13. Passeando pela Grécia/Balcãs – Bulgária e a bela Plodiv

31 de agosto de 2022

Foi com uma profunda sensação de perda que eu acordei e sai para a rua…

Eu sempre detesto quando as pessoas começam a chamar “regresso” à minha viagem, mas a realidade é que aquele era o ponto em que até eu sentia que começava a regressar…

Se nada me tivesse acontecido o meu caminho seguiria para a Turquia e eu teria uma infinidade de coisas para descobrir ainda. Mas na realidade era hora de seguir para a Bulgária e deixar a Turquia para outra viagem, tentando ignorar que estava a menos de 500km de Istambul.

Depois de 3 PanEuropeans e 2 Crosstourers com veio de transmissão, ter uma moto com corrente deixava-me um bocado apreensiva. Eu já inspecionara se o Scottoiler tinha óleo e se a corrente estava em boas condições, mas não há nada mais persistente que uma cisma e, quando vi um stand da Honda, fui lá pedir para darem uma olhada à saúde da minha motita.

“Ter uma moto com corrente, e que deu um trambolhão há pouco tempo, requer que lhe dedique alguns mimos. Vamos ver se esta tudo bem…”

Na época havia muito poucas motos novas nos stands e muita gente estava há meses à espera da sua NT1100, mas ali havia uma toda vaidosa na montra!

“Uma mana da minha Penélope à venda, novinha ❤️
A minha motita estava ótima, não precisava de nada, apenas eu não consigo ver direito a pressão dos pneus, com esta mão marota a não ajudar nada.
A minha motita foi recebida com muita admiração por ter 20.000km, ainda não tinham visto uma NT1100 tão rodada! E ao verem a minha incaparidade na mão da embraiagem, quase me pegaram ao colo e me mimaram! Chamaram-me super woman ❤️” in Facebook

Percorrendo a Macedónia grega, aquela que obrigou que a Macedónia país se chame Macedónia do Norte, para que não se confundam!

Logo à frente apareceu Xanthi, a cidade das mil cores, dizem.

A mim pareceu-me uma cidade muito alegre e animada, cheia de sol, de gente e de movimento. O sitio ideal para parar e comer qualquer coisa, que o alojamento não tinha pequeno almoço!

E lá estava a catedral: Καθεδρικός Ναός Αγίας Σοφίας Η Σοφία του Θεού

Sim, este é o nome da catedral de Xanthi! E Xanti escreve-se Ξάνθης

Como não nos sentirmos analfabetos num país daqueles? Será que esta é uma das aflições que deu origem à expressão “viu-se grego”? Pessoalmente eu vejo-me sempre grega naquele país, e dizem que os gregos são eles!

Em língua que se leia o nome da catedral de Xanthi é: Catedral de Santa Sofia a Sabedoria de Deus

As igrejas ortodoxas são sempre fascinantes por dentro, mesmo as mais pequenas e mais modestas, por isso, seguramente, a catedral também tinha de ser linda!

E, mesmo estando a contar com exuberância, eu sempre me espanto! Com as cores vivas, os detalhes decorativos, os muitos desenhos e pinturas e, claro, os dourados!

Felizmente não havia lá ninguém, sempre me sinto incomoda perturbando a orações das pessoas com a minha presença curiosa, mesmo se me tento tornar invisível. Todo aquele ambiente me impressionava, eu tinha de ter tempo para ver tudo com calma.

Os caminhos para Bulgaria não são muitos naquela zona. É preciso decidir entre uma grande volta pela esquerda ou uma grande volta pela direita e eu tinha escolhido ir pela costa do mar Egeu.

Eu sabia que havia lago e mar mas, estranhamente, a sensação que tinha era de circular por um grande lago, com zonas pantanosas!

Logo à frente fica Porto Lagos, tão português escrito numa placa, depois de tanto tempo a ler coisas esquisitas por todos os lados!

Porto Lagos fica na barra que separa o segundo maior lago de toda a Grécia, o Lago Vistonida, do Mar Egeu e eu tinha dificuldade em distinguir um do outro, já que tudo parece lago por ali!

E lá estava o Santo Mosteiro de Agios Nikolaos!
Aquele mosteiro é uma dependência do Mosteiro de Vatopedi no Monte Athos. E é único, pois foi construído sobre duas pequenas ilhotas e parece estar flutuar no Lago Vistonida. 

A sensação de encontrar algo que procuro, algo que vi em fotos, livros ou documentos, e descobrir que tudo é exatamente como eu imaginara, é de puro êxtase!

No primeiro ilhéu encontra-se a igreja de Agios Nicolaos e no outro a capela Panagia Pantanassa.

A igreja foi construída para substituir uma anterior destruída num desastre, é dedicada a São Nicolau porque uma imagem de São Nicolau foi encontrada ali. 

Não consegui deixar de lembrar-me do nosso alentejo ao apreciar as paredes brancas, com janelas contornada a azul!

Uma ponte pedonal de madeira conduz ao primeiro ilhéu e uma segunda ponte liga os ilhéus entre si.

Reza uma lenda que, quando aquela zona estava sob o domínio turco, em Porto Lagos vivia um monge santo asceta que curou a filha do senhor daquelas terras. Este, num gesto de gratidão, ofereceu a área ao mosteiro de Vatopedi, no Monte Athos.

Uma outra lenda mais antiga conta que o mosteiro de Agios Nikolaos foi inaugurado com a presença do Imperador Bizantino Arcadio, para agradecer à Virgem Maria por tê-lo protegido de um naufrágio no regresso a Roma.

Tudo é tão bonito e acolhedor por ali que tinha quase um toque de espaço de recreio e não de oração! Felizmente não estava ninguém por lá enquanto andei a explorar, mas essa realidade estava prestes a mudar, pois ao longe eu podia ouvir autocarros a chegar e muita gente a preparar-se para invadir as pontes até ao mosteiro!

Felizmente as pessoas eram respeitosas e foram-se chegando aos poucos sem perturbarem demais a calma do lugar. Seguramente era turismo religioso, pois havia uma atitude de respeito, que não perturbou o lugar.

E enquanto elas se amontoavam no velário eu pude ainda apreciar em paz todos os recantos que me fascinavam, com direito a picnic em local privilegiado e tudo! Pode-se dizer que foi um picnic sagrado!

Ao longe o mosteiro parecia um pequeno recanto de férias…

Eu adoro conduzir, mas também gosto muito de parar, por tudo e por nada. Estava calor e eu aproveitei para parar numa estação de serviço para me refrescar e tomar um café, que costuma ser bastante decente em terras gregas. Não valia a pena por gasolina naquele momento, já que a gasolina na Grécia era bastante cara e na Bulgária seria bem mais barata. Encostei-me por ali a ver os comentários dos meus amigos facebookianos, que estavam a acompanhar a minha viagem. Então uns fulanos se aproximaram de mim e da minha moto!

“Fico sempre surpreendida quando alguém me vem ensinar a viajar, como se existissem fórmulas decretadas para o efeito! Mas a verdade é que dois tipos meteram conversa comigo e um foi logo criticando isto e aquilo, assim que percebeu que eu tinha planos. Eu tentei dar a conversa por terminada, mas tive de ouvir que é uma parvoíce planear muito, que o certo é ir rolando e curtindo a estrada, dormir no hotel mais perto e aproveitar a vida e tive de ver um vídeo que fez em alta velocidade (140km/h valha-me a santa, se isso é tão alto assim!)
Pois é amigo, para curtir a estrada eu não precisava de vir para a Bulgária, não faltam estradas boas em Portugal, os 40.000km que faço por ano são feitos de todas as maneiras, por todos os lados e como me apetece!
“40.000km? Ninguém faz tanto quilometro num ano!!!!” Exclamou com ar de gozo…
Claro que não, eu compro as motos já com os km feitos 😉” In Facebook

Vamos lá embora para a Bulgária que não me apetece aturar mais maluco nenhum, sobretudo malucos que me vêm ensinar a viajar, mas nunca saíram do seu país!

A perola mais encantadora que recebi foi um “ah, Portugal não é um país grande! A Grécia é muito maior, uma volta por aqui é muito mais que uma voltinha por lá!” disse o super-herói sorrindo.

“Claro que sim, mas eu estou cá neste momento e farei mais de 4.000km só para chegar lá!” – Acho que ele não tinha pensado nisso!

Sempre me sinto privilegiada quando cruzo com uma placa que aponta um país longe de minha casa. Isso fazia-me lembrar da primeira vez que passei por aquela zona, saía da Turquia na direção da Bulgária, e cruzava com uma placa que dizia “Bulgaristão” e experimentei de novo a sensação de euforia que senti da primeira vez, só por estar ali de novo!

O encanto quebrou-se quando alcancei carros em fila, parados! Mas a fronteira ainda era longe, não podia ser fila para lá! Seriam obras? Um acidente? Não me apetecia ficar ali parada, quando havia tanto espaço para ir furando!

E sim, era a fila para a fronteira, vários quilómetros de fila. A cada curva eu podia vê-la sem fim, a perder de vista na curva seguinte, até finalmente chegar verdadeiramente à portagem!

De onde vinha aquela gente toda, se no meu caminho não havia transito nenhum? Ainda pensei que fossem os milhões de istambulenhos a sair de Istambul e a virem passear para a Bulgária, já que a cidade é tão sobrelotada, mas não, eram quase todos búlgaros!

Eu sempre disse que os búlgaros passeiam para caramba!

Era a primeira fronteira física/terrestre que eu atravessava, já que até ali tinha passado fronteiras em portos. Não havia nenhuma moto na fila, apenas eu e a minha motita e, no entanto, quando chegou a minha vez a pergunta da praxe surgiu: Your friends?

Ao tempo que eu não ouvia aquilo! De alguma forma era como se me sentisse em casa!

No friends, i’m alone!

O homem, nitidamente, aproveitou para conversar um pouco e perguntou onde eu ia, eu respondi que ia visitar o seu país a caminho de casa. O seu ar de surpresa, estas a ir para casa por aqui?

Sim, todos os caminhos vão dar a minha casa, senhor, assim eu queira!

“A Bulgária recebeu-me com a maior carga de água, para lavar o lixo da moto.
Normalmente não sou muito contraditória, mas nestas coisas sou:
– Se trago o fato de chuva e não o uso, fico lixada, andei a passea-lo sem o usar!
– Se o trago e o uso, fico lixada por ter de o vestir no calor e andar por aí toda enchouriçada!
– Se o trago, chove e não o visto a ver se a chuva passa, fico lixada porque devia vesti-lo pois para isso o trouxe!
– Se o trago e o visto, porque começa a chover… fico lixada porque a chuva passa!
– Se não o trago, fico lixada comigo porque fui uma inconsciente e a qualquer momento vou levar com uma chuvada na testa!
Tão eu!!! 😀” in Facebook

É claro que segui numa corrida por ali acima até Plovdiv. Entretanto a chuva parou mas, mesmo assim, eu não perdi mais tempo. Percebi que não haveria ninguém na receção no alojamento quando chegasse. Eu já lá tinha estado uns anos antes e tinha sido muito bem-recebida. Na época cumprimentei as pessoas pelo seu acolhimento, mas desta vez não iria ter direito a nada, certamente, mas paciência.

E no entanto!

“Quanto tempo as pessoas se recordarão de nós após a nossa passagem?
A tradição ainda é o que era aqui na Old Town Plovdiv!
Estive aqui em 2016 e fui recebida com mensagem personalizada. Hoje voltou a acontecer, mas tive duas, uma na entrada e outra na porta do quarto. Depois de várias mensagens pelo Telegram, tudo estava perfeito à minha chegada. Eu adoro este hostel” in facebook

Eles lembravam-se de mim! Até o gato era o mesmo!

Cada vez que volto a uma cidade tenho em mente coisas diferentes para ver e fazer. Desta vez queia ir passar o serão à Kapana, o distrito das artes da cidade.

O alojamento fica no topo do centro histórico, a que chamam Old Plovdiv, estão é só ir descendo as ruelas empedradas e apreciando as belas casas coloridas, com debruns bonitos.

Cá em baixo atravessar a estada movimentada e lá está a Kapana!

Kapana, o quarteirão das artes!
Situado no coração de Plovdiv, lá estava o encantador bairro Kapana, um centro vibrante de criatividade e expressão artística. Um bairro que já foi repleto de oficinas de artesãos no século XV

O bairro histórico passou por uma transformação notável nos últimos anos, evoluindo para um próspero bairro artístico que atrai visitantes de perto e de longe. 

Uma das características mais marcantes de Kapana é a infinidade de murais que adornam suas paredes, cada um contando uma história única e aumentando o fascínio da área.

Caminha-se pelas suas ruas de paralelo e somos envolvidos por um ambiente pitoresco e acolhedor

Os murais pintados contribuem significativamente para esse encanto, infundindo cor e vida em cada recanto. 

Desde designs complexos que mostram o folclore local até peças abstratas que despertam a contemplação, esses murais servem como contadores de histórias visuais que cativam tanto residentes quanto turistas.

Artistas locais se reúnem para criar obras impressionantes que refletem o espírito da comunidade. Esta vibrante comunidade artística não só enriquece a paisagem cultural de Kapana, mas também desempenha um papel fundamental na formação da sua identidade como bairro eclético e dinâmico.

O charme do bairro Kapana é inegável.

O bairro é um testemunho do poder transformador da arte

Kapana tornou-se não apenas um destino de visita obrigatória, mas também um exemplo brilhante de como a criatividade pode dar nova vida aos espaços urbanos.

Jantar num ambiente único, onde a arte se fundia perfeitamente com a gastronomia, foi uma experiência fantástica. Estar cercada por murais impressionantes e elementos artísticos elevava a atmosfera a outro patamar! 

Sentei-me numa esplanada ao ar livre, coisa que sempre melhora a experiência e o humor, e permiti-me desfrutar da beleza do ambiente enquanto saboreava um prato de carne deliciosa e um copo de vinho local, bem ao meu gosto.

E pronto, depois era hora de voltar a subir as ruelas até ao alojamento, procurando fazer caminhos diferentes, que não gosto de voltar pelo mesmo caminho que fui.

Vamos lá tomar um banho e dormir que tenho uma mão para por a descansar…

12. Passeando pela Grécia/Balcãs – Subindo a Grécia até Drama

30 de agosto de 2022

Hoje eu subiria mais um pouco o país até uma cidade com um nome sugestivo. O caminho não era muito longo, por isso não havia muita coisa para fazer naquele dia e eu tinha todo o tempo do mundo para percorrer os caminhos de Meteora e depois subir até Drama.

Mas claro que não podia ir embora sem passear uma vez mais pelo caminho dos belos mosteiros, por isso lá fui subindo na direção dos “monstros” de pedra.

Os enormes rochedos eram realmente monstros negros em contraluz. O tempo estava límpido, depois da chuvada de ontem e isso tornava a atmosfera perfeita ao amanhecer.

Meteora em grego significa “suspenso no ar” e aquilo tudo tem mesmo ar de estar lá pendurado em cima.

Desta vez fiz alguns desenhos do aspeto imponente dos enormes pedragulhos, mas não tenho a certeza de ter conseguido realmente mostrar um pouco do que sentia ao olhar aquilo tudo…

Mas é assim, uma memória dos momentos que parei e olhei mais demoradamente para aquela paisagem apaixonante!

Reza a lenda que a construção dos mosteiros remonta ao século XI. Os monges eremitas queriam defender-se dos invasores otomanos e foram construindo os seus espaços religiosos no topo dos grandes rochedos para dificultar o acesso.

O curioso é que apenas no inicio do século XX se construíram escadas para chegar lá acima, já que inicialmente tudo se processava com cordas e roldanas que içavam pessoas e materiais em redes e cestos.

Hoje, olhando para eles, que já foram mais de 20, dá que pensar a trabalheira que deu levar lá para cima todos os materiais para construir tudo aquilo!

E a bela estrada que nos leva até à entrada de cada mosteiro é linda e em muito bom estado. Até dá para fotografar a partir da moto em redor!

Eu não sou muito de selfies, mas não resisti em registar o meu próprio rosto todo marcado com o capacete desenhado pelo sol. Linda de morrer!


Isto de não conseguir abrir e fechar o capacete, por causa da dor e da falta de força na mão esquerda, fez-me andar muito frequentemente de capacete aberto e o resultado estava na minha cara!

Há sítios onde passo que ficam na minha memória de uma forma tão gratificante que quando lá volto é como se fosse rever um amigo.

E a despedida é aquele momento onde apetece levar cada recanto na memória, guardar todos os sítios na mesma caixinha para mais tarde recordar… E aquele ponto sempre retratará todo o local para mim. Não fico eu na foto, mas fica a uma sombra de mim!

O Mosteiro Agia Triada (da Santissima Trindade) foi a minha ultimo no meu horizonte.

Eu podia ve-lo pelo retrovisor da minha moto

Ao longe podia ver a envolvência de Meteora.

É curioso como o aglomerado de grandes rochedos fica isolado no meio de uma paisagem completamente lisa, como se a natureza se tivesse enervado naquele sitio e se engelhado em rochedos impressionantes.

Encontrei um lento viajante no meio da estrada. Já vou perdendo a conta de quanto cágados encontrei no meio do meu caminho!

Fechou-se todo em casa quando me viu. Imagino o estrago que faria se eu passasse por cima dele com a moto. Certamente eu me esbardalharia e ele continuaria o seu caminho.

Peguei-lhe com cuidado, era bem pesado o menino, e levei-o para a berma da estrada.

Eu tinha planos de explorar um pouco o Monte Olimpo, por isso até me entusasmei quando encontrei a placa.

A ele estava encimado por enormes nuvens, muito baixas. O tempo não devia estar nada bom lá em cima! parece que quando ali passo o céu está sempre a caír em cima dele!

Com o meu pulso a doer e a mão sem força, o que me reduzia muito a desbtreza, definitivamente eu não me meteria a explorar caminhos ruins. Limitei-me a aprecia-lo de longe e seguir, contornando o mau tempo a ver se cobnseguia passar sem ter de vestir o fato de chuva!

As estradas não eram as mais interessantes e encantadoras, nem os caminhos eram particularme3nte panorâmicos. É frequente pela Grécia encontrar estradas completamente banais, com paisagens nada de especial que não vão ficar na memória depois de uma viagem. Quando é assim, limito-me a parar em estações de serviço para comer e beber, já que procurar recantos encantadores para fazer um picnic é mais trabalhoso e menos interessante!

Eu não como gelados nem bolos, mas gosto de provar cervejas e salgadinhos, e os gregos têm coisas muito interessantes nessas especialidades para a gente degustar!

É nesses momentos que eu percebo que o meu dia vai ser feito de comer e conduzir, porque não ha muito mais o que fazer! Ok, há sempre uma curvinha ou outras para animar a condução 😀

E um lugarejo ou outro para dar uma olhada em redor. mas só uma olhada pois não tem muito mais que a bela igreja para encher os olhos, e mesmo essa, estava fechada! Pieria e a sua Igreja dedicada a Agios Dimitrios.

Porque será que quando tenho pouco o que ver tenho sempre muito mais fome? E pimba, sempre que tenho de parar para por gasolina, lá vou eu dar uma olhada na tasca anexa.

Não encontrei nem muitos viajantes de moto nem mesmo muitas motos de residentes. O que mais vi foi motocas pequenas de locais. Mas ali estava uma belíssima AfricaTwin para fazer comapnhi a à minha Penélope.

Os donos da AT eram um casal, mas não se mostraram muito conversadores e eu não faço questão de prender as pessoas muito tempo com conversas que não interessam para nada, por isso apenas cumprimentei e fiquei no meu canto a apreciar o meu sumo e as motos na minha frente. Antipáticos…

Há momentos numa viagem, que uma simples placa me pode fascinar, quando indica vários países e capitais…

Não sei se outras pessoas processam isso, mas vivemos num país onde as placas apenas podem indicar um único país, por muito que a gente ande para norte ou para sul! E eu estava tão perto da Turquia, onde eu tinha planeado ir antes de destruir o meu pulso… ainda bem que as placas ainda não a indicavam, ou teria sido fortemente tentada a fugir do meu caminho para lá…

Mas ali há Bulgária por todo o lado, embora a Grécia ainda faça fronteira com a Macedónia do Norte, a Albânia e a Turquia.

Não me era permitido realizar mais, o que eu estava já era o sonho possível realizado, mais do que isso seria demais… e cheguei a Drama, sem mais dramas!

O entardecer estava animado no centro da cidade, embora eu tenha sido recebida com obras profundas as ruínhas até ao alojamento. Eu sei, para ser ter estradas boas é preciso tratar-se da manutenção e esburacar de vez em quando para se renovar e refazer. Mas confesso que stressei, com tanto pula pula de buraco em buraco!

O meu alojamento era bem no centro da cidade por isso era fácil explorar a pé, por isso, antes que caísse para o lado a dormir, fui explorar em redor e procurar onde comer.

Encontrei uma pizaria que fazia umas pisa muito apetitosas, lá dentro apenas trabalhavam 4 homem de meia idade, o que para mim foi meio surpreendente, talvez por estar habituada a ver apenas jovens trabalhar em sítios destes.

Disseram-me que só vendiam pizas inteiras e que davam para duas pessoas. Não faz mal, eu consigo comer por duas pessoas, venha dai essa piza! E sim, comi-a quase toda! Sobrou tão pouca quem nem valia a pena trazer embora. Quem não é para comer não é para conduzir!

Eu não sou de noite, no sentido de bares e discotecas, mas gosto tanto de passear por uma cidade à noite e ver com o que é que ela se parece quando as pessoas vão dormir.

Bem, vamos lá para casa dormir, para esquecer o quão perto da Turquia estou sem poder lá por o pé…

Amanhã sigo para a Bulgaria e esqueço de vez o que deixo para trás pois tenho coisas novas para descobrir por lá!

11. Passeando pela Grécia/Balcãs – a tarde em Delfos e o serão em Meteora

29 de agosto de 2022

Hoje eu subiria o país e havia coisas que não queria perder de todo. Planeava mesmo passar grande parte do tempo a explora-las. Mas antes havia Atenas.

Mas o meu dia não seria dedicado à cidade. Havia coisas que eu queria ver por lá, mas não subiria à Acrópole. Ainda tinha viva a memória do calor infernal que lá passara anos atrás. Calor e turistas aos magotes, tudo o que eu não queria ter de enfrentar naquele momento!

Os gregos são muito praticos quando se trata de estacionar uma motoca, encostam-na em filinha na berma das estradas, junto aos passeios, e pronto! E ninguém parece se arreliar com isso.

Eu, como nem sou grega, nem tenho uma motoca, lá encontrei um estacionamento para motos, não fosse aparecer um policia mal disposto, que não gostasse de ver uma portuguesa fazer como os gregos na sua terra e multar-me! Afinal arranjaram-me um alojamento novo, mas sem garagem… não se pode ter tudo!

A porta de garagem que existia junto ao alojamento, bem original por sinal, era na realidade a porta de um bar, que trancada ficava com aquele ar!

Eu estava hospedada na Plaka, o coração da cidade, cheia de movimento. Não era fácil para mim andar por ali a fazer o esforço por conduzir com precisão pelas ruelas até encontrar um sitio para estacionar.

Atenas é um museu a céu aberto e, a cada vez que lá volto, exploro mais um pouco. Desta vez fiquei-me pela Plaka e as suas ruinas.

Andei a ver os chapéus, a verdade é que eu estava a precisar de comprar um novo, que o meu estava bem gasto, deformado e meio desbotado. Mas aqueles eram de palha, muito claros para mim, chapéus de verão.

A beleza em redor inspirava-me para tomar um pequeno almoço calmo e requintado, longe da confusão, da gente que passa e do barulho dos carros. Encontrei aquele sitio tão simpático e reservado, sem ser fechado, e fiquei tão contente ali.

Pessoas vieram e foram e eu calmamente no meu canto. Às vezes é preciso não ter pressa para nada e em viagem é quando sabe melhor. Já basta em tempo de trabalho, quando tenho horas para cumprir e pequenos atrasos podem ser faltas, a qualquer hora do dia!

As ruinas do antigo mercado romano parecem ruinas de um templo!

A Biblioteca de Adriano ficava mesmo ali. Não havia muitos turistas por isso podia andar à vontade. Acho que aquela hora os turistas ou estavam nas esplanadas ruidosas a tomar o pequeno almoço, ou se amontoavam para entrar em sítios mais chamativos como a Acrópole,

O edifício esteve subterrado por baixo de uma igreja paleocristã, primeiro, e séculos depois por uma basílica, até que no final do século XIX um incêndio no local deixou aparecer magnificas e enormes colunas de mármore. Então depois de grandes escavações ela foi restaurada e ficou como a vemos hoje.

Impressionante a importância que uma biblioteca tinha há tantos séculos! E pensar que hoje, século XXI, há quem ache que é uma perda de tempo e que nunca tenha entrado numa…

A minha moto tinha chamado a atenção e aqueles dois foram-se pôr perto dela, logo à minha chegada. Acho que o meu ar ao pousar a moto e colocar o chapéu não os inspirou a aproximarem-se. Mas ao meu regresso eles meteram conversa com um “Beautiful bike!”

Eu compro sempre a moto que gosto contra tudo e contra todos, mas quando alguém diz que ela é linda, fico sempre vaidosa.

E com o seu inglês macarrónico, lá me pediram para tirar fotos junto dela. E sim, ambos tinham smartphones decentes para tirar fotos, eu mesma os usei para os fotografar! Claro que também tirei uma com o meu telelé, para memória futura.

Dei mais uma volta pelo centro com a moto para ir embora e, ao passar no portão de Atena Archegetis, tive de parar um pouco para registar o momento em que a minha motita lhe passou em frente. Afinal é uma das construções mais importantes e imponentes que restam da Ágora Romana! 😀

Numa ultima olhada sobre a Ágora podia ver a Torre dos Ventos, rodeada pelas colunas de mármore, e a colina da Acropole ao fundo.

Ok, vamos ver isto tudo de longe e vamos embora.

Eu queria subir ao Monte Lykabettos, o ponto mais alto da cidade, dizem que tem 277 metros de altitude. Reza a lenda que, em tempos, ali era um refugio de lobos e que daí poderá ter surgido o nome, já que lobo em grego é “lycos”.

Há um funicular que leva lá acima, que eu nunca vi porque sempre subo pela estrada, além de que ele não é visivel da rua, pois sobe por um túnel até ao topo. Lembro-me de quando fui lá a primeira vez, guiei-me pela sua silhueta na noite e fui subindo ruas ingremes e cheias de curvas sem ter a certeza de que a minha moto, uma PanEurpean na época, passaria nos sítios onde a metia.

Desta vez sentia-me bem menos confiante, mesmo com uma moto muito mais leve e ágil. Mas as subidas ainda me angustiavam tanto!

Chegando ao estacionamento há uma série de degraus para subir e as perspetivas sobre a cidade e o próprio monte vão-se revelando.

Na realidade o estacionamento é um pouco mais afastado, eu é que pus a minha motinha num canto de jardim mesmo em frente às escadas. Os senhores que estavam lá a tratar de uma buracada qualquer acharam que era um bom sitio para eu a pôr… e eu também! 😀

A Suprema Sacerdotiza, Pitia, era a ligação entre os deuses e os humanos e, para comunicar, entrava em transe inalando gases libertados pelas montanhas (ou usando drogas, digo eu!) sendo as suas mensagens interpretadas pelos sacerdotes, acreditando-se que ela era a voz do próprio Apolo. Agora imagine-se o poder daquela mulher!

Felizmente não estava muito calor, mas mesmo assim quando cheguei ao restaurante no topo das escadas, tive de comprar uma garrafa de agua fresca pois estava a desidratar!

Lá em cima a capela de S. Jorge e a torre sineira assinalam a chegada ao ponto, como recompensa.

A perspetiva sobre a cidade, a partir dali de cima, é verdadeiramente de 360º!

A norte do monte há umas “ilhas” verdes onde eu já passara ha uns anos, podia ve-las ali de cima. Eram mais interessantes vistas de longe que no local, como acontece tanta vez!

A cidade está por todo o lado e a Acrópole, em frente a mim, na direção do mar, como a cereja em cima do bolo.

Ligeiramente mais a sul, ao longe fica o estádio Panathinaiko, imponente, um dos estadios mais antigos do mundo totalmente construido em mármore branco.

Depois há a portinha que dá para uma escadaria que leva até lá abaixo à cidade e, provavelmente, também ao funicular! Honestamente não desci muito para verificar. Tudo o que desce volta a subir e a minha moto estava no outro lado do monte, cá em cima!

No próprio Monte há um anfiteatro moderno ao ar livre, com uma estrutura metálica impressionante, onde já atuaram artistas como Bob Dylan, Ray Charles ou os Scorpions. Deve ser fantastica a sensação de estar no topo da cidade a assistir a um concerto!

Já vai sendo comum encontrar bichinhos giros no meu caminho por aquelas paragens. Fui a correr tirar o cágado da rua, só para lhe por a mão antes que ele saltasse em velocidade alucinante para a berma!

Eu não ía para muito longe de Atenas, mas precisava de todo o tempo possivel para explorar o sitio.

Segui o meu caminho, primeiro meio plano, depois começou a subir e a paisagem a ficar mais interessante. Cruzei Aráchova, um mimo de terrinha que já fica acima dos 900m.

Sempre mais interessante ver estas populações do exterior que desde as ruas que as atravessam, mas fofinha mesmo assim.

Um sitio muito oportuno para me abastecer para as horas em que não teria nada para comer ou beber!

E cheguei a Delfos…

Não posso negar que foi um momento muito especial para mim chegar ali… Delfos o “umbigo do mundo”

Reza a lenda que Zeus, o rei dos deuses, procurava o centro da terra, por isso soltou duas águias de extremos opostos da terra, voando em direção uma da outra, e elas se encontraram em Delfos. Naquele ponto foi colocada uma pedra oval, que é um formato de boas energias. Esta pedra oval chama-se ônfalo em grego, que quer dizer umbigo e daí surgiu a alcunha.

E na antiguidade Delfos era mesmo o centro do mundo, vinha gente de todos os lados para consultar o Oráculo, gente de todas as classes, desde nobres, reis e politicos até gente comum, à procura de orientaçoes, respostas a questões específicas e prever o futuro.

Depois chegaram os romanos e acabaram com aquilo tudo e pronto, o oráculo perdeu todo o interesse e a cidade decaiu!

Delfos fica encrostada na costa sul do monte Parnasso com o Golfo de Corinto no horizonte, depois do vale.

Delfos ficará na minha memória como o sítio arqueológico mais belo que vi…

Pode até nem ser, mas a localização e a carga emocional que ele teve para mim foi mais impactante que o Fórum Romano de Roma, o Coliseu ou Olympia!

Por isso dispus-me a passar ali o tempo todo que me apetecesse!

Tesouro de Atenas, uma das capelas que rodeavam o Templo de Apolo.

Havia outras, cada uma dedicada a uma cidade-estado e chamavam-se tesouros porque continham as oferendas da cidade correspondente ao deus, para comemorar as suas vitórias. Esta era a de Atenas e é a única que foi restaurada.

Aquele capitel Jonico, enorme, fascinou-me! Para ele ser daquele tamanho, a coluna que ele encimava seria meio gigantesca!

A forma como eram empilhadas e encaixadas as pedras e tijolos sempre me fascina. Como um puzzle belo e muito bem montado!

E lá estava a Coluna das Serpentes, ou a sua réplica já que a original continua em Istambul, antiga Constantinopla, para onde Constantino I, o Grande, a mudou uns 300 anos dC!

Ela era parte de um monumento de bronze em forma de coluna espiralada. Originalmente tinha cerca de oito metros de altura, hoje tem apenas seis, já que perdeu elementos. Foi erguido em Delfos como oferenda a Apolo 478 anos aC, para comemorar a vitória grega sobre os persas.

E logo a seguir estava o Templo de Apolo… ou o que chegou até hoje.

Ainda é possivel ver a sua enorme dimensão. Devia ter sido um monumento impressionante!

Acho que sentei o rabo em todas as pedras que encontrei e fui desenhando aqui e ali, sempre que havia uma sombra oportuna e ninguem em redor para me incomodar.

As perspetivas são impressionantes à medida que se vai subindo. Aquela gente sabia escolher o sitio para viver!

A perspetiva vertiginosa sobre o anfiteatro e o vale é verdadeiramente fascinante! Facil de perceber porque sempre aparece na net quando se pesquisa por Delfos!

Não sei quanto tempo fiquei sentada a olhar, mas mesmo com outras pessoas por ali a caminhar, parecia que o local absorvia todos os ruidos, e só sobrava o leve ronronar de água ao longe.

Quando visito aldeias penduradas em colinas sempre me pergunto como as pessoas faziam para subir e descer toda a encosta do monte vezes sem conta!

Na realidade aquilo subia que se fartava e os desenhos que foram feitos imaginando o povoado em seu apogeu são inspiradores, com o enorme templo de Apolo a dominar tudo e o anfiteatro logo acima. Impressionante!

Desci à rua finalmente, pois a outra parte das ruinas fica do outro lado da estrada.

Alguns desenhos que fiz:

Aquele capitel Jonico que me fascinou…

Outros desenhos do teatro ficaram só no esboço, acho que este foi o mais fofinho que fiz

O Templo de Athena Pronaia …

… está localizado a alguma distancia do centro das ruinas principais. Na antiguidade ele ficava à entrada de Delfos e era dedicado à deusa Atena para que ela protegesse o seu meio-irmão Apolo.

É, fiquei ali por horas. Podia ver o vale là em baixo e a estrada que iria percorrer ao continuar o meu caminho

estradas bem inspiradoras, por sinal!

O sol ficou para trás à medida que eu ia subindo o país. Parece que é assim em todos os países, o norte é mais dado a nuvens e tempo incerto que o sul! Será?

São aqueles percursos que ameaçam de tal maneira com uma carga de água a qulquer momento, que nem apetece parar, só para tentar escapar à chuva!

mas eu parei e segui e as nuvens passaram de ameaçadoras a assustadoras

e de assustadoras a aterradoras!

Mas se há coisa que eu não tenho é medo de chuva, por isso segui cantando e assobiando e a chuva não me alcançou até eu chegar a Meteora!

No alojamento disseram-me que não saisse pois vinha aí uma carga de água… mas eu não conseguiria ficar quieta com aquelas enormes pedras a chamarem por mim!

A primeira vez que fui a Meteora apaixonei-me pelo local, pela atmosfera, pelas pessoas e pela comida.

Dizem que a gente não deve voltar ao local onde foi feliz e eu sempre fico com receio de estragar memórias agradáveis que trago comigo. Mas então eu cheguei e tudo voltou! E foi mais forte do que eu, aquela vontade de ir lá acima conferir se tudo era como eu me lembrava.

Aquela sensação de voltar ao interior das enormes pedras, fez tudo ser tão familiar como se lá tivesse estado poucos dias atrás.

A estrada continua boa e com perspetivas de cortar a respiração!

Havia gente por ali acima à espera do por-do-sol E os do alojamento com receio que eu subisse por causa da chuva que vinha aí! Aquelas pessoas estavam a pé, de t-shirt, e iriam apanha-la toda mais facilmente do que eu, que estava de moto e poderia descer rapidamente a qualquer momento!

É tão esquisito que se pense que eu estou mais desprotegida de moto que outras pessoas a pé, não é?

Os pontos mais famosos de observação do pôr-do-sol no vale estavam cheios de gente, havia varias das famosas Vans que levam os turistas até aqueles pontos e havia eu que andava a passear, como quem confere se todos os mosteiros ainda estão no seu lugar desde a ultima vez que ali passei!

Mosteiro de Agia Tríada e a minha motita ♥

O horizonte estava a iluminar-se, provavelmente o sol iria, pelo menos, avermelhar as nuvens!

Ao longe os turistas, em cima do grande rochedo, pareciam formigas eufóricas pela perspetiva de ainda vislumbrarem o sol!

E realmente o sol espreitou um pouco no ultimo momento, como se quisesse dar um pequeno espetáculo para quem se dispôs a esperar por ele, contra todas as espectativas de chuva que o céu cinzento deixava adivinhar!

Não precisei de subir à grande pedra, afinal da rua tem-se uma visão muito parecida, só que sem ninguém em meu redor a fazer selfies!

Eu tenho uma foto com a minha PanEuropean ali, naquele sitio!

“Navegar” no meio daquelas pedras sempre me fascina e faz acelerar meu coração! ♥

Adoro Meteora e certamente esta não foi a ultima vez que lá passei…

Eu já fiz tantos desenhos lá, mas mesmo assim fiz mais uma série deles desta vez, para acrescentar à coleção!

O meu Mosteiro Ágia Tríada

Estava na hora de ir comer qualquer coisa e, se bem me lembrava, havia ali um restaurante que eu conhecia ali, eu vira-o ao subir. Da ultima vez que ali estive, fiquei por três dias, para ter tempo de visitar diversos mosteiros por dentro, e fui jantar a um restaurante perto do alojamentento nas 3 noites que lá passei.

Lembrava-me de ter gostado muito do serviço, da simpatia e da comida, por isso achei que seria uma boa ideia lá voltar.

“Quanto tempo as pessoas se recordarão de nós, depois da nossa passagem?
Estive em Meteora em 2013, com a PanEuropean (a Magnifica) cheguei de noite e vinha cheia de fome. No alojamento receberam-me com alegria, uma senhora de moto!!! Perguntei se ainda haveria algum sitio onde comer. Disseram-me para subir uns 200 metros até este restaurante, a ver se ainda me davam comida. Deram! E era tão boa que aqueceu meu coração. Hoje voltei ao mesmo sitio, a comida é de novo genial e toda a gente se lembrou de mim, do meu chapéu e da minha moto…. ( era de outra cor, não era?)” – in Facebook

O senhor sentado à porta do restaurante parece que ficou sentado ali desde a ultima vez que lá estive!

“ciao bella” tudo igual ao que me lembro! ♥

Para o jantar costeletas de cordeiro grelhadas acompamhadas do bom vinho branco grego geladinho, que delícia! Que digam os 3 gatinhos que aninharam a meus pés a ver se lhes tocava alguma coisa

A minha companhia ao jantar. Eram três gatitos novinhos, um deles era muito arisco para eu o apanhar numa foto sem plash!

Gatos sempre se aproximam de mim. Acho que sentem que eu os adoro!

E de presente um pequeno gelado, oferta da casa. O que eu gosto dos gregos! ♥

E então veio o temporal, o céu desabou sobre Metora como meteoritos, de tão grossas que eram as gotas de água. Mas só depois de eu chegar a “casa” e me sentar no alpendre a arrefecer o meu pulso febril.

Sentia-me feliz!

Amanhã sigo para norte…

10. Passeando pela Grécia/Balcãs – de Esparta até Atenas dando a volta ao sul

28 de agosto de 2022

Há um Sítio Arqueológico muito importante em Mystras. Eu podia vê-lo pela encosta do monte, porque está situado, como num anfiteatro sobre a cidadezinha.

A senhora do alojamento era russa e estivemos na conversa sobre a guerra e como ela tinha pena de não poder visitar o seu país. Falamos também do sitio arqueológico e fiquei a saber que demoraria a manhã toda a visita-lo, porque se estende pela encosta do monte e é composto por diversos espaços…

Por vezes tenho de fazer opções e ali optei prosseguir para Esparta e assim ficar com tempo para descer até à ponta sul da península e só depois subir para Atenas, pela costa.

Esparta, a cidade do lendário rei e general Leónidas e os seus 300 guerreiros.

A antiga Esparta com o monte Taígeto ao fundo, que se eleva até aos 2400 metros. Na realidade não é um monte e sim uma cordilheira das mais antigas registadas na Europa e que aparece referida na Odisseia de Homero. Fiquei fascinada por poder localizar e olhar para uma paisagem que vem desde a Grécia antiga até aos nossos dias. Eu sei que toda a terra e monte pela Europa tem historia antiga, pois nada cresceu de repente, mas não pude evitar a sensação de pisar terra sagrada para a humanidade!

E lá estava a Acropole sobre uma pequena colina, sem bilhete para comprar, apenas um portão sem guarda onde eu entrei livremente!

Esparta tinha o exército mais temido da Grécia, porque os seus homens eram treinados desde miúdos para se tornarem grandes guerreiros. Eram retirados de suas famílias em criança para viverem em meios agrestes, aprendendo a suportar a fome, o frio, a dor e tudo o que lhes pudesse vir a surgir pela frente. Este treino, que era uma forma de vida, conferia-lhes tanta força, experiencia e conhecimento, que eram vistos quase como semideuses.

O nome Esparta é conhecido mundialmente devido à sua história, sendo até hoje símbolo de heroísmo e autossacrifício, bem como de uma forma frugal de viver.

Ainda hoje usamos o termo “espartano” para descrever algo simples e despojado com sinónimos como: austero, rígido, rigoroso, severo ou implacável e intransigente.

Esparta fica na região da Lacónia, que também viu o seu nome associado às principais caraterísticas da sociedade espartana, originando o termo “lacónico” que ficou associado a uma forma sucinta e sintética de falar e escrever.

Dá para ver que aquela gente era “curta e grossa” na vida do dia-a-dia, sem ostentações, nem coisas supérfluas, sem esculturas nem adornos, o que contribuiu para que, mesmo hoje, não hajam muitos vestígios da sua sociedade, porque além de terem pouco o que deixar, provocaram muitos ódios que geraram a destruição de tudo o que era seu ao serem vencidos e superados.

Eu sabia isso tudo, mas agora que estava ali, pisando o seu lugar, conseguia perceber direito o que e isso queria dizer… havia tão pouco das edificações caminhos e estruturas da época!

É certo que estão em escavações, e muita coisa estará debaixo daquela terra acumulada, mas mesmo o antiteatro é quase apenas uma curva cavada na encosta da colina, quase impercetível!

Deu-me uma nostalgia! Sentei-me ali e fiquei a olhar, imaginando como seria fantástico poder ver como tudo aquilo era há 25 séculos! Por outro lado, cruzes, foi há tanto tempo e, segundo lendas e histórias, as guerras foram tão sangrentas que o melhor é ficar tudo como está, na base da imaginação!

Mas a guerra não foi ali, foi bem mais para norte.

Leónidas recebeu o pedido de ajuda para defender a Grécia da invasão dos persas e conduziu seus homens para norte de Atenas onde travou a batalha do desfiladeiro das Termóplias, lutando até à morte e retendo as tropas invasoras.

De entre os seus homens apenas 300 eram espartanos, um numero insignificante perto das tropas do Xá, e foram eles que deram o mote para o filme 300.

Reza a lenda que o Xá persa ameaçou-os dizendo: “Minhas flechas serão tão numerosas que obscurecerão a luz do Sol”.

Ao que Leónidas respondeu: “Tanto melhor, combateremos à sombra!”

Os espartanos podiam ser lacónicos, mas tinham sentido de humor!

Dizem que os espartanos mataram mais de 20 mil persas antes de serem aniquilados…

Impossivel passar por aquele sitio, relembrar a história e não lembrar a estória do filme 300 mais a sua frase iconica: this is Sparta!

Sai-se da acrópole, em direção ao centro da cidade e lá está, Laónidas! Tive de fazer uma espécie de “um minuto de silêncio” ao grande herói…

E dirigi-me para sul. Havia uma terrinha lá bem abaixo onde eu queria passar sem falta!

Eu já não me lembrava que por aqueles lados LARANJA e PORTTUGAL pronunciam-se praticamente da mesma forma, a sonoridade das duas palavras é praticamente a mesma

mas a escrita também, se formos ao google tradutor e o pusermos a falar entendemos melhor porque é que aquela gente sorri quando eu digo que venho de Portugal!

Conduzir calmamente era tudo o que eu queria, mas não pude deixar de parar ao avistar uma igreja ortodoxa. Elas são sempre tão bonitas! Estava em Molai e era a igreja de São Nectarios.

Estava aberta e pude visita-la com calma, pois só estava lá a senhora responsável, não havia ninguém a orar.

Sempre me sinto desconfortável a explorar uma igreja onde há gente a rezar, sobretudo aquelas, que são pequenas e onde as pessoas se movimentam quando rezam, de um altar para o outro, de imagem em imagem, beijando-as e tocando-as, porque nunca sei como me mover ou se vou ferir a sua sensibilidade.

As pinturas que contam histórias sempre me fascinam, por vezes contam mesmo histórias recentes, os religiosos é que parecem sempre velhos, com barbas brancas e chapéus negros.

Gostava de um dia assistir a uma celebração e entender as movimentações no espaço religioso, o que há por trás da porta no altar e quem lá entra ou quem de lá sai!

E há velas fininhas e medalhas que são oferecidas às imagens com muita devoção.

E lá estava “o rochedo mais bonito do mundo” a lembrar o desenho do Principezinho, da cobra que engoliu um elefante!

Monemvasia fica do outro lado do rochedo, o lado sul, na encosta voltada para o mar Egeu.

A vila está ligada a terra por um istmo, que curiosamente é uma palavra de origem grega e que quer dizer pescoço em português!

Atravessa-se as aguas límpidas como cristal até ao rochedo onde não circula qualquer tipo de veiculo.

Estaciona-se à porta e, assim que se entra a muralha, percebe-se porque nenhum veiculo ali circula, as ruinhas são como caminhos privados entre casinhas.

Monemvasia foi fundada pelos bizantinos no século VI e é uma cidadela medieval encantadora. A fortaleza é chamada “Gibraltar do Oriente” e foi ocupada por bizantinos, cruzados, venezianos e turcos.

O “Kastro” – (castelo), é dividido em duas partes, a cidade baixa e a cidade alta.

Não fui até à cidade alta, porque os caminhos são íngremes e com degraus, e o calor não me inspirou a subir.

Afinal há carrinhos a circular ali, carrinhos de mão que, pelo ar de quem os manobrava, eram difíceis de controlar!

Há recantos tão bonitos para explorar na cidade baixa, que me ocupei por ali, a fotografar e a desenhar.

A vontade era ficar ali por horas a explorar e desenhar, porque é tudo tão bonitinho e acolhedor!

Só para viver um pouco daquela atmosfera valeu a pena descer todo o Peloponeso antes de ir para Atenas!

Acabei por me instalar na pracinha central onde não faltam esplanadas de cafés e restaurantes, para me refrescar e curtir o ambiente.

E, acompanhada por uma cerveja gelada, acabei por me por na conversa com turistas e residentes sobre banalidades do dia-a-dia por aquelas paragens.

Lentamente, como quem não tem vontade de ir a lado nenhum, la fui caminhando até à saida para me fazer de novo à estrada.

Monemvasia em grego, significa “entrada única” e eu lá saí pelo mesmo caminho por onde entrei, para começar a subir para Atenas .

Por aquela altura a minha mão esquerda começava a falhar e eu só rezava para que não me aparecesse nenhuma novidade inesperada, que me obrigasse a ações repentinas, porque eu sabia que não conseguiria…

Felizmente as estradas eram poucas e pouco movimentadas, sem muito assunto para eu me distrair. Ainda tive um ou outro momento de algum stress, quando um carro me aparecia de repente, vindo não sei de onde, e entrava na minha frente, sem imaginar o quanto eu estava limitada na minha rapidez de reação!

Eu não queria ir direta a Atelas pelo caminho mais curto, não queria fazer autoestrada, e queria chegar-me à costa leste assim que a montanha me permitisse. Por isso fui passando por populações fora da estrada principal, em perspetivas encantadoras.

A montanha que eu atravessara no dia anterior aparecia ao longe, imponente e com nuvens por cima. Do outro lado devia estar a chuviscar, segundo as previsões. Sorte a minha que andava à frente do mau tempo, deixando-o a molhar os caminhos que já fizera!

Finalmente cheguei a Astros, junto do Golfo Argólico, quando a terra começa a curva para outro braço de terra onde fica Náuplia.

Astros é uma terrinha sem grandes atrativos, daqueles sitios onde a gente para porque tem um quiosque que serve bebidas frescas.

E ainda bem que parei, porque refresquei a gargante e o pulso, para depois enfrentar a ventania de leste que atirava até a agua para a estrada!

Quando eu andava pela Islândia sentia-me confusa porque, como não há arvores por lá, não conseguia prever de que lado vinha o vento, mas agora, com as palmeiras a vergarem à força do vento, já não achava tão reconfortante assim ver o efeito que ele fazia! Era meio assustador!

Havia parapentes no ar com aquela ventania! São malucos os gregos? Se eu me via grega a conduzir a moto no chão, eles não stressariam no ar?

Quando está vento e atravesso uma localidade, sinto-me bem mais confortável, ao menos se eu cair alguém estará por perto para me ajudar a levantar! Não, eu posso fazer tudo menos cair, nem queria imaginar a avaria que seria se eu caísse e me magoasse na mão marota!

E lá estava Náuplia, com a sua fortaleza de Palamidi no topo do monte! Seguramente que eu não subiria lá acima! É daquelas coisas que eu prefiro apreciar cá de baixo, embora imaginasse que o golfo e a cidade vistos lá de cima deveriam formar uma paisagem impressionante. Mas com aquele vento todo, a subida com curvas, carros e camionetas à mistura, e a minha mão a doer cada vez mais e a perder a força… eu não arriscaria!

A cidade foi fortificada pelos venezianos no século XV para se proteger contar os piratas

E o castelo de Bourtzi, no meio do mar! Tal como a fortaleza no monte, o castelo é veneziano. Bourtzi significa torre em turco, e é o que o castelinho é, uma torre no meio das águas do porto!

O castelo aquático impressionou-me bastante e confesso que me apetecia apanhar um barco e ir lá vê-lo de perto…

Lá segui, meio relutantemente, maldizendo a minha incapacidade de explorar mais em pormenor ….

Claro que o azul quase artificial do mar me reconfortaria bastante, afinal ainda havia muita coisa para ver e para viver e eu poderei voltar a passar ali noutra viagem qualquer, sem limitações na condução…

E então lá estava ele…

Parece uma ponte comum, quando a gente o atravessa concentrada na estrada, mas na realidade é uma obra impressionante, o Canal de Corinto!

Foi construido no final do século XIX, meio a “pá e pica”

Já um dia o atravessei sem perceber que era ali, mas desta vez eu ía atenta e não o deixaria passar debaixo das minhas rodas sem parar para o apreciar!

O Canal de Corinto liga o Golfo de Corinto ao Mar Egeu e, literalmente, rasga o Istmo de Corinto, que liga Peloponso à Grécia continental, para fazer esta ligação.

Não é muito longo, tem pouco mais de 6 quilómetros de comprimento, mas é impressionante porque é profundo, como se o mar ficasse entre paredes.

Ele permite a circulação rápida de barcos desde o golfo até ao mar Egeu que, antes da sua construção, teriam de dar a volta a toda a península de Peloponeso, o que alongava a viagem para mais de 700 quilómetros.

Uma obra que foi primeiramente pensada pelos romanos, para acabar por ser realizada apenas 20 séculos depois!

Como é bastante estreito, tem pouco mais de 20 metros de largura, não permite a passagem de grandes barcos, por isso apenas barcos de medio e pequeno porte lá passam.

É claro que o desenhei! Ainda bem que a mão marota era a esquerda, senão não poderia ter desenhado coisa nenhuma!

A sensação de deixar para trás coisas que queria ver e não podia, tinha-se desvanecido e foi cheia de satisfação que segui pela costa até Atenas, entre carros que não podiam andar, mas me davam passagem, por caminhos meio sinuosos e em estado manhoso, entre zonas portuárias e zonas industriais sombrias… 

Em Atenas havia um problema no meu alojamento, que não podia receber os hospedes por causa de uma avaria elétrica.

O dono estava todo aflito a tratar de arranjar alojamento para toda a gente e encontrou um sitio bem fixe para mim. Fiquei instalada mesmo no centro da cidade a preço bastante económico e junto de restaurante, bares e festa!

Que belo serão passei numa esplanada bem gira, “Los gatos”, com sangria e musica e gente bem disposta sem perturbar demais o meu sossego!

Amanhã vou passear pela cidade, que já tenho saudades daqui, e depois subir o país!

9. Passeando pela Grécia/Balcãs – Por Olympia até Mystras

27 de agosto de 2022

O meu pequeno apartamento era muito simpático, com uma cozinha minimamente apetrechada com o necessário.

Ontem eu estava tão cansada que não me apeteceu de todo andar à procura de um sitio para comer. Passei no supermercado, ali perto, e fiz um jantarzinho delicioso, de carne grelhada com salada e, claro, um vinhinho da zona a acompanhar!

Hoje, preparei um delicioso pequeno almoço, na casa havia manteiga, doce de fruta, chá e café, só precisei de trazer o resto.

Não há nada mais agradável pela manhã do que tomar um belo pequeno almoço numa varanda virada a nascente!

De noite choveu torrencialmente, eu podia ouvir a chuva a bater nas precianas. Uma chuva estratégica que só caiu depois de eu ir para a cama e terminou antes de eu sair dela! A minha motita ainda estava toda molhada.

Hoje eu ia atravessar para Patras e depois descer a península de Peloponeso. Havia coisas que eu queria ver por ali abaixo, mas estava naturalmente mentalizada para ver o que conseguisse de populações e focar-me mais em paisagens. Passear pelo interior de uma cidade era um suplicio para a minha mão e eu não precisava torturar-me, pelo menos não pela manhã!

Tive azar, não muito longe dali a rua estava fechada, a ponte caíra, por isso era preciso seguir pelo caminho alternativo. Nada de especial se não fosse cedo demais para a minha mão estar operacional para segurar direito o guiador. Ainda por cima havia camiões a passar e depois carros… valha-me Deus, esta gene decidiu vir toda agora que eu preciso fazer isto sozinha para não ter de parar nem usar a embraiagem?

Caminhos que eu faria tão facilmente, de repente tornaram-se um acontecimento…

Tive de ir para a autoestrada pois queria atravessar a Ponte Charilaos Trikoupis, ou Ponte Rio-Antirio. Eu sei que não é mais que uma ponte, mas sempre me chamou a atenção por ligar os dois extremos de Etólia-Acarnânia e Peloponeso

Parei para fotografar a ponte e a estatua do atleta transportando o facho olímpico quase me fez querer sair e ir explorar a terrinha ali ao lado, Antirrio.

Eu queria ver a ponte desde terra, mas não sería em Antirrio. Atravessei para Patras e fui seguindo o meu sentido de orientação, furando pelas ruelas e procurando a margem do rio.

E os caminhos eram mesmo estranhos! Cheios de curvas, partes em terra batida, depois desciam e passavam à rasquinha por baixo de uma linha de comboio, voltavam a subir, obrigatório virar à esquerda, depois à direita, sempre obedecendo a sinais de trânsito esquisitos que me faziam a sair daquela ruínha por alguns metros para depois voltar a ela mais à frente!

Aqueles gregos são marados! Rompendo aquelas ruelas estreitinhas passava a linha do comboio e esse era tudo menos insignificante! Lá estava ele, sem qualquer guarda ou proteção, cada um que confie no seu instinto e na sua visão e audição apurada! Havia sítios onde até havia miúdos a brincar! Devem estar mesmo muito habituados àquilo, só pode!

E lá estava ela!

É uma ponte especial no seu estilo, uma ponte estaiada como a nossa ponte de Vasco da Gama, que tem um vão muito grande, há quem diga que é o segundo maior do mundo. E é imponente!

Depois de sair do intrincado das ruínhas que me levaram ali, a sensação era de uma imensa paz e frescura! A água era límpida e cristalina e as montanhas ao longe, inspiradoras… Enfiei as mãos na água fresca e só então processei que ela era salgada e isso fazia muito bem ao meu pulso!

Patras não me prendeu muito tempo. A minha entrada na cidade não correu muito bem, sei lá porquê motinhas e scooters enredaram-se em mim e eu tive alguma dificuldade em conduzir naquela pressão. Se eu estivesse bem das mãos não me teriam perturbado, a minha moto andava mais e eu sou habilidosa no trânsito, mas naquele momento eu só pensava que aquela gente não imaginava o perigo em que se e me punham ao fazerem-me tangentes e apertarem-me. Raios partam o “patranhences”.

Mas há coisas lindas que sempre me fazem parar e apreciar…

Patras é uma das maiores cidades da Grécia e está cheia de coisas interessantes para ver, mas é também um porto onde eu tenciono desembarcar mais dia menos dia, por isso o que não vi estará lá à minha espera para eu ver numa próxima passagem!

E segui para Archaia Olympia, onde eu queria gastar bom tempo do meu dia!

Mas como quem vai para o mar avia-se em terra, fui primeiro almoçar para depois explorar e caminhar sem o estomago a roer-se no vazio!

Archaia Olympia, quer dizer exatamente “Olímpia antiga” e sim, foi ali que nasceram os jogos olímpicos da antiguidade! E apesar das semelhanças de nomes, não tem nada a ver com o monte Olimpo, que fica lá para norte a centenas de quilómetros de distância.

Entra-se no recinto e envontra-se logo o Philippeion, um memorial circular jónico, que me chamou a atenção pela sua beleza ainda visivel e pelo seu nome, já que é um memorial a Filipe, e os Filipes sempre me prendem a atenção, ou não fosse o meu moçolio Filipe também!

De qualquer maneira é uma construção única já que é o único monumento ali dedicado a um humano.

Os Jogos Olímpicos nos tempos da Grécia antiga realizaram-se a partir de 776aC, deixando um período de pausa de 4 anos entre celebrações. Este modelo é conservado até aos dias de hoje. Eles eram mais do que desporto, representavam a paz e a nobreza da competição. O Estádio de Olímpia foi palco de todas as competições atléticas dos antigos Jogos Olímpicos, à  exceção das corridas de carros e cavalos que eram realizadas no Hipódromo adjacente

E ali estava eu, à porta do estádio!

Passar por aquele corredor onde se fez história tantos milénios atrás, tem sempre um impacto forte na gente! Pelo menos em mim tem!

E lá estava todo ele a meus pés! A gente consegue imaginar o rugido da multidão percorrendo todo aquele imenso espaço. Eu já vi outros estádios, mas aquele não é “um estádio”, aquele é “O estádio”!

Não conseguia evitar de caminhar por ali como quem caminha em solo sagrado e acho que, se houvesse turistas marados, agarrados aos pauzinhos de selfie a fazer macacadas pelas ruinas, eu me teria passado com eles!

O Templo de Zeus, ali ficava uma das 7 maravilhas do mundo antigo: a estátua gigantesca de Zeus, de Fídias, feita em marfim e ouro e com mais de 12 metros de altura. Em honra de Zeus se realizavam os jogos olímpicos e toda a Olympia antiga honrava o deus dos deuses.

Junto da base do templo podem-se ver as “rodelas” resultantes da desintegração das colunas, espalhadas pela área e, pelo seu diâmetro, pode-se imaginar a dimensão daquilo tudo quando estava em pé, porque cada rodela tem um diâmetro superior à minha altura

A Villa de Nero, fascinante a forma como as pedras e tijolos eram empilhados para construir aquelas paredes grossas e solidas!

Tecnica infalivel, a considerar pelos séculos que aquelas paredes têm, e tudo resitiu até hoje, mesmo negligenciado e abandonado! E, para além de tudo, bonito o resultado!

Palaestra, uma escola de luta corporal. Até o local onde se dava/levava porrada era bonito e cheio de colunas!

O Theokoleon, um edifício que abrigava os sacerdotes ¨Theokoles¨ e outros membros do Santuário, que eram oráculos ou que explicavam aos visitantes o ritual dos Jogos Olímpicos.

Gostava de poder voltar no tempo por umas horas, só para ver aquilo tudo antes de ter começado a cair aos pedaços. É sempre a sensação que tenho ao visitar um sitio daqueles…

Então, de repente, as nuvens juntaram-se e desataram a chover com tanta força que ninguém teve tempo de se abrigar. Eu achava que não havia muita gente a visitar as ruínas, porque o espaço é grande e não nos cruzávamos uns com os outros, mas naquele momento as pessoas apareceram correndo dos sítios onde estavam.

Não, eu não vou correr! A distancia é grande, não há nenhum sitio onde me possa abrigar, que adianta correr? Vou molhar-me toda e vou, correndo ou caminhando! Então caminhei calmamente para a entrada, onde a menina dos bilhetes tinha ficado com o meu capacete. Nem ela tinha uma cabine para se abrigar, tinha apenas um telhado reduzido!

Eu nunca tenho muita dificuldade em enfrentar a chuva, porque ela não me bate na cara, o que me permite até demorar a perceber se esta mesmo a pingar! Mas ali não era apenas pingar, era uma chuveirada bem intensa.

Instalei-me na esplanada do bar lá do sitio, que ainda ficava retirada do portão de entrada, pedi um granizado e fui relaxando e arrefecendo a minha mão febril.

Assim como veio assim se foi a chuva! De um lado o céu voltou mesmo a ficar azul…

… mas do outro continuava carregado como chumbo!

Não era a chuva naquele sitio que me incomodava, até porque já vira tudo o que queria ali. Preocupava-me se iria estar a chover assim ao longo do caminho que eu iria fazer.

Filiatra é uma pequena cidade sem nada de especial para ver, não fora cruzar com a Torre Eiffel e teria sido uma passagem sem história pela terrinha!

Claro que fui investigar como aquilo foi ali parar e descobri que foi construída nos anos 1960, por um médico greco-americano Haralampos Fournarakis, residente na terrinha. As diferenças entre a réplica e a torre original não se ficam pela altura, já que ela tem 26m para os 300m da torre Effel. Há varias alterações, mas quem a vê assim, de repente, acha-a uma replica perfeita.!

Em 2012, o prefeito de Paris, Bertrand Delanoe, indignado com a torre grega, enviou uma carta de reclamação à UNESCO solicitando a remoção imediata da réplica

“É uma caricatura obscura e representa um ataque estético à civilização francesa e ao patrimônio arquitetónico global”, dizia ele. Mas como isso já foi há 10 anos e eu passei lá este ano e ela lá estava, deduz-se que a UESCO está-se pouco ralando para as imitações!

E uma coisa tão simples fez com que a terrinha ganhasse visibilidade e se falasse dela do outro lado da Europa, porque a terrinha não tem mais nada que se fale!

Então comecei a ver placas que avisavam que a estrada estava cortada mais à frente. Não sei como entendi, mas acho que eles vão tendo cada vez mais placas legíveis para quem não é grego. E lá tive de sair da rua mais à frente, para um desvio por ruelas mais perto do mar.

Ora vamos lá por ruinhas que passam por pequenas localidades rurais. Mas passam também por zonas de praia e turismo. É surreal andar por ruinhas de pequenos povoados e, de repente, atravessar uma zona turística cheia de carros bem sofisticados a empancar o transito que se tornou demais para a dimensão da estrada!

Cheguei a Pilos, uma terrinha na encosta de um monte, com uma baía encanadora como paisagem. E à medida que descia a rua que vai dar ao centro, podia já ver a Esfactéria, aquela ilha alongada que quase fecha a baía.

Por aquela altura eu já estava tão antissocial que não me apetecia estar perto de ninguém, sobretudo quando esse alguém eram turistas ruidosos. E eles estavam por todas as esplanadas! Tomei um café rápido e fui para o cais com a minha motita. Que bem se estava ali!

A longa ilha e seus rochedos parecia que estava tão perto, como sombras chinesas, que a gente estende a mão e alcança!

Estava um pouco de vento, mas nada que me impedisse de desenhar, tentando captar um pouco daquela paz.

E então voltei para a estrada, sem querer saber de quais caminho seriam mais rapidos ou mais recomendados, atravessei a serra para o lado de Esparta. Aquele céu não me inspirava confianças, mas eu tinha de arriscar a apanhar uma molha se queria explorar a montanha!

E lá fui.

Passava das 19 horas e o sol estava a descer… eu só esperava que a estrada não fosse ruim de todo, para o caso de eu não conseguir chegar ao outro lado antes de anoitecer!

E foi a mais bela escolha que eu podia ter feito.

A cada subida ou curva, as perspetivas de povoados e estrada eram de fazer qualquer
um parar e fotografar!

Segui sem pressas, porque é impossível apreciar algo de muito bonito a correr!

Atravessei apenas uma população, as outras que via estavam em encostas onde eu não passaria. Tinha chovido há pouco e a estrada estava molhada. Algumas pessoas ficaram a olhar a ver-me passar

A minha motita comportava-se extraordinariamente bem por aquelas ruas. Ela estava a ser uma aliada de valor, leve e fácil de manobrar, com a força certa para não me deixar stressar em nenhuma subida. Excelente.

E parei não sei quanto tempo  a apreciar o sol poente no topo do monte.

Uma ultima olhada para o lado poente da montanha e tudo era amarelo.

Uma primeira olhada para o outro lado e tudo era cor, verde e rosa surpreendentes!

Curiosidades de uma estrada de montanha, com um sinal de trânsito reciclado. mas claro que não pude deixar de sorrir imaginando um comboio a passar por ali!

O céu foi ficando mais rosa. Fez-me lembrar o por-do-sol no Mont Blanc, que deixa de ser branco e passa a ser monte rosa!

E cheguei a Mystras, onde ficava a minha casa naquela noite. Avisaram-me no alojamento que a cidade estava em festa e que eu devia lá pois tinha de tudo, comida e bebida também, claro.

Quando me disseram que a festa tinha de tudo, eu não imaginava que teria de tudo mesmo! Incluindo tendas de artigos religiosos: imagens, amuletos, musica, tudo!

Tinha até um padre a pregar com imensa gente a ouvir. Os ortodoxos são muito devotos mesmo! Não consegui fotografar o padre, aquela gente olhava para mim de lado e eu não podia provocar confusão desrespeitando-os na sua religião….

Ao mesmo tempo, e mesmo ao lado, tinha comidinha muito fixe! Leitão assado, espetadas, cerveja e musica alta! Como se consegue conciliar tudo isso ao mesmo tempo? Não faço ideia, mas estava toda a gente feliz assim!

Claro que quis experimentar um pouco de tudo, porquinho, espetadas, pão e cerveja, um belo menu!

E havia uma tenda de fazer bolinhas, como farturas, apenas a maquina cortava a massa em pedacinhos, em vez de ser em tripas, para uma frigideira gigante.  Não provei, porque enchiam aquilo de creves e açúcar e tal, e eu não gosto. Como já tinha a barriga cheia não me dei ao trabalho de perguntar se não faziam daquilo só com açúcar e canela. Mas fiquei a ver fazer.

Eu percebo pouco de bolos e doces, mas ali eram diferentes de tudo o que eu conheço. Havia fila para pedir daquilo, tipo cone de gelado, mas em waffles, com frutas e compota por cima!

Depois de curtir mais um bocado a confusão da festa, que aqueles gregos são tudo menos silenciosos, fui para casa, que o dia tinha sido longo. Por aquela altura já andava com a mão em cima da cabeça a ver se desinchava um pouco. Pensem o que quiserem, vocês são malucos e eu sou louca, por isso estamos todos bem.

É sempre giro ler o meu nome num país distante, como se eu fosse conhecida por lá! A minha porta era a única que tinha o nome, isso devia querer dizer que toda a gente chegou antes de mim.

Boa noite mundo que amanhã vou até Atenas… mas não vou a direito, isso é certo!