10. Passeando pela Grécia/Balcãs – de Esparta até Atenas dando a volta ao sul

28 de agosto de 2022

Há um Sítio Arqueológico muito importante em Mystras. Eu podia vê-lo pela encosta do monte, porque está situado, como num anfiteatro sobre a cidadezinha.

A senhora do alojamento era russa e estivemos na conversa sobre a guerra e como ela tinha pena de não poder visitar o seu país. Falamos também do sitio arqueológico e fiquei a saber que demoraria a manhã toda a visita-lo, porque se estende pela encosta do monte e é composto por diversos espaços…

Por vezes tenho de fazer opções e ali optei prosseguir para Esparta e assim ficar com tempo para descer até à ponta sul da península e só depois subir para Atenas, pela costa.

Esparta, a cidade do lendário rei e general Leónidas e os seus 300 guerreiros.

A antiga Esparta com o monte Taígeto ao fundo, que se eleva até aos 2400 metros. Na realidade não é um monte e sim uma cordilheira das mais antigas registadas na Europa e que aparece referida na Odisseia de Homero. Fiquei fascinada por poder localizar e olhar para uma paisagem que vem desde a Grécia antiga até aos nossos dias. Eu sei que toda a terra e monte pela Europa tem historia antiga, pois nada cresceu de repente, mas não pude evitar a sensação de pisar terra sagrada para a humanidade!

E lá estava a Acropole sobre uma pequena colina, sem bilhete para comprar, apenas um portão sem guarda onde eu entrei livremente!

Esparta tinha o exército mais temido da Grécia, porque os seus homens eram treinados desde miúdos para se tornarem grandes guerreiros. Eram retirados de suas famílias em criança para viverem em meios agrestes, aprendendo a suportar a fome, o frio, a dor e tudo o que lhes pudesse vir a surgir pela frente. Este treino, que era uma forma de vida, conferia-lhes tanta força, experiencia e conhecimento, que eram vistos quase como semideuses.

O nome Esparta é conhecido mundialmente devido à sua história, sendo até hoje símbolo de heroísmo e autossacrifício, bem como de uma forma frugal de viver.

Ainda hoje usamos o termo “espartano” para descrever algo simples e despojado com sinónimos como: austero, rígido, rigoroso, severo ou implacável e intransigente.

Esparta fica na região da Lacónia, que também viu o seu nome associado às principais caraterísticas da sociedade espartana, originando o termo “lacónico” que ficou associado a uma forma sucinta e sintética de falar e escrever.

Dá para ver que aquela gente era “curta e grossa” na vida do dia-a-dia, sem ostentações, nem coisas supérfluas, sem esculturas nem adornos, o que contribuiu para que, mesmo hoje, não hajam muitos vestígios da sua sociedade, porque além de terem pouco o que deixar, provocaram muitos ódios que geraram a destruição de tudo o que era seu ao serem vencidos e superados.

Eu sabia isso tudo, mas agora que estava ali, pisando o seu lugar, conseguia perceber direito o que e isso queria dizer… havia tão pouco das edificações caminhos e estruturas da época!

É certo que estão em escavações, e muita coisa estará debaixo daquela terra acumulada, mas mesmo o antiteatro é quase apenas uma curva cavada na encosta da colina, quase impercetível!

Deu-me uma nostalgia! Sentei-me ali e fiquei a olhar, imaginando como seria fantástico poder ver como tudo aquilo era há 25 séculos! Por outro lado, cruzes, foi há tanto tempo e, segundo lendas e histórias, as guerras foram tão sangrentas que o melhor é ficar tudo como está, na base da imaginação!

Mas a guerra não foi ali, foi bem mais para norte.

Leónidas recebeu o pedido de ajuda para defender a Grécia da invasão dos persas e conduziu seus homens para norte de Atenas onde travou a batalha do desfiladeiro das Termóplias, lutando até à morte e retendo as tropas invasoras.

De entre os seus homens apenas 300 eram espartanos, um numero insignificante perto das tropas do Xá, e foram eles que deram o mote para o filme 300.

Reza a lenda que o Xá persa ameaçou-os dizendo: “Minhas flechas serão tão numerosas que obscurecerão a luz do Sol”.

Ao que Leónidas respondeu: “Tanto melhor, combateremos à sombra!”

Os espartanos podiam ser lacónicos, mas tinham sentido de humor!

Dizem que os espartanos mataram mais de 20 mil persas antes de serem aniquilados…

Impossivel passar por aquele sitio, relembrar a história e não lembrar a estória do filme 300 mais a sua frase iconica: this is Sparta!

Sai-se da acrópole, em direção ao centro da cidade e lá está, Laónidas! Tive de fazer uma espécie de “um minuto de silêncio” ao grande herói…

E dirigi-me para sul. Havia uma terrinha lá bem abaixo onde eu queria passar sem falta!

Eu já não me lembrava que por aqueles lados LARANJA e PORTTUGAL pronunciam-se praticamente da mesma forma, a sonoridade das duas palavras é praticamente a mesma

mas a escrita também, se formos ao google tradutor e o pusermos a falar entendemos melhor porque é que aquela gente sorri quando eu digo que venho de Portugal!

Conduzir calmamente era tudo o que eu queria, mas não pude deixar de parar ao avistar uma igreja ortodoxa. Elas são sempre tão bonitas! Estava em Molai e era a igreja de São Nectarios.

Estava aberta e pude visita-la com calma, pois só estava lá a senhora responsável, não havia ninguém a orar.

Sempre me sinto desconfortável a explorar uma igreja onde há gente a rezar, sobretudo aquelas, que são pequenas e onde as pessoas se movimentam quando rezam, de um altar para o outro, de imagem em imagem, beijando-as e tocando-as, porque nunca sei como me mover ou se vou ferir a sua sensibilidade.

As pinturas que contam histórias sempre me fascinam, por vezes contam mesmo histórias recentes, os religiosos é que parecem sempre velhos, com barbas brancas e chapéus negros.

Gostava de um dia assistir a uma celebração e entender as movimentações no espaço religioso, o que há por trás da porta no altar e quem lá entra ou quem de lá sai!

E há velas fininhas e medalhas que são oferecidas às imagens com muita devoção.

E lá estava “o rochedo mais bonito do mundo” a lembrar o desenho do Principezinho, da cobra que engoliu um elefante!

Monemvasia fica do outro lado do rochedo, o lado sul, na encosta voltada para o mar Egeu.

A vila está ligada a terra por um istmo, que curiosamente é uma palavra de origem grega e que quer dizer pescoço em português!

Atravessa-se as aguas límpidas como cristal até ao rochedo onde não circula qualquer tipo de veiculo.

Estaciona-se à porta e, assim que se entra a muralha, percebe-se porque nenhum veiculo ali circula, as ruinhas são como caminhos privados entre casinhas.

Monemvasia foi fundada pelos bizantinos no século VI e é uma cidadela medieval encantadora. A fortaleza é chamada “Gibraltar do Oriente” e foi ocupada por bizantinos, cruzados, venezianos e turcos.

O “Kastro” – (castelo), é dividido em duas partes, a cidade baixa e a cidade alta.

Não fui até à cidade alta, porque os caminhos são íngremes e com degraus, e o calor não me inspirou a subir.

Afinal há carrinhos a circular ali, carrinhos de mão que, pelo ar de quem os manobrava, eram difíceis de controlar!

Há recantos tão bonitos para explorar na cidade baixa, que me ocupei por ali, a fotografar e a desenhar.

A vontade era ficar ali por horas a explorar e desenhar, porque é tudo tão bonitinho e acolhedor!

Só para viver um pouco daquela atmosfera valeu a pena descer todo o Peloponeso antes de ir para Atenas!

Acabei por me instalar na pracinha central onde não faltam esplanadas de cafés e restaurantes, para me refrescar e curtir o ambiente.

E, acompanhada por uma cerveja gelada, acabei por me por na conversa com turistas e residentes sobre banalidades do dia-a-dia por aquelas paragens.

Lentamente, como quem não tem vontade de ir a lado nenhum, la fui caminhando até à saida para me fazer de novo à estrada.

Monemvasia em grego, significa “entrada única” e eu lá saí pelo mesmo caminho por onde entrei, para começar a subir para Atenas .

Por aquela altura a minha mão esquerda começava a falhar e eu só rezava para que não me aparecesse nenhuma novidade inesperada, que me obrigasse a ações repentinas, porque eu sabia que não conseguiria…

Felizmente as estradas eram poucas e pouco movimentadas, sem muito assunto para eu me distrair. Ainda tive um ou outro momento de algum stress, quando um carro me aparecia de repente, vindo não sei de onde, e entrava na minha frente, sem imaginar o quanto eu estava limitada na minha rapidez de reação!

Eu não queria ir direta a Atelas pelo caminho mais curto, não queria fazer autoestrada, e queria chegar-me à costa leste assim que a montanha me permitisse. Por isso fui passando por populações fora da estrada principal, em perspetivas encantadoras.

A montanha que eu atravessara no dia anterior aparecia ao longe, imponente e com nuvens por cima. Do outro lado devia estar a chuviscar, segundo as previsões. Sorte a minha que andava à frente do mau tempo, deixando-o a molhar os caminhos que já fizera!

Finalmente cheguei a Astros, junto do Golfo Argólico, quando a terra começa a curva para outro braço de terra onde fica Náuplia.

Astros é uma terrinha sem grandes atrativos, daqueles sitios onde a gente para porque tem um quiosque que serve bebidas frescas.

E ainda bem que parei, porque refresquei a gargante e o pulso, para depois enfrentar a ventania de leste que atirava até a agua para a estrada!

Quando eu andava pela Islândia sentia-me confusa porque, como não há arvores por lá, não conseguia prever de que lado vinha o vento, mas agora, com as palmeiras a vergarem à força do vento, já não achava tão reconfortante assim ver o efeito que ele fazia! Era meio assustador!

Havia parapentes no ar com aquela ventania! São malucos os gregos? Se eu me via grega a conduzir a moto no chão, eles não stressariam no ar?

Quando está vento e atravesso uma localidade, sinto-me bem mais confortável, ao menos se eu cair alguém estará por perto para me ajudar a levantar! Não, eu posso fazer tudo menos cair, nem queria imaginar a avaria que seria se eu caísse e me magoasse na mão marota!

E lá estava Náuplia, com a sua fortaleza de Palamidi no topo do monte! Seguramente que eu não subiria lá acima! É daquelas coisas que eu prefiro apreciar cá de baixo, embora imaginasse que o golfo e a cidade vistos lá de cima deveriam formar uma paisagem impressionante. Mas com aquele vento todo, a subida com curvas, carros e camionetas à mistura, e a minha mão a doer cada vez mais e a perder a força… eu não arriscaria!

A cidade foi fortificada pelos venezianos no século XV para se proteger contar os piratas

E o castelo de Bourtzi, no meio do mar! Tal como a fortaleza no monte, o castelo é veneziano. Bourtzi significa torre em turco, e é o que o castelinho é, uma torre no meio das águas do porto!

O castelo aquático impressionou-me bastante e confesso que me apetecia apanhar um barco e ir lá vê-lo de perto…

Lá segui, meio relutantemente, maldizendo a minha incapacidade de explorar mais em pormenor ….

Claro que o azul quase artificial do mar me reconfortaria bastante, afinal ainda havia muita coisa para ver e para viver e eu poderei voltar a passar ali noutra viagem qualquer, sem limitações na condução…

E então lá estava ele…

Parece uma ponte comum, quando a gente o atravessa concentrada na estrada, mas na realidade é uma obra impressionante, o Canal de Corinto!

Foi construido no final do século XIX, meio a “pá e pica”

Já um dia o atravessei sem perceber que era ali, mas desta vez eu ía atenta e não o deixaria passar debaixo das minhas rodas sem parar para o apreciar!

O Canal de Corinto liga o Golfo de Corinto ao Mar Egeu e, literalmente, rasga o Istmo de Corinto, que liga Peloponso à Grécia continental, para fazer esta ligação.

Não é muito longo, tem pouco mais de 6 quilómetros de comprimento, mas é impressionante porque é profundo, como se o mar ficasse entre paredes.

Ele permite a circulação rápida de barcos desde o golfo até ao mar Egeu que, antes da sua construção, teriam de dar a volta a toda a península de Peloponeso, o que alongava a viagem para mais de 700 quilómetros.

Uma obra que foi primeiramente pensada pelos romanos, para acabar por ser realizada apenas 20 séculos depois!

Como é bastante estreito, tem pouco mais de 20 metros de largura, não permite a passagem de grandes barcos, por isso apenas barcos de medio e pequeno porte lá passam.

É claro que o desenhei! Ainda bem que a mão marota era a esquerda, senão não poderia ter desenhado coisa nenhuma!

A sensação de deixar para trás coisas que queria ver e não podia, tinha-se desvanecido e foi cheia de satisfação que segui pela costa até Atenas, entre carros que não podiam andar, mas me davam passagem, por caminhos meio sinuosos e em estado manhoso, entre zonas portuárias e zonas industriais sombrias… 

Em Atenas havia um problema no meu alojamento, que não podia receber os hospedes por causa de uma avaria elétrica.

O dono estava todo aflito a tratar de arranjar alojamento para toda a gente e encontrou um sitio bem fixe para mim. Fiquei instalada mesmo no centro da cidade a preço bastante económico e junto de restaurante, bares e festa!

Que belo serão passei numa esplanada bem gira, “Los gatos”, com sangria e musica e gente bem disposta sem perturbar demais o meu sossego!

Amanhã vou passear pela cidade, que já tenho saudades daqui, e depois subir o país!

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