3.Islândia-Ilhas Faroé-Noruega

2 de agosto de 2019

– de Saignelégier – Suíça, até Reil – Alemanha –

O meu quarto ficava nas águas-furtadas do hostel, com uma janelinha inclinada que me proporcionava uma perspetiva simpática da paisagem até onde o tempo matinal, meio nublado, permitia ver. Do outro lado do sótão havia outro quarto com duas fulanas bem bizarras, que ficaram muito ofendidas e se fartaram de reclamar porque o meu quarto era melhor e mais bonito que o delas e com direito a paisagem e tudo, enquanto o delas não tinha nada disso. Valha-me Deus gente que importa? É um quarto para uma noite, não é para viver uma vida, dizia eu. A verdade é que eu ficaria apenas uma noite e elas três… Paciência, é porque me acharam mais simpática que vocês e me quiseram compensar, sei lá!

Giras eram as escadas que levavam até lá acima, o ideal era não se ter muitos sacos para carregar, nem ter os pés muito grandes, para não corrermos o risco de resvalar por ali abaixo. As minhas vizinhas reclamaram também das escadas, não sei se tinham os pés grandes mas os sacos eram muitos e enormes!

Eu tinha tanta coisa para ver naquele dia, iria atravessar mais uma zona cheia de coisas lindas, em que era preciso selecionar para não parar em cada curva do caminho, por tudo e por nada que me aparecesse de bonito. Iria passar pela Rota dos Vinhos da Alsácia, que eu adoro, onde já não passava há alguns anos e seguiria para as margens do rio Mosel. O rio dos vinhos, como eu o conheci há uns anos quando o percorri até se juntar ao rio Rio Reno em Koblenz.

Eu apenas tinha entrado numa pontinha da Suíça e logo a seguir sairia, do tipo, só fui lá dormir! Às vezes acontece-me isso, quando tenho uma direção traçada e procuro dormir por perto do caminho que quero fazer e vou escolhendo os sítios mais bem posicionados e mais baratos. Por vezes estou em zonas de dormidas tão caras que desvio o meu caminho para onde se pode dormir mais em conta. Tem de ser, porque uma viagem de tantos dias com tantas dormidas, não pode ficar em risco pelos preços excessivos. Afinal é só para dormir uma noite a maior parte das vezes, não é para usufruir de um hotel de x estrelas por tempo indeterminado! E no fim acabo sempre por escolher sítios lindos e simpáticos, porque quando se fazem as marcações em casa, há tempo para escolher, ler comentários e decidir, sem ter de o fazer em cima dos joelhos no caminho e pagar o que não cabe no meu orçamento!

E logo ali, ao fim da rua, ficava a França e a Alsácia, que coisa fantástica!

A bela aldeiazinha de Hirtzbach, estava deserta, um privilégio que me permitiu andar para trás e para a frente sem ninguém me incomodar! Não é a terrinha mais famosa da Alsácia, por isso provavelmente nunca se encheria de turistas, digo eu que não esperei para ver!

Os pormenores as casinhas eram verdadeiramente encantadores. Essa é uma carateristica que eu aprecio nas aldeias francesas, cada pessoa procupa~se por embelezar o que é seu e com isso toda a aldeia fica linda!

No centro da aldeia um enorme jardim, com ar de rio florido, torna tudo mais mais extraordinário! As voltas que eu dei em redor, quer de moto quer a pé, para apreciar cada casinha, de travejamento exterior, de que eu tanto gosto!

Cada uma mais encantadora que a outra, autenticos miminhos que parecem saidos de contos infantis de princesas e gnomos!

E sim, andei mesmo em volta a apreciar tudo!

Mesmo os trabalhos dos alunos instalados nos jardins publicos e rotundas me fizeram parar mais à frente em Illfurth , porque eram perfeitos.

Oh céus, por este andar nunca chegarei ao fim da viagem, mas eu tenho de parar para ver de perto! Simplesmente um espanto de trabalhos!

Enfim lá cheguei a Mulhouse, ainda cedo, nem sei como pois vim parando por todo o lado. E, claro, tive de parar para ver os murais… é sempre assim!

Quando me perguntam afinal o que eu gosto de ver numa viagem, é sempre dificil fazer a lista!

Gosto de paisagens agrestes, montes e vales, mas também gosto de mar; gosto de história e arquitetura, mas também gosto de artesanato e arte urbana; gosto de desenhar e fotografar tudo para mais tarde recordar, mas também gosto de não o fazer e deixar passar; gosto de experimentar a comida local e regional, mas também gosto de comer umas sandocas e outras “porcarias” na berma da estrada; gosto de me sentir só e independente, mas também gosto de conviver e conhecer gente… gosto de tudo o que apetecer fazer e ver, enfim!

Desde que percorri de fio a pavio a Rota dos Vinhos da Alsacia que Mulhouse ficou na minha lista, porque não passei por lá e não o tinha feito até agora.

E a cidade não me desapontou. Não havia muita gente e eu pude passear em redor calmamente. Encontrei um pequeno mercado na na Place de la Réunion. Eu adoro mercados e feiras, é uma boa forma de andar no meio dos locais e perceber como “funcionam”, o que vendem o que compram, sei lá!

E gosto de comprar fruta nestes locais e passear comendo.

Um dia terei de lá voltar só para visitar a catedral/igreja por dentro. Não sei como consegui chegar ali tão cedo que ela ainda estava fechada…

 O Templo de Saint-Étienne, (não lhe devo chamar catedral porque é protestante?) é calvinista, mas já foi católica, como todas estas igrejas antigas, Também já foi românica, agora é neogótica… enfim, valia a pena visitar…

A bem dizer as atrações turisticas estavam todas fechadas, mas não houve qualquer stress, não faltarão oportunidades para voltar a passar lá.

Na Place de la Réunion fica também a antiga Câmara de Mulhouse, um edificio lindissimo renascentista em arenito vermelho, que mais parece um escultura gigante. Fez-me lembrar as câmaras das cidades belgas, que são sempre monumentos a observar de perto.

Eu vou sempre parar a apreciar pormenores de arte nas ruas…

Da Rota dos vinhos da Alsacia eu tinha de selecionar uma ou duas aldeias para rever, estava fora de questão parar em muitas (ou todas como fiz da vez que percorri toda a rota) e estava fora de questão também não parar em nenhuma!

Por isso, embora tivesse a certeza de que haveria muita gente por lá, decidi passar em Eguisheim, porque é linda e porque comi lá uns pães de queijo que me ficaram na memória e eu queria voltar a experimentar!

Estacionei a moto na rua principal, não queria ficar muito longe das casas que vendiam o famoso pão, nem de todas as atrações que queria rever! Ok, eu sei que não é permitido a turista parar ali, mas eu já sou da casa… ou não?

Passaram policias e não disseram nada, apenas apreciaram a moto… ok, vamos dar uma voltinha a pé.

A terrinha é linda em todos os seus recantos e felizmente não estava tão cheia de gente como eu esperava! Uma sorte!

“A Route des Vins d’Alsace sempre atrai minha atenção e eu acabo por voltar a passar para reviver mais um pouco da sua beleza. Eguisheim deve ser uma da terrinhas mais bonitas da route e das mais visitadas também, está sempre cheia de gente que se passeia para cima e para baixo nas suas ruinhas bonitas ladeadas por encantadoras casas de travejamento exterior, em cores vibrantes e pormenores antigos. Pousei a minha moto bem no meio da população e a Place du Château Saint-Léon era logo ali. Uma bela pausa para descansar e lanchar um delicioso pão de queijo, antes de seguir viagem para norte.”
(in Passeando pela Vida)

Tão bom passear calmamente sem tropeçar em mil pessoas…

Espera-se apenas um poucquinho e não aparece ninguem nas fotos!

Em Riquewihr ja havia mais gente, mas nada que me impedisse de passear em paz e apreciar de novo a beleza do local.

Realmente tudo é lindo por ali como eu me recordava ser. É daquelas zonas que vale a pena visitar quando se passa perto, quanto mais não seja para se tomar um copo de vinho numa esplanada, acompanhado de um belo Bretzel!

Os desenhos que eu já fiz por ali em tempos! Lembro-me de me encostar a qualquer canto e registar os belos pormenores. Desta vez não me apeteceu. Fiquei-me pelas fotos, muitas fotos, e pelos lanchinhos. Algo me dizia que tinha de aproveitar bem enquanto encontrava facilmente os petiscos que aprecio, antes de chegar ao ponto mais complicado da viagem onde encontrar o que comer poderia ser uma aventura…

Seguiria para o Mosel, onde ficava a minha dormida ,apreciando o que encontrasse no meu caminho. Saint-Quirin foi uma das terrinhas desertas que encontrei.

Não sei onde andava toda a gente, afinal nem era domingo nem nada! É um contra-senso, se está muita gente é uma chatice, se não está ninguém é uma tristeza. Enfim, a verdade é que se aprecia tudo melhor sem ninguém em redor!

Como os pormenores encantadores nos jardins das casinhas particulares.

Viajar a solo tem este encanto, a gente está consigo mesma, não pede nada a ninguém, não se preocupa com ninguém, pára e faz como quer, quando quer…

E as coisas que me fazem parar, provavelmente, não fariam parar mais ninguém. A paz, por exemplo!

Ainda parei em Sarralbe, antes de chegar ao Mozel. Não visitei a enorme igreja, embora fosse ela quem me fez parar.

A Eglise Saint-martin é gotica em tem na sua frente a Porte d’Albe, os restos da muralha da cidade.

Ok, desta vez dei uma olhada por dentro

A terrinha é simpatica, deserta, mas simpática. Acho que tudo nesta viagem conspirou para eu me ir habituando à solidão da Islandia!

A Alemana era logo a seguir, 3 países de uma vez, isso porque passei ao lado do Luxemburgo e não entrei!

E eu estava cheia de vontade de rever os caminhos do Mozel. Pelo que me lembrava, as paisagens eram deslumbrantes e as localidades cheias de gente e animação, com bom vinho a acompanhar!

E estava lá tudo à minha espera!

Habituada a passear pelo Douro, fico sempre fascinada com zonas vinicolas tão parecidas e tão diferentes!

A minha dormida era em Reil, Alemanha. Eu já lá estivera e sabia que era uma aldeia muito bonita, por isso fiz questão de chegar a tempo de explorar um pouco ainda de dia.

Os pormenores sempre me chamam a atenção e me fazer cair na gargalhada de vez em quando!

Os vizinhos do hostel se encarregaram de alojar a minha motita num recanto entre as suas casas, Muito simpáticos os alemães!

E fui passear e procurar onde jantar, claro, que nem só de sandocas vive esta mulher!

Havia coisas interessantes por ali!

Mas definitivamente a minha moto cativou as atenções! Fiz amizade com uma tailandesa a viver em Rail, que conduzia uma belíssima Vespa! Fascinou-se pela minha motita e ficou tão feliz quando eu disse que adorava Vespas e que já tinha tido 2 mais pequenas que a dela. Momento giro.

Toda feliz lá foi ela à sua vida na sua motita bem simpática!

E eu continuei o meu passeio. Fui até à margem do rio apreciar toda a sua beleza enquanto anoitecia. Fiquei a ouvir musica e a curtir o local até ficar de noite e, quando voltei a subir para o jardim na berma da estrada, apanhei a luz das casas de frente. Os meus olhos estavam habituados à escuridão e eu fiquei encandeada, pus o pé e não havia chão…

E como numa Via Sacra, caí pela primeira vez!

Eu sempre caio nas minha viagens, já começa a ser normal, mas daquela vez foi assustador! Porque ao perceber que iria cair, porque não via o degrau, pus a mão para me proteger, mas havia um banco de jardim na minha frente. Instintivamente virei a cabeça de lado e bati com o testa com toda a força no dito branco. Se eu não tivesse virado a cabeça… teria esmagado o nariz…

Fiquei atordoada por momentos, sem entender muito bem o que me tinha acontecido, afinal eu nada via, apenas a escuridão e o vulto negro contra o qual batera a cabeça. E quando levei a mão à testa, estava molhada…

Oh céus, sangue que corre, aquilo não era apenas um galo, era uma ferida aberta, bem na zona onde pousava o limite do capacete…

Fui dormir, o meu galo cantaria ao amanhecer, seguramente….

10. Escandinávia 2017 – de Annecy até Iseltwald…

2 de agosto de 2017

O trajeto não seria longo naquele dia.
Não é preciso fazer muitos quilómetros para me encantar com a Suíça e eu queria ter tempo para a atravessar mais uma vez. Com um dia de sol, qualquer percurso é agradável e simpático por ali. Iriamos passar em Genève, onde eu não tinha passado no ano anterior, e pelo menos ir até ao Jato de Água, era “obrigatório”.

E como sempre que se faz a ligação entre Annecy e Genève, lá estava a Pont de la Caille para tirar a foto da praxe com a minha Negrita, que ainda não tinha lá passado. Todas as minhas motos passaram ali, à excepção da primeira que nunca foi tão longe.

O Filipe também nunca lá tinha ido…. Nota-se!

Mas já tinha ido a Genève muita vez e ficou todo contente na mesma, por lá voltar!

Eu sempre gosto de ir “tomar um banho” pelo cais do jato, mesmo quando a agua cai por cima dele. Desta vez caía para o outro lado, mas foi um banho na mesma!

Eu tinha posto os braços de fora na esperança de queimar um pouco e deixar o bronzeado à trolha, mas não adiantou muito, continuaram de duas cores.

Facilitou a tarefa de me enxugar com a toalha da moto depois do banho!

Quanta alegria debaixo de uma torre de água de 140 metros de altura!

O dia estava mesmo bom para macacadas, banhos e fotos por ali!

Mas a cidade estava meio desarrumada e cheia de gente, no rescaldo das festas, por isso apenas demos uma voltinha até à ONU e seguimos para paragens mais serenas.

Eu sempre gosto de passar em Gruyères para matar saudades dos pratos de queijo Suíços. A cidadezinha é linda e a tradição manteve-se!

A sua beleza medieval é sempre tão acolhedora, desde o momento em que a vi pela primeira vez e, a cada vez que volto, é como se voltasse para trás no tempo também. Reconfortante!

Estava mais do que na hora de comer por isso enfiamo-nos no Chalet, o restaurante mais típico lá do local, onde tudo é tão bonitinho e pitoresco

e comemos um fondue de queijo divinal!

Aquela cara não é de duvida ou insatisfação, é mais de “quando param as fotos para eu poder comer?”

E era tão bom como eu me lembro de ser!

O almoço foi caro, mas o momento foi único, com uma menina portuguesa simpática a atender-nos e um ambiente bem típico e agradável! Acho que vou continuar a lá voltar, a cada vez que passe!

Só passear por ali me dá vida!

A povoação fica numa colina e a perspetiva do vale, lá em baixo, é tão bonita, que sentamos na relava e ficamos a apreciar. Claro que a barriga estava tão cheia de fondue, que sentar ou deitar na relva era tudo o que apetecia fazer!

O que eu gosto nestes países, França e Suíça, é o cuidado de terem espaço especial para motos, em cantos agradáveis, para que não esturriquem ao sol!

E quando a barriga já se tinha acomodado com o almoço, veio o caminho serpenteante, para ajudar à digestão!

Eu sempre me encanto com as perspetivas daquelas ruas, com paisagens apaixonantes, mesmo quando há motos na minha frente! 😉

O destino era o Brienzsee, um dos lagos de Interlaken, onde iriamos ficar por duas noites.

“Brienzersee é um dos belos lagos suíços que parecem saídos do paraíso. A gente passeia pela sua margem com a relva a chegar até às águas onde podemos molhar os pés ou tomar banho livremente. Mas sentar num banco e ficar a olhar, tentando fazer parte da paisagem, sem nada a perturbar, é do mais relaxante que posso fazer por ali. Interlaken é logo ali, cheia de vida e movimento, tanta paz e tanta agitação, nada falta para fazer qualquer pessoa feliz!”

(in Passeando pela Vida – Facebook)

Avistava-se neve, no topo dos montes para lá de Interlaken!

E, de Interlaken até Iseltwald, o caminho era junto ao lago, com direito a paisagens privilegiadas e sensações únicas.

Iseltwald é uma povoação minúscula, de origem que se perde no tempo de tão antiga que é, que fica quase sobre o lago, por isso ele está por todo o lado ali…

em perspetivas de campos cultivados e jardins, mesmo na sua margem!

E as casas são chalés de madeira, bem tradicionais e lindos!

Um ambiente perfeito para conversas ao entardecer, com o sol a pôr-se para lá dos montes, no fim do lago…

“Registos de viagem – 1

Hoje o quarto é uma tenda no Hostel! É uma sensação curiosa acampar sem armar barraca! A paisagem é um dos lagos de Interlakem lindo, rodeado de altas montanhas. “Trago comigo” o amigo Filipe Marques que vai a caminho da Alemanha e é curiosa a sensação de ter com quem partilhar belezas inenarráveis, quando se está habituado a viajar a solo. Vamos passear para as paisagens mais bonitas deste país pelos passos de montanha mais inspiradores.
Até logo”

(in Facebook)

Tão bom estar de volta a este país… amanhã iremos passear um pouco em redor!

9. Escandinávia 2017 – até Annecy

1 de agosto de 2017

A França é sempre tão inspiradora que apetece ficar mais um dia e outro no mesmo lugar, para poder explorar em redor todos os pequenos recantos anónimos que não constam nos roteiros dos turistas e que são cheios de encanto e história.

Mas haverá sempre mais uma série de outras viagem em que passarei por ali, para explorar mais um pouco. A noite seguinte seria ainda passada em terras de França, com algumas curiosidades a explorar pelo caminho, por isso a beleza continuaria!

O céu estava encoberto e cheio de grandes nuvens cinzentas, mas não ameaçava cair-nos em cima, o que era uma grande coisa!

Despedida da hospedagem daquela noite!

A sensação de mudar de casa quase diariamente sempre me agrada e enche de curiosidade! Quando faço as reservas crio imagens dos locais na minha mente, baseada nas fotos do site e nos comentários de outros hospedes, depois descobrir cada sitio é uma novidade diária que me entusiasma! E, se aquele sitio onde pernoitamos era curioso, tinha mais uns 24 ou 25 para descobrir até ao regresso a casa!

A parte mais chata é sempre encaixar tudo direitinho na moto, como quando saí de casa, para que a bagagem não se transforme numa tralha bagunçada por todo o lado! Nem me estou a imaginar a acampar e ter de montar, desmontar e arrumar tudo na moto a cada paragem, mas um dia hei-de experimentar, numa viagem em que fique vários dias no mesmo sitio e não tenha de repetir a operação 30 vezes!

Ali perto, no nosso caminho, ficava Tulle. O transito era tão complicado que nem apetecia andar muito por lá, foi mais uma pausa para tomar café e ver a igreja e pouco mais. Há dias em que não apetece de todo andar na luta no meio dos carros!

Eu já tinha estado na cidade, mas nem me lembrava mais! A Catedral de Notre-Dame de Tulle merecia uma vista, ao menos por ali não havia nem transito nem bandos de turista, era tudo paz!

A catedral, gótica, está mutilada no seu altar onde faltam o transepto, o deambulatório e o próprio altar. Contrariamente ao que se possa pensar, já que Tulle foi palco de momentos terríveis aquando da Segunda Grande Guerra, a ruína de parte da igreja é muito anterior a esses acontecimentos. Ao que parece no século XV já havia problemas com o seu estado e, muito antes do século XX, foi saqueada, abandonada convertida em armazém e só não foi demolida porque a obra ficaria muito cara e ela não valia a despesa… como as mentalidades foram mudando ao longo da história até se começar a dar valor ao que é de preservar, para lá da religião ou da politica!

Em frente à catedral havia uma esplanada ótima para sentar e tomar café, que isto de não ter café decente torna difícil controlar o sono!

E o café era mais aparato do que sabor! Aparato e preço sempre em alta, qualidade e sabor sempre uma bosta!

E o dia seria feito de belas paisagens naturais, porque nem só de cidades e aldeias se enchem os olhos por ali!

As perspetivas da paisagem, verde e ondulante, com as povoações a aparecerem de quando em quando ao lado da nossa rua, tornam aqueles percursos um encanto permanente!

Depois vêm os montes e as estradas inspiradoras que os percorrem, como eu tanto gosto!

Atravessar o Parc des Vulcans d’Auvergne foi muito bonito!

É dos tais percursos que a gente não sabe se deve curtir a estrada ou parar a todo o momento para curtir a paisagem!

Sentia-me perseguida o tempo todo!

Ok, de vez em quando também me sentia perseguidora!

Então parávamos para picnic

E mais uma “mijoca” de café!
Não faças essa cara que, quando não há melhor não se põe defeito!

Então chegamos à bela Annecy!

E foi no momento mais encantador que ela pode ter para mim, ao entardecer, quando o céu ainda é luminoso, mas já acentua os contrastes nos brilhos das águas dos canais, com as luzes que se começam a acender.

Annecy está ligada à minha história como um paraíso onde me refugiei muitas vezes, vinda de Genève na minha pequena motoreta, para passear, relaxar, ler e desenhar, nos meus tempos de estudante…

E a sua aura nunca se quebrou, continua a saber a paraíso encantado a cada vez que lá volto, mesmo quando está repleta de turistas e movimento.

Nós já só tínhamos em mente encontrar as “Moules Frites” que nos vinham a fazer salivar há dias! Mas seguramo-nos, como gente civilizada, para visitar um pouco a cidadezinha antes de escurecer completamente. Claro que a gente segurou-se porque não faltavam menus com os ditos mexilhões um pouco por todo o lado, por isso era garantido que nos iriamos deliciar numa esplanada qualquer, dali a nada. Aguenta mais um pouco Filipe!

E lá veio um panelo de mexilhões para cada um, que coisa boa!

Oh p’ra ele, parece um menino feliz!

Annecy nunca me desiludirá, sempre bela, sempre com as comidas típicas de lá que eu adoro…

Uma ultima foto nas portas da cidade…

E fomos dormir que amanhã seguiríamos para o centro da Suíça…

3. Passeando por caminhos Celtas – até Saint-Jean-Pied-de-Port…

E como já vai sendo habito, tudo acontece antes de eu partir!

Parece que tudo conspira para desviar a minha atenção da empreitada que me proponho fazer e dos preparativos que procuro ultimar!

Desta vez foi a máquina fotográfica mais pequena, mais pequena mas muito melhor que a maior, aquela que avariou no ano passado e não veio a tempo da viagem e me obrigou a comprar uma nova (a maior) à última da hora! Pronto, este ano só foi à Sony umas 3 ou 4 vezes antes de partir, porque avariou o leitor de cartões, porque meteu porcarias dentro da lente, porque o estabilizador se passou e sei lá mais o quê!

Mas teve de se cuidar pois desta vez eu tinha a outra e nem cheguei verdadeiramente a stressar “Não queres ir? Ficas em casa e eu levo a outra que já foi à Roménia e portou-se muito bem!” e ela acabou por se pôr fina e ir comigo de viagem sim senhor, e trabalhar bem (mais ou menos) toda a viagem e não se falou mais do assunto!

Ora como eu não stressei com a máquina fotográfica o GPS juntou-se à festa e stressou ele! Foi para a Garmin em Barcelona e tudo. Lá veio melhor mas não a 100%, mas também não stressei por isso, o meu amigo Filipe Marques emprestou-me a sua Lulu, que é gémea do meu Rafael, e lá segui viagem com um casal de GPS. Não seria por isso que eu me perderia pelo mundo!

Uma última visita à Mototrofa, para trocar os punhos aquecidos que estavam meio derretidos por uns novos fornecidos pela garantia. E que bem que fiz em tratar disso, pois com o frio que apanhei usei-os todos os dias e sempre quase na temperatura máxima!

A motita é jovem mas já muito experiente! Estava em plena forma para partir!

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29 de julho de 2014

Há muito que eu deixei de me preocupar com o levantar muito cedo para partir numa viagem! Levanto-me quando acordar, sem usar sequer o despertador, e logo se vê como vai ser a seguir! Assim posso despedir-me direito do meu moçoilo, sem ter de o acordar de madrugada, ele vem ajudar-me a pôr tudo na moto e tira-me as ultimas fotos e tudo! Que mais posso querer?

E é sempre aquela sensação, não estou a sair de casa mais uma vez, como faço todos os dias! Estou a sair de casa para só voltar depois de muito ver, muito rolar e muito viver! É tão boa a sensação!!

Outro ritual que já vai sendo habitual é ir imprimir e encadernar o meu livro de viagem, onde tenho tudo planeado, desde o que posso querer ver, até reservas de dormidas e ferrys! Como tudo vem ficando para a última hora, também é na última hora que imprimo a coisa, as meninas da Telma-copias já se estão a habituar à minha visita e ao “Boa viagem” no final!

E naquele dia eu não iria fazer nada de especial, apenas conduzir, conduzir e conduzir, até ao sul de França, direto.

Claro que acabo sempre por parar aqui ou ali… mas nada de especial!

Os Pirenéus sempre me fascinam e eu queria passar a noite lá, numa terrinha deliciosa onde passei há dois anos e que adorei!

Oh, a sensação de conduzir tanto tempo seguido era tão boa que eu simplesmente quase não conseguia parar, até a tarde estar a chegar ao fim e o sol começar a brincar comigo, em paisagens deslumbrantes. Aí eu fui rapando da máquina e tirando algumas fotos.

E cheguei a Saint-Jean-Pied-de-Port e escrevia eu no meu facebook:

“Saint-Jean-Pied-de-Port, quase 900 km depois cá estou de novo! A última vez que aqui estive a minha motita estava mutilada, depois de ter batido dias antes de partir. Uma dor de alma, num ambiente tão bonito olhar para a minha moto partida! Mas hoje o conjunto está perfeito e a minha Ninfa já espantou olhos, parada no centro da cidadezinha, com montes de gente em seu redor a ler todos os seus autocolantes! Que belo dia para passear!”

O hostel ficava mesmo dentro das muralhas, numa casinha recuperada encantadora! Todas as casinhas por ali são encantadoras, afinal!

Fui comer finalmente, comida de panela, de alguma forma eu já sabia que esta viagem seria de comidas de plástico por isso tinha de aproveitar enquanto estava num pais onde se cozinha!

E o sol pôs-se lindo quando eu passeava pelas ruelas!

Era tudo o que eu queria, ver a cidadezinha de noite, com as suas muralhas e pontes e o rio Nive a passar logo ali!

“Em Saint Jean Pied de Port, convergem as três grandes vias do Caminho de Santiago no território francês, de Paris, Le Puy e de Vecelay (Chemin de Saint-Jacques des Pyrénées-Atlantiques) e isso é visível pelo centro de apoio e pela igreja de Nossa Senhora.” (Passeando até à Suiça 2012)

Tão bonito tudo por ali! Tão relaxante e sossegado! Adoro aquela terra!

Ouviam-se vozes que vinham da igreja e eu fui espreitar! Era um coro que fazia lembrar os cantares alentejanos. Pude perceber pelos cartazes à porta que se tratava do Coro Basco de Homens Gogotik e cantavam tão bem! Umas senhoras encostaram-se mais umas às outras, num banco da igreja, para me arranjarem lugar e eu fiquei ali, maravilhada a ouvir! Era lindo!

E acabei por voltar calmamente para “casa”. O pátio do hostel era uma maravilha para se estar ao serão, em conversas sussurradas em diversas línguas e eu, que nem estudei muitas línguas, era a que falava e entendia mais pessoas que falavam em inglês, em francês, em espanhol e em italiano! Foi tão giro!

E foi o fim do primeiro dia de viagem, cheio de encanto e desejos realizados, depois de tanto tempo sonhando em partir, em conduzir muitos quilómetros seguidos, em conhecer terras e gentes…

7. Passeando pelos Balcãs… – Sisteron, La Spézia

3 de agosto de 2013

Naquele dia… tirei o dia para andar de moto!

Eu tinha dias destes nos meus planos, em que o que eu queria ver a seguir seria longe, por isso estava preparada para passear, para curtir a paisagem e as curvas da estrada de montanha, mas também para correr um pouco!

São estes dias, e tive alguns nesta viagem, que desentorpecem os meus sentidos e os da motita, depois de voltinhas a baixa velocidade por aqui e por ali.

Mesmo assim faço tudo sem stress, não há-de ser porque o meu destino é mais distante que eu desatarei a correr sem olhar para os lados. Cada dia é percorrido como se fosse o único da viagem, com todo o interesse e prazer de condução e passeio, parando sempre que me apetecer, para ver, fotografar, desenhar ou comer. Se se fizer tarde e chegar ao meu destino durante a noite, tanto pior, o meu Patrick GPS que faça o seu trabalho e me leve à porta de “casa” e se não o souber fazer… logo se verá!

Por isso ainda me dei ao luxo de andar para cima e para baixo no mapa e de tirar algumas fotos de montanha, quando o prazer foi em altitude e curvas alucinantes!

Para mim passear pela montanha, neste caso pelos Alpes, é, só por si, um delicioso encanto! Não precisa de ter nada mais para eu ser feliz!

À luz da manhã é que pude ver direito onde dormira, rodeada por montanhas extraordinárias!

E descobri também que ficava na “Route du Temps”, um nome bem sugestivo para um percurso perto do céu e a tocar o paraíso!

E mais à frente já se via o imenso vale onde se situa o penhasco de Sisteron.

Sisteron, entre a rota da grande produção de fruta e a rota da lavanda!

A cidadezinha não é tão encantadora como eu pensava! Quando a vemos de longe, com o penhasco encimado pela cidadela, temos a sensação de que é toda construída em pedra, com ruelas estreitas e onde os carros não podem entrar… e em parte é!

Mas tem também estradas cheias de carros e movimento e confusão, e as casas são cinzentas e o chão alcatroado ou de cimento!

Não me apeteceu subir até à cidadela, estava muito calor e tinha de subir ainda muito…

A perspetiva da cidade era muito interessante lá de cima. Sisteron, uma cidade cheia de história antiga que se estende desde os romanos, testemunhando todos os grandes momentos históricos do país, por se situar em ponto tão estratégico e de passagem obrigatória para tantos destinos!

Preferi passear-me pelo mercado de rua e deixar explorações mais profundas para uma visita posterior!

Eu queria ir a Castellane e à Gorge de Verdon, mas aquilo estava impossível de povo irrequieto por todo o lado! Tive de me obrigar a deixar para outra vez, quando eu programar passar ali a noite e visitar a garganta de manhã, porque naquele momento era impossível! Por isso amuei e segui até Rougon.

Subi até à aldeiazinha e, ao menos lá, não havia ninguém para além dos locais! Foi um alívio e uma pausa na paz!

Com os montes “rachados” como paisagem, os mesmos que se abrem para Verdon!

Eu tenho mesmo de ir explorar aquilo direito, pois se o rio Verdon é deslumbrante no seu percurso mais banal, nas gargantas deverá ser realmente extraordinário, com as águas turquesa e os penhascos a pique em seu redor!

E seguindo percursos de água logo a seguir fica o Lac de Castillon, provocado por uma barragem e cheio de beleza, com as suas águas turquesa com barquinhos a passear em cima!

E tinha de tratar de atravessar os Alpes para descer para Itália.

Estava numa zona cheia de passos de montanha interessantes, lá fui andando de curva em curva pelo Col d’Allos até aos 2.250m de altitude.

Há momentos em que a gente olha para o caminho percorrido e ele parece que está por todo o lado!

Entrei em Itália por uma das minhas fronteiras preferidas!

Pertinho de Barcelonnette, onde a seguir ao lago muito bonito fica a estrada extraordinária com este aspeto!

Depois vem mais montanha, estamos em Argetera.

E começa a confusão dos vilarejos e aldeolas, sem muito o que ver mas com muito transito e camiões à mistura!

É este ponto um dos únicos nas minhas viagens em que eu gosto de apanhar a autoestrada, pois é uma alucinação! Sempre que vou por aqueles lados passo ali da estrada nacional aborrecida para a autoestrada mais louca que se pode desejar! As velocidades variam entre os 80km, nos troços mais lentos e sinuosos, para os 130km/h nos mais rápidos e a gente parece que anda num carrocel, ladeado de paredes, repleto de curvas e com os carros a competir connosco! Adrenalina pura!

E cheguei a La Spézia, onde ficava a minha casa naqueles dias!

E foi o fim do 5º dia de viagem!