3.Islândia-Ilhas Faroé-Noruega

2 de agosto de 2019

– de Saignelégier – Suíça, até Reil – Alemanha –

O meu quarto ficava nas águas-furtadas do hostel, com uma janelinha inclinada que me proporcionava uma perspetiva simpática da paisagem até onde o tempo matinal, meio nublado, permitia ver. Do outro lado do sótão havia outro quarto com duas fulanas bem bizarras, que ficaram muito ofendidas e se fartaram de reclamar porque o meu quarto era melhor e mais bonito que o delas e com direito a paisagem e tudo, enquanto o delas não tinha nada disso. Valha-me Deus gente que importa? É um quarto para uma noite, não é para viver uma vida, dizia eu. A verdade é que eu ficaria apenas uma noite e elas três… Paciência, é porque me acharam mais simpática que vocês e me quiseram compensar, sei lá!

Giras eram as escadas que levavam até lá acima, o ideal era não se ter muitos sacos para carregar, nem ter os pés muito grandes, para não corrermos o risco de resvalar por ali abaixo. As minhas vizinhas reclamaram também das escadas, não sei se tinham os pés grandes mas os sacos eram muitos e enormes!

Eu tinha tanta coisa para ver naquele dia, iria atravessar mais uma zona cheia de coisas lindas, em que era preciso selecionar para não parar em cada curva do caminho, por tudo e por nada que me aparecesse de bonito. Iria passar pela Rota dos Vinhos da Alsácia, que eu adoro, onde já não passava há alguns anos e seguiria para as margens do rio Mosel. O rio dos vinhos, como eu o conheci há uns anos quando o percorri até se juntar ao rio Rio Reno em Koblenz.

Eu apenas tinha entrado numa pontinha da Suíça e logo a seguir sairia, do tipo, só fui lá dormir! Às vezes acontece-me isso, quando tenho uma direção traçada e procuro dormir por perto do caminho que quero fazer e vou escolhendo os sítios mais bem posicionados e mais baratos. Por vezes estou em zonas de dormidas tão caras que desvio o meu caminho para onde se pode dormir mais em conta. Tem de ser, porque uma viagem de tantos dias com tantas dormidas, não pode ficar em risco pelos preços excessivos. Afinal é só para dormir uma noite a maior parte das vezes, não é para usufruir de um hotel de x estrelas por tempo indeterminado! E no fim acabo sempre por escolher sítios lindos e simpáticos, porque quando se fazem as marcações em casa, há tempo para escolher, ler comentários e decidir, sem ter de o fazer em cima dos joelhos no caminho e pagar o que não cabe no meu orçamento!

E logo ali, ao fim da rua, ficava a França e a Alsácia, que coisa fantástica!

A bela aldeiazinha de Hirtzbach, estava deserta, um privilégio que me permitiu andar para trás e para a frente sem ninguém me incomodar! Não é a terrinha mais famosa da Alsácia, por isso provavelmente nunca se encheria de turistas, digo eu que não esperei para ver!

Os pormenores as casinhas eram verdadeiramente encantadores. Essa é uma carateristica que eu aprecio nas aldeias francesas, cada pessoa procupa~se por embelezar o que é seu e com isso toda a aldeia fica linda!

No centro da aldeia um enorme jardim, com ar de rio florido, torna tudo mais mais extraordinário! As voltas que eu dei em redor, quer de moto quer a pé, para apreciar cada casinha, de travejamento exterior, de que eu tanto gosto!

Cada uma mais encantadora que a outra, autenticos miminhos que parecem saidos de contos infantis de princesas e gnomos!

E sim, andei mesmo em volta a apreciar tudo!

Mesmo os trabalhos dos alunos instalados nos jardins publicos e rotundas me fizeram parar mais à frente em Illfurth , porque eram perfeitos.

Oh céus, por este andar nunca chegarei ao fim da viagem, mas eu tenho de parar para ver de perto! Simplesmente um espanto de trabalhos!

Enfim lá cheguei a Mulhouse, ainda cedo, nem sei como pois vim parando por todo o lado. E, claro, tive de parar para ver os murais… é sempre assim!

Quando me perguntam afinal o que eu gosto de ver numa viagem, é sempre dificil fazer a lista!

Gosto de paisagens agrestes, montes e vales, mas também gosto de mar; gosto de história e arquitetura, mas também gosto de artesanato e arte urbana; gosto de desenhar e fotografar tudo para mais tarde recordar, mas também gosto de não o fazer e deixar passar; gosto de experimentar a comida local e regional, mas também gosto de comer umas sandocas e outras “porcarias” na berma da estrada; gosto de me sentir só e independente, mas também gosto de conviver e conhecer gente… gosto de tudo o que apetecer fazer e ver, enfim!

Desde que percorri de fio a pavio a Rota dos Vinhos da Alsacia que Mulhouse ficou na minha lista, porque não passei por lá e não o tinha feito até agora.

E a cidade não me desapontou. Não havia muita gente e eu pude passear em redor calmamente. Encontrei um pequeno mercado na na Place de la Réunion. Eu adoro mercados e feiras, é uma boa forma de andar no meio dos locais e perceber como “funcionam”, o que vendem o que compram, sei lá!

E gosto de comprar fruta nestes locais e passear comendo.

Um dia terei de lá voltar só para visitar a catedral/igreja por dentro. Não sei como consegui chegar ali tão cedo que ela ainda estava fechada…

 O Templo de Saint-Étienne, (não lhe devo chamar catedral porque é protestante?) é calvinista, mas já foi católica, como todas estas igrejas antigas, Também já foi românica, agora é neogótica… enfim, valia a pena visitar…

A bem dizer as atrações turisticas estavam todas fechadas, mas não houve qualquer stress, não faltarão oportunidades para voltar a passar lá.

Na Place de la Réunion fica também a antiga Câmara de Mulhouse, um edificio lindissimo renascentista em arenito vermelho, que mais parece um escultura gigante. Fez-me lembrar as câmaras das cidades belgas, que são sempre monumentos a observar de perto.

Eu vou sempre parar a apreciar pormenores de arte nas ruas…

Da Rota dos vinhos da Alsacia eu tinha de selecionar uma ou duas aldeias para rever, estava fora de questão parar em muitas (ou todas como fiz da vez que percorri toda a rota) e estava fora de questão também não parar em nenhuma!

Por isso, embora tivesse a certeza de que haveria muita gente por lá, decidi passar em Eguisheim, porque é linda e porque comi lá uns pães de queijo que me ficaram na memória e eu queria voltar a experimentar!

Estacionei a moto na rua principal, não queria ficar muito longe das casas que vendiam o famoso pão, nem de todas as atrações que queria rever! Ok, eu sei que não é permitido a turista parar ali, mas eu já sou da casa… ou não?

Passaram policias e não disseram nada, apenas apreciaram a moto… ok, vamos dar uma voltinha a pé.

A terrinha é linda em todos os seus recantos e felizmente não estava tão cheia de gente como eu esperava! Uma sorte!

“A Route des Vins d’Alsace sempre atrai minha atenção e eu acabo por voltar a passar para reviver mais um pouco da sua beleza. Eguisheim deve ser uma da terrinhas mais bonitas da route e das mais visitadas também, está sempre cheia de gente que se passeia para cima e para baixo nas suas ruinhas bonitas ladeadas por encantadoras casas de travejamento exterior, em cores vibrantes e pormenores antigos. Pousei a minha moto bem no meio da população e a Place du Château Saint-Léon era logo ali. Uma bela pausa para descansar e lanchar um delicioso pão de queijo, antes de seguir viagem para norte.”
(in Passeando pela Vida)

Tão bom passear calmamente sem tropeçar em mil pessoas…

Espera-se apenas um poucquinho e não aparece ninguem nas fotos!

Em Riquewihr ja havia mais gente, mas nada que me impedisse de passear em paz e apreciar de novo a beleza do local.

Realmente tudo é lindo por ali como eu me recordava ser. É daquelas zonas que vale a pena visitar quando se passa perto, quanto mais não seja para se tomar um copo de vinho numa esplanada, acompanhado de um belo Bretzel!

Os desenhos que eu já fiz por ali em tempos! Lembro-me de me encostar a qualquer canto e registar os belos pormenores. Desta vez não me apeteceu. Fiquei-me pelas fotos, muitas fotos, e pelos lanchinhos. Algo me dizia que tinha de aproveitar bem enquanto encontrava facilmente os petiscos que aprecio, antes de chegar ao ponto mais complicado da viagem onde encontrar o que comer poderia ser uma aventura…

Seguiria para o Mosel, onde ficava a minha dormida ,apreciando o que encontrasse no meu caminho. Saint-Quirin foi uma das terrinhas desertas que encontrei.

Não sei onde andava toda a gente, afinal nem era domingo nem nada! É um contra-senso, se está muita gente é uma chatice, se não está ninguém é uma tristeza. Enfim, a verdade é que se aprecia tudo melhor sem ninguém em redor!

Como os pormenores encantadores nos jardins das casinhas particulares.

Viajar a solo tem este encanto, a gente está consigo mesma, não pede nada a ninguém, não se preocupa com ninguém, pára e faz como quer, quando quer…

E as coisas que me fazem parar, provavelmente, não fariam parar mais ninguém. A paz, por exemplo!

Ainda parei em Sarralbe, antes de chegar ao Mozel. Não visitei a enorme igreja, embora fosse ela quem me fez parar.

A Eglise Saint-martin é gotica em tem na sua frente a Porte d’Albe, os restos da muralha da cidade.

Ok, desta vez dei uma olhada por dentro

A terrinha é simpatica, deserta, mas simpática. Acho que tudo nesta viagem conspirou para eu me ir habituando à solidão da Islandia!

A Alemana era logo a seguir, 3 países de uma vez, isso porque passei ao lado do Luxemburgo e não entrei!

E eu estava cheia de vontade de rever os caminhos do Mozel. Pelo que me lembrava, as paisagens eram deslumbrantes e as localidades cheias de gente e animação, com bom vinho a acompanhar!

E estava lá tudo à minha espera!

Habituada a passear pelo Douro, fico sempre fascinada com zonas vinicolas tão parecidas e tão diferentes!

A minha dormida era em Reil, Alemanha. Eu já lá estivera e sabia que era uma aldeia muito bonita, por isso fiz questão de chegar a tempo de explorar um pouco ainda de dia.

Os pormenores sempre me chamam a atenção e me fazer cair na gargalhada de vez em quando!

Os vizinhos do hostel se encarregaram de alojar a minha motita num recanto entre as suas casas, Muito simpáticos os alemães!

E fui passear e procurar onde jantar, claro, que nem só de sandocas vive esta mulher!

Havia coisas interessantes por ali!

Mas definitivamente a minha moto cativou as atenções! Fiz amizade com uma tailandesa a viver em Rail, que conduzia uma belíssima Vespa! Fascinou-se pela minha motita e ficou tão feliz quando eu disse que adorava Vespas e que já tinha tido 2 mais pequenas que a dela. Momento giro.

Toda feliz lá foi ela à sua vida na sua motita bem simpática!

E eu continuei o meu passeio. Fui até à margem do rio apreciar toda a sua beleza enquanto anoitecia. Fiquei a ouvir musica e a curtir o local até ficar de noite e, quando voltei a subir para o jardim na berma da estrada, apanhei a luz das casas de frente. Os meus olhos estavam habituados à escuridão e eu fiquei encandeada, pus o pé e não havia chão…

E como numa Via Sacra, caí pela primeira vez!

Eu sempre caio nas minha viagens, já começa a ser normal, mas daquela vez foi assustador! Porque ao perceber que iria cair, porque não via o degrau, pus a mão para me proteger, mas havia um banco de jardim na minha frente. Instintivamente virei a cabeça de lado e bati com o testa com toda a força no dito branco. Se eu não tivesse virado a cabeça… teria esmagado o nariz…

Fiquei atordoada por momentos, sem entender muito bem o que me tinha acontecido, afinal eu nada via, apenas a escuridão e o vulto negro contra o qual batera a cabeça. E quando levei a mão à testa, estava molhada…

Oh céus, sangue que corre, aquilo não era apenas um galo, era uma ferida aberta, bem na zona onde pousava o limite do capacete…

Fui dormir, o meu galo cantaria ao amanhecer, seguramente….

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