18. Passeando pela Grécia/Balcãs – as aparições de Međugorje e a costa da Croacia

5 de setembro de 2022

Eu estava no coração do lugar sagrado!

Podia senti-lo mesmo sem sair do meu quarto. Lá fora ouviam-se as pessoas que passavam orando alto. Acho que as ouvi um pouco por toda noite! Aparentemente o mau tempo não tinha perturbado em nada os grupos de crentes no seu vai-e-vem.

Eu sabia que estava no caminho para a colina das aparições, muito perto mesmo, e a agitação no meu alojamento começara cedo também, pois aquela gente toda iria seguir para lá.

Na sala de refeições havia grupos de pessoas tomando o pequeno almoço, preparados para subir à colina.

Eu não iria até à colina.

Apenas iria explorar a agitação religiosa da vila e depois seguiria o meu caminho para a costa.

A minha motita lá estava, agora no seu canto iluminado pelo sol.

Eu temera ter pela frente outro dia de chuva, mas ela tinha-se esgotado durante a noite e hoje estava um belíssimo dia de sol!

Junto à igreja o ambiente religioso intensifica-se.

Há varias imagens da Nossa Senhora, mas a mais emblemática, junto à igreja, é muito bonita e venerada.

A Nossa Senhora de Međugorje, ocupa um lugar significativo no coração de muitos crentes como a Rainha da Paz. As aparições da Virgem testemunhadas por seis crianças croatas em 1981 cativaram a atenção do mundo e suscitaram discussões sobre fé, paz e espiritualidade.

As aparições ocorreram durante o regime comunista ateu da ex-Jugoslávia, que reprimia rigorosamente manifestações religiosas em público.

Muitas perseguições ocorreram e, na aldeia, várias pessoas sofreram com isso, muitas sendo mesmo presas. Dizem que, durante os primeiros anos, a polícia impediu as pessoas de subirem a colina.

Policias armados e com cães ficavam no sopé do monte Podbro, conhecido como “a colina das aparições”, para desencorajar as pessoas de subirem para rezar, pois acreditavam que o que estava a acontecer em Međugorje era uma tentativa de destruir o Estado comunista.

A igreja paroquial é dedicada a São Tiago Maior, padroeiro dos peregrinos, e é um ponto de encontro para os devotos locais e para todos os que viajam até lá em busca de uma conexão mais profunda com Nossa Senhora.

A construção atual, erguida em 1969, substituiu a antiga igreja edificada um século antes, que se degradou já que o terreno era propenso a deslizamentos de terra.

A imponência e o tamanho da igreja contrastavam com o pequeno número de paroquianos da época em que foi construída, o que levanta a possibilidade de os construtores terem tido uma visão profética do crescimento espiritual e da importância que o local alcançaria nos anos seguintes, dizem os crentes,.

Quando as aparições começaram, a igreja ficava isolada no meio dos campos. Com o tempo, esses campos foram-se tornando em áreas de construção e a pequena vila cresceu em redor da igreja.

A Igreja é conhecida como o “confessionário do mundo”, com vinte e cinco confessionários, onde padres de todas as nações ouvem confissões em todos os idiomas do mundo.

E lá estava o altar de Nossa Senhora com fieis em fila para rezar.

Após as aparições marianas, o número de peregrinos aumentou, levando à reorganização dos arredores, incluindo a construção de um altar exterior atrás da igreja e uma área de oração com cerca de 5.000 lugares sentados.

Depois segue-se um jardim, ladeado por diversas capelinhas de construção moderna, a caminho do cemitério.

São varias dedicadas a diferentes momentos da vida de Cristo e Maria.

Então, ao fundo, o caminho estreitece e podem-se ver diversas construções com exposições de imagens emblemáticas do local e sua história.

Ali eu pude ver como tudo era tão simples, a lembrar as imagens muito mais antigas do inicio da história das aparições de Fátima!

Apesar de não ter sido reconhecida oficialmente pela Igreja Católica, a devoção a Nossa Senhora de Medjugorje cresceu significativamente ao longo dos anos, com relatos de conversões, curas e experiências espirituais profundas entre os peregrinos.

O cemitério fica logo a seguir.

Um homem veio ter comigo e, num inglês rudimentar, disse-me que me ia levar à campa.

Não entendi logo onde ele me queria levar, mas segui-o.

Percebi depois que ele me levara à campa do padre Slavko. 

O padre Slavko Barbarić, que também era frade franciscano, foi o diretor espiritual dos videntes até falecer em 2000. Ele substituiu o primeiro padre que acompanhou os videntes, e que foi afastado por estar envolvido num escândalo sexual! Então Slavko Barbarić continuou treinando os videntes e sendo diretor espiritual do lugar.

Embora a sua história esteja cheia de idas e vindas, duvidas e incertezas, continua a ser venerado.

Há vários recantos por ali, como o pequeno jardim onde se levanta a estátua de Cristo Ressuscitado.

Muito interessante a forma como é sugerida a ressurreição, com uma superfície de bronze no chão, onde a silhueta de Cristo está escavada. Definitivamente a gente “vê que ele se levantou” dali.

As pessoas sobem os degrauzinhos ao lado da estatua e tocam-na nas pernas, enquanto rezam. Por isso ela tem as pernas douradas até aos joelhos, polidas pelas muitas mãos que as tocam!

E voltamos à zona exterior de celebração com todos aqueles bancos em semicírculo.

Dá que pensar a historia do local e em tudo o que aprendi antes de lá chegar e depois de falar com varias pessoas por lá…

Desde que a história de Nossa Senhora de Medjugorje teve início, há 40 anos, as crianças (que hoje são gente adulta e pais de filhos) relataram aparições diárias. E acredita-se que Nossa Senhora transmite mensagens para os crentes locais e para o mundo por meio dos videntes, até os dias de hoje.

Além de partilharem as mensagens de Nossa Senhora, cada vidente recebe Dela uma intenção de oração distinta como orações pelos doentes, pelos jovens, pelos descrentes, pelas famílias, pelos sacerdotes e pelas almas no purgatório.

Pelo que sei, os videntes continuam vivos e bem, e frequentemente juntam-se aos sacerdotes e peregrinos em oração.

No entanto, ao contrário de outros casos semelhantes aprovados pelo Vaticano, a Senhora de Medjugorje ainda é hoje objeto de controvérsia, tanto tempo depois de as primeiras aparições terem sido registadas. No centro desta discussão está o primeiro padre envolvido, que foi acusado de abusos sexuais e excomungado pela Igreja em 2020.

Outra das dificuldades para a igreja aceitar plenamente as aparições como confiáveis, está no facto de elas se manterem permanentemente e quase diariamente, quando normalmente aparições são momentos raros e pontuais. O Papa Francisco disse mesmo que a mãe de Jesus não era “chefe dos correios” para enviar mensagens diária a horas certas.

Assim, até hoje as aparições nunca foram confirmadas pelo Papa nem pela Igreja Católica, mas as peregrinações continuam a ser permitidas e a cada ano o volume de peregrinos vindos de todos os cantos do mundo aumenta. Atualmente, mais de um milhão de peregrinos de 120 países visitam Medjugorje anualmente.

Por aquela altura eu já estava cansada da história e só queria ir embora. E tal como pensara de manhã, não tinha qualquer vontade de subir à colina das aparições. O clima seria de muita fé e oração e eu não queria meter-me no meio disso para não perturbar o ambiente.

Por isso pus-me a andar para a costa

“Passar uma fronteira onde vão controlar passaporte é sempre uma experiência que me deixa na expectativa! Desta vez fizeram-me a pergunta da praxe: “your friends?” Havia mais motos e o homem queria que fossem meus amigos! “No friends, I’m alone” depois vieram outras perguntas típicas, tipo de onde eu vinha… meu deus, nunca sei o que responder, de onde venho hoje? De onde sou? Ah, concluiu ele, vens do outro lado de Espanha! Yes, that’s it …” in Facebook

Eu estava a viajar com passaporte, porque o tinha feito para ir mais longe… infelizmente as circunstancias não mo permitiram e eu levei-o comigo na mesma! Para além disso eu gosto da configuração do passaporte, que me permite pôr dentro coisas e documentos importantes que tenho de mostrar por vezes, e assim estão todos juntos, como carta verde e a carta de condução.

E não, o que eu mais gosto na costa da Croácia não é Dubrovnik, é a própria costa!

Já a percorri por diversas vezes e, a cada vez que o faço, se toma mais difícil para mim passar na região de Dubrovnik.

Todo o encanto de passar na estrada, parar e olhar lá para baixo, e ver a cidade que se estende sobre o mar, como uma pequena península, foi desaparecendo ao longo dos anos, à medida que a sua fama foi crescendo como destino turístico amplamente publicitado.

Há muito que eu comecei a passar sem nem parar, furando por entre motos e carros, vendedores ambulantes e roulottes estacionadas mais na estrada que na berma, seguindo o meu caminho como se não houvesse nada interessante ali para mim.

Por isso hoje não terei qualquer pena de chegar à costa mais à frente, perto mas longe o suficiente para seguir pela costa croata, o mais sozinha possível!

A Croácia, possui uma costa deslumbrante sobre o mar Adriático, que me encanta sempre, não importa quantas vezes lá passe!

A região costeira, conhecida como Dalmácia, é famosa pelas suas praias de cascalho e águas cristalinas de um azul turquesa inigualável.

Claro que para além da beleza natural das praias, a Dalmácia é também um local histórico e culturalmente rico, com cidades e aldeias antigas encantadoras e uma culinária deliciosa que combina influências mediterrâneas e europeias.

Mas desta vez eu iria apenas percorrer a costa e deliciar-me com o prazer da condução num verdadeiro paraíso!

Além do território continental, a Croácia tem mais de 1.000 ilhas ao longo de sua deslumbrante Costa Dálmata.

Eu estava tão contente por não haver ninguém a fazer aquele caminho comigo! Não me apetecia sequer ver casas nem aldeias, apenas seguir em piloto automático por ali fora!

Aquilo é ilhas, ilhotas, rochas e rochedos por todos os lados!

Será que, na contagem das mil ilhas estão incluídos os rochedos e as rochinhas?

O fascínio das rotas costeiras, como aquela, está na combinação das paisagens deslumbrantes e a liberdade da estrada aberta, sobretudo quando não há mais ninguém na estrada para além da gente, como naquele dia!

Apenas percorrer aquela costa é uma experiência inesquecível, repleta de paisagens deslumbrantes e vilarejos pitorescos. E nunca significa apenas fazer um caminho para chegar a um destino.

Nada de corridas cheias de adrenalina, apenas deixar a moto rolar e apreciar o caminho!

Novi Vinodolski, que belo sitio para comer!

Eu sempre escolho bem os sitios onde faço os meus picnics, a memos que esteja morta de fome e tenha de comer com o maximo de urgência, porque aí até sou capaz de comer montada na moto!

As coisas giras que a gente vê quando viaja calmamente apenas deixando a moto correr!

A principio pareceu-me um moscardo que voava na minha direção!

Cruzes, se os moscardos fossem daquele tamanho estavamos todos tramados, a considerar pela quantidade deles que vêm contra a gente quando estamos em movimento!

Pausa para refletir! 😀

E cheguei a Rijeka, uma cidade encantadora com um charme único que facilmente conquista qualquer um.

Já lá tinha estado antes, há muitos anos, mas apenas de passagem. Hoje queria aproveitar para explorar em redor, procurar um sitio onde me sentar e passar um pouco do meu serão.

A rua Korzo é o verdadeiro coração da cidade, onde se encontram os principais cafés, bares, restaurantes e lojas, criando um ambiente animado e acolhedor.

É a rua principal de Rijeka, paralela ao mar e à avenida Riva, que eu percorri vezes sem conta, até encontrar um sitio para pousar a moto.

A mistura única de história e modernidade torna a cidade encantadora.

O Gradski Toranj – Torre da Cidade, está ali, no centro da Korzo. A torre destaca-se mesmo estando cercada por construções mais modernas. A sua construção remonta à Idade Média, possivelmente sobre os alicerces das antigas portas da cidade. A fachada da torre hoje é barroca, como um portal espetacular.

Encontrei o sitio certo para sentar, comer e relaxar, longe das multidões de turistas que testam minha paciência! com a sua algazarra! Foi um serão muito fixe!

A dada altura o barman viu-me a tirar fotos do local e se ofereceu para me fotografar. Sempre me sinto tão descuidada em viagens, com o rosto marcado pelo sol, cabelo desgrenhado e roupas pouco convencionais, mas aceitei!

Agradeci ao rapaz pela gentileza e trocamos algumas palavras. Perguntou-me de onde eu vinha.

A tal pergunta que eu nunca sei como responder: de onde venho hoje, de onde eu venho nesta viagem ou de onde eu venho do ponto de partida?

Ele ficou surpreendido pela minha duvida, são coisas assim tão diferentes? quis saber.

Muito diferentes, senão veja: Hoje venho da Bósnia, mais propriamente de Medjugorje; nesta viagem, venho da Grécia, que foi o país que mais explorei, e o meu ponto de partida é Portugal, norte de Portugal mais propriamente, lá na terra onde se produz o vinho do Porto!

Ok, entendi, explamou ele espantado.

E fui para casa que tinha feito muitos quilometros e estava mortinha por pôr gelo neste braço….

17. Passeando pela Grécia/Balcãs – a bela Dervish House…

4 de setembro de 2022

Viajar com dor era tão desafiador e incapacitante que era admirável, até para mim, como eu conseguia encontrar formas de lidar com a situação. Felizmente eu consigo dormir com dor, fazendo uso da minha capacidade de superação e adaptabilidade, senão teriam sido dias de sofrimento e noites de insónia!

Lembro-me de sonhar que me estavam a esmagar o braço de formas sempre aterrorizantes, a cada noite com instrumentos diferentes, como em filmes de terror sucessivos!

A vantagem é que, ao acordar tudo parecia muito melhor, menos assustador e menos doloroso do que nos sonhos, e eu via-me cheia de alegria porque apesar de tudo o sofrimento real era menor e menos assustador que o sonhado!

Uma boa forma de encarar cada novo dia!

De manhã não estava calor nenhum.

Felizmente a minha casinha era quentinha e confortável, mas a gente abre a porta do quarto e está no quintal e isso é estranho! É quase como dormir numa tenda, só que com mais conforto e sem ter trabalho a montar a casa ou de gatinhar para a cama!

O parque de campismo está situado num sitio deslumbrante, na borda do Canyon Tara e está preparado para receber gente que quer aproveitar o rio Tara e toda uma série de desportos radicais aquáticos.

Na realidade o Camp Kljajevića Luka disponibiliza uma série de atividades aquáticas de aventura, como fazer rafting ou navegar de caiaque pelos rápidos do rio Tara.

Qualquer atividade radical estava fora do meu alcance, mesmo que eu tenha pensado inicialmente na hipótese de experimentar alguma.

Mas a reformulação dos planos inicias da viagem fez com que eu apenas pudesse ficar ali por uma noite pois, além de não ter tanto tempo como desejaria, eu já sabia que não iria ter condições físicas para me aventurar…

Uma pena… pode ser que eu volte a passar por lá um dia.

No momento só me podia permitir passear em redor e apreciar os encantos do lugar.

Para mim a grande vantagem do parque, que eu podia aproveitar à vontade, era o simpático restaurante. No dia anterior fiquei lá até às tantas a comer e a beber e hoje iria lá tomar um belo pequeno almoço.

Depois de toda a chuva que eu apanhara, durante todo o dia de ontem o meu telemóvel não se deixava carregar, soltando um apito forte cada vez que o tentava ligar a uma tomada ou à power-banc. Nunca me tinha acontecido tal, até porque dizem que ele é à prova de água! Mas ele continuava a dizer que tinha humidade no sistema, pedia para o secassem com um secador (eu nem sabia que ele sabia escrever a pedir tal coisa!) e gritava!

Por isso passei o dia todo usando a bateria restante até ao limite. Cheguei ao parque muito preocupada pois, se não conseguisse carrega-lo, não teria bateria para continuar a fotografar hoje!

Por entre gestos e sinais pedi à menina do restaurante que me arranjasse algo para o secar, ela não falava inglês e não entendia por muito que me explicasse. Então liguei-o à corrente e, assim que ouviu o apito desesperado do telemóvel, ela pareceu entender, embora não conseguisse ler a mensagem que ele mostrava no visor. Voltou-me as costas e foi para a cozinha… Fiquei à espera a ver o que ela iria trazer-me, na cozinha seguramente não havia um secador de cabelo!

Então ela apareceu com um prato fundo cheio de arroz e enfiou o meu telemóvel lá dentro! Extraordinário, há coisas que são mesmo universais, heim?

Não demorou nem uma hora e ele deixou-se ligar à corrente em silêncio!

Então foi como se se tivesse criado uma conexão entre a miúda e eu e a partir dali foi um serão fantástico, com jantar caprichado e oferta de licores da região e tudo!

E pronto, já que não podia fazer atividades físicas exigentes, podia, pelo menos, encher-me de comida em paz!

E por falar em encher-me de comida, era mesmo isso que eu estava a precisar pois já parecera que perdera alguns quilos…

Oh, e que bem sabia o gelo no meu pulso!

Era como se ele estivesse sempre febril e o gelo o acalmasse. Pessoas olhavam como curiosidade para o meuconjunto azul, não havia forma de esconder o que estava a fazer, por isso pousei tudo em cima da mesa.

“Bom dia mundo! Não gosto que me vejam comer ao pequeno almoço, a minha mão está tão presa que nem consigo pegar direito no garfo! As pessoas ficam atónitas, como vou seguir conduzindo a minha moto com uma mão que não funciona direito? Sem problema, ao longo da manhã ela vai acordando para a vida, até ficar quase como nova” in Facebook

De repente ouviram-se berros lá dentro, um homem ralhava com alguém, depois varias vozes ralharam também! Não podia entender o que diziam, mas era claro que estavam a enxotar um miúdo, pensei eu.

Mas quem saiu não foi um miúdo humano, foi um bichinho! A principio pensei que era um cão, mas ao olhar melhor deu para perceber que não! O pobre pequeno, meio desamparado, veio encostar-se a mim. Mas quem correu com ele veio tira-lo de mim.

Só então puder ver melhor que carinha tinha.  Seria da família das cabras? Dos cervos? Veados? O que és tu fofinho?

O bichinho estava tão desamparado que apeteceu-me pegar-lhe ao colo!

Vendo-me olhar para ele com pena os homens explicaram que ele era um chato, que fuçava em todos os cantos, se metia debaixo das pernas das pessoas e, se não o impedissem, ia tentar meter-se dentro dos armários ou da despensa!

Tirei-lhe uma foto para pesquisar no Google Lens e descobri que era um Rupicapra bebé, também conhecido como camurça.

Dizem que são animais adoráveis, de pelagem macia, muito ágeis nas montanhas e com uma natureza brincalhona. Podem ser encontrados nas altas montanhas, desde os Pirinéus e Alpes até aos Balcãs.

Foi preciso ir tão longe para eu o ver, já que eles não se deixam observar facilmente de perto na vida selvagem. E ali estava um, que tinha de ser enxotado para não se meter no meio das pernas das pessoas, nem entrar pelas casas dentro!

Tão fofinho!

E pronto, estava na hora de me pôr a andar.

As paisagens em redor do parque de campismo mereciam algumas pausas, fotos e desenhos, o tempo necessário para ginasticar a minha mão até ela recuperar um pouco mais de mobilidade, para eu poder aproveitar depois as estradas cheias de curvas que viriam a seguir.

Junto à ponte, no início da rua do parque, há uma placa muito simpática!

E, do meio da ponte, pode-se ver o parque ao longe, numa clareira na borda do precipício do Canyon. Àquela distancia parece tão pequeno que o assinalei com uma setinha vermelha.  😀

Que sitio privilegiado para se montar um parque de campismo! Seguramente que um dia irei voltar a hospedar-me ali!

A ponte é como uma varanda sobre o paraíso!

A Ponte Đurđevića Tara é um marco importante na história do país e da ex-Jugoslávia e esse foi um dos motivos que me fez reservar dormida junto a ela.

Foi erguida entre 1937 e 1940, em tempos do Reino da Iugoslávia e supervisionada por Belgrado. Atravessa Canyon Tara e fica 172 metros acima do rio. Quando foi concluída tornou-se a maior ponte rodoviária em cimento da Europa.

Estava-se em plena II Guerra Mundial e, com a invasão liderada pelos alemães em 1941, grande parte de Montenegro, incluindo o Canyon Tara, foi ocupada pelos italianos. O terreno montanhoso da zona favoreceu a guerra de guerrilha e, durante uma ofensiva italiana, os jugoslavos destruíram de forma cirúrgica um dos arcos próximos à margem, com o auxílio do engenheiro da ponte, Lazar Jaukovic, inutilizando a única passagem sobre o Canyon para impedir o avanço italiano. No entanto os italianos acabaram por tomar conta de tudo e, quando capturaram o engenheiro, executaram-no em cima da ponte…

Provavelmente um dia alguém contará esta história com um “Reza a lenda…” pois a verdade é que a história está ligada à ponte, como as lendas estão ligadas a castelos, mosteiros e aldeias…

A ponte acabou por ser reconstruída em 1946.

Mas como eu não sou arquiteta nem engenheira, para além da ponte, foi a paisagem me trouxe aqui!

O rio Tara e as montanhas em redor são tão extraordinários, que todo o tempo que passei a contemplar e a espreitar, foi pouco. Quando inicialmente decidi pernoitar junto ao Canyon, eu tinha em mente ir lá abaixo de moto, por um caminho que leva a uma igreja, e de lá poderia apreciar a ponte ao longe e tal…

Mas na hora de descer não tive coragem… ainda desci um pouco, mas o caminho era longo, íngreme e em terra batida…

A minha mão, meio inutilizada, e o trauma da queda que quebrara meu pulso, não me permitiram arriscar… 

Quanto tempo iria demorar até o trauma passar?

Eu sou de choramingar pelo perdi e sim de aproveitar ao máximo o que tenho, por isso segui curtindo tudo o que podia, porque as estradas eram inspiradoras e cheias de curvas.

Montenegro é um país deslumbrante com estradas cénicas, montanhas imponentes e vales verdes, sempre com rios cristalinos a passar-lhes pelo meio. São paisagens que me enchem as medidas e facilmente prendem por completo a minha atenção. Desde a primeira vez que explorei este pequeno recanto dos Balcãs que me encantei e sempre que volto me encanto de novo!

As paisagens deslumbrantes, a rica cultura e a hospitalidade calorosa dos montenegrinos tornam cada visita uma experiência única e memorável. É como se, a cada regresso, eu reencontrasse um pouco de mim que deixei para trás quando cá passei de outras vezes!

Então passei por um grupo de motociclistas que me cumprimentaram vivamente, mas, mais à frente, quando parei para tomar um café e eles chegaram, não reagiram! Pousaram as motos e ficaram no seu canto. Muitas vezes me acontece isso e não sei porquê! Como se não se sentissem mais confortáveis em falar-me como quando me cumprimentam de moto para moto! Será que se sentem incomodados junto de mim? Será que intimido outros motards?

Aproveitei o café e continuei desfrutando a minha pausa, com aqueles homens a olhar para mim de longe!

Não faz mal, se ninguém me liga eu também não ligo a minguem e pronto!

Havia tanta paisagem fantástica para ver que isso nem era um problema, muito menos algo importante que me preocupasse. Até porque quando a beleza é realmente grande, o silêncio é a melhor companhia!

E lá estava o Slano jezero, lindo!

Nos arredores de Nikšić, há três lagos artificiais, incluindo o Lago Slano (Slano jezero), criado para suprir as necessidades da central hidroelétrica de Perućica. Nem parece uma estrutura artificial, com uma barragem em uma das extremidades! O lago é encantador, com uma beleza selvagem e natureza intocada ao redor. As águas são azuis cintilantes com varias ilhas e ilhotas pelo meio e margens verdes, que tornam o panorama quase irreal!

Há um miradouro, com um bar bem rustico, de onde se pode ver todo aquele panorama deslumbrante!

Claro que voltei a parar, mas não me atrevi a tomar mais um café, pois embora ele não pareça nada de especial, seguramente a cafeína me iria fazer querer correr mais do que a moto!

“Passei mais uma fronteira e foi uma experiência inédita! O polícia que conferiu meus documentos fez-me uma festa por ser uma Lady sozinha e, quando segui caminho, um motociclista croata colou-se a mim! Eu acelerei e ele também, eu reduzi e ele também. Até que parei para ver um mosteiro, ele parou também! Disse-me que era muito fixe viajar comigo, queria continuar. Nem penses homem, eu vim sozinha e quero continuar sozinha. Estava complicado descarta-lo! Então meti-me pelos quelhos da cidade e deixei-o para trás. Nunca me tinha acontecido algo assim! 😮” in Facebook

A seguir à fronteira estava a atravessar as montanhas de Klobuk, na Bósnia e Herzegovina.

Eu sabia que havia ali para baixo as ruinas de uma fortaleza medieval, mas não podia querer ver tudo.

Essa é uma experiência que levo comigo em cada viagem, nunca tentar ver tudo para não perder o prazer de viajar, por entre a ansiedade de correr de lado para lado.

Então limito-me a fazer o que é possível sem lamentar o que não é!

Sem sair da minha estrada, o que se via era bonito o suficiente para eu seguir feliz o meu caminho, sem sacrificar demais a minha mão marota!

E cheguei a Trebinje.

Eu já tinha passado perto, vinda de Dubrovnik a caminho de Sarajevo, mas não cheguei a explorar a cidade, apenas olhei de longe e pensei que um dia lá passaria.

E esse dia era hoje!

Trebinje é a cidade mais ao sul da Bósnia e Herzegovina, muito perto do mar Adriático e de Dubrovnik.

Na realidade, a Bósnia, apesar de ter uma extensa área próxima ao mar, possui apenas um pequeno trecho de costa. Assim, é sempre interessante seguir ao longo da costa croata, atravessar uma fronteira, percorrer apenas 21 quilômetros na Bósnia e depois cruzar outra fronteira para retornar à Croácia!

Trebinje é atravessada pelo rio Trebišnjica, que já se chamou Arion.

O rio é um fenómeno único, com muitos trajetos à superfície e subterrâneos. Corre para o Mar Adriático pelo subsolo e reaparece muitas vezes à superfície. Com uma extensão de quase 190 km, metade dele corre por baixo de terra o que o torna o rio mais longo do mundo a fazer esta habilidade.

E é em Trebinje que ele é mais bonito e corre à superfície dando umas voltas e curvas.

Resumindo, eu estava junto a uma verdadeira celebridade!

Fiz um picnic, ali ao lado, junto ao monumento a Luka Vukalovic, o herói nacional que defendeu a Herzegovina liderando os rebeldes que lutavam contra a opressão e infligiu pesadas derrotas aos otomanos em várias batalhas.

Ao andar por aqueles países tem-se mais noção de quanto lutaram todos contra o grande império Otomano!

Depois subi a colina Crkvina e as perspetivas sobre a cidade eram cada vez mais esplendidas!

No topo fica o complexo templo Hercegovačka Gračanica, dedicado à “Anunciação e Bem-Aventurada Virgem Maria”, o destino religioso mais visitado da Herzegovina Oriental.

Foi construído em 2000 para homenagear o desejo do famoso poeta Sérvio Jovan Dučić, que deixou declarado no seu testamento que queria ser enterrado nas colinas que rodeiam Trebinje.

Curioso como a história da zona se mistura com a da Sérvia e de Montenegro, afinal aquilo tudo era parte do Império Otomano, ou Turco, que durou uma infinidade de tempo, mais de 6 séculos, e só por isso a história daqueles povos mistura-se quando eram um povo só!

E eu que reparo sempre nos números não pude deixar de achar curiosa a semelhança dos anos de inicio e de fim do Império:  começou e, 1299 e terminou em 1922!!!

No complexo, além da igreja, existe a torre sineira, o palácio do bispo, um anfiteatro, uma loja de souvenirs e o restaurante com esplanada que se espalha pela enconsta abaixo em degarus.

E as vistas sobre a cidade são incríveis com a Ponte Otomanda de Arslanagić sobre o rio Trebišnjica, lá em baixo.

A ponte que foi movida, pedra por pedra nos anos 60, por vários quilómetros por causa da construção de uma barragem.

É fascinante ver de perto um pedaço de história de uma cidade e de uma região!

As coisas que a minha motita testemunhou!

Logo a seguir fica o Manastir Tvrdoš, dedicado à Dormição do Santíssimo Theotokos, um local de grande importância histórica e religiosa.

Foi fundado no século IV pelo imperador romano São Constantino e sua mãe Santa Helena. Tem por isso raízes muito antigas que remontam à época do Império Romano, com vestígios que podem ser vistos pelos fundamentos da antiga igreja romana, através do vidro que cobre parte do chão da igreja.

“Estava calor, eu tinha o blusão vestido e ainda tive de pôr uma saia para entrar na propriedade! Tive eu e todos os que quiseram visitar, até os homens que estavam de calções puseram a saia para tapar as pernas. Foi giro de ver! Mas o mosteiro valeu a pena, era lindo!” in facebook

Lá andávamos todos de saia azul, mulheres e homens!

As mulheres tinham de usar a saia mesmo estando de calças compridas como eu, os homens tinham de por a saia se estivessem de calções.

Eles não podem entrar mostrando as pernas, elas não podem sequer estar de calças. É sempre assim nos mosteiros ortodoxos, aconteceu-me o mesmo há anos para visitar s mosteiros de Meteora, na Grécia.

O mosteiro é composto, não apenas de espaços religiosos, mas também por diversos espaços de habitação de arquitetura muito curiosa.

O que aqueles mosteiros têm de fascinante é a beleza dos seus espaços, que me dão a sensação de que viver ali nunca seria monótono!

A igreja cinzenta da parte de fora, é um mundo de cor e historias no interior. Totalmente preenchida por afrescos, alguns ainda fragmentos de do sec. XVI

A riqueza do interior é hipnotizante, que se olha como para um livro de historias.  

As paredes adornadas com afrescos detalhados contam histórias de fé e tradição, enquanto as preciosas relíquias abrigadas falam muito sobre o passado histórico da igreja.

A relíquia mais importante do local é a mão de Santa Helena.

Para mim é sempre uma coisa estranha isto das relíquias! Parece-me tão inapropriado que alguém tenha mutilado o corpo da santa para lhe tirar um pedaço…

Varias capelinhas se sucedem numa subida ingreme, inspirando paz e reflexão necessária num local de paz e oração como um mosteiro. Um ambiente que contrasta com muitos dos mosteiros católicos mais austeros e monocromáticos!

E cada capelinha que se revela durante a subida é diferente e cheia de cor e história como se vivesse por si só!

Mesmo as mais pequenas têm o seu interior impressionantemente trabalhado como se fosse a mais importante do local!

Cada uma é um lugar onde o tempo parece suspenso, permitindo que os visitantes mergulhem em uma atmosfera de serenidade e contemplação.

O mosteiro foi destruído e reconstruído por diversas vezes ao longo da sua história e boa parte da construção atual é do séc. XVI.

E no topo da subida, feita de degraus e capelinhas, fica o cemitério todo torto, cheio de desníveis, mas muito bonito!

Sim, é sabido que eu aprecio visitar cemitérios!

Além dos monges terem um espaço variado e nada monótono para passarem os seus dias de oração e reclusão, também têm terrenos para tratar e cultivar. E cuidam da sua vinha e produzem mesmo o seu próprio vinho! E ao que me pareceu, um vinho muito apreciado!

Parece que lá, como cá, se produzem nos mosteiros coisas interessantes para beber e comer!

Ao sair do mosteiro, seguida de outros visitantes, cruzei com um par de noivos seguido do fotografo. Devem ter escolhido o mosteiro para fazer algumas fotos e foi bem escolhido, com os seus recantos bonitos e nós, os visitantes, todos de longas saias azuis, faríamos uma boa pandilha de damas de honra!

Não? Não querem? Uma pena, eu não me recusaria a participar das fotos se me levassem para a boda também!

Segui em passo de passeio por paisagens encantadoras.

Eu queria ir a Blagaj há muito tempo e ia aproveitar que ainda era cedo para tentar lá chegar. Digo “tentar” porque, se os caminhos fossem uma bosta e não me sentisse confortável a conduzir por eles, seguramente desistiria.

Eu sei! Eu, que nunca me recusei a ir a algum sitio, nem que tivesse de meter a minhas rodas por cascalho, gravilha ou lama, que subi penhascos e desci barrancos, com motas inapropriadas de mais de 300kg, agora seguia já pensando em desistir se as ruas fossem apenas manhosas…

Mas é assim, faz-se o que se pode com o que se tem, sem remorsos…

Para chegar a Blagaj passei por caminhos que mais pareciam propriedades privadas, atravessei campos e localidades que nem chegavam a ser aldeias. Então lá estava o rio Buna, que é a origem do rio Neretva que atravessa a cidade de Mostar, não muito longe dali.

Não havia indicações do que eu procurava, por isso fui seguindo por ruas pavimentadas de pedras meio irregulares, guiando-me pelo curso do rio.

Quando achava que seria bom parar a moto, um homem saiu do seu jardim para me dizer que não parasse ali, que seguisse mais para a frente pois ainda estava longe e haveria lugar para a minha moto mais perto.

A mim parecia-me que já estava perto o suficiente, podia ver o grande muro formado pelo rochedo, que parecia tão perto! Mas lá segui as instruções do senhor, agradecendo a atenção.

E claro, ele tinha razão!

A rua empedrada ia dar a um caminho pedonal em cimento, que mais parecia o quintal de alguém. Dali para a frente não se circulava mais. Dois homens me chamaram para eu estacionar a moto num terreno de terra batida ali ao lado, com cabine para pagamento do parque e tudo.

Oh senhores, eu não tenho dinheiro bósnio! E agora?

Já me estava a imaginar ter de ir pôr a moto no fim do mundo e depois caminhar até la de novo…

Mas os homens mandaram-me pôr a moto ali mesmo, arrumando as cadeiras de plástico e a mesa de campismo no canto junto à cabine.

Ok, tudo bem, vou levantar dinheiro assim que possa para lhes pagar.

O ambiente surpreendeu-me, de alguma forma eu esperava que fosse um sitio cheio de turistas, mas sem nada mais do que a montanha, o rio e o tekke histórico!

Felizmente os turistas eram poucos, o que me surpreendeu!

Isto de estar a viajar já fora da época alta, tem as suas vantagens. Se eu pudesse sempre o faria ou em junho ou em setembro!

Também me surpreendeu a quantidade de restaurantes na margem direita do rio, com passagens e pontes entre eles, e as águas do rio a passarem em seu redor!

Fantástico, aquilo tudo era tão bonito e inspirador que decidi que iria jantar ali, sem nem me importar se depois seguiria viagem já de noite.

Então, depois de passar os restaurantes e seguir por um caminho invisível na encosta da margem, por trás das casas, lá estava o tekke e a nascente do rio.

O tekke histórico é um mosteiro do séc. XVI, uma construção lindíssima que combina elementos da arquitetura otomana com um estilo mediterrâneo.

O sitio por si só já é bonito, com a agua turquesa muito transparente do rio e o penhasco acima, mas as construções ainda o tornam mais surreal!

Claro que me sentei ali a olhar em redor e a desenhar.

Às vezes os turistas não são muitos, mas há os suficientes para perturbar completamente o paraíso…

Uma fulana, vestindo roupas chamativas amarelo vivo, e usando um pau de selfie com o imenso telemóvel na ponta, apareceu. E ela, sozinha, conseguia arruinar o momento, falando muito alto para o telemóvel, que devia estar a gravar as parvoíces que dizia. Nem sequer estava a falar do local ou algo relacionado a ele, apenas falava de si e de como era fantástico viajar. Certamente tretas de lives para o Insta.

Continuei a desenhar em silêncio, para não perturbar a sua algazarra. Estão aquela estupida dirigiu-se mim, mandando-me sair dali para que ela pudesse ficar sozinha a filmar!

A sério?

Oh rapariga, aproveita o que tens e em silêncio para não perturbares a minha paz, dá-te por feliz por eu nem estar na frente de paisagem nenhuma e cuida de não me captares na bosta da tua live, ou poderás ter problemas legais comigo, ok?

A mulher ficou visivelmente em choque, até esperei que me viesse com um “sabe com quem está a falar?” como acontece nos filmes, mas não, ela simplesmente afastou-se para a ponta do espaço e ouvi-a a a falar com um tom muito mais baixo para a filmagem.

Acho que o meu aspeto intimida mesmo as pessoas!

Respeitinho é bom e eu gosto!

O mosteiro Dervixe tem um grande significado como marco espiritual e histórico. A sua construção ocorreu no contexto do misticismo islâmico, com os Dervixes desempenhando um papel crucial na orientação dos indivíduos para uma compreensão mais profunda da espiritualidade através das suas práticas, dado que o mosteiro era um local de adoração e meditação comunitária.

Na realidade a sua filosofia é de pura espiritualidade, vivendo em condições de grande pobreza e austeridade.

Já agora os dervixes mais famosos são os Dervixes Rodopiantes da Turquia, que rodam sobre si por horas, com saias brancas a fazer balão.

Para minha tristeza, não há multibancos por ali, nem existe a possibilidade de fazer pagamentos com cartão nos restaurantes… ainda pensei em negociar para pagar com euros, mas decidi que não valia a pena, o melhor era seguir para Čalići e jantar por lá.

Mas agora, como iria pagar aos homens o estacionamento? Catei a carteira à procura de moedas de euro, que são sempre aceites. Mas eles não quiseram o meu dinheiro, fizeram-me uma festa de despedida com acenos e lá segui o meu caminho.

Mais tarde percebi que o pagamento do estacionamento era de 2€, foi quanto eles deixaram de receber e ainda me fizeram uma festa!

Não estava longe do meu destino para aquele dia, mas ainda subi o desfiladeiro de Žitomislići.

Às vezes tenho pena que meio nenhum consiga captar o que os meus olhos veem! Eu sei que existem muitas possibilidades, mas nunca me entusiasmei porque ficam sempre aquém do que eu vejo. E nunca me apetece perder tempo montando gadgets por isso também não o faria com outros mais sofisticados que comprasse!

A subida do monte e a perspetiva lá de cima, sobre Žitomislići e o rio Neretva era deslumbrante! Merecia umas perspetivas de drone…

Cheguei a Čalići.

Estava instalada num centro pastoral na cidade das famosas aparições bósnias. Um rapaz muita simpático veio arrumar a esplanada para que eu pusesse a moto lá dentro, protegida do temporal que ele dizia estar a aproximar-se.

A residência estava cheia de peregrinos vindos de todos os pontos do planeta. Estaria a ser servido um jantar para todos, se eu quisesse poderia jantar também.

Excelente, vamos lá jantar em grupo.

O temporal chegou com chuvas e ventos fortes, mas podiam ouvir-se grupos passarem lá fora rezando alto. A fé não se deixa intimidar por temporais.

Amanhã vou explorar a cidade e visitar o Svetište Kraljice Mira o Santuário de Nossa Senhora Rainha da Paz.

18. Passeando pelos Balcãs… – Miss Sarajevo…

13 de agosto de 2013

Eu não conseguiria evitar de ir a Sarajevo…

Que me importava a praia e o mar e os sítios onde toda a gente vai? Iria estar calor, iria andar pelo interior e até pela montanha, mas eu iria lá!

Logo a seguir à saída da cidade de Dubrovnik fica a fronteira com a Bósnia e começa a paisagem serena e verde com terrinhas pequenas a pontear o meu caminho.

Não foi complicada a passagem da fronteira, apenas mostrar o passaporte e seguir viagem! O mar podia-se ver ainda, lá da fronteira!

Mais à frente fica Trebinje, a cidade mais a sul da Bósnia e, quem vem de Dubrovnik, passa por ela, estendida no seu imenso vale e atravessada pelo Rio Trebišnjica.

Não a visitei a pormenor, tinha outra grande cidade em mente, mas terei de voltar ali para vê-la porque sei que é uma belíssima cidade. Desta vez parei na berma da estrada e apreciei-a de longe, no ponto em que a estrada iria voltar-se para o outro lado do monte e eu deixaria de a ver. Por isso parei e gravei aquela paisagem na memória, como quem pede desculpa por seguir sem parar e dar a devida atenção a tão bonito recanto de um país.

Prometi “eu voltarei para te ver!” e segui o meu caminho…

Para mim é sempre reconfortante encontrar pastores num país estranho, transmite-me a sensação de gente que tem do que viver, gente que vive como a minha gente!

Contornei o Bilecko jezero, um lago artificial enorme, o segundo maior lago dos Balcãs, encantador àquela hora da manhã! E foi ali que vi o que devia ser o único incêndio de toda esta viagem, e nem tenho a certeza se não seria apenas uma fogueira, pois a coluna de fogo era pequena e, ao fim da tarde, quando eu regressava, não existia mais!

Por baixo daquele lago existe uma vila evacuada e inundada aquando da sua construção, como acontece em tantos lagos deste mundo. Curioso o efeito refrescante que a visão da água teve sobre mim num momento encantador, mas de calor já muito intenso!

O Parque Nacional de Sutjeska veio a seguir, tornando o caminho muito bonito.

Eu esperava encontrar o memorial que me tinha enchido os olhos, de entre os muitos memoriais jugoslavos, hoje chamados de Monumentos Esquecidos da Ex-Jugoslávia e, depois de caminhos lindíssimos que atravessam o Parque Nacional de Sutjeska, ele estava ali, imponente no topo de uma colina arredondada, o Tjentište Memorial, no vale dos heróis!

O monumento é tão grandioso como surrealista naquela envolvência natural, rodeada de montanha e verde.

Dois blocos de cimento armado de dimensões descomunais que desafiam os nossos sentidos…

Ele relembra a Batalha do Sutjeska, em 1943, que pretendeu capturar Josip Broz Tito, o mesmo que mandou construir este e outros memoriais, uns anos após o fim da II Grande Guerra.

Por trás dele uma série de degraus levam a um pequeno recinto onde são lembrados os batalhões que ali lutaram e pereceram…

Totalizando cerca de 300 degraus desde a base da colina e o início do percurso…

Lá de cima tem-se uma perspetiva deslumbrante do monumento!

Hoje ele está ali, como um elefante branco que faz as pessoas pararem ao avistarem-no da estrada, mas falta-lhe o protagonismo que mereceu durante muitos anos, enquanto a Jugoslávia ainda era um país e as pessoas buscavam ali essa força nacionalista que compensaria, talvez, a falta de determinação de cada um dos seus verdadeiros países!

Estava lá um carro e eu pensei em levar até lá a minha moto, mas acabei por não o fazer, o caminho era um carreiro serpenteante e não valia a pena dar tão grande volta. O carro serviu para fazer de escala e tornar mais fácil a perceção da dimensão do monumento!

E o altar, visto de cima, parece um altar druida, no meio da natureza!

A imagem do local prende a atenção, custava-me ir embora!

Sarajevo fica logo a seguir!

Sarajevo era aquela cidade que eu queria visitar desde a guerra que a cercou, sitiou e destruiu, há 17 anos atrás. Uma cidade cheia de história onde se cruzam culturas, hábitos, costumes e religiões. A cidade é praticamente plana, no vale com o seu nome, rodeado de colinas, mas tem uma colina que a domina, ali, onde fica o Cemitério Alifakovac…

Visitar aquele cemitério, onde tanta gente foi sepultada após a guerra, em que morreram mais de 12.000 pessoas, recolhidas de todos os sítios onde haviam sido enterradas às pressas durante o cerco… teve um efeito muito profundo!

É tudo tão recente, todas aquelas sepulturas são de gente que morreu entre 1992 e 1996, que choca muito mais que cemitérios das duas guerras mundiais! Como se afinal tudo possa voltar a acontecer…

A cidade renascida ao fundo…

“Descobrir Sarajevo foi um encanto tão desejado quanto inesperado! A cidade que se recompôs tão rapidamente de imensos e graves ferimentos, está de pé, cheia de contrastes e belezas diferentes! Edifícios modernos coexistem com ruelas estreitinhas ladeadas de lojas e barezinhos, cujos toldos quase se tocam de um lado para o outro do caminho. As cicatrizes da guerra e do longo cerco à cidade ainda são visíveis, em furos cimentados pelas fachadas dos edifícios mais altos, mas a zona pitoresca está perfeita e encantadora. Todos os receios se revelaram infundados, Sarajevo é aquela cidade simpática a revisitar com calma, mais dia menos dia!”

A Gazi husrev-bey mosque, considerada a mais importante construção Islâmica do país e um dos melhores exemplos do mundo da arquitetura otomana.

As ruínhas são encantadoras e intrincadas, cheias de lojinhas e esplanadas com bancos baixinhos e gente a tomar chá!

Os cemitérios otomanos estão um pouco por todo o lado, como jardins!

Mas havia algo que eu queria muito visitar na cidade, do outro lado, perto do aeroporto!

O túnel da esperança!

A cidade esteve cercada durante 3 anos e sobreviveu graças à criatividade do exército bósnio, que construiu um túnel por onde passou tudo o que foi necessário para garantir o mínimo a uma população sacrificada!

O túnel foi escavado por baixo do aeroporto, em condições muito difíceis, dado que o túnel se inundava frequentemente e não havia materiais adequados nem para expelir a água. Os soldados trabalharam 24 horas sobre 24, por turnos durante 5 meses até chegarem ao lado de lá!

Foi escavado à mão, com pá e picareta e a terra transportada em carrinhos de mão!

Por ali passou ajuda e materiais de todo o tipo para a população e soldados, numa cidade onde nada havia, nem luz, nem combustível, nem material medico suficiente….

Durante um bloqueio de mil dias, o túnel foi de esperança e de salvação. Através dele milhares de toneladas de alimentos, dispositivos técnicos militares, combustível e materiais médicos entraram na cidade!

Feridos graves foram evacuados e soldados, funcionários e superiores militares entraram e saíram.

“O túnel tornou-se um símbolo da resistência do povo desarmado, a um dos exércitos mais poderosos da Europa!”

Ele parte de uma casa insuspeita, de uma família comum, que permitiu que o exercito a usasse como ponto de partida. É comovente ver fotos da velhota, dona da casa, a dar água aos soldados!

Hoje a casa é um museu que guarda os “comboiinhos” que faziam o transporte de tudo…

Ali houve mesmo uma luz ao fundo do túnel…

A casa está lá, cheia de buracos de balas, como ficou depois do cerco acabar!

Depois continuam os cemitérios! Depois dos islâmicos e dos otomanos, que se podem encontrar em qualquer canto na cidade, os cristãos, cheios de cruzes e gravuras curiosas!

Voltei à estrada com a cabeça cheia de sensações e ligações a momentos vividos muitos anos antes, quando a guerra da Bósnia e o cerco de Sarajevo preocuparam os meus dias.

Os polícias Bósnios eram uns risonhos! Mandaram-me parar vezes sem conta, apenas para saber de onde eu vinha e se era mesmo uma mulher! Aqueles que não me mandaram parar à ida, mandaram-me parar à vinda!

Num momento em que eu vinha completamente distraída pelo meio dos montes, um jovem e muito interessante polícia mandou-me parar. Quase derrapei para o fazer pois não contava encontrar polícia numa curva da montanha!

“Sabe que o limite de velocidade aqui é de 40km/h?” – perguntou ele.

“Oh, mas aqui o meu amigo diz que são 60km/h!” – exclamei eu apontando o sinal redondo de 60 no meu GPS.

Ele espreitou – “Pois, mas o seu amigo está enganado.” – disse. Fiquei a olhar para ele como quem fez uma asneira esperando o que viesse! – “Pode seguir.” – disse ele então, com um sorriso, e piscou-me o olho!

Puxa, que menino giro e simpático! Se eu pudesse tinha-lhe tirado uma foto!

Depois vieram as vacas! Detesto cruzar com vacas que me olham fixamente! Fico sempre com a sensação que se ela vem e se encosta, não haverá nada que me salve debaixo dela! Como eu desejei que o polícia simpático estivesse mais perto um pouco para me salvar!

As ovelhas são muito menos assustadoras, correm para todos os lados e são mais pequenas do que a moto!

O lago Bilecko estava encantador ao entardecer!

Trebinje estava quase invisível!

E Dubrovnik estava linda!

Fui jantar à cidade, que é muito bonita à noite, com as suas ruelas estreitinhas de pedra polida e brilhante!

Ali é terra de peixe, e que bom peixe! Comi mexilhões porque não resisti ao seu aspeto! Tive de apontar para o prato dos vizinhos pois descobri que não sabia o seu nome em inglês! Tão cedo não me vou esquecer, chamam-se: Mussels

A Stradun, aquela rua que é quase uma praça, de tão larga, é pavimentada a calcário o que a faz brilhar. Mas naquela noite estava cheia de gente e pouco se via do seu chão. Ela é a rua principal de cidade desde o séc. XIII.

A Igreja de São Brás estava aberta àquela hora!

E tudo era uma animação! Parecia que estava em Espanha, onde o jantar se prolonga até à ceia e a festa até às tantas!

Um grupo de rapazes queria trocar o meu chapéu por um chapéu todo colorido! Diziam eles que eu, toda de preto, iria ficar um espanto com um chapéu azul turquesa ou vermelho!

E o porto velho com a Fortaleza de São João logo ao lado!

Aquela população viveu sempre do mar, até chegar o turismo, e dizia a tradição que cada homem devia plantar 100 ciprestes durante a sua vida, para poder um dia construir o seu próprio barco. Dizem que por isso hoje há tantos ciprestes em torno da cidade!

E fui-me despedir da Stradun e da torre do relógio e fui dormir!

E foi o fim do 15º dia de viagem!

17. Passeando pelos Balcãs… – de Split até Dubrovnik , passando por Mostar

12 de agosto de 2013

O calor começou cedo em Split! Logo pela manhã começava a prometer torrar-me de novo os miolos, mas mesmo assim eu ainda me aventurei a passear um pouco!

Subi ao Monte Marjan de onde se pode ver toda a cidade.

Apenas no trajeto do Monte Marjan até à marina vi 2 carros serem rebocados! Bem, não diria rebocados, pois na realidade foram guindados na frente dos meus olhos! Um policia punha aquelas coisas de metal nas jantes e um guincho prendia nelas, erguia o carro no ar e pimba com ele em cima do reboque! Uma operação de meia dúzia de minutos que a gente quase nem sentia, na fila do trânsito!

Fiquei meio traumatizada pois nunca vira fazer tal coisa! Será que aquilo também funciona assim com as motos?

Depois vi que as motos têm tratamento vip e há sempre uns corredores para os parques por onde apenas elas podem passar sem pagar! Muito simpático! Por isso eu não seria rebocada!

E fui passear um pouco pelo centro da cidade, onde andara no dia anterior. Eu queria visitar a catedral!

A Catedral de St. Svetog Dujma é a catedral mais antiga do mundo! Inicialmente era o mausoléu do imperador Diocleciano, mas foi convertida em catedral no séc. VIII fazendo parte do palácio de Dioclesiano.

Não se podia fotografar lá dentro, por isso lá tive de roubar uns quantos enquadramentos à socapa com a minha máquina silenciosa!

A torre sineira fica ao lado da catedral e é espantosa!

Mais espantoso é vê-la por dentro e subi-la! Para minha surpresa estava um grupo de pessoas amontoadas a alguns degraus do chão, na escada que sobe em caracol, junto ao interior das paredes da torre.

Esperei, pensando que havia fila por qualquer motivo. Talvez a escada em metal não suportasse toda aquela gente de uma vez e tivéssemos de subir aos poucos, mas então aquela gente encostou-se fazendo um esforço para me deixar passar. Só então, ao subir, percebi! As pessoas tinham medo!

A torre é “esquelética” cheia de aberturas e nada que isole o interior, isto é, ao subirmos podemos ver tanto o vazio para o interior da torre, como o vazio para o exterior! Faz um efeito curioso subir assim uma aparente frágil escada no vazio! A paisagem lá de cima é deslumbrante e vale bem a subida àquele que é o símbolo da cidade! Split aos nossos pés!

Vai-se subindo e acompanhando as perspetivas da paisagem pelas inúmeras aberturas

Aberturas ao nosso lado e no ado oposto da torre.

De lá de cima temos uma imagem espantosa de 360º sobre a cidade!

Split é a segunda maior cidade da Croácia e a capital da Dalmacia. Por momentos perguntei-me se os cachorritos dálmatas não viriam de lá, afinal em francês chamam-se “dalacians”!

Então voltei a descer a torre, onde andei sozinha, apenas na descida cruzei com algumas pessoas começavam a subir, o resto permanecia lá em baixo ou desistira!

A meio da descida eu podia ver as pessoas sentadas nas beiras das janelas lá em baixo! Eheheheh

Mas ao olhar para cima era compreensível o medo e a sensação de vertigem que aquelas pessoas deviam sentir!

Uma torre muito bonita!

Depois são as ruínhas estreitas, com esplanadas por todos os cantos

até à Praça do Povo com a Torre Marina, medieval, e o monumento a Marko Marulic, o fundador da literatura croata.

Por esta altura o calor estava mesmo infernal, eu já tinha bebido uma garrafa de 1.5l de água e estava a tratar da segunda!

Saí da cidade e, antes de seguir para sul, passei por Trogir, uma cidadezinha ali ao lado muralhada e muito bonita! Um mimo criado por gregos antes de Cristo e que hoje é uma grande atração turística!

A Katedrala Lovre Sv é encantadora, numa mistura de românico e gótico com a torre a lembrar a torre da catedral de Split!

Como diz a literatura “Trogir possui 2.300 anos de tradição urbana contínua”

A lente da máquina continuava a embaciar com o calor, uma pena pois captava pormenores curiosos de uma cidade que parece de brincar!

Como o recanto dos hippies pintores. Não tenho muita vocação para hippie, mas acabo sempre por meter conversa com quem desenha ou pinta, e ali não foi exceção!

Então segui viagem, não sem parar um pouco para ver de longe a torre sineira da catedral, que sobressai do aglomerado de casinhas, por trás das muralhas!

Eu sei que o caminho pela costa é muito bonito e sei também que é o caminho mais lógico para quem vem de Split para Dubrovnik … mas nem sempre eu vou por lógicas e voltei a fazer o caminho pelo interior!

De novo a Bósnia a despertar a minha curiosidade, mesmo ali ao lado, e foi por lá que eu fui!

Aquilo quer dizer: “Rota do Vinho Herzegovina”. Deu para ver que os Bósnios são muçulmanos mas produzem bons vinhos!

É curioso passar por cemitérios nas bermas das estradas como jardins comuns, sem qualquer resguardo! Dá para ver que não são muito preocupados com isolamentos para os mortos!

E cheguei a Mostar!

Os sinais de destruição provocada pela guerra da Bósnia ainda são um pouco visíveis em edifícios na cidade moderna, mas o centro histórico está lindo, com a sua ponte e ex-libris da cidade perfeitamente reconstruida!

O centro histórico de Mostar é encantador, com as ruelas empedradas com seixos redondos a fazerem-nos cocegas nos pés, e a sua extraordinária Stari Most – a ponte velha, do séc. XVI, sobre o rio Neretva, de águas profundamente esmeralda!

Entrei na Mesquita Koski Mehmed Pasha, que fica mesmo ao lado do rio e tem uma perspetiva extraordinária sobre o rio e o centro histórico!

Para isso tive de subir ao minarete. De novo ainda bem que não sofro de vertigens nem de claustrofobia, porque aquela escadinha não é em caracol, é encaracoladíssima, de tão estreito que é o minarete!

Mas vale a pena subir!

Oh p’rá minha sombra lá em baixo na abobada da mesquita!

E lá estava o rio e a ponte!

E o casario antigo, com telhados de pedra…

Mas os meus olhos não descolavam da ponte, aquela joia lindíssima, sobre o rio esmeralda!

Tirei um milhão de fotos parecidas, simplesmente porque não se consegue evitar de olhar e captar toda aquela beleza!

E por fim lá desci. O minarete era verdadeiramente estreito, podia-se apreciar a sua elegância delgada cá de baixo!

E do jardim da mesquita ainda tirei mais uma série de fotos ao rio e à ponte, era inevitável!

E lá fui ver a ponte de perto.

Ao longe a mesquita de onde eu vira a ponte pela primeira vez!

Agora já cheia de gente, naquele espaço minúsculo, a fotografar em todas as direções como eu fizera!

Há uma tradição na cidade, em que rapazes mergulham desde a ponte para o rio, o que não é coisa fácil já que as águas do Neretva são gélidas e apenas pessoas experientes o devem fazer. Diz-se que esta tradição vem desde o séc. XVII!

Fiquei ali a olhar para a ponte um bom tempo, pensando em quem morreu ali, em quem tudo perdeu e em como tudo parece tão normal, tão pouco tempo depois da catástrofe!

A ponte foi destruída em 1993 e reconstruida por uma série de anos, inaugurada em 2004 e classificado, junto com o centro histórico, como Património Mundial da UNESCO em 2005.

Claro que fiquei ali á fresca muito bem acompanhada por uma cervejinha da terra! E sim, a cerveja Bósnia é muito boa!

Continuei a minha caminhada, com o meu lenço vermelho como apoio, pois o calor era impiedoso e eu transpirava!

A ponte estava agora cheia de mulheres sexies e eu lembrei-me do meu amigo Elísio e tirei uma foto a apanhar algumas!

Nas lojas adjacentes à ponte podem-se ver vídeos da sua destruição em 1993… a gente sabe que aquilo foi tudo abaixo, sabe que toda a zona foi arrasada e, mesmo assim, não consegue deixar de estremecer a cada investida da artilharia de fogo Sérvia e desejar intimamente “parem com isso que a ponte vai cair!” então ela cai e tudo é um monte de escombros em seu redor. É terrível esta sensação de impotência perante a estupidez humana que destrói deliberadamente uma parte da história do seu povo, uma ponte com mais de 400 anos. Hoje ela está lá, perfeita e reconstruida e olho-a com toda a admiração como símbolo de uma cidade martirizada!

 

E fui embora, pelas ruelas às pedrinhas, cheias de lojas de tudo, em que tudo parecia custar um euro!

A Mesquita Nesuh-aga Vucjakovic fica na berma da estrada com o seu cemitério cheio de “mecos” brancos de mármore, em memória de muita gente que morreu na guerra da Bósnia…

A minha motita tinha feito uma amiga italiana carregada de tralhas! Até almofadas ela tinha amarradas ao assento!

Segui em direção a Dubrovnik, por paisagens cheias de curiosidades!

Voltei a encantar-me com a Bósnia!

Até chegar aos seus 8km de praia!

Dubrovnik à vista!

Não fiz muito mais naquela noite, para alem de tomar um bom banho e me esticar de pernas para o ar, depois de um jantar feito mais de bebida do que de comida, pois o calor fora muito e estava visto que o dia seguinte me reservaria ainda muito mais…

E foi o fim do 14º dia de viagem!

14. Passeando pelos Balcãs… – Uma espreitadela pela Bósnia e o seu lindissimo rio Una!

9 de agosto de 2013 – continuação

A Bósnia sempre me despertou o interesse, desde que eu estava em Genève e acompanhava diariamente a guerra que por lá andava! Desde essa época que eu quis visitar o país e, sobretudo ir a Sarajevo! Mas como eu digo, e às vezes as pessoas não acreditam, sou medrosa e receava pelo que pudesse ser circular pelo país, por causa de informações do Portal do Governo que refere que as condições de segurança são razoáveis e que há que ter cuidado com as ruas de pouco uso pois existem ainda minas…

Por isso fui dar uma vista de olhos para perceber qual o ambiente e decidir se devia seguir mais para o interior do país!

O calor apertava tanto que ao circular mesmo ao lado do rio Una não resisti! Saquei do vestido que me fora oferecido na Itália, vesti o fato de banho, guardei tudo na mala da moto e fui mas é passear para o meio do rio, como toda a gente estava a fazer por ali!

Estava perto de Bosanska Krupa e as pessoas eram simpáticas e sorriam para mim, ao verem-me meio encolhida, é que a água estava tão fresca que o contraste com a temperatura do ar era brutal e eu estava muito quente de vir exposta ao sol, na moto!

“Entrei na Bósnia em paz, uma carimbadela no passaporte e um país simpático à minha espera! Como era de imaginar não difere muito da Croácia, a paisagem verde, um rio magnífico sempre ao meu lado, o rio Una, limpo que desde a estrada se lhe podia ver o fundo e mais á frente Bosanaska Krupa. As pessoas olhavam para mim quando eu passava e o ambiente era acolhedor. Ninguém falava inglês quando eu tentava comunicar ou perguntar algo mas sempre os entendi e eles sempre se fizeram entender! Vou descer a Croácia e voltar a entrar no país, deixou uma enorme curiosidade em mim!”

Os restaurantes têm à porta assadores, com cordeiros a assar no espeto, como nós fazemos com o porco. Por ali ninguém come porco porque são islâmicos, mas o cordeiro serve bem! É simplesmente delicioso!

Com o rio logo ali atrás, é só vestir qualquer coisinha e sentar à mesa!

E foi o que fiz! Isto de conduzir, e nadar, e apanhar calor e tal, dá cá uma fome!

Por esta altura o termómetro da minha motita acusava 50º com demasiada facilidade! É claro que não estaria exatamente esta temperatura, estariam uns 48º ou 49º, mas bastava abrandar um pouco o andamento que aquilo subia logo para 50 e depois começava a piscar, julgo que porque a maquineta não tem capacidade para medir mais acima do que isso!

Aproximava-se chuva! Só podia ser, com temperaturas tão elevadas!

Fui beber mais qualquer coisa fresca enquanto a chuva começava a cair! Nada demais, apenas uns pingos!

Percebi pelo cuidado que o rapaz estava ter em recolher tudo o que estava na esplanada que se calhar não seria “apenas” chuva!

E não era!

Era o diluvio, a tempestade e a barulheira total que se aproximava e que caiu sobre mim!

Cheguei à fronteira e ao ir buscar o passaporte ao tablier da moto, a água que me corria pelo braço era tanta que mais parecia uma cascata. Tive de fazer uma ginástica para não molhar tudo… ou antes, para molhar o menos possível!

Estava tudo certo e eu preparava-me para seguir, quando o polícia me diz “espere!” e disse aquilo com uma urgência que eu pensei que havia algo de errado “não vá já, espere um bocado que está a chover muito!” explicou ele!

E eu esperei! Parei a moto junto de outros carros, abrigada por uma cobertura, ali ao lado, mas o tempo não iria melhorar! Podia-se ver que era muito extensa a área de céu carregado que nos envolvia! Eu tinha de seguir, depois Zagreb era suficientemente longe para eu ter a esperança de sair da tempestade ao ir para lá!

E foi um filme de terror completo sobre duas rodas! Ele era vento, chuva e trovões a toda a minha volta! Eu nem sabia se devia seguir ou se devia parar! Logo à frente a tromba de água foi tão forte que parei, eu e todos os carros, porque a rua era já um rio cuja água me chegava aos pés!

Um senhor quis-me abrigar na sua casa e como eu recusei, foi chamar a mulher, para eu ver que ele não estava sozinho! Como eu mesmo assim não fui, vieram eles para cá para fora, para o alpendre onde eu me abrigara, fazerem-me companhia! Gente boa!

Houve momentos ao atravessar a zona mais montanhosa, mais à frente, em que nem via mais a estrada. Anoitecera, trovejava intensamente muito perto e as pingas da chuva pareciam rajadas de metralhadora sobre mim! “valha-me Deus, se essas flashadas me acertam não ficará ninguém para contar como foi!” pensava eu enquanto cantarolava ao som da musica e me sentia feliz por não ter qualquer medo de trovoadas!

Quando cheguei a Zagreb, pus tudo a secar no estendal e fui-me encher de comida, sob o olhar atónito dos hóspedes que não acreditavam que eu tinha chegado de moto no meio de tal vendaval!

E foi o fim do 11º dia de viagem!