Passeando pelo Norte de Espanha – Estella, Artajona, Puente de la Reina, las Bardenas Reales, Sos!
Muitos dias se passaram desde a minha última publicação sobre esta viagem…
Eu fui à Escócia, eu rolei milhares de quilómetros, vivi várias histórias e aventuras mas a beleza da Espanha não fica apagada de tudo com o que se passou depois!
Um dia eu disse que teria crónica e histórias para contar até ao Natal. Na realidade o Natal já passou e apenas agora eu quero continuar a contar como foi, antes que as coisas se apaguem na minha memória… ou antes que a angústia de não saber se poderei voltar a viajar, se apodere de mim!
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Uncastillo, Biel, Aguero, Loarre, Huesca
14 de Julho de 2011
Havia tanta coisa que eu queria ver por ali, que vou ter de lá voltar um dia para ver o que não me foi possível ver!
Depois de uma noite bem dormida, num hostel simpático junto de uma estação de serviço, partimos à procura do que me levara ali!
A zona onde ficamos era simpática e com coisas interessantes!
Olite é uma cidade curiosa, onde o castelo parece dominar tudo e ao mesmo tempo estar ali, à mão de semear, como se fosse muito natural ter como paisagem um castelo de contos de fadas na berma da estrada!
A paragem seguinte foi em Estella (Lizarra, o nome Basco) uma cidade com quase 10 seculos, no caminho de Santiago o que explica a quantidade de igrejas românicas que possui, algumas em ruinas.
Toda a cidade está recheada de construções medievais
incluindo o palácio dos Reis de Navarra do sec XII!
É uma sensação curiosa passearmo-nos por caminhos tão visivelmente antigos!
Havia feira naquele dia e o que eu gosto de feiras!
Numa feira dá para ver quem são as pessoas de uma terra, o que compram, o que vendem, o que vestem quando vão às compras! Acho que ali as pessoas eram como nós por cá!
A minha motita lá estava à minha espera
Mais à frente cruzamos com 2 Goldwings curiosas!
Segui para Artajona, uma cidadezinha no topo de uma colina com um castelo espantoso!
Só de longe já valia a pena ter ido ali! Era exatamente o que prometia ser: um cenário!
Mas o interesse manteve-se ao subir ao castelo
Uma fortificação medieval notável chamada de El Cerco desde o sec XIV.
Está em muito bom estado de conservação tendo sido recentemente restaurado.
Achei as torres muito curiosas, abertas do lado de dentro da fortificação!
os pisos dentro das torres teriam sido de madeira e hoje não existem mais e não os colocaram lá com o restauro
A igreja é um exemplar espantoso! Pelo menos para mim que não conheço nenhuma outra com fachada semelhante!
A iglesia-fortaleza de San Saturnino e a sua fachada gótica espantosa é do sec XIII! Estava fechada, uma pena, tinha gostado tanto de a ver por dentro!
A paisagem lá de cima é deslumbrante!
Segui para Puente de la Reina, que tem mesmo uma ponte que atravessa o rio Arga!
Naturalmente o nome do Pueblo vem da ponte românica do sec XII, mandada construir por uma rainha desconhecida hoje!
Uma cidadezinha muito bonita, cheia de significado por se juntarem nela todos caminhos franceses de Santiago
A Iglesia de Santiago, com origem no sec XII, hoje acho mais bonitos os seu tetos pois os altares foram adornados em obras posteriores, deforma que não aprecio…
Depois de cuscar no interior dos pueblos segui finalmente para Las Bardenas Reales…
As Bardenas são uma espécie de deserto protegido pelo Parque Natural e é também Reserva da Biosfera.
O solo é de argila, gesso e arenito e foi sendo esculpido pelas chuvas e ventos ao longo dos tempos,
Aquilo é lindo por ali!
Não pude visitar as Bardenas Reales como queria porque não estava sozinha, o caminho é de terra batida, a fugir para o cascalho, e eu não quis que houvesse azares…
Terei de lá voltar sozinha!
Tudo parece terra esculpida, rígida e texturada, pode-se andar por cima sem estragar os efeitos da erosão!
Mais à frente, junto aos pueblos, foram esculpidas grutas na encosta dos montes terrosos.
Andamos por ali às voltas, não me apetecia ir embora, por isso dei a volta áquilo tudo, antes de andar para a frente e encontrar o castelinho de Sadaba de “brincar” do séc. XIII!
O meu destino seguinte era Sos del Rey Católico, e o caminho foi composto por paisagens extraordinárias
O sol baixava já quando lá chegamos
O Jaky tinha já esgotado a sua resistência, com as botas a magoarem e as articulações a queixarem-se. Fui visitar o pueblo sozinha!
Valeu a pena e valeria também a pena ter podido ficar por ali mais tempo…
Paciência, mais um recanto de Espanha que terei de revisitar sozinha!
Depois foi o regresso a casa, em Olite, e o caminho ainda tinha coisas giras para ver, num país e numa zona onde parece que todas as colinas e todos os montinhos têm um pueblo em cima
Encontrar mais uma vez naquele dia o Canal de Bardenas, que parecia não ter fim, a considerar pelos sítios em que cruzamos com ele. Efetivamente vim a descobrir que tem “apenas” 132km! Claro que tinha de “estar por todo o lado!
Muito bonito ao entardecer!
E o sol punha-se em Olite quando chegamos!
Fim do 9º dia
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15 de Julho de 2011
Continuei para leste.
A Espanha é uma delícia para passear de moto e rola-se sempre com prazer por aquelas ruas! Não fiz vias-rápidas por isso o encanto estava por todo o lado! Depois há as placas cor-de-rosa, que indicam os monumentos e que me fazem querer parar a cada uma para ver o que há!
E cheguei ao Mosteiro de Nuestra Señora de la Oliva, um dos mais importantes e espetaculares mosteiros da ordem de Cister de Espanha, em Carcastillo
O mosteiro é grandioso, conserva as suas características românicas e é lindo!
Procurei a bilheteira para entrar, mas estava fechada. As portas, no entanto estavam abertas, por isso fui vagueando por ali, esperando ser surpreendida a qualquer momento com um guardião que me cobrasse a entrada!
No entanto ninguém apareceu para cobrar nada e, quando um monge se aproximou, foi para me abrir as portas e me deixar passar para onde quis, ver o que quisesse, sem dizer uma palavra! Uma simpatia!
Adorei o claustro gótico e as antigas dependências dos monges
Com todo aquele sol do verão de Navarra tudo se torna tão encantador, até as sombras!
Mais à frente fica Uncastillo, um pueblo encantador que contem um dos conjuntos históricos mais remarcáveis de Aragão!
E o que eu gosto de me passear por tão antigas ruelas, pisar solo medieval ladeado por casinhas tão antigas como o tempo!
Portinhas minúsculas onde eu teria de “vergar bem a mola” para entrar, tão lindas!
Portinhas lindas à medida do Jaky!
Ao longe as torres do castelo no topo da colina, a parte alta do Pueblo.
Um dia terei de ali passar sozinha para poder catar tudo com calma como eu gosto!
A igreja paroquial de San Martín, do séc. XV, estava em restauro e foi giro poder entrar e ver!
Ao contrário do que muita gente pensa, restaurar não é fazer de novo, nem repintar nem nada disso! É recuperar e preservar o possível sem adulterar absolutamente nada do original. Por isso é um trabalho demorado e minucioso, muitas vezes microscópico!
O laboratório estava montado…
e as figuras em recuperação!
É um trabalho que aprecio e gostei da simpatia de deixarem os visitantes ver!
Mas não convém importunar quem faz tão minucioso trabalho, por isso segui o meu caminho pelo Pueblo, com pormenores que me encantam sempre
e com mais uma torre medieval logo ali.
Até a cor das pedras e paredes é fascinante! Traz na sua história momentos antigos!
O meu destino seguinte era Agüero, uma cidade na encosta de um monte curioso, os Mallos de Agüero, característicos do vale do Ebro e que vou ter de visitar mais tarde com tempo, pois ali o azar me afastou de uma visita à cidade e aos montes…
Quando chegava ao ponto que queria visitar, o Jaky brindou-me com um “preciso de gasolina”… num sitio onde não há bombas e onde a mais próxima ou é muito para trás ou muito para a frente!…
Claro que já não fui visitar coisa nenhuma em pormenor, fomos mas é procurar gasolina e depois comer e depois… já não havia condições para voltar e visitar!
Segui para Loarre!
Loarre tem um castelo lindíssimo do séc. XII, no topo de uma colina que domina tanto a planície como a montanha da serra de Loarre!
As motos não se podiam aproximar e a caminhada até ele era “grande”…
Ainda olhei para ele uma ultima vez… não havia condições de o visitar! O Jaky não caminharia tudo aquilo, implicava outra condição física que me acompanhasse… por isso eu também não fui…
Segui para Huesca, onde houvesse ruas para andar de moto e esplanadas para sentar!
Claro que ao chegar perto da catedral acabei por não resistir e ir visita-la, já que das outras vezes que ali estivera ela estava fechada!
A Catedral de Santa María de Huesca, ou La Santa Iglesia Catedral de la Transfiguración del Señor, é um exemplar gótico extraordinário do séc. XIII
E os seus tetos altissimos são deslumbrantes!
A entrada para a catedral faz-se pelo museu e tem-se acesso a recantos que eu quería mesmo ver!
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Huesca, Alquézar
O museu da catedral de Huesca vale a pena visitar, quanto mais não seja para apreciar e viver aquele clima tão característico de uma construção daquela época, com pormenores únicos, porque cada pais e cada cidade acaba por acrescentar elementos únicos ao grande estilo dominante.
Ali o que me fascinou mais foi o retábulo mor esculpido em alabastro no séc. XVI, simplesmente impressionante!
Dedicado a Jesus de Nazaré, o padroeiro da catedral.
Cá fora a fonte que sempre me encanta com a menina que parece pairar acima das águas!
A seguir a Huesca, se a gente fizer um pequeno desvio, vai encontrar uma cidade medieval lindíssima, onde apetece ficar por muitos dias, na paz e aconchego de um pueblo encantador: Alquézar!
Não se pode entrar na cidade com nenhum veiculo e, ao percorre-la, entendemos que não haveria condições! As ruelas são ingremes e estreitas, típicas de épocas em que não se pensava em carros ou motos!
Se eu morasse ali teria uma pequena scooter para poder chegar até à porta de casa, certamente!
É muito giro encontrar caminhos escavados na rocha, irregulares mas perfeitamente funcionais! Chamam-se “callizos” e são ruelas que ligam as ruas maiores umas à outras, cobertas por habitações, por forma a otimizar o espaço! Este é o “Pasador de Casa lailla” e já está tão polido de séculos de uso que quase escorregamos ao passar por ele!
Lá em cima a Colegiata dedicada a Santa María la Mayor, consagrada do início do séc. XI.
A cidade está situada na margem do rio Vero, a mais de 600 metros de altitude, numa cordilheira paralela aos Pirenéus, a serra de Guara.
Ali se pratica todo o tipo de desportos de aventura e a gente vê os praticantes caminharem pela redondeza lá em baixo.
A cidade é tão bonita e integrada numa envolvência tão perfeita que todo o conjunto foi declarado “Parque de la Sierra y Cañones de Guara” e a verdade é que o deslumbramento está na cidade e na paisagem que a envolve mesmo!
Havia um grupo de motards a visitar a cidade, mas pelo que percebi pousaram as motos e ficaram-se pela praça principal cá em baixo!
Voltei a subir até ao parque onde deixáramos as motos e a perspetiva da cidade voltou a parecer um cartão postal, com a igreja de San Miguel do sec. XVII em primeiro plano e a colegiata e o castelo ao fundo.
E foi o fim do décimo dia de viagem.
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Monzón, Roda de Isábena, Aínsa, Ordino
16 de Julho de 2011
O destino do dia era Andorra. Não que eu fizesse questão de lá ir, pois passo lá todos os anos, às vezes mais que uma vez ao ano, mas o Jaky nunca lá fora e queria ver e fazer umas compras.
Então dei as minhas voltas pela redondeza, pois havia ali vários pueblos que eu queria ver, percursos encantadores e paisagens deslumbrantes, antes de me ir meter no “supermercado” que é Andorra!
A primeira voltinha que dou é sempre pela cidade onde dormi, Monzón, embora tenha sido uma voltinha rápida.
A Catedral de Santa María del Romeral estava fechada, uma pena pois é uma construção românica lindíssima que eu gostava de ter visto por dentro.
O seu campanário é espantoso!
Ao longe o castelo, de origem árabe lá pelo séc. X.
E comecei as voltas passando pelas Bodegas Irius, que por ali os produtores de vinho gostam de arquitetura contemporânea!
O edifício destaca-se no meio das vinhas pelas suas linhas futuristas, construído em aço e vidro, parece mais um centro de congressos construído no lugar errado! Nem pensei em visitar porque está fechado ao público.
Barbastro ficou na minha agenda para catar em pormenor, que a sua catedral é um sonho, entre muitos outros encantos medievais que contem e fomos percorrendo o vale de Benasque, um paraíso na terra que merece ser revisitado, ladeado de montes deslumbrantes percorridos por estradas deliciosas!
Um recanto de Espanha a explorar, seguramente!
E cheguei a Roda de Isábena, uma aldeia medieval encantadora, numa encosta junto do rio Isábena, perto de Huesca.
Tudo parece ter sido pensado para ser perfeito por ali, desde as ruelas estreitas, as casas que lhes passam por cima, de quando em quando, e os miradouros esculpidos na pedra bruta.
A paisagem lá em baixo é de nos fazer perder os olhos no infinito e a vontade ao partir… é de voltar!
E tudo parece perfeito por ali, quando as casinhas encantadoras fazem de muralha que encerra um Pueblo lindo!
Catedral de San Vicente de Roda de Isábena estava fechada, uma pena, pois trata-se de uma construção lindíssima em estilo românico cheia de história e com um interior único…
Dando a volta encontrei uma nesga de passagem para o claustro, que estava em obras.
Ficamos por ali um bom pedaço de tempo, tomamos um bom pequeno-almoço, visitei o Pueblo… mas ela não abriu…
É tão giro quando as casas cobrem as ruas, provocam sempre enquadramentos e sensações giras! É muito comum isso acontecer em cidades medievais por toda a Europa. Faz pensar que na Idade Média os arquitetos se preocupavam com não deixar o povo apanhar chuva, quando andavam nas ruas! eheheh
E percorri as ruelas de novo, a caminho da moto que ficara à porta.
Ruelas encantadoras, onde tudo está perfeitamente limpo, conservado e lindo!
Dos miradouros escavados na rocha pode-se ver para além da paisagem que enquadra o Pueblo e apetece ficar mais um pouco!
As estradas são lindas e a paisagem também e, só por isso, vale a pena continuar! Porque eu sabia que o que iria encontrar a seguir era tão encantador como o que vira para trás, porque é bom a gente saber o que há para ver quando quer ver mais alguma coisa!
Estradinhas nacionais e secundárias que nos levam de paraíso em paraíso!
Com pueblos encavalitados nas encostas das colinas…
Afinal andamos a passear junto das fraldas dos Pirenéus!
E chegamos a Aínsa, onde uma muralha nos recebe e é lá de cima que a olho pela primeira vez!
Aínsa é uma cidade medieval lindíssima, na província de Huesca, onde parece que recuamos no tempo, mal entramos na Plaza Mayor!
A partir daí as ruelas empedradas, ladeadas por construções que se confundem com a cor da calçada, são um permanente encanto para se passear calmamente e sentir o ambiente medieval que ainda paira no ar.
A Iglesia de Santa María tem varias designações, como colegiata de Santa María ou iglesia de la Asunción e é románica.
E as ruelas encantadoras parecem nunca acabar!
A ausência de pessoas nas fotos é apenas uma trégua na multidão que visitava o Pueblo!
Preparava-se o almoço e as mesinhas postas pelas ruas convidavam mesmo a sentar!
Nas arcadas que rodeiam a Plaza Mayor, os restaurantes são acolhedores e o ambiente é alegre e relaxado, para se passar um bom pedaço de dia e apreciar a gastronomia local.
Em redor a paisagem é deslumbrante!
E segui caminho por mais paisagens lindas como o embalse de el Grado, que me fez lembrar as águas azuis dos lagos de montanha no Alpes!
E fui entrando nos Pirenéus encantadores!
Os Pirenéus, cordilheira do meu coração! Onde eu passeei por muito tempo, quando o dinheiro não me deixava ir mais longe e o medo de uns e outros me queria prender a Portugal. Fui ultrapassando barreiras até ao limite com França, até um dia passar para lá, quando toda a gente pensava que eu estaria num recanto qualquer perto de casa a curtir umas férias iguais às de toda a gente sensata!
E pode a gente sensata viver sem ver uma paisagem destas, uma vida inteira?
Chegamos a Andorra depois de deambular um bom bocado pelas montanhas. O Jaky assustou-se com o movimento! Acho que vinha tão habituado à calma e sossego dos percursos solitários e dos pueblos calmos, que se assustou com um ambiente de movimento, comparativamente, frenético! Eheheh
Não ficamos em Andorra la Vella, fomos para Ordino, para o hotel de gente amiga, onde eu fico sempre que ali passo.
Ali como sempre bem, 2 pratos acompanhados com uma garrafinha de vinho, o que sabe sempre bem no meio de uma viagem!
O hotel chama-se Cal Daina e acolhe muito bem os motociclistas!
E foi o fim do décimo primeiro dia de viagem!
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Ordino, Ax-les-Thermes, Ordino
O dia seguinte foi curto e cheio de peripécias!
Começou com um sol lindo e uma paisagem deslumbrante, como já é esperado por terras de Andorra. A ideia era fazer as compras da praxe e depois seguir e dar uma voltinha pela redondeza do lado de França, quem sabe ir até Carcassonne, que o Jaky não conhecia!
Logo depois das primeiras compras em Andorra la Vella e começando a subir para Pas de La Casa, as nuvens começaram a aparecer!
Mas ao chegar ao topo o mundo era outro, do outro lado! Grandes nuvens e muito nevoeiro se começaram a avistar! Iriamos mergulhar naquele algodão todo logo a seguir à curva!
E assim foi, à medida que íamos descendo a visibilidade ia sendo cada vez mais nula! Foi então que me vi sozinha no meio do nevoeiro! Reduzi e nada, parei e ninguém apareceu! Não sabia o que fazer pois mesmo para voltar para trás estava perigoso, pois temia que não me vissem e viessem contra mim a meio da manobra. Pus os quatro piscas enquanto esperava e pensava. Apareceu um carro que parou logo à minha frente. Uma mão me chamou pela frincha do vidro. Aproximei-me. Era um senhor francês “O seu amigo está caído na curva, está um carro parado junto dele, acho que está tudo bem mas é melhor ir ver!” simpaticamente o senhor sinalizou a minha manobra para eu poder voltar para trás em segurança e lá fui depois de muitos agradecimentos. Encontrei o Jaky a recompor-se do tombo que dera ao tentar tirar os óculos de sol em andamento! Valha-me Deus, como pode alguém ter ilusões de fazer tal operação numa curva em espiral como aquela?
Descemos então calmamente até Pas de la Casa. Lá pudemos constatar que estava tudo bem com ele, felizmente caíra bem, porque no sítio e da forma que caiu podia ter corrido muito mal! Para animar um bocado fomos comprar um capacete novo para o rapaz que o que trazia já estava a pedir ajuda há tempos. Acho que o bom humor regressou naquele momento e o susto se foi!
Então seguimos para França, para Ax-les-Thermes, onde eu já passei vezes sem conta, prometendo a mim mesma parar um dia para ver! Começamos por almoçar, que o Jaky não passa com uma sandoca, só com comidinha de faca e garfo, num restaurante onde havia aficionados portugueses!
A cidadezinha, cheia de água e de águas boas, fica na confluência de 3 rios (o Oriège, o Ariège e o Laje), para além de ter nascentes de águas quentes!
Fomos seguindo o curso da água de um dos rios que não sei qual era. Deve ser curioso ter-se uma ponte para atravessar o rio e entrar em cada casa! Por ali cada casa tem a sua pontesinha!
As motitas tinham ficado em frente ao Casino, porque estando em França nunca há stress para estacionar uma moto!
E fui ver a zona antiga e “apertadinha” da cidade, como eu tanto gosto!
As ruínhas são encantadoras, embora algumas tenham uma espécie de canal saliente no meio! Como seria andar por ali com a minha moto? Sempre do mesmo lado e esperando que nada me fizesse passar para o outro!
Acho sempre imensa piada a estes estabelecimentos cheios de tralhas e minhoquices decorativas!
Os pormenores giros que se encontram por aquelas ruínhas!
Diz-se que a Rue des Escaliers subia em tempos até ao Castelo d’Ax, hoje desaparecido. Do lado fica uma casa medieval de travejamento de madeira, que terá sobrevivido a incêndios tão comuns na idade média!
E as ruínhas estreitas testemunham, elas também, a sua origem medieval.
Na place Place du Breilh fica le bassin des Ladres, uma fonte que já foi exterior às muralhas da cidade, na idade média, mas que hoje fica no seu coração.
A temperatura da água pode ser escaldante!
E há várias fontes por ali.
E uma espécie de lago onde as pessoas podem molhar os pés, sentando-se nas bermas e aproveitando a água quente que ali se junta!
E depois de longos momentos de apreciação da misteriosa terra que eu ainda não tinha explorado e que só então descobrira porque se chama Ax-les-Termes, já que as águas que lhe dão o nome estão ali mesmo no meio da praça, fomos seguindo na direção de Carcassonne.
Não era longo o caminho, seriam pouco mais de 100km, mas o tempo estava cada vez pior, à medida que nos embrenhávamos por terras de França.
Uma pena, porque os caminhos que íamos fazendo eram lindos, ruelas ziguezagueantes ladeadas de vegetação, mas nada se via para além da berma das ruas. A chuva começava a ser intensa, embora miudinha, prometendo piorar para a frente. Parei, era melhor voltarmos para trás, e foi quando o Jaky caiu pela 3ª vez! Puxa, aquilo lá parecia a Via-Sacra! Comecei a ter medo que aquilo desse mau resultado e o homem acabasse no hospital e eu a levantar motas do chão a cada queda!
Ainda nos rimos porque em tão pouco tempo e numa viagem tão simples ele conseguiu cair em 3 países, como se de uma grande viagem se tratasse: uma em Espanha – nos Picos da Europa; outra em Andorra – ao passar para Pas e da Casa e esta em França – algures a caminho de Carcassonne!
“vamos mas é para casa, para o quentinho, e pronto!”
E voltamos para trás, sem fotos porque a chuva não deixa. Curiosamente, mal começamos a subir para Andorra percebi logo que o sol ficara todo do lado de Espanha!
Tirei a foto da praxe no ponto alto da estrada no Port d’Envalira, a 2408 metros de altitude, o ponto de viragem para o sol!
Aquela estrada é deliciosa e a paisagem só ajuda!
E lá vislumbramos Andorra la Vella ao fundo!
Claro que a gasolina de Andorra vale mais a pena que a de França, que é cara para caramba!
E aquela cidade tem cada construção mais futurista! Um dia tenho de ir visitar aquilo tudo por dentro!
Foi ali que a minha motita Magnífica atingiu a bonita quilometragem de quase 200 mil quilómetros…
E fui para casa, que naquele dia era em Ordino e o meu quarto tinha esta belíssima paisagem!
Claro que depois de um dia cheio de peripécias feitas de tombos e chuvadas, não poderíamos ir para o aconchego sem uma pequena desgraça final! Ao tirar o novíssimo capacete, que comprara naquela manhã em Pas de la Casa, o Jaky não o agarrou bem, ele fugiu-lhe das mãos, e não podia ter fugido para a frente para eu o apanhar, não, pimba para trás em cheio no chão!! Caiu, bateu e rolou, para o conjunto ser completo! Algo se desencaixou e, sendo um Capacete Modular (Flip-Up), não fechava mais direito! Valha-me Deus, temos de voltar à loja amanhã! 😦
Fim do décimo segundo dia de viagem.
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Cardona, Manresa, Barcelona e a Casa Milá de Gaudi…
18 de Julho de 2011
Ora no dia seguinte lá tive eu de ir até Pas de la Casa levar o capacete novo do Jaky, acidentado no dia anterior, porque o rapaz estava traumatizado com o caminho ziguezagueante onde caíra ontem e a ideia de voltar a encontrar nevoeiro não o deixou subir a montanha de novo naquele dia! Ok, eu, qual cavaleiro andante, lá tratei de fazer o percurso e a boa ação sozinha!
Uma manhã esplendida, um céu azul, uma temperatura amena e uma vontade imensa de seguir noutra direção, foram as minhas companhias naquela missão!
Há momentos de solidão tão extraordinários numa viagem que me fazem falta, quer quando estou na minha vida de trabalho, quer quando viajo acompanhada… saudades de mim!
Neste entretanto cheguei à loja e não se passava nada demais com o capacete, o homem deu uma pancada na lateral do capacete e aquilo foi tudo ao sítio! Nada demais! Eheheh
E foi no regresso a Andorra que a minha motita passou os 200.000km e voltou a zero, sem que eu visse, distraída com a sensação de liberdade que experimentava conduzindo à minha velocidade, curvando ao meu gosto e sem me preocupar com olhar pelo retrovisor! Coisas de quem já tem saudades de conduzir sozinha e a motita já tinha passado a zeros e eu não vira!
E apanhei o Jaky, que ficara numa estação de serviço em Andorra à minha espera, e siga para Espanha!
E chegamos a Cardona, uma cidadezinha muito antiga com um castelo em cima de uma colina, muito interessante e antigo para caramba!
Aquela fortaleza, onde hoje funciona o Parador Nacional, não estava toda disponível para visita, mas passear por ali já é interessante, mesmo sem entrar na Colegiata de San Vicente (românica e tão bonita que tenho de lá voltar só para vê-la por dentro!).
Lá de cima pudemos ver todo o Pueblo, que era a ideia ao construir os castelos e fortalezas em cima das colinas!
A entrada para o Parador, felizmente não impede visitantes de andarem pelo castelo!
O espaço é acolhedor e até apetece ficar e pernoitar em tão belo e histórico recanto!
Os edifícios foram restaurados e o claustro “amparado” por estruturas metálicas para que não desmoronasse e o efeito era curioso!
Estamos a falar de um castelo do séc. IX e lá está a famosa Minyona do séc. XI, uma das mais antigas construções do castelo.
Lá de cima vê-se tudo em volta! Em seu tempo dali vigiava-se a movimentação vinda dos Pirenéus e a fronteira francesa!
Bonito conjunto no topo do monte!
Seguimos na direção de Barcelona, com a montanha de Monteserrat no horizonte! Aquela montanha cheia de maminhas provocadas pelas formações rochosas curiosas, que tem em cima a abadia beneditina dedicada a Santa Maria de Montserrat, é conhecida por muitos como tendo albergado o Santo Graal!
E fomos almoçar a Manresa, uma cidade muito antiga que se desenvolve em torno da Basílica de Santa María de la Seo, que estava em obras por aqueles dias!
A Pont Vell é um dos ex-libris da cidade de Manresa, de origem romana, tendo sido reconstruida lá pelo século XII e ganhando o aspeto gótico da época. Sofreu profundos danos durante a segunda Guerra e voltou a ser reconstruida e chega até nós cheia de beleza e imponência, que enche os olhos a quem por ela passa. Há uma lenda que conta que um dia os demónios tomaram a cidade instalando-se debaixo da ponte, possuindo todos os que nela passassem! A única solução que os governantes da cidade encontraram foi trazer para ali as relíquias de um santo, São Valentim, que pediram emprestadas a um mosteiro. Os diabinhos morreram de medo e fugiram a sete pés e a cidade ficou em paz!
Finalmente a seguir viria Barcelona com tanta coisa que eu queria ver naquele dia ainda!
A Basílica da Sagrada Família estava envolta na confusão de sempre, quer pelo lado da Fachada da Natividade
quer pelo lado da Fachada da Paixão, onde fica a entrada para visitas… Aliás, aqui a fila era assustadora! Seguramente não iria visita-la naquele dia!
Mas havia mais uma ou duas coisas que eu queria visitar na cidade!
Depois de tantas passagens em Barcelona eu nunca conseguira visitar a Casa Milá, mais conhecida por La Pedrera, nome crítico da população da época, sempre muito requisitada e com longas filas à porta…
Mas milagrosamente naquele dia não tinha grande fila!
O edifício é extraordinário, desde o momento em que entramos as suas portas!
Todos os pormenores foram pensados, até aos efeitos de pintura nos tetos…
Os telhados/terraços, eram a minha grande atração! Há muito que os conhecia por imagens e queria vê-los a cada vez que passei em Barcelona!
Várias chaminés e aberturas de ventilação, isoladas ou agrupadas, de forma irregular e assimétrica, provocam uma sensação de paisagem povoada por esculturas interessantes quase humanoides!
Sempre que possível Gaudi criava a possibilidade de iluminação natural, abrindo o edifício no seu interior a pátios profundos.
E a gente passeia por ali, entre sobes e desces, como por um parque temático!
Oh, aquelas chaminés têm capacetes!
Lá de cima podia-se ver o Passeig de Gràcia e a casa Batló mais à frente, a outra casa linda que eu queria ver!
E desci para o interior do edifício, onde as paredes e tetos parecem costelas de um ser gigante adormecido! Uma exposição sobre a obra e o raciocínio do arquiteto está disponível para que entendamos como ele projetava os seu edifícios de formas orgânicas!
A forma como desenhava as curvas parabólicas das suas construções!
A casa que eu queria ver a seguir era esta!
E os tetos parabólicos sob o terraço da casa provocam sensações curiosas!
Das janelas podiam-se ver as grades espantosas das varandas, trabalhadas em ferro forjado e a lembrar flores e vegetação irregular!
Cheguei cá abaixo deslumbrada com a visita, depois de passar por quartos e salas em Art déco, mas fora o edifício que mais me maravilhara!
Uma obra gigantesca que é também uma escultura!
Cá de baixo do pátio interior, a abertura imensa provoca um efeito chaminé, com janelas em redor, numa perspetiva de infinito!
Grandioso edifício que domina quase todo um quarteirão, mas que, visualmente, domina tudo!
Adorei a visita que já se fazia tardar depois de tanta vontade frustrada a cada passagem pela cidade!
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Barcelona e a Casa Batlló de Gaudi…
Apenas a quinhentos metros da Casa Milá, no mesmo Passeig de Gràcia, fica a magnifica casa Batlló, com ares de dragão revestido de azulejo e paredes retorcidas em decorações fantásticas!
Esta casa é a remodelação de um edifício anterior e que o proprietário confiou a Gaudi e que foi executada quase em simultâneo com a Casa Milá, entre 1904 e 1906. Mais de um século depois ainda espanta tantos olhos, imagine-se na época!
Na cidade a casa é conhecida como “la casa de los huesos”- casa dos ossos, devido à sua decoração exterior, sobretudo os balcões com pilares ósseos; “la casa de las máscaras”- casa das máscaras, devido à semelhança das varandas com crânios, “la casa de los bostezos”- casa dos bocejos, porque parece que se abrem bocas e olhos na fachada ou “la casa del dragón”- casa do dragão, porque há um dorso escamoso sobre ela, que desperta o imaginário mais fantasioso! Deslumbrante!
Era o meu dia de sorte! Não havia qualquer fila para entrar na casa!
O Jaky não quis ir visitar, são coisas que não interessam a toda a gente, mas nada me impediria de ir visitar a casa, esperasse quem quisesse! Não hesitei, comprei o bilhete e lá fui eu!
Nos interiores tudo é pensado e projetado com cuidados decorativos extraordinários, tão característicos de Gaudi e do modernismo Catalão, uma variação da art nouveau .
O grande balcão visto do interior é tão extraordinário como visto do exterior!
Lá em baixo o Jaky esperava na seca, enquanto eu me deliciava cá dentro! Como pode alguém ficar à porta de tal construção, sem nem ter curiosidade de a ver por dentro, deixando ela adivinhar a sua beleza pela fachada extraordinária que exibe?
O teto da sala do grande balcão é ondulado em espirais e exibe um candeeiro de teto que produz efeitos de luz muito bonitos!
Há coisas que parecem tão recentes que até põem a gente em dúvida “isto foi feito quando mesmo?”
E sai-se para o pátio da traseira, por portas tão extraordinárias como se fossem principais!
O pátio faz a gente esquecer que está lá atrás, no meio das traseiras de todos os edifícios que para ali dão, de costas para nós, portanto!
E lá está a casa de costas!
Uma coisa que me tira do sério é o descuido que muitos arquitetos manifestam com as traseiras do edifícios que projetam! Como pode um edifício lindíssimo ter uma traseira miserável se a gente também vive com outras perspetivas do mundo, que não a frente de tudo? Porque têm de sujeitar uma população a viver com as traseiras horrorosas dos edifícios que lhes viram as costas?
É um pormenor que admiro em Gaudi, todas as perspetivas de um edifício têm os seus encantos, até as traseiras, até os telhados!
E as grades? As grades fascinaram-me!
Uma versão lindíssima do arame farpado, transformado em belas facas e navalhas, próprias para a conjuntura atual de assaltos e ladroagem, que fariam os ladrões terem de treinar para faquires para passa-las! eheheh
G
O interior do edifício é “oco” em dois profundos pátios interiores, como sempre Gaudi gosta de usar para fornecer luz natural aos interiores.
O efeito é lindo e misterioso!
Tinha de continuar a subir. Boa parte do edifício está fechado a visitas pois é usado para reuniões, seminários e convenções, mas vai-se subindo e vendo o que está a visita.
Na realidade a casa deixou de pertencer à família Batlló depois da guerra civil, quando serviu de reduto a uma série de refugiados. Naquela época sofreu graves danos e nos anos noventa foi restaurada pelos novos proprietários que a abriram a aluger como salas de congressos e reuniões e posteriormente ao público como visitas guiadas por áudio-guia.
Chega-se ao topo do edifício e ao dorso do dragão!
Lá está ele!
Pormenores que eu queria tanto ver de perto, sem imaginar que lhes poderia mesmo tocar!
Ali dentro daquele aglomerado de chaminés fica o recanto da água! E a gente entra e sente a água em nosso redor. Uma espécie de fonte no centro irradia sensações aquosas que se refletem no teto concavo…
Os reflexos movem-se como se a água luminosa irradiasse reflexos de movimento no teto! Uma sensação refrescante e inesperada!
E desci para o interior do edifício em curvas parabólicas que lembram, tal como na casa Milà, o interior de um ser gigantesco adormecido!
Enquadramentos quase lunares!
Perspetivas alucinantes…
a caminho da saída…
A espetacular fachada não deixa ninguém indiferente e faz transeuntes pararem para olhar a qualquer hora do dia.
Há leituras e interpretações das sensações que o edifício provoca em quem o observa mais atentamente! Fala-se da fachada escamosa em múltiplos tons e um telhado com a aparência de um dragão, a cruz de quatro braços em cima de uma torre cilíndrica que surge do telhado que poderia representar o punho de uma espada e as colunas com aspeto de ossos, as varandas metálicas que lembram crânios, levaram a ligações populares à lenda de São Jorge, santo padroeiro da Catalunha.
No final da visita o áudio-guia agradece aos visitantes porque é graças ao dinheiro que pagamos que permitimos que a casa se mantenha perfeita e linda para quem vier a seguir!
Adorei!
Fim do décimo terceiro dia de viagem…
(continua)
Olá Gracinda!
Adorei rever esta zona de Espanha novamente.
Fantásticas fotografias!
Beijinho