7. Passeando pela Grécia/Balcãs – Mais mar… até à Grécia!

25 de agosto de 2022

Ora vamos lá que hoje é dia de ir apanhar outro ferry…

Tinha de estar no porto às 12.00h por isso ainda tinha tempo de ir até Brindisi calmamente em passo de passeio

O alojamento era muito agradável e era orientado por um casal de velhotes muito simpático, que tinham um congelador que congelava mesmo e um lugar para eu guardar a moto de noite e tudo! A casa era grande e tinha uma decoração bem a condizer com os proprietários. mas o melhor foi o pequeno almoço, cheio de coisas fixes para alguém esfomeado como eu comer à vontade!

Ainda pensei em dar um retoque ao desenho do dia anterior, mas ficou mesmo assim, embora as rodas pareçam meio tortas, estão direitinhas, por isso fica como está! Memória de uma passagem por Roma!

E lá fui buscar a moto, consciente de que ia ser uma aventura. Tive de montar e manobra-la apoiando-me na força de pernas e da mão direita, já que a mão esquerda ainda não tinha acordado!

Meu Deus, a dificuldade que eu tive a fazer uma manobra tão simples sobre a gravilha para tirar a moto dali! No dia anterior entrei e arrumei-a tão facilmente que me esqueci de a por em posição que me facilitasse a saída. Mas afinal não haveria dificuldade alguma em sair dali… se a mão marota tivesse um pouco mais de força, conseguisse segurar o guiador com firmeza e apertar a embraiagem a fundo…

Dei uma volta por Sannicandro di Bari antes de me fazer à estrada, apenas porque não havia trânsito e por isso não tinha de usar muito a embraiagem nem as mudanças. O sitio é simpático, muito perto de Bari, com algumas coisas giras de ver. Eu estava numa de ver mas não de fotografar, tudo o que implicava parar a moto era coisa que não me apetecia de todo.

O Monumento ai caduti, ou  Memorial de guerra, fica na piazza Unità d’Italia e é dedicado aos soldados nascidos em Sannicandro que morreram durante a primeira e segunda guerras mundiais. O sino, no topo do monumento, chama-se Augustea e foi construído com o bronze retirado dos canhões aos austríacos durante as guerras. Ou os canhões eram muito pequenos, ou estavam em cacos e só se puderam usar pedaço pequenos, porque o sino não é gigante!

Alberobelo ficava perto do meu caminho, mas eu não tinha vontade de lá ir. A cidadezinha está sempre cheia de turistas, parar para visitar implica sempre bastante tempo e não me apetecia ir lá numa corrida, fazer tanto esforço para depois andar no meio da multidão para trás e para a frente, como aconteceu quando lá fui há uns anos.

Mas percorrer caminhos próximos pode ser tão ou mais gratificante do que ir até à terrinha em si. Porque se pode passear calmamente por ruelas sem transito, que serpenteiam por entre vinhas, com casinhas com os mesmos telhados de pedra encantadores.

E era como um espectáculo só meu, porque apenas eu por ali andava mesmo!

Deu para espreitar nos quintais, entrar em algumas casinhas abandonadas e perceber como funcionam por dentro e tudo!

E deu para comer amoras! Eu sempre paro quando vejo amoras silvestres, e ali havia tantas!

Então estava na hora de seguir para Brindisi, senão iria chegar lá muito tarde e, se eu já stresso quando chego cedo para embarcar, imaginem como seria se chegasse tarde! Apanhei a via rápida, era a melhor forma de seguir sem preocupações nem percalços até lá… pensava eu!

Eu tinha sempre a preocupação de deixar espaço suficiente em relação ao carro da frente, não fosse ele travar e eu não ter capacidade de segurar a minha moto de repente, e seguia na minha velocidade certa. Na realidade a sensação era de que todos os carros iam à mesma velocidade, por volta dos 110km ou 120km, já que a velocidade legal era de 110 e eu não queria trazer nenhuma multa para casa.

Até que, nem sei como, talvez porque levava mesmo os sentidos bem apurados por causa da minha insegurança quanto à minha mão, percebi pelo retrovisor que vinha ai uma carrinha comercial em grande velocidade ou, pelo menos, bem mais rápido que eu e todos os carros que eu podia ver em torno de mim. Nada de novo, se o tipo tivesse seguido o seu caminho, mas não é que o maluco vira à direita bem na minha frente, ao que parece para sair ali! Mas ele estava na faixa da esquerda e tinha, por isso, de atravessar duas outras, cheias de transito em movimento, para sair!

E assim foi, eu reduzi e travei para sua excelência passar bem na minha frente sem me espatifar contra ele, mas temendo que os de trás se espatifassem contra mim, e ele atravessou toda a estrada em velocidade de quem não tem travões, revirando-se bem na minha frente e continuando a capotar de lado até ao separador da via de saída. Galgou o primeiro separador e quase saltou o segundo para ficar pendurado nele, não caindo por pouco sobre um desgraçado que não tinha culpa nenhuma e vinha apenas a entrar na via rápida!

Ok, o que foi aquilo?

Ninguém parou, foi como se nada tivesse acontecido, continuamos todos o nosso caminho à nossa velocidade e pude ver pelo retrovisor que, enquanto o maluco esteve ao alcance da minha vista, ninguém parou mais. Aparentemente aquela gente ia trabalhar e não tinha tempo para perder com um parvo qualquer que decidiu destruir o carro por pura estupidez!

Felizmente a correria terminou logo a seguir pois saí daquela maluqueira já que estava a chegar a Brindisi e tinha de procurar o porto.

É tão curioso começar a ver placas a indicar a direção da Grécia sabendo que ela fica do lado de lá do mar!

E as placas da Grécia levavam direitinho ao terminal, muito bem sinalizado. Fantástico! Acho mesmo que nunca vi terminal tão bem sinalizado!

O destino da esquerda chamou-me a atenção, seria fantástico atravessar para a Albânia! Ao tempo que eu não ía lá, mas também não seria desta vez…

O meu Chek-in era na direita, sem filas nem chatices. Aparentemente não há muito turista a embarcar ali e isso é fantástico!

A minha motita tinha feito uma amiga no entretanto. Fez ela, porque eu nem por isso. O dono da Goldwing nem para mim olhou! Que se passa com estes motociclistas que nem cumprimentam, nem falam, nem olham, para a gente? Serei tão assustadora assim que nem apetece falar?

Fiquei desapontada porque estivemos ali os dois e nem uma palavra trocamos! Eu não faço questão de conversar com todos os motociclistas que cruzam o meu caminho, mas estar quase lado a lado por mais de 45 minutos sem nem olhar é uma forma de dizer fica na tua que eu fico na minha. E eu fiquei!

Tudo mudou quando chegou um casal italiano!

Supersimpáticos, fartaram-se de tagarelar comigo enquanto esperávamos e, quando entramos no terminal, juntamo-nos a outros motociclistas que tinham entrado direto e já estavam à espera, foi um tempo de espera muito mais interessante e animado. Depois percebi que o tipo carrancudo da Gold era mesmo carrancudo com toda a gente. Não trocou nem uma palavra com ninguém. É raro encontrar um viajante solitário com ar de poucos amigos e pouco sociável, mas que eles existem, existem!

Connosco estavam 3 motards marroquinos, muito boa gente também. Vinham e Agadir, tinham um meeting na Austria e iam até lá em passeio, explorando e aproveitando o caminho.

A minha motita ficou bem arrumada no meio de 2 Marroquinas… enquanto não vai a Marrocos, vem Marrocos até ela!

Tão pacifico embarcar num porto sem multidões, de alguma forma isso fazia-me bem. Não me sentia pressionada nem preocupada com nada. Também à força de embarcar e desembarcar aqui e ali, começo a não stressar tanto com a operação!

Percebi depois que havia pouca gente a embarcar de carro e ninguém a embarcar a pé. Não havia gente por todos os lados a arrastar tróleis, malas sacos e sacolas e a zona de cadeirões estava completamente vazia! 

Foi quando fui comer que percebi que a grande parte dos viajantes era camionistas! Sim que eu reservei viagem com almoço, já que há pouco o que fazer num ferry, ao menos não falte o que comer!

Era eu e os homens todos! Alguns comiam dois pratos de comida ao mesmo tempo, muito pão, bolos de por aí fora. É muito fixe comer no meio destes homens, até fico com a sensação de que como pouco!

O entardecer num ferry é a coisa mais gira que tem para ver lá, e naquele era tão pacifico, porque não havia vento algum, nem frio, apenas nós e o mar. Lindo!l

E os moços dos camiões estavam por todos os lados, calmamente na mais amena cavaqueira. Acho que camionistas são as pessoas que mais se parecem com motociclistas. Sem nem dar por ela estava naturalmente a conversar com eles, sobre motos, viagens e tudo o que eu podia ver e eles não, porque o camião vai muito longe, mas não pode ir a muito lado.

Os meus amigos marroquinos eram uma animação, ficaram muito contentes por eu falar francês, porque não encontravam facilmente quem falasse. Ah pois, em Espanha não deve ser fácil não, sobretudo longe da fronteira de França. E estes homens não eram motociclistas de ir ao café de moto ao domingo, andam para caramba, o senhor mais magrinho tinha uma trail e fazia percursos fora de estrada nela, com muita classe.

Quem gosta, gosta e não se inibe com nada, apenas ajusta a moto aos seus interesses e vai em frente. A idade? É maioridade, por isso são livres, sem prazo de validade!

Esta travessia foi tão agradável que fiquei surpreendida quando percebi que já tínhamos chegado. Ok, a travessia era de “apenas” 9 horas, por isso o tempo foi muito menos que a travessia de Espanha para a Itália! No entanto era mais tarde do que eu pensava, porque me esqueci do fuso horário: na Grécia é mais tarde duas horas do que em Portugal, e mais tarde uma hora que na Itália, o que fazia as 21.15 horas serem, na realidade, 22.15h!  Bolas, eu não tinha contado com isso e dissera ao alojamento que chegaria uma hora antes!

Ok, saio do barco e sigo o mais rápido que puder para lá, afinal é perto do porto! Mas estava enganada as ruas eram todas aos SS, cheias de subidas e descidas, aparentemente pelo meio de lado nenhum, sem luz alguma e eu sem habilidade nas mãos para fazer uma condução mais agressiva! Por muito que me custasse tive de seguir com calma e cuidado esperando que houvesse alguém para me receber e me dar um quarto para eu dormir!

Qual não foi o meu espanto quando, no meio do escuro da noite, vejo o edifício todo iluminado, cheio de carros à porta e, à medida que me aproximava, podia ouvir musica incrivelmente alta na noite! Não é que o local estava com a maior festa e animação que se pode imaginar?

Entrei timidamente pelo sitio, a festa ocupava todo o pátio e toda a gente pôs os olhos em mim, seguindo os meus passos até à casa. Nunca me senti tão feia, desgrenhada e mal vestida! No meio de toda aquela gente em taje de festa de cores vivas e variadas e penteados caprichados, eu contrastava em tudo, como se pertencesse a outro planeta!

Mas as pessoas foram muito simpáticas comigo, até me ofereceram-me petiscos e bolo! E, quando me ofereceram o que eu quisesse para beber, pedi um vinhinho da zona, que eu gosto de saber o que se produz de vinhos no sitios onde passo.

E fui para o meu quarto, que ficava num sótão fofo, com terraço e tudo, curtir a minha pequena festa particular.

É assim que eu gosto, que nada me falte, sobretudo a paz…

Que fixe, amanhã vou começar a explorar a Grécia! E não havia pensamento que me trouxesse mais alegria naquele momento!

2 thoughts on “7. Passeando pela Grécia/Balcãs – Mais mar… até à Grécia!

  1. Parabéns pela coragem, já é uma aventura viajar só, e quando se tem um “obstáculo” na mão que não facilita os movimentos ainda pioram as coisas, por isso parabéns por mais uma aventura e espero que essa mão já esteja a 100%.

    • Obrigada
      Eu sinto-me sempre mais forte sozinha, pois não há ninguém permanentemente preocupado e a lembrar-me do meu estado. Só tenho de ir avaliando como as coisas estão comigo e ir fazendo o que posso e me apetece. Coisa minha, maneira de ser 😉

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