5 de Setembro de 2012
Cada manhã, cada dia tinha cada vez mais o sabor do regresso. Havia tanta coisa para ver, o tempo era tão pouco e a distância tão longa! Por muito longas que sejam as viagens a mim vão-me parecer sempre pequenas para tanta coisa que há para ver!
Segui por caminhos e estradinhas secundárias, deixando-me levar pela nostalgia do caminhar para casa…

Havia algumas coisas que eu queria ver e fiz um caracol no mapa antes de descer para Pau onde pernoitaria a noite seguinte.

Na maison d’hotes, onde eu ficara aquelas duas ultimas noites, perto de Tulle, falaram-me de algumas curiosidades da zona, entre elas o Viaduc des Rochers Noirs, uma ponte histórica que, segundo a narrativa dos locais, nunca foi destruída pelos bombardeamentos nazis, por milagre!

Aquela ponte foi usada pelas pessoas da Resistência com o apoio da população, que as avisava se podiam ou não passar usando velas que acendiam nas janelas! Soube também que fora construído em 1918 para uso exclusivo de comboios e só em 1959 foi encerrado a todo o trânsito e ficou exclusivamente pedonal. É monumento nacional e naturalmente eu quis vê-lo de perto!

Passei lá de manhã cedo, antes de seguir para sul. Era cedo, estava sol, o dia perfeito para uma visita histórica… fotografei-o lá de cima do topo da encosta, na berma da garganta que ele atravessa, depois desci até ele e… havia polícia lá em baixo, e bombeiros e ambulâncias… Um polícia veio ter comigo, comunicou-me que não poderia aproximar-me do viaduto. Disse-mo num tom quase pesaroso. Perguntei-lhe o que se passava ali… “um homem se suicidou aqui há apenas alguns minutos…” respondeu-me ele. Um frio percorreu a minha coluna. Uns minutos antes e poderia ter sido eu a encontrar o corpo! Olhei com mais atenção e vi o corpo no meio da rua mais à frente. “não há problema” disse eu ao policia “eu vou embora, não vou perturbar o vosso trabalho”… tirei uma foto discreta ao viaduto… e parti….

O choque da situação acompanhou-me por um tempo, enquanto fui rolando quase ao acaso. Só hoje me pergunto como seria atravessar o viaduto a pé e fotografar o abismo por baixo! Limito-me a ver imagens da net e pensar se lá voltarei a passar um dia!

Lá acabei por me ligar à terra e direcionar o meu caminho para o Château de Val.

O Château de Val é um castelo encantador do séc. XIII que foi construído e transformado até ao séc. XV.

Não tinha qualquer espirito para me pôr a visitar castelos, por isso limitei-me a passear por ali e tirar um milhão de fotos, porque o castelinho é mesmo encantador!

Fica na borda do lago de Bort-des-Orgues, bem pertinho de Tulle e podiam-se ver barcos de recreio oferecendo passeios turísticos pelo lago.

Mas nada disso me apetecia. Sentei-me no murito que separa a praia do nível superior, junto às árvores, e fiz um desenho giro do castelo!

O cenário que o enquadra propicia fantasias românticas e históricas e já foi utilizado em vários filmes, entre eles uma versão francesa de “Frankenstein”.

Ao passear-me ali, pela praia, lembrei-me de uma ideia antiga de visitar todos os castelos medievais que encontrasse por terras francesas! A atmosfera que se vive junto de uma construção tão fantástica como esta fascina-me tanto como a atmosfera de uma catedral medieval…

As ruínhas continuavam deliciosas! É a parte que mais gosto de estrada de uma viagem, quando me meto por caminhos de ninguém, onde apenas os locais circulam!


E ao dar a volta e voltar a uma rua “decente” lá estava o castelinho ao longe!

Claro que fiz uso do meu novíssimo zoom de 20X para o “apanhar”! Que coisinha fofa!

Mais à frente vi ao longe o Château de Salignac… e tive vontade de ir vê-lo…

Parei um pouco na berma da estrada a olhar para ele. É medieval, é lindo e está na minha lista de futuras visitas, pois já vi que a cidade que o alberga, Salignac-Eyvigues tem todo o ar de ser linda!
Às vezes é nestas breves paragens na berma da estrada que reside o motivo para uma próxima viagem!

Segui para Sarlat, que por aquelas bandas parece que os nomes das terras terminam sempre em “at!”

Sarlat-la-Canéda é mais uma cidade medieval apaixonante, como parece que é tudo por ali pela região do Dordogne! Ok, a bem dizer todas as regiões são bonitas por ali!
O centro histórico é grande e grandioso! Um dos maiores conjuntos medievais do mundo, composto por uma rede intrincada de ruínhas ladeadas de casas de arenito amarelo, com telhados de ardosia espantosos!

Lá fui entrando numa igreja ou noutra como a igreja de Saint-Sacerdos do séc. XVII


A cada passo a cidade serve de cenário para filmes de época pois presta-se perfeitamente pela grade extensão de espaço medieval intocado!


Muitas outras cidades francesas tiveram centros medievais igualmente espantosos mas que foram sendo destruídos pela modernidade. Sarlat foi a primeira cidade a beneficiar de uma lei/programa, nos anos 60, que incentivava os proprietários a restaurar os seus edifícios contra grande dedução nos impostos, o que permitiu manter a cidade até aos dias de hoje, impecável!



A Ancienne église Sainte-Marie, uma igreja do séc. XIV, depois de ter deixado de servir a sua função, já foi Posto dos Correios, já esteve abandonada durante muito tempo e apenas há 10 anos foi remodelada e transformada num mercado coberto e espaço de exposições! Havia fila à porta para subir o elevador e ter uma vista panorâmica sobre o centro histórico… não fui! Detesto filas!

E as ruelas parecem nunca terem fim, nem os seus encantos!

A fonte de la Vierge Marie foi durante muito tempo o único ponto de água da cidade. Os viajantes refrescavam-se ali e atiravam moedas para a água que os putos corriam a apanhar!

No fundo da gruta está a estátua da virgem!

Ali à beirinha uma motinha pequerrucha tinha ar de ter participado num casamento! Estava toda adornada com papel crepe!

Tudo tão bonito e encantador por ali que não me apetecia ir embora!



E não fui! Tratei mas é de encontrar um sítio bem bonito para me sentar e comer, que estava na hora e, com um ambiente daqueles, eu não iria comer uma sandoca qualquer! Ia sentar-me numa mesa e comer mesmo, usufruir da beleza do local



E lá estava o sítio ideal para me sentar, comer e disfrutar do momento!

Depois tive mesmo de me pôr a andar…

mas a estrada também seria bonita, com palácios e paisagens rurais como eu tanto gosto…


até chegar a Bergerac, a terra do Cyrano, o homem do grande nariz!

(continua)