18. Passeando pela Grécia/Balcãs – as aparições de Međugorje e a costa da Croacia

5 de setembro de 2022

Eu estava no coração do lugar sagrado!

Podia senti-lo mesmo sem sair do meu quarto. Lá fora ouviam-se as pessoas que passavam orando alto. Acho que as ouvi um pouco por toda noite! Aparentemente o mau tempo não tinha perturbado em nada os grupos de crentes no seu vai-e-vem.

Eu sabia que estava no caminho para a colina das aparições, muito perto mesmo, e a agitação no meu alojamento começara cedo também, pois aquela gente toda iria seguir para lá.

Na sala de refeições havia grupos de pessoas tomando o pequeno almoço, preparados para subir à colina.

Eu não iria até à colina.

Apenas iria explorar a agitação religiosa da vila e depois seguiria o meu caminho para a costa.

A minha motita lá estava, agora no seu canto iluminado pelo sol.

Eu temera ter pela frente outro dia de chuva, mas ela tinha-se esgotado durante a noite e hoje estava um belíssimo dia de sol!

Junto à igreja o ambiente religioso intensifica-se.

Há varias imagens da Nossa Senhora, mas a mais emblemática, junto à igreja, é muito bonita e venerada.

A Nossa Senhora de Međugorje, ocupa um lugar significativo no coração de muitos crentes como a Rainha da Paz. As aparições da Virgem testemunhadas por seis crianças croatas em 1981 cativaram a atenção do mundo e suscitaram discussões sobre fé, paz e espiritualidade.

As aparições ocorreram durante o regime comunista ateu da ex-Jugoslávia, que reprimia rigorosamente manifestações religiosas em público.

Muitas perseguições ocorreram e, na aldeia, várias pessoas sofreram com isso, muitas sendo mesmo presas. Dizem que, durante os primeiros anos, a polícia impediu as pessoas de subirem a colina.

Policias armados e com cães ficavam no sopé do monte Podbro, conhecido como “a colina das aparições”, para desencorajar as pessoas de subirem para rezar, pois acreditavam que o que estava a acontecer em Međugorje era uma tentativa de destruir o Estado comunista.

A igreja paroquial é dedicada a São Tiago Maior, padroeiro dos peregrinos, e é um ponto de encontro para os devotos locais e para todos os que viajam até lá em busca de uma conexão mais profunda com Nossa Senhora.

A construção atual, erguida em 1969, substituiu a antiga igreja edificada um século antes, que se degradou já que o terreno era propenso a deslizamentos de terra.

A imponência e o tamanho da igreja contrastavam com o pequeno número de paroquianos da época em que foi construída, o que levanta a possibilidade de os construtores terem tido uma visão profética do crescimento espiritual e da importância que o local alcançaria nos anos seguintes, dizem os crentes,.

Quando as aparições começaram, a igreja ficava isolada no meio dos campos. Com o tempo, esses campos foram-se tornando em áreas de construção e a pequena vila cresceu em redor da igreja.

A Igreja é conhecida como o “confessionário do mundo”, com vinte e cinco confessionários, onde padres de todas as nações ouvem confissões em todos os idiomas do mundo.

E lá estava o altar de Nossa Senhora com fieis em fila para rezar.

Após as aparições marianas, o número de peregrinos aumentou, levando à reorganização dos arredores, incluindo a construção de um altar exterior atrás da igreja e uma área de oração com cerca de 5.000 lugares sentados.

Depois segue-se um jardim, ladeado por diversas capelinhas de construção moderna, a caminho do cemitério.

São varias dedicadas a diferentes momentos da vida de Cristo e Maria.

Então, ao fundo, o caminho estreitece e podem-se ver diversas construções com exposições de imagens emblemáticas do local e sua história.

Ali eu pude ver como tudo era tão simples, a lembrar as imagens muito mais antigas do inicio da história das aparições de Fátima!

Apesar de não ter sido reconhecida oficialmente pela Igreja Católica, a devoção a Nossa Senhora de Medjugorje cresceu significativamente ao longo dos anos, com relatos de conversões, curas e experiências espirituais profundas entre os peregrinos.

O cemitério fica logo a seguir.

Um homem veio ter comigo e, num inglês rudimentar, disse-me que me ia levar à campa.

Não entendi logo onde ele me queria levar, mas segui-o.

Percebi depois que ele me levara à campa do padre Slavko. 

O padre Slavko Barbarić, que também era frade franciscano, foi o diretor espiritual dos videntes até falecer em 2000. Ele substituiu o primeiro padre que acompanhou os videntes, e que foi afastado por estar envolvido num escândalo sexual! Então Slavko Barbarić continuou treinando os videntes e sendo diretor espiritual do lugar.

Embora a sua história esteja cheia de idas e vindas, duvidas e incertezas, continua a ser venerado.

Há vários recantos por ali, como o pequeno jardim onde se levanta a estátua de Cristo Ressuscitado.

Muito interessante a forma como é sugerida a ressurreição, com uma superfície de bronze no chão, onde a silhueta de Cristo está escavada. Definitivamente a gente “vê que ele se levantou” dali.

As pessoas sobem os degrauzinhos ao lado da estatua e tocam-na nas pernas, enquanto rezam. Por isso ela tem as pernas douradas até aos joelhos, polidas pelas muitas mãos que as tocam!

E voltamos à zona exterior de celebração com todos aqueles bancos em semicírculo.

Dá que pensar a historia do local e em tudo o que aprendi antes de lá chegar e depois de falar com varias pessoas por lá…

Desde que a história de Nossa Senhora de Medjugorje teve início, há 40 anos, as crianças (que hoje são gente adulta e pais de filhos) relataram aparições diárias. E acredita-se que Nossa Senhora transmite mensagens para os crentes locais e para o mundo por meio dos videntes, até os dias de hoje.

Além de partilharem as mensagens de Nossa Senhora, cada vidente recebe Dela uma intenção de oração distinta como orações pelos doentes, pelos jovens, pelos descrentes, pelas famílias, pelos sacerdotes e pelas almas no purgatório.

Pelo que sei, os videntes continuam vivos e bem, e frequentemente juntam-se aos sacerdotes e peregrinos em oração.

No entanto, ao contrário de outros casos semelhantes aprovados pelo Vaticano, a Senhora de Medjugorje ainda é hoje objeto de controvérsia, tanto tempo depois de as primeiras aparições terem sido registadas. No centro desta discussão está o primeiro padre envolvido, que foi acusado de abusos sexuais e excomungado pela Igreja em 2020.

Outra das dificuldades para a igreja aceitar plenamente as aparições como confiáveis, está no facto de elas se manterem permanentemente e quase diariamente, quando normalmente aparições são momentos raros e pontuais. O Papa Francisco disse mesmo que a mãe de Jesus não era “chefe dos correios” para enviar mensagens diária a horas certas.

Assim, até hoje as aparições nunca foram confirmadas pelo Papa nem pela Igreja Católica, mas as peregrinações continuam a ser permitidas e a cada ano o volume de peregrinos vindos de todos os cantos do mundo aumenta. Atualmente, mais de um milhão de peregrinos de 120 países visitam Medjugorje anualmente.

Por aquela altura eu já estava cansada da história e só queria ir embora. E tal como pensara de manhã, não tinha qualquer vontade de subir à colina das aparições. O clima seria de muita fé e oração e eu não queria meter-me no meio disso para não perturbar o ambiente.

Por isso pus-me a andar para a costa

“Passar uma fronteira onde vão controlar passaporte é sempre uma experiência que me deixa na expectativa! Desta vez fizeram-me a pergunta da praxe: “your friends?” Havia mais motos e o homem queria que fossem meus amigos! “No friends, I’m alone” depois vieram outras perguntas típicas, tipo de onde eu vinha… meu deus, nunca sei o que responder, de onde venho hoje? De onde sou? Ah, concluiu ele, vens do outro lado de Espanha! Yes, that’s it …” in Facebook

Eu estava a viajar com passaporte, porque o tinha feito para ir mais longe… infelizmente as circunstancias não mo permitiram e eu levei-o comigo na mesma! Para além disso eu gosto da configuração do passaporte, que me permite pôr dentro coisas e documentos importantes que tenho de mostrar por vezes, e assim estão todos juntos, como carta verde e a carta de condução.

E não, o que eu mais gosto na costa da Croácia não é Dubrovnik, é a própria costa!

Já a percorri por diversas vezes e, a cada vez que o faço, se toma mais difícil para mim passar na região de Dubrovnik.

Todo o encanto de passar na estrada, parar e olhar lá para baixo, e ver a cidade que se estende sobre o mar, como uma pequena península, foi desaparecendo ao longo dos anos, à medida que a sua fama foi crescendo como destino turístico amplamente publicitado.

Há muito que eu comecei a passar sem nem parar, furando por entre motos e carros, vendedores ambulantes e roulottes estacionadas mais na estrada que na berma, seguindo o meu caminho como se não houvesse nada interessante ali para mim.

Por isso hoje não terei qualquer pena de chegar à costa mais à frente, perto mas longe o suficiente para seguir pela costa croata, o mais sozinha possível!

A Croácia, possui uma costa deslumbrante sobre o mar Adriático, que me encanta sempre, não importa quantas vezes lá passe!

A região costeira, conhecida como Dalmácia, é famosa pelas suas praias de cascalho e águas cristalinas de um azul turquesa inigualável.

Claro que para além da beleza natural das praias, a Dalmácia é também um local histórico e culturalmente rico, com cidades e aldeias antigas encantadoras e uma culinária deliciosa que combina influências mediterrâneas e europeias.

Mas desta vez eu iria apenas percorrer a costa e deliciar-me com o prazer da condução num verdadeiro paraíso!

Além do território continental, a Croácia tem mais de 1.000 ilhas ao longo de sua deslumbrante Costa Dálmata.

Eu estava tão contente por não haver ninguém a fazer aquele caminho comigo! Não me apetecia sequer ver casas nem aldeias, apenas seguir em piloto automático por ali fora!

Aquilo é ilhas, ilhotas, rochas e rochedos por todos os lados!

Será que, na contagem das mil ilhas estão incluídos os rochedos e as rochinhas?

O fascínio das rotas costeiras, como aquela, está na combinação das paisagens deslumbrantes e a liberdade da estrada aberta, sobretudo quando não há mais ninguém na estrada para além da gente, como naquele dia!

Apenas percorrer aquela costa é uma experiência inesquecível, repleta de paisagens deslumbrantes e vilarejos pitorescos. E nunca significa apenas fazer um caminho para chegar a um destino.

Nada de corridas cheias de adrenalina, apenas deixar a moto rolar e apreciar o caminho!

Novi Vinodolski, que belo sitio para comer!

Eu sempre escolho bem os sitios onde faço os meus picnics, a memos que esteja morta de fome e tenha de comer com o maximo de urgência, porque aí até sou capaz de comer montada na moto!

As coisas giras que a gente vê quando viaja calmamente apenas deixando a moto correr!

A principio pareceu-me um moscardo que voava na minha direção!

Cruzes, se os moscardos fossem daquele tamanho estavamos todos tramados, a considerar pela quantidade deles que vêm contra a gente quando estamos em movimento!

Pausa para refletir! 😀

E cheguei a Rijeka, uma cidade encantadora com um charme único que facilmente conquista qualquer um.

Já lá tinha estado antes, há muitos anos, mas apenas de passagem. Hoje queria aproveitar para explorar em redor, procurar um sitio onde me sentar e passar um pouco do meu serão.

A rua Korzo é o verdadeiro coração da cidade, onde se encontram os principais cafés, bares, restaurantes e lojas, criando um ambiente animado e acolhedor.

É a rua principal de Rijeka, paralela ao mar e à avenida Riva, que eu percorri vezes sem conta, até encontrar um sitio para pousar a moto.

A mistura única de história e modernidade torna a cidade encantadora.

O Gradski Toranj – Torre da Cidade, está ali, no centro da Korzo. A torre destaca-se mesmo estando cercada por construções mais modernas. A sua construção remonta à Idade Média, possivelmente sobre os alicerces das antigas portas da cidade. A fachada da torre hoje é barroca, como um portal espetacular.

Encontrei o sitio certo para sentar, comer e relaxar, longe das multidões de turistas que testam minha paciência! com a sua algazarra! Foi um serão muito fixe!

A dada altura o barman viu-me a tirar fotos do local e se ofereceu para me fotografar. Sempre me sinto tão descuidada em viagens, com o rosto marcado pelo sol, cabelo desgrenhado e roupas pouco convencionais, mas aceitei!

Agradeci ao rapaz pela gentileza e trocamos algumas palavras. Perguntou-me de onde eu vinha.

A tal pergunta que eu nunca sei como responder: de onde venho hoje, de onde eu venho nesta viagem ou de onde eu venho do ponto de partida?

Ele ficou surpreendido pela minha duvida, são coisas assim tão diferentes? quis saber.

Muito diferentes, senão veja: Hoje venho da Bósnia, mais propriamente de Medjugorje; nesta viagem, venho da Grécia, que foi o país que mais explorei, e o meu ponto de partida é Portugal, norte de Portugal mais propriamente, lá na terra onde se produz o vinho do Porto!

Ok, entendi, explamou ele espantado.

E fui para casa que tinha feito muitos quilometros e estava mortinha por pôr gelo neste braço….

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