confiança na moto seriam difíceis de fazer!
Era o dia de começar a subida até ao Lac Leman, na Suiça!
Mas antes eu tinha de ver umas coisas, porque era cedo e por isso uma boa hora para ir passear para o Mónaco e porque assim sentiria como estava a minha motita da tosse! E segui contornando a costa até lá!
É um dos percursos bonitos de se fazer mas que pode ser extremamente aborrecido em hora de toda a gente sair para passear os automóveis, por isso queria faze-lo cedinho! Eu nem gosto de carros, porque teria de “levar com eles”?
Tomei um grande pequeno-almoço num ambiente muito giro
A minha Magnífica tinha feito amizade com a GS de um alemão que andava a passear por França com a filha adolescente.
E segui pela estrada mais panorâmica da zona, porque fica ali em cima e nos permite ver tudo, como se estivéssemos no camarote de um anfiteatro!
Eu sei que parei de 100 em 100 metros para tirar fotos semelhantes, mas quem é que consegue evitar de o fazer, com uma paisagem destas?
Èze fica ali em cima, mesmo na borda da estrada… mas não me apeteceu nada pousar a moto e caminhar por ali acima! Quando voltar a passar por ali, já prometi a mim mesma que vou visitar!
E fui-me passear para os jardins do Casino de Monte-Carlo!
Fui caminhando por ali abaixo e reparei que os policias que estavam no local foram muito simpáticos para mim!
Aquilo é bonito sem a multidão por todo o lado!
E lá estava ele, com a escultura em espelho côncavo em frente! Bem, de um lado é côncavo do outro é convexo!
Tinha feito a estrada desde a entrada no Mónaco atrás deste carro! Tem o ferrão do escorpião em cima e tudo! Até fiquei a olhar se não seria um dos elementos da banda, mas não, era um tipo qualquer, provavelmente apenas um fan!
Ainda pensei em ir ao forte, mas tinha de subir até lá acima pois a moto não pode passar! Perguntou-me o polícia que está na rotunda antes, onde eu ia!
“Eu? Eu vou para a Suíça!” respondi.
“Vai para a Suíça por aqui? Mas isto nem tem saída!”
Fez-me lembrar quando perguntaram em Vilar-Formoso ao meu amigo João Luís onde ele ia e ele respondeu que ia para Africa e também lhe perguntaram “por aqui?!” eheheh
Mas houve mais momentos em que me perguntaram onde eu ía e nem sabia o que responder, então perguntava “onde vou neste momento, ou nesta viagem?”
E lá voltei a Nice…
Onde começa a estrada que eu iria fazer
Uma das estradas mais encantadoras e famosas dos Alpes
(continua)
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La Haute route des Alpes – Col de la Bonette
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4 de Agosto de 2012 – continuação
A princípio a estrada é quase banal, escarpa aqui, monte ali e nada mais denuncia o que ela será mais à frente! Eu nunca tinha feito a “ponta” sul por isso tinha de ir atenta, mas a estrada é fácil de encontrar e de seguir, porque está muito bem sinalizada e, mesmo quando a gente não tem a certeza se fez a boa escolha num entroncamento, uma nova placa aparece logo à frente a desfazer as dúvidas!
Então vamo-nos afastando de Nice e vamo-nos aproximando da beleza da natureza em estado puro!
E há momentos de dilema, curtir a estrada ou apreciar os encantos da paisagem? Vou tentando fazer um pouco de tudo, tirando fotos pelo meio!
A estrada é suficiente longa para permitir um pouco de atenção a tudo o que nos vai rodeando mas, por vezes, tive de parar abruptamente porque um recanto da paisagem me prendeu pelo canto do olho!
No seculo XIX viviam nestas casas cerca de 800 soldados que defendiam a zona fronteiriça, é o Camp des Fourches. No inverno apenas um pequeno grupo de homens ficava ali isolado do mundo pela neve e só conseguiam passar de casa em casa por tuneis feitos na neve alta e densa com tabuas de madeira. Chamavam-lhes “les Dilabes Bleus” (os diabos azuis) pela sua coragem e audácia de ali ficarem e caçarem e viverem!
A estrada parece traçada nos recantos mais bonitos da cordilheira!
Há momentos em que olhamos para trás e vemos o caminho percorrido, serpenteando pelo monte acima!
Então chegamos ao cume
A estrada é mítica para ciclistas e às vezes temos a sensação de que eles sentem que ela lhes pertence! Tive de pedir para se afastarem um pouco para fotografar o “menir” que assinala o ponto máximo mas, mesmo assim, tive de gramar com as biclas lá encostadas!
Mas o encanto contínua, numa nova sequencia de curvas e encantos
A estrada continuava a serpentear por ali fora, linda!
E fui surpreendida pelo primeiro acidente da viagem. Vi as pessoas ao longe e não percebi o que se passava, até passar perto… uma moto de pernas para o ar e um casal meio em mau estado na berma… Eu não teria tirado a foto se soubesse o que se passava, mas não apanhei os feridos, o que foi menos mal…
Mais à frente fica o Forte de Tournoux encrustado no monte. É conhecido por lembrar os templos do Tibete mas, na realidade, é uma construção do fim do sec XVIII e tinha como finalidade proteger a França contra os Italianos.
Tem visitas guiadas e deve ser interessante visita-lo, mas subir todo o monte por escadas estava fora de questão!
E lá andavam os ciclistas por tão belas paisagens a pedalar
A estrada torna-se perigosa quando deixa de ser “cadenciada” por curvas e os condutores se entusiasmam com as retas, sem pensarem que, depois de uma reta há sempre uma curva!
Depois há momentos em que ela parece uma linha num bolso, de tanta volta que dá sobre si própria!
E quanto mais voltas dá mais bonita é a paisagem!
E cheguei a Briançon, onde passaria a noite.
Briançon pertence ao Departamento dos Altos-Alpes e é a cidade mais alta de frança e a segunda mais alta da Europa, depois de Davos na Suíça.
Porque fica ali tão perto da Itália é uma cidade bastante fortificada, com uma cidadela cheia de interesse e edifícios classificados pela Unesco.
Fui para o hotelzinho, onde rapidamente a minha motita arranjou uma filinha de amigas!
Comi uma pizza divinal e brinquei um pouco com a minha máquina, que as nuvens acima da montanha estavam inspiradoras!
Fim do sexto dia de viagem!
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– La Haute route des Alpes – Col du Galibier
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5 de Agosto de 2012
O dia amanheceu meio solarengo, meio enevoado e pingão. É verdade, isso acontece a cada passo nas altas montanhas. Naturalmente que o lado solarengo chamava muito mais alto por mim mas, azar dos azares, era pelo lado pingão que eu devia seguir! Ainda pensei em contrariar o percurso mas eu teria de ir apanhar a chuva de uma maneira ou de outra, não adiantava dar uma volta maior, por caminhos menos bonitos!
Por isso dei por ali umas voltas, retive a respiração e mergulhei! Iria ver o Lago Leman ainda naquele dia…
A cidade de Briançon é muito bonita de apreciar de longe, com o forte sobre uma colina mais elevada e a cidadela mais em baixo, parece um cenário!
Uma pena os fios, sei lá de quê, que estragam um enquadramento destes!
Ao longe o conjunto da “ville Haute”, o forte do castelo, o forte des Salettes e o forte des Têtes.
Com uma longa história de guerra e defesa da fronteira francesa, passou por momentos históricos fortes, desde a idade média, passando pelas guerras mundiais e chega aos nossos dias como cidade de ski e desportos de inverno e cheia de monumentos únicos e classificados!
E segui para o lado do tempo ruim, para o col du Galibier, esperando que a chuva não fosse tanta que me impedisse de ver e fotografar um pouco…
Então comecei a encontrar uma infinidade de motos! Parece que de repente toda a gente ia para onde eu ia!
Depois entendi… era domingo e o povo tinha tirado o dia para ir correr para ali! Ultrapassei e fui ultrapassada diversas vezes por esta moto bizarra, que era mais uma moto de 4 rodas do que verdadeiramente uma moto 4! O tipo devia ficar muito incomodado sempre que eu ia à frente dele pois esforçava-se para caramba para voltar a vir-se meter na minha frente! Por vezes obrigou-me mesmo a travar para ele entrar!
Não me lembro nunca de me ter sentido tão pressionada por outros motociclistas para os deixar passar para o espaço à minha frente onde por vezes não cabia ninguém… detestei a sensação! Não sei se era por eu ser a única moto com um “P” atrás, ou se era por ser mulher, ou se era por a minha Magnifica ser a única no seu estilo/tamanho por ali… só sei que detestei!
Um dos que me apertou, ao ponto de quase me tocar na roda da frente, encontrei-o no chão umas curvas mais à frente! No final da aventura, contando com os 2 acidentes do dia anterior, tinha passado por 6 motos viradas de pernas para o ar, 2 das quais com pendura incluída… Ainda bem que a estrada valia a pena ou ter-me-ia arrependido de a ter feito naquele dia!
Então encontrei a chuva! E foi ela que afastou todo aquele “mosquedo” de mim! (obrigada São Pedro) De repente vi-me sozinha na estrada, apenas eu e alguns carros, as motos iam ficando paradas aos grupos aqui e ali, já não havia mais heróis capazes de se meterem à minha frente? Não, porque chovia bastante, o vento era forte e eu aproveitei para seguir em paz!
E constatei uma triste realidade para um(a) motociclista, que os automobilistas eram muito mais cuidadosos e atenciosos para mim do que todos aqueles motards! Faziam o esforço por se chegar para a beirinha cada vez que eu me aproximava, davam-me pisca a mandar-me passar e tudo! Veio-me diversas vezes à mente aquelas tretas que circulam no Facebook de que motociclista é boa pessoa, é solidário, é amigo, segue códigos de conduta, é irmão… é muitas vezes reles, mal criado e arrogante, cá e lá… infelizmente! E foram os enlatados os melhores colegas de estrada que podia ter tido por ali!
E segui na maior paz, apesar da chuva e dos trovões em cima de mim, é que o São Pedro não parava de me tirar fotografias, eu bem via os flashes!
Cheguei lá acima sozinha! Havia lá um ciclista acampado, alguns carros e a minha Magnífica!
Ninguém na longa e ziguezagueante rua! Não havia mais heróis!
Por muito tempo apenas se via um carro aqui e outro ali e a paisagem era linda!
É tão bonito quando para de chover e o sol volta, a estrada brilha e o céu fica límpido!
As esculturas em feno são comuns, a cada ano vejo-as pelas estradas Francesas, os camponeses são artistas!
Passei em Valloire mas nem parei! Aquilo estava cheio de motos paradas por causa da chuva e eu já estava fartinha de motos e habilidades!
Só voltaria a parar quando chegasse ao lago Leman…
(continua)
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– Thonon-les- Bains, Genève –
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5 de Agosto de 2012 – continuação
A ponta norte da Route des Hautes Alpes eu já conhecia por isso andei por ali a inventar pois há diversas possibilidades de ruas a escolher. Claro que eu escolho sempre as mais estreitas, menos concorridas e longe de tudo! Gostos!
Percorrer sem pressas estradinhas cheias de curvas que nos levam de terrinha em terrinha e de monte em monte é delicioso!
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Fui brincar um pouco pelo Col des Aravis que não tinha ninguém!
Mas havia muita humidade no ar e eu temi pela minha novíssima máquina fotográfica, por isso não tirei muitas fotos!
Andava por perto de Annecy e Megève, uma cidade ficava-me à esquerda e outra à direita! Ambas são bonitas mas decidi não ir a nenhuma! Eu queria mesmo chegar ao lago…
Há uns castelinhos por ali que são um encanto na paisagem e eu segui de um para outro.
O Chateau Fèodal D’Avulli é simplesmente delicioso, um castelinho do Sec XII que apetece fotografar até à exaustão!
Fica em Brenthonne e funciona como restaurante! A mim bastava-me olha-lo de todos os ângulos e fotografa-lo, já que visitar estava fora de questão.
Tem à entrada do seu jardim um par de guerreiros em topiária engraçados!
E é lindo!
Mais à frente ficava Thonon-les-Bains, onde eu passaria a noite e o castelo de Ripaille, onde viviam os Duques da Saboia.
Os domínios de Rippaille são um importante sítio histórico, que já esteve abandonado mas foi totalmente restaurado há 2 seculos e hoje é esta beleza de construção, com restaurante a funcionar e os domínios a visitar!
Mais à frente, um outro castelo encantador ainda, no Parc Municipal de Montjoux, o castelo de Montjoux, mesmo na beira do lago!
São lindos e adoráveis estes castelos por serem tão diferentes dos nossos e do que estamos habituados a ver por cá!
E segui até Genève, passando por Yvoire, aquela cidade encantadora na margem francesa do Lac Leman, porque passando perto não consigo deixar de lá entrar!
Esta pequena aldeia medieval fortificada está classificada como uma das aldeias mais bonitas de França e também no concurso promovido pelo pais para as aldeias e cidades mais floridas!
A verdade é que é tão florida, colorida e bonita que até parece irreal!
E tem também o seu castelinho!
O lago, que parece uma piscina de tão limpo, e os patinhos a embelezar o ambiente!
Tudo parece perfeito por ali! Só peca por ser um local muito visitado e estar sempre cheio de gente o que me tem sempre impedido de visitar o jardim dos 5 sentidos, que diz quem já visitou, é um miminho!
A primeira perspetiva que tive da aldeia, há muitos anos quando tinha chegado a Genève havia poucos dias, foi esta, a partir do ancoradouro, pois fui até lá num cruzeiro no lago. E tudo me pareceu irreal de tão belo! Hoje continuo a sentir o mesmo, cada vez que lá passo!
Foi em Yvoire, há muitos anos, que eu comprei o meu segundo chapéu, nesta chapelaria “Chapeaux à gogo” que quer dizer algo tipo “chapéus a granel”!
Pormenores giros que se encontram por lá, coisas que vou vendo, coisas que ainda não tenha visto!
Não falta onde deixar a motita por ali, com direito a tratamento vip!
Segui então para Genève…
É sempre aquela sensação voltar à cidade, as ruas, o trânsito, os pormenores cheios de sentido…
Fui visitar velhos amigos, velhos recantos da minha história…
O tempo estava a escurecer e a pôr-se negro, uma pena porque eu queria ver o pôr-do-sol no lago, com todo o encanto que já assistira tantas vezes…
Voltei ao “meu jardim” como faço sempre… gosto de terminar o dia ali, mesmo sem sol, mesmo com pingos de chuva, gosto!
Não voltaria a Genève durante esta viagem…
Fim do sétimo dia de viagem
(coninua)
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– De Thonon-les-Bains até Sion –
6 de Agosto de 2012
E a manhã estava ruim! Havia nesgas de sol para um lado e nuvens monstruosas para o outro. Quando não há tempo melhor temos de sair com o que temos! A distância que tinha de percorrer não era muito grande, bastava não me perder a visitar muita coisa e chegaria facilmente e cedo a Sion… Acabei por seguir ao sabor do tempo!
Por isso lá fui como as moscas atrás da luz, tentando evitar as nuvens mais negras, mas era certo que iria apanhar uma molha, mais aqui ou mais ali!
Eu costumo dizer que me chateia para caramba andar a passear o fato de chuva pela Europa! Se o levo comigo que seja para usar! E a oportunidade de o voltar a usar aproximava-se a cada quilómetro!
Acabei por passar em Megève, uma cidade alpina que apenas conhecia cheia de neve e de gente famosa. Foi ali, há muitos anos que me cruzei com o George Michael, numa noite cheia de neve e luzinhas, em que parecia que estávamos todos no meio de um filme infantil de Natal!
Desta vez foi a chuva que me recebeu e aquilo tudo era tão diferente sem neve!!
Mal reconheci a praça onde eu já passara de skis nos pés!
Chovia tanto que me enfiei num café e fiquei ali, a tomar café (de litro) e a conversar, esperando que a chuva abradasse… mas tive de seguir mesmo assim ou passaria ali o dia!
A paisagem envolvente seria bem mais bonita se não chovesse, tenho a certeza, pois todas aquelas montanhas são deslumbrantes cobertas de neve, no verão serão forradas a verde e igualmente deslumbrantes!
Acabei por passar em Chamonix e entrar no Valais por Matigny! Nada se via do Mont Blanc, era como se ele tivesse tirado férias e nada houvesse no seu lugar! O longo vale só se tornou visível a partir de uma certa altitude para baixo, quando passei a cortina das nuvens densas para descer para Martigny!
Lá ganhei coragem e puxei da máquina fotográfica, que estava bem escondida dentro do blusão, para tirar uma ou duas fotos!
Mas a chuva não queria mesmo foto nenhuma! Agua e máquinas não dão nunca o casamento perfeito!
Ao ver pingos de água na lente desisti, não valia de nada andar por ali a arriscar afogar uma nova maquina, por isso fui direta à pousada de juventude de Sion disposta a ficar quieta e amuada por lá até a chuva parar!
Pus as minhas coisas a escorrer, puxei do computador e dispus-me a viajar pela net, enquanto o tempo não me permitisse viajar de moto!
E a chuva parou!
Voltei a sair, mais leve e mais bem-disposta!
Sion é a cidade mais antiga da Suíça e um dos locais pré-históricos mais importantes da Europa, pois ali há vestígios de ocupação humana que remontam a 6.200 aC!
Para mim bastava-me ver de perto os seus dois castelos! Na realidade é um castelo e uma basílica fortificada que ficam no topo das duas colinas contiguas, quase no centro da cidade!
Mas eis que voltou a chuva!
A pé não há qualquer problema, fui a um supermercado e comprei um guarda-chuva! Sem fotos é que eu não iria ficar!
E lá fui procurar o caminho para os castelos!
É sempre uma sensação curiosa pisar caminhos medievais para mim!
Chegando verdadeiramente ao início das subidas há que decidir se vamos para o château Valère (a basílica), ou para o castelo Tourbillon! Como o castelo me parecia mais uma série de muros e fica atrás da abadia, em relação à cidade, decidi-me pela abadia, o château Valère, que isto de subir a um e depois a outro estava fora de questão! Gosto de ver mas não gosto de subir, que dá-me cabo das pernas e depois custa conduzir!
A meio da subida a chapelle de Tous les Saints, do séc. XIV, linda!
O castelo na outra colina tornava-se numa paisagem muito bonita, com as vinhas pela encosta! Certamente a paisagem vista do castelo não seria tão bonita porque a basílica (deste lado) estava em obras e tinha uma parte envolvida em panos! Por isso eu fiz a boa escolha! 😀
Ao chegar lá acima, em espaço aberto, a paisagem era deslumbrante! Não só porque é linda mas também porque o sol voltava a espreitar por entre as nuvens e provocava o tal efeito que me fascina depois da chuva!
Para trás de mim o castelo e a capela completavam o quadro!
Fiquei ali deslumbrada a deslumbrar-me com o que os meus olhos viam e a minha máquina captava!
Mas ainda não tinha chegado ao topo, a basílica ficava mais acima!
Entrei finalmente nos seus domínios!
A basílica de Valère foi construída entre os séc. XII e XIII como uma igreja fortificada, comuns na época, por isso lhe chamam castelo.
Lá de cima tudo é deslumbrante!
As vinhas, na encosta, com o sol tangente, pareciam resplandecer!
A cidade aos meus pés e o longo vale a seguir!
O aeroporto internacional, mais à frente
A basílica, que não dá para ver de perto pois está embrulhada para obras!
Dentro há uma segunda zona fechada, ouviam-se as pessoas a rezar lá dentro, por isso nem tentei entrar!
Naquele dia o deslumbramento estava cá fora, por isso fui-me embora dali.
O vale é deslumbrante visto de lá de cima, para o outro lado também!
O sol desaparece mais cedo quando estamos entre montes muito altos!
Voltei a descer à cidade que tinha mais 2 ou 3 coisas que eu queria ver…
para além dos caminhos pitorescos típicos de uma cidade medieval!
Como a Cathédrale de Notre-Dame du Clavier, uma construção lindíssima que tem origem lá pelo séc. VIII, numa pequena igreja carolíngia posteriormente alterada no séc. XI, e chega até nós com as proporções e beleza góticas, mantendo o campanário românico.
Logo ao lado fica a Eglise de Saint-Theodule, também gótica, muito menos interessante mas cheia de história, já que é dedicada ao primeiro bispo de Sion, lá pelos anos 500, que abençoa as vinhas do Valais!
Tinha umas esculturas de plástico, ou fibra de qualquer coisa, à porta que davam um ar bizarro ao conjunto!
Em redor das duas igrejas fica o centro histórico e as ruelas mais estreitinhas
Deve ser curioso viver-se sobre um canal! Por aquelas terras é mais ou menos comum, dado que tem de se escoar as águas do degelo!
E fui para a pousada, onde a paisagem era uma casa no meio da vegetação. Se alguém me dissesse que vivia numa casa cor-de-laranja com venezianas roxas eu pensaria que era louco, mas afinal até fica bem o conjunto!
Bebi uma Super Bock, que na Suíça é mais barata que muitas outras cervejas (e melhor), e fiz amigos para conversar e passar parte do serão!
Fim do oitavo dia de viagem..
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– Sion – Montanhas e vinhas! –
7 de Agosto de 2012
Pois é, quando o dia acorda lindo e eu acordo na Suíça nunca sei muito bem o que me apetece fazer para além de passear para um lado e para o outro! Como sempre que não sei para onde ir, acabei por ir para todo o lado!
O mapa geral do que fiz nesse dia mostra como andei para um lado e para outro mas, a verdade, é que fui ver do que mais bonito se pode ver em 12 horas!
Primeiro fui passear pelo meio das vinhas que se estendem pela encosta dos montes em redor, não apenas de Sion, mas de todo o imenso vale! Por isso é melhor apresentar o mapa por partes!
De lá de cima: Sion com as suas colinas proeminentes acima da cidade.
Parecem duas maminhas ali no meio da planície, bem visíveis numa imagem panorâmica! Deslumbrante o que os caprichos da natureza podem fazer!
As estradinhas entre as vinhas são alcatroadas e muito giras de se fazer. A paisagem então, é qualquer coisa de extraordinário!
Depois engrenei por uma ruela que prometia ser interessante, pelo menos o meu Patrick dizia que era toda aos SS por ali acima! A paisagem começou a mudar e as altas montanhas a aparecer, lá ao fundo! Lindo! Era mesmo isso que eu procurava!
Eu gosto de experimentar os pequenos passos de montanha desconhecidos do turismo, normalmente são ruinhas frequentadas por ciclistas, estreitas e ingremes, e eu gosto disso!
Apetece parar a cada momento para tirar mais uma foto, para usufruir calmamente do momento!
Uma indecisão, por vezes, entre curtir a condução, ou curtir a paisagem! Vai-se tentando fazer as duas coisas!
Escolhi uma outra ruinha e subi! Seguiria pelo Col du Sanetsch até à barragem.
Um caminho muito bonito que só tem um defeito, não ter saída! Por isso somos obrigados a regressar pelo mesmo caminho… isto é, mais ou menos o mesmo caminho!
Finalmente, ao fim de tantos anos a passear pelas montanhas, consegui fotografar uma Marmota! Tão fofinha! Eu já as tinha visto, mas nunca tinha conseguido fotografar uma, pois são irrequietas e rápidas! Desta vez eu fui mais rápida do que ela! 😀
E lá estava o lago provocado pela barragem de Sanetsch.
Achei curioso ainda ter uns farrapinhos de neve na encosta do monte!
Há sempre um rochedo com uma cruz por aquelas terras, se não for no monte é no meio de um lago!
E a bandeira! Num país com tantas fronteiras, às vezes faz jeito a bandeira, para termos a certeza que ainda estamos na Suíça! Ali não era o caso.
Subindo ao topo do monte, logo acima da barragem, vemos a paisagem que fica do outro lado! Há ali um teleférico que leva e traz pessoas de lá de baixo do vale de outro lado. Lindo!
Cá em baixo a minha Magnífica conversava com uma amiga Deauville!
O que eu acho giro é encontrar autocarros que fazem estes caminhos! E é giro também passar por eles e termos ambos de “encolher a barriga” para passarmos! Os condutores de autocarro são supersimpáticos e até saem um pouco da rua, se puderem, para não perturbar quem passa!
Voltei a descer o col, agora mais cuidadosamente para fotografar o caminho e a paisagem. No regresso as curvinhas eram mais visíveis, até foi giro voltar a faze-lo!
Acho sempre mais fácil e interessante fazer um Pass em subida, pois não necessito de usar tanto o travão e a condução é mais equilibrada, mas para fotografar é descendo, sem dúvida, que se fazem os melhores enquadramentos!
Na subida tinha passado por este restaurante giro mas, como estava fechado, segui. Mas na descida não resisti! Tão giro!
E não é só por cá que há terras com nomes curiosos ou bizarros! Ali cheguei a Le Nez, que é o mesmo que dizer que cheguei a O Nariz!
Não sei se era o nariz do monte, ou da terrinha!
Logo a seguir voltei a encontrar o vale de vinha!
E foi por entre o vinhedo que eu fui percorrendo o caminho que me levaria a um outro Pass.
Porque ali pela encosta as paisagens são muito bonitas! Podem-se ver os glaciares e altos picos nevados, ao mesmo tempo que em primeiro plano se vê uma paisagem de verão!
Aquele vinho tem de ser bom, inspirado por tanta beleza envolvente!
E crescendo e amadurecendo, não só nas encostas, mas também nas “paredes” rochosas dos montes! Aquilo é trabalho de alpinistas!
O vinho do Valais, tal como a fruta (alperces) é muito famoso, já provei e gostei!
Vinha e montanha!
(continua)
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– Grand San Bernad Pass, Aosta –
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7 de Agosto de 2012 – continuação
O dia continuava lindo e era tão cedo ainda! Toca a seguir por ali fora, pois iria voltar a subir as montanhas do outro lado!
Lá ao fundo, depois de Martigny, os montes são famosos!
A estrada começa a encaracolar sobre si própria
E sobe-se, rodopia-se e volta-se a subir
Até aos 2473 metros de altitude!
Cheguei ao topo e nem parei no Hospice du Grand St. Bernard, passei o lago, passei a fronteira italiana e segui! Estava a saber-me tão bem a estrada!
Mas acordei para o mundo ao olhar a estrada que me esperava do lado italiano, “que me lembre não há de comer aqui perto para este lado e eu estou cheia de fome!”
Dei meia volta e voltei para trás, tinha de comer primeiro e eu vira uma festa com comida junto da fronteira!
Foi a decisão mais acertada que podia ter tomado! Juntei-me à festa, fiz amizade com um lindo e simpático São Bernardo e tudo!
O cãozinho era um fofinho!
O São Bernardo é uma raça muito antiga que vem desde os Romanos e que os monges do Hospice protegeram e conservaram desde o sec XVII.
O cão tomou o nome do Hospice onde foi treinado para defender o local mas também para salvar pessoas perdidas ou soterradas nas neves. Faziam estes resgates em grupos de 3 ou 4 cães, que aqueciam as vítimas com os seus corpos enquanto um deles ia buscar ajuda humana.
O verdadeiro cão tem o pelo curto (como este), existe uma variação provocada pelo cruzamento com o Terra Nova, com o pelo longo que torna o cão inútil para andar na neve, já que a neve cola ao pelo e o torna demasiado pesado para qualquer missão!
Hoje o cão mais usado nos resgates nos Alpes é o Pastor Alemão, por ser mais pequeno e leve e ter um faro equivalente.
E lá tirei as primeiras fotos ao Hospice do outro lado do lago!
Um grupo muito simpático de italianos e suíços estavam na mais alegre festa, a festa da amizade! Vestidos em trajes de época, dançavam e riam e brincavam com as pessoas! Uma animação!
Havia uma espécie de balcão onde se servia comida. Aproximei-me “Isto é a festa da amizade? E posso ser vossa amiga?” perguntei “claro!” respondeu um dos senhores “então posso comer convosco? Quanto custa?” , “custa quanto quiser dar” respondeu ele.
A comida cheirava divinalmente!
Havia um garrafão em cima do balcão onde tínhamos de por o dinheiro pelo gargalo!
Andava toda a gente atrás de dinheiro para por no garrafão! Lá pus uns 6 ou 7 francos e siga com o tabuleiro recheado!
Aquilo era mesmo bom! O acompanhamento era uma massa tipo polenta que combinava super-bem com a carne estufada!
O vinho era ótimo e à discrição! Estava em grandes garrafas de 1,5l espalhadas por todas as mesas! Ao tempo que eu não bebia vinho! Que bem que me soube!
Eu estava preocupada porque a festa era mesmo à beirinha da fronteira e os polícias viram-me sentar e comer e beber… para depois pegar na moto e seguir o meu caminho! Estava a pensar que eles podiam-me mandar parar e não deixar seguir, quando se juntaram a mim, na minha mesa!
Juntaram-se na minha mesa também os bailarinos, todos bem vestidos e animados!
Fartamo-nos de falar, soube que vinham de Aosta, ali perto em Itália, onde eu queria ir. Foram horas de paleio, risota, comida e bebida, até que tive de me ir embora! Despedi-me com uma fotografia da mesa!
E outra do lago, embora eu soubesse que lá voltaria a passar no regresso de Aosta.
E segui pelo Passo que a partir dali se chama Passo del Grand San Bernardo, pois estamos em Itália
Com o famoso Vale de Aosta a aparecer mais à frente
O calor tornava-se infernal lá em baixo o que tornava a paisagem glaciar mais surrealista!
E cheguei a Aosta meio derretida e com a blusa colada às costas. Iria dar uma volta pela cidade mas estava decidida a pôr-me a andar dali antes que caísse para o lado com o calor!
(continua)
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– Aosta – Monstreux – Sion –
7 de Agosto de 2012 – continuação da continuação!
Então o resto do dia foi mais um “andar para a frente e para trás” espetacular!
Aosta é uma cidade muito interessante, mesmo pertinho do Tunel du Mont Blanc (um túnel que nunca quis fazer de moto, cruzes!). a cidade está cheia de vestígios romanos e é a capital do belissimo Vale de Aosta (que ainda hei-de visitar em pormenor, um dia que esteja menos calor!)
A Collegiata di Sant’Orso é um conjunto do séc. XI que quero visitar mais calmamente, pois é extraordinário e diferente do que se construiu por cá na mesma época.
Naquele dia estava fechada e apenas pude visitar o espaço de culto, pois o claustro estava fechado, o que foi um oásis de frescura junto dos quase 40º grau que se faziam sentir lá fora!
Curioso que, no altar tem uma “janela” no chão que nos permite ver um mosaico do sec XII por baixo, que foi descoberto apenas há 12 ou 13 anos!
O mais bonito (e mais fresco) foi a cripta, que tem sempre um efeito curioso sobre mim! Normalmente é a parte mais antiga de uma igreja e este deve ser da época do mosaico, sec. XII.
Se pensarmos que é do tempo da fundação da nossa nacionalidade!
Lindo!
E voltei para o calor infernal e para as ruas pitorescas e cheias de gente!
Encontra-se este tipo de esculturas também pela Suiça, quando têm de derrubar uma árvore, fazem por vezes com o seu tronco ainda ligado à terra, esculturas que resultam parecidas com tótemes, muito giras!
Estão em escavações sob a Porta Pretoria, a porta da cidade romana que se chamou Augusta Praetoria Salassorum, e que foi construi da no ano 25 aC!
A gente passa pela porta e assiste aos trabalhos de varanda!
Ali ao lado fica o teatro romano, onde havia também um anfiteatro, o que faz da cidade romana uma grande e extensa cidade de grande importância!
O calor estava a torrar-me os miolos, mesmo com o chapéu! Eu não iria mais longe… Aosta lá ficará para quando eu voltar, esperando que o calor seja menos sufocante!
Devia ter feito como os chinocas fazem que visitam as cidades de guarda-chuva, assim o sol não chegaria com tanta força até mim!
O glaciar, lá ao longe, por cima das casas, estava a chamar-me para o fresquinho!
Voltei para a moto, por ruas muitos giras, cheias de artesanato e souvenirs.
E voltei ao paraíso! Lá em cima estava uma temperatura agradável, comparada com o calorão de Aosta, cerca de 24º, o que resultava fresquinho!
A festa tinha acabado e, se não tivesse estado nela, nem perceberia que tinha sequer existido! Reinava a paz e o sossego por ali!
Então fui visitar o Hospice de St Bernard por dentro.
Ali foram recebidos peregrinos e viajantes que atravessavam de ou para Itália, pois o caminho (Pass) é a distancia mais curta entre os 2 países!
Napoleão passou por ali em 1800 com as suas tropas a caminho de Itália, por isso há quem lhe chame rota imperial.
Lá dentro os espaços religiosos são bonitos e típicos da época, a igreja com decoração barroca é dedicada a Saint Nicolas.
Cá fora, patinhas amarelas de São Bernardo guiam-nos para caminhos a percorrer, muito giras! Claro que tirei uma foto à minha Magnífica junto à placa, para memória futura! (as patinhas amarelas vêm-se no chão junto à moto)
E desci o Pass…
Há dias cheios de beleza e que ainda por cima parecem nunca mais acabar!
Quando desci do St Bernard Pass o sol estava tão alto e ainda faltava tanto para anoitecer, que pus-me a pensar “como é que eu já fiz tanto e ainda tenho tanto tempo para mais?”
Perguntei ao meu Patrick o que havia por ali perto para eu ver, antes de voltar lá para baixo e ele “falou-me” de um lago: Champex-lac em Verbier – St Bernard! (quem inventou o GPS deverá ter direito ao céu!)
Aquele nome não me era estranho, tinha ideia que era coisa bonita… bem por ali acho que tudo é bonito! E lá fui!
O lago é bonito e havia gente relaxadamente na relva junto à água, onde me fui estender também, não sem antes comprar algo fresco para me acompanhar. Uma escultura curiosa de um coelho humanoide olhava para nós, dentro da água.
Pus-me a brincar com os miúdos, tirei as botas e fui chapinar na água com eles! Eheheh
Continuava a ser dia claro quando voltei à estrada. A descida parecia uma linha num bolso, na imagem do GPS!
Pelo GPS faltavam 3 horas para o sol se por, por isso decidi ir vê-lo a um lugar muito especial, daria tempo, porque naquele pais é tudo perto!
Passei por muitos motociclistas simpáticos e cordiais que circulavam perfeitamente ordenados! Muito bem!
Passei por carros “especiais de corrida” que por ali existem em número remarcável!
Passei pelo Château d’Aigle, do sec. XII, onde hoje funciona o Museu da Vinha e do Vinho.
Mas eu só queria rodeá-lo e aprecia-lo de todos os ângulos, porque é lindo!
Chama-se Castelo da Águia porque fica numa comuna que se chama mesmo Águia
E continuei até Montreux! Era ali que eu queria ir ver o sol descer!
Junto à cidade de Montreux há uma pequena estrada que sobe o monte, até perto de um rochedo que fica lá no topo, le Rochers-de-Naye!
Encontrei o caminho com uma facilidade espantosa e comecei a subi-lo e a fotografar cada etapa da subida!
O Lac Leman consegue fascinar-me em qualquer ângulo, mas naquele dia deixou-me em êxtase!
Cheguei ao fim do caminho e fiquei ali, a olhar…
O rochedo fica mais acima um bom bocado, mas só se pode aceder a ele depois de uma longa caminhada quase a pique! Não era coisa para mim e, o que via dali para o lago… era suficiente deslumbrante!
Há placas indicativas para os caminhantes informando dos trilhos
Mas eu fiquei ali, quieta, mais a minha Magnifica, a deslumbrar-me apenas…
Ainda olhei para trás na descida, o rochedo esta ali, tão perto!
Mas a beleza que eu procurava estava para baixo, não para cima!
E o sol ainda não se pusera!
Decidi descer e vir cá abaixo vê-lo do nível das aguas, assim não teria de descer às escuras!
Agora entardecia mais rapidamente!
Fui passear para junto do Château de Chillon, o castelo mais emblemático da Suíça e um dos mais conhecidos do mundo.
Foi construído sobre um rochedo no lago por isso este faz de fosso para o castelo!
Construído no séc. XII, mas com antecedentes bem mais antigos que podem ser visitados no seu interior.
Visitei-o há muitos anos, agora o que eu procurava não era vê-lo por dentro (até porque já estava fechado)! Eu queria vê-lo por fora com o lago e o pôr-do-sol…
Deslumbrante!
Então acabei o meu dia numa corrida até Sion onde fiz uma festa com os amigos que fizera na pousada de juventude, a que se juntou um grupo de motociclistas holandeses que iriam descer, no dia seguinte, até Nice, o caminho inverso ao que eu fizera dias antes.
Fizeram todo um espanto por eu andar por ali sozinha com uma moto tão grande! Nem queriam acreditar onde eu iria a seguir!
Fim do nono dia de viagem!
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– De Sion a Lugano passando pelo Simplon Pass –
8 de Agosto de 2012
Era hora de seguir para outro pouso, naquele dia iria de Sion para Lugano, onde passaria os dois dias seguintes.
Cá para nós o Ticino nunca foi a zona Suíça que eu mais gostei! De facto a zona alemã é, sem dúvida a mais bonita do país, (também é a maior), depois é a francesa e a italiana é a seguinte. Claro que isto é a minha opinião e, a cada vez que me passeio pelo Ticino algo acaba por reforçar a minha ideia!
Claro também que isto não quer dizer que aquela zona seja feia, longe disso! É lindíssima, as pessoas são simpáticas e assemelham-se aos italianos, não apenas na língua!
Claro que a caminho de Lugano fui dando uma vista de olhos a algumas coisas lindas que se encontram no caminho!
Começando pela despedida da cidade de Sion e as ultimas fotografias à sua paisagem!
Depois voltei a subir os montes, que é o que mais gosto de fazer por ali!
As estradas de montanha são deliciosas de fazer e ainda por cima têm paisagens lindas, por isso não há como evitar ir fazer mais uma ou outra!
E, já agora, encontrar recantos de paraíso que sabia estavam por ali! Como a barragem de Moiry, o seu lago e o glaciar!
A barragem tem 148 m de altura, pode-se ver a imponência do seu muro! Foi concluída em 1958, dando origem a um lago lindíssimo!
O lago tem uma área de 1400 m ² e fica a uma altitude de 2.249 m, isto é, acima da nossa Serra da Estrela! A sua profundidade máxima é de 120 m.
De lá de cima do muro pode-se ver a estrada para um lado e o lago para o outro.
A estrada que nos leva até lá, entre os montes, sempre a subir e a curvar, fica bem lá em baixo!
As águas do lago são de um azul turquesa que parece artificial, mas a cor deve-se à quantidade extraordinária de calcário concentrada nela!
Olhando para as margens quase perdemos a noção da dimensão daquilo, até vermos uma pessoa no meio das pedras e percebermos como tudo é grande! Alguém vê o pescador?
Ok, eu fiz um zoom com a máquina. Está ali, vêm-no agora? 😀
E o glaciar de Moiry espreita lá ao fundo!
Era lá que eu queria ir a seguir, não sem antes dar uma olhada ao lago visto no sentido contrario, com o muro da barragem ao fundo.
Não importa de que ângulo se olhe as aguas, elas mantêm a sua cor espantosa! E se chovesse e o céu estivesse cinzento, a cor manter-se-ia!
O riacho que alimenta o lago e vem desde o glaciar é branco.
E a agua por lá também! Como se ainda não fosse filtrada e ainda não se tivesse convertido em turquesa!
E lá está ele, um glaciar de 5km de extensão! As pessoas caminham até ele e ao seu refúgio a Cabane de Moiry, que fica a mais de 2800m de altitude!
Também ali perdemos a noção da dimensão das encostas mas, se observarmos as pessoas que caminham por elas até ao glaciar, podemos ter uma melhor noção!
Eu não sou de grandes caminhadas, sobretudo por ali que é um caminhar sem fim, que não é para quem quer fazer mais coisas no mesmo dia! Mesmo assim ainda dei uma boa volta aos lagos, por caminhos quase invisíveis!
Apreciei as florinhas alpinas e tudo, embora nunca tenha avistado a famosa edelweiss!
Um senhor seguia-me pelo trilho, mas com tanta dificuldade que comecei a ficar preocupada se ele não iria cair nos calhaus!
É inspirador passear por ali, não haja duvida!
Mas lá me decidi a descer o monte e continuar o meu caminho!
Porque quando tudo é bonito apetece ficar em todo o lado, mas não faltarão oportunidades de lá voltar!
As aldeias nas encostas dos montes são sempre tão bonitas e os chalés tão arrumadinhos, todos para o mesmo lado!
Parece que olham para nós, lá de cima, de um anfiteatro!
A estrada d’Anniviers é muito bonita!
E termina numa descida deliciosa até ao grande vale, numa sequência de curvas linda, que nos faz descer em SS como que de degrau em degrau! As árvores não nos deixam ver todo o percurso, mas houve um momento em que não resisti e encostei a moto à berma e apanhei o ziguezague em que eu seguia! Adoro passear pelos Alpes!
Eu tinha pensado ir até Zermat e visitar o Mont Cervin (ou Matterhorn, em alemão) mas “perdera-me” pelo Moiry e o tempo já não era muito. Ainda fui até Tach, a 5 km de Zermatt, depois não poderia passar com a moto, apenas de táxi ou comboio.
Era ali que eu gostaria de embarcar no comboio e ir até ao Mont Cervin, como fazia quando ia skiar, em tempos… mas era já muito tarde, dado que a viagem, passeio e regresso demora um bocado…
Prometi a mim mesma que da próxima vez farei todo o Glassier Express, uma das viagens de comboio mais bonitas do mundo… e cara também!
Ao longe via-se um pouquinho do glaciar mais famoso da Suíça…
Dei uma voltinha por Tach, uma terrinha que nunca tinha merecido uma visita minha! Apenas passava e seguia para Zermatt!
E eu que gosto tanto das casinhas rurais e de armazenamento de materiais agrícolas e cereais daquelas terras, já para não falar nos chalés lindíssimos que por ali há!!
E lá segui, pelo Simplon-Pass para Lugano que, por ali, é mais fácil aceder atravessando terras italianas do que dar a volta por terras suíças!
Este Pass não é nada difícil nem cheio de curvas acentuadas! O que o torna especial, são as paisagens lindíssimas e a altitude a que chegamos sem nos darmos conta!
Parece que estamos a passear por um livro de postais alpinos, daqueles que se compram só com imagens extraordinárias!
E lá estava no Pass, com partes cobertas que nos fazem ver o mundo por uma janela!
O rasgão provocado pelo Pass na encosta da montanha parece quase uma linha reta!
E a sua águia gigante, construída em grandes blocos de pedra, a marcar na memória de quem passa o Pass onde passa!
Adoro águias!
Depois é o deslumbramento dos Alpes a cada curva!
Próximo do cume do Simplon Pass pode-se avistar o Hospício Stockalpers, fundado por monges agostinianos em 1235, reconstruído e ampliado em 1666 e restaurado novamente em 1968. É imponente lá em baixo!
Cá para nós eu acho que os monges já andavam de moto de pau e por isso faziam os Hospícios sempre no topo dos Pass que hoje são tão famosos pelas gasadas que eles davam por ali abaixo!
Depois do fresquinho do Simplon Pass, veio o calor infernal de terras italianas e do Ticino! Quase morri! Lembro-me que ao passar em Ascona sentir um brisa fresca deliciosa e, ao olhar para o termómetro da moto ele acusava 30º! Dá para imaginar, se 30º são frescos, as temperaturas que eu já apanhara em cima!
Nem o lago me acalmou a mioleira esturricada!
Não parei em lado nenhum, quase nem tirei fotos, tudo o que eu queria era saír daquele verdadeiro inferno! Tudo o que eu queria era um banho, uma bebida fresca e uma sombra…
E cheguei a Lugano, onde me escondi na pousada de juventude, até começar a anoitecer e a baixar a temperatura! Uf…
Bendita noite, bendito lago, bendita frescura!
Pus-me a passear quase pelos quintais das casinhas na encosta, estava uma temperatura amena e eu sabia que, se no dia seguinte estivesse o mesmo calorão daquele dia, eu não iria ter paciência para ver nada, pois só há uma coisa que eu gosto de fazer com tanto calor que é conduzir! Parar, nem pensar e então caminhar, nunca!
Fim do décimo dia de viagem…
(continua)
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– Ponte dei Salti, Lago de Lugano, Lago Maggiore –
9 de Agosto de 2012
Antes que o dia aquecesse estupidamente, teria de tratar de ver o que mais queria naquelas paragens, pois mal o tempo começasse a ficar demasiado quente, a vontade de parar desapareceria e não haveria mais paciência para catar pormenores!
E foi o que aconteceu, acabei por dar uma bela volta de moto, mas parando pouco e apreciando mais as panorâmicas gerais que os recantos da paisagem
Existem diversos lagos ali pela zona, mas nem eles são suficientes para refrescar o ambiente! O lago de Lugano (o Ceresio) é bonito e proporciona enquadramentos muito bonitos, sobretudo ao amanhecer e ao entardecer!
As localidades nas suas margens são interessantes e parecidas, arquitetonicamente, mais com as italianas do que com as suíças!
Fui andando na direção de Locarno, subindo o rio até ao lago de Vogorno, com as aldeiazinhas nas encostas a lembrar Piódão!
O que eu queria visitar por ali era a Ponte dei Salti, uma ponte de origem medieval, com duas arcadas e que faz um efeito extraordinário sobre as pedras esculpidas e as águas verdes do rio Verzasca!
O conjunto forma um cenário de rara beleza e algo irreal!
Chamam-lhe frequentemente ponte romana, mas não é verdade, é muito posterior à presença romana na Suíça!
As águas do rio parecem falsas!
Toda a envolvência é deslumbrante, como dizem por lá “O charme de Verzasca está no coração do rio”
A ponte liga Lavertezzo a Verzasca e conduz a diversos percursos pedestres de grande beleza!
O rio talhou a pedra de formas belas e inesperadas!
A praia “dura” de miúdos e graúdos!
Tirei as botas e também fui chapinar!
Mais à frente, casas isoladas do outro lado do rio têm as suas próprias pontes privadas, que fazem a ligação ao lado de cá!
Lavertezzo é logo ali e tem o seu encanto, com o rio a passar-lhe aos pés, num ponto onde se lhe juntam outras aguas e outros riachos.
Dois casais de motociclistas preparavam-se para partir, tinham passado ali a noite. Cada um tinha a sua moto e meteram conversa comigo. Ficaram muito espantados por eu andar em viagem sozinha, nenhum deles o tinha feito nunca, pois viajavam sempre em grupo. Achei muito giro cada um conduzir a sua moto, eles e elas!
Eu fui mais rápida a parar, dar uma volta e fotografar do que eles a prepararem-se para partir!
Quando cheguei ao lago de Locarno ou Lago Maggiore o calor já era meio sufocante, lá se foi a vontade de parar e caminhar!
Fui contornando a sua margem lá por cima, por entre montes e arvores. Eu não aguentaria o aperto do trânsito com aquele calor!
E como em viagem eu faço só o que me apetece, fartei-me de fazer quilómetros lá por cima e fazer enquadramentos quase aéreos da paisagem citadina cá em baixo!
Subi pelo caminho do monte Bré, mas nem pensar em subir lá acima a pé! Aquela é considerada uma das zonas mais solarengas da Suíça!
E que bem que me soube!
Na descida encontrei o santuário da Madonna del Sasso, que nem pensei em visitar dado que teria de caminhar até ele por uma ruinha “sobe-e-desce”!
Uma construção do séc. XV, destino de grandes peregrinações, edificada em cima de um penhasco.
Tive de voltar à cidade para continuar o meu caminho, circulando junto de carrinhos de brincar muito bonitos!
Era cedo para voltar para “casa” era demasiado calor para andar na rua mas, mesmo assim, continuei a passear pelos lagos em redor. Então lembrei-me da promessa que fizera ao meu moçoilo, de ir visitar o museu Guzzi e tirar muitas fotos lá dentro!
Azar o meu! Alem de haver obras pelo caminho com filas infinitas de trânsito ao calor, que eu tive de furar “que se lixe, afinal os suíços daqui não são parecidos com os italianos? Então não deverão estranhar que eu fure pelo meio dos carros!” o museu fecha a partir dos primeiros dias de Agosto até final do mês… Bolas!
Agarrei na moto e fui-me embora pelo caminho mais longo, mas sem carros, apenas disfrutando do prazer de conduzir e do ventinho que, embora quente, era facilmente suportável! A conduzir não há calor que me incomode!
Ao entardecer a temperatura voltou a ficar mais aceitável junto ao lago de Lugano…
Voltei a tirar as botas e a chapinar na agua!
E esperei o entardecer na sombra mais fresca até voltar para casa que naquele dia ainda era em Lugano!
Fim do décimo primeiro dia de viagem…
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– de Lugano a Davos passando pelo Sant Bernardino Pass –
10 de Agosto de 2012
Estava na hora de sair do Tecino e seguir para Davos, mais propriamente para Monstein, onde passaria 3 dias. Davos está longe de ser uma cidade bonita, embora também não seja feia de todo! O seu encanto reside, não da sua beleza como cidade, mas sim na sua envolvência! Por ser a cidade mais alta da Europa é rodeada por montes e estradas serpenteantes e Cols e Pass de fazer perder a cabeça! E os que não ficam perto de si, também não ficam longe, porque naquele país parece que tudo é perto de tudo!
Segui então alegremente para uma das minhas zonas preferidas na Suíça!
Claro que pelo caminho havia muita coisa que eu queria ver! Bellinzona, por exemplo! Afinal eu andara ali pela redondeza e deixara a capital do Ticino para visitar à partida para Davos!
Uma cidade com 3 castelos, o que a torna única e o seu conjunto o mais espantoso dos Alpes! O que fica mesmo no centro da cidade, o Castelgrande é o mais antigo dos 3, estava fechado aquela hora da manhã, mas podia-se ver a cidade a partir da sua muralha!
Andei por ali a cuscar um pouco… O castelo é do séc. X e XI e é mesmo grande, mas eu só o veria da encosta do outro monte.
A cidade cá em baixo é cheia de encantos e recantos!
O Palazzo Cívico, a câmara local, um edifício do início do séc. XX
Muito bonito por fora, com a sua torre
mas ainda mais bonito por dentro, com um pátio interior a lembrar um claustro!
A Igreja de Collegiata dei Ss Pietro e Stefano, que não me apeteceu visitar! (às vezes acontece-me sobretudo quando se trata de igrejas posteriores ao séc. XV… e está é do séc. XVI!)
Ao lado da Collegiata existe uma ruinha que sobe, sobe até ao castelo Montebello, mas a coisa seria muito mais interessante indo pela estrada aos SS de moto! 😀
e lá estava o segundo dos 3 castelos!
Não se paga para visitar este castelo, apenas se entra e anda-se por onde se quiser!
A paisagem a partir das ameias é muito bonita e permite ter uma ideia mais geral do “Castelgrande”, lá em baixo!
Duas torres são bem visíveis, a Torre Nera de 28m e a Torre Bianca de 27m, sobressaindo no meio do recinto muralhado!
Em ambos os castelos funcionam hoje museus! Deixei o castelo de Montebello
E segui para cima, para o castelo Sasso Corbaro e de lá pude ver o castelo de Montebello na sua totalidade! É sempre de uns que se vêm melhor os outros!
E como o Sasso Corbaro é o ultimo não havia mais nível superior para o ver!
Mas de lá podia ver toda a cidade de Bellinzona!
E pronto, estava na hora de continuar. Embora Bellinzona fique junto ao maciço de St Gottard eu não iria fazer o Pass, não me apetecia desviar do meu caminho para fazer a estrada, embora por momentos me tenha passado pela cabeça faze-lo…
Por aqueles dias andavam muitos militares nas ruas de moto, 2 a 2, de colete laranja!
E foi nessa sequência que apanhei a minha Magnífica na Cama!
E logo à frente encontrei a Sorte, o que foi uma alegria para mim, depois dos dias de azar que vivera antes da partida! 😀
As paisagens rurais por ali são simplesmente deliciosas e apetece parar a cada quilómetro para tirar mais uma foto!
E vai-se subindo e os montes vão espreitando!
E não há o que lamentar por não se ter feito um Pass, pois haverá logo outro mais à frente à nossa espera!
Com direito a lago e tudo! O Lago Dosso em Sant Bernardino Pass!
E o Pass continua cheio de beleza!
Todo enrodilhado pelo monte acima!
Lindo e delicioso de fazer, de curva em curva!
E no topo do Pass um outro lago nos espera, lindo e a grande altitude: O Laghetto Moesola!
E estava no cantão de Grisões, o cantão maior do país e o único onde se falam 3 línguas, para além de ser um dos mais bonitos da Suiça! As línguas que ali se falam são, o alemão, o italiano e o romanche (uma língua muito antiga que deriva do latim).
Já gora os cantões que compõem a confederação Suíça são 26, já que há quem pense que são 3 ou 4 de acordo com o numero de línguas que se fala no país! A prova é que num cantão apenas como os Grisões se falam 3 línguas!
E toca a descer do outro lado, pois o Pass continua por ali abaixo, delicioso!
O aspeto dele na imagem do GPS era lindo!
Mais à frente o lago de Sufnersee espera-nos, mais uma barragem lindíssima!
(continua)
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– Alpes, Davos e Monstein… –
10 de Agosto de 2012 – continuação
No meu caminho ficava Viamala-Schlucht! Ok, ficava porque eu quis que ficasse!
Viamala é uma garganta monumental pela sua espetacularidade! As paredes estreitas chegam a proporcionar autenticas nesgas de 300 metros de profundidade!
Aquilo fica perto de Thusis, no percurso do Reno na zona, e é digno de uma visita!
Aquelas coisinhas azuis à direita da foto, são carros! A minha motita estava lá também. Por ali se vê a dimensão do abismo!
A tradução para o nome é de “mau caminho” e, se olharmos bem para o desfiladeiro, entendemos bem porque lhe chamaram assim!
O caminho é conhecido desde a época dos romanos e já presenciou e participou em momentos altos na história da zona!
Eu pus-me a olhar para a profundeza daquilo e para a pequena multidão que se aglomerava para fazer o percurso e decidi ver “por fora” e um dia faze-lo na totalidade!
Uma daquelas promessas que faço a mim mesma, durante uma viagem, e que tempos depois me fazem sair de casa para as cumprir! 😀
E segui para Monstein passando por Tiefencastel, uma terrinha deliciosa que fica tão bem nas fotografias com o vale verde e os montes ao fundo! Postal ilustrado!
Os castelinhos nos montes dão um ar tão romântico quanto misterioso à paisagem! Mais tarde eu iria aproximar-me para ver alguns de perto e tirar fotos tipo agencia de viagens! 😉
Entretanto alcancei um grupo de motociclistas italianos muito bem ordenado e simpático, no meu caminho, que andava a apreciar as belezas do país vizinho!
A verdade é que aquela zona é digna de visita por toda a beleza que proporciona ao nosso olhar!
Com a Ruine Belford, um castelo medieval do séc. XII a despertar o imaginário!
E os montes a imitar tão bem um cenário pintado!
Cheguei a Monstein, a aldeia onde se produz uma deliciosa cerveja, com o seu nome, na fábrica de cerveja a maior altitude da Europa!!
A minha escolha de Monstein para passar 3 noites não foi casual! Na realidade, não achando eu Davos uma cidade bonita, procurei uma localidade tipicamente alpina para pernoitar e viver o espirito da zona!
Encontrei Monstein, localizada a 1620 m de altitude numa vertente do monte voltada ao sol, no vale de Landwassertal, rodeado de picos impressionantes, lindas pastagens alpinas e extensa floresta por todos os lados!
O hotel Ducan apresentava-se nas fotos como um postal habitável! Um chalé em madeira, cheio de flores nas janelas, com esplanada e terraço pitorescos e barato! E era mesmo tudo isso, para além da grande simpatia dos funcionários e de, na realidade, ainda ser mais “mimi” do que nas fotos!
Pousei as tralhas e fui dar uma volta à aldeia, que é pequenina mas cheia de vida!
Na realidade ainda apresenta as características inconfundíveis de uma aldeia típica dos Alpes. Casinhas, espigueiros, celeiros e cabanas são construídas em madeira, alguns têm mesmo o teto em telhas de madeira tradicionais e são forradas com pequenas escamas também em madeira.
Ali começam trilhos de percursos e caminhada que, no inverno serão caminhos para esquiadores!
Ainda me aventurei por alguns caminhos onde apenas caberia eu e a minha motita!
Era cedo para jantar, por isso ainda fui dar uma vista de olhos a ver se Davos continuava na mesma ou se tinha mudado muito! Não mudou o suficiente para eu gostar mais dela do que de costume! O mais bonito que tem é o lago, do outro lado da cidade!
Aqueles caminhos são sempre interessantes de fazer, com Schmitten a embelezar o regresso a Monstein!
Iria passar ali varias vezes ao dia, nos dias seguintes, sem perder nunca a vontade de fotografar a aldeia!
Decidi voltar para o hotel e jantar lá! Não me apetecia de todo andar de lado para lado à procura de um sítio para comer!
E o jantar foi uma agradável surpresa! A sala do restaurante era linda, os empregados simpáticos e a comida deliciosa!
Pedi um prato vegetariano, pois não me apetecia nem carne nem peixe e serviram-me um prato lindo e aromático. A princípio pensei que se tinham enganado, pois o prato que eu pedira era composto por queijo, lá da terra, com batatas e legumes, mas o que veio parecia-me peixe!
Embora ao comer o sabor fosse agradável mas indeterminado!
Só à 3ª ou 4ª garfada é que percebi que aquilo não era peixe e sim queijo! Uma delícia, porque o queijo embora panado, não derretera nem ficara enjoativo, pelo contrário, era fofo e… espantoso!
Adorei!
Fim do décimo segundo dia de viagem
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– Passo dello Stelvio –
11 de Agosto de 2012
Os dias em que estive em Monstein foram dias de ir e voltar, subir e descer, já para não falar no repetir caminhos e observa-los de ângulos diferentes! E o que eu gosto de andar para lá e para cá no topo dos Alpes! E desenhei um 8 no meu mapa! Ou um ∞ (infinito)!
No primeiro dia por minha conta, lá em cima, não dei ordem nenhuma ao GPS e, simplesmente segui o meu instinto e a minha memória para ir onde prometera ao meu moçoilo: até ao Passo dello Stélvio! Há uma série de anos eu fui lá, munida de mapa e muita intuição, desta vez seriam os mesmos meios que eu usaria para lá chegar!
Comecei por seguir pelo Flüelapass, que seria o primeiro do dia. Quando a nossa “casa” é por aquelas bandas não faltam Pass para nos levar e trazer de todo o lado!
Ali há 2 lagos, o Schottensee, maior, e o Schwarzsee, mais pequeno. Faria diversas vezes este pass, por isso não havia necessidade de fotografar muito, logo da primeira passagem!
Depois engrenei noutro Pass, o Pass dal Fuorn
Estava no meu caminho, e cheguei a Santa Maria Val Müstair, uma terrinha muito bonita e cheia de motociclistas que circulavam em todas as direções!
Escolhi a ruinha que me levaria por bonitas paisagens, ninguém veio pelo “meu caminho” por isso segui sozinha, monte acima!
Eu não queria fazer o Pass dello Stélvio de baixo para cima, por isso não fui dar a volta que todos davam. Preferi fazer a Via Humbrail, um “passinho” de montanha, com parte do piso em terra batida, cheio de curvas que sobem pelo meio de uma paisagem deslumbrante e sem ninguém por perto!
É melhor não me distrair muito a tirar fotos e a conduzir, num piso “areado”! Mais à frente há alcatrão e, se a memória não me engana, boas perspetivas para fotografar o “passito”!
E lá cheguei ao alcatrão, sem ninguém à vista! Acho que toda a gente faz o mesmo percurso, por isso fiz bem em fazer o “meu” sozinha! Eheheh
Com direito a paisagens, montes e espetáculo de beleza exclusivos, só para mim!
E naquela passeata, sem quase se dar conta, atingem-se os 2500 metros de altitude!
E logo a seguir aparece a placa do Passo famoso, vê-se logo pela quantidade de autocolantes acumulados na placa, a fama da rua!
Como sempre havia muitas motos por ali, muita gente a tentar tirar fotos junto das placas, muitas lojinhas de todo o tipo de bugigangas, a lembrar uma zona de peregrinação!
Claro que não neguei nenhuma foto famosa à minha Magnífica! Ela tinha o direito de ter documentada a sua presença ali! 😀
E o Passo esta logo ali, mal se começa a descer a rua… imponente!
Muita gente o observava e fotografava, uns já o tinha feito, outros iriam faze-lo.
Bem, fui buscar a moto, junto das t-shirts e dos bonecos de peluche, canequitas e postais, não iria ficar ali eternamente em contemplação!
A sensação ao olhar aquela estrada fantástica é de que ela é meio impossível de existir e de fazer! Tal como nas fotos, lá é difícil entender como “funciona”!
A primeira vez que fiz o passo, fi-lo subindo e quando cheguei lá acima, tive a sensação de que não vira nada! Por isso voltei a desce-lo para ver a paisagem, pelo menos, e é verdade, é muito mais deslumbrante descendo!
E só na descida conseguimos ver partes da estrada que fica escondida na “parede” abaixo de nós!
O glaciar está ali tão pertinho, o que torna o percurso ainda mais fantástico!
Aquela estrada sem ninguém seria o paraiso para a minha Magnífica e para mim!
Mas havia gente a stressar nas curvas e o pior é que não eram motos, senão a gente ultrapassava e pronto! Era um carro que parava em cada curva e depois fazia-a por parcelas!
Lá fui aproveitando a deixa para tirar fotos, cada vez que parávamos todos para ele fazer a curva!
Mas a dada altura aquilo estava a lixar a curtição a todos os que íamos atrás dele! Por isso aproveitei uma saída e fui fazer tempo para que aquela “coisa” se fosse embora! Curioso que uma série de motociclistas fizeram o mesmo que eu! Eheheh
E foi da maneira que consegui fotografar o Passo visto de baixo!
Passado um bom par de minutos não havia mais engarrafamento de estrada, e lá continuei a descida!
O Glaciar de Stelvio está num parque natural com o mesmo nome.
O meu Patrick desenhava a sequência de curvas e chamava a estrada pelo nome.
Na curva 48 há um recanto e um riacho em escada!
E cheguei cá abaixo… na berma da rua está uma casa cheia de tralhas e bugigangas curiosas e coloridas, parei para tirar uma ou duas fotos
O homem da casa veio logo, armado em cowboy, pedir-me um euro para eu tirar fotos!
“no tintendo!” já criei em palava única e resulta sempre! 😀
E segui para o Passo Resia, pois havia mais coisas que eu queria rever!
(continua)
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– Lago di Resia e alguns Passos! –
11 de Agosto de 2012 – continuação
Por ali pela zona não faltam restaurantes, hotéis e cafés desejando as boas-vindas aos motards e por vezes também aos ciclistas. São estradas muito frequentadas pelo povo das duas rodas e há gente que vem de toda a Europa para aquelas paragens para curtir as estradas de montanha!
E realmente eles andam por todos os lados!
E viajam em todo o tipo de motos! Encontrei muita gente a viajar de moto 4!
Mais à frente fica o Lago di Resia, onde eu já andei há 2 anos, vinda do Grossglockner.
Na altura não me apeteceu ir até ao Passo dello Stelvio, vinha da Áustria, era quase o pôr-do-sol, e à Áustria voltei. Mas desta vez era cedo e fui até ao lago que me maravilha, mais uma vez!
Escrevia eu em 2010 a propósito do lago e da torre:
“É surrealista ver-se uma torre de igreja que emerge das águas de um lago e eu não resisti em ir lá ver ao vivo!
O lago de Resia é um lago artificial, como é fácil de imaginar, se fosse natural não teria uma igreja e uma localidade no seu fundo! Ali existiam 2 lagos naturais e uma cidade, Venosta Graun, que foram inundados nos anos 50 com a construção de uma barragem.
Apenas a torre da igreja ficou visível e o efeito é no mínimo surpreendente!”
Dizem que em noites cerradas de tormenta se ouvem os sinos da torre do lago, mesmo tendo estes sido retirados há muitos anos atrás!
De dia e com sol, aquilo é uma animação!
Andava ali um grupo de foliões bem-dispostos a oferecer a versão italiana da ginginha a quem apanhavam a jeito! Estavam por lá muitas motos e muitos motards, mas eles acharam-me piada a mim por eu estar só, pois viram-me chegar sozinha e andar para um lado e para o outro.
Eu já fizera uma filinha de fotos por todo o lado e ia para a moto, quando os ouvi chamar em coro:
“hei, miss Honda!”
– o meu blusão diz Honda nas costas, não havia como ignorar o chamamento! De qualquer maneira eles já vinham na minha direção, de garrafa em punho e copito de plástico em riste!
Fizeram-me uma festa, por entre os olhares divertidos dos presentes que me tiravam fotos e chamaram-me “super donna” por ser a única condutora sozinha que eles tinham visto! 😀
Claro que aproveitei para pedir que me tirassem uma foto para mim também!
A ginja era deliciosa!
Depois lá me consegui escapar enquanto eles foram oferecer ginga a outros motards, e segui o meu caminho!
Passeando pela margem do lago, com o glaciar de Stélvio como paisagem…
Os sinais de boas-vindas a motociclistas continuam por ali fora, com parques de estacionamento especiais para as motos e tudo! Um mundo voltado para nós!
E entrei na Áustria, que se diz Österreich em alemão (muito parecido!), para seguir para a Suíça por outros caminhos diferentes!
Tudo é bonito por ali, afinal é a fama que o Tirol tem e não é por acaso!
Era cedo, por isso fui passear um pouco até Saint Moritz. Eu sei que a cidade é muito mais bonita no inverno que no verão, mas há sempre montras para ver, pessoas e recantos e, claro, o lago! Porque toda a cidade Suíça tem o seu lago ou o seu rio, e há algumas que conseguem ter os dois!
Encontram-se coisas interessantes por ali como a igreja católica de São Carlos.
Ou o Badrutt’s Palace Hotel, construído no séc. XIX e que marcou o início do turismo alpino!
O Hotel Palace tornou-se um marco pela arquitetura da sua característica torre.
Estamos a falar de uma zona onde a cada ano mais de 300 dias são de sol! (há mesmo estatísticas que falam em 322 dias de sol por ano!!)
Por isso, mesmo com neve, as esplanadas são bem-vindas e bem apreciadas! Curioso o pormenor de muitas, mesmo no verão, conservarem as peles sobre os bancos de madeira!
Depois há os pormenores que eu aprecio e que são tão mais interessantes que a cidade no seu todo!
Ali se podem encontrar as lojas e as marcas mais reputadas e a montras são originais! Eu gosto de apreciar o gosto na decoração de montras! Afinal também é uma arte!
Também há os recantos pitorescos e as esplanadas cheias de gente, ainda por cima estava calor!
E as esculturas curiosas e variadas!
Cenas de uma cidade descontraída com muito sol e calor!
Mas longe de ser a mais bonita que conheço! Lindo é o lago, que vislumbrava já por entre as casas!
Saint Moritz fica na sequência de vários lagos, o que lhe fica mais perto tem o seu nome ou Lej da San Murezzan, na língua deles!
A seguir fica o lago pequeno de Lej da Champfer que se liga ao lago maior de Silvaplanersee. Mais à frente ainda fica outro lago, o Lej la Segi, mas nem fui mais, ou nunca mais pararia de ver lagos e de os confundir uns com os outros!
Por isso fiquei-me pelo Lej da Champfer, o estreito que o liga ao seguinte e as estradinhas por ali!
Há ali uma casa, quase um castelo, na junção dos lagos, tão bonita!
Um privilégio viver com uma paisagem daquelas, deslumbrante a cada momento do ano, porque no inverno é paradisíaco também!
As ruinhas que ligam cada recanto habitado por ali são muito bonitas
e as pessoas passeiam-se naturalmente de cavalo! Eu também o fiz, no meu cavalo mecânico! 😀
Os cavalos olhavam para mim de lado… a bem dizer eles só podem olhar de lado! Os seus olhos são voltados um para cada lado, logo nunca olham de frente! 😮
E lá estava a junção dos dois lagos! Eu não iria mais para a frente, queria ir ali ao lado cuscar umas coisas.
Um Pass que eu fiz há muito tempo e que queria rever: o Julierpass
Eu já fiz aquilo de bicicleta um dia e de moto anos depois…
E há um lago, lá à frente, artificial, provocado por um dique que a mim sempre me impressionou!
Porque de um lado fica a água e do outro o monte, com casas e campos de cultivo e gente a viver!
Na minha inocência e ignorância, tenho sempre a sensação que um dia aquela agua toda avança o muro de terra, que é o morro, e afogará toda a gente por ali abaixo!
É o Lac de la Marmorera e ali em baixo está uma cidade, a cidade velha de la Marmorera, afogada desde 1954, quando aquilo foi construído…
Ao longe o muro de terra relvado esconde o lago, como se ali apenas existisse uma colina inocente!
E segui meio para trás, para voltar a Monstein pelo Albula Pass, um Pass muito antigo e bonito!
E tive direito ao meu “pedacinho de Escócia” por momentos!
Construído há quase 150 anos, sempre bonito, sempre renovado e transitável! No inverno chega-se a circular por carreiros formados pela neve, com paredes de mais de 3 metros de altura dos dois lados!
No verão é toda esta beleza!
Bergün fica logo a seguir, uma vilazinha deliciosa de origem medieval, com construções cheias de decorações pintadas, comuns por aquela zona.
Parecem casas bordadas!
E fui para casa, que por aqueles dias, e àquela altitude, a temperatura já baixava um bocado à noite!
Em “casa” esperava-me a deliciosa cerveja local, fresca e tomada no fresco do entardecer!
E voltei a jantar um prato delicioso de legumes variados (e não identificados) com queijo gratinado por cima, numa sala acolhedora e quentinha!
Que feliz que eu sou na Suíça…
Fim do décimo terceiro dia de viagem!
**** ****
(continua)
*
*
– Passo del Bernina e la Diavolleza! –
12 de Agosto de 2012
O dia amanhece sempre fresco por aquelas paragens, a gente sai de casa e esbarra com uns 10 ou 11 graus que nos fazem acordar de vez, se o pequeno-almoço não o conseguiu fazer definitivamente!
Havia meia dúzia de coisas a catar ainda por ali e, como os dias são ainda longos, fiz um desenho meio bizarro no mapa, de tanto vai e volta e torna a subir e a descer!
Pouco me importa se o desenho é lindo e ordenado, desde que eu faça o que me apetece e consiga ver o que me dá na telha!
Comecei por visitar um pouco mais de Monstein, que é como eu faço cada vez que estou vários dias no mesmo sítio: visito um pouco a cada dia!
No dia anterior tinha havido uma festa na aldeia e havia carros de cerveja estacionados pela rua. É sempre curioso fazer uma festa junto a uma fábrica de cerveja, adivinhem o que mais se bebeu por ali!
Há uma igrejinha logo a seguir ao hotel, muito bonita, com uma torre bem tradicional por ali. A Alte Kirche, (ou igreja velha) É uma igreja do séc. XVI ligada ao culto evangélico, que hoje é usada para reuniões e eventos na aldeia.
As flores são presença em todas as aldeias e cidades e na verdade conferem aos locais muito encanto e beleza!
As casas têm frequentemente bancos e cadeiras à porta porque, tal como algumas das nossas aldeias, dá-se muito valor ao sentar à porta a apreciar a tarde e a conversar!
E as paredes exteriores das casas mais antigas e típicas são revestidas com escamas de madeira. Era o caso do Hotel Ducan onde eu estava hospedada.
A igreja nova, Neue Kirche de finais do séc. XIX, fica logo ali à frente e é a que se vê de longe, quando nos aproximamos, pois fica na berma da encosta.
Ali deve morrer pouca gente, pois o cemitério é bem pequenino! Seria de pensar em ir viver para lá só por isso, não?
A água brota gelada das fontes, ao ponto de quando enchemos uma garrafa de agua, esta fica embaciada com a diferença de temperatura, tal como se a tivessemos tirado do frigorifico! Não é de admirar que se ponha tudo a refrescar nas fontes, como barris de cerveja!
E desci o monte… que aqui é um “descer para cima” já que Davos é também bastante alta.
Se Davos é a cidade mais alta da Europa com os seus 1.560m de altitude, Monstein não será a aldeia mais alta com os seus 1.620m?!
E fui até Davos para conhecer o meu amigo do Face, António da Silva, que me mandara mensagem no dia anterior a perguntar quando passaria por Davos!
“Davos? Eu estou aí à porta!”
Lá o conheci, a ele (o da esquerda) e ao Paulo Basilio (na foto) e o António Mendes (a tirar a foto).
Gente portuguesa, ainda por cima vindos de perto da terra onde vivo! E foi preciso ir tão longe conhece-los! Boa gente!
Lá estão os 3 junto da minha Magnífica, para memória futura de gente que conheci em viagem e conto encontrar por terras lusas, mais dia, menos dia!
Depois da conversa possível, pois eles não estavam por lá a passar férias, atravessei Davos, com os seus pormenores interessantes!
E fui passear. É curioso constatar que há quem tenha como trabalho conduzir autocarros nos Pass de montanha! É a coisa mais comum cruzar com autocarros a percorrer uma estrada toda “engelhada” de montanha!
Voltei a subir Flüelapass, que já era quase a avenida de minha casa, para ir para Bernina Pass e seu glaciar!
As neves eternas espreitam-nos por cima dos montes, por entre as arvores e eu queria vê-las de perto!
O Bernina Express passava por caminhos perto dos meus e acompanhei o comboio até a sua linha se afastar de mim.
“Não há praticamente nenhum topo de montanha na Suíça onde não se possa chegar facilmente de comboio. Cerca de 670 comboios e funiculares permitem o acesso aos mais maravilhosos recantos nas montanhas. Alguns em funcionamento há mais de 100 anos. O comboio é o meio de transporte mais utilizado para viajar pelo país e alguns fazem percursos considerados dos mais bonitos do mundo!”
E o Passo del Bernina não é exceção, mas chegar lá de moto é, sem dúvida, muito mais interessante!
O ponto alto do Pass é interessante, com o glaciar a espreitar logo ali em cima, o lago esbranquiçado e as vaquinhas a pastar. Encontrei uma vaca em stress que mordia tudo o que encontrava!
Acho que o seu grande boi a tinha abandonado ou lhe tinha posto um par de chifres e ela mastigada a frustração! Há as vacas loucas e as vacas passadas!
E o deslumbramento estava por todo o lado!
Logo ali fica Livigno e, para quem quer mais Stelvio, começa mais à frente a subida para Bormio.
Livigno é uma cidade que fica aninhada e isolada, em filinha, entre montes durante grande parte do ano o que a faz não se reger pelas leis nacionais e não ter iva! Dai o meu espanto ao ver os preços da gasolina! Ninguém acredita que num país onde os preços da gasolina 95 andam pelos 1.78 haja um recanto nos Alpes em que custa apenas 1.164! Mas é mesmo verdade! A pena que eu tive de não ter o depósito vazio!
A cidade é comprida pelo vale alongado.
Ainda fui passear um pouco para os montes para gastar gasolina… mas tive de voltar mesmo com o depósito a meio e enche-lo mesmo assim.
Encontram-se muitas motos e motociclistas pelas ruas e, de entre todos, cruzei com um casal giríssimo, que viajava em 2 motos, cada um transportando um filho à pendura! Adorei! Só não tirei fotos porque não tenho feitio para seguir as pessoas e eles seguiam em sentido contrario ao meu!
Mais tarde viria e cruzar com um outro casal semelhante, em que apenas as crianças eram mais novitas.
Os motards são bem-vindos por ali!
Passeei mais um pouco, porque a montanha é sempre fascinante para se conduzir uma moto
E voltei ao Passo del Bernina pois queria visitar o seu glaciar de perto!
Ali na redondeza há 2 ou 3 teleféricos, mas eu não iria subir mais do que um, por isso embarquei no que me levaria ao Diavolezza, que sobe dos 2.093 m (onde deixei a motita) até aos 2.978 m de altitude (onde fica o glaciar)
Sempre gostei muito de andar de teleférico, então quando aquelas paisagens estão todas brancas é uma sensação de verdadeiro êxtase, subir ao glaciar!
Lá em cima fica um restaurante simpático que apoia caminhantes, no verão e skiadores, no inverno!
Lá fora as pessoas comem e descansam ao sol, que é quente, embora a temperatura do ar seja fria. É uma sensação parecida com a do inverno, quando tudo é branco, o ar é gélido, o ar condensa-se quando falamos e no entanto o sol é quente e esturrica-nos a pele!
e depois do “patamar” em pedras soltas, onde a esplanada se instala… la Diavolleza espreita…
Caminhantes amontoam pedritas aqui e ali, em montículos maiores e menores e eles ficam ali, na berma do declive até a neve voltar a cair e tudo cobrir…
A sensação é que não há maquina que consiga registar toda a imensidão que é aquele mundo branco, com o seu rio estático, de neve que parece querer descer o monte…
Escrevia eu, ainda em viagem, na minha pagina “Passeando pela vida”:
“O glaciar de Bernina, la Diavolezza… numa foto panorâmica, pois não há outra forma de mostrar toda a sua grandiosidade!
Conheci diversos glaciares, sempre no inverno para fazer ski, mas ir até eles em pleno agosto é… avassalador! Há um pulsar por trás do silêncio das neves eternas, como se uma “alma aquosa” se mantivesse acordada, enquanto a grande entidade dorme! Ouve-se mesmo um leve restolhar de água longínquo vindo do mar de gelo e quase ficamos à espera que ele se mova…
Ele absorve todos os ruídos, como o deserto e uma paz absoluta se apodera de mim…”
Nenhum ruido chega até mim, desde a esplanada, como se não houvesse lá ninguém!
Não sei quanto tempo fiquei ali, mas foi muito!
Até finalmente ganhar coragem para me afastar e descer ao mundo real…
Há lagos que se formam com o desaparecimento das neves e a gente quase perde a noção da sua dimensão, no meio de tanta imensidão!
Mas, se olharmos com mais cuidado, a setinha vermelha aponta uma tenda “igloo” na borda do lago, e a setinha branca aponta uma filinha de varias pessoas que percorrem o caminho.
Outro lago mais abaixo, o mesmo que já fotografara na subida…
“Quando os glaciares se sucedem e se tornam paisagem acessível, o paraíso parece que desceu à terra ou que nós ascendemos ao paraíso! Lá, no topo dos Alpes, com o glaciar de Bernina a encher-me os olhos e o coração, eu acreditei no paraíso mais uma vez!
Por aqueles dias eu li num blogue de um motociclista brasileiro, Lineu Vitale, a seguinte frase e, depois de um sorriso aberto, tive de concordar com ele:
“Se você se comportar e for um bom motociclista, cuidar bem da sua moto, trocar o óleo no tempo certo e ajudar seus companheiros de viagem, quando você morrer vai para os Alpes como recompensa.”
E voltei à estrada fantástica!
(continua)
**** ****
– Guarda, Tarasp e Nauders –
12 de Agosto de 2012 – continuação
Havia ali uma aldeia que eu tinha toda a curiosidade em visitar, uma aldeia tão bonita que já ganhou o Prémio Wakker, atribuído pelo Património Suíço à comunidade ou entidade suíça que fez mais e melhores esforços para preservar o património do país.
E claro, o nome “Guarda” também tem a sua piada, para um português!
Guarda, no Engadine Inferior, é uma aldeia tão bonita que recebeu a distinção “de importância nacional”.
Não se pode estacionar na aldeia, há um parque antes de chegar à entrada e depois temos de caminhar… mas aquilo sobe e não é tão perto como isso! Fui espreitar como era e reparei que não havia ninguém estacionado em lado nenhum, apenas nos parques privados…
Voltei ao estacionamento fora da aldeia…
Fiquei ali sem saber o que fazer, honestamente não me apetecia subir a estrada a pé e depois voltar a descê-la! Então vejo passar uma Pan igualzinha à minha e o tipo lá foi todo contente!
Claro que tratei de ir atrás, ver onde ele punha a moto! Entramos na aldeia e ele parou-a num larguito onde eu já estivera. Bem, se ele pode eu também posso, sempre sendo dois nos defendemos melhor!
“no problem“ disse ele, vendo-me olhar para a placa de “proibido estacionar”.
A verdade é que ninguém nos disse nada e foi muito melhor aproveitar o tempo para visitar a aldeia em vez de o gastar na caminhada desgastante até ao parque!
A vantagem de não ser permitido estacionar é que as casinhas estão completamente visíveis, sem carros monstruosos na frente e podemos ver bem as suas pinturas decorativas a fazer lembrar autênticos bordados!
Há ali casas com 500 e 600 anos, lindas!
Uma destas imponentes mansões inspirou Alois Carigiet um artista famoso que ilustrou uma história infantil de grande fama, ao projetar a casa de Schellenursli, numa história infantil criada por Selina Chönz, uma grande escritora suíça.
Cá está a casa da Guarda de Alois Carigiet:
E cá está a casa real que o inspirou:
Mas não faltam por ali casas espantosas e inspiradoras! Eu própria queria lá ficar a desenhar algumas!
É curioso que a maior parte das casas tem pintada na decoração das paredes a data em que foi construída e depois a data em que foi restaurada!
A língua oficial de Guarda é o Romanche, mas dá para entender o que diz na pintura:
«Fabricha – 1650» – deverá ser o ano de construção e
«Renova 1973 – 1979» – deverá ser o período de tempo que demorou o restauro!
E lá estava a minha Magnífica de namoro pegado com a Pan do austríaco! Curioso que a cor prata na Pan European é a mais banal por cá, mas não pela Europa! De tanta Pan que vi, apenas 2 eram da cor da minha e uma foi esta!
Dei mais uma voltinha pela zona mas a seguir fica uma outra aldeia muito menos interessante, Bos-Cha, com as ruas em terra batida, por isso só andei enquanto o alcatrão era bom, depois voltei para trás, pois não me apetecia andar em malabarismos!
E voltei a atravessar Guarda, com mais umas fotos tiradas em andamento, pois é impossível passar sem querer fotografar!
E lá estava ela, vista do topo do morro que lhe serve de encosta!
E a ruínha tão agradável de fazer de moto e tão desanimadora para fazer a pé! Eheheh
Mais à frente O Schloss Tarasp, um castelo encantador do séc. XII, no topo de um penhasco que, embora seja alto, fica aninhado entre as altas montanhas alpinas que o rodeiam.
O castelo é visível desde todo o lado, até que uma montanha se entreponha, e eu brinquei contornando todo o vale em seu redor para o apreciar de todos os ângulos possíveis, porque na envolvência, ele é ainda mais extraordinário!
Estamos no Baixo Engadine, um longo e belíssimo vale rodeado pelas montanhas de Engadine, ali nasce e passeia-se o rio Inn, que vai buscar a sua água ao Piz Bernina, lá acima dos 4.000 metros de altitude! Depois segue para a Áustria onde atravessa a famosa e bela cidade de Innsbruck, antes de seguir para Baviera, na Alemanha.
É uma sensação tão curiosa sentir-me no meio de tanta beleza e tão perto de mais e mais beleza!
E na minha volta ao vale o castelinho estava sempre na paisagem, deslumbrante!
Na encosta em frente fica Ftan, uma aldeia muito bonita também com mais casinhas bordadas com pinturas lindíssimas!
E segui para a Áustria de novo! Porque na Suíça a gente nunca sabe quando será melhor sair do país para chegar melhor ao país!
Mas ali eu queria mesmo dar uma vista de olhos a um caminho e a uma cidadezinha de ski!
Nauders e o seu castelinho!
A cidadezinha está muito próxima das fronteiras com a Italiana e com a Suíça e por isso foi o ponto de passagem em fuga de muitos oficiais nazis no fim da Segunda Guerra! A fuga dos “heróis”!
O Schloss Naudersberg, um castelinho do Sec XIII domina a povoação!
Eu adoro ver um castelo numa paisagem deslumbrante de montanha!
Não é o castelo em si que eu quero visitar, normalmente, quero apenas fotografa-lo no seu meio!
E para isso às vezes faço muitos quilómetros até encontrar o que procuro!
E voltei para a Suíça.
Fazendo o caminho do Festung de Nauders, um forte construído no séc. XIX para proteger a zona, já que se tratava de uma rota comercial e internacional de 3 países. Hoje funciona ali um museu militar que estava fechado!
O que me chamou a atenção ali foi a arquitetura bizarra! Ainda por cima a rua passa-lhe quase em cima, nem dá margem para muito estacionamento!
Este foi o dia dos motociclistas simpáticos, os viajantes, que andavam na estrada para ver e visitar e fiz boa parte do caminho de regresso a Monstein com estes dois casais como companhia!
Aquela foi a segunda Pan prata que vi na viagem! Por isso vi as 2 no mesmo dia, até ali e depois dali só as vi de todas as cores inimagináveis por cá, incluindo amarelo, vermelho, verde vivo e azul!
O céu estava a fechar-se prometendo chuva, na hora certa em que eu chegava a casa!
Fim do décimo quarto dia de viagem!
**** ****
(e vai continuar!)
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Oberalppass / Furkapass / Grimselpass
13 de Agosto de 2012
Naquele dia seguiria para Lucerne, o caminho não é longo como quase nenhum caminho é naquele país! É como se tudo fosse tão perto que em 200 ou 300 km a gente pudesse alcançar meio país! Mas ali todo o percurso é deslumbrante por isso não deverá haver pressa para chegar a lado nenhum!
Então decidi fazer 3 dos Pass que mais gosto por aquelas paragens, em passo de passeio, porque aquelas paisagens são lindas e inspiradoras, sobretudo com todo aquele sol e o céu magnificamente azul!
Despedi-me do meu hotelzinho lindo de montanha
E fiz-me à estrada que é sempre deliciosa e com as bermas “alcatifadas” de relvinha verde
Atravessei o Distrito de Surselva que é lindo e uma das poucas zonas onde se fala o Romanche. Ali perto forma-se o rio Reno com a junção do Vorderrhein e do Hinterrnhein.
O vale do Vorderrhein é deslumbrante!
A estrada parece uma prateleira na encosta escarpada do monte com o paraíso logo ali à nossa direita!
Depois os vales sucedem-se, por vezes a grande altitude.
E chegamos a Oberalppass, sem darmos por ela, na apreciação da estrada e das paisagens!
O Oberalppass é uma estrada fantástica, um alto passo de montanha que faz a ligação entre os cantões de Grisões e de Uri e atinge a bonita altitude de 2046m! É uma estrada extraordinária não apenas por causa das suas agradáveis curvas mas, sobretudo, pelas suas belíssimas paisagens!
Por momentos a gente tem até pena que não seja possível parar a todo o momento para apreciar tudo o que a estrada tem para nos mostrar e, quando a gente pensa que a descida será o fim do prazer, o grande vale de Urseren estende-se aos nossos pés!
Lá em baixo atravessamos Andermatt e continuamos pelo longo vale.
E há um momento, lá por Hospental, em que o Overalppass se transforma em Furkapass!
E do outro lado fica o passo fantástico, o Furkapass, e é desde a sua subida que temos a noção da estrada que acabamos de percorrer!
Há momentos de pausa por aqueles caminhos, quando os veículos são maiores que o espaço da curva!
Ao fundo o Oberalppass deslumbrante depois do grande vale!
E a subida continua e o deslumbramento está de ambos os lados do monte
O Furka Pass é uma estrada que nos permite ter, para além de um grande prazer de condução, o deslumbramento da paisagem.
Sobe a mais de 2400 metros de altitude, com uma série de curvas fechadas e paisagens extraordinárias sobre o maciço de St Gottard e o Vale de Ursen.
Ali se filmou partes do filme de James Bond, Goldfinguer.
De lá de cima pode-se ver o Grimselpass, o terceiro Pass delicioso que iria fazer naquele dia.
E a descida do Frukapass ainda tinha tanta beleza para proporcionar até chegar ao Pass seguinte!
A sua famosa curva “suspensa” fica daquele lado. Lá estava ela.
Por aquelas paragens é por vezes um “não sei se vá, não sei se fique” com tanta beleza que nos rodeia!
Tiro mais umas quantas fotos (repetidas) e sigo o meu caminho, pois então!
Ali está a curva “suspensa” na minha frente!
E os rasgões da estrada na encosta que eu acabava de descer.
O glaciar de Furka ou o glaciar do Rhone.
Há ali uma gruta de gelo que eu visitei há muito tempo, terei de lá voltar um dia, quando as minhas finanças me permitirem fazer visitas (e viagens de comboio também, pois este ano nem pensar!)….
O Grimselpass é um dos meus Pass do coração. Há muito que não lhe dedicava a atenção que queria, mas passeei muito por ali em tempos e este ano quis matar saudades, já que o tempo estava bom e com boa visibilidade!
A última vez que ali passei o topo nem se via, com as nuvens baixas que formavam um chapéu lá em cima!
A estrada que acabara de fazer parecia uma linha num bolso lá em baixo!
Lá em cima mais um ponto de encontro de motards!
O Totesse, um lago simpático e lindo com uma pequena ilhota e o glaciar a espreitar ao fundo,
Um francês, que me viu passar e depois tirar fotos ao lago e à moto, veio-me perguntar se eu não queria que me tirasse uma foto!
Aproveitei a simpática oferta. Ficamos ali um pouco a conversar, ele andava a passear com a esposa e chamou-lhe a atenção eu andar por ali sozinha. A sua surpresa aumentou quando percebeu que eu era de longe e iria seguir para mais longe! Gente simpática!
Temos a sensação de estarmos mais uma vez no topo do mundo!
Ali ao lado há uma estradinha estreita de montanha, de circulação alternada controlada por semáforo, que vale a pena visitar. A gente espera um pouco e vai em paz por ali fora, pois temos 15 minutos para chegar ao outro extremo. Uma vez lá, teremos de esperar pela nossa vez para voltamos.
Só vale a pena faze-la se estiver o tempo limpo pois com muita visibilidade conseguimos ver o coração do glaciar ao longe!
Para lá não estava muito à vontade pois levava um carro atras de mim e cheguei à barragem com poucas fotos. Mas no regresso trataria de não levar ninguém atrás de mim a stressar-me!
O glaciar de Oberaar e o seu lago Oberaarsee é uma das nascentes do rio Aar, o rio turquesa que atravessa Interlaken e a capital da Suíça: Bern.
Não havia ninguém por ali, parece-me que continua a ser um caminho desconhecido da maioria dos turistas! O que foi uma boa noticia para mim! 😉
Um glaciar com mais de 4km e acima dos 2.500 de altitude, que parece ao alcance da nossa mão!
Depois o caminho de regresso a Grimsel foi feito nas calmas a aproveitar bem os 15 minutos que tinha para o fazer!
Apenas havia um carro para fazer o mesmo caminho e eu deixei-o ir à frente. Curioso que também ele circulava bem devagarinho, as pessoas deviam ir lá dentro, como eu, a tirar fotos e a apreciar a paisagem deslumbrante!
O tempo deu-me para tudo, até para fazer 2 pequenos filmes do caminho!
É sempre curioso ver os lagos de montanha turbos e baços, parecendo impossível que aquela agua se venha a tornar azul-turquesa e transparente mais à frente!
A dada altura já se via o Grimselpass a serpentear lá em baixo!
E segui para Lucerna, relaxadíssima e cheia de paz!
Ao chegar ao lago ainda tinha muito tempo pela frente para rever a cidade que, para mim, é uma das mais bonitas da Suíça, mas para muita gente é mesmo a mais bela!…
Os cisnes estavam a tratar do jantar! 😀
—- A bela Lucerne! —
Claro que não fui quietinha e sem uma foto até Lucerne! Afinal a beleza do caminho não se esgotava ali!
Desci o Pass na companhia de uma Glodwing de gente simpática.
Entrei no cantão de Obwalden, que contem o centro geográfico da Suíça e, para mim, é o cantão mais bonito do país!
Lá em baixo Lungern e o seu lago Lungerersee, um lago esmeralda lindíssimo que me prende sempre o olhar, cada vez que passo ali!
Parei e não mexi mais por muito tempo! Fiz um picnic ali e tirei meio milhão de fotos repetidas e iguais a tantas outras que tirei noutros anos…
E depois de horas a comer, a beber e a tirar fotos repetidas, lá me forcei a descer o monte até Lucerne, ainda com o verde do lago no olhar!
O lago de Lucerna é um dos lagos mais belos do país, por isso a perda não era significativa!
O hostel era num sítio estratégico da cidade, por isso fui largar a trouxa e a moto e fui passear a pé pela cidade, pois há ali recantos lindos que já não visitava há anos!
A rua das traseiras do hostel era gira, com paredes pintadas em “tromp l’oeil” que davam a sensação de que a rua continuava! O que eu gosto daqueles murais!
Ali à beirinha fica o monumento Löwendenkmal, ou monumento do Leão
Mark Twain falava do monumento como “a mais lúgubre e tocante peça em pedra no mundo.”
Uma escultura em relevo construída em homenagem aos guardas suíços que foram massacrados em 1792 durante a Revolução Francesa.
A inscrição superior diz “Helvetiorum Fidei ac Virtuti” que quer dizer “à lealdade e bravura dos suíços”
A inscrição em baixo diz os nomes dos nomes dos oficiais, e o número aproximado dos soldados que morreram (DCCLX = 760), e sobreviveram (CCCL = 350)
O monumento é muito visitado e estão sempre a chegar pessoas em grupos para o verem e fazerem-se fotografar em frente dele!
Achei curioso a quantidade de grupos de indianos que passaram por lá enquanto eu ali estive sentada a apreciar.
Os Alpes são um destino muito procurado pelos indianos para rodar muitos dos seus filmes. A Suíça faz muito boas condições para as equipas que vão filmar no país, com impostos, alugueres e licenças especiais, rápidas e baratas, que nenhum outro país alpino consegue superar!
Acabam por só ganhar com isso pois, alem dos ganhos que as rodagens trazem ao país, pois embora paguem barato pagam muito, pois são muitas pessoas e equipamento por muitos dias a circular no país, trazem depois toda a multidão de pessoas comuns que querem ver com os seus olhos os locais onde os seus heróis foram filmados!
Mais à frente fica um recanto bem antigo da cidade com a sua igreja Hofkirche Sankt Leodegar, uma igreja do séc. XVII, renascentista, construída sobre uma outra românica, que ardeu, e de que restam ainda as duas torres pontiagudas. St. Leodegar é o santo padroeiro da cidade.
Em volta da igreja fica uma espécie de claustro que é cemitério! É curiosa a forma como dispõem as sepulturas em torno da igreja e dentro das arcadas, como se de um jardim se tratasse!
Outras sepulturas são apenas assinaladas com pequenas lápides na relva!
A Cidade Velha fica logo ali em volta com chalés de madeira e vestígios de muralhas em alguns sítios.
Mas as casinhas de madeira ou com o travejamento de madeira exterior colorido, é que são mais comuns.
Há coisas nas montras de souvenires que me espantam! Gostava de ver o MacGyver transportar um canivete suíço destes no bolso! Isto nem é uma arma branca, é mesmo uma arma de arremesso!
Só para encontrar o instrumento que se procura é preciso um mapa do canivete!
Depois fui andando pela margem do lago na direção do Rio Reuss, lá onde fica, entre muitas outras coisas, a famosa Kapellbrücke ou Pont de la Chapelle, uma das pontes de madeira mais antiga da Europa.
O Rio Reuss nasce no maciço de Aar-Gothard, perto do St Gothard Pass, e é afluente do rio Aar, que é afluente do Rio Reno! É tudo família por ali, entre rios e lagos!
A Pont de la Chapelle, do século XIV, é o ex-libris da cidade e uma das pontes de madeira mais antigas da Europa.
Esta ponte foi parcialmente destruída em 1993, quando eu estava na Suíça, por um fogo provavelmente provocado por um cigarro que caiu num barco que pegou fogo à ponte! Foi um susto nacional na época!
Na época existia um ancoradouro de barcos por baixo da ponte que foi proibido depois do incidente.
A ponte foi restaurada e inaugurada em 94
Nota-se ainda a parte velha chamuscada e a nova após o fogo.”
A torre da Água, do séc. XIII, octogonal, já foi prisão e câmara de tortura noutros tempos!
É muito bonito passear por ali, porque todos os ângulos da ponte são bonitos e únicos. Depois há esplanadas animadas por todos os lados e a gente nunca se sente só!
E cheguei à outra ponte de madeira sobre o Rio Reuss, a Spreuerbrücke, ou ponte dos despejos, do séc. XV.
Na idade média apenas ali era permitido lançar despejos no rio. Tal como a Pont de la Chapelle, é adornada por pinturas
Por baixo dela e em seu redor há uma espécie de represas que fazem efeitos muito bonitos nas aguas do rio.
Depois o percurso de regresso é sempre bonito pelas casas pintadas que se encontram por ali, cada uma mais bonita que a outra!
A torre do relógio da Mairie, que continua em obras desde a última vez que lá passei, há 2 anos!
Há casas que enchem os olhos como a Casa Gremial, devia estar ligada aos padeiros pelos desenhos e inscrições, em alemão arcaico
E o rio é logo ali
com as águas irrepreensivelmente límpidas para um momento de rara beleza ao entardecer, antes de voltar para casa, que naquele dia era em Lucerne!…
Fim do décimo quinto dia de viagem!
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O Vale Lauterbrunnen e Grinderwald
14 de Agosto de 2012
Iria ficar 3 dias em Lucerne o que me dava tempo para tudo, até para perder tempo a fazer o que me desse na telha! E o que eu gosto de perder tempo a vaguear sem preocupações de depois ele não chegar para ver tudo!
Comecei por subir o Mont Pilatus, que fica logo ali pertinho da cidade, e que no dia anterior estava coberto por um grande chapéu de nuvem, mas que naquela manhã prometia alguma visibilidade, apesar da névoa matinal sobre o lago!
A névoa acaba sempre por dar um ar de mistério às paisagens e o lago parecia vindo de uma outra realidade.
Enquanto o monte estava bem descoberto e iluminado pelo sol!
As ruínhas são deliciosas pela encosta, ladeadas por relvados imensos.
E o mundo lá em baixo, mágico!
Chama-se frequentemente Lago de Lucerna àquele lago, mas o seu verdadeiro nome é Lago dos Quatro Cantões, mas ele seria assunto para um outro dia quando eu lhe dei a volta!
Naquele dia apenas me passeei pelas encostas para o apreciar ao amanhecer!
E segui por outros lagos, que por ali são frequentes e frequentemente lindos, como o de Lungern que vira ontem a caminho de Lucerne.
E segui para Brienz, uma terrinha muito mimi, com o seu lago espantoso, o Brienzersee.
O lago de Brienz, ou Brienzersee, é um lago lindíssimo de águas cor de esmeralda. As suas margens são íngremes e quase nunca se lhe vê o fundo pois é bastante profundo!
Recebeu o seu nome da aldeia de Brienz, de onde partem passeios de barco ou de comboio para as visitas mais encantadoras ao Oberland Bernense!
Tudo é lindo por ali e a atmosfera é de calma e serenidade, como se o tempo parasse na aldeia onde se fabricam os verdadeiros e únicos relógios de cuco suíços….
Todos os caminhos são bonitos, todos os montes são deslumbrantes, a caminho de Lauterbrunnen.
Lauterbrunnen fica no vale com o mesmo nome, um vale em U, escavado nas montanhas mais impressionantes dos Alpes, entre gigantescas encostas rochosas e picos montanhosos.
Dizem que tem 72 quedas de água, cada vez que lá vou descubro mais uma ou duas até que um dia terei visto todas! 😉
O Vale Lauterbrunnen é uma das maiores áreas de conservação da natureza de toda a Suíça e um “recanto” que venho prometendo a mim mesma explorar mais a fundo, um dia! É que há recantos que eu simplesmente ainda nem sei lá ir, pois conheço-os de comboio, não sei nem se há rua!! 😮
O nome Lauter Brunnen inspira já por si, querendo dizer algo como Fonte Pura ou Muitas Fontes!
E lá estão elas a cair em força por altitudes por vezes de 200 metros, sobre o vale!
Encostas escarpadas que mais parecem muros que ladeiam o vale!
A gente vê as longas linhas brancas pelos penhascos, de águas em queda e sente-lhe o som e a vida, mesmo de longe!
O rio Weisse Lütschine atravessa a cidadezinha e o vale, com as águas brancas típicas dos rios de grande altitude.
E todas as águas se lhe juntam em força!
Por ali tudo é lindo e muito fica para se visitar a cada vez que lá se volta!
Pertinho fica Grinderwald, um alto paraíso de montanha que visito sempre que posso porque a sua beleza é inesgotável!
Um dia tenho de me dispor a subir ao glaciar de Grinderwald, para isso terei de pernoitar uns dias na vila, para caminhar quanto baste por ali acima, por caminhos, escadas e pontes de madeira e ir até ao seu coração!
Desta vez limitei-me a andar pelas ruínhas estreitas das encostas com a minha motita!
E recolher imagens gerais dos topos mais espantosos!
E são caminhos deliciosos de fazer, com cascatas em ruas ingremes e estreitas onde não passaria muito bem um carro por mim!
Autênticos caminhos do paraíso!
—- Thun e o castelo de Oberhofen.—
Depois de me passear longamente pelas ruelas de Grindelwald, desci até Thun e o seu lago, o Thunersee. Thun é uma cidade muito antiga, fundada no século XII, que fica no ponto onde o Rio Aar sai do lago para seguir o seu caminho para Berne.
Aproveitei para comer qualquer coisa ali mesmo na beira do rio, em ambiente muito simpático e refrescante!
Ali à beirinha fica uma das 2 pontes cobertas em madeira, cheia de flores, que atravessa o rio fazendo um “L”, ligando a pequena ilha onde estamos à margem.
A Schleuse am Mühlenplatz, ou Eclusa de Mühlenplatz, que faz uma represa por baixo com a maquinaria dentro da ponte.
A água é tão límpida que os peixes não têm nenhuma privacidade, pelo menos a gente vê-os com toda a clareza, cá de cima!
O efeito das águas em movimento é muito bonito pois a sua cor torna-se ainda mais luminosa!
A segunda ponte é mais à frente, a Obere Schleuse, ou Eclusa de Obere, à primeira vista até parece a mesma!
Se não tivéssemos de caminhar um bom bocado até ela poderíamos achar que apenas déramos a volta e chegávamos ao mesmo sítio!
Também ela tem a represa por baixo e a maquinaria dentro!
Na realidade estas represas, ou eclusas, vão servindo para controlar a intensidade com que o rio Aar sai do lago e passa pela cidade contornando a sua ilha, dado que quando a sua corrente é muito forte provoca mesmo inundações pois a saída das águas é estreita!
Depois vão-se fazendo umas fotos tipo postal suíço, com as flores em primeiro plano e a igreja gótica ao fundo, que não visitei pois nem me apetecia sair da beira do rio!
O centro antigo da cidade é simplesmente delicioso! A rua Odere Hauptgasse é estreitinha no “rés-do-chão” mas larga em cima, onde passeios e esplanadas se estendem em cima das lojas avançadas, formando num nível alto, uma segunda linha de comércio!
Este tipo de ruas é comum em varias cidades suíças, mas em Thun tem o seu encanto particular.
Lá à frente fica a Rathausplatz , a praça da Rathaus, de onde ficam alguns edifícios bem bonitos, como o hotel Krone ou a propria Rathaus.
Dali se avista o castelo que eu não iria visitar! Eu sei que é lindo, um castelinho do séc. XII onde hoje funciona um museu muito interessante, mas que eu já visitei em tempos e desta vez, nem a magnifica paisagem que se avista lá de cima, me fez subir as escadas que parecem infinitas, vistas cá de baixo!
Mas encantadora mesmo é a rua Odere Hauptgasse, cheia de lojinhas de tudo, que na parte superior quer na inferior, ao nível da rua!
Achei piada à loja dos cata-ventos que os tinha de todas as cores e feitios! Até em forma de moto! E as rodas giravam ao sabor do vento e tudo!
Engraçado que os beirais dos telhados, lá em cima, são largos para caramba! Embora altos presume-se que protejam as pessoas, pelo menos nas janelas, da chuva! O efeito é curioso!
A rua é mesmo engraçada e movimentada, sem ser barulhenta nem stressante!
Descendo um pouco pela margem do rio chegamos ao lago de Thun, o Thunersee, um lago extraordinário de águas profundamente azuis alimentado pelo glaciar Steingletscher através do também azul rio Aar.
A menos de meia dúzia de quilómetros, na margem do lago, fica o belíssimo de Castelo de Oberhofen, do séc. XIII, que está aberto ao público e que eu nunca tinha visitado!
Havia uma secção exterior em obras o que estragava um pouco a beleza do enquadramento!
Mesmo assim a sua beleza permanece quase inalterada!
Aquele castelo já teve um fosso, ou antes, uma reentrância do lago que o contornava, mas foi fechada para proteger os seus alicerces, já que as águas do lago podem ser bastante agressivas em subidas abruptas nos degelos.
Estava perto da hora de fechar por isso fizeram-me tarifa reduzida, o que quer dizer que paguei uma ninharia!
Achei tanta graça ao sinal na porta da casota do cão! Deliciosa!
O que as pessoas não sabem é que eu nem tive de correr para ver o castelo todo, pois simplesmente eu sou rápida a fazer uma visita! Por isso acabei por sair antes mesmo dos visitantes que por lá andavam e, se calhar, vi tudo até melhor que eles! Eheheh
A primeira coisa que se visita é, naturalmente a torrezinha sobre a água que, curiosamente não é tão pequena quanto parece!
Passa-se por um corredor, que é afinal um túnel sobre a água.
E ao fundo fica uma salinha que não me importava de ter, só para mim!
Com direito a uma vista deslumbrante sobre o lago!
Todo o castelo é encantador, com salas lindíssimas, espaços temáticos e masmorras e tudo!
Ali se pode ver como se vivia em tempos feudais por aquelas bandas!
No topo do edifício fica um “oásis turco” a que chamam sala de fumo!
Acho que povo da casa ia lá para cima estender-se nos colchões no chão e fumar daquilo que faz rir!
Lá de cima, da janela, as paisagens são bem bonitas!
Os jardins são muito bem cuidados e coloridos e apetece mesmo andar por ali a passear
Cheios de flores e a lembrar os jardins ingleses!
E lá está a “tourelle du Lac”, que afinal é uma sala bem bonita onde se podia até mobilar como quarto e dormir ali! Acho que era o que eu fazia se a casa fosse minha! 😉
E os jardins continuam por ali fora,
em volta do castelo e pela borda do lago!
O lago é muito apreciado por marinheiros e praticantes de windsurf, dado que oferece sempre uma brisazinha agradável e útil!
Não faltam por ali também embarcações que proporcionam passeios lindíssimos pelo lago onde também se pratica uma série de desportos aquáticos.
A mim bastou-me aprecia-lo em toda a sua calma e beleza, com os pés enfiados na sua água fresca, enquanto miúdos e graúdos se banhavam mais à frente…
E tratei de voltar para Lucerne, porque bonito é passear de dia naquele país! Fazer trajetos de noite é sempre e afinal um desperdício de paisagem!
As casinhas da zona bernense são muito bonitas e têm telhados que parecem chapéus! Cada uma é mais bonita que a outra!
Algumas motos acompanharam-me no caminho para “casa” entre elas uma Pan prima da minha Magnífica!
E jantei em Lucerne, bem na berma do rio, com a Pont de la Chapelle como paisagem!
Uma lasanha deliciosa, que eu gosto muito de comida italiana!
E fiquei por ali à espera do anoitecer!
Passei na estação central de caminho-de-ferro, intervencionada por Calatrava… e fui para casa, que naquele dia era em Lucerne!
Fim do décimo sexto dia de viagem…
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– Laufenburg, o Lago dos Quatro Cantões e as termas de Vals –
15 de Agosto de 2012
Tirei o dia para não fazer nada de especial, para além de conduzir!
Há sempre dias destes nas minhas viagens: tiro um dia para não conduzir, ou um dia para ficar em casa, ou um dia só para conduzir! Enfim, tiro os dias que me apetecem para fazer o que me apetece e acabo sempre por ver coisas giras, mesmo saindo de casa para não ver nada de especial! 😀
Depois não ver nada é difícil por aquelas bandas pois, mesmo sem se querer, “o que ver” está por todo o lado! Então fiz um desenho louco, de vai e volta no meu mapa!
Primeiro fui numa direção qualquer e atravessei uma terrinha fofinha, com uma porta de entrada em torre, Sempach. Fica na margem do lago Sempachersee onde fica também Sursee que não fui visitar embora saiba que é uma terra interessante!
Esta é uma terra histórica na Confederação Suíça, pois ali se travou uma grande batalha contra os austríacos, lá atrás no séc. XIV, quando a confederação se expandia!
Tem também uma porta em torre para sair!
Segui o meu caminho sem destino, embora tivesse um nome em mente: Laufenburg.
Eu sabia que passaria ali perto dali a dias, mas apeteceu-me ir visitar com calma naquele momento!
Laufenburg era uma terra que eu não conhecia, como há muitas pela Suíça, e que irei cata-las um dia ou outro. E o que me despertou o interesse foi o facto de haver uma homónima na Alemanha e logo ao lado uma da outra!
Deixei a mota na Alemanha e fui procurar onde a cidade deixava de ser alemã e começava a ser suíça!
A entrada faz-se por baixo da própria Rathaus!
E ao chegar-se ao fim da rua aparece o rio Reno e a Suíça e Laufenburg, na outra margem!
Na realidade as duas Laufenburg foram a mesma cidade desde o séc. XIII até 1800, quando Napoleão as dividiu. Hoje ainda, as pessoas sentem-se e vivem como se da mesma cidade e do mesmo país se tratasse!
A ponte velha foi desativada para o trânsito dado que se tornara insuficiente. É uma ponte muito bonita, medieval com esculturas a meio!
E do outro lado do rio, outra Rathaus!
Ruínhas muito bonitas com pormenores deliciosos!
E ninguém diria que passamos de uma cidade para outra e de um país para outro e que voltamos atrás, sem nem a língua mudar!
Na realidade andamos entre Laufenburg pertencente a Baden-Württemberg e Laufenburg pertencente ao Cantão de Aargau!
Decidi voltar para o centro da Suíça passando por Brugg, ainda no cantão de Aargau, onde passa o rio Aar a caminho do Reno!
Brugg é uma cidadezinha muito interessante que fica na confluência de 3 rios: O Reuss, o Aar e o Limmat!
Com ruínhas curiosas de passeios elevados onde as esplanadas têm mais graça!
Comi uma belíssima refeição numa esplanada, com direito a sombra e musica ambiente mesmo a calhar!
De onde estava instalada avistavam-se pormenores curiosos!
E voltei a pegar na moto para dar mais umas voltinhas de condução relaxante, passando pelo lago de Zug.
A Suíça é um país cheio de lagos, alguns deles deslumbrantes, outros mais vulgares, mas todos com os seus encantos particulares e histórias mais ou menos felizes. O lago de Zug é considerado o lago menos limpo do país, devido às zonas de cultivo que vão afetando os rios que o alimentam. É no entanto também um assunto em permanente estudo e cuidado, acreditando-se que a sua situação será revertida a médio prazo, já que as questões ambientais sempre foram de primeira importância para o país. O lago não deixa no entanto de ser muito bonito, com a cidade de Zug a dar-lhe o nome e enriquecer-lhe a paisagem!
E o Zugersee tem recantos encantadores em que ninguém diz que aquelas aguas não são tão limpas assim! Na realidade é preciso ter-se uma ideia do que quer dizer “o menos limpo” para os suíços pois, na realidade, têm padrões de limpeza de aguas mesmo muito elevados!
Mas o lago que eu queria visitar era o Lago dos Quatro Cantões, logo ali a seguir!
Lucerne fica na berma de um dos lagos mais extraordinários da Suíça, o Lago dos Quatro Cantões. O seu nome deve-se ao encontro dos quatro cantões fundadores da Suíça: Uri, Scwyz, Unterwalden (que hoje é divido em dois: Ibwald e Nidwald, o que faz que o lago seja hoje, afinal dos 5 cantões!) e Lucerna. A grande beleza do lago deve-se às montanhas que o rodeiam e o tornam um lago em fiord! A verdade é que as paisagens nos surpreendem a cada quilómetro percorrido e a gente pára aqui, encosta ali, tira dúzias de fotos e nunca se sente satisfeita, pois a vontade é traze-lo todo para casa! Deslumbrante e apaixonante…
E ele é lindo… e eu fotografei-o até à exaustão!
E mesmo assim sei que deixei muito para fotografar das próximas vezes que lá passar!
Bendita moto que permite parar em qualquer recantozito da estrada e disparar mais uma ou duas fotos onde ninguém poderia parar!
E cheguei a Altdorf, a capital do cantão de Uri, famosa pela lenda de Guilherme Tell e a sua estátua está bem no centro da praça.
Reza a lenda que Guilherme era conhecido pela sua habilidade no manejo da besta.
“Na época, os imperadores da casa de Habsburgo lutavam pelos domínios de Uri e, para testar a lealdade do povo aos imperadores, Herman Gessler, um governador austríaco tirano, pendurou num poste um chapéu com as cores da Áustria, numa praça de Altdorf. Todos os que por lá passassem teriam de fazer uma vénia como prova do seu respeito. O chapéu era guardado por soldados que se certificariam que as ordens do governador eram cumpridas.
Um dia, Guilherme e seu filho passaram pela praça e não saudaram o chapéu. Foram imediatamente presos e levados à presença do governador que, reconhecendo-o, o fez, como castigo, disparar a besta a uma maçã pousada na cabeça do seu filho. Tell tentou demover Gessler, sem sucesso; o governador ameaçava ainda matar ambos, caso não o fizesse.
Tell foi assim trazido para a praça de Altdorf, escoltado por Gessler e os seus soldados. Era o dia 18 de Novembro de 1307 e a população amontoava-se na expectativa de assistir ao desfecho do castigo. O filho de Guilherme foi atado a uma árvore, e a maçã foi colocada na sua cabeça. Contaram-se 50 passos. Tell carregou a besta, fez pontaria calmamente e disparou. A seta atravessou a maçã sem tocar no rapaz, o que fez a população aplaudir e admirar os dotes do corajoso arqueiro.
Ao observar que Guilherme trazia uma segunda seta, Gessler perguntou por que ele a trazia. Tell hesitou. Gessler, apressando a resposta, assegurou-lhe que se dissesse a verdade, a sua vida seria poupada. Guilherme respondeu: “Seria para atravessar o seu coração, caso a primeira seta matasse o meu filho”.”
Guilherme Tell ficou para sempre associado à libertação da Suíça das mãos do império Habsburgo da Austria.
E depois? Era cedo para ir para casa, por isso fui passear para os montes!
Passei no Rundweg Schöllenen, o percurso do Gotthard Pass através do canyon Schöllenen, que é lindíssimo, com paredes íngremes e caminhos rudimentares e sinuosos construídos pelas populações do vale do Urseren, um caminho para eu me dispor a explorar um dia.
É impressionante a facilidade com que a gente perde a noção da dimensão das coisas por ali!
Ao aparecer o comboio é mais fácil entender a dimensão do rochedo, não?
E decidi ir até Vals, não era no meu caminho mas apeteceu-me!
São mais umas estradas de montanha, algumas em terra batida, que estavam a cuidar delas antes que o inverno chegasse e depois de muita ruela em sucessão de SS, lá apareceu a vilazinha! Como dizem por lá: “Vals é a última aldeia no vale, depois é só montanha e céu!”
Depois de tais caminhos nem parece provável encontrar uma vila tão interessante e movimentada! Mas, a principal razão para eu lá ir é a mesma que leva ali tanta gente: As Termas de Vals!
Uma obra do arquiteto Suiço Peter Zumthor, considerado um dos mais importantes arquitetos do mundo! A obra, é um espetáculo! Uma pena que não a tenha podido fotografar por dentro, pois sei que é belíssima!
Na realidade no início de 1980 a comunidade de Vals comprou um hotel falido composto por três edifícios, da década de 1960, e contactou Peter Zumthor para projetar umas novas termas. Se no princípio isso até abalou a estrutura financeira da comunidade, rapidamente o edifício se tornou um sucesso na Suíça e apenas dois anos após a sua abertura, tornou-se um edifício protegido.
Hoje podem-se encontrar fotografias dele em qualquer tipo de revista no país, o nome do arquiteto é bem conhecido para o cidadão comum de Grisões e a vila de Vals está orgulhosamente no mapa, não só da Suíça mas também do mundo!
É curioso a forma como o edifício se integra na paisagem, sem a ferir ou perturbar sequer!
Por baixo do fino relvado a vida pulsa…
quase sem darmos por nada…
Uma pena não poder entrar para fotografar. Teria de ir fazer eu mesma um spa, mas nem assim poderia fotografar, pois o ambiente é quente e húmido lá dentro, nada próprio para uma máquina fotográfica…
E estava na hora de voltar para casa, por mais montes e curvas e uma deliciosa dança do ventre até Lucerne!
Passando de novo um pouco pelo Gottharpass
Embora não o tenha feito totalmente o que o põe na minha agenda para uma futura passagem, pois é um dos Pass do meu coração!
E o pôr-do-sol quase chegava primeiro do que eu a casa!
Fim do décimo sétimo dia de viagem…
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– O Mont Pilatus, Burgdorf e Biel –
16 de Agosto de 2012
Estava na hora de seguir para Friburgo e fi-lo desenhando um caracol no mapa! É que Friburgo fica logo ali e não teria qualquer piada arrancar direta para lá, com tanta coisa bonita para ver na redondeza! Aliás, as minhas dormidas são marcadas sempre em pontos estratégicos e nunca é por acaso que eu marco 2 num espaço de apenas cento e tal quilómetros!
Não me interessava passar por Bern, pois nos últimos anos tenho lá “passado a vida” e outros dias virão em que terei vontade de lá passar de novo!
Quando cheguei cá abaixo a minha Magnífica tinha feito amizade com uma Suzuki toda desportiva, eu bem lhe disse que nunca se metesse com motos desportivas pois nunca teria pedal para elas, mas ela esquecia-se por vezes que era uma maratonista e não uma R!
Ok, convenhamos que foi a R ZSX que se meteu com ela, pois estava mascarada e tudo quando cheguei lá fora, com uma cobertura preta, a trabalhar para o mistério!
Achei piada à moto com as “orelhas” recolhidas, fez-me lembrar a minha gata que punha as orelhas para trás quando ia fazer uma asneira!
O dono também meteu conversa comigo, era um rapazola simpático que ficou curioso por a Magnífica ser de uma mulher! Ele estava a viver em Genève e tinha ido dar uma volta até Lucerne. Mais tarde comunicou comigo através do meu blogue, um tipo simpático!
Antes de me ir embora dali, não resisti em subir de novo o Mont Pilatus! Eu sabia que se calhar nada se veria lá de cima, mas não resisti em passar, porque por vezes o tempo chuvoso reserva-nos surpresas nas montanhas, proporcionando perspetivas e enquadramentos da paisagem, únicos! E acabou por ser o caso!
Pela dimensão das casas e dos prédios lá em baixo, dá para imaginar a distância a que eu estava. Depois as nuvens ficavam um pouco abaixo de mim! Por isso a visibilidade estava longe de ser nula!
Fiz outras ruelas diferentes das que fizera já, quando por ali andara dias antes, encontrando outros pormenores na paisagem.
Depois segui pelos montes e pelo meio das quintas e dos campos verdes, por ruínhas estreitas e cheias de curvas, que é o que de mais bonito há para fazer naquele país!
Se as ruínhas não estivessem cheias de terra e marcas da circulação de tratores e carros rurais, dir-se-ia que as quintinhas apenas estavam ali para embelezar a paisagem!
Mas não, aquilo ali tudo funciona! As casa são habitadas e as terras trabalhadas!
E depois fica tudo tão direitinho e verde que parecem campos de futebol às ondas!
Lá cheguei a Burgdorf, estava no distrito do Emmental, sim a terra do queijo tão apreciado, com o seu castelo do séc. XII lá em cima duma colina que domina a cidade. Estava no cantão de Berna e o símbolo com o urso lá estava!
A cidade é muito antiga e já andou de mão em mão, como muitas ou quase todas naquele país, por isso se juntaram todos e formaram o seu próprio país, deixando de ter de lutar contra tudo e contra todos passando a defender-se em conjunto.
Comprei uns pãezinhos deliciosos na feirinha de rua e propus-me visitar a redondeza.
Subi até ao castelo e tudo!
Os castelos têm sempre a vantagem de ficar em locais elevados e proporcionarem vistas panorâmicas sobre a cidade em baixo!
No castelo funciona um museu há mais de 2 séculos e que eu não visitei.
Bastou-me deliciar-me com a sua arquitetura que é sempre interessante!
E desci para a cidade pelo lado oposto ao que subira, por caminhos giros e antigos!
Dali até Biel foi mais um instante de belas ruas!
A cidade de Biel fica na extremidade oriental do Lago Biel, no sopé do Jura e é a metrópole da relojoaria suíça pois ali se fabricam alguns dos melhores e mais conhecidos relógios suíços como os Swatch, Rolex, Omega, Tissot, Movado e Mikron.
Na realidade o país divide-se em 3 faixas, ficando o chamado Planalto Suíço, uma zona quase plana que ocupa cerca de um terço do país e onde vive a maior parte da população, ente a cordilheira do Jura a noroeste e os Alpes Suíços a sudeste.
Biel, e zona onde eu chegava fica, portanto, no início do Jura!
A sua cidade antiga é deliciosa, com as fontes medievais pintadas, tão características no país, como a fontaine de L’Ange, do séc. XVI.
Ali fala-se tanto o alemão como o francês e é a única grande cidade onde essa distribuição é de 50/50.
Dizem que Biel tem 72 fontes com água potável alimentadas até hoje por uma fonte romana!
A fontaine de la Justice é uma delas, do séc. XVI, tem sido mantida impecável ao longo dos tempos!
Anda-se por ruínhas e ruelas até se chegar à praça da catedral, que é sempre onde está o centro histórico e mais pitoresco de uma cidade antiga !
A Place du Ring é deliciosa, com cada construção a rivalizar com a outra, em cada esquina e em cada recanto!
E mais uma fonte do séc. XVI la fontaine du Banneret
A igreja gótica do séc. XV lá estava, a dominar o espaço !
É interessante por dentro, com o teto florido e luminoso.
Estamos numa zona elevada da cidade que continua a descer até à zona nova, com avenidas e prédios lá para baixo.
e voltamos à praça que é muito mais gira que tudo o resto !
Depois foi descer até à motita, por ruínhas tão fofinhas
e cheias de coisas curiosas!
Para seguir o meu caminho, que naquele dia eu estava com vontade de ver muitas coisas!
—- —-
– Le Landeron, Erlach e Neuchatel –
16 de Agosto de 2012 – continuação
Na outra ponta do lago de Biel ficam duas terrinhas muito bonitas, a primeira é Le Landeron, uma cidade medieval do séc. XIV, que mantem o mesmo aspeto desde há muitos séculos! É curioso que é a única cidade da margem do rio que pertence a Neuchatel, pois os limites do cantão acabam logo ali!!
Já foi uma cidade muito importante com seu próprio exército e tudo e foi também o pomo de discórdia por se ter mantido à parte da reforma, mesmo com um grande reformador logo ali ao lado, em Neuchatel, o Guillaume Farel, ficando com mais duas ou três localidades, como ilhas católicas no meio do mar protestante!
A cidade é linda, com a sua praça principal que é, praticamente, toda a cidade medieval.
Com portas de entrada e de saída, na muralha que ainda conserva intacta.
E as fontes com esculturas pintadas tão bonitas!
Passeando pela redondeza, encontramos a qualquer momento, e por todo o lado, quintas com terrenos bem cuidados que contribuem para a beleza verde que o país exibe de norte a sul. E as casas são lindíssimas, parecendo por vezes quase irreais de tão perfeitas e bem enquadradas na paisagem! Dir-se-ia que alguém as põe ali porque ficam bem na paisagem mas, na realidade são casas habitadas, muitas delas com uma parte de habitação e outra de celeiro e a gente quase nem se dá conta!
Logo a seguir fica outra cidadezinha encantadora e ainda mais antiga, do séc. XII, Erlach!
Tudo é cercado de vinhas por ali e, subindo pela encosta até ao castelo, podemos ver como a redondeza é encantadora!
Lá em cima fica a zona mais antiga e pitoresca da cidade.
Nenhum veículo pode circular por ali, a minha motita apenas entrou para dar a volta, também o piso é muito irregular e nem valia a pena arriscar!
Depois ao fim da rua ficam as escadas que levam à rua de baixo!
Então segui para Neuchatel, a capital do cantão com o seu nome e que fica na margem do maior lago totalmente suíço, e que também tem o seu nome! Dá para ver que é uma cidade importante!
E na verdade é, a sua história é longa, andou de mão em mão, nobres poderosos dos países vizinhos, os Condes de Orleans de França e os reis Prussianos da Alemanha, a disputaram e governaram alternadamente, até que ela se juntou à Confederação Suíça e acabou de vez com a cobiça!
La Maison des Halles do séc. XVI, na Place du marche, já foi armazém das mercadorias mais delicadas, como sedas indianas e cereais. Hoje permanece uma joia no coração da cidade antiga!
Ela estende-se pela rue du Trésor, na direção da la place de la Croix du Marché.
A Fonte du Banneret é muito antiga e o seu aspeto atual data do séc. XVI, era usada para dar de beber às vacas e aos cavalos!
Depois, se subisse por ali acima iria dar ao castelo, mas se há rua para andar com rodinhas, não havia necessidade de usar uma que é só para pezinhos! Por isso fui buscar a moto e fui até lá acima, onde fica o castelo e a catedral, pois então! 😀
A catedral está sem rosto, em restauro, e nada se vê da sua fachada mas, por dentro continua linda!
A Catedral é conhecida como “la Collegiale”, é um edifício extraordinário do séc. XII com base românica e mistura com estilo gótico, com um teto espantoso, pois eleva-se até ao céu e é estrelado!
Ouro sobre azul!
Andei ali, de um lado para o outro de nariz no ar!
Depois num dos lados do altar há um Cenotáfio em honra dos condes de Neuchatel e toda a sua família, um monumento do séc. XII, notável e bem conservado através dos tempos!
E aquele teto a encher-me os olhos!
Ali ao lado ficam os vestígios do castelo antigo que ajudou a dar origem ao nome da cidade, pois ao construir-se o castelo novo, que está mais à frente, veio ao longo dos tempos o “neuchatel”!
Este sim, foi a origem do nome, pois é o castelo novo de «Nuefchastel»!
No castelo medieval funcionam atualmente os edifícios do governo cantonal de Neuchâtel.
A arquitetura é espantosa e o edifício imponente!
Ali se trabalha realmente e se tomam decisões, porque não existe o conceito de “puseram-me cá agora aguentem comigo!”
Na salle des Etats podem-se ver os brasões de todos os governantes de Neuchatel até a cidade se juntar à Confederação e se tornar um Cantão Suíço.
Da janela vê-se parte da cidade e o imenso lago ao fundo.
O edifício não pode ser todo visitado pois está em funcionamento todos os dias!
Sempre achei piada à forma como eles pintam as venezianas das janelas às riscas das cores mais improváveis! E o curioso é que fica tão bem!
Adoram as torres, torrinhas e torreões e os chapéus bicudos lá em cima! Um só edifício pode ter diversos!
E preparei-me para continuar o meu caminho…
—- —-
– Yverdon-les-Bains, Estavayer-le-Lac e Murten –
Ali mesmo à beirinha fica a catedral embrulhada, numa zona nobre da cidade no topo da colina que domina toda a redondeza.
A catedral espera pelo dia certo para mostrar toda a beleza da sua fachada renovada, por enquanto mantem a sua mascara de beleza!
Em frente fica a estátua de Guillaume Farel, segundo as inscrições no pedestal morreu com 76 anos, em 1565, e foi o grande reformador, pastor da igreja de Neuchatel.
Na realidade ele foi um dos grandes fundadores da igreja reformada, uma variante da igreja protestante, que surge na sequência da excomunhão de Martinho Lutero da Igreja Católica, e se mantem até hoje como grande doutrina em países como Suíça (país de origem), Holanda, África do Sul, Inglaterra, Escócia e Estados Unidos.
Era de origem francesa e amigo de Calvino, a quem aparece associado, e juntos tornaram Genève a “Roma Protestante”, para onde fugiram todos os protestantes perseguidos na França.
Desci calmamente pela cidade e segui pela beira do lago.
Por muitos lagos que haja naquele país (dizem que são perto de 7.000 lagos, rios, nascentes e cataratas) a gente nunca se cansa de passear pela borda de mais um!
Mais à frente ficam as Gorges de l’Areuse. É curioso pensar em gargantas quando não há montanhas à vista, mas a verdade é que elas aparecem e parte das correntes de água e das escarpas são mais escavadas do que entre montes.
Um percurso feito de paz e frescura num ambiente bonito e com o som da agua como musica de fundo. Relaxante!
Fiz apenas um pouco do percurso e pus-me a apreciar os jovens animados na brincadeira no rio. Não me apetecia andar muito, por isso não fui até às gargantas, apenas sentei, lanchei e apreciei a animação e beleza do local.
A rapaziada era simpática e ainda me ri um bocado com eles!
Depois voltei para trás, de barriga cheia e com vontade de dar mais uma volta, pois naquele momento Friburgo estava do outro lado do lago e eu queria ver umas coisas até chegar lá!
Passei numa escola lindíssima que não resisti a fotografar!
Cá pintam-se, e muito bem, as paredes das escolas, os miúdos gostam, fazem uma festa e fica giro. Mas lá pintam-se as venezianas! E fica deslumbrante! Adorei!
Que pena que eu tive que a minha escola não tivesse venezianas que iria divertir-me à grande a pinta-las com os meus alunos! 😀
Depois não é preciso ir particularmente atento à paisagem para descobrir pormenores encantadores pelos caminhos que se fazem! Como o castelo de Vaumarcus do séc. XIII que está a funcionar como restaurante. E o que me apeteceu parar e ir la dentro catar!!
E depois veio Yverdon, ou Yverdon-les-Bains, que os suíços e os franceses chamam “les-Bains” às terras que têm termas e, neste caso, trata-se de uma cidade conhecida pelas suas ótimas águas termais, desde antes dos tempos romanos!
Estava no Cantão de Vaud, a que pertence também Lausanne.
Havia festa por lá naqueles dias, mas estava em pausa! Iria voltar à vida ao anoitecer!
La place de la tannerie estava toda preparada para quem viesse!
As ruas estavam alegremente calmas e a festa pairava no ar.
O castelo do séc. XIII fica ali no meio, imponente, num ambiente arquitecturalmente eclético, com construções de épocas diversas, em harmonia!
Segui passeando pela margem do lago e encontrei Estavayer-le-Lac, onde fui recebida com sapinhos giríssimos, pendurados no meio das ruas!
Adorei! Havia-os de muitas cores e decorações diferentes e eu ia conduzindo e fotografando! Não é fácil conduzir por ruelas estreitas a olhar para o céu e a tirar fotos ao mesmo tempo!
Estavayer, embora fique na margem sul do lago de Neuchatel, pertence já ao Cantão de Friburgo.
Uma cidade com uma longa história e preservada em toda a sua beleza antiga!
La Collegiale de Saint-Laurent, gótica!
E o castelo lindo, na margem do lago!
O Castelo de Chenaux do séc. XIV é delicioso, e estava ali para ser visitado, podemos andar por todos os recantos exteriores sem que ninguém nos peça nada ou tome conta daquilo, como se tivessem a certeza de que quem vem, vem por bem!
Bonito e relaxante passear por ali ao entardecer!
Ali funciona La Prefecture et Service Financiere, segundo indicações no local! Que sorte trabalhar-se num local assim!
E as portas medievais da cidade, como seria de esperar em ambiente tão bem conservado!
Então segui para Murten, acompanhada por um grupo de motards que iam para Berna, gente simpática!
Murten fica noutro lago, um dos 3 que se ligam naquela zona: O lago de Biel, o lago de Neuchatel e o lago de Murten!
É mais uma cidade medieval que preservou o seu aspeto original de forma muito agradável e harmoniosa!
Uma cidade de 800 anos, com arcadas em habitações antigas e encantadoras, onde apetece morar!
As casas cheias de flores e recantos com cadeirões e almofadas, do lado de fora das portas, onde nada é roubado e onde se passam calmos fins de tarde, antes que o frio venha e tome conta de tudo!
E o tempo parece que não passou por ali!
As casas medievais com as suas arcadas tradicionais, cheias de esplanadas e flores e proteção quando chove ou neva. Fazem lembrar as ruas de Bern…
E finalmente estava na hora de pegar na minha motita e ir para casa, que naquele dia era em Friburgo!
Fim do décimo oitavo dia de viagem!
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– Romont, Moudon e Gruyères – Museu Giguer! –
17 de Agosto de 2012
Friburgo é uma cidade que conheço bem e que visitei recentemente por isso serviria mais para “pouso” para dar a volta e ir a uma das regiões do meu coração: La Gruyère!
Claro que o caminho faz-se caminhando, no meu caso rolando, e até, lá fui vendo o que me aparecia na berma da estrada!
Parei logo em Romont para ver a sua Colegiada de Notre-Dame de l’Assomption.
Linda por dentro, muito mais do que prometia por fora!
A cidade é medieval (com origem no séc. X) e a sua Colegiada também, linda e cheia de cor e encanto, gótica do séc. XIII!
Quase em frente fica o castelo chamado de Grand Donjon, pois mais à frente há uma outra torre do Donjon Petit.
Neste Grand Donjon funciona o museu do vitral
Da muralha vê-se ao longe a torre cilíndrica do Donjon Petit.
Em frente fica o parque de estacionamento da cidade, onde eu estacionei e me pus a apanhar sol, que isto de andar sempre de capacete ou chapéu estava a pôr-me a cara de 2 cores: clara de meio para cima e escura de meio para baixo!
Continuei o meu caminho apreciando as paisagens que me apareciam a cada curva do caminho.
Caminhos daqueles que eu gosto, por entre campos alcatifados de verde e quintinhas de contos de fadas!
Ao longe Lucens e o seu Castelo do séc. XIII, faziam da paisagem um cartão postal!
E cheguei a Moudon, mais uma cidade de origem medieval e com os seus encantos e o rio Broye a atravessa-la!
Ruínhas antigas que gosto de percorrer!
Com escolas a funcionar há séculos em edifícios históricos!
E o meu destino estava já ali à frente! O Pays de la Gruyère é uma zona rural de médias montanhas, pois fica nos pré-Alpes, cheia de encanto pelas suas paisagens ondulantes e verdes!
É muito fácil alguém se apaixonar por aquela paisagem encantada e encantadora!
E cheguei à cidade medieval de Gruyères! A cidadezinha visita-se a pé, mas tem parque pertinho, sem que sejamos obrigados a fazer uma longa caminhada até ela!
Deixei a minha motita na conversa com uma série de outras motitas e lá fui, 8 anos depois da minha ultima visita, passear por aquele mundo medieval …
A cidade deu o seu nome à região e ao queijo, um dos queijos suíços mais famosos no mundo!
Ao fundo La Dent de Broc, os montes a lembrar dentes.
A capela Le Calvaire, ao centro da cidade!
Olhando para trás, um outra perspetiva da rua larga, (quase praça) central da cidade, com o Moléson a espreitar ao fundo. Eu tinha de subir àquele monte mais uma vez e seria naquele dia, pois o céu estava limpo e com grande visibilidade.
Mas eu tinha muito tempo por isso havia uma série de coisas a visitar antes de pensar em subir montes! Como o castelo, um dos castelos mais famosos da Suíça!
A sua entrada fica mesmo ao lado do chalé que se chama Chalet, onde se come uma deliciosa raclete e um não menos delicioso fondue de queijo… ui as duvidas que eu iria ter ao escolher o meu almoço ali, umas horas mais tarde!
As casinhas medievais em torno da praça são espantosas e bem conservadas. Parece que recuamos diversos séculos e só falta olhar por mim abaixo e envergar longas saias até aos pés, a condizer com a envolvência!
A cidade foi sendo restaurada e mantida em toda a sua beleza até aos dias de hoje e a verdade é que um bom trabalho foi ali feito!
E lá estava o chalé chamado Chalet! Às vezes que eu já la fui, posso ser considerada uma cliente da casa!
Logo a seguir à porta das muralhas do Castelo de Gruyeres, fica o edifício chamado de castelo de Sainte-Germain, onde fica o museu Giger!
E era ali que eu queria ir! Já há muito tempo que eu o visitara e apetecia-me voltar a ver a obra do grande criador de monstros!
Hans Ruedi Giger, ou H.R.Giger, como aparece referenciado, é um artista suíço surrealista que cria os mundos e personagens mais estranhos e inquietantes que se possa imaginar! Não é por acaso que é tão plagiado!
Foi ele quem criou o monstro e os decors do filme “Alian, o 8º passageiro” de 1972, que lhe valeram um Oscar!
Aquele museu sempre me impressionou pelo pormenor e riqueza coerente decorativa que contem! Aquele chão é espantoso!
Cá fora duas esculturas sugestivas
É proibido fotografar lá dentro, por isso todas as fotos que aqui aparecem… foram distrações da minha parte e das câmaras de segurança, por isso podem não ter a melhor qualidade de focagem! 😮
Não consigo deixar de me deslumbrar com as suas criações!
Parece que tudo deriva de interiores orgânicos, de ossos, ou vísceras! Olhando pela janela até a decoração do jardim faz parte do mundo Giger!
A sua obra é composta por pintura, escultura, design de comunicação e de interiores e cenários cinematográficos!
A receção é sugestiva, num ambiente negro e cheio de personagens alienígenas. Infelizmente não poderia fotografar de outro ângulo, pois as personagens são muito bonitas.
Encontrámos várias esculturas pelo museu, construídas em materiais que as fazem parecer corpos petrificados!
Aquela decoração de sala de jantar sempre me fascinou! Apetece mesmo sentar ali. Se bem que o espaldar das cadeiras é rugoso e com textura óssea!
Lá em baixo, em frente ao museu, do outro lado do caminho, fica o bar Giguer, deslumbrante também!
Também ali não gostam que se fotografe, aquilo é um bar não é um cenário para fotos! Mas venha lá alguém impedir-me de fazer meia dúzia de fotos!
Porque aquilo é lindo! Parece que estamos dentro da barriga da Moby Dick!
E são confortáveis aquelas cadeiras!
Tive de me forçar a sair dali, ou ainda por lá estaria hoje a tirar fotos aos molhos, como os chineses!
—- —-
– O Château de Gruyères –
Depois do museu Giger continua-se o caminho até à entrada do castelo propriamente dito, um edifício do séc. XIII cheio de encanto que o torna um dos mais importantes do país!
O castelo funciona desde há muito tempo como museu, desde os anos trinta do seculo passado.
Ali existem diversas obras de arte curiosas e exposições permanentes e temporárias, sendo comum encontrar esculturas no percurso que vamos fazendo.
Os 2 escudos na entrada do castelo são deslumbrantes, um representa Marte e a guerra, outro representa Vénus e o amor (o da foto).
O castelo é uma delícia de viagem por 8 seculos de história e estilos que se sucedem de canto em canto e de sala em sala!
Os interiores são uma delícia de decoração que vai desde a época da construção…
até diversos estilos decorativos que documentam momentos da história do castelo e dos seus donos, como a Sala dos Cavaleiros que documenta os feitos dos condes de Gruyères!
Lá em cima, a caminho da varanda florida que dá para o jardim francês, há uma exposição de pintura permanente, pelo menos está lá desde a minha visita há 8 anos!
Com pinturas surrealistas muito interessantes!
Gostei sempre particularmente desta pintura com o castelo de Gruyères lá em cima do monstro verde!
E da bonita varanda florida pode-se ver a bela paisagem sobre o jardim e os montes fora das muralhas!
La Dent de Broc logo ali, qual dente gigante saído da terra!
É giríssimo percorrer os recantos do castelo, por corredores e muralhas, passadiços de madeira inspiradores cheios de flores!
Dá-se a volta e cada recanto é cheio de encanto!
E de repente, na muralha, encontramos La Tour du Prisionnier, com a obra de Patrick James Woodroffe, composta de imagens que parecem saídas dos contos infantis!
O castelo é muito bonito e muito bem enquadrado!
Pormenores de um castelo que vale a pena visitar!
Da muralha vê-se a envolvência, a igreja de St.-Théodule lá em baixo com o cemitério pequenino! Mais uma terra onde morre pouca gente?!
Lá em baixo a vila de Gruyères, pequena como todas as vilas suíças!
Voltei a passar pelo museu e bar Giger, pois Le Chalet é mesmo ali à beirinha e eu iria lá almoçar!
Le Chalet é um restaurante típico que eu adoro e onde vou almoçar ou jantar sempre que passo perto.
Ali se comem a Raclete e o Fondue mais deliciosos, afinal estamos na terra do grande queijo suíço.
A senhora que serve o fondue já faz parte da imagem do restaurante, trata-nos como se fosse nossa mãe e vem oferecer mais comida quando a gente acaba!
Como eu queria vinho, mas não muito, trouxe-me a canequinha mais gira de um bom e fresco vinho branco. A canequita era pouco maior que o copo e o vinho era delicioso!
A raclete é composta por queijo, batatas cozidas e carne fumada. O queijo é derretido ao calor e espalho depois de fundido sobre as batatas e carne e é um conjunto delicioso!
Saí dali de barriga cheia preparada para continuar as minhas explorações, que eu funciono muito melhor depois de comer!
Ao fundo da rua via-se o Mont Moléson e eu iria visita-lo logo a seguir!
Deixei o castelo para trás, em cima da sua colina e iria vê-lo de longe, a cada momento da subida.
O teleférico fica perto da vila e é fácil de encontrar pois o monte espreita todo o tempo por cima de tudo!
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– Le mont Moléson, Freddie Mercury e Lausanne –
O Moléson é um monte escarpado que atinge os 2002 metros de altitude e que pertence aos Rochers de Naye que eu visitei quando subi pela encosta em Montreux!
Existe um funicular que faz a primeira parte da subida e um teleférico que faz o topo.
Aquelas encostas, como muitas outras pelo país, são exploradas pelo turismo de inverno com ski alpino, ski de fond e caminhada com raquetes; e pelo turismo de verão com caminhadas, alpinismo e parapente.
Subir no funicular é uma experiência muito bonita, como em muitos outros nos Alpes, porque percorre a montanha serpenteando e revelando pouco a pouco diversas perspetivas da paisagem.
O vale de Gruyères vai ficando para baixo, permitindo ver-se ao longe o lago com o mesmo nome. Um lindo lago artificial provocado por uma barragem.
Ao chegarmos ao fim do funicular, subimos 1.109 metros, depois temos de apanhar o teleférico para subir aos 1.520 metros! E aí já vemos o Moléson, um enorme rochedo proeminente e impressionante!
Ali de cima o vale já é bem distante e pequeno!
Sentimo-nos no topo do mundo e a colina do castelo, lá em baixo, é quase imperceptível!
Lá está o lago ao longe.
Ali de cima, até o que está em cima parece baixo!
E os Alpes estão por todo o lado!
Olhando para sul, por cima dos montes onde alguns parapentes animam a paisagem, a longa mancha branca provocada pelo Lac Leman!
Afinal estamos num ponto alto a poucos quilómetros, a direito, de Lausanne e Montreux!
A sensação de estar-se ali, com uma cerveja fresca na mão e uma paisagem de cortar a respiração… é inesquecível!
Lá tive de me forçar a descer dali, horas depois, depois de muito paleio com alguns caminhantes que se foram sentando perto de mim!
É curioso ver o trilho do funicular pela encosta abaixo, numa paisagem perfeita!
Voltei a passar perto da colina do castelo, para me dirigir para o Lac Leman mais uma vez nesta viagem.
É sempre tão reconfortante passear pelas margens daquele lago!
E fui até Montreux!
Porque estava perto e porque tinha prometido ao meu amigo Rui Vieira tirar uma foto com a minha Magnífica junto da estátua de Freddie Mercury.
Quando lá cheguei havia feira no local! Feira de venda de coisas e feira de gente em volta da estátua do homem!
Bolas, como iria eu fazer para levar a moto até ali com todo aquele povo?
Muito simples! Há um fator que nos permite fazer qualquer coisa sem que ninguém reaja: o fator surpresa!
Por isso fui buscar a moto, subi o passeio, atravessei toda a zona pedonal por entre tendas e povo que me olhava espantado e levei a Magnífica até onde quis!
Freddie Mercury passou em Montreux os seus últimos tempos de vida, onde gravou até morrer…
Diz a placa por baixo da escultura, (numa tradução direta e básica, sem floreios):
“Freddie Mercury, nasceu com o nome de Farrokh Bulsara na ilha africada de Zanzibar, tornou-se um dos maiores artistas de rock da nossa época. A sua carreira de cantor, durante vinte anos, no seio do grupo Queen permitiu-lhe vender mais de 150 milhões de álbuns no mundo inteiro. Visionário, musico fora do comum, ele deixa para trás de si uma herança inestimável assim como uma enorme influencia para as gerações de artistas rock posteriores.
Graças aos Mountein Recordin Studios, adquiridos pelo grupo Queen em 1978, Freddie soube criar até à sua morta, laços muito fortes com a cidade de Montreux.
Apreciador da simpatia e da discrição dos seus habitantes, Freddie considerava Montreux como o seu lar adotivo e um refúgio de paz propício à elaboração das suas últimas obras.”
E ainda aproveitando o tal fator surpresa, tirei as fotos que quis, dando-me até ao cuidado de mudar a motita de posição! Só não a pus em frente à estátua porque aí existe um passadiço de madeira desnivelado e não era mesmo nada aconselhável arriscar a desce-lo com a moto, senão…
Quase em frente da estátua fica uma plataforma circular onde as pessoas aproveitavam para fazer praia e banhar-se no lago a partir dali. Muito interessante!
E pronto, estava cumprida a promessa da foto por isso pus-me a passear por ali. Não me apetecia visitar a cidade, apenas curtir o lago, que o calor era demasiado!
E tratei de seguir caminho, pois com muito calor prefiro andar de moto que a pé! Segui pela margem do lago até Lausanne, logo ali a menos de 30 km.
A cidade estava cheia de gente e de movimento e de calor! Também não me apetecia visita-la de novo já que a tenho visitado em viagens recentes! Mas havia ali algo que eu queria ver: a catedral!
A Cathédrale protestante Notre-Dame de Lausanne é uma construção espantosa do séc. XIII que esteve recentemente em obras de restauro durante muito tempo!
A última vez que a visitei ela estava em obras de recuperação. É um exemplar lindíssimo de arquitetura românica já com elementos góticos, pois foi construída em várias fases! No séc. XVI foi dedicada ao Calvinismo aquando da Reforma Protestante!
Quando fui visita-la, era tarde, deveria estar fechada… mas fui na mesma! Havia uma porta lateral aberta, espreitei, estavam dois homens lá dentro. Perguntei se podia visitar a catedral. “Está fechada menina, só está aberta para quem vem assistir ao concerto! Terá de vir ver o concerto para ver a catedral!” disse um deles “Mas eu não posso, tenho de ir embora!” disse eu. Então um dos senhores disse-me que me deixava ir até ao centro da igreja e voltar. Estávamos exatamente ao nível do início do altar. Fui e tirei 3 ou 4 fotos! Todas as cadeiras estavam voltadas para o novo órgão, (que é uma aquisição relativamente recente e de grande qualidade), no fundo da catedral. A catedral estava linda, mesmo voltada assim “ao contrario”! Tive uma imensa vontade de ficar para assistir ao concerto…
Não podendo ficar, tirei varias fotos a partir do mesmo sitio que o senhor me permitira alcançar!
Aquele teto é mesmo diferente e lindo!
E fui para casa que naquele dia era em Friburgo!
Fim do décimo nono dia de viagem!
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Friburgo, Avenches, Basel
18 de Agosto de 2012
A história deste dia é curta e com alguma preocupação. Um dia de muito calor em que a moto começou a fazer um barulho que me intrigou! Não era um barulho constante nem previsível e dada a história recente da minha motita, não me deixava nada sossegada! Por isso o percurso acabou por não ser longo!
Passeei um pouco pela cidade, que visitara recentemente, mas deixara a catedral para ver com calma noutra altura. Era esta a altura!
A Catedral de St-Nicolas, construída entre os séculos XIII e XV, começou em estilo românico e acabou em gótico, como tantas catedrais da época, entre estilos. É um edifício lindíssimo com uma torre muito caraterística que, segundo a lenda, não foi concluída porque se acabou o dinheiro!
O portal é extraordinário com um baixo-relevo ilustrando o Juízo Final.
Lá dentro a atmosfera é serena e o espaço é lindo!
E o órgão, famoso e extraordinário ao fundo.
Na realidade ela conserva elementos de todas as épocas porque passou desde o início da sua construção, incluindo elementos barrocos!
A catedral fica situada num ponto elevado, bem no centro da cidade medieval e é facilmente visível a partir das margens do rio Saarne, em enquadramentos muito bonitos!
É sempre emocionante percorrer com as nossas próprias rodas caminhos medievais tão bem conservados!
E lá está a catedral e o rio que também é chamado de Sarine!
E a zona histórica, uma das mais bem conservadas da Europa!
Um dia tenho de lá voltar para subir a torre da catedral, pois a paisagem lá de cima é deslumbrante, e eu não a tenho encontrado aberta!
O meu destino naquele dia seria Basel, sem nada de especial para fazer pelo caminho para além de cismar no barulho da minha moto! Voltei a passar no Lac Morat, por caminhos estreitinhos e isolados!
Com pormenores retirados de contos infantis!
Parei em Avenches, uma cidadezinha muito interessante que já foi um importante posto avançado romano: Aventicum
Há vestígios da cidade romana um pouco por todo o lado e os estudos e escavações continuam.
A importância da cidade pode-se ver pelo anfiteatro, que é ainda hoje usado para espetáculos, (naqueles dias decorria o Rock Oz’Arènes), com as suas bancadas mistas, entre cadeiras de plástico e degraus de pedra. Imponente!
Pensa-se que um anfiteatro tão grande só se justificava para uma cidade com 200.000 habitantes! Muito maior população do que a que a cidade tem hoje, menos de 3.000!
Mesmo à beirinha fica o castelo do séc. XIII, onde funcionam serviços da comunidade.
Muito bonito, pena ter carros estacionados por todo o lado!
Ali mesmo junto ao anfiteatro!
Acabei por me sentar numa sombra, junto à ruinas romanas, a comer maçãs de uma enorme macieira que ali havia! Eram boas!
Depois foi a sequencia de casinhas medievais deliciosas, tão características naquele país, lindas!
De repente avistei uma oficina Honda! Era a boa oportunidade de ver como estava a minha velhinha e de descobrir que barulho era aquele que ela andava a fazer!
Descobri que tudo estava bem na minha motita, ninguém diria que já levava tanto quilómetro em cima dos tantos que já trazia! E o que eu não queria acreditar que fosse, era mesmo o que ela tinha… tinha as pastilhas de travão completamente gastas!
Só então me lembrei que ela não fizera a revisão no sítio do costume e, para quem não sabia o quanto eu iria andar, ter as pastilhas a meio daria para muitos quilómetros… e deram, mas não para toda a viagem!
Era sábado, a oficina estava mesmo a fechar, eu teria de continuar viagem não iria ficar ali à espera que fosse segunda-feira! Teria de evitar travar com o travão de trás, que não tinha pastilha de todo e usar o da frente pouco, pois tinha apenas um milímetro de pastilha, e o melhor seria ir pôr as pastilhas na Alemanha pois na Suíça eram muito caras, disse-me o mecânico.
Estava muito calor, eu estava muito preocupada, nem pensar em ficar sem travões, já experimentara uma manete de travão que encravou e não queria voltar a passar pela sensação de travar e não parar! Por isso fui muito direitinha para Basel para o Hostel simpático e fresco, que contrastava profundamente com o 39 graus cá fora!
A minha Magnífica fez sensação, “discretamente” estacionada entre as bicicletas.
Fiz amizade com uma série de pessoas que foram metendo conversa comigo por causa de eu andar a viajar sozinha de moto e aprendi algumas coisas sobre países onde quero passar um dia destes. E não voltei a sair, porque em viagem não me obrigo a nada!
Fim do vigésimo dia de viagem…
Basel, Dornach e o Goetheanum
19 de Agosto de 2012
O dia seguinte foi de preocupação, o que estragou um pouco o que queria ver e fazer! Isto de não conduzir à vontade é ruim e, quando nos dizem para não travarmos, parece que de repente travamos mais do que nunca e por tudo e por nada!
O meu destino era Saint Gallen, por caminhos cheios de beleza, mas nem sabia o que fazer, se seguir direta, se dar umas voltinhas inocentes e visitar recantos que trazia no meu “livrinho das saudades”.
Optei pelo “meio-termo”: nem ir direta, nem catar demasiado, e deixar na agenda coisas lindíssimas, que não poderia ver, para uma próxima passagem no local. Acho que foi a boa opção pois, no final, o dia resultou muito bonito!
O hostel era muito bonito e o pequeno-almoço cheio de requintes! É o momento em que me encho sempre de comida! Acordo com vontade de comer de tudo e é o que faço sempre, pois durante o dia a vontade de comer nunca é muita! Pudera, com a barriga cheia e a cinta apertada nem há tempo para sentir fome!
Não fiz uma visita exaustiva a Basel, implicaria muito “pára-arranca” e isso stressar-me-ia por causa dos travões, por isso fui até um ponto central, perto do que queria ver, e parei ali.
Uma das coisas que me irrita na Suíça são os milhares de fios dos autocarros elétricos! Lixam a paisagem toda, ao ponto de fazer quase redes de fios por cima de nós! Ecológico mas aborrecido para caramba!
A caminho da Rathaus extraordinária da cidade passei na Elisabethenkirche, uma igreja fantástica em estilo neo-gótico, que consegue ter a torre mais alta que a da catedral de Basel! Um edifício do séc. XIX lindíssimo… infelizmente estava fechada, era muito cedo!
Não estava fácil aproximar-me do ponto onde queria parar, porque havia ruas cortadas e sinais de festa, mais propriamente cinema ao ar livre!
Do outro lado do Reno a catedral vermelha chamava a atenção! Era para lá que eu queria ir!
Aquele Reno é um rio que tenho de percorrer de ponta a ponta, um dia… desde a nascente nos Alpes suíços, até à sua chegada ao Mar do Norte, depois de passar por 6 países: Suíça, Áustria, Liechtenstein, Alemanha, França e Holanda!
Dei a volta e fui até à Marktplatz, onde o edifício de arenito vermelho domina visualmente toda a envolvência!
Uma construção do séc. XVI espantoso onde hoje funcionam o Grande Conselho – legislativo e o Conselho de Governo – executivo, bem como os serviços do Parlamento do cantão.
Não há qualquer dúvida da data de construção do edifício, pois está escrevinhada numa varanda! A segunda data deverá ser a do seu restauro, que naquele país gostam de registar também!
As paredes são deslumbrantes em torno do pátio interior! Fica-se por ali de nariz no ar a apreciar!
Basel foi a única grande cidade que eu não conheci enquanto vivi na Suíça! Lembro-me que quando a Confederação organizou o passeio para os bolseiros visitarem a zona, eu não pude participar, pois estava em exames, que nas Belas Artes nunca são nas mesmas datas dos da Universidade, vá-se lá saber porquê.
Depois nunca lá fui pelos meus próprios meios (bicicleta + comboio) porque havia sempre algo mais chamativo e mais perto para eu visitar! Por isso conheci-a apenas anos depois, quando regressei à Suíça de moto!
A praça, cá fora, estava deserta e era o momento certo para a visitar, sem carros por todos os lados!
Pertinho da Marktplatz fica a Catedral, vai-se mais facilmente a pé que de moto, pois a volta que se dá é enorme!
A catedral é um edifício espantoso, também em arenito vermelho, sobressai na paisagem da cidade pelas suas torres e telhados de telhas coloridas!
Foi construída entre o séc. XI e o séc. XVI, entre estilo românico tardio e gótico!
Esta catedral, como outras no país, nasceu Católica e acabou Protestante, como se mantem até hoje! Mas a transição foi violenta e um duro golpe para o seu património artístico!
Entre 1528 e 1529 muitas das suas obras foram destruídas, crucifixos e estuas de santos e da virgem foram esmagados pela população que a invadiu para destruir tudo o que fosse imagem, inspirados pelo reformador Ulrich Zwingli, que recusava a adoração de Deus pelas imagens!
Os capelães defenderam a catedral que acabou por ser despojada das suas imagens e assim se mantem até hoje.
Pertinho de Basel, em Dornach, fica o Goetheanum! Um edifício que é uma escultura onde se pode entrar!
Na realidade é a sede mundial do Movimento Antroposófico, fundado por Rudolf Steiner, que o apresentava como “um caminho para se trilhar em busca da verdade que preenche o abismo historicamente criado desde a escolástica entre a fé e a ciência!”
A obra arquitetónica é também de Steiner e é considerada uma verdadeira obra-prima da arquitetura expressionista do século 20. A libertação de alguns elementos tradicional da arquitetura, obtendo estruturas orgânicas, provoca no observador as mais diversas emoções. A cor, usada no interior do edifício em nuances e efeitos que se alteram ao longo da subida da escadaria colorida e no interior dos auditórios, é surpreendente e proporciona enquadramentos inesperados! Uma obra de arte que se pode percorrer por dentro!
As escadas, quase orgânicas, sobem em tons quentes que vão arrefecendo até chegar ao azul, lá em cima!
Lá em cima, onde o patamar já é amarelo, a maqueta de todo o sítio, onde figura o Goetheanum e as pequenas casas em formas orgânicas e florais que aparecem perfeitamente integradas na paisagem.
Lá de cima podia ver a minha motita à minha espera no pátio!
As entradas para os auditórios estavam fechadas, o que foi uma pena, pois sei que eles são de cortar a respiração!
Ao visitarmos este edifício somos levados a pensar que é uma construção moderna e recente, futurista mesmo!
Mas na realidade foi construído nos anos 20 do século passado! Os Suíços são muito reputados em artes e arquitetura, não é por acaso!
As outras construções do complexo completam o conjunto de forma digna e encantadora!
Weiherschloss, Schaffhausen e Stein Am Rhein
19 de Agosto de 2012 – continuação
Detesto ter de pensar muito bem onde vou a seguir, mas foi o que tive de fazer a cada paragem, para tentar não fazer caminhos difíceis com conduções exigentes que me obrigassem a usar muito os travões!
O facto de ser domingo, naquele país, pode ajudar um bocado, pois não há tanto trânsito nas ruas, logo trava-se menos! 😀
Logo ali a seguir, a pouco mais de 8km fica o Château de Bottmingen, um dos castelinhos suíços mais fofinhos!
O Château de Bottmingen (Weiherschloss) é um castelinho delicioso do séc. XIII que foi restaurado posteriormente em estilo barroco, no séc. XVIII.
Funciona hoje como restaurante com serviço agradável e pratos deliciosos, a considerar pela lista variada! É o único castelo do cantão que tem foço, que lhe confere um ar romântico e pitoresco, com uma esplanada sobranceira às águas! Apetece comer ali!
Como não o poderia fazer, porque era muito cedo, contornei-o fotografando-o e, ao passar pelo seu interior, fui simpaticamente cumprimentada pelos empregados que preparavam a esplanada e punham as mesas para o almoço, pois essas coisas fazem-se cedo. Um bonito e acolhedor espaço e ainda por cima histórico!
Rapei do mapa e… não me apetecia passar em Zurich, tenho lá passado varias vezes nos últimos anos e nem é uma cidade que eu goste particularmente, por isso passei antes por Baden a caminho de Schaffhausen!
Baden recebeu-me em festa, e digo “recebeu-me”, porque as pessoas ficaram muito preocupadas porque eu não tinha lugar para estacionar por causa do centro histórico estar fechado ao transito e houve quem pedisse à policia para me deixar pôr a mota num cantinho da festa.
Baden tem a ver com termas e as águas por ali são as melhores do país, pela sua riqueza em minerais. A bem dizer o seu nome quer exatamente dizer “termas” e é mesmo uma das mais antigas do país, vinda lá do tempo dos romanos, quando se chamava Aquae Helvetiae.
Acabei por me deliciar mais com a panorâmica geral da cidade do que com a confusão das suas ruelas cheias de gente em festa!
Segui para Schaffhausen, uma cidade que sempre me fascina, com as suas cataratas esplendidas!
As cataratas ficam numa terrinha que se chama Neuhausen am Rheinfall, mesmo ao lado de Schaffhausen. As cataratas são surpreendentes pela sua força e extensão, são as maiores da Europa ocidental!
O Reno em fúria enche a atmosfera de água e é a água que tudo cheira por ali!
Barquinhos partem para a visita ao rochedo no meio das cataratas. Mais uma vez não fiz essa visita, ficará para uma outra vez que ali passe!
Desde sempre que estas cataratas impressionam quem as visita até Turner (o grande pintor impulsionador do impressionismo) as pintou quando as visitou!
O rochedo no meio da queda é tão forte quanto frágil, no meio de todo o turbilhão da corrente! Parece que, mais dia, menos dia, será levado por ela, há séculos que parece!
Eu iria lá voltar ainda de passagem durante esta viagem. Impulsos a que não consigo resistir!
Schaffhausen, a cidade propriamente dita, fica logo ali ao lado, uma cidade de origem medieval, cheia de construções extraordinárias, memórias de diversas épocas até aos dias de hoje!
Foi lá que fui almoçar! Achei curioso um bebé que teimava em gatinhar para a rua pedonal, e os pais apenas o acompanhavam, sem se preocuparem com o facto de ele se sujar. E o miúdo ficava tão feliz nas suas explorações!
Passeei um bocado pela cidade antiga, estava bastante calor e não apetecia sofrer muito em longas explorações!
O castelo do séc. XVI olhava-me lá de cima mas eu não podia apanhar mais calor e caminhar! Só aguento bem o calor a conduzir!
Ali a uns escassos vinte e tal quilómetros fica uma cidadezinha que me estava a interessar muito mais explorar! Uma cidade linda e cheia de recantos espantosos, pintura, arquitetura e ambiente, tudo parece perfeito em Stein Am Rhein!
A cidade fica no ponto onde o rio Reno deixa o lago de Constança para voltar a ser ele mesmo!
O centro medieval está muito bem preservado mantendo a estrutura antiga de ruas. As portas da cidade estão lá, embora a antiga muralha da cidade seja composta por casas.
A parte medieval da cidade é exclusivamente pedonal, o que ajuda a preservar o bom estado das habitações e permite apreciar calmamente os muitos edifícios medievais pintados com belos afrescos.
Cada uma daquelas casas merece uma longa apreciação, pelas obras que têm pintadas em si!
Ali eu esqueci o calor! Apenas me deslumbrei com os pormenores!
Um casal de motards que me vira chegar, pois estacionei a minha moto perto da deles, meteu conversa comigo. Estavam curiosos para saber de onde eu vinha e se andava por ali mesmo sozinha. Simpáticos. Eram da zona, por isso acharam que eu era a supermulher por vir de tão longe passear para ali sozinha!
Ali ao lado a miudagem aproveitava a ponte para saltar para o rio, que era o que o calor inspirava a fazer!
Depois fui até à margem do rio onde havia uma festa da cerveja local, bem animada e simpática!
Paguei um copo e encheram-mo várias vezes! Tive de dizer “chega” ou teria de passar ali a noite! Eheheh
A festa animaria à noite, diziam eles, por isso a beber era naquele momento que estava pouca gente! Diga-se que com o calor que estava apetecia mesmo beber a tarde toda!
Segui o meu caminho muito mais fresca e relaxada, depois de paleio e cerveja a gente sente-se sempre bem!
Mais à frente encontrei o único incêndio da viagem! Foi uma coisa que me chamou a atenção, com tanto calor que se fazia sentir por todo o lado, nada ardia! E este único incêndio era num armazém, por isso nem era provocado pelo calor!
Ainda passei em Appenzell, apenas para matar saudades.
O cantão de Appenzel está cheio de curiosidades, uma delas é o facto de estar completamente rodeado pelo cantão de Saint Gallen! Uma ilha no meio do outro cantão! Outra curiosidade é o seu Landsgemeinden, uma assembleia democrática ao ar livre, onde toda a população tem de participar sob pena de poder ser multada, e onde se delibera o que é importante para o cantão bem como que o vai governar! Democracia direta, onde o povo tem rosto e quem o governa também! Vêm-se e conhecem-se uns aos outros olhos-nos-olhos!
E fui para Saint Gallen, não me apetecia catar mais… nem conduzir mais, nem travar mais!
Lá da pousada de juventude eu podia ver a Catedral que me levara a voltar aquela cidade.
Eu contactara, na noite anterior, com o meu amigo alemão do Facebook, o Edwin, que vive perto daquela zona da Suíça, a pedir-lhe ajuda para encontrar uma oficina Honda na Alemanha, para trocar as pastilhas de travão.
Ele enviara-me 2 endereços para eu escolher o que me parecesse mais próprio. Perguntava-me se a moto poderia circular até uma das oficinas ou se precisava que ele me viesse buscar.
Escrevinhei o endereço da oficina no GPS e ele reconheceu-o, grande Patrick!
Não seria preciso virem-me buscar, eu iria lá ter pelo meu Patrick, o Edwin iria ter comigo. Faz sempre jeito ter alguém que fala inglês comigo e alemão com os alemães! Eheheh
Grande Edwin, iria conhece-lo amanhã!
Fim do vigésimo primeiro dia de viagem!
O amigo Edwin, Lindau, Meersburg e Birnau
20 de Agosto de 2012
Antes de pensar no que ver ou visitar naquele dia, coloquei o GPS na moto e tratei de lhe obedecer cegamente e deixar que ele me levasse até ao stand/oficina que o Edwin me aconselhara!
Foram quase 60km tentando nem olhar para o lado para não perder tempo e chegar cedo, para me despachar e acabar de vez com a preocupação do travão!
Por momentos duvidei que o caminho estivesse certo pois fui-me afastando de centros e cidades e atravessando montes e planícies, sem ver ambiente de ir encontrar um stand Honda no meio de nada! Mas ele lá estava, quando o meu Patrick murmurou ao meu ouvido “chegando ao destino à esquerda”!
O meu amigo Edwin lá estava à minha espera e foi de grande ajuda para explicar o que a minha Magnífica estava a pedir: pastilhas nos travões da frente e de trás!
O stand não era muito grande mas era simpático e as pessoas atenciosas!
Enquanto cuidavam da minha motita, fomos dar uma voltinha pela zona, um bom pedaço de conversa, embora o meu inglês seja pobre, por falta de vocabulário, para conversar relaxadamente!
Fomos passear para uma zona mística, um recando de natureza onde se encontram pequenos “templos” em madeira com decorações curiosas a lembrar ambientes de culto budista
ou ambientes de culto brasileiro, tipo de uma Iyalorixá – mãe de santo!
A natureza presta-se a ambientes curiosos!
Depois de uma bela passeata e de um simpático 2º pequeno-almoço, na companhia do amigo Edwin, fomos buscar a motita! Estava pronta!
Não pude deixar passar a oportunidade de me fazer fotografar, a mim e à minha Magnífica, junto do Edwin, um grande homem, no verdadeiro sentido da palavra!
Senti-me tão pequenina junto dele! Acho que a Magnífica também! 😀
A motita estava ótima, pronta para rolar, nada me perturbaria mais… era hora de partir!
Despedi-me do amigo Edwin com a promessa de que o seu belo país seria, provavelmente em 2014, o assunto de uma viagem ou, pelo menos, o assunto principal! Nessa altura ele acompanhará parte dela com a sua GSA, uma moto à sua medida: grande e grandiosa!
Era cedo, o dia era longo, nada me impedia de visitar ainda grande parte do que planeara visitar por aquelas bandas! Um dia de sorte, sol e passeio pelo lago de Konstanz!
Lindau fica a uns escassos vinte e poucos quilómetros de Weiler-Simmerberg, a localidade onde ficava a oficina da Honda, por isso seria ainda possível realizar o meu plano inicial de dar a volta ao lago de Konstanz, o Bodensse, só que no sentido contrário ao que projetara!
Por isso, em vez de terminar a volta em Lindau, comecei por ali mesmo!
Lindau é uma cidadezinha numa ilha, no lago de Bodensee. Lindau quer dizer precisamente Linda e o lago de Bodensee não é outro senão o Lago de Konstanz, ou Constancia, que fica na fronteira entre três países: a Alemanha, a Suíça e a Áustria e os três países ainda nem se entendem muito bem sobre como ou onde ficam as suas fronteiras no lago! Lindau fica no estado da Baviera e o seu porto é mítico pela entrada com o marco característico da escultura do leão, de um lado, e o único farol da Baviera, do outro.
A rathaus é um edifício extraordinário, originalmente em estilo gótico e posteriormente renascentista, lindo com as suas pinturas nas duas fachadas, difícil de decidir em que ângulo é mais bonito!
Passeia-se pela ilha como se ela não tivesse fim, pois está recheada de edifícios lindos com fachadas pintadas com imagens e cheia de gente que se passeia calmamente pelas ruas mas, na realidade, é uma ilha bem pequena com menos de um quilómetro quadrado de área!
Pormenores que, quem anda de nariz no ar, vai descobrindo!
A Stadtpfarrkirche St. Stephan, ou igreja evangelista de Santo Estêvão, é linda! De origem românica do séc. XII, comporta em si séculos de modificações, adaptações e reconstruções!
E hoje a sua decoração barroca em estuque é linda e fresca!
Do outro lado da praça fica o Museu Municipal, a “Haus zum Cavazzen”, uma construção impressionante com pinturas extraordinárias nas paredes!
Lindau visita-se calmamente a pé, por ruelas e recantos cheios de encanto!
Com paragem estratégica para refrescar um pouco, que o calor aperta! Afinal estamos ou não no país da cerveja?! E que boa que era! 😉
Ali encontrei os chapéus mais caros da viagem! É verdade, um chapéu igual ao meu chegava a custar mais de 200€! Foi quando pensei em comercializa-los por lá, dado que o meu foi comprado no Porto muitíssimo mais barato!
E tratei de pegar na minha motita e seguir caminho, que o lago é grande e cheio de coisas que eu queria ver!
Voltei a passar no belo porto
E segui passeando pela margem do lago que já visitara em 2010, mas deixara tanto para ver! E voltei a deixar muito para outra visita!
Logo ali à frente fica Meersburg, uma cidadezinha encantadora, como tudo parece ser na borda daquele lago!
Com uma história riquíssima que vem desde tempos remotos, cheia de construções perfeitamente preservadas, a cidade teve sua primeira fortaleza construída por volta do século VII.
Sem ter ainda regressado bem ao nosso tempo, depois de visitar Lindau, voltei rapidamente ao passado ao visitar Meersburg!
A cidadezinha tem duas zonas a parte baixa (Unterstadt) e a parte alta (Oberstadt) que são pedonais e estão ligadas por duas escadas e uma rua íngreme.
E realmente é a pé que se conhece melhor cada recanto de tão encantadora cidade!
Dá-se a volta e apetece recomeçar de novo!
Um mimo de cidade fofinha e linda, onde a água das fontes é fresca, quase gelada, como quem a tira do frigorifico, percorrida por pessoas simpáticas e sorridentes, como num cenário perfeito de uma história infantil!
E as casinhas medievais perfeitamente conservadas, pareciam quase impossíveis!
Lá acabei por deixar a cidadezinha para trás, ou iria passar lá o resto das minhas férias sem nem dar por ela!
Ao passear-me pela margem do lago, logo a seguir a Meersburg, por entre vinhas em paisagens deslumbrantes sobre o lago, com a “Ilha das Flores” de Mainau no horizonte, fica a Basílica de Birnau, uma construção extraordinária do séc. XVIII.
Embora o barroco não seja o estilo que mais aprecio, não podia deixar de a visitar, porque é linda e espantosa!
Um mundo decorativo vibra em cima de nós, em tetos trabalhados em gesso e pintados em afrescos como telas, quase fotográficas!
Um local que tenho de voltar a visitar, quando a Alemanha for o destino exclusivo da minha viagem e a ilha de Mainau um dos grandes locais a explorar.
Reichenau, o lago de Konstanz e a cidade..
20 de Agosto de 2012 – continuação
Do outro lado da curva no lago fica Reichenau, uma ilha no lago Konstanz.
O caminho de Reichenau é encantador! Na realidade é um caminho para uma ilha, o que o torna uma estrada no meio das águas. De cada lado da estrada as árvores, grandes e frondosas, tornam o percurso extraordinário, como um caminho de preparação para a ilha monástica, onde os mosteiros, igrejas e conventos são parte do percurso romântico e de interioridade religiosa e histórica.
O Kloster Reichenau, ou Mosteiro de Reichenau, é uma construção lindíssima e um exemplar extraordinário do período carolíngio, a época da alta idade média e de Carlos Magno, lá pelos 2 ou 3 séculos antes do século décimo.
Foi fundado no séc. VIII e foi por muito tempo dos mais importantes na zona até Saint Gallen.
O teto da igreja faz lembrar o interior de uma grande barcaça em madeira!
E os encantos medievais são simples e belos!
Há uma sequência de construções religiosas dignas de visita por ali, tudo catalogado pela Unesco. Mais à frente fica a encantadora Georgskirche, ou kirche st. George,
em restauro por fora mas linda e perfeita por dentro!
A basílica de São Jorge, do ano 900, que se pensa ter sido construída para guardar as relíquias do santo, é um edifício ainda mais belo que o mosteiro de Reichenau, com os seus afrescos surpreendentemente únicos e bem conservados!
Momentos de paz e contemplação também sabem bem numa viagem!
Cá fora, ao lado da Basílica fica o cemitério. É sempre curioso ver como uma população cuida dos seus mortos, mostra muito de um povo!
Logo a seguir fica Konstanz. Eu passei lá em 2010, mas é uma cidade que vale a pena voltar a visitar!
Pensa-se que o seu nome venha do imperador Constâncio Cloro, o imperador romano que lutou ali contra os alamanos.
A Basilica de Konstanz, é chamada também de Basílica Papal, porque ali foi eleito o papa Martinho V no séc. XV.
Por baixo da catedral há vestígios romanos que podem ser visitados, eu limitei-me a espreitar pelos vidros da pirâmide no chão da praça, na berma da catedral!
A catedral é muito bonita, gótica com tantos vestígios anteriores. Já a visitara antes por dentro, por isso agora apenas a torneei por fora!
Continuei ainda pela margem do lago, e de lá, a estrada para Reichenau é visível pelas filas de grandes árvores, como gradeamentos ao longe! Uma perspetiva encantadora do lago de Konstanz!
E fiz um belo picnic ao entardecer em Ematingen, com o lago e o sol como paisagem. A felicidade existe e é nestes momentos que ela é intensa cá dentro de mim!
Depois, de barriguinha cheia, passei por Frauenfeld, uma cidade do cantão de Thurgau, que merecia uma visita mais cuidada, mas ficará para mais tarde, um dia que volte a passar por ali!
A igreja de Sankt Niklas estava fechada, numa cidade esvaziada e em hora de jantar.
Há por ali um castelinho muito bonito, mas também ele ficaria para outra vez!
E fui para casa, que naquele dia era mais uma vez em Saint Gallen!
Fim do vigésimo segundo dia de viagem…
Saint Gallen, Wil e Schaffhausen
21 de Agosto de 2012
A cidade antiga de Saint Gallen é encantadora, cresceu em torno da antiga ermida de Saint Gall e hoje deu origem a uma grande cidade. Mas o que me levou ali foi a Abadia de St Gall e a sua biblioteca que contem livros do séc. IX. Ela própria é uma preciosidade preservada desde a época da Reforma, em que a ira religiosa levou quase à destruição de exemplares únicos dos seus livros!
Mas ela apenas abriria às 10.00 horas, por isso aproveitei para explorar a Abadia que não visitara da minha última passagem pela cidade e que, naquele dia estava aberta!
Esta catedral tem as suas origens em tempos muito remotos, bem anteriores ao século X, sobre a primeira ermida do séc. VIII, e dela nasceu todo o complexo religioso, alterado, acrescentado e restaurado até aos dias de hoje
depois do próprio monge irlandês Gallus se ter instalado naquele local que honraria seu nome que batizaria toda a cidade. Passou pela longa e conturbada história religiosa suíça, tendo-se mantido católica no seio de uma cidade que adotou a reforma, ainda foi atingida pela fúria dos calvinistas… mas foi salva e restaurada posteriormente.
A catedral chega até nós barroca, com tetos extraordinários trabalhados em gesso e afrescos impressionantes.
Aqueles tetos e interiores tornam a catedral um dos mais extraordinários e ricos monumentos barrocos da Suíça!
Não sendo o barroco o estilo que mais aprecio, não posso deixar de me deslumbrar com aqueles tetos!
As linhas curvas e retorcidas tão típicas do barroco estão presentes e provocam sensações quase vertiginosas, por vezes!
Estava na hora de ir visitar a biblioteca…
Tal como eu imaginava não só não era permitido fotografar lá dentro, como nem era permitido levar nada connosco lá para dentro!
Uma filinha de chinelos gigantes em feltro, grandes o suficiente para que os calcemos por cima dos nossos sapatos, esperam os visitantes, para que ninguém entre sequer na sala com os seus sapatos a conspurcar o solo e o ambiente!
A biblioteca vale todo esse ritual!
É apenas uma das mais ricas e mais antigas do mundo e contém 130.000 livros, incluindo manuscritos preciosos como o mais antigo plano arquitetónico conhecido, elaborado em pergaminho!
Embora seja construída em estilo barroco a sua decoração é rococó, outro estilo que não é meu predileto mas que me fascinou naquele ambiente!
Para que se fique registada uma ideia do que ali vi, apenas me resta procurar uma imagem da net:
Por baixo da biblioteca, na cave, existe uma espécie de cripta onde se pode acompanhar a história do local, com vestígios que testemunham séculos de vida por ali vividos!
Ali já era permitido fotografar, justamente quando o que havia para ver não era tão interessante assim!
E acabei a minha visita ao espaço religioso continuando com a visita à cidade antiga, que me encanta sempre!
Dizem que os edifícios do centro da cidade são construídos sobre estacas porque o piso é instável naquela zona. Parece que o St Gall não estava muito preocupado com o chão onde construiu sua ermida, afinal não era para construir uma cidade!
É sem dúvida uma cidade agradável para passear um pouco, sobretudo naquela envolvência histórica!
Então voltei a puxar do mapa e do meu livrinho para decidir onde iria a seguir.
Estava a chegar a hora de sair da Suíça e seguir para Estrasburgo.
Mas a saída da Suíça não tinha de ser apressada! Aliás, eu nunca saio daquele país a correr… acho que o faço sempre olhando para trás e pensando se não devia ficar mais um pouco!
Por isso deixei-me ir e passei em Wil, uma cidadezinha tão simpática que não resisti em ir fazer uma visita!
Na realidade trata-se de uma cidade com mais de mil anos de história! Mas são os seus encantos medievais que a tornam encantadora hoje!
A igreja da cidade, a WilKirche dedicada a Sankt Nikolaus, é uma “coisa” curiosa, com pinturas garridas em vários sítios
como no altar
e nos tetos!
Muito curiosa e bonita!
Na praça em frente à igreja fica uma escola e os desenhos e pinturas no chão davam um ar colorido e alegre ao ambiente! Adorei!
Então continuei o meu caminho pelas paisagens cheias de pormenores curiosos
até Schaffhausen, de novo! Afinal as belas cataratas ficavam no meu caminho e eu não resisti a voltar a passar.
Mas desta vez eu cheguei pelo outro lado e visitei-as numa outra perspetiva, a perspetiva cá de cima do castelo!
]
Que bem que me soube voltar ali, despedir-me da minha bela Suíça ali…
Fiquei muito tempo em silêncio a saborear o som e o ar fresco que toda aquela corrente de água emanava!
Lá de cima é que se consegue apreciar a força das águas e a luta calculada que os pilotos das embarcações travam para chegar ao rochedo no meio do rio.
Estamos num grande cotovelo do rio Reno!
A Floresta Negra e a Nascente do Danúbio!
21 de Agosto de 2012 – continuação
Despedi-me da Suíça finalmente, depois de 15 dias por caminhos cheios de beleza e saudade, e parti com a promessa de voltar a qualquer momento, em qualquer viagem que me faça passar perto.
Segui por terras alemãs parando logo a seguir em Sankt Blasien, uma cidade à entrada da Floresta Negra, quem vem da Suíça!
O que me atraiu ali não foi a cidadezinha em si e sim a sua Dom St Blasius!
Aquela imensa construção fica na margem do rio Alb, mas há pontes giras e com flores para atravessar para o outro lado.
Lá estava ela, uma grande construção barroca, parece que esta viagem foi voltada para o barroco!
A sua história perde-se no tempo. A primeira abadia teve origem antes do séc. X, foi passando de seculo em seculo de estilo em estilo até se incendiar lá pelo seculo XVIII. Então esta extraordinária construção nasceu em seu lugar!
A igreja é redonda e o seu círculo tem 46 metros de diâmetro e 63 de altura!
Lá dentro é tudo branco e deslumbrante! Atravessa-se aquele grande espaço amplo de nariz no ar!
Ao longe ninguém imagina a dimensão daquela cúpula nem como ela cobre todo um espaço amplo!
Preparei-me para atravessar a Floresta Negra! Já por lá andara em 2010 mas desta vez pretendia visita-la com mais calma!
Mas de repente foi-se o meu sossego!
Um barulho forte e assustador, como se uma pedra tivesse atingido a roda traseira da minha moto, fez tudo tremer, a ela e a mim!
Parei imediatamente, observei a roda, o travão, toda a engrenagem… tudo parecia normal! Voltei a arrancar e o barulho voltou a sentir-se, forte e perturbador, como se a roda fosse sair do seu eixo.
Não sabia o que fazer, era tarde para ir à procura da oficina Honda mais perto pois, era longe! Pensei procurar dormida ali e não mexer mais até voltarem a ser horas de ir a uma oficina…
Acabei por decidir seguir… iria lentamente até onde ela me levasse, ao menos não ficaria ali, com a sensação de não estar a fazer nada, até ao dia seguinte de manhã!
Não é fácil seguir caminho com uma moto que parece que se vai desintegrar e perder a roda a qualquer momento, mas mesmo assim eu passei em Donaueschingen, não resisti a passar ali tão perto e não parar um pouco!
Ali atrás daquela igreja fica o que eu procurava!
A histórica nascente do Rio Danúbio!
O Danúbio é o segundo mais longo rio da Europa depois do Volga na Russia.
Tem quase 3.000km de comprimento e atravessa a Europa de oeste para este, desde a Floresta Negra, até ao Mar Negro! Curioso o “negro” que lhe é comum na origem e na extremidade!
Olhando bem as suas águas mais parece que se trata de um pequeno lago! Na realidade ele é a conjugação de 2 pequenos riachos que se juntam ali: o Brigach e o Breg.
Não pude deixar de me deslumbrar com uma presença tão forte, um ligeiro borbulhar das águas que, na realidade, corresponde a uma corrente de água que pode ir dos 50 aos 150 litros de água por segundo!
Lá dentro há “verduras” e moedas! Que os turistas não podem ver um poça de agua sem que lhe atirem para dentro uma moedinha!
Interessante seria percorrer aquele rio desde a nascente até ao delta, como eu gosto de fazer com alguns rios! Que eu saiba seriam 9 países de prazer a percorrer: Alemanha, Áustria, Eslováquia, Hungria, Croácia, Servia, Roménia, Bulgária e Roménia!
Então caí na realidade e fiz-me à estrada, cheia de ruídos na roda e de medos no coração! Mais uma vez não tinha mais a certeza se chegaria ao fim daquela viagem!
A Floresta Negra é de uma simplicidade deslumbrante! Entre morros e árvores, vai-se rolando por ali fora calmamente, não fosse a aflição que me fazia circular cheia de cuidados e a passinho de caracol.
Há lagos e cidades mas o que mais me deslumbra ao passear por ali é a sensação de infinito que aquela imensidão verde transmite!
Quilómetros e quilómetros verdes e centenários!
E passei em Triberg a cidadezinha dos relógios de cuco!
Não queria perder muito tempo, não queria correr o risco de ter de circular de noite com os barulhos que a moto ia a fazer!
Mas ao mesmo tempo não resisti a parar junto ao maior relógio de cuco do mundo!
Eram quase 6.00 horas e eu queria ver o cuco a espreitar!
Ali se fazem os míticos relógios de cuco!
Podem-se fazer visitas guiadas ao relógio, mas não teria cabeça para tal naquele momento.
E o tipo espreitou às 6.00h em ponto e cantava alto!
Foi-se para dentro o cuco e eu lá segui o meu caminho.
Aos poucos o barulho foi-se tornando menor, menos intenso e menos frequente, como se o que o provocasse estivesse a “acalmar”…
Ao chegar a Estrasburgo já só de vez em quando é que ele se fazia ouvir! Isso deu-me coragem para ir até ao centro da cidade jantar, contra a minha ideia inicial de ir para o hotel e não mexer mais até amanhecer!
Fui jantar na Place Gutenberg, num dos restaurantes onde vou sempre que ali passo!
A catedral fica logo ali ao lado! Da esplanada do restaurante onde eu jantava podia ouvir musica e perceber que a catedral estava em festa!
O que se passava na realidade era um evento de verão intitulado Illuminations de la Cathédrale, que constava de iluminações ao som da música, que faziam parecer que a catedral se movia e se transformava.
E acabei o serão deitada no chão da praça da catedral a olhar para ela cá de baixo, como tanta gente!
Fim do vigésimo terceiro dia de viagem.
La Petite France!
22 de Agosto de 2012
Depois de um serão sui-generis, deitada no chão da praça a olhar para a catedral, fui para o hotel ligar-me à net e procurar uma oficina Honda perto dali! Encontrei a MOTO SCHUMPP, concecionário Honda desde 1967 e de uma série de outras marcas mais recentemente e, o mais importante: tinha oficina! Contei a minha descoberta ao meu Patrick (GPS) e ele sabia muito bem onde era!
O site dizia que aquilo abria à 8.30h mas como a moto estava a andar e eu nem tinha a certeza se depois de ir à oficina ela sairia a continuar a circular… aproveitei e fui visitar um pouco a cidade antes. Ao menos o que eu tivesse já visto ninguém me tiraria mais, nem que tivesse de ir embora para casa de assistência em viagem!
Por isso fui passear para la Petite France!
La Petite France é um quarteirão muito característico e pitoresco de Estrasburgo, cheio de casinhas lindas que parecem de brincar, com os travejamentos em madeira exteriores, tão característicos na Alsácia.
Fica na Grand Île, no ponto onde o rio ILL, afluente do Reno, se ramifica em cinco canais.
É um quarteirão encantador, classificado como Património da Humanidade pela Unesco. O seu nome vem de um Hospício da varíola, para tratamento da sífilis, doença chamada de “mal francês” que existiu ali.
Arrepiei-me, a cada passo por aquelas ruelas encantadoras, só de imaginar que tudo aquilo foi destruído durante os bombardeamentos da Segunda Guerra!
O trabalho de restauro e reconstrução foi remarcável, pois hoje nada se distingue mais, entre o antigo e o reconstruido.
Os pormenores das portas, janelas, telhados e varandas são encantadores, parece que passeamos pelas histórias de encantar!
Souberam preservar e restaurar o seu património arquitetónico, as suas casinhas de madeira e tabiques, que nos chegam desde os séculos XVI e XVII.
Parece que tudo foi construído para agradar aos turistas, como cenários perfeitos e encantadores e até custa a crer que ali vive gente todos os dias e todo o ano!
Uma sensação que nos fica por toda a Alsácia, de que tudo é tão bonito que parece quase artificial!
As voltas que eu dei por ali, catando cada recanto como não fazia há muitos anos!
As pontes cobertas estavam em restauro, vestígios das fortificações medievais da cidade do séc. III.
O centro da cidade, que fica na ilha, já teve 80 torres destas, que circundavam todo o espaço, hoje só existem 4..
Ao passar-se a ponte podem-se ver diversos braços de água, os canais que o rio forma naquele ponto.
Adorável cidade! Vou lá voltar de novo, vezes sem conta, estou certa!
E estava na hora de ir ao senhor doutor com a minha motita ver o que raio se passava com ela! O Patrick levou-me direitinha à oficina, que alivio! Pelo menos não teria de andar de porta em porta à procura dela!
Era um stand gigantesco, cheio de motos e movimento!
E começou a “brincadeira”! O mecânico deu uma volta e a moto não fez nada, eu dei uma volta e ela fez o tal barulho! Ele voltou a ir mais longe um pouco, e ela nada fez, eu pego nela e ela berra!
Já dava para rir, mas a verdade é que a dada altura o barulho que ela fazia se ouviu na rua, as pessoas puderam ouvi-lo a partir do passeio, ninguém podia dizer que era cisma minha!
E lá foi ela para a mesa de operações!
Toda a gente foi dar uma olhada, ninguém via nada!
E eu esperava cá fora como quem espera um ente querido que está em tratamento!
Enquanto eles desmontavam o travão e experimentavam a roda, para ver se era rolamento, eu punha o olho a qualquer moto que tivesse malas e queria troca-la pela minha…
Ou uma moto para quando eu for velhota e tiver medo de não me segurar de pé, 3 rodas ajudam o equilíbrio!
Acabaram por não descobrir nada de anormal! Segundo observaram, o sistema de travão tinha vestígios de ter moído uma pedra, o barulho realmente era cada vez menor, o que quereria dizer que as impurezas estariam a desaparecer. Disseram-me que seguisse, que não correria perigo, que o barulho desapareceria… e eu segui!
A bela Alsácia e a rota dos vinhos.
22 de Agosto de 2012 – continuação
A Alsácia tornou-se, desde as minhas primeiras passagens por ali, um destino a conhecer. Apercebia-me a cada passagem que era uma região lindíssima, cheia de recantos de rara beleza e de pessoas muito simpáticas! E a cada vez que passava a minha ideia reforçava-se! Por isso, nesta viagem ela foi um dos grandes destinos a explorar e em nada me desiludiu, bem pelo contrário!
Quando se engrena pela Route des Vins d’Alsace parece que nos passeamos pelo trilho da beleza perfeita! Cada aldeia é um cartão postal e elas sucedem-se quase de quilómetro em quilómetro!
Segui para Rosheim, uma aldeia pequenina, como parecem ser todas as aldeias da Route, com as suas portas características e comuns a tantas aldeias por ali!
São adoráveis aquelas torres/porta: a torre do relógio e a porta do Hospital, as mais antigas!
A aldeia de origem que quase se perde na história tem edifícios medievais lindíssimos
como a igreja românica des Saints Pierre-et-Pauldo do séc. XII.
cheia de pormenores encantadores
Lá dentro havia uma exposição de arte com peças interessantes que faziam um efeito curioso!
A torre sineira é posterior à igreja, do século XIV gótica, em arenito vermelho.
Passear por ali foi um prazer e quase esqueci que as cidades e aldeias vizinhas são igualmente encantadoras!
Aquele poço lindíssimo prendeu-me a atenção e descobriria outros semelhantes na redondeza.
E segui para encontrar logo ali a seguir, uns 3 ou 4 quilómetros adiante Boersch, com as suas portas/torre medievais parecidas com as de Rosheim
e o poço lindíssimo renascentista do séc. XVI, também parecido com o da primeira aldeia!
As ruinhas deliciosas cheias de edifícios encantadores
E sai-se pela outra porta, no outro extremo, para seguir de novo a Route no rasto de outras aldeias de encantar!
Logo à frente fica Obernai, uma cidade de origem medieval e em pleno crescimento!
Na realidade parece que todas aquelas aldeias e cidades são extensões delas próprias, como se de uma apenas se tratasse!
Embora seja uma cidade bem maior que as pequenas aldeias em redor, mantem as suas casinhas e recantos pitorescos. E tem mais uma Eglise des Saints Pierre-et-Paul, esta do séc. XIX em estilo neo-gótico!
A igreja é impressionante!
Ali ao lado fica a Place du Marché com a fonte de Saint Odile e o Hôtel de Ville o campanário ”Beffroi Kapellturn”
Mais um passeio encantador por ruelas pitorescas!
Havia festa e as pessoas bebiam vinho nas esplanadas dos cafés.
Mais meia dúzia de quilómetros à frente e cheguei à casinha de chocolate da história infantil dos Irmãos Grimm em Gertwiller!
Até estavam lá os putos, Hansel e Gretel e a bruxa!
Na realidade os biscoitos de manteiga e os Pains D’Épices são muito procurados e característicos da Alsácia e as casas que os fazem e vendem são lindas!
Então de repente a máquina fotográfica começou a falhar e a rejeitar o cartão de memória! De repente também me lembrei que não tinha retirado para o portátil as fotos do dia anterior…
Abri a maquina, retirei o cartão e a bateria, desliguei-a, voltei a ligar… e nada! Ela apenas repetia a informação de que não conseguia gravar as fotos no cartão…
Regressei ao hotel, felizmente estava a apenas uns escassos trinta e tal quilómetros de distância. Eu já nem sabia o que tinha feito ao outro cartão de 4 giga, mas isso nem era difícil de resolver, poderia comprar um novo, não sabia era se recuperaria as fotos do cartão de 8 giga que estava a falhar na máquina…
Raios! Que mais estava para acontecer nesta viagem pontilhada de aflições por entre as belezas?
Le Mont de Sainte-Odile
22 de Agosto de 2012 – continuação da continuação
Não é qualquer coisa que abala o meu ânimo! Quando quero ver ou fazer qualquer coisa não desisto facilmente, por isso fui para o hotel, retirei o cartão, liguei-o ao computador com o leitor de cartões e… constatei que a coisa estava feia! Até para o abrir e ler o conteúdo foi difícil! Tentei diversas vezes até perceber que era uma questão de tempo! Aquilo demorava uma eternidade a abrir e uma ainda maior eternidade a selecionar e copiar para o portátil!
Não seria coisa para fazer rapidamente, por isso deixei o portátil a negociar a operação com o cartão e, depois de remexer as minhas coisas, lá encontrei o outro cartão menor, da minha primeira máquina, que levara apenas porque levara também a máquina velhota, para o caso de o azar atacar a máquina nova!
E pronto, já tinha máquina de novo! Demorara mais de uma hora naquele contratempo mas o sol ainda ia alto, por isso voltei à estrada! Fui rapidamente até ao ponto onde ficara a falar sozinha, com a máquina à bulha com o cartão, e fui visitar o Mont de Sainte-Odile! 😀
O Mont Sainte-Odile é uma saliência na planície com cerca de 760 metros de atitude. Lá em cima fica o convento, a abadia, a igreja e diversas capelas, num local de grande peregrinação dedicado à santa padroeira da Alsácia! Dizem que em dias límpidos se pode ver dali a Floresta Negra, na Alemanha ali ao lado!
Sainte Odile nasceu em Obernai, ali ao lado, filha do Duque da Alsácia no ano de 662 e diz a lenda que, tendo nascido cega, não foi aceite pelo pai, que não conseguia aceitar que, além de não ser o rapazinho que esperava, a filhota fosse cega!
Ele encarou a sua cegueira como uma vergonha para a família, por isso determinou que ela devia morrer! A mãe conseguiu defender a menina e confia-la a uma enfermeira para cuidar dela e a afastar do pai violento.
Depois há histórias que falam de que o seu pai matou por acidente o irmão, que a defendia e que ela veio e o ressuscitou, que o pai adoeceu e ela veio de novo para cuidar dele e só aí ele a aceitou!
Dizem ainda que um padre veio batiza-la e ela recuperou a visão!
Ui, tantas histórias que fizeram com que ela fosse canonizada no séc. XI e seja hoje uma padroeira da boa visão e a padroeira da Alsácia!
Foi com o apoio do pai que ela fundou a Abadia de Hohenbourg, a partir do castelo com o mesmo nome, onde Odile foi abadessa até morrer em 720.
Apenas visitei as capelas e os mosaicos da Chepelle des Larmes são espantosos! Chama-se assim, capela das lágrimas, porque ali Odile chorou pela saúde do seu pai!
Há quem acredite que é uma das áreas mais vibrantes do Monte Saint-Odile, porque alem desses momentos de sofrimento vividos ali pela santa, a capela foi construída em cima do antigo cemitério do mosteiro!
Ao lado fica a Capelle des Anges, ou Chapelle Saint-Michel, onde os mosaicos lindíssimos contam historias e, embora seja pequenina, não se deve ver da porta, porque é lá dentro que se pode apreciar os tetos e paredes, todos trabalhados, tal como a Chapelle des Larmes!
Há jardins bonitos ali em cima, com paisagens extraordinárias, porque estamos no topo de uma colina em penhasco.
Sainte Odile está lá em cima de uma pequena cúpula de uma torrezita a abençoar a planície em redor do monte!
Tudo em arenito vermelho, a pedra característica da zona, a considerar pela quantidade de construções naquela pedra, por toda Alsácia!
Por momentos também fui santa! Oh p’ra mim com a cruz no meu reflexo! 😀
Não me apeteceu ver mais igrejas, estava mas era com sede e aproveitei o restaurante-bar ali instalado para me refrescar com uma belíssima cerveja!
Cá em baixo, aos pés do monte, fica Barr, uma cidadezinha deliciosa com um centro histórico muito bem preservado, cheio de casinhas deliciosas com travejamento exterior, tão comum por ali!
Pormenores encantadores de uma terrinha pouco frequentada por turistas que guarda todo o seu encanto camponês!
Não sou apreciadora de bolos nem biscoitos nem qualquer tipo de doçaria, mas não me iria embora sem pelo menos provar uma das especialidades da zona! Os biscoitos de manteiga são deliciosos!
Só então reparei que estava na reserva…segundo a minha Magnifica teria gasolina apenas para uns miseráveis 45km. MᾣᴁӚda! Com a preocupação da máquina e a sensação de voltar a conseguir fotografar, não olhei sequer para o nível da gasolina! E agora as bombas estavam todas a funcionar com a mᾣᴁӚda da carte-bleue, que só os franceses têm sem se preocuparem com os desgraçados dos viajantes incautos, como eu!
MᾣᴁӚda….
Aí praguejei e lamentei-me e ralhei comigo própria e com a Magnífica e amuei!
Fui-me meter em casa, pois nem podia arriscar ir a Estrasburgo pois podia resultar em ficar apeada em qualquer lugar, já que não fazia a menor ideia se existiram bombas abertas pelo caminho!
Fiz um belo pic-nic no quarto, enquanto batalhava com o portátil e com o cartão de memória doente e não saí mais, até ter a certeza que as bombas estavam abertas, no dia seguinte!
Fim do vigésimo quarto dia de viagem!
La Route des Vins D’Alsace
23 de Agosto de 2012
Havia tanta coisa que eu queria ver na Alsácia que deixara, na minha planificação da viagem, tempo suficiente para ver no dia seguinte o que não pudesse ver no dia anterior… e ainda bem que o fiz porque, assim naquele dia, tinha todo o tempo para cobrir os pouco mais de 100km de estrada de vinhas e aldeias e percursos lindíssimos, até Colmar!
Tudo é lindo na Route du Vin D’Alsace! Não é preciso procurar muito nem fazer grandes estudos prévios pois basta apenas seguir a Route, muito bem sinalizada, e deixar-nos deslumbrar com o que aparecer no nosso caminho!
No entanto eu tinha feito o trabalho de casa, o que me facilitou a vida, pois sabia desde o início que eram muitas as aldeias a ver e sabia também quais as que mereciam uma visita mais cuidada e quais as que bastava ver de passagem! Este trabalho de casa é que me garantiu a possibilidade de ver tudo o que faltava num dia apenas!
Segui de Estrasburgo direta até ao ponto onde fora obrigada a parar no dia anterior!
E ali recomecei o meu caminho e a filinha de terrinhas e aldeiinhas que visitei foi longa, ora vejamos:
B. Mittelbergheim
C. Andlau
D. Itterswiller
E. Dambach-la-Ville
F. Châtenois
G. Château du Haut-Koenigsbourg
H. Saint-Hippolyte
I. Bergheim
J. Ribeauvillé
K. Hunawihr
L. Zellenbreg
M. Riquewihr
N. Colmar
O. Eguisheim
São curiosos os nomes das terras por ali, percebe-se facilmente que não têm nada a ver com nomes franceses! Na realidade por ali fala-se uma língua entre o francês e o alemão: o alsaciano.
Os nomes pouco franceses devem-se ao facto de aquela região ter andado de mão em mão, entre a Alemanha e a França, durante diversos períodos, alguns bem longos!
Naturalmente não poderei publicar imagens de todas estas localidades, não porque não mereçam ou porque não sejam encantadoras, mas porque nunca mais acabaria! Depois há coisas tão parecidas em cada uma delas que pareceria sempre a mesma! Mas vou tentar registar os pormenores mais encantadores e as aldeias mais bonitas, porque são deslumbrantes!
Ora lá estou eu, de manhã, prontinha para catar tudo o que não pudera catar no dia anterior! 😀
A primeira terrinha a seguir a Barr (visitada no dia anterior) foi Mittelbergheim, com as suas quintinhas de produção de vinho encantadoras!
Acho sempre curioso o que é diferente do que é nosso e as quintas são deliciosas. Não é por acaso que Mittelbergheim foi classificada como uma das aldeias mais bonitas do país!
Aliás, quase todas as aldeias na Route estão catalogadas e premiadas como sendo das mais belas de França e, à medida que vamos passando por elas, vamos entendendo porquê!
A natureza também tem os seus elementos únicos por ali! Fui apanhada de surpresa pela grande dimensão deste chorão!
O Salgueiro-Chorão era tão espantoso que tive de tirar uma foto com a minha motita a servir de escala! Assim percebe-se melhor a sua dimensão!
A seguir foi Andlau, mais uma aldeia de origem que se perde no tempo e na história, cheia de elementos bem antigos!
Não parei em todo o lado mas fui registando as terrinhas paralelas à estrada, lindas lá no meio das vinhas!
Itterswiller, logo à frente e as suas caves encantadoras onde apetecia entrar.
Dambach-la-Ville, não estava nos meus planos visitar, mas atravessei-a porque fica no caminho da Route!
É histórica, é medieval, é florida e é linda!
Valeu a pena lá passar!
As casinhas são deliciosas e bem conservadas e a vila está situada por entre o maior vinhedo a Alsácia, de quase 500 hectares!
A caminho de Châtenois os castelinhos na encosta dos montes, aliás a Alsácia conta com uma série de castelinhos, grandes castelos e fortes!
Châtenois é uma cidadezinha pequenina e encantadora que eu queria absolutamente visitar!
Tem origens e vestígios desde os celtas que convivem com construções medievais e renascentistas num conjunto muito bonito!
Como em quase todas as cidadezinhas e vilas por ali, anda-se pelas ruas encantando-nos com os edifícios com que cruzamos!
Até chegarmos à Eglise St Georges, construída no séc. XVII no lugar de uma igreja românica que deixou de herança a belíssima torre sineira!
Foi aquela torre que chamou a minha atenção e me fez ir a Châtenois! É deslumbrante!
Pertinho fica um dos recantos mais pitorescos e belos da cidade, a Tour des Sorcières (torre das bruxas), do séc. XV. O nome ficou-lhe por ter servido de prisão para as pessoas acusadas de bruxaria.
Curioso o pormenor do ninho de cegonha lá no topo, que deixa uma mancha branca por baixo de si. Encontram-se frequentemente ninhos no topo de casas daquelas aldeias. As casas têm mesmo o suporte para facilitar a construção dos ninhos!
Logo ao lado ficam as casinhas mais fofinhas da cidade! Tão bonitas que nem pareciam casas de habitação!
A seguir fica Kintzheim, mais uma vila curiosa com um castelinho na encosta, mas apenas a atravessei, pois o castelo que eu queria ver era outro, era mais à frente e era muito mais bonito!
o château du Haut-Koenigsbourg
23 de Agosto de 2012 – continuação
Há muito tempo que queria visitar o château du Haut-Koenigsbourg! A cada vez que passava em Estrasburgo e via brochuras de divulgação eu prometia a mim mesma “na próxima vez vou lá!”
Desta vez ele “atravessou-se” no meu caminho na Rota dos vinhos da Alsácia! Lá estava ele, rosado, imponente, fantástico, no topo do monte, que o torna visível a grande distância, por entre os vinhedos!
Um castelo com origem no séc. XII (aquando da formação da nossa própria nacionalidade), destruído e reconstruido, melhorado e acrescentado chega à ruina e abandono total até ser restaurado no princípio do séc. XX e hoje permanece cheio de esplendor! Vale a pena passar umas horas por ali!
O nome “Haut-Kœnigsbourg” resulta de uma adaptação do nome alemão “Hohkönigsburg” , que quer dizer “alto castelo do rei”
É um dos locais mais visitados da França e entende-se bem porquê, pois desde a primeira vez que vi uma imagem sua que o quis ver!
Um castelo que andou de mão em mão, entre franceses e alemães e acaba em ruinas e abandonado. Em 1901 começa o seu restauro que provoca ainda hoje alguma controvérsia.
Na realidade tudo aquilo já esteve em ruinas e há ainda quem defenda que em ruinas deveria ter permanecido.
Efetivamente restaurar não é reconstruir e tudo aquilo foi, afinal, reconstruido!
A obra foi entregue a um arquiteto que também era historiador, e há quem defenda que os seus estudos foram razoáveis e próximos das possibilidades medievais.
Provavelmente há por ali pormenores um pouco “demais” para a época, mas a verdade é que resulta muito interessante!
As torrezinhas/escada são lindíssimas! Mas consideradas um excesso decorativo para épocas medievais!
Os interiores são espetaculares!
A fama que o castelo tem, de ser visitado para caramba, concretizava-se aquando da minha visita! Foi curioso encontrar por ali tanta gente, depois de tanta estrada pela Route du Vin D’Alsace sem transito quase nenhum nas estradas!
A dada altura eu queria era subir ao topo e ver tudo o que pudesse lá de cima!
E tudo era deslumbrante! O castelo é impressionante visto de qualquer ângulo!
A planície do Reno pode ser vista até se perder no horizonte. Tudo aquilo é vinhedo!
Não conseguia parar de tirar fotos!
Sentia-me no topo de um dragão e fotografando o seu pescoço escamoso lá de cima!
Numa exposição patente no castelo podem-se ver algumas fotos do “antes e do depois” do restauro e pode-se também constatar do quanto foi reconstruido e não apenas restaurado!
Gostei muito de ver de perto o resultado do trabalho que ali foi feito, mesmo sendo eu avessa a intervenções muito profundas em edifícios arruinados!
O povo estava sempre a chegar, vindo não sei de onde já que só ali os encontrei!
Um dos pomos de discórdia sobre o restauro reside na construção de um moinho no topo de uma torre de forja de artilharia! Cá para nós o resultado é surpreendente e inesperado! E parece que o homem tinha razão e os seus estudos, por bizarros que resultem, não andaram muito longe da realidade perdida!
Outro desacordo esteve na torre quadrada dado que numa gravura de época ela aparece redonda. Mas hoje sabe-se, pelos alicerces, que o arquiteto estava certo, ela era mesmo quadrada!
E pronto, catei tudo o que pude e segui o meu caminho, apreciando o castelo que continuou visivel durante boa parte do caminho !
Até Colmar!
23 de Agosto de 2012 – ainda continuação da continuação!
Sentia-me no meio de um dos percursos mais belos que fizera na minha vida e a sensação era que, visse o que visse, visitasse o que visitasse, teria de ali voltar de novo e voltar a catar tudo outra vez, um dia!
Desce-se o monte e engrena-se de novo na Route des Vins D’Alsace, para mais uns quilómetros de encanto e beleza, de aldeia em aldeia, com o château du Haut-Koenigsbourg ainda visível por muito tempo.
Logo à frente fica Saint-Hippolyte, mais uma terrinha que não planeara visitar mas que não foi perda de tempo faze-lo!
Deve o seu nome ao facto de os restos mortais do santo terem sido trazidos para ali por um abade, no séc. VIII, o que tornou o local destino de peregrinações.
Uma terrinha pequenina e simpática onde, claro, também se produz vinho!
Logo a seguir fica Bergheim, que eu queria visitar, porque sabia que era uma aldeia medieval encantadora! A sua Porte Haute é o primeiro testemunho da sua história!
Como outras comunas naquela rua, Bergheim é como uma perfeita ilustração de um livro de história, onde não faltam exemplares da época para testemunhar como era a vida há muitos séculos atrás!
Os recantos são pitorescos e convidam a ficar mais um pouco!
A igreja é imponente e bonita, do séc. XIV, cheia de elementos góticos!
Apetece sempre tirar mais uma foto e outra…
Depois veio Ribeauville, uma aldeiazinha medieval e cercada ainda, parcialmente, por muralhas, que eu fazia questão de visitar com cuidado, pois é encantadora!
Pousei a moto e fartei-me de passear pelas ruinhas deliciosas!
Um pequeno ribeiro atravessa o povoado proporcionando enquadramentos muito bonitos e inesperados!
As cores vivas das casas tornam-nas ainda mais espantosas!
E as ruinhas estreitas e bem cuidadas convidam mesmo a passear!
Comprei 2 pães deliciosos, com azeitonas por dentro e queijo por cima, e fui continuando o meu passeio muito mais bem acompanhada!
Achei curioso que ali o veículo do carteiro é próprio para circular naquelas ruelas estreitinhas, noutras localidades faz-se de moto, mas ali é de bicicleta!
Adorei a terrinha, quase me apeteceu ficar por lá!
Há um cuidado com o exterior, com o que as outras pessoas vêm, que faz com que todos os habitantes contribuam para a beleza das comunidades!
O que as torna muito interessantes e belas, quer para quem lá vive, quer para quem lá vai!
E lá está, no topo de um telhado, a base instalada para que as cegonhas façam o seu ninho!
E a “porta de saída” no outro estremo da aldeia, para continuarmos a Route!
Ali perto tentei visitar uma cave…
Há muito tempo que eu visitei uma cave de vinhos francesa e não foi naquele dia que voltei a visitar outra, estava fechada, apesar dos diversos cartazes a dizer que estava aberta a visitas!
Lá em cima, nas colinas perto da aldeia, existem ruinas de 3 castelos, que já foram muito importantes! Este é o de Saint-Ulrich.
Noutro ângulo os castelos de Sainte-Ulrich e Girsberg.
E um pouco mais à frente fica Riquewihr, uma cidadezinha medieval que fazia parte das mais bonitas que queria visitar!
Por muito que eu tenha pesquisado na internet, nada se compara com o que ali se vive e vê!
De repente estava tudo cheio de gente, o que dava para perceber o quanto a cidadezinha tem reputação europeia pela sua beleza e encanto!
Le Dolder era a entrada da cidade, construída no séc. XIII . A torre tinha um aspeto agressivo para o exterior, para impressionar os intrusos, e um aspeto simpático para o interior, quase de simples casa de habitação, que era, já o porteiro vivia nela!
Da porta, quando se olha para dentro, tem-se uma perspetiva simpática da cidade!
Logo ali fica uma simpática esplanada onde uma cervejinha fresca ajudou a retemperar energias para continuar a passear.
As pessoas bebiam copinhos de vinho da zona… que eu não tive coragem de pedir… cerveja é sempre mais inofensiva!
E anda-se por uns lados e por outros, entre encantos e belezas!
A animação pelas ruas era inspiradora e, pouco tempo depois, eu voltava a ter a sensação de remorsos por não gostar de gelados, pois apetecia algo assim fresco!
Os traçados medievais dos arruamentos sempre me fascinam!
As casinhas encantam e as fotos foram às centenas!
E acabei por me decidir a continuar para Colmar, a minha paragem seguinte!
Colmar, Eguisheim e o amigo Miguel Bacalhau!
23 de Agosto de 2012 – o fim do dia…
Eu tinha ficado de, ao visitar Colmar, conhecer o meu amigo do Facebook Miguel Bacalhau, mas ainda bem que não tinha marcado o dia antes com ele, pois tinha pensado passar no dia anterior, quanto tudo aconteceu, desde tretas com a moto até tretas com a máquina fotográfica!
Assim combinei, finalmente, na noite anterior, entre a recuperação de fotos do cartão e o amuo de ter ficado sem gasolina para dar mais uma voltita, que estaria em Colmar ao fim da tarde! E assim foi! Depois de um dia cheio como um ovo, de coisas lindas e experiências fantásticas!
Ao chegar à cidade fui recebida pela Estátua da Liberdade em ponto pequeno. Uma curiosa homenagem da cidade a Frederic Auguste Bartholdi, o autor da escultura original, oferecida à América pelo governo francês em 1886. O artista nasceu em Colmar e a escultura comemora o centenário da sua morte!
Depois, como sempre que desconheço a organização de uma cidade, dirigi-me à catedral, pois é em torno dela que uma cidade se desenvolve, por isso é sempre por lá que começa o centro histórico!
A catedral é uma Collegiale consagrada a Saint Martin, ou o nosso São Martinho! É um belíssimo edifício em estilo gótico com alguns elementos românicos ainda, construído entre os séculos XII e XIV em grês amarelo.
Muito bonita no interior, cheia de vitrais extraordinários.
A pia batismal ocupa um lugar de destaque, no altar-mor! Coisa curiosa, dado que normalmente fica à entrada!
Toda a zona é encantadora, com as casinhas de travejamento exterior, as “maisons à colombages” medievais.
Seguindo o rio Lauch, quando ele é quase apenas um pequeno canal, passamos pelas ruinhas mais encantadoras e as casas mais bonitas.
E chegamos à Petite Venise, um quarteirão do paraíso, que deve o seu nome ao alinhamento de casinhas medievais pelas margens do rio.
Tudo parece perfeito e belo por ali!
Nem faltam as esplanadas na berma do rio, nem os barquinhos a passear!
Mas havia uma outra cidadezinha que eu queria visitar e teria de o fazer antes de me ir encontrar com o meu amigo ou não poderia visita-la mais nesta viagem! Por isso fui numa corrida até Eguisheim!
Uma das comunas mais bonitas que visitei na Route, cheia de pormenores e recantos encantadores!
E de gente também! Gente que passeava por aquelas ruinhas de encantar calmamente, como se fizesse parte delas!
Adoro aqueles traçados medievais extraordinários que resultam em ruelas com casinhas ao meio como a casinha da Rue du Rempart.
Casas que são quase tão estreitinhas como paredes!
Tirei mais um milhão de fotos e lá fui encontrar-me com o Miguel Bacalhau, junto à catedral de Colmar, e lá estava ele mais a sua “amante” (como ele lhe chama) a sua V-Strom!
Primeiro abancamos ali mesmo numa esplanada para uma cervejola e depois bora lá buscar as meninas!
E não é que a sua menina fez birra e não quis andar?! O que vale é que há sempre um amigo por perto, ou a passar, para ajudar, pois eu não tinha nem jeito nem força para empurrar a miúda!
E o amigo empurrou e a motita não pegou!
Então o amigo montou na sua própria moto e fez um “empurranço moto-moto”, coisa que eu nunca tinha visto, mas o certo é que funcionou!
Ora siga para casa para conhecer e jantar com a família Bacalhau!
Lá em casa esperava-me gente muito simpática! O amigo do meu amigo, o João, o feliz proprietário de uma Africa Twin!
Para acompanhar a conversa foram umas minis cá da nossa terra, geladinhas e inspiradoras, enquanto o amigo Miguel punha fim à cegueira parcial da minha Magnifica, que já vinha com um olho fechado há mais de uma semana! E que jeito que aquela nova luz me fez durante o resto da viagem!
Claro que nos pusemos na frente da motita, para a foto, para não se ver o grande estalo que ela levara na cara!
E a Sandra, a simpática esposa do Miguel, que fez um delicioso jantar para a gente, muito bem regado com uma garrafinha de vinho alentejano, Monte Velho!
Conversamos animadamente até às tantas, veio chuva e trovoada e a conversa continuou, até que por fim lá tive de ir embora e cheguei a casa, que ainda era em Estrasburgo, sem apanhar chuva!
E foi o fim do vigésimo quinto dia de viagem
Estrasburgo e a bela catedral!
24 de Agosto de 2012
Estrasburgo é uma cidade adorável e que eu adoro!
Uma cidade que não me canso de visitar a cada vez que passo perto!
Uma cidade que conjuga o antigo e o moderno de forma encantadora, cheia de simbolismo, por ter sido por tanto tempo centro de discórdia e divisão entre dois países, é hoje símbolo da união entre os povos europeus, albergando em si a sede do parlamento europeu!
A sua catedral… bem, a Cathédrale Notre-Dame-de-Strasbourg é um monumento à beleza gótica, por muitos considerada a mais bela catedral do mundo!
Parece que fica ali, quase entalada entre os prédios, mas na realidade o seu espaço envolvente é amplo e cheio de vida durante todo o verão e animação em tempos frios de inverno.
A rua em frente, a Rue Mercière, é ladeada por lojas e cafés, com montras cheias de doces coloridos e dos famosos biscoitos de manteiga, com as mais variadas e coloridas decorações.
E ela lá está, imponente, vermelha e linda! Eu também a considero a mais bela que conheço…
Mas ela não é apenas espantosa por fora, lá dentro reside grande parte do seu espanto! Na realidade ela tem uma nave extraordinária com 64m de comprimento e 32 m de altura!
Dizem que foi inspirada na catedral de Saint-Denis, mas certamente apenas no interior, porque no exterior é muito mais bela que a dita catedral!
Foi construída entre 1240 e 1275 em estilo gótico francês puro. Impossível não se ficar em êxtase perante a dimensão e beleza da construção!
O órgão parece um joia gigantesca lá em cima! É verdadeiramente gótico, do séc. XIV, e surpreende pelas suas cores vivas e a sua decoração extraordinária!
Anda-se ali para trás e para a frente e todas as perspetivas são espantosas e sentimo-nos pequenos perante tamanha dimensão!
Ao lado do altar fica o Pilar dos Anjos com o Relógio Astronómico atrás. Naquele dia estava fechada a grade e não pude chegar perto!
O relógio gigante marca os anos bissextos, os equinócios, a hora solar, os meses do ano, os signos do zodíaco, os dias da semana, as fases da Lua, calcula as festas móveis e os eclipses da Lua e do Sol, exibe ainda um planetário de Copérnico e as horas são marcadas com grande precisão!
Os vitrais são espantosos!
E a rosácea extraordinária!
A fachada é considerada uma obra-prima do gótico e é magistralmente decorada com milhares de figuras em pormenores que lembram o filigrana!
Vitor Hugo refere-se a ela como uma “gigantesca e delicada maravilha”.
Até 1874 foi a edificação mais alta do mundo, com 142 metros de altura, sendo ultrapassada, nessa altura, pela catedral de Colonia que demorou 6 séculos a ser concluída.
Ainda não tive a coragem para subir lá acima… afinal são 326 degraus, como subir a mais de vinte andares! Só o farei um dia que fique o tempo suficiente na cidade para recuperar os músculos das pernas para poder voltar a conduzir! 😀
Em dias de céu limpo a catedral é visível ao longo das planícies da Alsácia e pode ser vista desde a Floresta Negra, do outro lado do Reno.
Na Place de la Cathédrale, ali ao lado, fica a maison Mammerzell, um dos edifícios medievais mais famosos e mais bem conservados da cidade. Um dia gostaria de dormir ali… mas a diária é caríssima para uma pessoa apenas! Terei de levar o meu moçoilo comigo, pois o preço para dois é quase o mesmo que para um! 😮
E a beleza arquitetónica continua por ali!
O centro histórico de Estrasburgo é como uma ilha cercada pelo rio Ill que torna tudo deslumbrante!
Depois segue-se por ruas “normais” que nos levam para fora daquele paraíso… custa-me sempre ir embora quando visito Estrasburgo!
Passeando pelo Rio Mosel…
24 de Agosto de 2012 – continuação
Tudo é interessante de ver numa viagem, sobretudo o que desconhecemos, por isso deixar Estrasburgo teve tanto de “triste” como de regresso à aventura!
Dali seguiria para o rio Mosel!
Desde a viagem do ano passado, quando passei em Trier vinda da Escócia, que tinha este rio em mente! Como eu dizia na crónica “ninguém se espante se um dia surgir um «Passeando pelo Mosel» na minha vida!” e pronto, era o que eu ía a caminho de fazer!
Isso faria um longo caminho até ao início da rota dos vinhos do Rio Mosel e depois, uma filinha de pequenas terras vinhateiras!
Logo a seguir não pude deixar de registar uma terra com o nome do meu moçoilo! Não é toda a gente que tem uma terra com o seu nome: Filipesburgo (em português)!
Logo à frente um grande trambolho era transportado, escoltado por um segurança em moto amarela que me fez uma festa!
Ficou ali à conversa comigo e eu a ver o mostrengo a aproximar-se!
Queria saber de onde eu vinha, que potencia tinha a minha moto, onde estavam os meus amigos e até fez pose para a foto! Muito simpático e deslumbrado por eu andar ali sozinha (mal ele sabia ao tempo que eu andava por ali e por acolá!)
E lá vinha a coisa gigante que fazia lembrar uma lata de cerveja monstruosa!
Quilómetros acima no mapa, lá cheguei ao belo rio! O Mosel é um dos maiores afluentes do Rio Reno, com 545km de extensão.
O rio é espantoso pelas curvas que desenha em todo o seu percurso, pelas suas encostas forradas de vinha e pelas aldeias e castelos edificados ao longo de todo o seu caminho e em ambas as margens!
Na realidade ele passa por 3 países: França, Luxemburgo e Alemanha. Mas eu seguiria apenas o seu percurso por terras alemãs.
Ao chegar a Bernkastel-Kues somos recebidos pelo castelo em ruinas no topo de uma colina forrada de vinha.
Mas fôra a cidadezinha medieval que me chamara ali!
Bernkastel-Kues é uma cidade com mais de 700 anos, famosa pelos seus vinhos.
As casinhas de travejamento exterior lembram o quanto a arquitetura da Alsácia é influenciada pela arquitetura alemã!
A Praça do Mercado Medieval é linda, cercada por casas bem conservadas, com os seus travejamentos exteriores que as tornam encantadoras! A Rathaus renascentista construída em 1608, à direita na foto é linda e diferente!
A “Spitzhäuschen”, ou “Casa Pontiaguda”, do séc. XV, é muito conhecida e visitada
É fácil de imaginar como me deliciei a passear-me por ali!
Depois o Mosel continuava na berma do meu caminho, com as vinhas que parecem forrar todas as encostas que o ladeiam!
Em Traven-Trarbach a porta que dá acesso à ponte é do séc. XIX, em arquitetura “romântica” com elementos de Arte Nova, aliás, as construções “Art Nouveau” são comuns ao longo do rio, testemunhas da riqueza que o comércio de vinho deu à região durante o séc. XIX.
Claro que andei para lá e para cá a ver a “coisa” de todos os ângulos!
Depois veio Enkirch…
e Zell, sempre terras que vivem do vinho e da vinha, desde o tempo dos romanos!
Passeei-me por ali, num ambiente em que toda a gente parecia ter saído à rua para beber um copito de vinho!
Mesmo antes de lá chegar eu já sabia da existência desta “casinha de bonecas” que é uma casa particular bem original! Uma casa do Arquiteto Walter Andre que é conhecido pelos seus edifícios orgânicos de poupança e recuperação de energia.
Não me surpreenderia se o proprietário fosse um criador de histórias infantis! 😀
Bullay, logo a seguir
Onde encontrei vários motociclistas acampados num terreno junto ao rio! Curioso como era tão cedo e já estavam abancados junto às tendas, com motos e bagagem como quem já está pronto para pernoitar!
Os enquadramentos que o rio proporciona são lindos, apenas faltou um pouco de sol e céu azul!
Em Bremm fica uma das curvas fantásticas do rio, um “U” bem apertado, que faz qualquer barco “retorcer-se” para dar a volta!
E a seguir Cochem, uma cidade linda e cheia de festa por aqueles dias!
Depois de subir o rio Mosel chega-se a Cochem e lá em cima da colina, bem na berma do rio e da cidade, o Castelo Imperial, impressionante, assim declarado pelo rei Konrad III em 1151. Um castelo que andou um pouco de mão em mão, entre alemães e franceses, acabou destruído e abandonado até ao séc. XIX, quando foi restaurado por um industrial berlinense. Hoje é um imponente marco histórico sobranceiro à cidade, o seu orgulho e o prazer dos visitantes! Por momentos fica-se ali a olhar para ele, como se de um cenário se tratasse. Deslumbrante!
Mas eu estava cheia de fome e tinha de tratar de comer! Cheirava a salsichas assadas e o meu estomago roncou! Puxa, ao tempo que eu não comia! Comprei um cachorro com uma salsicha quatro vezes maior que o pão!
Foi uma luta, tive de puxar do canivete suíço e corta-la aos pedaços para tentar que ela coubesse mais ou menos no pão! Era divinal! Afinal estava na terra das salsichas e não muito longe da cidade onde dizem que nasceram: Frankfurt!
Fui caminhando enquanto lutava com a salsicha e o pão, por ruelas que levavam a um ambiente que se pressentia no ar.
Pois é, eu nem sei alemão, mas pelas imagens de cartazes e pelo ambiente não era difícil entender que havia ali uma festa do vinho!
E na Praça do Mercado lá estava toda a gente e aqueles alemães sabem fazer a festa! O que eu me diverti naquela tarde no meio daquela gente animada!
Havia uns balcões todos enfeitados onde as pessoas estavam a pedir vinho! Ora era mesmo o que me estava a faltar para acompanhar o cachorrão!
A gente comprava o copinho de 2dl por 1.20€ e depois cada vez que o enchia pagava 1€. Tinham 5 vinhos à escolha, desde o mais doce até ao mais seco. Escolhi o do meio, nem muito doce nem muito seco, para nem enjoar nem me agredir o estomago! E era divinal!
Então a música subiu de tom, havia 2 grupos que se tocavam à vez, um mais maltrapilho, outro mais compostinho em uniformes iguais, mas os dois de partir o côco a rir!
Apesar dos seus trajes coloridos e apalhaçados, tocavam bem e cantavam também!
Então entrava o segundo grupo, todo em uniformes iguais e tocando igualmente bem e animadamente!
Por esta altura eu já ía no 2º cachorro e no 2º copito de vinhinho (também era tão pequenino o copito!)
Começaram a meter-se comigo, não os entendia, mas acho que foi porque eu andava de um lado para o outro a rir-me, a fotografar e a comer, pelo menos o homem parecia que queria comer o meu delicioso cachorro! eheheheh
Fui buscar o meu último copito de vinho
As pessoas eram tão simpáticas que não me apetecia sair dali!
Ainda dei uma voltita pela cidade, mas nem pensar em ir visitar o castelo! Ele estará lá quando eu voltar um dia certamente!
E fui-me sentar numa outra praça, junto ao rio, a curtir a festa e a boa disposição, que era minha também!
Lá estava a minha Magnífica na berma da estrada, com o castelo que não visitaria lá em cima! Que se lixe, já bastam as obrigações do tempo de trabalho! Em férias a única obrigação que levo comigo é a de me divertir e fazer o que me apetecer!
Só muito tempo depois é que me decidi continuar o caminho, calmamente e sem preocupações!
Em Treis-Karden voltei a parar, apetecia-me passear um pouco a pé e encontrei uma igreja linda, onde estavam a preparar uma outra festa do vinho! Aquela gente não perde tempo! 😀
A igreja era diferente de tudo o que vira e as senhoras, muito simpáticas, foram acender as luzes para eu a ver melhor!
Continuo a achar os alemães muito simpáticos, contra tudo o que ouço muita gente dizer!
Depois veio Schleuse-Müden, onde toda a gente parecia ter ido para a festa de Cochem, pelo menos não havia vivalma em lado nenhum!
E fui passear para o meio da vinha, encosta acima! Achei tão giro o caxo de uvas desenhado no chão, indicando o caminho do vinho e da vinha!
O que eu gosto destes caminhos! Fiz uma pequena coleção de percursos vinícolas só nesta viagem: França, vários na Suíça e agora Alemanha!
Alken lá ao fundo, uma das cidades mais antigas do vale do Mosel, habitada desde 450 aC pelos Celtas! Lá em cima da encosta o castelo de Thurant, do séc. XII que tenho de visitar um dia, que vá para aqueles lados!
Na cidadezinha de Gondorf, passa-se por baixo do Castelo do príncipe Von der Leyen, do séc. XII. É, na verdade a estrada nacional passa-lhe por baixo, fazendo ele de túnel!
Claro que andei ali para trás e para a frente! É que ele tem uma primeira “porta”, por onde entramos no seu espaço interior e depois tem uma segunda por onde saímos! Curioso!
E o sol abriu finalmente, dando às vinhas uma cor deslumbrante! Tal como os suíços e os portugueses do Douro, os alemães trabalham a vinha até ao topo das encostas mais íngremes! Parece que até as paredes dão vinho para quem sabe “da poda”!
E segui para Koblenz, onde ficava a minha casa naquele dia!
Fim do vigésimo sexto dia de viagem!
Koblenz… onde o Mosel se encontra com o Reno!
25 de Agosto de 2012
Não tinha nada para fazer naquele dia, apenas deambular por onde me desse na telha! E isso é que é fixe!
Tinha uma cidade completamente desconhecida para explorar, o dia estava uma bosta meio cinzenta, mas não seria impedimento para eu catar umas coisitas por ali!
Na realidade um dia dá para fazer muito mais do que deambular por uma cidade e pelo dia fora fui desenhando de improviso o destino das minhas explorações, com calma e sem grandes ambições!
E fiz uma linha quase reta no mapa!
Eu dormira na margem do rio Reno, do outro lado é que se passava o que eu queria ver!
Descobri que o vocalista do grupo Modern Talking nasceu em Koblenz! Eheheh
Lá fui dar a volta para passar para o outro lado do rio, caminhando depois até ao jardim que queria ver!
Encontrei no jardim3 blocos do muro de Berlim! Acho que há “muro de Berlim” por toda a Alemanha!
Estas três partes do Muro estão agora dedicadas às “vítimas da separação”.
E lá estava o que eu queria ver! O Deutsche Eck!
É em Koblenz que os rios Mosel e Reno se encontram, na realidade o nome da própria cidade deriva do termo latino “Confluentia” que se refere a esse encontro entre rios!
A sensação de estar no vértice da união dos rios é inversa à de estar na proa de um navio, pois as águas ganham velocidade afastando-se de nós!
O ponto onde os rios se juntam chama-se Deutsche Eck, que quer dizer “Esquina Alemã” e nesse ponto ergue-se um monumento colossal ao Kaiser Wilhelm I.
Uma inscrição cheia de significado foi gravada na base da escultura:
“Nimmer wird das Reich zerstöret, wenn ihr Einig seid und treu”
(o Império nunca será destruído, se você for unido e leal).
O monumento original foi destruído pelos bombardeamentos da 2ª Guerra Mundial e no seu lugar hasteou-se uma bandeira alemã por muito tempo até que um casal, cidadão de Koblenz, doou o monumento atual, cópia do que foi destruído na guerra, apenas há cerca de 20 anos…
Aquela águia de asas abertas impressionou-me! Como pode uma pedra ter tanta vida!
Ali ao lado fica a St Kastor Basilika, um exemplo lindíssimo da arquitetura românica da zona!
Foi construída no séc. XII contendo elementos de construções anteriores e alberga os restos mortais do santo que é padroeiro da cidade, o São Castor. Os tetos parecem bordados!
E os jardins envolventes lindos! Os monges e padres sempre souberam cuidar da beleza dos seus recantos!
Passeando pelo centro histórico da cidade fiz amizade com um motard muito simpático, mais o seu sidecar!
Logo ali fica o Mittelrhein Museum, mas o que me impressionou foi o edifício medieval, gótico tardio do séc. XV, mas totalmente diferente do que estamos habituados a ver! Foi mais tarde renovado já em estilo barroco, mas continuou adorável! Aliás na praça Florinsmarkt os edifícios são todos bonitos e diferentes!
Como a Florinskirche, ou igreja Florim, protestante construída em estilo românico, com alterações posteriores, mas sempre espantosa!
Curioso o pormenor de se pintarem as paredes e as colunas imitando pedra! Não deveriam ser mesmo de pedra?
A mesma imitação de pedra continua no exterior do edifício a toda a volta!
As traseiras dos edifícios criam ruelas encantadoras, ainda bem! Eu nunca entendi como alguém pode projetar uma casa linda pela frente e monstruosa pela traseira, mas é o que não falta no nosso país, como se a ruas de trás não tivessem o direito de serem bonitas!
Depois a zona antiga contínua pitoresca e simpática por uma rede de ruelas giras!
Até encontrar mais uma enorme igreja, a Liebfrauenkirche, que é o mesmo que dizer Igreja de Nossa Senhora, fácil de ver! 🙂
Uma igreja católica do séc. XIII, que já foi a igreja paroquial da cidade é considerada uma obra-prima da arquitetura medieval do Médio Reno!
Impressionante por dentro, quando estava à espera que ela fosse toda em pedra, como o seu exterior e como grande parte das construções românicas… ela é pintada!
E os seus tetos também parecem bordados! A cada país seus hábitos!
Depois passeei-me por ali, há pela zona estatuas castiças, caricaturando personagens típicas da cidade, como o policia, a vendedora, ou o rapaz do tambor, muito giros e bonacheirões!
Os edifícios são bonitos e decorados com relevos pintados e balcões trabalhados!
Entrei na zona comercial e fui comprar umas botas. Estava tudo em saldos e as minhas já me saiam dos pés, para alem das solas gastas! Tantos dias a caminhar gastaram muito, mas o montar e desmontar da moto, rodando sobre o pé esquerdo, rapou-me quase totalmente a meia-sola da bota esquerda! 😮
A Igreja Católica do Sagrado Coração, está situado no cruzamento das estradas principais e na azáfama do centro de compras.
Surgiu com a expansão da cidade para fora do núcleo medieval, no séc. XIX, quando se tornou necessária a criação de novas paróquias. Foi construída nos primeiros anos do séc. XX em estilo neo-românico. Queria tê-la visto por dentro, mas estava fechada! 😦
Depois peguei na motita e fui procurar o caminho para o topo da encosta. Há ali um teleférico e eu podia tê-lo apanhado e subido direta, mas tem muito mais piada andar a catar o caminho e ver tudo o que houver para ver! Lá em cima ha um grande espaço aberto, que demora imenso a percorrer caminhando, pela sua dimensão! O que vale é que já estava de botas novas e até apetecia caminhar! 🙂
E lá estava o miradouro todo moderno! É que do chão nada se vê lá para baixo, já que há arvores que impedem a visão!
E lá estava a confluência!
Foi uma sensação curiosa aquela visão…
O Deutsches Eck teve um impacto forte para mim! Simbologias e histórias que me chamam a atenção e quando chego aos locais, fico hipnotizada por eles!
Pus o zoom da minha máquina à prova e apanhei o Guilherme, o Grande
Lá em cima, no enorme jardim onde eu estava, coisas giras se encontram!
A caminho da minha motita que estava toda entretida no paleio com as outras!
E parti para outras explorações fora de Koblenz…
Burg Eltz
25 de Agosto de 2012 – continuação
Ali perto fica uma das coisas que me levou até Koblenz: o Burg Eltz.
Eu passara lá perto no dia anterior mas não o quis visitar a correr ou vê-lo apenas de longe. Achei que merecia uma visita mais cuidada e sem pressas e foi nas calmas que percorri os trinta e tal quilómetros, de Koblenz até ele!
O Burg Eltz é apenas um dos castelos mais belos da Alemanha e fica na margem do rio Eltz, um afluente do Mosel.
A gente chega ao ponto onde não pode continuar mais, nem de carro nem de moto, e tem de continuar a pé. Não há sinal do dito castelo que, contra o esperado, não está lá em cima de monte nenhum!
Pelo contrário, a gente começa a caminhar e começa a descer! E só depois de ter descido um bom bocado, pela rua íngreme e ladeada de vegetação em que nada se vê, além da rua e das árvores… ele aparece numa curva, lá em baixo!
E está realmente sobre um morro, no fundo do vale! Visão extraordinária!
Há um furgão que faz a descida, para quem quiser pagar 2 €, naquele momento eu agradeci a minha própria forretice de não os ter querido pagar e ter descido caminhando, porque não teria tido esta visão, que nos acompanha à medida que nos vamos aproximando! Tirei meio milhão de fotos, claro!
Parece um castelo de brincar, retirado das histórias de príncipes e princesas!
O castelinho terá a sua origem no séc. XII e foi construído sobre uma colina, tomando-lhe a forma oval!
Embora pareça ali escondido, como os mosteiros, para ficar longe de tudo e de todos, na realidade situava-se, à época, numa rota comercial e num ponto estratégico do vale do Eltz, que permitia controlar e vigiar a idas e voltas pela zona!
Ao longo dos anos e dos séculos foi sendo acrescentado, à medida que a família ía aumentando, dado que ele pertence à mesma família há mais de 800 anos: os condes de Eltz.
O atual proprietário do castelo, o Conde e Edler Herr von und zu Eltz-Kempenich assumiu a tarefa de manter o edifício aberto ao público, de garantir a sua riqueza e de passar o castelo à 34ª geração.
Os pormenores são deliciosos e foram mantidos e restaurados chegando até nós como sempre foram. As gárgulas são espantosas!
Os pátios interiores são vertiginosamente lindos, acumulando como em puzzles cada secção do castelo.
Daquele pátio partem visitas guiadas para o interior do castelo.
Por baixo existe um pequeno museu com joias, armas e objetos do dia-a-dia, testemunhas da história dos costumes do castelo e que eu fui visitando enquanto esperava pela visita em inglês.
Havia muita gente para visitar o castelo, o ultimo grupo a começar a visita foi o meu, pois os outros eram em alemão.
Um grupo de sereias com corpo de baleia esperava pela visita, sensualmente, em gargalhadas sexies e comentários languidos e provocantes.
Surgiu-me na mente que, se elas fossem verdadeiramente sexies, teria sido um espetáculo de sedução mesmo provocante!
Curioso que as mais gordas e desajeitadas eram as mais provocantes, com maquilhagens fortes e atitudes meio escandalosas!
Não se pode fotografar dentro do castelo, embora eu tenha feito algumas fotos discretas.
O tempo estava a ameaçar chuva quando terminei a visita, por isso fui tratar de comer e logo se veria o que faria com o mau tempo.
O castelo ainda é parcialmente habitado, mas a parte visitável é grande e bonita, com direito a café e restaurante e tudo!
E claro, provei mais uma cervejola alemã!
Decidi que não faria o caminho de regresso até à moto a pé! Afinal eu já sabia o quanto aquilo fica cá em baixo e, se para baixo todos os santos ajudam, para cima seria uma estafa!
Por isso esperei que o furgão voltasse, paguei o 2 € e subi aquilo rapidamente, sem me cansar nem me molhar, deixando para trás uma pequena porção linda do paraíso!
Bonn e Köln
25 de Agosto de 2012 – continuação da continuação
Era cedo, já tinha visto o nque queria e o resto do dia estava por minha conta!
A escolha foi rápida e óbvia, embora repentina! Sempre que passava por “aquelas bandas” e via as placas a dizer Bonn, pensava para mim que da próxima vez teria de lá passar! E foi desta!
Nunca pesquisei se a cidade era bonita ou não, mas era um nome que trazia na mente e, só por isso para mim, valia a pena visita-la.
Afinal é a terra natal de Beethoven e foi a capital da Alemanha ocidental – RFA, durante a divisão do país em República Federal e República Democrática, enquanto Berlim leste era a capital da RDA.
No outro extremo da Marktplatz fica o edifício barroco da rathaus antiga, que assistiu a grandes momentos da cidade, sendo muito danificado durante a guerra. Hoje está lindo depois de restauro profundo e de boa manutenção!
Logo ali ao lado fica a Münsterplatz
e a Catedral, um magnífico exemplar de arte românica no vale do Reno e uma das mais antigas da Alemanha, construída entre os séculos XI e XIII.
Que tem junto, na parte de trás, duas cabeças descomunais “caídas”!
Faz um efeito ver tamanhas cabeças por ali, como se tivessem caído e rolado de 2 monstruosas esculturas! Claro que quis saber a que propósito ali estavam e encontrei quem me narrasse a história!
Na realidade a basílica foi edificada num local sagrado há mais de 2.000 anos, primeiro como um templo romano e depois como uma igreja cristã e santuário para os mártires Cassius e Florêncio.
Reza a história que dois soldados cristãos romanos estacionados na Castra Bonnensia, Cassius e Florêncio, foram martirizados por causa da sua fé.
Então ali foi construído um pequeno santuário/memorial junto dos seus túmulos no século IV, por Helena, mãe do imperador Constantino. Não há sinais desta primeira estrutura, mas as escavações arqueológicas mostraram que a basílica fica no local de um templo romano e necrópole.
As duas esculturas são por isso as cabeças dos dois Santos Cassius e Florentius ali decapitados.
A igreja em si, desiludiu-me um pouco, à primeira vista, por causa das luzes pirosas que lhe davam um ar de igrejinha de aldeia com enfeites meio de gosto duvidoso, que dão um ar “de plástico” ao edifício….
Mas depois da gente se habituar às cores fortes de semelhantes luzes, conseguimos ver a construção em si, e essa é bonita!
A cripta fascinou-me muito mais com o seu ar e luminosidade sóbrios e naturais!
A luminosidade da igreja fazia lembrar a luz negra das discotecas, mas vista cá de baixo da cripta, até ficava curiosa!
E a estatua de Helena, que é santa, a mãe do imperador romano. Diz a lenda que ela encontrou a cruz de Cristo em Jerusalém e por isso aparece sempre representada com ela.
Tanta história e tanta igreja dá cá uma fome que tratei de me juntar a mais uma festa, ali mesmo em frente à catedral, para me encher de cachorros e cerveja, no meio da animação popular, que aqueles alemães parece que passam o mês de Agosto em festa!
Quando dei por mim já falava com gente que nem inglês sabia falar direito! Eheheh
Na outra ponta da festa ficava o edifício antigo dos correios com a estátua de Beethoven em frente, erigida aquando da comemoração dos 75 anos do seu nascimento, em 1845, apenas 18 anos depois do seu falecimento…
E era minha obrigação, pelo menos, passar na sua casa, já que ali estava! Já estive na casa de Mozart, em Salzburgo, na de Bach, em Leipzig e agora acrescentaria a de Beethoven, em Bona!
E lá estava a cara do génio pintada numa parede!
E o museu, mesmo na porta ao lado daquela que foi a sua casa durante os primeiros vinte e tal anos da sua vida, até partir para Viena!
A casa é gira e está bem conservada, mas eu não a visitei. Fica para outra vez, pois estava a fechar!
Ora, podia ser tarde para visitar a casa e o museu de Beethoven, mas era cedo para ir para casa, por isso continuei o meu caminho até Köln.
Voltei a Colónia, à catedral que parece que chama por mim e que volto a visitar a cada passo! Esta construção imensa, que na época em que foi concluída “destronou” a catedral de Estrasburgo como edifício mais alto do mundo, possui uma nave extraordinária com 43 metros de altura, contra os 32 da nave da outra catedral!
E são 11 metros mais de grandiosidade e espanto, que me fazem andar por ali de nariz no ar até à vertigem!
Começou a ser construída em 1248 e só foi concluída em 1880, 632 anos depois. Sobreviveu, milagrosamente à violência da II Grande Guerra que quase a derrubou, quando foi bombardeada por 14 vezes, mantendo-se de pé, no meio dos escombros da cidade derrubada!
É verdade que a catedral não ruiu e, se virmos imagens da época, nem dá para entender porquê, já que parece o único edificio de pé, numa cidade em ruinas! 😮
É um dos edifícios góticos mais espantosos que conheço!
Dizem que alberga os restos mortais dos 3 reis magos e, embora já lá tenha ido por diversas vezes, ainda não consegui vê-los! A área está sempre “indisponível para visita! Naquele dia estava a decorrer uma celebração com direito a coros e nem se podia entrar verdadeiramente no espaço principal da igreja. Ou íamos rezar, ou ficávamos na ponta da igreja, do lado de fora dos cordões de proteção, devidamente guardados por padres de vermelho, ou acólitos ou lá o que eram!
Está a ser limpa por partes e tem uma das torres parcialmente empacotada para esse trabalho
Decidi ir passear um pouco para fazer horas e passar pela “casa das bolas”, onde sempre vou comprar 2 bolas de Berlim muito fixes! Já é ritual, a cada vez que ali passo! 😀
E andei por ali a lambuzar-me com as bolas de Berlim, que eu não sou apreciadora de bolos, mas tenho as minhas exceções: como bolas quando vou a Colónia!
A fachada da catedral é vertiginosamente alta e a gente sente-se bem pequenininha cá em baixo!
Em frente da catedral está edificado, como se de uma escultura normal se tratasse, um florão igual aos que estão colocados lá em cima, no topo das torres, e é enorme, conforme se lê nas placas explicativas escritas em todas as línguas sobre a sua base:
Lendo-se a placa percebemos que cada florão mede 9.50 metros de altura por 4.60 metros de largura! Faltava saber quanto pesa… e acho que toda a gente se afastaria das torres, só de imaginar uma coisa de toneladas lá no topo!
Olhamos para ele no chão e custa a crer que os de lá de cima sejam tão grandes!
Então pus-me a tentar apanha-los com a máquina fotográfica!
E lá estavam eles no topo do bico florido! Como terão levado semelhante coisa lá para cima era o que eu gostava de ver!
Voltei à catedral a ver se já podia fazer uma visita aos reis magos…
A celebração estava a acabar e não deixavam passar para trás do altar, onde está o cofre com os ditos senhores!
Seria uma coisa parecida com esta mas muito maior o que eu procurava! Está mesmo atrás do altar-mor…
Mas, mais uma vez não deixavam passar! Ainda não foi desta que eu consegui ver o relicário…
Ainda dei uma olhada à flecha da catedral, estava rodeada de andaimes.
Um dia eu voltarei lá… quando ela estiver totalmente limpa e aí talvez eu possa passar para trás do altar…
Voltei direitinha para Koblenz, que estava a ficar de noite!
Fim do vigésimo sétimo dia…
Nürburgring
26 de Agosto de 2012
Por estranho que pareça, quanto mais a viagem avança, maior é a sensação de não ter visto tudo o que queria, a sensação de que deixei para trás tanta coisa fantástica e de que não conseguirei ver tudo o que poderia aproveitar para ver em cada zona onde passo!
De repente o tempo parece tão pouco e tanta coisa que quero ver!
É nesses momentos que me apetece não parar nunca de viajar e continuar eternamente na estrada!
Ao mesmo tempo sinto-me uma desnaturada, que não tem saudades do seu país, apenas da sua gente! É nesses momentos também que eu me deixo levar pelo que a vontade me dita, rapo do computador, ligo-me à net e reformulo percursos e mudo reservas e no dia seguinte parto noutra direção!
Foi o que por aqueles dias fiz e, em vez de seguir para norte… desci para o Luxemburgo!
Segui em direção a uma terrinha pequena e discreta que contem um circuito mítico!
O Autódromo de Nürburgring é um circuito na cidade de Nürburg a pouco mais de 50 km de Koblenz. Tinha estado a falar sobre ele com o dono do Hostel onde dormi e decidi lá passar.
Andei por ali a catar. Na cidadezinha não faltam carros desportivos a alugar para quem quiser participar nos famosos “track days”, do circuito!
O circuito foi construído em 1927 e foi a sede anual do Grande Prémio da Europa de Formula 1 até 2007.
Dei-lhe a volta por fora, ouviam-se máquinas em velocidade, eram motos!
Havia por ali uma série de motos estacionadas, os seus tripulantes deviam ter entrado a pé! Mas aquilo tinha ar de ser longe o suficiente para eu ter de caminhar um bom pedaço, por isso arrisquei ir de moto! O pior que me podia acontecer era mandarem-me para trás! Ninguém mandou e eu segui!
Havia motociclistas por ali a pé, com os capacetes no braço… ficaram a olhar para mim mais a minha motita! Pus-me a ver a corrida!
Não sou pessoa de me pôr muito tempo a ver as motos passar, por isso fui cuscando um pouco por ali
E segui o meu caminho na direção de Luxemburgo, que o dia prometia ser longo!
Luxemburgo e Verdun… o campo de batalha…
26 de Agosto de 2012 – continuação
Luxemburgo é um país surpreendente que ainda hei de catar devidamente um dia destes. Naquele dia eu apenas queria dar uma volta pela cidade de Luxemburgo, que conhecia apenas de passagem e sabia que tinha encantos que mereciam ser visitados!
Como a catedral de Notre-Dame, do início do séc. XVII, num estilo gótico tardio já com elementos renascentistas.
Estava em missa, mas ninguém impedia as pessoas de entrarem e admirarem a construção.
A igreja é muito bonita, sendo já uma mistura de estilos contem elementos decorativos curiosos que não existiram se fosse apenas gótica.
Muito bonita e eu ainda não a tinha visto por dentro por a ter encontrado sempre fechada!
Depois andei pela zona antiga da cidade, que circunda a catedral. Uma zona muito animada e cheia de turistas, o que contrastava com a última vez que ali estivera e que não havia vivalma na cidade!
Luxemburgo é uma cidade encantadora com o mesmo nome do país de que é capital e lá, na zona baixa da cidade, fica o também encantador Chemin de la Corniche, um percurso pedestre, conhecido como “a varanda mais bonita da Europa”. Era lá que eu queria ir!
Passeia-se por ali, por caminhos ora escavados nas rochas, ora pela borda do rio Alzette ao longo das muralhas da cidade velha e das fortificações construídas pelos espanhóis e austríacos no século XVII.
Lá em baixo no vale de la Corniche a perspetiva do desnível é deslumbrante, enquanto se passeia por entres as casas de pescadores de outros tempos.
Cá em baixo fica o Grund, um dos distritos de Luxemburgo, que se divide em duas zonas sendo a outra a zona alta da cidade.
A Abadia de Neumünster domina a paisagem, cá em baixo. Inicialmente românica, mas depois de diversas destruições e reconstruções, chega até nós numa mistura de estilos!
No “meio” entre o Grund e a cidade alta, fica uma série de cavernas, caminhos escavados e as Casemates, que são património da Humanidade, cá de baixo podem-se ver as aberturas nas rochas.
Enquanto as pessoas se apinhavam lá em cima nos percursos e nas casemates, eu passeei-me cá em baixo, completamente só no sossego da margem encantada do rio Alzette.
A abadia é também um centro cultural e ainda tive direito a visitar os seus claustros e uma belíssima exposição de fotografia de viagem!
Voltei a subir à cidade alta, porque o meu fascínio estava lá em baixo e de outra perspetiva é sempre encantador!
De cima podia ver os caminhos que percorrera cá em baixo na margem do rio e a abadia e o centro cultural.
Adorei a cidade vista desta perspetiva! Valeu a pena dar a volta ao meu caminho e passar por lá!
Mas o meu objetivo ao desviar-me não era apenas este destino… havia algo que eu queria ver ainda, mais à frente e num contexto completamente diferente!
Há 2 anos andei a passear por campos de batalha da Segunda Grande Guerra, desta vez andaria por campos de batalha da Primeira: Verdun!
Ainda parei em Esch-sur-Alzette, pois sabia que lá existia uma catedral espetacular… mas estava fechada!
A cidade é bonita e uma das maiores do país, mas o tempo estava uma bosta, o ambiente sombrio e desértico e eu deixei para visitar noutra altura… coisas que me dão!
A minha Magnífica a espreitar para mim por trás de uma arvore! 😀
Peguei nela e segui para o sol e para a guerra…
A Batalha de Verdun foi uma batalha terrível, entre franceses e alemães, que durou quase todo o ano de 1916.
Andar por ali teve em mim um efeito próximo do que teve visitar Auschwitz… cheira a morte, quase 100 anos depois e os monumentos, marcos, lapides e todo o tipo de memórias de morte, multiplicam-se por quilómetros e quilómetros da área que foi o grande campo de batalha…
Aldeias “destruídas” na batalha são relembradas em capelas e placas…
Fiquei chocada quando, ao seguir as placas que indicavam uma aldeia destruída e ao chegar lá…
Tudo fora reduzido a placas e a espaços nus por entre a relva… como se cada casa desaparecida tivesse dado lugar a terra queimada onde nada nasce, nada cresce!
E tudo é silêncio por ali ainda hoje!
Na época calculava-se que tivessem morrido mais de 700.000 homens, entre franceses e alemães…
O que faria uma média de 70.000 mortos por cada mês de guerra…
Numa batalha que foi a mais longa e a mais sangrenta daquela guerra e de toda a história militar!
Hoje pensa-se que o número de mortos foi mais elevado que o estimado na época… para mais 250.000…
O Ossuário está em restauro, bem como o extenso cemitério militar… não entrei no Ossuário…
“A batalha de Verdun – 21 de Fevereiro – 18 de Dezembro 1916, 300 dias e 300 noites de combates ferozes, terríveis. 26.000.000 obuses disparados pela artilharia, sendo 6 obuses por metro quadrado, milhares de corpos mutilados, cerca de 300.000 soldados franceses e alemães considerados desaparecidos.”
“O ossuário mantém dentro de si os restos de soldados mortos no campo de batalha, a fim de preservar sua memória.”
Ali ao lado fica um monumento para os soldados muçulmanos que morreram na batalha.
Por todo o lado é frequente encontrarmos zonas de relvado ondulado que são trincheiras, espaços ocos, onde os homens se protegiam…
E o Fort de Douaumont, o maior da região de entre os 38 fortes construídos nos últimos 25 para proteger a linha fronteiriça numa área de 40km em redor de Verdun… era novo quando começou a batalha de Verdun…
Ao entrar ali percebe-se que ser soldado não era muito diferente de se ser prisioneiro!
500 homens viviam ali, por baixo de terra, sem grandes condições e numa guerra permanente, já que os ataques alemães eram intensos!
A “Tourelle de 155mm”
As casas de banho…
e uma cidade subterrânea e húmida…
e podia-se descer mais pelo abismo!
Os lavatórios, cheios de estalactites do tempo e da humidade!
Ao fundo a capela…
Atrás da cruz branca estão os corpos de 400 soldados franceses e 30 alemães mortos no forte…
O ambiente torna-se pesado, não pelo cheiro ou pela humidade, pois curiosamente não cheira a nada nem sequer à humidade! É a história que pesa no coração da gente!
Cá fora estava sol e subi ao topo do forte, que não é muito alto…
E por ali se entende o ondulado da relva, sabendo o que está por baixo!
As Tourelles…
Furos de balas nas carapaças das Tourelles…
Ainda passei por outra aldeia destruída, Vaux…
E fui-me embora, por entre mais memoriais e mais lápides de mais trincheiras…
Até só ver cemitérios de quando em quando…
Depois foi o vazio e a imensidão e fui andando, ainda com o coração oprimido pela viagem ao passado, tão presente ali…
Uma paisagem infinita e infinitamente bela serena-me sempre o coração e naquele momento era tudo o que eu precisava!
E parei para dormir em Troyes…
E foi o fim do vigésimo oitavo dia de viagem… sem conseguir evitar de falar e mostrar tanto de um dia que me ficou para sempre na memória… sorry!
Troyes… ou a cidade das 10 igrejas!
27 de Agosto de 2012
Naquele dia seguiria para norte, como inicialmente previra, antes de mudar os meus planos e desviar-me do meu caminho! Seguiria para a Bélgica mas não sem antes catar todos os recantos de Troyes!
Não foi por acaso que eu decidi pernoitar em Troyes!
Há muito tempo que a cidade estava na minha lista de “imperdíveis”!
Trata-se de uma cidade muito antiga e cheia de habitações e igrejas medievais! Nem eu imaginava quantas!
Passeia-se um bocado pela cidade e parece que em cada esquina há uma catedral! Não é por acaso que lhe chamam “La ville aux 10 églises” (a cidade das 10 igrejas!)
A primeira que procurei, seguindo a sua torre por cima das casas, foi a própria catedral dedicada a São Pedro e São Paulo: Cathédrale de Saint-Pierre et Saint-Paul.
A catedral gótica do séc. XII foi vitima de tudo e mais alguma coisa! Diversos fenómenos naturais e “erros” humanos provocaram momentos de destruição no belo edifício, desde guerras, invasões, tufões, tornados e raios que lhe caíram em cima!
Mas conseguiu chegar até nós linda e de novo a precisar de restauro, que está em curso no momento!
Das coisas mais bonitas no gótico são as “paredes de vidro” onde os vitrais provocam os efeitos mais extraordinários com a luz exterior!
Quem vê a igreja por fora não imagina a sua grandiosidade e beleza interior!
Embora seja um edifício remarcável!
Dá-se-lhe a volta e encontram-se edifícios extraordinários, bem antigos!
E outra igreja gótica, a igreja de Saint Nizier, do séc. XVI. Está meio em mau estado e a clamar por restauro!
O que vale é que, pelo que soube, a cada ano um novo edifício entra em fase de restauro e esta igreja já tem vestígios disso pelos andaimes que estão parcialmente colocados!
Não a pude ver por dentro pois estava fechada!
Segue-se mais um pouco pela rua e encontramos mais uma igreja gótica: a Basilique de Saint-Urbain, do séc. XIII
Começada a sua construção no séc. XIII, demorou 8 séculos mais a ser concluída, porque o dinheiro era pouco. Hoje é dedicada a Saint Urbain, o padroeiro da cidade.
Visitei-a demoradamente por dentro, rodeei-a pelo exterior. As suas gárgulas são curiosas, criaturas humanoides, mais do que monstros.
E há momentos que uma camara capta e que não temos a certeza se foi realmente capaz de o fazer! Momentos de rara beleza e demasiado fugazes para que o olho humano memorize e retenha… Trouxe comigo o voo do passarinho!
E o interior era surpreendente!
Mais uma vez aqueles tetos altos, com paredes iluminadas por vitrais, me fascinaram!
As casinhas em redor, e por todo o lado, parecem irreais e saídas de livrinhos infantis!
Mais à frente fica o centro mais “compacto”, em termos de construções medievais extraordinárias!
Casas lindas, boa parte delas do séc. XVI, em madeira ou com os travejamentos exteriores, casas de estuque e lindas de ficar demoradamente a olhar para elas!
Ruelas estreitinhas, como a “Ruelle des Chats” (Ruela dos Gatos)
E pimba, mais um igreja: a Eglise de Sainte-Madelaine, a mais antiga de Troyes, do séc. XII. Inicialmente em estilo românico e posteriormente, no início do Séc. XIII, remodelada já em estilo gótico que acabava de aparecer na França!
O seu jardim já ganhou o prémio das cidades floridas! Na realidade ele é bonito e original já que os corredores para as pessoas passarem, em vez de serem de terra batida ou empedrados, são relvados!
Do jardim pode-se apreciar a construção em redor!
O interior é extraordinário!
O coro e a abside em gótico flamejante, provocam um efeito de grandiosidade e estranheza!
Fiquei ali a olhar!!
Lá fora as ruelas continuam de regresso à cidade histórica, deslumbrantes!
Para encontrar mais à frente a Eglise de Saint-Jean-au-Marché, gótica do séc. XIII, (igreja de São João do Mercado) porque fica no meio da cidade medieval, onde se faziam grandes feiras!
Não a visitei por dentro porque estava fechada! Na realidade está a ser restaurada aos poucos de acordo com patrocínios que vão sendo angariados…
Pela parte que já está pronta, pode-se ver que deve ser muito bonita e vale a pena preservar!
E vi 5 das 10 igrejas de Troyes, apenas aquelas que “se atravessaram no meu caminho”!
A cidade ficou-me no coração pela beleza antiga que encerra e desejei voltar a visita-la de novo um dia!
Entretanto segui o meu caminho pela França profunda, como eu gosto de chamar à imensidão dos campos e searas sem fim, até Reims!
Reims, Arras, Kortrijk e a bela Brugge!
27 de Agosto de 2012 – continuação
Claro que Reims é aquela cidade que é grandiosa pela catedral grandiosa que tem! Que se há-de fazer? Foi o dia das catedrais/basílicas/igrejas! Fiquei muito mais santa depois daquele dia! 😉
E não consigo passar em Reims sem ir ver a dita catedral! É “apenas” a catedral mais extraordinária de França!
A Catedral de Notre-Dame de Reims é aquele monumento incontornável que ninguém consegue ignorar quando passa perto da cidade! Construída no séc. XIII é até hoje uma das duas catedrais góticas mais importantes de França, juntamente com a catedral de Chartres.
Na realidade ela é o monumento, é a igreja, é a cidade, é tudo naquele recanto de França! Olha-se para ela e olha-se para o poder humano sobre a pedra, a gravidade e a beleza!
Ali se passaram alguns dos momentos mais importantes e inesquecíveis do país, entre eles a coroação de Carlos VII, em 1429, com a presença de Joana D’Arc, depois de ela ter liderado a expulsão dos ingleses do território!
Sobreviveu milagrosamente aos intensos bombardeamentos da II Grande Guerra, embora bastante danificada. Mas felizmente, enquanto uns humanos destroem, outros reconstroem e ela ali está hoje, magnifica!
Grande parte dos vitrais medievais da catedral desapareceu, vítimas da sua fragilidade e da estupidez humana… já que a catedral foi bombardeada insistentemente na primeira guerra também, por exemplo!
E lá estavam os vitrais de 1974 de Marc Chagal, pintor francês de origem russa que visitava frequentemente a cidade para trabalhar.
Pela maqueta da catedral pode-se ver a dimensão do edifício, se compararmos o seu todo com a dimensão das portas, por exemplo!
E os interiores são lindos e misteriosos, testemunhas da história de um povo!
A rosácea, sobre o portal principal, é extraordinário e nesta catedral é única e característica, pela sua dimensão, beleza e enquadramento no conjunto arquitetónico e escultórico!
E ela faz-nos sentir bem pequenos e insignificantes aos seus pés! Curiosamente a sensação que tenho sempre, quando estou junto dela, é que é mais “poderosa” que a de Colónia ou Estrasburgo! Talvez porque, por não ser tão alta, tem um ar mais robusto e próximo de nós! Quase ameaçadoramente próxima de nós mortais! 😀
As suas torres são “cortadas” o que ajuda a sensação, pois não sendo pontiagudas, como as das outras catedrais, tornam-na mais larga e baixa!
No jardim em frente a estátua de Joana D’Arc, permanece junto do local onde levou o seu rei…
Para sempre espantosa aquela igreja…
E continuei o meu caminho para norte, fazendo com que Arras ficasse no meu caminho, uma cidade que me chamou a atenção na história!
Uma cidade com uma história antiga, feita de invasões, influencia, cultura e encantos, mas também de destruição e guerra, já que foi palco de batalhas e invasões com edifícios destruídos tanto na Primeira quanto na Segunda guerra! Centenas de suspeitos da Resistência francesa foram executados ali, durante a Segunda guerra, quando a cidade esteve ocupada pelos alemães…
A Camara Municipal e o seu campanário estão catalogados pela Unesco! Originalmente construídos entre os sécs. XV e XVI em estilo gótico, mas destruídos durante a Primeira Guerra, em 1915: o campanário foi destruído e o edifício da Camara queimado juntamente com grande parte da cidade …
A reconstrução foi feita com todo o cuidado, mas desta vez em betão armado, segundo o trado original…
A Grand’Place d’Arras com cerca de 2 hectares de área, onde desde sempre se fizeram feiras e mercados, e as suas 155 casas flamengas de estilo barroco, construídas a partir do séc. XVII.
Tudo ali e pela cidade toda, foi severamente afetado pelos bombardeamentos da Primeira Guerra. Toda a gente foi também sujeita à obrigação de apresentar os planos para as reconstruções, afim de que não se perdesse o traçado nem o aspeto anterior à destruição!
E foi uma medida acertada a considerar pela harmonia e beleza que se recuperou!
E voltei a partir, para entrar finalmente na zona flamenga da Belgica!
Segui para Kortrijk, nome flamengo que em português se chama Courtrai, com a sua Grote Markt, uma praça encantadora e que parece o centro do mundo dali!
O campanário da igreja de Sint-Maartenskerk ao fundo, que é o mesmo que dizer igreja de São Martinho como está fácil de ver!
Estava fechada, mas mesmo por fora é linda!
Gótica do séc. XIII … há lá dentro coisas que eu queria muito ver, mas terá de ficar para a próxima vez…
O seu campanário de 83 metros! Imponente!
Mais à frente fica a Onze-Lieve-Vrouwekerk kortrijk, que é o mesmo que dizer a Catedral de Nossa Senhora de kortrijk!
Uma construção do séc. XII em estilo românico, é um dos edifícios mais antigos da cidade e é “protegido” por isso!
Já foi como que uma fortaleza para proteger a população em tempos muito remotos e isso é visível pelo seu ar robusto e inexpugnável!
Ao longo da sua longa história muitas histórias passaram por ela, desde pilhagens, destruições, roubos, armazenamento de serreais e a iminência da demolição… a tudo sobreviveu com o esforço da população…
Foi fortemente danificada durante a Segunda Guerra em que, alem dos bombardeamentos, peças, como o relógio da torre, foram roubadas pelos alemães!
Os seus interiores não são românicos há muito, devido às remodelações posteriores, mas contem ainda recantos muito bonitos e antigos, como a Gravenkapel, do séc. XIV, já em estilo gótico!
No meio da praça fica o monumento aos mortos na Primeira Guerra..
Uma espécie de campanário com um telhado no topo onde personagens douradas deverão tocar um sino, ou algo parecido!
Na outra ponta a camara municipal, um belíssimo edifício barroco!
Cá está ele! A minha motita estava estacionada pertinho!
Peguei nela e segui caminho para Brugge, uma das cidades mais encantadoras que conheço e onde ficaria vários dias.
A sua Grande Praça, Grote Markt, é encantadora! Como eu dizia um dia, que me desculpe Vitor Hugo que achava que a Grande Praça de Bruxelas era a mais bonita do mundo… mas esta não lhe fica nada atrás!
A torre Halletoren, do séc. XII é espetacular e possui um carrilhão com 47 sinos que naquele dia estaria em concerto, por isso havia uma bancada montada na frente!
Podia-se entrar no espaço interior
Mais uma torre que eu gostaria de subir um dia, mas são 366 degraus que me arruinariam os músculos das pernas… por isso ainda não foi desta vez que subi!
O palácio provincial fica logo ali ao lado!
Mas eu estava era cheia de fome e fui buscar a motita para o meio da praça, onde outras motos estavam instaladas também e fui eu mesma instalar-me para comer!
Enquanto a moto espantava olhos eu enchia-me de mexilhões! Ui, o que eu gosto daquilo!
A paisagem da esplanada do restaurante era tão bonita que nem apetecia ir embora!
Demorei o tempo todo do mundo, a comer, a beber e na conversa com quem estava por perto, até a noite me chamar para a cama!
O concerto do carrilhão iria começar a qualquer momento, mas eu não esperaria, fui-me embora para casa, que naquele dia era em Brugge!
Fim do vigésimo nono dia de viagem!
A Bélgica – Veurne, Ieper e Tournai…
28 de Agosto de 2012
E hoje, 12-12-12, já que o mundo não acabou, vou contar mais um pouco desta viagem que se aproxima do fim! Desta vez é mesmo história até ao Natal! 😀
Naquele dia eu iria começar a desvendar os mistérios de um país de que se fala pouco! Parece que ninguém vai passar férias para Bélgica, não se lê nada de especial sobre ela e isso desperta-me muito mais interesse do que aqueles sítios onde toda a gente vai, em tom de missão motociclista!
Então daria uma bela volta por alguns sítios que estudei em casa e outros que se atravessassem no meu caminho e a que nunca resisto!
Segui para Veurne, que em francês se diz Furnes, nunca hei-de entender estas línguas que dizem as coisas de maneira tão diferente!
Veurne chamou-me a atenção pela sua arquitetura simpática de ruelas acolhedoras a fazer lembrar Brugge. Na realidade é uma cidade renascentista em tijolo amarelado! A igreja gótica de St Walburga em tijolo vermelho chama a atenção!
Não se podia visitar, estava lá dentro um funeral… parece que morreu muita gente por ali naqueles dias, pois não foi o único funeral que encontrei!
A cidade não é a coisa mais extraordinária de se visitar por isso, depois de uma voltinha, segui para Ieper, por caminhos interessantes!
Ieper é uma cidade muito mais monumental, embora o principal se encontre num espaço limitado!
A cidade esteve no centro de diversas guerras e batalhas pela sua posição estratégica junto da Alemanha. Todo o centro histórico foi já um monte infinito de escombros…
Depois da Primeira Guerra a cidade foi reconstruida fielmente pelos desenhos e fotos da época, com dinheiros da Alemanha, que não respeitou a neutralidade do país e fez da cidade, além de um campo de batalha, um local de experiências, onde gazes foram usados sobre soldados e população!
O Palácio do Pano, segundo a tradução, é imponente e cheio de placas que honram quem morreu para libertar a cidade!
A Catedral de Saint Martin gótica do séc. XIV é um dos edifícios mais altos da Bélgica e fica logo ali ao lado!
Passear por ali e imaginar que aquilo já foi campo de várias batalhas teve um efeito em mim!
Na catedral que, por acaso já não é catedral e sim proto-catedral, estava mais um funeral!
(Proto-Catedral quer dizer que já foi catedral e já não é, porque para ser catedral tem de ter um bispo residente e certamente já não há um por lá!)
Não tive coragem de entrar por isso andei no perímetro a cuscar o exterior!
A Cruz Irlandesa, em honra dos Irlandeses mortos por Ieper…
E a Praça do Mercado é muito bonita e acolhedora. Ninguém imagina que tudo aquilo foi destruído e reconstruido há menos de um século!
E ao sair da cidade, em direção a Tournai, a torneira mais famosa lá da zona lá estava no meio de uma rotunda!
Mas, como era de esperar, o caminho é feito de cemitérios e memoriais aos mortos de todos os países que ajudaram a libertar Ieper. Este seria mais um dia que eu passaria “rodeada” por memórias da Primeira Grande Guerra…
Como o Kasteel Zonnebeke – Memorial Museum 1917, que conta as cinco batalhas de Ieper… mas eu não quis ver e apenas visitei os jardins…
E os cemitérios militares sucedem-se pelas ruas que fui percorrendo…
Até eu não parar mais para ver mais nenhum….
E chegar finalmente a Tournai!
Uma cidade que viveu 18 séculos de história bem variada e cheia de reveses, mas que preservou o seu carisma de cidade de arte! É uma das 2 cidades mais antigas do país e permanece um polo cultural importante.
A catedral de Nôtre Dame de Tournai é uma estrutura extraordinária e impressionante! Em pedra negra, sobressai do perfil da cidade como um ser vivo que tudo observa! Conhecida como a catedral das cinco torres, foi construída no séc. XII em três estilos ainda visíveis: a nave é românica, mais antiga, o coro, ou altar é gótico, mais recente e um estilo transitório entre os dois liga estes grandes elementos da construção, no transepto. Hoje está em restauro profundo, que a trará de novo a toda a sua magnificência e imponência! Da Grand Place a catedral imensa sobressai acima de tudo, Christine Lalaing em primeiro plano, a princesa heroína e guerreira que defendeu a cidade contra invasores na ausência do marido, parece apontar para ela!
Christine Lalaing
E fui à procura do colosso! Desde a primeira vez que eu vi uma imagem daquela catedral eu quis vê-la ao vivo!
A gente vê-a por cima de tudo e depois tem de dar a volta e procura-la no meio das ruelas e casinhas!
E de perto, junto da entrada principal, nem parece o colosso que é!
O portal trabalhado pede restauro…
E é o que está a acontecer por estes dias!
Um altar lateral, no transepto, está a servir de altar-mor, enquanto este está subterrado em andaimes!
Curioso encontrar uma escultura dedicada a Roger de la Pasture, um pintor flamengo que tem obras famosíssimas, algumas no nosso museu da Gulbenkian! A bem dizer eu nunca tinha reparado que ele nascera em Tournai! 😮
Voltando à Grand Place ainda deu para brincar um pouco com a água que saia de repente do chão!
É permitido estacionar numa parte de praça e o conjunto formado pelos carros e pelo património é, no mínimo, curioso!
Ainda dei uma vista de olhos á igreja de Saint Quentin, uma igreja românica do séc. XII!
E lá estava o rio Scheldt, a parecer um canal!
E não se consegue ficar indiferente à catedral que se vê de todos os pontos da cidade!
E mais monumentos que lembram quem morreu na guerra, aparecem em Tournai também!
“Esquecer o passado é aceitar o seu regresso!” (Winston Churchill)
Triste mas real e presente por todo o lado naqueles países que tanto sofreram nas guerras…
A Bélgica – Oudenaarde e Gent!
28 de Agosto de 2012 – continuação
Fiz a curva no mapa e segui para Oudenaarde, uma cidade pequena que já foi grande na produção de tapetes! Uma cidade antiga com uma história longa e antiga, cheia de altos e baixos.
Fui recebida pela Sint-Walburgakerk, ou colegiada de St Walburga, uma igreja dedicada à padroeira da cidade! Uma igreja gótica do séc. XII, com um “chapéu” barroco no topo do campanário!
Pousei a minha Magnífica logo por trás da igreja e não tardou a fazer uma amiga igual a si! Senti um pouco de vergonha e pena por ela, pois estava mutilada, ao lado de uma menina lindinha e limpinha… mas depois pensei que não havia porque se envergonhar, já que a sua vida fora cheia e rica e isso cura qualquer orgulho ferido!
O que eu procurava era a belíssima Camara Municipal lá do sítio! Um edifício em gótico flamejante construído no séc. XVI. É nestes casos que os estacionamentos deviam ser arrumados para a periferia, mas na Bélgica encontraria muitos mesmo “em cima” dos monumentos, impedindo muitas vezes a completa visualização dos edifícios mais bonitos da cidade!
Alguns recantos encantadores são muito antigos por ali!
E fui andando para Gent, uma cidade que há muito queria visitar!
Gent é uma cidadezinha medieval encantadora onde tudo parece ficar no mesmo lugar! Dá-se a volta e encontra-se mais e mais coisas!
A Catedral de St Baaf nasce sobre uma primeira construção em estilo românico mas é renovada posteriormente em estilo gótico!
Curioso o jogo de cores de pedra que é usado no interior!
Na praça em frente as casas são deliciosas e perfeitamente enquadradas no conjunto!
Mais à frente, do outro lado da praça, fica o Beffroi, um campanário do séc. XIV que possui um carrilhão de 44 sinos conhecidíssimo nos Paises baixos!
É uma das três torres no centro histórico de Gent, com as da Catedral e da Igreja de Saint Nicolas logo a seguir!
E a seguir lá estava a Sint-Niklaaskerk que é o mesmo que dizer a Igreja de Saint Nicolas ou São Nicolau!
A igreja é um dos maiores e mais antigos edifícios da cidade e foi construído com pedra azul de Tournai. Diz-se que o seu estilo é “gótico de Tournai”!
Uma pena os fios dos trolleys por todo o lado a traçar os enquadramentos!
Depois há o rio Leie, com ar de canal, que atravessa a cidade e onde as pessoas se passeiam de barco ou a pé, ou ainda se sentam a curtir um solzinho da tarde que foi o que eu fiz também!
Ali é a Graslei, a área movimentada de comércio com edifícios remarcáveis, testemunhas da riqueza do local, ainda hoje!
E tudo parece ter sido desenhado para combinar com o que já existia por ali, em paisagens encantadoras e enquadramentos perfeitos!
E na outra margem do rio, e no extremo da ponte de Sint-Michiel, fica a Sint-Michielskerk, que é o mesmo que dizer Igreja de São Miguel, e que me atraía grandemente!
Algo de descomunal e exótico me atraiu, porque eu não vejo todas as igrejas que me aparecem pela frente! Apenas as que me atraem!
A construção, em gótico tardio, tem elementos posteriores muito importantes, devido aos diversos reveses e recuperações que sofreu, depois de incêndios, abandono, pilhagens e destruições deliberadas que quase levaram à sua demolição!
O interior é grandioso e os jogos de cores, entre a pedra e o tijolo, são harmoniosos e fazem pensar no que se teria perdido com o desaparecimento do edifício!
Pus-me a olhar para uma nossa Senhora que achei curiosa pela simplicidade e contraste com a parede de tijolo…
e fiz amizade com um senhor que estava ali sentado a desenha-la! Gosto muito de ver gente a desenhar, por isso pus-me ali no paleio com ele e ainda fiz uns sarrabiscos também!
E com a treta esqueci-me de fotografar a obra de Van Dyck que está lá numa parede, como se fosse um quadrozito de um habilidoso qualquer… apenas uma obra de um dos maiores pintores do barroco flamengo!
E voltei para o centro da cidade, do outro lado do rio.
Porque será que as grandes igrejas negras perecem mais colossais que as outras?
A minha Magnífica lá estava, discretamente encolhida junto com a biclas… a espantar olhos! Perguntaram-me pela centésima vez se estava tudo bem comigo, já que a moto estava partida…
Peguei nela e nem o castelo fui ver. Eu sei que o castelo de Gent é digno de uma visita, mas não me apeteceu, em contrapartida estava era a apetecer-me passear pelas ruínhas secundárias e ver o que passasse na minha frente, enquanto me dirigia para Brugge de novo, que já tinha saudades da bela cidade!
A perfeita imagem do paraíso, para mim, é encontrar ruínhas destas quando estou cansada da cidade!
Fui seguindo até Ooidonk, atrás de umas coisas e de outras, e encontrei um castelinho/palácio que me pareceu irreal à primeira vista!
Um dia vou passar pela zona e irei visita-lo por dentro, está na agenda! Mas naquele dia limitei-me a “roubar” enquadramentos!
E voltei para Brugge, aquela cidade que não me canso de visitar e onde é sempre um prazer passear!
A Bélgica – Brugge, a encantadora!
28 de Agosto de 2012 – continuação da continuação!
Brugge é um cidade encantadora onde apetece passear a pé, tirar umas fotos, parar numa esplanada, sem pressas, apenas apreciando o momento!
Uma cidade onde eu viveria feliz, porque é linda e é perto de tantas outras coisas lindas!
Uma cidade muito antiga e que é cidade há quase 900 anos, cheia de história e histórias pela história fora!
Para além de canais ela tem também lagos e parques e muitas zonas verdes como o Kon Astridpark!
Que tem até direito a uma grande igreja! Aliás parece que igrejas é o que não falta na cidade!
Dizem que Brugge é a Veneza do Norte, por causa dos muitos canais que cruzam a cidade… mas que me perdoe quem é fan de Veneza, mas Brugge tem coisas em que é mais bonita!
Permanentemente cheia de turistas, tem para oferecer todo o tipo de atrações turísticas e culturais!
A praça da Municipalidade é um dos centros da cidade com a sua Câmara gótica do séc. XIII, a mais antiga da Flandres.
Dizem que tem, na sua fachada, alternando com as 6 janelas, 48 nichos com estátuas!
Ao lado fica a Basilique du Saint-Sang – Basílica do Sangue Sagrado, um santuário românico do séc. XII. Diz a lenda que o Sangue Sagrado de Cristo foi trazido de Jerusalém para a cidade!
E as rendas!
As rendas são património preservado!
Desde o século XV, quando Charles V da Bélgica decretou que a renda deveria ser ensinada nas escolas e conventos das províncias belgas, que as técnicas rendeiras, além de não se perderem, se foram aperfeiçoando e tornando ex-libris de cidades, aldeias e do próprio país!
Rendas que já fizeram e dominaram a moda ao longo da história, como durante o renascimento.
A renda típica de Brugge é a renda de bilros, que é rara e acarinhada porque só pode ser feita artesanalmente! A mais procurada é a “Toveressesteek” – “Ponto de Feiticeira”, que requer entre 300 a 700 bobinas (bilros), e deve ser mesmo necessário ter poderes mágicos para não baralhar aquilo tudo e fazer uma rodilhice de fios!
Por vezes encontramos rendeiras que trabalham à entrada da porta de casa, para que os transeuntes possam apreciar a técnica!
E volta-se sempre à Grote Markt – Grand Place…
Já tinham retirado a bancada da frente do Campanário, já não haveria mais concerto de carrilhão!
Não iria voltar a comer mexilhões! Apetecia-me encher a barriga de porcarias, por isso fui à procura de uma casa de batatas fritas, onde toda a gente compra pacotões de batatas com molhos para comer sentados pelos muros na berma do canal!
Só faltava localizar o tal canal!
Era logo ali à frente!
Huuuum, há dias em que só uma coisa desta me serviria de jantar! Batatas fritas e espetadas! Delicia!
E então com o “Rozenhoedkaai” – O Cais do Rosário, como cenário, tudo estava perfeito! Aquele canal é o mais fotografado e desenhado da cidade!
Segui para mais uma voltinha pela cidade, até ficar noite!
Porque há recantos lindos por todos os lados, basta apenas passar e apreciar!
A vantagem é que se passeia por ali como por Amesterdão! Pode-se andar por todo o lado, pelo menos de moto, encostar e disparar mais uma foto, sem que ninguém stresse com a gente!
Na realidade estamos muito perto da Holanda e há pormenores que nos fazem pensar que até estamos lá!
Há diversas portas da cidade, esta é numa ponte muito bonita! Não passa trânsito ali, há um pino no meio do caminho, mas a minha motita passou!
A cidade é quase totalmente cercada pelo rio, o que faz com que este sirva de foço nas entradas antigas da cidade!
Então vi que o sol estava a preparar-se para se pôr em efeitos de laranjas e nuvens muito bonitos e saí um pouco da cidade na sua direção!
E vivi mais um momento de paz, deslumbrando-me com ele, antes de voltar para a pousada de juventude e me encher de cerveja com o povo!
E foi o fim do trigésimo dia de viagem!
A Bélgica – Laarne, Leuven e Mechelen
29 de Agosto de 2012
Era o meu 3 dia de explorações por aquelas bandas, peguei no mapa e desenhei um percurso composto de cidades que há muito queria conhecer, mais algumas coisas que me apareceram pela frente e outras ainda que nem valeram a pena parar!
Mas tudo é fantástico quando se anda na estrada por conta própria e completamente ao nosso gosto!
Uma coisa que gosto sempre de ver e saber é como vivem as pessoas! Não dentro de suas casas, mas em termos urbanísticos e arquitetónicos, como são as casas no campo, como são as estradas nacionais, o que têm de cada lado?
E descobri casas lindíssimas por todos os caminhos que fiz!
Segui para Laarne onde sabia que havia um castelinho do séc XII giro que eu queria ver de perto, e lá estava ele!
O Kastel Van Laarne que… estava fechado naquele dia! Descobri lá que só está aberto à quinta e ao domingo!
Eu queria vê-lo porque ele é um dos mais bem preservados castelos com fosso da Bélgica.
Como estava fechado poupei os 7€ e andei a passear pelos seus domínios, porque o portão estava aberto e ninguém me impediu de entrar!
O castelo foi alterado no séc. XVII, quando perdeu o seu ar defensivo, e preserva hoje características dessa época.
Nas antigas dependências de carros hoje funciona um restaurante, que áquela hora estava fechado.
Mas do seu jardim pode-se ver o castelo rodeado pelo fosso, que é um lago!
E segui para Leuven, que em português se diz Lovaina! Uma cidade universitária com um centro histórico muito interessante e que eu queria ver de perto! Estão a construir uma espécie de grande passagem inferior no meio da rua/praça principal!
Diz-se que a universidade de Leuven é a mais antiga universidade católica do mundo ainda em funcionamento, lá estudou “o nosso” Damião de Góis!
Logo ali à frente está o “Fonske” o estudante que jorra, (dizem eles) ciência para a cabeça! A mim pareceu-me mais cerveja, a considerar pela espuma que aquilo fazia!
Depois estamos na cidade berço de uma das maiores cervejeiras do mundo, na terra da Stella Artois!
A Catedral em gótico tardio, do séc. XV dedicada a Sint-Pieters é mais bonita vista de trás do que de frente!
Porque na realidade a sua torre sineira nunca foi acabada, depois de diversos azares, colapsos e falta de fundos para completar a obra, o que a faz parecer incompleta… e é!
Por dentro é a beleza gótica!
Na Grote Mark – Grand Place, a animação é constante, embora seja muito mais intensa em época de aulas, já que os alunos universitários aumentam a população da cidade, como acontece por cá em Coimbra, por exemplo!
E aí fica o edifício mais espantoso: a Rathaus da cidade!
Um edifício gótico lindíssimo, do séc. XV, que demorou 30 anos a construir e é considerado um dos edifícios mais belos em gótico tardio da Europa e uma das Câmaras mais famosas do mundo! Embora siga pormenores de outros modelos, como a de Bruxelas, não tem nenhuma torre alta.
É linda e impõe-se sobre tudo o que existe na praça!
Tenho de reconhecer que fiquei deslumbrada! Sentei-me numa esplanada e fiquei a admira-la longamente!
A universidade e a extraordinária biblioteca ficaram para uma próxima visita, segui para a minha motita. Nunca tenho a pretensão de ver tudo o que há para ver, prefiro ver bem o que me apetece no momento!
E voltei à estrada, para apreciar o que me fosse aparecendo até Mechelen!
Que também tem uma catedral gótica ou a Sint-Romboutskarhedraal, do séc. XV e também com a sua torre incompleta!
Lá dentro tem diversos elementos posteriores, tanto decorativos como estruturais, depois de destruições, pilhagens e quase demolição, a reconstrução introduziu elementos barrocos importantes.
E mantem-se imponente com a mistura resultante!
A sua torre parece decepada mas é bem visível pela sua grande dimensão, mesmo incompleta, pois tem 97 metros e comporta quase 100 sinos!
Na Grote Mrakt estavam a desmontar os restos do que devia ter sido uma grande festa!
E é lá que fica mais uma Rathaus extraordinária! Esta mistura 3 estilos: o gótico do séc XV, o gótico tardio e um “remate” barroco!
Uma cidade curiosa que não precisa de muito tempo para ser visitada!
E voltei a pegar na motita para seguir para Lier!
A Bélgica – Lier, Antuérpia e Sint Niklaas
29 de Agosto de 2012 – continuação
Voltei à estrada, por nacionais e secundárias. As casinhas na berma das ruas valem a pena o percurso, como as casas com telhados em colmo!
Lier é uma cidadezinha interessante
com a rathaus e o seu campanário a parecer uma igreja!
Logo ali fica o rio… aliás em Lier passa-se uma “guerra de rios” que se juntam e formam um novo rio, que se vai juntar a outro mais à frente para formar um novo ainda! Xi!
Na realidade em Lier forma-se o rio Nete, da confluência de 2 rios: o Grote Nete e o Kleine Nete! Depois ele segue pela zona de Duffel e vai-se juntar a outro rio, o Dijle e formam assim o rio Rupel! Muita água corre por aquelas bandas!
Mas eu tinha era fome, por isso andei a espreitar uma boutique de comidinha (e tinha tanta e com tão bom aspeto!) e decidi comprar o meu “tacho” e pic-nicar no jardim! Que fixe!
Ao fundo da rua da comidinha fica a Gummaruskerk, isto é a igreja de São Gummarus, o padroeiro da cidade.
Uma igreja gótica de entre os séc.s XIV e XVI, que não visitei por dentro porque estava fechada e porque me apetecia mais comer que visitar igrejas!
Mas certamente é muito bonita por dentro, a considerar pela sua beleza exterior!
Toda a cidade belga que se preze tem uma Grote Markt, isto é uma Grand Place, tal como as espanholas têm uma Plaza Mayor!
E era na Grote Markt que a minha Magnífica estava a chamar as atenções!
Umas senhoras ficaram estupefactas quando eu me aproximei dela e me prepararei para partir!
“Trop grande, trop lourd!!” (demasiado grande, demasiado pesada!) diziam elas!
“Pas de probleme, medames!” (sem problema, minhas senhoras) respondia eu! Eheheheh
“Vous êtes une diva!” diziam elas apontando para a montra mais à frente! Fartei-me de rir, mas não deixei de tirar uma foto ao passar na dita montra!
E foi no meio do trânsito mais intenso que cheguei a Antuérpia, a segunda maior cidade da Bélgica e o maior centro de comércio de diamantes do mundo!
(Para se ter uma ideia, 50% dos diamantes lapidados e 80% dos diamantes brutos são comercializados ali para o mundo.)
Antuérpia era aquela cidade que eu queria visitar apenas pelo nome! Porque desde sempre este me despertou a atenção, talvez apenas pela sua sonoridade…
Cheguei à Groenplaats… uma praça que tem uma história curiosa! Até ao séc. XVIII ali era o principal cemitério da cidade, então, quando a cidade estava sob o domínio austríaco o imperador mandou retirar o cemitério para fora da cidade e construir no seu lugar uma grande praça. Daí o nome “Groenplaats”, que quer dizer “praça Verde”!
E é uma praça toda animada, com montes de gente sentada nos bancos enfileirados, ao sol!
Depois começam as ruínhas mais estreitas e chega-se à catedral, com uma escultura muito interessante que lembra os pedreiros construtores do edifício!
Mesmo à porta estava esta “coisa” monstruosa e minúscula! O homem devia ser quase um anão, mal me chegava ao ombro!
E lá estava ela imponente e linda!
A Catedral de Notre Dame, gótica dos séculos XIV e XV, é o maior templo da Bélgica, com uma flecha de quase 122 metros. Está em restauro e naquele dia estava fechada…
Paciência! Logo ali fica a Grote Markt com a rathaus do séc. XVI, linda!
Esta Câmara Municipal é muito importante na arquitetura porque foi construída num estilo inovador na época, contendo ainda vestígios do gótico tardio (o estilo anterior) em partes do edifício. Na realidade foi o primeiro edifício a ser construído em estilo renascentista! A obra do seu arquiteto Cornelis de Vriendt viria a influenciar outras construções pela Flandres!
A Grote Markt, em Antuérpia, é uma praça extraordinária rodeada por lindíssimos edifícios do séc. XVI, alinhados, com as suas centenas de janelas a fazerem padrões.
A fonte de Brabo, em frente à rathaus, honra a origem da cidade, que segundo a lenda foi libertada pelo soldado romano Brabo, que matou o gigante Antigoon que aterrorizava os habitantes e marinheiros que passavam pelo rio Escalda, cobrando metade dos seus bens pela passagem. Quando o “imposto” não era pago ele cortava as mãos aos desobedientes! Um dia Brabo navegava pelo rio e recusou-se a pagar e desafiou Antigoon para um duelo. Venceu-o, cortou-lhe a cabeça e a mão e atirou para o rio e é nesta atitude que é representado hoje nesta escultura!
Gostei bastante da cidade e da sua animação, com gente por todos os lados mas sem que isso significasse qualquer tipo de stress!
Mais à frente, na praça Hendrik Conscienceplein, fica a St Carolus Borromeuskerk uma igreja barroca impressionante, construída no séc. XVII.
Grande parte da igreja, incluindo a fachada e torre, foi projetada por Rubens.
Os confessionários são espantosos! Apeteceu-me tanto entrar e sentar ali!
Infelizmente, a maioria do interior de mármore e 39 pinturas do teto de Rubens e outros artistas da época foram destruídos por um incêndio em 1718… hoje é assim
Eu nem sabia que Rubens tinha projetado parte de uma igreja!
E voltei para a minha motita, por ruínhas com coisas muito curiosas!
Para vir encontrar junto ao rio Escalda o castelo Het Steen (A pedra), a construção mais antiga de Antuérpia. Começou a ser construído em 1200 e passou por diversas mudanças, reformas e demolições. Hoje funciona lá o museu marítimo.
Foi com este castelo que se “construiu” a lenda do gigante Antigoon e do soldado romano Brabo e lá está o gigante numa escultura inspiradora, antes de levar uma tareia do romano e de ficar sem mãos!
Desta lenda e deste castelo surge o brasão da cidade:
Ainda dei uma vista de olhos pelo interior do castelo.
Há momentos em que parece um castelinho de brincar, com uma vista para a cidade interessante!
Estava lá dentro a decorrer uma atividade com miúdos e eu pus-me a andar, que farta de miúdos ando eu o ano todo! 😀
Estava a chegar um grupo de turistas que tinha ido visitar a cidade naquelas coisas curiosas de 2 rodas! Um dia vou-me meter a andar naquilo numa cidade qualquer a ver como é! Eles pareciam muito divertidos!
Despedi-me da cidade e segui caminho para Sint Niklaas!
Por ruas secundárias ladeadas por casinhas deliciosas onde apetecia mesmo viver!
Sint Niklaas quer dizer São Nicolau, esse mesmo, o do Natal!
E na Grote Markt, que lá também há uma e também é grande…
está o santinho em frente à rathaus, um edifício do séc. XIX muito interessante!
Uma escultura do 1997.
Achei piada ao cesto dos presentes com as crianças dentro!
E estava na hora de ir para casa.
As ruas secundárias naquele país parecem todas feitas naquela espécie de lajes de cimento, como as pistas dos aeroportos! E o aborrecido são as junções que fazem um “trec…. trec…. trec” ao passarmos por cima! Uma pena porque as paisagens mereciam sossego na condução!
A minha casa seria ainda em Brugge por aquela noite… Brugge com os seus moinhos junto aos canais, à medida que nos aproximamos da cidade!
E entra-se serenamente na cidade
Com as pontes levadiças que Van Gogh tanto representou nas suas pinturas, embora na Holanda!
Não há muitos fins de tarde tão bonitos como naquela cidade!
Pousei a minha Magnifica no seu recanto, onde dormiria mais uma noite, e fui confraternizar com o povo da pousada, que o dia fora longo e apetecia conversar, comer e beber!
E foi o fim do trigésimo primeiro dia de viagem…
A Bélgica – Brugge e Bruxelas
30 de Agosto de 2012
Acabavam os meus dias por Brugge, a cidade encantada!
Como sempre faço, ao deixar uma cidade onde pernoitei, dei uma voltinha por uma zona onde ainda não tinha passado por aqueles dias. Claro que comecei passando na Grand Place, porque a minha rua ía lá ter direitinha!
É tão giro ver uma cidade pela manhã, quando se pode passar com a moto por todos os lados que ninguém diz nada!
Claro que não resisti a tirar uma foto com a minha Magnifica em frente ao grande campanário, para memória futura!
E fui na direção de uma torre fantástica que se vê de todo o lado na cidade, por ruelas e canais sempre lindos!
É encantador o ambiente de beleza que casinhas e canais formam, parece que cada recanto é um cartão postal!
E lá estava a grande torre!
A Onze-Lieve-Vrouwekerk , igreja de Nossa Senhora, é um monumento espantoso de que a gente avista ao longe, de qualquer ponto da cidade, a sua longa e curiosa torre que faz lembrar um foguetão imenso!
Aquela torre, totalmente construída em tijolo, tem 122 metros e faz da igreja o mais alto edifício da cidade e o segundo mais alto do país. Dizem que é a construção mais alta do mundo, integralmente construída em tijolos!
Admirável a beleza do edifício, de tão diferente do que costumo ver!
É uma igreja muito antiga, uma das mais antigas de Brugge, gótica, construída no séc. XII, embora contenha hoje diversos elementos decorativos posteriores
A sua nave foi construída com pedra de Tournai e a sua cor é inconfundível!
Extraordinária construção em tijolo de diversas cores!
O ambiente envolvente é lindo e sereno, como nas histórias de encantar, com aquele mar de luz na manhã!
A igreja é ladeada, em L, por um canal cheio de casinhas encantadoras!
Voltei a apaixonar-me por aquela cidade…
E segui sem parar em lado nenhum, apenas apreciando o prazer de conduzir de manhã, por estradas nacionais cheias de sol e verde, até chegar a Bruxelas!
Claro que eu não podia deixar de passar em Bruxelas!
Pus-me a apreciar os polícias em bicicleta, que havia muitos pelas ruas naquele dia, num trânsito confuso e meio arranca e para, que não me deixava ir para onde queria e, pimba, dei comigo a entrar na Grand Place de moto e tudo!
O que estava a acontecer por ali eram os preparativos para uma grande festa da cerveja!
Os polícias riram-se de mim quando perguntei como sairia dali com a moto, mandaram-me furar pelo meio da confusão e sair pelo outro lado, já que a ruela por onde eu entrara era sentido proibido para sair! Mas afinal o trânsito é proibido na praça e tem sentidos proibidos para sair!?!?
Nunca me tinha imaginado de moto em tal sítio! E lá fui andando devagarinho e pondo o olho e tirando umas fotos, claro!
Também nunca tinha imaginado ver a Câmara de Bruxelas com fraldinhas brancas por baixo!
Aquele edifício é considerado um dos mais belos do país e é fácil de ver porquê! É gótico do início do séc. XV e já esteve quase totalmente em ruinas, assim como toda a praça, quando a cidade foi bombardeada pelos Franceses, um século depois!
A Grand-Place é um espaço extraordinário rodeado por belíssimos edifícios do séc. XVII, mas com histórias anteriores que lhes foram dando origem.
Então, depois de fotografar um pouco da azáfama e confusão no solo, comecei a fotografar por cima de tudo aquilo, e os pormenores ganharam outro valor que não ganhariam em fotos panorâmicas!
Os edifícios da praça têm todos os seus nomes, mas eu só sei o de alguns! Não me dei ao trabalho de os descobrir todos! Sei que este é “la maison des Ducs de Bravant”!
Ao fundo da praça fica um grupo de edifícios de que sei o nome também!
Cá estão eles e chamam-se: Le Renard, Le Cornet, La Louve e Le Sac. Pode-se imaginar facilmente a qualidade de vida que ali se tinha na época, para se construírem tão magníficos edifícios.
E no meio, bem em frente da Camara (hotel de ville) fica a Maison du Roi, em gótico flamejante do séc. XV, que nunca foi casa de rei nenhum! Na realidade foi construída no lugar de um mercado de pão e acabou por ser usada pelo Duque de Brabante, o mesmo do palácio do outro lado da praça, e daí o nome… embora o homem não fosse rei!
Hoje funciona lá um museu que ainda hei-de visitar, onde estão as mais de 600 vestimentas do “Maneco mijão” como eu chamo ao “Manneken pis”. Aquilo por lá deve ser como o nosso Menino Jesus da Cartolinha, que toda a gente teima em vestir e encher de roupinhas!!
E lá fui eu, mais a minha motita, visitar o puto mijão mais famoso do mundo!
Não se sabe muito bem de onde vem a ideia da escultura e por isso foram aparecendo histórias, mas uma das razões porque é tão famosa é devido ao facto de ter sido repetidamente roubada e até destruída. Já foi roubada 7 vezes desde que foi fundida pela primeira vez em 1619!!
Há várias lendas sobre o miúdo e dizem que lhe vestem roupas diferentes de acordo com a previsão do tempo que é exposta num placard na grade, mas eu devo ter azar, vou sempre no verão, com sol e calor e o puto está sempre nu!
E o povo amontoa-se a olhar para ele e a tirar fotos! Eheheh
Ele é tão pequenino que se não for toda aquela gente ali a olhar, passa despercebido!
E como estamos na terra do chocolate e da bolachas waffles belgas, não podia faltar a publicidade com o puto!
Por acaso àquela hora ainda não estava muito calor e o cheiro não incomodava… ainda… porque da última vez que ali estive, deu-me náuseas…
Não aprecio chocolate mas acho piada ao que fazem com ele!
Depois fui dar uma volta pela cidade, vê-la de outros ângulos e descobrir coisas diferentes! E encontrei a igreja de Notre Dame du Sablon, mais uma igreja gótica…
muito bonita e que me chamou a atenção porque o moderno altar-mor deve ter sido lá colocado por um pedreiro estrábico!
Ora veja-se se alguém que não seja vesgo ou estrábico colocaria o dito altar de lado! Não seria suposto estar centrado? Ou faz parte da nova tendência decorativa assimétrica?!
Porque não há um livro de reclamações numa igreja? Se se presta um serviço público devia ser obrigatório, assim eu podia ter escrevinhado que o altar está de lado e que quem o lá pôs, provavelmente precisaria de óculos! Não?
Pelo menos as pendurezas no teto estão centradas e não estragam a beleza do conjunto de vitrais!
Já o escultor da Nossa Senhora, junto ao altar, devia ser meio míope ou de baixa visão, a considerar pela carantonha feia da Senhora….
Há tanta Nossa Senhora feia naquela terra que cheguei a pensar que foram todas feitas pelo mesmo escultor!
A igreja é bonita e uma das muitas que a cidade exibe!
O dia estava lindo e as pessoas eram giras nas ruas!
A Bélgica – Bruxelas, Namur, Zoutleeuw, Hasselt
30 de Agosto de 2012 – continuação
Ainda fui matar saudades da catedral de Bruxelas… coisas de quem tem uma nova máquina na mão e se põe a pensar “da ultima vez que aqui estive não tinha uma máquina fantástica como esta por isso não posso deixar de lá ir tirar uma ou duas fotos mega-pixeladas!” e lá fui!
Um lindo edifício gótico do séc., XIII dedicado a Saint-Michel et Sainte-Gudule, lindo, imponente e com uma luminosidade misteriosa, tão característica no estilo!
Sainte-Gudule é uma santa do séc. VIII, é a padroeira da cidade e as suas relíquias estão na catedral!
É considerada simbolicamente a primeira catedral da Bélgica e lá se fazem casamentos, batizados e funerais reais! Podem-se ver fotos dos eventos em exposição na entrada do edifício!
O edifício é imponente, sobre uma zona alta da cidade, tudo domina!
Quem sai da catedral, anda um bocadinho e chega logo ao topo do Mont des Arts! Um jardim que tem uma história feita de vontades e projetos que nunca se realizaram até ao fim, até acabar num jardim definitivamente!
Cada vez que volto a uma cidade gosto de a olhar de perspetivas diferentes! Não faz sentido voltar ao mesmo sítio para ver as mesmas coisas pelas mesmas perspetivas! Bruxelas é uma cidade muito bonita que parece crescer aos meus olhos cada vez que a visito, simplesmente porque descubro um pouco mais de si! Há um momento em que parece que a descubro pelas costas, pelo lado que ninguém vai, ninguém vê e é isso que me faz gostar de lá voltar!
Ainda passei por mais uma ou duas igrejas mas nem tudo o que é igreja é para ver de uma vez! Não há pachorra para todas!
Passei pela Église Royale de Sainte Marie do séc. XVIII, que nunca me desperta tanto interesse como estilos anteriores, embora seja interessante pelos revivalismos que combinam influências de estilo bizantino e românico!
Siga para a frente e pimba, outra igreja no meio da rua!
A Église Notre-Dame de Laeken, Uma fantástica construção neogótica do séc. XIX, que eu também não fui visitar!
E fui passear para o Atomium!
Aquela construção sempre me fascina, pela dimensão, pelo insólito… tem 103 metros! É qualquer coisa!
Da última vez que lá fui, em 2009, subi e almocei no restaurante que fica numa qualquer daquelas bolas! Foi giro! Mas desta vez não voltei a subir, apenas apreciei o “boneco” de todos os ângulos e continuo maravilhada com a coisa!
Foi construído em 1958 para a Expo daquele ano, como uma construção efémera para durar apenas 6 meses, mas acabou por lá ficar para sempre, tal foi o seu sucesso!
Pensar que ali dentro daquelas bolas, há gente, que percorre os corredores entre elas, pelos tubos que as ligam!
The Heysel Exhibition Park permanece como muitos dos edifícios construídos na época para a exposição!
Acho que é impossível ficar-se indiferente a tal construção, que não é edifício, nem monumento, nem escultura… e é tudo isso ao mesmo tempo!
Bruxelas sem Atómium seria como Paris sem torre Eiffel!
Era hora de seguir e a minha motita desenhava uma série de números repetidos por grupos de 222, 555 e 000! Criativa a miúda!
E passei em Namur, uma cidade que merecia um pouco mais de sol para ser apreciada!
Com uma clina encimada por uma cidadela! Claro que fui curtir a ruínha ziguezagueante!
Lá em cima não há nada de especial, sobretudo para mim que não me apetecia fazer visitas detalhadas a muralhas, castelos ou cidadelas!
Lá fica o Théâtre de verdure (teatro de exterior) da cidade. Já fez um século e já recebeu todo o tipo de espetáculos de ópera a bailados, agora é usado para concertos!
Mas o que eu queria mesmo era olhar cá para baixo!
A cidade fica na confluência de dois rios, como Koblenz, o rio Meuse e o Sambre. Fiquei sem saber qual dos dois eu via dali!
Acho que nas voltas que dei lá em cima, se calhar vi os dois rios mas pensei que era sempre o mesmo!
Acabei por ficar por lá uma infinidade de tempo a olhar para a cidade. Não me apetecia embrenhar nela, apenas olha-la!
Lá tive de voltar para baixo e encontrei uma monstruosidade a circular na via pública! Fiquei quase chocada!! Aquilo era uma moto ou um camião Tir com reboque?
Passei na catedral e fui dar uma olhada. A Catedral de St. Auban, do séc. XVIII, é uma passagem de estilos entre o barroco e o neoclássico, mas pela forma exterior devia ter uns tetos fantásticos! Fui ver!
E tinha mesmo!
E uma cúpula espantosa também!
Com um passarinho lá em cima na reentrância! (Ok, deve ser uma pomba e não um passarinho qualquer!)
E pus-me a andar dali, que a falta de sol já estava a chatear-me! Ele estava mais à frente à minha espera!
Passei em Zoutleeuw, que a fome estava a apertar e aquilo tinha ar de ser interessante, pois a comida estava mesmo na berma da praça, com carros assadores de frango! Até salivei!
Mesmo atrás do assador tinha uma construção que me interessava visitar por dentro.
Era a igreja de St Leonard, um edifício gótico com uma forma bizarra, quem olha de fora!
Comi a perninha de frango ali mesmo, sentada na praça, como quem come pipocas! Parecia o Asterix a comer uma perna de javali! Um bela ideia vender o frango à peças, com batatinha assada a acompanhar e uma cervejola fresquíssima, que na carripana não faltava nada para satisfazer uma cliente esfomeada, já que a tarde ia longa e eu ainda não comera!
E lá fui, de barriga cheia ver a igreja por dentro, pois então!
Aquele altar altíssimo e trabalhadíssimo fascinou-me! Chamam àquele trabalho “sacramentstoren” ou “torre do sacramento”, é do séc. XV e tem nove andares! É praticamente uma escultura gigante em pedra!
Confesso que visitei a igreja ainda com a cabeça no delicioso franguinho que comera lá fora! Mas a igreja era muito bonita, o senhor que tomava conta dela disse-me que ela é Património Mundial.
E segui para Hasselt, pois ainda era cedo para ir para Liege!
Hasselt é uma cidade em que é muito mais fácil caminhar que conduzir! O pior é encontrar onde pousar a moto para poder caminhar! Quando dei por mim já andava em contramão, com os automobilistas muito simpáticos e solícitos a esperar que eu desse a volta para seguirem o seu caminho! Gente simpática!
A Cathédrale Saint-Quentin de Hasselt vi-a de fora, porque estava fechada, mas tive pena, pois por muitas que tivesse visto aquela era diferente. É românica e é diferente!
Embora já com elementos góticos! As janelas “em bico” não enganam ninguém!
Ainda bebi por ali qualquer coisa, dei dois dedos de conversa com gente que se impressionou com a minha motita!
Passei na câmara lá do sítio, que parecia ser o único recanto da cidade onde não havia gente!
O ambiente na cidade era vivo e cheio de movimento! Até as lojas estavam cheias de gente, algumas com montras bem coloridas. Parecia ambiente de Espanha!
gente que se mistura com esculturas!
E a minha motita em cima do passeio a espantar olhos, pois não havia recanto onde a encostar!
E segui finalmente para Liege, onde a luta com o trânsito me tirou a vontade de andar nem que fosse mais um quilometro! Enfiei-me na pousada de juventude e não buli mais!
Isto porque nada faltava por lá, comida, bebida e animação, por isso não precisei de ir mais longe!
Depois de umas boas gargalhadas… fui dormir, que a vida não é para ser vivida num só dia!
Fim do trigésimo segundo dia de viagem…
A Bélgica – Maastricht e a livraria Selexyz Dominicanen
31 de Agosto de 2012
No dia seguinte a minha Magnifica tinha feito varias amigas!
Soube depois que os cavaleiros das outras meninas tinham ficado bom tempo a inspecionar a minha motita, queriam saber quem eu era, mas tal não foi possível porque eles deitavam-se muito tarde e levantavam-se igualmente tarde, por isso nunca nos cruzamos! Eram ingleses e deviam ter muita vontade de correr os bares até às tantas, enquanto os meus interesses eram outros, o que provocou sempre o desencontro!
Ali pertinho de Liege fica Maastricht! Há tanto tempo que eu tinha curiosidade de visitar a terra do tão famoso tratado de 1992! Foi daqueles nomes que, de tão repetido, ficou na minha memória para visita futura, salvaguardando sempre a hipótese de ser uma cidade sem qualquer interesse ou beleza!
As minhas vizinhas de quarto diziam que era muito mais interessante que Liege, por isso fui dar uma olhada! Afinal é uma das cidades holandesas mais antigas!
Fui recebida pela Basílica de St. Servatius, uma construção basicamente românica com mistura de estilo gótico. Estava fechada e tive pena pois deve ser bonita e diferente lá por dentro, depois é a mais antiga da Holanda que tem a sua origem lá pelo séc. III, com remodelações e reconstruções posteriores em pedra até ao aspeto atual… merecia mesmo uma visita!
Achei curioso o portal que leva para o pátio! Em cada país os estilos adquirem características únicas!
Do outro lado fica a igreja de St. Janskerk, gótica do séc. XIII, uma igreja protestante com uma torre vermelha. Dizia num placard “The Church of England” St Jean Maastricht, que é o seu nome em inglês, claro!
Faltou um pouco de sol para apreciar calmamente o ambiente sereno que sentia por ali!
Por entre as igrejas chega-se à Praça Vrijthof, que não tinha ninguém mas exibia vestígios de festa!
O ambiente mantinha-se sereno, como se toda a gente estivesse noutro lugar, já que por ali não havia quase ninguém à vista! Ou então estava tudo a dormir depois da festa que eu não vi!
também era muito cedo para festas por isso ía aproveitando para catar um pouco a cidade velha.
As ruínhas são deliciosas por ali, percorri diversas, todas bonitas, estreitas, limpas e pitorescas!
Aquilo prometia vir a ter um ambiente animado mais à tarde!
E cheguei ao rio Maas que atravessa a cidade.
Andei mais umas ruelas
e encontrei onde toda a gente se ia juntando, embora àquela hora da manhã o movimento ainda estivesse a começar!
Eu adoro feiras! Então em cidades desconhecidas é que eu gosto, pois mostra muito do que é um povo! Ali o povo era animado! A princípio ficavam a olhar para mim, diga-se de passagem que eu nem a cinta tirara, nem as luvas, apenas pusera o chapéu e andava por ali armada numa espécie de guerreira bizarra, já que uso a cinta por fora do blusão, para não me massacrar a pele!
Depois eu sorria, disparava uma foto e dizia “Good Morning”! E as pessoas sorriam também!
A dada altura eu também já dizia “Guten Morgen”, pois me parece que é parecido com o “bom dia” flamengo! 😀
A feira passava-se mesmo em frente à rathaus da cidade, o edifício do séc. XVII presidia a tudo ao fundo!
Aquela era uma feira muito parecida com as nossas e quase me senti em casa!
Achei um piadão à feirante gordinha e bonacheirona numa escultura lá no meio da confusão!
Então cheguei a uma igreja que me encheu todas as medidas! Entrei ali e nunca mais quis sair!
Uma Igreja gótica do séc. XIII linda…
Mas na realidade é a Selexyz Dominicanen e está instalada na igreja desde 2006! A livraria mais bonita do mundo, dizem eles e eu concordo que é uma das mais bonitas que conheço!
A Selexyz é uma das maiores cadeias de livrarias da Holanda e resolveu inovar ao abrir uma das suas filiais numa antiga catedral dominicana com 7 séculos, bem no centro de Maastricht.
No altar funciona o café e a galeria de arte!
E os tetos e as paredes estão ali, ao alcance da mão, do olhar, por entre livros!
De um lado da nave fica a escadaria, com elevador incluído, que nos permite subir por 3 níveis de estantes, até tão perto do teto!
E lá de cima pode-se ver melhor como ficou o altar, com o barzinho montado, onde as pessoas se podem sentar em torno de uma mesa em forma de cruz! Lindo!
Eu nunca tinha estado tão perto do topo de um edifício gótico e fascinei-me!
Simplesmente não conseguia ir embora, nem parar de fotografar!
Espreitei em todos os ângulos…
e deslumbrei-me!
Tenho de reconhecer que, se existisse uma coisa destas no Porto, provavelmente passaria lá os meus dias!
E voltei a passar pela Praça Vrijthof para ir buscar a minha motita.
Pormenores de uma casa de instrumentos musicais!
E sempre que vejo um chapeleiro não resisto a ir espreitar!
Mas não tinha nada do meu agrado!
E lá estava a minha motita à minha espera! O tempo piorava e eu pus-me a andar, com uma livraria na memória!
A Bélgica – Dinant
31 de Agosto de 2012 – continuação
O tempo estava a puxar para ficar uma bosta, mas em viagem não se escolhe tempo para sair! Aliás eu não escolho nunca o tempo para sair de moto, já que saio todos os dias, quer chova ou faça sol!
Por isso só me restava seguir para Dinant ou ficar encolhida na pousada em Liege a ver coisa nenhuma! É claro que passei em Liege, porque ficava no meu caminho, e segui para Dinant, uma cidade que me andava a chamar a atenção pelas imagens imponentes da sua catedral descomunal junto do penhasco!
A aproximação à cidade faz-se passando pela fenda deixada entre o penhasco e uma agulha de pedra.
Há uma lenda sobre aquela agulha enorme que se formou ali, sobre um cavaleiro e um cavalo mágico que, ao fugir de Carlos Magno saltou do penhasco, deu uma patada na escarpa e ela abriu-se formando aquela agulha. A verdade é que os carros mais largos têm de passar com cuidado por ali!
Mais à frente fica a cidade, uma pena que não estivesse sol! Estacionei do outro lado do rio Meuse para observar melhor o conjunto monumental que a imponente catedral faz no conjunto urbanístico, com o alto penhasco atrás! Lindo!
A catedral é dedicada a Notre Dame está tão próxima do penhasco, que é encimado por uma cidadela, que quase se confunde com ele! Temos a sensação de que o topo da sua torre chega lá acima ao forte! Realmente é um conjunto memorável!
Atravessa-se depois a ponte cheia de saxofones decorados em honra de uma série de países, julgo que todos os países da Comunidade Europeia!
Saxofones porque afinal não nos podemos esquecer que Dinant é a terra natal de Adolph Sax, o senhor que inventou o saxofone no séc. XIX, e assim até entendemos melhor o nome do instrumento! 😀
claro que a bandeira portuguesa me saltou logo aos olhos, no meio de todas as outras!
Lá estava ela entre os saxofones de dois países que não eram o nosso!
O nosso estava mais à frente e, como seria de esperar, estava decorado com o mapa mundi, fomos representados como navegadores!
O rio é o mesmo que passa em Maastricht, só que em flamengo chamam-lhe Mass! Passa também em Liege! É grande para caramba, quase 1000 quilómetros de rio!
E lá estava a catedral com a sua torre encimada por uma espécie de coruchéu, que parece um chapéu!
Aquela catedral já sofreu de tudo! Já foi vítima da destruição de sucessivas invasões, guerras e incêndios que frequentemente varreram a cidade destruindo tudo em seu caminho.
A primeira igreja foi construída no início do séc. XII, depois foi um “bota abaixo” e reconstrói, desde desabamentos do penhasco atrás, que levavam consigo parte da construção, que originou a construção gótica, até a destruição da cidade por Carlos, o Temerário, que destruiu tudo e atirou os seus habitantes ao rio!
Depois a catedral voltou a ser destruída na primeira guerra e, mal tinha sido reconstruida, voltou ao chão durante a segunda…se juntarmos a isto tudo a história de água que por ali existe, a cada vez que o rio transborda e alaga tudo, temos de ter uma grande admiração e respeito pelo edifício, como se de uma pessoa heroica se tratasse!
E ela é diferente e única!
Única por dentro e por fora!
Mesmo ao lado há um teleférico para subir até ao forte, no topo do penhasco. Com o tempo chuvoso não apetecia estar a vestir o fato de chuva para ir dar a volta pela estrada, subi direta pelo teleférico e, já que o bilhete incluía a visita ao forte, iria também visita-lo!
E mesmo sem sol as perspetivas da cidade sucediam-se espantosas!
Lá em cima um velhote simpático esperava os visitantes para fazer a visita guiada. Foi uma agradável surpresa porque ele era muito engraçado e falava varias línguas, por isso entendia-se perfeitamente tudo oque explicava! Fiquei a saber imenso sobre a história da cidade e do país!
A “Citadelle” tem origem no séc. XI e fica a 100 metros de altitude, sobre o Rocher Bayard, com uma vista única sobre toda a Cidade.
Então de um terraço voltamos a ver a cidade, numa perspetiva extraordinária!
E o rio
Coisas curiosas que estão no forte: estes barrotes suportaram a primeira ponte de Dinant construída pelos monges no séc. XI. Foram retirados da água em 1952, o que quer dizer que estiveram submersos 900 anos! E ainda a gente acha que a madeira apodrece rapidamente com a água!
A outra curiosidade que adorei, foi uma réplica de uma trincheira bombardeada, isto é, criaram ali o ambiente de uma trincheira que ficou toda torta, depois de receber umas bombas em cima!
Quando o senhor explicou aquilo eu pensei que iriamos ver mais um recanto com bonecos a exemplificar o que se passaria na situação. Mas o que me/nos esperava era algo curioso!
Ao criarem a trincheira bombardeada e torta para um lado, criaram na realidade uma ilusão optica, em que a gente tenta andar direita e não consegue, porque tudo está torto!
Agarramo-nos às paredes e aos corrimões como tolinhos e parece que vamos cair mesmo assim!
Na realidade a nossa posição vertical fica comprometida pois tentamos forçar-nos a andar paralelos às paredes que estão inclinadas!
Foi uma alucinação! Então fecho os olhos e saio dali, porque com os olhos fechados não vejo a casa torta por isso ando direita! Mantenho-me facilmente na vertical e fico a rir-me e a apreciar a figurinha de tolinhos dos outros a tentarem andar inclinados como a trincheira! Uma experiencia que só experimentando se percebe a baralhação que é para o cérebro!
A guerra passou por ali e há lá em cima mais um cemitério militar!
E voltei a descer o teleférico!
E segui para Bouillon, que também tem um castelo mas, honestamente, não me apetecia ver mais fortes, nem castelos nem cidadelas!
Por isso olhei para ele cá de baixo mas fui mas é fazer um pic-nic que o tempo estava ligeiramente melhor e eu queria mas era paz e paisagem!
Na margem do rio Semois havia um clima tão agradável que decidi ficar-me por ali.
A Bélgica – Bouillon, Durbuy e Coo
31 de Agosto de 2012 – continuação da continuação
Bouillon em português chama-se Bolhão e, embora se escreva com um “o” faz-me sempre lembrar o nosso mercado do Bulhão no Porto! Em francês quer dizer caldo, sim, caldo de sopa mesmo!
Deu-me a preguiça e a saudade junto àquele rio, a viagem estava a acabar e eu queria continuar! Então decidi passar momentos de paz e natureza… eu não sabia quando voltaria a viajar e o peso dessa incerteza fez-se sentir ali! Não quis ver castelo nem cidade, apenas rio e verde!
A cidade é conhecida como a “pérola do Vale Semois” e tem um castelo medieval mas eu fiquei-me pelo rio. Fiz um pic-nic meio à chuva, num banco de jardim, a ver os pescadores a esconderem-se da chuva nos carros, para depois voltarem às suas canas, quando ela parou!
Eu tinha o chapéu e o guarda-chuva, não havia porque fugir da chuva, “pic-niquei” muito bem debaixo dela!
A Pont de Cordemoy permite enquadramentos extraordinários com o rio e as margens verdes! Foi a minha paisagem por horas…
E porque a ponte me fascinava ainda passeei por ali calmamente! Chamam-lhe ponte gótica mas foi construída em 1935, por isso será neogótica!
O castelo estava lá ao fundo a “olhar para mim” mas eu só o queria ver por fora!
E o sol voltou alegrando grandemente o meu dia… e o das vaquinhas também!
Não falta onde acampar ou pousar uma roulotte por ali, num local privilegiado!
E lá acabei por subir até ao castelo, apenas para ver como era a paisagem cá de baixo, vista lá de cima e lá estava a ponte gira!
E a encosta do castelo numa perspetiva gira!
Andava por ali tudo cheio de miudagem, uma excursão escolar de garotos pequenos que, por aqueles dias, as aulas já tinham começado por lá para os pequenitos!
O castelo não me conseguiu seduzir para eu o visitar! A bem dizer eu preciso de ter disposição para fazer uma visita guiada porque, na realidade, não gosto! Não gosto de ter de ouvir o que me querem dizer, nem de andar ao ritmo de todo um rebanho de pessoas, nem de não poder fazer muitas perguntas, pois nem toda a gente quer saber o mesmo que eu! Sou muito rápida nas minhas visitas e quando há um guia, tudo é lento e ao seu ritmo!
Por isso tirei umas fotos cá para baixo e fui-me embora!
Passei por Durbuy, com o seu jardim de topiaria, publicitado a quilómetros, mas que já estava fechado quando passei!
A terrinha é simpática para se passear a pé, pernoitar lá, num qualquer hotel romântico… É frequentemente considerada como a cidade mais pequena do mundo, embora não se tenha muita certeza! Que é pequena é, pois eu dei uma volta e sai do outro lado!
Estava na hora de voltar para Liege, mas ainda passei por Coo, por caminhos cheios de encanto!
Eu sabia que Coo tinha umas cataratas interessantes, bem pertinho da população, e não é que ao chegar as ouvia mas não as via!
Só depois percebi que estava em cima delas! Eu teria de descer para as poder ver! Um recanto de lazer muito interessante com caminhos curiosos e parque de diversões… que estava fechado, claro!
E lá estavam elas!
A Cascade de Coo, são as cataratas mais importantes do país! Têm 15 metros de altura e são espetaculares!
A rua principal passa-lhe exatamente por cima !
O parque de diversões fica mesmo ali, com carroceis, cafés, esplanadas e uma ponte coberta!
Tirei mais uma ou duas fotos e fui para casa!
Apreciando ainda a beleza do rio Amblève, ali onde se fazem também desportos náuticos mais radicais!
E o sol ainda veio fazer-me companhia até Liege!
Foi o fim do trigésimo terceiro dia de viagem!
A Bélgica – Liége, Mons…
1 de Setembro de 2012
Quando eu fiquei até mais tarde no paleio com o pessoal instalado na pousada foi a noite em que os meninos das motos foram para a cama cedo e não nos encontramos de novo! E escolheram mal a noite para ir cedo para a cama, pois estava linda! Fresca, mas linda!
Seria o dia da minha partida da Bélgica, depois de ter satisfeito a minha curiosidade por aquele país que parece tão esquecido de toda a gente e que, afinal, é tão bonito! Tenho consciência de que deixei muita coisa para ver, mas fi-lo a pensar que outras vezes lá passarei e não tenho necessidade de ver tudo de uma vez só! Depois, o que veria eu um dia que ali passe a caminho da Noruega, por exemplo? 😉
O regresso à bela França fez-se em dois ou três passos, que desenhei alegremente no meu mapa!
Mas, como sempre, fui dar uma voltinha por Liege!
Eu já sabia que não era a mais bela cidade da viagem, mas nunca parto sem catar um pouco da cidade que me acolheu!
Uma das esculturas bem conhecidas de Liege “L’Envol” fica na margem do rio…
Liege não é uma cidade muito bonita mas é uma cidade cheia de história e a sua participação heroica na Primeira Guerra Mundial sempre despertou o meu interesse por ela! Às vezes tenho estas coisas, sinto as cidades como se fossem pessoas e Liége foi “quem” frustrou os planos da Alemanha, que planeava atravessar rapidamente a Bélgica, desrespeitando a sua neutralidade, para chegar França! Mas, contra todas as espectativas, a cidade simplesmente não deixou passar os alemães por quase duas semanas, obrigando-os a reforçar os ataques e aumentar os homens, para vencerem a resistência e passar!
Parte da minha visita à cidade foi acompanhada por uma vaca, que tinha uma corneta que mugia e umas tetas cor-de-rosa na barriga e tudo!
O que eu me fartei de rir, sem chegar a perceber o que fazia um homem vestido de vaca, no meio de um grupo de amigos vestidos à civil, pela cidade!
E, enquanto ele mugia por aqui e por ali, os amigos esperavam-no em grande plateia de gargalhadas e aplausos!
Como os pontos de interesse não eram muitos eu andava por ali de moto. Não compensa andar a pé à procura de pontos interessantes numa cidade, quando eles são poucos e dispersos! E apanhei-me numa monta, formando uma composição que me cativou esteticamente! Eu, quase abstrata!
E como nada de novo se apresentava, segui a “norma” habitual, procurar a catedral, pois aí fica o centro histórico… mas só havia mesmo a catedral e pouco mais!
Vá lá, o jardim junto à catedral, não era feio!
E já que não havia muito para ver, fui dar uma olhadela à Cathédral de Saint Paul, gótica do séc. XII e que só foi elevada a catedral no séc. XIX, depois de a anterior catedral, um edifício românico extraordinário, ter sido destruída anos antes, ninguém sabe porquê!
Lá dentro há uma escultura de S. João Batista que, segundo a placa explicativa, esteve numa igreja também desaparecida. A escultura é do séc. XVII, é barroca e, como é típico no barroco, é toda retorcida, panejamentos que esvoaçam e a mãozinha revirada para trás! Será que naquela época um homem seminu com a mãozinha retorcida daquela maneira para trás quereria dizer o mesmo que agora? Certamente que não… espero… 😉
Aqueles tetos são espantosos! Quanto tempo terá demorado a pintar tudo aquilo?
Uma igreja muito bonita, com as luzes da manhã a fazer efeitos coloridos ao atravessar os vitrais!
Ainda dei uma volta mais, passei por outra igreja gótica, a Basilique de Saint- Martin.
Desci de novo até ao rio Meuse
e segui meu caminho passando por Mons, onde tive direito a assistir a um casamento!
Na realidade eu tinha preferido assistir à festa mesmo, que a comidinha é sempre melhor que a cerimónia!
Já que não teria direito a comer nadinha na festa, aproveitei a azafama do vai e volta dos funcionários e dos convidados para explorar a rathaus/câmara, onde se iria realizar a cerimónia!
Lá vinha a limusine com a noiva! O momento certo para eu me infiltrar!
A câmara é um edifício gótico lindíssimo que eu não contava poder visitar por dentro, pois a visita só é permitida para grupos e com guia e eu fui sozinha e sem ninguém!
Logo à entrada, depois de uma salinha tipo vestíbulo, fica a sala dos casamentos!
Lá em cima fica, entre outras salas, a Salle Gothique, linda!
E ao descer estava o casamento a entrar na Salle des marriages!
A noiva era gordinha, devia ser por isso que precisava de um carro tão grande para a transportar! 😉
Depois há um túnel que passa por baixo da câmara e leva ao Jardin du Maïeur
O casamento continuava lá dentro, deve ser giro casar num edifício tão extraordinário!
Em frente a minha Magnífica tinha já um bando de amigas a seu lado!
Ainda andei por ali a dar uma volta, pois a Grand Place é sempre bonita em todas as cidades, e Mons não é exceção!
Mais à frente fica a Collégiale Sainte-Waudru, que me fez parar, pela sua imponência! É gótica, iniciada no séc. XV e nunca terminada!
Achei tanta graça à gárgula embrulhada e amarrada, lá em cima! Coitada, se se mexe enforca-se!
Os edifícios góticos belgas, chamados góticos Brabant, são de uma imponência diferente! Parecem sólidos, quase fortalezas!
Lá dentro está o Relógio-da-morte! Ainda fiquei a olhar para ele a ver se entendia como funcionava ou se me dizia algo de vida ou morte mas, pelo que percebi é simbólico apenas!
E lá ficou a Collégiale, imponente como um bloco de granito!
Segui o meu caminho e saí da Bélgica!
A França encantadora seguia-se no meu caminho, com estradas de prazer à minha espera!!
A França – Laon, Paris…
1 de Setembro de 2012 – continuação
A minha entrada e França trazia já consigo o sabor a despedida, a regresso, embora ainda tivesse muitas coisas em mente para ver e uma série de quilómetros para fazer até casa!
A França é um país encantador e os seus encantos são do tamanho do seu grande território, já que cada província, cada região, é única e diferente de todas as outras!
Passear por França é, para mim, um dos grandes prazeres! Ter de a atravessar para começar ou terminar uma viagem, é sempre um encanto!
Passei em Guise onde, na berma da estrada, se encontra o Cimetière Militaire Franco-Anglo-Allemand de Flavigny-le-Petit… as duas grandes guerras separaram aqueles homens, a morte os juntou…
La Desolation… é realmente o sentimento que nos acompanha ao passar por ali!
Não tinha previsto parar em lado nenhum, apenas apreciar e curtir as belas estradas nacionais que atravessam o país, com paisagens deliciosas de perder de vista.
Mas não me contive ao passar em Laon… passara ali ao subir para Brugge e apeteceu-me tanto passar para ver a catedral de Notre Dame de Laon, que desta vez não resisti e fui lá acima numa corridinha! A catedral é uma enormidade lá na parte alta da cidade! A sua dimensão e imponência são visíveis a grande distância, no cimo da colina, parecendo desmesurada perto da envolvência!
Imagine-se de perto!
O tempo não era muito mas seria o suficiente para me encantar com aquela que é uma das mais importantes catedrais do gótico primitivo francês, construída entre os séc. XII e XIII, e chegou intacta até nós, em toda a sua grandiosidade, depois de revoluções e guerras lhe terem passado à porta!
Temos de fazer alguma ginástica para a apanharmos totalmente numa foto!
Lá dentro quase provoca vertigens!
Deslumbrei-me ao vê-la ao vivo…
Aqueles vitrais azuis são espantosos em contraste com a pedra branca!
E lá tive de me forçar a saír dali, ou ainda lá estaria hoje…
A envolvência da catedral é uma zona histórica pitoresca
Quase demasiado “apinhada” para conter uma tão grandiosa construção! Os franceses eram assim, não construíam à dimensão do ser humano, como por cá os portugueses! Construíam mais à dimensão de gigantes, de deuses!
E lá vim por ali abaixo, para seguir o meu caminho, mas sem perder a catedral de vista por muito tempo!
A bem dizer, parece que a colina da catedral é a única elevação por muitos quilómetros em redor!
Quilómetros de terra cultivada, longas searas, moinhos de vento no meio de lado nenhum!!
E por falar em moinhos!
De repente deu-me uma vontade de algo diferente, excitante e surreal, no meio de tanta planície! Como se faz na piscina, tapa-se o nariz e salta-se, eu retive a respiração e mergulhei em Paris!
Atravessar Paris foi a loucura total, depois de tantos quilómetros de condução solitária! Foi um mergulho na loucura da maior cidade da Europa ocidental, que já não estava de férias e por isso estava frenética!
O Moulin Rouge é o segundo ponto turístico mais fotografado da cidade, depois da torre Eiffel, e eu não quis perturbar a estatística e também tirei mais umas quantas fotos, lá à porta!
Ainda passei no Sacré Coeur, mas qualquer ilusão de o visitar por dentro, caiu por terra ao me sentir completamente engolida pelo trânsito e pela multidão! Siga mas é para a frente!
O povo e as bicicletas são como moscardos por aquelas ruas! Até os polícias engrossam a enchente nas suas biclas!
Passei na Catedral de Notre Dame e tirei uma ou duas fotos à minha Magnífica parecidas com as que tirei da última vez que ela lá foi!
Porque visitar a catedral por dentro estava completamente fora de questão já que, contra tudo o que eu esperaria de acordo com outras passagens por ali, tinha fila para entrar!!
Nem pensar em pôr-me em filas! Tirei mais uma ou duas fotos ao belo edifício por fora. A bela catedral que é uma das mais antigas no estilo e que foi eternizada por Victor Hugo.
E deixei Paris para outra altura, em que eu lá decida voltar em Agosto, quando os parisienses estão de férias na costa e deixam o interior mais calmo e vago!
E saí do outro lado da cidade, como quem emerge de um mergulho prolongado, completamente revitalizada, depois de fazer uso dos meus dotes de condução mais agressiva e ágil, que já estava a fazer falta à minha motita!
E segui para Orleães, onde ficava a minha casa naquela noite!
Fim do trigésimo quarto dia de viagem!
A França – Le Pont-Canal de Briare, Gien, Nemours
2 de Setembro de 2012
A minha passagem por Orleães tinha dois propósitos, visitar dois locais ali perto que há muito me interessava conhecer. Por isso dormi duas noites na cidade, para ter um dia por minha conta para explorar o que procurava!
Não, nenhum deles era uma igreja ou catedral!
O desenho que fiz no mapa não foi circular mas foi triangular, de ida, exploração, e volta!
Uma das coisas que eu procurava ficava em Briare, uma cidadezinha que é atravessada pelo famoso e lindo rio Loire, esse mesmo, o que tem um vale com a maior concentração de castelos do mundo!
Ao aproximar-me comecei a encontrar pessoas que corriam, eram muitas, estavam em todo o meu caminho e estendiam-se por todo o percurso que fiz por quilómetros!
La fui andando, muito calmamente, chegando-me para o lado para não atropelar nem ser atropelada pelos corredores! Dava para ver que não eram atletas de alta competição, pois havia gente para todas as idades e gostos! Até chegar a Briare, fui percebendo que os corredores iriam estar por ali por todo o lado!
As pessoas, que guardavam as ruas para os corredores, eram simpáticas e tentavam impedir o menos possível a moto de passar, mesmo quando os carros não podiam passar, a mim deixavam! Também eu não ocupava a rua e conseguia seguir sem perturbar a corrida.
Então vi-me em cima da ponte que me permitia a perfeita visualização do meu objetivo: Le Pont- Canal!
A Pont-Canal de Briare é uma obra fascinante que me fez andar muitos quilómetros para a visitar, percorrer e fotografar!
Foi construída entre 1890 e 1894, totalmente em metal, permite que barcos atravessem o rio Loire e seus canais paralelos, como um viaduto feito de água e passeio para peões! Foi a primeira Ponte-Canal a ser construída e, por muito tempo, a mais longa do mundo com 662 metros!
Pousei a moto na berma do canal, mas a minha vontade era percorrer a ponte com ela…
Foi uma sensação curiosa passear por uma ponte onde não podemos mudar de passeio e cujo alcatrão é aquoso onde passam veículos sem rodas!
Lá em baixo o Loire e os seus canais paralelos!
Durante a segunda guerra a França decide destruir todas as pontes sobre o rio Loire para retardar o avanço dos alemães e a Ponte-canal é dinamitada, fazendo cair dois dos seus tabuleiros.
Esta destruição foi cirúrgica e permitiu poupar os extremos da ponte, com os seus pilares e encaixe de pedra a terra firme. A reconstrução trouxe-a depois ao seu anterior esplendor!
Uma obra extraordinária mesmo, aquela ponte!
Por baixo passa, não apenas o rio, mas a rua também! Uma sensação curiosa a de passar por baixo de um rio, que eu queria experimentar!
Só ao chegar à outra ponta da ponte-canal é que li, num cartaz pendurado numa árvore o que se estava a passar por ali, com tanta gente a correr!
Tratava-se da Semi -maratona Gient-Briare-Gient , isto é, aquela gente andava a correr 21 quilómetros entre as duas cidades, o que queria dizer que iria continuar a passar pelos corredores, dado que iria a Gent!
Foi um belo passeio pela ponte-canal que só “pecou” pela impossibilidade de ir por um passeio e regressar pelo outro!
E lá estava a minha Magnifica à minha espera, para continuarmos a maratona dos outros!
E como toda a gente estava entretida com a maratona eu e a minha motita fomos fazer um pouco de terra batida pelas margens do Loire!
Ela adorou andar na terra! Percursos de sonho!
E lá fomos experimentar qual era a sensação de passar por baixo de um rio que passa por cima de uma ponte! É estranha! Afinal estávamos em posições trocadas, eu e a moto por baixo e o rio por cima!
E no vale dos castelos é suposto encontrarmos castelos! Lá estava o castelo de Saint-Brisson-sur-Loire, um castelo medieval do séc. XII, alterado posteriormente por diversas vezes! Não me apeteceu ver de mais perto, por isso segui caminho.
E mais à frente já se via Gient, uma cidade cheia de história que acolheu Joana D’Arc por quatro vezes no curso da sua epopeia, como eles orgulhosamente dizem!
O trânsito estava numa de arranca-pára-arranca e descobri nessa lentidão de caminho um pescador no meio do rio!
A cidade é mais bonita vista da outra margem que exploradas pelas suas ruínhas!
Foi mais uma cidade vítima de bombardeamentos e grandemente destruída durante a segunda guerra, sendo reconstruida depois… afinal, basicamente, é para isso que as guerras servem, para lixarem tudo e depois darem uma trabalheira infinita e uma despesa maluca para restaurar tudo de novo!
Neste caso a ponte foi destruída pelos alemães para impedir as tropas francesas de recuarem! Afinal uma guerra sem muitos mortos também não serve os seus fins de humilhação, desmoralização e subjugação!
Atravessei a cidade e segui caminho, pois o que procurava não estava ali!
Nemours apareceu-me mais lá para cima e parei para dar uma olhada, pois gostei do que vi ao chegar!
O rio Loing cerca o centro histórico com o seu canal, provocando uma sensação de ilha!
E depois, como toda a cidade medieval que se preze, tem um castelinho do séc. XII lá no meio!
Sentei-me na berma do rio, o céu estava cinzento mas não iria chover. Momentos simples que depois deixam saudades!
Atrás de mim estava a igreja voltada para o outro lado, a Église de Saint-Jean-Baptiste do séc. XII…
Andei por ali mais um pouco. Há uma tranquilidade nas pequenas cidades/aldeias francesas que me faz ter vontade de passear, ou apenas estar, mesmo que seja apenas um pouco, por ali, em paz!
Mas o meu grande destino daquele dia estava uns quilómetros mais a norte, por isso acabei por seguir para o sítio onde passaria grande parte do dia!
A França – Fontainebleau, Orléans…
2 de setembro de 2012 – continuação
Fontainebleau foi um nome repetido por muito tempo na minha vida e na minha memória! Fez parte dos meus estudos como aluna e, posteriormente, como professora! As artes estão intimamente ligadas a Fontainebleau, desde que os artistas italianos contratados para trabalhar na remodelação, aumento e decoração do palácio, introduziram o Maneirismo na França e a França rebatizou o estilo como “estilo Fontainebleau” que conjugava diversas expressões artísticas e decorativas, escultura, pintura, modelagem em estuque e pormenores decorativos em diversos materiais! Depois foi a Escola de Fontainebleau que surgiu em mudanças em pintura e gravura.
Ao aproximarmo-nos da cidade e do palácio encontramos numa rotunda o marco comemorativo do encontro entre Napoleão e o papa, quando este veio consagra-lo Imperador.
Em frente ao palácio não faltava onde estacionar a minha motita, afinal estava em França, onde as motos são muito bem recebidas!
E lá estava ele, um dos maiores palácios reais franceses e ninguém fica em dúvida quanto a isso ao aproximar-se dele!
Tive a sorte de chegar ali ao domingo e a entrada era grátis!
Mal se entra no pátio de acesso, somos rodeados pelas alas laterais e há palácio por quase todos os lados!
Lá dentro é a opulência! As alas sucedem-se, os quartos de reis, de rainhas, de conselhos, de armas, de tudo…
A dado momento sentia-me dentro de uma caixa, decorada por todos os lados, tal é a acumulação de elementos decorativos, paredes forradas, pinturas, tetos trabalhados e tecidos floridos! Eu morria ali com todo aquele ruido visual!
Comparativamente a capela do palácio nem é a coisa mais decorada do edifício!
Longas galerias levam-nos de uma ala para outra.
E o salão de baile é aquela coisa gigantesca! Também para que as longas saias rodadas e volumosas, cheias de sedas e folhos, coubessem ali entre danças e exibições, todo o espaço seria pouco!
Pela janela vê-se o pátio entremuros, que já parece um pátio moderno, sem qualquer recanto de jardim, apenas pedra!
E junto ao salão de baile há uma outra capela muito antiga do séc. XIII, que foi descoberta com a ampliação do palácio no séc. XVI, a capela de Saint-Saturnin.
E foi então que encontrei a mulher das muitas maminhas! Ele há cada ideia! Provavelmente terá a ver com a fertilidade ou algo do género, mas uma mulher com tantas mamas realmente terá de manter as mãos na cabeça para não amaçar nenhuma! eheheheh
E a opulência mantem-se pelo palácio fora!
A sala do trono e o próprio trono até me pareceram meio despidos perto de todas a decoração e opulência que se encontra por ali!
La Galerie de Diane é a maior divisão do Château de Fontainebleau e foi noutros tempos a galeria da rainha, com 25 metros de comprimento e 7 de largura. Foi construída por Henrique IV no séc. XVIII e restaurada no século seguinte e a sua decoração conta a história da deusa Diana. Durante muito tempo serviu de passagem para a sala de banquetes até ser transformada em biblioteca que comporta 16.000 livros! O grande globo ao topo das escadas pertenceu a Napoleão I. Um espaço extraordinário e com um ambiente imponente que não podemos pisar, apenas observar, o que o torna mais irreal e impressionante!
E saí finalmente do outro lado para visitar os jardins e os lagos! Alguns patos estavam acampados numa fonte e faziam uma festa no pedacinho de água! Digo pedacinho porque ali ao lado os lagos são de perder de vista e cortar a respiração!
Mas o pormenor mais interessante que me prendeu a atenção foi que havia um restaurante no castelo, que estava aberto e ainda servia refeições e estava mesmo na hora de comer! Eu nem sou de saladas, mas aquela estava deliciosa!
De barriga cheia passeia-se muito melhor!
São 80 hectares de parque e jardins, que nos fazem parecer passear por caminhos infinitos! Fizeram-me lembrar os jardins e lagos de Versalhes!
Dizem que reis se passearam por aqueles lagos e canais em galés! (grandes barcos a remos que podem ter também mastros)
Voltei ao palácio, eu não me iria pôr a percorrer quilómetros de parque para depois ter de voltar e duplicar a quilometragem feita!
Começava a chegar muito mais gente para visitar o palácio, depois do almoço!
E fui buscar a minha motita, pois eu tinha visto que se podia entrar no parque de carro/moto e assim não tinha necessidade de percorrer aquilo a pé!
Dá-se a volta pela cidadezinha, que mais à frente estava cheia de motos, e procura-se a passagem para entrar no parque..
A grande dimensão dos caminhos provoca sempre efeitos deslumbrantes. Sentia-se já o outono a chegar!
Sentei-me um pouco no relvado… há momentos de imensidão e paz para nunca mais esquecer!
É claro que tirei um milhão e meio de fotos… e segui finalmente para Orléans, pois queria visitar a cidade onde Joana D’Arc é tão venerada. Uma das padroeiras da França é chamada de «A Donzela de Orléans».
E está representada no altar-mor da catedral de Orléans!
A catedral é gótica do séc. XII e é espantosa!
A cidade é acolhedora e tem uma zona histórica interessante.
As referências a Joana D’Arc estão bem presentes, na Maison du Diane de Poitiers – Musée Historique, uma das mais antigas casas da cidade.
Mais à frente, no outro extremo da avenida da catedral, fica a casa de Joana D’Arc.
tudo já fechado àquela hora…
“Nesta casa, reconstruida em 1965, Joana D’Arc foi hóspede de Jacques Bovcher, tesoureiro do Duque de Orléans de 29 a Abril a 9 de maio de 1429”
Ainda brinquei um pouco por ali…
Fui tomar qualquer coisa a uma esplanada…
Dei uma voltinha a pé e voltei a encontrar a Joana, numa estátua equestre no meio de uma praça!
E fui para casa em Orléans, que no dia seguinte daria mais um passo na direção da minha casa em Portugal!
Fim do trigésimo quinto dia de viagem!
A França – Meung-sur-Loire, Chambord
3 de Setembro de 2012
As coisas precipitam-se sempre um pouco na minha cabeça quando uma viagem se está a aproximar do fim. De repente a sensação de que não vi muita coisa que queria e a sensação de que passará muito tempo até eu poder voltar a partir, começam a interferir no meu ânimo! Tinha recebido um mail da escola comunicando uma reunião e eu teria por isso de chegar a casa a tempo! Isso entristeceu-me um pouco pois era sempre menos um dia na minha epopeia…
Então fiz-me à estrada querendo ver tudo o que me aparecesse no caminho, à medida que descia o país na direção de Tulle.
Claro que fui parando nas terrinhas que me apareciam e, a dada altura, tive de parar com isso e correr para não chegar a meio da noite ao meu destino! Nada disso aconteceria se eu não tivesse de repente de estar em casa no dia 8…
Meung-sur-Loire chamou-me atenção ao longe e fui ver como era. É comum os Franceses acrescentarem ao nome das cidades um “sur” e o rio que lhe está próximo e ali continuava a ser o rio Loire!
A cidadezinha é deliciosa! Medieval e com uma igreja espantosa, a Collégiale Saint-Liphard do séc XII, com boa parte românica e a sua torre fortificada que parece a torre de um castelo!
Encostadinho à igreja fica o castelo, quase se confundindo com ela, aliás as suas partes mais antigas serão mesmo contemporâneas da collégiale!…
O castelo é lindo e deu-me imensa pena não poder visitar, pois estava fechado! Por azar o horário muda em Setembro, quando começa a abrir só de tarde…
Um castelo cheio de história, que participou na história da França, entre outras personalidades Joana D’Arc passou lá!
Soube que é muito bonito e que vale a pena visitar, mas teria de ficar para outra altura!
Dei uma volta pela cidade, que é encantadora!
E lá estava a estátua da Joaninha! Afinal ela libertou a cidade por isso é venerada por ela! Chamam-lhe a Libertadora!
A torre imponente do antigo Hôtel Dieu do séc. XII. Curioso chamarem Hotel de Deus aos hospitais ou hospícios!
E mais uma igreja impressionante, a Abbatiale de Notre Dame, do séc. XI, que conservou elementos românicos espantosos, apesar das remodelações posteriores!
Aquele altar apaixonou-me! Quando temos o hábito de ter os batistérios aos “pés” das igrejas, ali a pia batismal está bem no topo da igreja, e o efeito é lindo!
Foi uma agradável descoberta Meung, serena e antiga como eu tanto gosto!
Há coisas feias que se encontram no meio do paraíso… que acabam por se tornar lindas no contexto!
E de repente não resisti, desviei-me do meu caminho e fui atras das placas…
Eu já fizera aquele caminho e já sabia que a estradinha é longa e cheia de avisos, pois há animais à solta por ali, é preciso ter cuidado com as velocidades! Já uma vez na Eslovénia quase chocava com um alce que atravessou a estrada de um salto e deu para perceber que, ou se vai devagar… ou é a morte do artista!
E pude comprovar que em França sabem que existem portugueses, e escrevem, entre outras línguas, na nossa língua, porque somos gente! Coisa que não acontece em Espanha, por exemplo, um país que fica tão longe do nosso que tem folhetos, placas e indicações em francês, inglês, alemão ou italiano, mas raramente em português!
E lá estava ele, o Château de Chambord, um dos maiores castelos do Vale do Loire!
Eu visitara os seus exteriores a pé, da última vez que ali estivera, por isso fui pelos caminhos que sabia onde a moto podia passar. Não me apanham a caminhar duas vezes por uma extensão tão grande se descobri caminho para a minha motita para lá! Claro que depois pusemo-nos a tirar fotos uma à outra com o castelo como paisagem, como fazem os turistas todos!
Mas desta vez fui visita-lo por dentro…
A França – Château de Chambord, Blois, Amboise, Tours…
3 de Setembro de 2012 – continuação
De cada vez que passei em Chambord prometi a mim mesma que teria de visitar o palácio/castelo por dentro e nunca o fiz! Desta vez, que nem pensara em lá passar e me desviei à última hora, não resisti! “Que se lixe a distância, se chegar a meio da noite para dormir, alguém me há-de abrir a porta!”
Uma das coisas que me chamava a atenção era a famosa escada em dupla espiral e ela está logo ali, é o coração do edifício!
Dizem que o edifício foi concebido segundo um esboço de Leonardo da Vinci e que a Grande Escada, em dupla espiral, foi mesmo um projeto seu! Esta escada fantástica tem a particularidade de entrelaçar duas espirais, o que faz com que quem sobe numa não cruza com quem desce noutra!
No meio, uma coluna de vazio se forma até à claraboia superior, provocando uma perspetiva alucinante com aberturas de corrimão até ao topo!
O castelo de Chambord é do séc. XVI e nunca foi completamente concluído, afinal ele era apenas uma residência de caça e para uns dias de caça quase 2000 pessoas acompanhavam o rei! Quanta privacidade!
Durante a ocupação nazi as obras do Louvre foram trazidas para lá, a fim de as salvar da pilhagem e destruição e entendemos a escolha quando nos aproximamos do palácio e nos apercebemos o quanto ele fica longe de tudo! Bem como quando percorremos os seus longos corredores, alas e salões, entendemos porque foi escolhido para proteger tão importantes obras!
Os telhados são repletos de elementos decorativos que se misturam com chaminés e respiros e criam perfis curiosos do edifício!
As escadas nos recantos dos pátios interiores, como “tourelles” são escadas em caracol deliciosas!
Há pormenores curiosos no palácio, os quartos de dormir são muito grandes, as camas parecem altares, cheios de cortinas em dossel, por vezes mesmo com grades que separam o espaço da cama do restante quarto e no entanto as camas são tão pequenas!!
Eu estive-me lá a medir e não caberia assim tão bem ali dentro! Para além de me sentir claustrofóbica!
E em cada andar a fantástica escadaria domina o cruzamento de salas e corredores!
Ao longe, pela janela vislumbra-se o fosso! Um fosso que foi construído, já de origem, para ser decorativo e serve ainda hoje a sua finalidade, pois é fantástico!
E as torrezinhas de escadinhas em caracol são lindas vistas de cima!
Lá de cima podem-se ver finalmente as clarabóias, as cúpulas, as chaminés e os telhados escamosos, em pormenor e a perspetiva é fascinante!
Toda aquela “tralha” que se vê de longe em cima do edifício fica ali ao nosso lado!
O jardim não tem fim…
Chega-se lá acima ao telhado, pela fantástica escada em duplo caracol, que termina numa torre oca, decorada e impressionante!
E, claro, depois de ter espreitado de baixo para cima, tive de espreitar de cima para baixo, pelo vão cilíndrico que se forma no centro das escadas espiraladas!
Momentos em que, quem desce numa escada, cruza olhares com quem sobe na outra!
magnificas escadarias…
E à medida que me afastava do castelo, para ir buscar a minha motita e seguir viagem, não consegui afastar os olhos dele, nem deixar de fotografa-lo…
E Chambord despediu-se de mim na minha própria língua, com um “Obrigado”!
Segui nostálgica o meu caminho. Porque tinha o tempo de estar cinzento? Para me entristecer mais ainda o regresso?
Blois veio logo a seguir, depois da Reserve National de Chasse de Chambord, uma cidade bonita e acolhedora que me proporcionou enquadramentos muito bonitos, com o famoso Loire a completar o quadro!
Foi uma pena passear por Blois com o céu cinzento!
Encontrei a igreja de Saint-Nicolas, uma construção tão monumental quanto bela!
Uma daquelas belas igrejas românicas que me faz parar imediatamente, saltar da moto e ir ver!
E lá dentro a atmosfera é tão pura quanto a arquitetura que a cria!
O núcleo histórico da cidade é muito bonito e bem conservado, sem monstruosidades arquitetónicas a perturbar a sua beleza!
Ruelas como nesgas, entre casas, improprias para claustrofóbicos, não faltam por lá!
No seguimento do meu percurso passei em Amboise, porque ficava na margem do meu caminho! E de novo não fui visitar o seu castelo! Voltei a fazer uma foto com a moto no mesmo lugar como fizera em 2009, quando lá passei a ultima vez, com o Rio Loire como paisagem e o château d’Amboise ao fundo!
Ainda não foi desta que o fui visitar por dentro, ficará para uma próxima vez!
E ao chegar a Tours, numa curva do caminho, uma moto me saltou à vista! Parei de repente mais à frente e voltei para confirmar que não me enganara: era mesmo uma X11, uma linda motita igual à do meu moçoilo!
Naquele dia publiquei a imagem no meu mural do facebook, para que ele a visse!
E lá estava a catedral de Tours! Linda e imponente construção gótica que demorou 4 séculos a ser concluída, entre o séc. XII e o XVI.
Esta era uma das catedrais que queria muito ver e foi por ela que ali fui, embora a cidade também me despertasse o interesse.
Afinal eu só visitei 32 das 51 mais belas catedrais de França, ainda me falta visitar tantas! 😉
Aqueles tetos “suspensos sobre pedacinhos de vidro chumbado”, que são os vitrais, fascinam-me! Como uma luta entre o terrestre e o divino, entre o peso e a gravidade!
E estava na hora de ir embora! O sol não queria nada comigo e eu queria ir dormir muito longe dali! Dei uma última olhada a Tours e segui sem parar nem pensar muito até Tulle, em mais de 300 quilómetros de paisagens tão lindas quanto tristes, pela despedida e pela falta de sol…
Cheguei à “minha casa” daquela noite, tarde. Uma maison d’hotes linda e com um anfitrião muito simpático que me ofereceu um lanchinho bem-vindo e dois dedos de conversa, que eu já vinha calada há muitas horas!
O meu quarto, como toda a casa, parecia um quartinho de bonecas, quente e aconchegado, que por aqueles dias as noites já eram frias!
E foi o fim do trigésimo sexto dia de viagem…
A França – Gimel les Cascades et le Château de Sédières
4 de Setembro de 2012
De manhã um belíssimo pequeno-almoço me esperava! Ui, e como eu gosto de comidinha variada antes de partir! Fiquei a saber, enquanto comia, que por ali pela zona havia uma série de coisas curiosas para ver. Uma das vantagens de se viajar sozinha é que as pessoas falam para mim, dizem-me coisas que me interessam. Quando viajei acompanhada não havia tanta interação, porque a tendência é falar para quem está comigo e as pessoas não se metem na conversa!
Rapei do mapa e tratei de ir ver primeiro o que havia ali na zona, para depois ir mais longe, onde planeara ir.
Eu estava em Lapleau, uma terrinha tão simpática quanto perdida no meio de lado nenhum! Na noite anterior pensei que o meu Patrick (GPS) estava doido ao dizer-me que eu estava a chegar e eu apenas via ruelas estreitas com mato dos dois lados! Mas era mesmo ali, uma pequena localidade, que pude ver no dia seguinte, era bem bonita!
Com direito a igrejinha medieval e tudo!
As casinhas são deliciosas por ali! Apetece bater às portas e pedir para ver como são por dentro!
E o meu destino ficava a uns trinta e poucos quilómetros dali: Gimel-les-Cascades e as suas cataratas!
Curioso que a entrada para o recinto das cascatas faz-se por um café na beira da estrada, onde fica um portãozito sem segurança!
Depois começa-se a descer por caminhos que levam de uma cascata para outra, passando por uma casa que não entendi o que fazia ali!
As cataratas são compostas por três quedas sucessivas do rio Montane de uma altura total de 143 metros: Le Grand Saut de 45m; La Redole de 38m e La Queue de Cheval de 60m, esta ultima mergulha no “Gouffle de L’Inferno”, achei piada dizerem “inferno” e não “enfer”.
A primeira aparece logo a seguir à casa do caminho: Le Grand Saut de 45m
Muito bonita!
Cada vez que desço penso que terei de subir tudo de novo! E eu já estava a descer tanto apenas para a primeira catarata!
Depois lá em baixo a gente segue o percurso da água, pois a catarata seguinte estará mais à frente.
E lá está La Redole de 38m
E tinha eu de descer mais uma infinidade de metros!
Muito bonito o percurso e o ambiente!
Tive a sorte de andar completamente só por ali, o que fez a visita revestir-se de encanto! Não havia ninguém a tentar ser fotografado em frente das quedas de água como me aconteceu no parque de Plitvička Jezera na Croácia, em que as pessoas faziam filas para a fotografia!
Deu até para me sentar um pouco e apreciar o momento!
E cheguei à Queue de Cheval de 60m e ao “Gouffle de L’Inferno”
E comecei a subida infinita, por um caminho em ZZ e com o barulho da água bem forte atrás de mim!
A aldeia, que se chamou apenas Gimel até há poucos anos, hoje chama-se Gimel-les-Cascades e é muito bonita, cheia de história pois é de origem medieval.
O que eu gosto daquelas aldeiazinhas francesas, com as ruínhas muito bem desenhadas e limpas, as casinhas nas bermas parecem projetadas especialmente para conviverem com qualquer época histórica, pois continuam lindas, tantos séculos depois de terem sido erigidas!
E o precipício das cataratas é logo ali! A gente pode mesmo ouvir a água que corre e bate lá em baixo!
Mas havia mais coisas que eu queria ver por aquelas bandas. Segui o meu caminho, ainda afogueada pelo calor da exploração das cataratas, na direção de Tulle, mas o meu destino ficava fora do caminho, uns quilómetros mais à frente.
Começa-se por se passar por lagos e floresta, afinal dizem que são 130 hectares de terreno florestal!
Só o percurso já valia a pena o passeio!
Mas o que eu queria visitar era o Château de Sédières, um castelo medieval encantador do séc. XV, que foi remodelado em estilo renascentista um século depois, e hoje é local de exposições!
Ao chegar ao parque de estacionamento da propriedade, um enorme cão veio na minha direção. Já um dia um cão me pôs ao chão mais a minha moto, por isso não esperei que se chegasse a mim e pus o descanso “que me morda mas que não atire comigo e com a moto!” A dona era uma senhora gorda que o chamou logo. O cão obedeceu e ela exclamou para o jardineiro e para as pessoas que andavam por ali “olhe, o senhor motard não teve medo nenhum da cadela!” mas o seu espanto acabou por se traduzir em grandes gargalhadas quando eu arrumei a moto e tirei o capacete, “é uma senhoraaaa!!!” exclamou ela!
Fez-me uma festa, fartou-se de falar comigo e eu fiz a minha parte conversando outro tanto com ela, enquanto caminhávamos na direção do castelo. Ela vivia ali na zona e ia frequentemente passear a cadela para ali pois é uma propriedade muito bonita e livre de trânsito. Perguntou-me se eu também ia frequentemente passear para lá, pois nunca me vira! Disse-lhe que era a primeira vez pois não era dali. Ficou espantada por eu ser portuguesa “mas você fala o verdadeiro francês!” Percebi que se referia ao francês de França e não ao francês de quem está de passagem!
Fiquei lisonjeada por saber que tenho mais sotaque do norte no meu português, do que de estrangeira no francês!
E lá estava cadela toda contente a enquadrar com o castelo!
Dois motivos me levavam ao castelo: a sua beleza arquitetónica e perfeito enquadramento na propriedade deslumbrante e a exposição que estava patente no seu interior!
Não é todos os dias que se podem ver obras de Niki de Saint Phalle (falecida em 2002) ao vivo! A pintora/escultora das bonecas gordinhas e coloridas!
Ou obras de Arman, (falecido em 2005), o pintor/escultor das “tralhas” e das desconstruções!
A conjugação do interior antigo com as obras modernas fazia um efeito curioso e agradável! Perdi-me ali dentro!
Depois vieram os lagos de novo e os enquadramentos que o castelo permite no seu ambiente envolvente.
E despedi-me do belo castelo pois tinha tantas coisas fantásticas para ver ainda naquele dia!
A França – Tulle, Collonges la Rouge, Martel, Rocamadour, Cahors.
4 de Setembro de 2012 – continuação
Segui para Tulle que ficava logo a seguir no meu caminho! Uma cidade muito antiga e com um centro histórico acolhedor!
Tulle é uma cidade cheia de história, mas a história recente é profundamente triste e violenta e foi uma das razões que me fez lá passar. Nada se vê, nada ficou para contar como foi, mas ali morreu muita gente durante a segunda Guerra, quando as SS torturaram e executaram mais de 200 pessoas, depois do desembarque na Normandia…
A sua catedral do séc. XII é bonita e estava em obras! Cathédrale Notre-Dame de Tulle
Devia ser proibido pendurar porcarias nas paredes e colunas de um edifício histórico como uma igreja!
O altar é uma peça de design muito curiosa, que tem um tampo de vidro que parece que pode irradiar luz! Gostei!
A envolvência da catedral é encantadora e preservada de estacionamento, graças a Deus, embora se veja um carrito fora da lei de vez em quando!
E um dos meus grandes destinos daquele dia era a terrinha vermelha de Collonges-la-Rouge que, conforme o nome diz, é toda vermelha!
Descobri esta aldeia encantadora nas minhas pesquisas e não descansei enquanto não a fui ver de perto com os meus próprios olhos! E não dei a visita como perdida, porque ela é linda!
Uma aldeia antiga numa zona de terras vermelhas que permitem um bom trabalho de cerâmica e que os habitantes unidos trataram de classificar como sítio de grande interesse e hoje está em primeiro lugar na lista das cidades mais belas de França!
Chamam-lhe a aldeia das 25 torres e é totalmente construída em arenito vermelho que lhe dá o nome!
E podem-se ver realmente uma série de pequenas torres por lá!
A igreja do séc. X, linda, como tudo por ali! Na realidade há ali uma concentração de edifícios de diversos séculos desde o século décimo até ao século dezasseis, em perfeito estado de conservação!
O portal da Igreja de Saint-Pierre é uma joia lindíssima, esculpida em pedra branca, no meio de todo o vermelho da igreja e da aldeia!
E a gente passeia-se pelas ruelas encantadoras sem ter vontade de ir embora!
Faltava o sol, mas não faltava o calor e eu aproveitei o belíssimo decor do ambiente para me sentar numa esplanada e tomar uma bebida fresca, disfrutando do privilégio de me encontrar ali!
Na parte baixa da aldeia fica o “Castel de Vassinhasc” construído pela família que lhe deu o nome, no séc. X! Puxa aquilo tem 10 séculos de habitação civil!
E vindo de baixo pode-se ver toda a igreja, com o campanário ainda românico no centro!
A aldeia é um dos locais mais visitados do Limousine e entende-se bem porquê! As pessoas apenas se passeiam de um lado para o outro sem terem vontade de ir embora!
E foi um dos poucos sítios que visitei em que as pessoas têm mesmo vontade de fotografar a paisagem, mais do que fotografarem-se a si mesmas em frente a ela!
E foi mais um sítio onde tive vontade de bater às portas e pedir para ver como era uma casa daquelas por dentro!
Depois de umas horas embrenhada em tanta beleza a vontade de visitar muitas mais coisas reduziu grandemente! Mas era cedo para voltar para casa, por isso segui mais um pouco, veria ou visitaria o que me apetecesse e voltaria depois para casa!
E cheguei ao Pays de Martel!
Afinal existem martelos de verdade por aí e são lindos!
Eu tenho de voltar àquela zona para explorar todos os seus encantos, foi prometido naquele dia, ao atravessar tão belos recantos!
A cidade deve o seu nome a Charles Martel, avô de Carlos Magno e o seu brasão tem mesmo 3 martelos!
O centro histórico é lindo e acolhedor, com torres, palácios praças de traçado medieval bem conservados.
O sol, que tinha voltado, tornou ainda mais bonito o conjunto!
É curioso como a cada local cheio de beleza que encontro tenho a sensação que de atingi o ponto alto do dia e a seguir vem outro sítio espantoso e volto a encantar-me!
O Palácio da Raymondie do séc. XIII, tem um museu a funcionar.
Mas ele próprio é uma peça de museu! Ali funciona também o posto do turismo, onde eu me desgraço sempre, pois encho-me de papéis que servirão para desenhar novas viagens, claro!
Um dia passeava em grupo e fui a um posto de turismo. Ninguém quis nada de lá, mas eu enchi-me de papelada, até me deram um saco para eu carregar tudo. Alguém do grupo comentou “montes de papeis para por para o lado lá em casa?” eu fiquei espantada com o comentário brincalhão “claro que não! Tudo o que recolho leio e consulto e volto para visitar logo que posso!” porque é mesmo isso que eu faço!
Ainda seguiria mais um pouco. Mais à frente ficava uma cidade que queria ver… Avistei-a de longe, na encosta do outro extremo…
A encosta da falésia é, ela própria, a “Cité du Vertige” (Cidade da vertigem)!
Diz a lenda que Rocamadour deve o seu nome a “roc amator, amante das rochas”, que um eremita, Zaqueu de Jericó, amante das rochas escavou o seu ermitério naquela falésia!
Na realidade toda uma cidade se desenvolveu em seu redor e lá permanece, “pendurada” no abismo, a cidade da vertigem!
Um deslumbramento olha-la de todos os ângulos do desfiladeiro e sentir a vida que pulsa dentro dela. Um dia terei de lá voltar para a explorar demoradamente, porque é muito para além de bela!
Estava muita gente por lá, não podia deixar a moto à porta, teria de a deixar muito longe e apanhar o comboio panorâmico… Decidi subir o penhasco e ver a cidade de cima!
Há um acesso para vermos a cidade de cima, pelo castelinho.
E de cima eu percebi o quanto a cidade estava repleta de gente, bagunça e aperto!
A perspetiva é deslumbrante ali de cima!
Pus-me a olhar para o relógio, não era nada cedo, tudo estaria fechado ou a fechar! Não valeria a pena ir visitar a cidade numa corrida pelo meio do povo, deixando a moto tão longe! Por isso decidi que voltaria um dia, com tempo e calma e… de preferência menos gente!
Ainda me deslumbrei mais um pouco com aquela “cascata sanjoanina”
E fui gastar mais um pouco de pneu porque as estradas, essas estão sempre abertas!
Ainda passei em Cahors… mas o que seria para visitar estava fechado e o resto cheio de gente, bagunça e trânsito caótico!
A catedral de Cahors, que eu queria visitar por dentro, porque é românica do séc. XI, porque embora tenha já mistura de elementos góticos, mantem o seu aspeto fortificado que tanto aprecio.
Ainda passei pela Tour Jean XXII, a torre do papa que nasceu em Cahors, pois então!
Mas não me apetecia de todo andar no arranca e para de quem volta do trabalho e apinha todas as ruas de uma cidade! Mesmo os passeios estavam repletos de gente e as esplanadas também! Para tanta confusão não preciso de ir para tão longe, fico mesmo pelo meu Porto em hora de ponta!
Dei a volta e sai pelo outro lado muito direitinha, rumo às ruelas rurais que tanto aprecio!
E foi nesse “passo de passeio” que eu voltei calmante passando por pequenas povoações como Thegra, que ficou na minha lista para catar da próxima vez que for passear por aqueles lados, pois há por ali um castelo deslumbrante!
Os castelos, palácios e habitações apalaçadas são comuns por ali!
Parece que estamos a passear pela terra dos livros de contos de fadas!
E cheguei a casa, que naquele dia ainda era em Lapleau…
E foi o fim do trigésimo sétimo dia de viagem…
A França – Le Viaduc des Rochers Noirs, le Château de Val, Sarlat-la-Canéda…
5 de Setembro de 2012
Cada manhã, cada dia tinha cada vez mais o sabor do regresso. Havia tanta coisa para ver, o tempo era tão pouco e a distância tão longa! Por muito longas que sejam as viagens a mim vão-me parecer sempre pequenas para tanta coisa que há para ver!
Segui por caminhos e estradinhas secundárias, deixando-me levar pela nostalgia do caminhar para casa…
Havia algumas coisas que eu queria ver e fiz um caracol no mapa antes de descer para Pau onde pernoitaria a noite seguinte.
Na maison d’hotes, onde eu ficara aquelas duas ultimas noites, perto de Tulle, falaram-me de algumas curiosidades da zona, entre elas o Viaduc des Rochers Noirs, uma ponte histórica que, segundo a narrativa dos locais, nunca foi destruída pelos bombardeamentos nazis, por milagre!
Aquela ponte foi usada pelas pessoas da Resistência com o apoio da população, que as avisava se podiam ou não passar usando velas que acendiam nas janelas! Soube também que fora construído em 1918 para uso exclusivo de comboios e só em 1959 foi encerrado a todo o trânsito e ficou exclusivamente pedonal. É monumento nacional e naturalmente eu quis vê-lo de perto!
Passei lá de manhã cedo, antes de seguir para sul. Era cedo, estava sol, o dia perfeito para uma visita histórica… fotografei-o lá de cima do topo da encosta, na berma da garganta que ele atravessa, depois desci até ele e… havia polícia lá em baixo, e bombeiros e ambulâncias… Um polícia veio ter comigo, comunicou-me que não poderia aproximar-me do viaduto. Disse-mo num tom quase pesaroso. Perguntei-lhe o que se passava ali… “um homem se suicidou aqui há apenas alguns minutos…” respondeu-me ele. Um frio percorreu a minha coluna. Uns minutos antes e poderia ter sido eu a encontrar o corpo! Olhei com mais atenção e vi o corpo no meio da rua mais à frente. “não há problema” disse eu ao policia “eu vou embora, não vou perturbar o vosso trabalho”… tirei uma foto discreta ao viaduto… e parti….
O choque da situação acompanhou-me por um tempo, enquanto fui rolando quase ao acaso. Só hoje me pergunto como seria atravessar o viaduto a pé e fotografar o abismo por baixo! Limito-me a ver imagens da net e pensar se lá voltarei a passar um dia!
Lá acabei por me ligar à terra e direcionar o meu caminho para o Château de Val.
O Château de Val é um castelo encantador do séc. XIII que foi construído e transformado até ao séc. XV.
Não tinha qualquer espirito para me pôr a visitar castelos, por isso limitei-me a passear por ali e tirar um milhão de fotos, porque o castelinho é mesmo encantador!
Fica na borda do lago de Bort-des-Orgues, bem pertinho de Tulle e podiam-se ver barcos de recreio oferecendo passeios turísticos pelo lago.
Mas nada disso me apetecia. Sentei-me no murito que separa a praia do nível superior, junto às árvores, e fiz um desenho giro do castelo!
O cenário que o enquadra propicia fantasias românticas e históricas e já foi utilizado em vários filmes, entre eles uma versão francesa de “Frankenstein”.
Ao passear-me ali, pela praia, lembrei-me de uma ideia antiga de visitar todos os castelos medievais que encontrasse por terras francesas! A atmosfera que se vive junto de uma construção tão fantástica como esta fascina-me tanto como a atmosfera de uma catedral medieval…
As ruínhas continuavam deliciosas! É a parte que mais gosto de estrada de uma viagem, quando me meto por caminhos de ninguém, onde apenas os locais circulam!
E ao dar a volta e voltar a uma rua “decente” lá estava o castelinho ao longe!
Claro que fiz uso do meu novíssimo zoom de 20X para o “apanhar”! Que coisinha fofa!
Mais à frente vi ao longe o Château de Salignac… e tive vontade de ir vê-lo…
Parei um pouco na berma da estrada a olhar para ele. É medieval, é lindo e está na minha lista de futuras visitas, pois já vi que a cidade que o alberga, Salignac-Eyvigues tem todo o ar de ser linda!
Às vezes é nestas breves paragens na berma da estrada que reside o motivo para uma próxima viagem!
Segui para Sarlat, que por aquelas bandas parece que os nomes das terras terminam sempre em “at!”
Sarlat-la-Canéda é mais uma cidade medieval apaixonante, como parece que é tudo por ali pela região do Dordogne! Ok, a bem dizer todas as regiões são bonitas por ali!
O centro histórico é grande e grandioso! Um dos maiores conjuntos medievais do mundo, composto por uma rede intrincada de ruínhas ladeadas de casas de arenito amarelo, com telhados de ardosia espantosos!
Lá fui entrando numa igreja ou noutra como a igreja de Saint-Sacerdos do séc. XVII
A cada passo a cidade serve de cenário para filmes de época pois presta-se perfeitamente pela grade extensão de espaço medieval intocado!
Muitas outras cidades francesas tiveram centros medievais igualmente espantosos mas que foram sendo destruídos pela modernidade. Sarlat foi a primeira cidade a beneficiar de uma lei/programa, nos anos 60, que incentivava os proprietários a restaurar os seus edifícios contra grande dedução nos impostos, o que permitiu manter a cidade até aos dias de hoje, impecável!
A Ancienne église Sainte-Marie, uma igreja do séc. XIV, depois de ter deixado de servir a sua função, já foi Posto dos Correios, já esteve abandonada durante muito tempo e apenas há 10 anos foi remodelada e transformada num mercado coberto e espaço de exposições! Havia fila à porta para subir o elevador e ter uma vista panorâmica sobre o centro histórico… não fui! Detesto filas!
E as ruelas parecem nunca terem fim, nem os seus encantos!
A fonte de la Vierge Marie foi durante muito tempo o único ponto de água da cidade. Os viajantes refrescavam-se ali e atiravam moedas para a água que os putos corriam a apanhar!
No fundo da gruta está a estátua da virgem!
Ali à beirinha uma motinha pequerrucha tinha ar de ter participado num casamento! Estava toda adornada com papel crepe!
Tudo tão bonito e encantador por ali que não me apetecia ir embora!
E não fui! Tratei mas é de encontrar um sítio bem bonito para me sentar e comer, que estava na hora e, com um ambiente daqueles, eu não iria comer uma sandoca qualquer! Ia sentar-me numa mesa e comer mesmo, usufruir da beleza do local
E lá estava o sítio ideal para me sentar, comer e disfrutar do momento!
Depois tive mesmo de me pôr a andar…
mas a estrada também seria bonita, com palácios e paisagens rurais como eu tanto gosto…
até chegar a Bergerac, a terra do Cyrano, o homem do grande nariz!
A França – Bergerac, Pau…
5 de Setembro de 2012- continuação
Bergerac é uma cidade de origem medieval linda, onde o Cyrano de Bergerac nunca viveu!
Na realidade o Cyrano que inspirou a peça de teatro, que já deu origem a filmes e operetas e tudo, existiu mesmo, chamava-se Hector Savinien de Cyrano de Bergerac, foi um escritor-soldado-doelista do séc XVII, que acrescentou “de Bergerac” ao seu nome por causa de terras que teriam sido da sua família na antiga localidade onde nasceu Bergerac!
Dois séculos depois a sua história, por ser “meio irrequieto”, inspirou o criador da peça de teatro, Edmond Rostand, que o recriou com um grande nariz!
Ora a cidade, embora nunca lhe tenha servido de habitação, honra-o com diversas homenagens e referencias!
A Eglise Notre Dame de Bergerac em estilo neogótico do séc. XIX, recebe-nos logo ali, junto ao centro histórico da cidade!
Claro que fui dar uma espreitadela antes de ir ver as ruelas!
Quem gosta do gótico genuíno, nunca fica indiferente ao neogótico! Afinal a inspiração no estilo medieval é visível! A grande diferença está nos muitos séculos que separam os dois estilos…
E logo ali abaixo fica a estátua mais recente de Cyrano! Policromada e sobre um plinto inoxidável é impossível passar despercebido a quem passa!
Está na Pelissiere Place e é muito interessante!
Por trás da escultura fica Maison Cyrano de Bergerac, onde se vendem produtos de qualidade, típicos da zona.
A cidade tem uma outra estátua de Cyrano, mais antiga, em pedra, que está numa praça mais abaixo! Fui descendo pela praça encantadora e cheia de vida até a encontrar.
A “Font-Ronde” denuncia o quanto é antiga e as esplanadas em redor permitem bem disfrutar do ambiente formado por edifícios da mesma época bem conservados ou restaurados!
Um tipo de lá de cima de uma janela brincou comigo, por eu andar ali de um lado para o outro a tirar fotos “Tire-me uma foto a mim!”- disse ele “Eu? Nem pensar!” – respondi eu – “Eu só tiro fotos a coisas bonitas e você é feio!” as pessoas desataram a rir-se! Mas ainda o apanhei meio desconsertado lá em cima na janela a olhar meio parvo para mim! eheheh
A zona antiga é muito bonita e pitoresca, com casinhas medievais de travejamento exterior, ou de pedra com as beiras e venezianas das janelas em madeira colorida, como postais ilustrados!
E lá estava a segunda estátua de Cyrano, na place de la Myrpe!
Uma cidade encantadora que vou voltar a visitar quando for explorar melhor aquela zona… sim, já está em agenda para um dia mais tarde voltar!
Depois dispus-me a deixar de me distrair e parar para ver tudo o que surgisse no meu caminho e continuar a descer o mapa pela província da Gasconha…
Mas eis que em Marmande cruzei com o Canal du Midi!
Aquele canal anda-me a chamar há vários anos e eu ando a querer lá ir! Ui, a informação que eu já recolhi sobre ele, até já comuniquei com aficionados e historiadores de lá… agora só me falta ir lá faze-lo de uma vez, de ponta a ponta…
E fui para Pau, que desta vez não havia muito tempo a perder… estava a caminhar para casa rapidamente!
Fui jantar numa esplanada na zona antiga da cidade.
A minha motita fez uma série de amigas num instante!
E lá tive de ir dormir, que no dia seguinte faria o longo percurso até casa, o que, se eu não me perdesse com nada, faria uns novecentos e tal quilómetros… mas eu “perco-me” sempre, nem que seja só um bocadinho!
Fim do trigésimo oitavo dia de viagem…
A França – Lourdes, Espanha, Avis… FIM!
6 de Setembro de 2012
Era o dia de ir para casa… para minha casa mesmo! Não uma casa numa cidade qualquer, mas sim a minha…
Eu não queria!
Eu queria continuar, dar mais umas voltas, visitar mais uma infinidade de cidades aldeias por todo o lado, menos ir já para casa! Mas não havia alternativa, amanhã era dia de me apresentar na escola para a tal reunião…
Depois havia o meu moçoilo que me deixa sempre saudades e me ajuda a querer voltar sem fazer birras dentro de mim. Decidi que não prolongaria mais a agonia, iria passar em Lourdes, dar uma volta por lá, já que estava apenas a uns escassos 40km, e depois seguiria para casa sem parar em lado nenhum em especial! Se é para acabar que acabe!
Este foi o dia em que a minha maquina fotográfica fez algumas habilidades curiosas de que só me dei conta depois de umas quantas fotos! Uma delas que já vinha fazendo e que eu desconhecia em outras maquinas que tive, eram uma espécie de bolas vermelhas, quando o sol se refletia na lente! Um efeito curioso a que não acho muita graça!
Eu não uso despertador em férias. É coisa que só uso para ir trabalhar, pois há uma obrigação a cumprir! Ora viajar é tudo menos uma obrigação, por isso acordo quando acordar e saio quando estiver pronta! A verdade é que às 7.20h estava em Lourdes! (só sei a hora porque a foto regista a hora a que foi tirada! 😀 )
Não faltava gente por lá e foi da maneira que consegui ver os espaços religiosos por dentro, pois normalmente está tudo fechado, ou reservado, ou em oração!
Na realidade ali se juntam, num único conjunto, três construções próximas da Gruta de Lourdes: a Basílica da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, a Basílica de Nossa Senhora do Rosário e a da Cripta.
É muito agradável visitar um recinto destes cedinho da manhã, como visitar Fátima! Sem a enchente, sem confusões nem empurrões, nem filas para sequer tirar um copo de água da fonte!
Eu não sou uma pessoa particularmente religiosa mas a confusão num espaço religioso, numa catedral, num recinto, sempre me deixa estupefacta! Vamos visitar um lugar sagrado em magotes barulhentos e rudes, com miúdos irrequietos? Por isso aprecio o vazio e o silêncio. Deixem-me viver o espaço em paz!
A Notre-Dame-de-Lourdes apareceu ali 18 vezes a Bernadette Soubirous em 1858, na gruta de Massabielle, na margem do rio Gave de Pau.
A Cripta situa-se no Rochedo de Massabielle, por cima da gruta, entre a Basílica Superior e a Basílica do Rosário. A Cripta constitui o primeiro santuário e foi inaugurada em 1866 com capacidade de 120 lugares, embora a gente olhe e pareça mais pequena!
Os corredores estão forrados com lapides de agradecimentos de fieis de todo o mundo. Chega a ser quase deprimente!
Capela de Santa Bernadette há um relicário que não entendi que relíquias contem já que o corpo da santa é um dos corpos incorruptos mais famosos, por se manter intacto e em exposição noutro local, em Nevers, onde ela faleceu!
E então, quando entrei na Basilique de l’Immaculée Conception a minha máquina começou a alucinar e a fazer habilidades que eu ainda lhe desconhecia!
Como eu só olho para o enquadramento quando o faço e depois não confirmo como ficou, demorei um bom bocado a perceber que ela estava alucinada!
Devo confessar que não aprecio estes efeitos sobre as fotos, mas tive de os gramar pois foi o que ela trouxe para mim do trabalho que eu fiz! Por outro lado algumas fotos nem ficaram mal de todo, como esta:
Segui caminho por caminhos já percorridos na ida, no início da viagem. Só os voltei a percorrer porque vira um santuário que me despertara a atenção e já que estava por ali fui investigar. Eram os santuários de Bétharram, onde fica o de Saint Michel Garicïts, aqui registado em mais uma foto alucinada!
Achei piada que, enquanto passei ali, segui viagem e voltei, tinham feito obras na rua em frente! Inacreditável o que se passa num mês!
E foi então que eu olhei bem para a bosta de fotos que a máquina estava a fazer e parei para observar as suas funções. Ui, são tantas que demorei para caramba a descobrir onde tinha carregado para ela alucinar! Voltou ao normal! Puxa, que descanso para os olhinhos!
Um senhor muito simpático achou curiosa a minha curiosidade e fez-me visita guiada ao espaço religioso e contou-me a história do santo!
Este santo, Saint Michel Garicïts, um padre Basco, despertou uma grande simpatia em mim!
«“O que fez o seu santo? ” – perguntam às vezes os visitantes. É difícil de responder. Ele não fez nada aparentemente brilhante, pelo menos, essas ações brilhantes na fronteira entre o escândalo e o jornalisticamente importante. Mas ele fez muito, para que possamos responder em poucas palavras a uma pergunta dessas.»
Viveu no fim do século XVIII e princípio do séc. XIX e foi contemporâneo das aparições de Lourdes.
Ele dizia que « L’éducation intellectuelle, morale et religieuse, est l’œuvre humaine la plus haute qui se puisse faire.» (A educação intelectual, moral e religiosa, é a mais elevada obra humana que se pode realizar.) e criou escolas e colégios por toda a França, depois pela Europa e do outro lado do Atlântico, na Argentina e no Uruguai. Hoje a sua obra existe como uma fundação.
E a máquina voltou a alucinar!
Ainda por cima sem que eu desse por ela!
Não cheguei a entender como consegui eu, apenas ao pegar-lhe, faze-la entrar numa função que para desativar era preciso entrar no menu e procurar clicando aqui e ali!
Mas foi o que tive de voltar a fazer para ela desalucinar!
Atravessei os Pirenéus passando por alguns pequenos cols, como este Col de Houratate, que dá acesso ao Col de Labays que dá acesso ao de Pierre St Martin. Estradinhas adoráveis com paisagens inesquecíveis…
Cada paisagem era uma despedida, cada foto uma memória para ajudar a passar o inverno que se aproximava…
Ali começava a descer para Espanha onde não deveria parar para nada… não me apetecia de todo voltar a parar…
Navarra à vista, até já Portugal!
Não parei mesmo, apenas o fiz para pôr gasolina. Se tinha de acabar a viagem que acabasse, de nada servia prolongar a “agonia”. Cheguei a casa cedo, antes do meu moçoilo voltar do trabalho.
Desfiz a bagagem, que nunca é muita, estendi-me no sofá cheia de horizonte na memória.
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7 de Setembro de 2012
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No dia seguinte tive a minha reunião! Voltei a casa, pus meia dúzia de coisas na mala e parti para Avis.
Estava a decorrer o Travel Event promovido pela Touratech Portugal, um já tradicional encontro de amigos onde gosto de estar.
A minha Magnífica só ali denunciou o seu estado escacado, espantando os olhos a quem cruzou com ela, parada à “porta” do evento. Muita gente pensou que eu tinha caído em viagem, outros pensaram que eu tinha caído naquele dia…
Encontrei os amigos de sempre, mais os que vejo muito pouco, ainda os que só vejo neste evento e ainda os que conheci pela primeira vez! Só por isso já valeu a pena juntar mais uns 700 quilómetros à já longa quilometragem que acumulara na viagem!
A noite seguiu-se ao dia, a patuscada seguiu-se ao jantar, a cavaqueira e a boa disposição seguiu-se às palestras e ninguém diria que eu tinha tanta estrada em cima de mim!
Momentos alegres com gente simpática de quem eu já tinha saudades!
O grande viajante João Luís que ainda me há-de ensinar a abrir uma garrafa de cerveja com um chinelo de borracha!
E não é que ele as abre umas atras das outras sem problema! Faz jeito tal técnica em viagem, embora o saca-rolhas ande sempre no tablier da moto!
Ainda deu uma vaidosa voltinha com a minha camisola Motoólica viajante!
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8 de Setembro de 2012
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No dia seguinte tenho de confessar que dormi até às tantas!
É curioso como o corpo sabe que já não estou em viagem e aproveita para dormir para a mundial! Em viagem nem despertador é preciso, às 7.00 da manhã acordo e pronto não há mais nada para dormir!
Aquele era o dia mais interessante para mim, pois era o dia das palestras que me despertariam mais, entre elas a do João Luís. Por isso passei o dia a “ dar água sem caneco”, a conviver e a encher-me de comida “portuga”, junto do caracol dos Correias.
Eu nunca experimento motas no Travel Event, por muito que me apeteça e elas me “pisquem o olho”. Chego sempre cansada e acho que os meus reflexos e força podem não estar no seu melhor numa eventualidade, e deixar cair uma moto que não é minha. Na minha é como jogar em casa, venho viciada nela, sabemo-nos muito bem adaptar uma à outra! Mas nas novas e desconhecidas, não arrisco. Tenho um ano inteiro para fazer test-drives.
Por isso passo sempre o tempo por ali, a comer, a beber e a apreciar a paisagem e a presença dos amigos.
E chegou a noite, e chegou a palestra do João Luís!
A sua conversa não interessa e as suas histórias não prendem a atenção de ninguém, como se pode ver pelas fotos!
Ele fica ali a falar…
E as pessoas aqui, simplesmente hipnotizadas a ouvir! 😀
E claro, a claque M&D (Motos e Destinos) muito atenta também!
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9 de Setembro de 2012
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Chegou a última manhã longe de casa.
O amigo Rui Baltazar, organizador do Travel, fez mais uma vez o favor de me arranjar uma cama para eu descansar os ossos, no bungalow do costume, onde eu fiquei com a Magnífica à porta.
A minha menina, a minha grande amiga que estava a clamar por paz, por repouso e cuidados de saúde e beleza, rápidos e profundos…
Despedi-me de tudo e parti de novo, pela última vez, depois de 40 dias longe de casa!
Um amigo me acompanhou e é sempre curioso viajar com alguém depois de tanto tempo por conta própria!
O Filipe Oliveira e a sua GSA foram uma companhia simpática, até ao “porquinho” da Mealhada que despertou de repente uma saudade em mim!
E a minha Magnifica aparece finalmente de frente numa foto, quando o mundo já sabia que ela estava partida. Já nem custava tanto ver as suas feridas, porque em 40 dias eu tinha pensado o suficiente na decisão a tomar.
Não iria gastar nem mais um euro nela!
Teria revisão, teria pneus, teria arranjo de carenagens e teria no fim uma moto com os mesmos 261.000 km…
Por isso eu iria tratar de comprar uma moto nova, mesmo antes de precisar de fazer uma revisão, e dar a Magnifica à troca. Estava decidido.
Por isso 5 dias depois de chegar de viagem eu tinha a sua sucessora nas mãos, com zero quilómetros e muitos quilómetros de vontade! A sua matrícula xx-NF-xx garantiu-lhe o nome, dado que começaram a dizer que eu tinha uma Ninfa! Longa vida para ela…
E cheguei a casa depois de:
40 dias
18.660 km
14.500 fotos
933 litros de gasolina
1.380.84 € em gasolina
620 € em dormidas
Despesa total: 2.550.19 €
O que me faltou?
Um pouco mais de confiança na motita que apesar de tudo me levou e me trouxe em paz!
O que sobrou?
Beleza, espanto, descoberta…
O que valeu a pena?
Não ter desistido de partir, apesar de todos os azares acumulados!
O que teria dispensado?
Todos os pequenos percalços que me foram acompanhando e que nem relatei todos, pois já parecia o rosário das aflições!
O que me apetece dizer ainda?
Quero voltar a partir!
Beijucas e até para o ano!
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FIM
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