12. Passeando pela Grécia/Balcãs – Subindo a Grécia até Drama

30 de agosto de 2022

Hoje eu subiria mais um pouco o país até uma cidade com um nome sugestivo. O caminho não era muito longo, por isso não havia muita coisa para fazer naquele dia e eu tinha todo o tempo do mundo para percorrer os caminhos de Meteora e depois subir até Drama.

Mas claro que não podia ir embora sem passear uma vez mais pelo caminho dos belos mosteiros, por isso lá fui subindo na direção dos “monstros” de pedra.

Os enormes rochedos eram realmente monstros negros em contraluz. O tempo estava límpido, depois da chuvada de ontem e isso tornava a atmosfera perfeita ao amanhecer.

Meteora em grego significa “suspenso no ar” e aquilo tudo tem mesmo ar de estar lá pendurado em cima.

Desta vez fiz alguns desenhos do aspeto imponente dos enormes pedragulhos, mas não tenho a certeza de ter conseguido realmente mostrar um pouco do que sentia ao olhar aquilo tudo…

Mas é assim, uma memória dos momentos que parei e olhei mais demoradamente para aquela paisagem apaixonante!

Reza a lenda que a construção dos mosteiros remonta ao século XI. Os monges eremitas queriam defender-se dos invasores otomanos e foram construindo os seus espaços religiosos no topo dos grandes rochedos para dificultar o acesso.

O curioso é que apenas no inicio do século XX se construíram escadas para chegar lá acima, já que inicialmente tudo se processava com cordas e roldanas que içavam pessoas e materiais em redes e cestos.

Hoje, olhando para eles, que já foram mais de 20, dá que pensar a trabalheira que deu levar lá para cima todos os materiais para construir tudo aquilo!

E a bela estrada que nos leva até à entrada de cada mosteiro é linda e em muito bom estado. Até dá para fotografar a partir da moto em redor!

Eu não sou muito de selfies, mas não resisti em registar o meu próprio rosto todo marcado com o capacete desenhado pelo sol. Linda de morrer!


Isto de não conseguir abrir e fechar o capacete, por causa da dor e da falta de força na mão esquerda, fez-me andar muito frequentemente de capacete aberto e o resultado estava na minha cara!

Há sítios onde passo que ficam na minha memória de uma forma tão gratificante que quando lá volto é como se fosse rever um amigo.

E a despedida é aquele momento onde apetece levar cada recanto na memória, guardar todos os sítios na mesma caixinha para mais tarde recordar… E aquele ponto sempre retratará todo o local para mim. Não fico eu na foto, mas fica a uma sombra de mim!

O Mosteiro Agia Triada (da Santissima Trindade) foi a minha ultimo no meu horizonte.

Eu podia ve-lo pelo retrovisor da minha moto

Ao longe podia ver a envolvência de Meteora.

É curioso como o aglomerado de grandes rochedos fica isolado no meio de uma paisagem completamente lisa, como se a natureza se tivesse enervado naquele sitio e se engelhado em rochedos impressionantes.

Encontrei um lento viajante no meio da estrada. Já vou perdendo a conta de quanto cágados encontrei no meio do meu caminho!

Fechou-se todo em casa quando me viu. Imagino o estrago que faria se eu passasse por cima dele com a moto. Certamente eu me esbardalharia e ele continuaria o seu caminho.

Peguei-lhe com cuidado, era bem pesado o menino, e levei-o para a berma da estrada.

Eu tinha planos de explorar um pouco o Monte Olimpo, por isso até me entusasmei quando encontrei a placa.

A ele estava encimado por enormes nuvens, muito baixas. O tempo não devia estar nada bom lá em cima! parece que quando ali passo o céu está sempre a caír em cima dele!

Com o meu pulso a doer e a mão sem força, o que me reduzia muito a desbtreza, definitivamente eu não me meteria a explorar caminhos ruins. Limitei-me a aprecia-lo de longe e seguir, contornando o mau tempo a ver se cobnseguia passar sem ter de vestir o fato de chuva!

As estradas não eram as mais interessantes e encantadoras, nem os caminhos eram particularme3nte panorâmicos. É frequente pela Grécia encontrar estradas completamente banais, com paisagens nada de especial que não vão ficar na memória depois de uma viagem. Quando é assim, limito-me a parar em estações de serviço para comer e beber, já que procurar recantos encantadores para fazer um picnic é mais trabalhoso e menos interessante!

Eu não como gelados nem bolos, mas gosto de provar cervejas e salgadinhos, e os gregos têm coisas muito interessantes nessas especialidades para a gente degustar!

É nesses momentos que eu percebo que o meu dia vai ser feito de comer e conduzir, porque não ha muito mais o que fazer! Ok, há sempre uma curvinha ou outras para animar a condução 😀

E um lugarejo ou outro para dar uma olhada em redor. mas só uma olhada pois não tem muito mais que a bela igreja para encher os olhos, e mesmo essa, estava fechada! Pieria e a sua Igreja dedicada a Agios Dimitrios.

Porque será que quando tenho pouco o que ver tenho sempre muito mais fome? E pimba, sempre que tenho de parar para por gasolina, lá vou eu dar uma olhada na tasca anexa.

Não encontrei nem muitos viajantes de moto nem mesmo muitas motos de residentes. O que mais vi foi motocas pequenas de locais. Mas ali estava uma belíssima AfricaTwin para fazer comapnhi a à minha Penélope.

Os donos da AT eram um casal, mas não se mostraram muito conversadores e eu não faço questão de prender as pessoas muito tempo com conversas que não interessam para nada, por isso apenas cumprimentei e fiquei no meu canto a apreciar o meu sumo e as motos na minha frente. Antipáticos…

Há momentos numa viagem, que uma simples placa me pode fascinar, quando indica vários países e capitais…

Não sei se outras pessoas processam isso, mas vivemos num país onde as placas apenas podem indicar um único país, por muito que a gente ande para norte ou para sul! E eu estava tão perto da Turquia, onde eu tinha planeado ir antes de destruir o meu pulso… ainda bem que as placas ainda não a indicavam, ou teria sido fortemente tentada a fugir do meu caminho para lá…

Mas ali há Bulgária por todo o lado, embora a Grécia ainda faça fronteira com a Macedónia do Norte, a Albânia e a Turquia.

Não me era permitido realizar mais, o que eu estava já era o sonho possível realizado, mais do que isso seria demais… e cheguei a Drama, sem mais dramas!

O entardecer estava animado no centro da cidade, embora eu tenha sido recebida com obras profundas as ruínhas até ao alojamento. Eu sei, para ser ter estradas boas é preciso tratar-se da manutenção e esburacar de vez em quando para se renovar e refazer. Mas confesso que stressei, com tanto pula pula de buraco em buraco!

O meu alojamento era bem no centro da cidade por isso era fácil explorar a pé, por isso, antes que caísse para o lado a dormir, fui explorar em redor e procurar onde comer.

Encontrei uma pizaria que fazia umas pisa muito apetitosas, lá dentro apenas trabalhavam 4 homem de meia idade, o que para mim foi meio surpreendente, talvez por estar habituada a ver apenas jovens trabalhar em sítios destes.

Disseram-me que só vendiam pizas inteiras e que davam para duas pessoas. Não faz mal, eu consigo comer por duas pessoas, venha dai essa piza! E sim, comi-a quase toda! Sobrou tão pouca quem nem valia a pena trazer embora. Quem não é para comer não é para conduzir!

Eu não sou de noite, no sentido de bares e discotecas, mas gosto tanto de passear por uma cidade à noite e ver com o que é que ela se parece quando as pessoas vão dormir.

Bem, vamos lá para casa dormir, para esquecer o quão perto da Turquia estou sem poder lá por o pé…

Amanhã sigo para a Bulgaria e esqueço de vez o que deixo para trás pois tenho coisas novas para descobrir por lá!

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41. Passeando pelos Balcãs… – Fim de uma bela história… regresso a casa…

1 de setembro de 2013

Andorra-la-Vella não é a cidade mais bonita que conheço, é mais aquela espécie de supermercado onde se aproveita para comprar umas coisitas, como o meu perfume, ou um radio para o carro do moçoilo. Dá-se umas voltitas por ali e está tudo visto… ou será que tenho essa sensação porque passo lá vezes sem conta, ano após anos de há muitos anos para cá?

De qualquer maneira as pessoas são simpáticas e até se torna agradável andar por ali a ver montras… de material motard! Pois, estava na hora de continuar à procura de uma viseira para o meu capacete!

A dada altura eu já nem tirava o capacete, simplesmente pousava a moto à porta da loja, entrava um pouco e perguntava “tem uma viseira interior para este capacete?” e apontava para a cabeça “Ah, não! Vá à loja XX»” e eu seguia para a tal loja!

E ía-me divertindo um pouco por aqui e por ali!

É inacreditável como um capacete tão bom, de uma marca tão importante, não tem em nenhum dos seus representantes uma porcaria de uma viseira para vender! É mais fácil comprar um capacete novo que uma viseira para o que tenho? Pois, parece que o que importa é vender, agora cuidar do que se vende, nem por isso!

Acabei por fazer amizade com gente boa, uns portugueses outros espanhóis, mas todos muito simpáticos e curiosos sobre a minha moto, os seus autocolantes e os sítios onde fui com ela!

E vim embora com a viseira colada com fita-cola e até hoje ainda ninguém me arranjou a porcaria da coisa! Está encomendada à Schuberth desde setembro e… nada ainda!

A viagem acabaria logo a seguir! É sempre a sensação que tenho quando passo os Pirenéus para o lado de Espanha, por isso não me interessaria ir a mais lado nenhum…

Uma coisa que eu aprendi recentemente, numa das últimas viagens que fiz, foi que não adianta alongar por Espanha o que terminou em França ou Andorra, porque o sentimento já é de saudade da viagem e tudo parece ter o sabor da despedida! Então, sendo assim, o melhor é atravessar o país e vir para casa! Saudade por saudade, mato as saudades da viagem com o regresso a casa para junto do meu moçoilo…

Entretanto, depois de combinações descombinadas eu, que deveria passar em Pedrola, na terra do Rui Vieira, para dizer um olá, recebo a mensagem de que o homem afinal combinara tudo mal e não estaria por lá!

Mas eu fui na mesma! Ora aí está uma boa maneira de não fazer sempre os mesmos caminhos e dar uma volta pela terrinha do rapaz!

É um pueblo pequeno e simpático com um canal “à porta”, onde a gente dá uma volta, ficam algumas pessoas a olhar, a gente segue caminho e tudo volta ao normal!

E segui para casa… há uma nostalgia em cada regresso e a Espanha potencia esse sentimento com as suas planícies de perder de vista…

Voltei a passar em Peñafiel, cujo castelo ainda não visitei mas está agendado para uma próxima passagem…

Mas tirei a dúvida: sim, é geminada com a nossa cidade de Penafiel, onde vivo, como eu imaginava! Está ali o brasão cá da terra estampado na placa! Adorei!

Ao longe começou a aparecer uma coluna de fumo muito intensa! Puxa, que grande incendio por ali haveria!

Foi quando entendi que as coisas que me diziam eram mesmo verdade: o país estava a arder!

Depois de mais de 17 mil quilómetros, em que apanhara temperaturas proibitivas, países pobres e com as matas cheias de lenha apetitosa para arder à toa, eu apenas vira os vestígios de um pequeno incendio na Bósnia! 20 países sem fogos nem vestígios de terra queimada!

E o meu país? Estava a arder!

Entrei por Chaves e, de lá até Penafiel vi 8 colunas de fumo, sem esquecer que para sul de Penafiel tudo era fumo, por isso os fogos continuavam às dezenas por aí abaixo. O ar cheirava a queimado, o céu era meio negro, meio castanho…

…e cheguei a casa!

Com direito a receção, com fotógrafo de serviço a registar a minha entrada…

… com a cara toda queimada, o nariz vermelho, depois de ter largado já a pele, mas muita satisfação pelo caminho percorrido na maior paz!

E foi o fim do último dia de viagem!

Cheguei a casa depois de:

34 dias
17.500 km
20 países
8.000 fotos
885 litros de gasolina
1.050.53 € em gasolina
649 € em dormidas
41 € em portagens
E resto foi mais em bebida do que em comida…

Despesa total: 2.215.48 €

O que me faltou?
Um pouco mais de tempo para explorar tanta beleza que tive de deixar para trás!

O que sobrou?
Encanto, beleza, surpresa e simpático acolhimento em todo o lado!

O que valeu a pena?
Seguramente que valeu a pena ignorar, mais do que nunca, todos os medos, e avisos, e temores, de uns e de outros, e ir onde queria ir!

O que teria dispensado?
Tanto calor, por tanto tempo, quase até ao esgotamento físico, porque a moral, nada a esgotaria!

O que me apetece dizer ainda?
Esta foi uma das viagens mais extraordinárias que fiz, por isso vai ter continuação!

O mapa das voltas que dei nesta viagem aparecerá mais tarde, pois está uma trapalhada que tenho de rever!

Adeus e até ao meu próximo regresso à estrada!

40. Passeando pelos Balcãs… – Andorra, a penultima etapa…

31 de agosto de 2013

Logo pela manhã fiz bosta ao limpar as viseiras do capacete pela “enésima” vez!

O Schuberth c3 é um ótimo capacete e tal, mas tem fragilidades que me surpreendem, como aquela viseira interior que é tão flexível que me pareceu sempre que poderia partir a qualquer momento com a pressão ao ser limpa! E é verdade! Apesar de todo o cuidado com que sempre o faço… ela partiu mesmo no encaixe! Bolas, teria de procurar uma nova em Andorra!

Como em tantas outras viagens, desde a primeira vez que estive em Genève, chegou a hora de ir embora! De novo a cidade teve o ar de despedida e eu nem sabia mais do que me despedir pela última vez, desta vez!

De novo eu quis ficar e não voltar mais para casa, de novo tive a vontade de ir a todo o lado rever tudo pela última vez como da primeira vez….

E como em outras viagens, acabei por ir até ao “meu” parque… queria ver aquilo tudo de novo a partir de lá, depois da perspetiva noturna do dia anterior! Da próxima vez terei de ir ali captar um pôr-do-sol extraordinário como já captei tantos, por agora fiquei com a imagem da cidade ao sol da manhã…

Aquilo é lindo visto dali…

Há sempre uma imagem dali que me fica na memória, é inevitável!

Depois desce-se até ao lago e… hora de partir!

Oh aquele lago sempre me encanta!

E parti…

Apanhei a autoestrada, já que é para ir embora façamo-lo depressa…

Ao passar a portagem cruzei com 3 motos suíças, uma delas era uma Goldwing com sidecar e, para meu espanto, transportava algo com grandes rodas sobre ele!

Uma bicicleta?

Curioso, um casal a passear de moto com uma bicicleta amarrada ao sidecar! Atrasei a marcha para os deixar passar e apreciar o conjunto!

Então quando eles me passaram, espanto! Não era uma bicicleta, era uma cadeira de rodas mesmo!

De repente tudo fazia sentido! Nada nos impede de realizar o que sonhamos, desde que sejamos inteligentes! A Goldwing tem até marcha atrás, por isso não é preciso usar os pés para move-la, o sidecar não deixa a moto cair para o lado, e a pendura facilmente liberta a cadeira de rodas para que o condutor possa subir para ela!

Simplesmente não conseguia seguir o meu caminho e fui por muito tempo junto deles a apreciar aquela maravilha de gente!

Uma viagem por autoestrada nunca tem muito o que contar, até se sair dela e se começar a ver coisas bonitas, que é o caso dos Pirenéus!

E Andorra logo a seguir!

E começou a minha epopeia na procura de uma viseira interior para o meu capacete!

Acabei por visitar todas as casas de material para motos em Pas de la Casa, onde parece que toda a gente me conhece já! A verdade é que vou ali tanta vez que até a minha moto já é conhecida e dá sempre nas vistas!

Não havia viseiras para o meu capacete em lado nenhum, toca a subir o monte para ir para Andorra-la-Vella…

Ui, a quantidade de fotos que eu já tirei junto àquela tabuleta, acho que a cada vez que lá passo faço uma nova foto!

Não sei porquê, mas frequentemente sinto que fazer aquela estrada é como se já estivesse a passear em casa…

Parecia Natal em Andorra! Naquele restaurante parece sempre, nunca tiram as luzinhas!

A motita dormiu num parque onde uma Africa Twin ocupava mais espaço que uma Pan e uma FJR juntas! Ainda dizem que as mulheres não sabem estacionar! No que diz respeito a motos acho que poucos homens sabem estacionar a sua moto sem ocuparem todo o espaço possível!

Fiquei hospedada num hostel onde as pessoas eram muito simpáticas e comunicativas, quiseram saber muita coisa sobre mim e a minha viagem e eu aproveitei para saber informações precisas sobre Andorra e explorações que pretendo fazer por ali.

E foi o fim do 33º dia de viagem…