18. Passeando pelos Balcãs… – Miss Sarajevo…

13 de agosto de 2013

Eu não conseguiria evitar de ir a Sarajevo…

Que me importava a praia e o mar e os sítios onde toda a gente vai? Iria estar calor, iria andar pelo interior e até pela montanha, mas eu iria lá!

Logo a seguir à saída da cidade de Dubrovnik fica a fronteira com a Bósnia e começa a paisagem serena e verde com terrinhas pequenas a pontear o meu caminho.

Não foi complicada a passagem da fronteira, apenas mostrar o passaporte e seguir viagem! O mar podia-se ver ainda, lá da fronteira!

Mais à frente fica Trebinje, a cidade mais a sul da Bósnia e, quem vem de Dubrovnik, passa por ela, estendida no seu imenso vale e atravessada pelo Rio Trebišnjica.

Não a visitei a pormenor, tinha outra grande cidade em mente, mas terei de voltar ali para vê-la porque sei que é uma belíssima cidade. Desta vez parei na berma da estrada e apreciei-a de longe, no ponto em que a estrada iria voltar-se para o outro lado do monte e eu deixaria de a ver. Por isso parei e gravei aquela paisagem na memória, como quem pede desculpa por seguir sem parar e dar a devida atenção a tão bonito recanto de um país.

Prometi “eu voltarei para te ver!” e segui o meu caminho…

Para mim é sempre reconfortante encontrar pastores num país estranho, transmite-me a sensação de gente que tem do que viver, gente que vive como a minha gente!

Contornei o Bilecko jezero, um lago artificial enorme, o segundo maior lago dos Balcãs, encantador àquela hora da manhã! E foi ali que vi o que devia ser o único incêndio de toda esta viagem, e nem tenho a certeza se não seria apenas uma fogueira, pois a coluna de fogo era pequena e, ao fim da tarde, quando eu regressava, não existia mais!

Por baixo daquele lago existe uma vila evacuada e inundada aquando da sua construção, como acontece em tantos lagos deste mundo. Curioso o efeito refrescante que a visão da água teve sobre mim num momento encantador, mas de calor já muito intenso!

O Parque Nacional de Sutjeska veio a seguir, tornando o caminho muito bonito.

Eu esperava encontrar o memorial que me tinha enchido os olhos, de entre os muitos memoriais jugoslavos, hoje chamados de Monumentos Esquecidos da Ex-Jugoslávia e, depois de caminhos lindíssimos que atravessam o Parque Nacional de Sutjeska, ele estava ali, imponente no topo de uma colina arredondada, o Tjentište Memorial, no vale dos heróis!

O monumento é tão grandioso como surrealista naquela envolvência natural, rodeada de montanha e verde.

Dois blocos de cimento armado de dimensões descomunais que desafiam os nossos sentidos…

Ele relembra a Batalha do Sutjeska, em 1943, que pretendeu capturar Josip Broz Tito, o mesmo que mandou construir este e outros memoriais, uns anos após o fim da II Grande Guerra.

Por trás dele uma série de degraus levam a um pequeno recinto onde são lembrados os batalhões que ali lutaram e pereceram…

Totalizando cerca de 300 degraus desde a base da colina e o início do percurso…

Lá de cima tem-se uma perspetiva deslumbrante do monumento!

Hoje ele está ali, como um elefante branco que faz as pessoas pararem ao avistarem-no da estrada, mas falta-lhe o protagonismo que mereceu durante muitos anos, enquanto a Jugoslávia ainda era um país e as pessoas buscavam ali essa força nacionalista que compensaria, talvez, a falta de determinação de cada um dos seus verdadeiros países!

Estava lá um carro e eu pensei em levar até lá a minha moto, mas acabei por não o fazer, o caminho era um carreiro serpenteante e não valia a pena dar tão grande volta. O carro serviu para fazer de escala e tornar mais fácil a perceção da dimensão do monumento!

E o altar, visto de cima, parece um altar druida, no meio da natureza!

A imagem do local prende a atenção, custava-me ir embora!

Sarajevo fica logo a seguir!

Sarajevo era aquela cidade que eu queria visitar desde a guerra que a cercou, sitiou e destruiu, há 17 anos atrás. Uma cidade cheia de história onde se cruzam culturas, hábitos, costumes e religiões. A cidade é praticamente plana, no vale com o seu nome, rodeado de colinas, mas tem uma colina que a domina, ali, onde fica o Cemitério Alifakovac…

Visitar aquele cemitério, onde tanta gente foi sepultada após a guerra, em que morreram mais de 12.000 pessoas, recolhidas de todos os sítios onde haviam sido enterradas às pressas durante o cerco… teve um efeito muito profundo!

É tudo tão recente, todas aquelas sepulturas são de gente que morreu entre 1992 e 1996, que choca muito mais que cemitérios das duas guerras mundiais! Como se afinal tudo possa voltar a acontecer…

A cidade renascida ao fundo…

“Descobrir Sarajevo foi um encanto tão desejado quanto inesperado! A cidade que se recompôs tão rapidamente de imensos e graves ferimentos, está de pé, cheia de contrastes e belezas diferentes! Edifícios modernos coexistem com ruelas estreitinhas ladeadas de lojas e barezinhos, cujos toldos quase se tocam de um lado para o outro do caminho. As cicatrizes da guerra e do longo cerco à cidade ainda são visíveis, em furos cimentados pelas fachadas dos edifícios mais altos, mas a zona pitoresca está perfeita e encantadora. Todos os receios se revelaram infundados, Sarajevo é aquela cidade simpática a revisitar com calma, mais dia menos dia!”

A Gazi husrev-bey mosque, considerada a mais importante construção Islâmica do país e um dos melhores exemplos do mundo da arquitetura otomana.

As ruínhas são encantadoras e intrincadas, cheias de lojinhas e esplanadas com bancos baixinhos e gente a tomar chá!

Os cemitérios otomanos estão um pouco por todo o lado, como jardins!

Mas havia algo que eu queria muito visitar na cidade, do outro lado, perto do aeroporto!

O túnel da esperança!

A cidade esteve cercada durante 3 anos e sobreviveu graças à criatividade do exército bósnio, que construiu um túnel por onde passou tudo o que foi necessário para garantir o mínimo a uma população sacrificada!

O túnel foi escavado por baixo do aeroporto, em condições muito difíceis, dado que o túnel se inundava frequentemente e não havia materiais adequados nem para expelir a água. Os soldados trabalharam 24 horas sobre 24, por turnos durante 5 meses até chegarem ao lado de lá!

Foi escavado à mão, com pá e picareta e a terra transportada em carrinhos de mão!

Por ali passou ajuda e materiais de todo o tipo para a população e soldados, numa cidade onde nada havia, nem luz, nem combustível, nem material medico suficiente….

Durante um bloqueio de mil dias, o túnel foi de esperança e de salvação. Através dele milhares de toneladas de alimentos, dispositivos técnicos militares, combustível e materiais médicos entraram na cidade!

Feridos graves foram evacuados e soldados, funcionários e superiores militares entraram e saíram.

“O túnel tornou-se um símbolo da resistência do povo desarmado, a um dos exércitos mais poderosos da Europa!”

Ele parte de uma casa insuspeita, de uma família comum, que permitiu que o exercito a usasse como ponto de partida. É comovente ver fotos da velhota, dona da casa, a dar água aos soldados!

Hoje a casa é um museu que guarda os “comboiinhos” que faziam o transporte de tudo…

Ali houve mesmo uma luz ao fundo do túnel…

A casa está lá, cheia de buracos de balas, como ficou depois do cerco acabar!

Depois continuam os cemitérios! Depois dos islâmicos e dos otomanos, que se podem encontrar em qualquer canto na cidade, os cristãos, cheios de cruzes e gravuras curiosas!

Voltei à estrada com a cabeça cheia de sensações e ligações a momentos vividos muitos anos antes, quando a guerra da Bósnia e o cerco de Sarajevo preocuparam os meus dias.

Os polícias Bósnios eram uns risonhos! Mandaram-me parar vezes sem conta, apenas para saber de onde eu vinha e se era mesmo uma mulher! Aqueles que não me mandaram parar à ida, mandaram-me parar à vinda!

Num momento em que eu vinha completamente distraída pelo meio dos montes, um jovem e muito interessante polícia mandou-me parar. Quase derrapei para o fazer pois não contava encontrar polícia numa curva da montanha!

“Sabe que o limite de velocidade aqui é de 40km/h?” – perguntou ele.

“Oh, mas aqui o meu amigo diz que são 60km/h!” – exclamei eu apontando o sinal redondo de 60 no meu GPS.

Ele espreitou – “Pois, mas o seu amigo está enganado.” – disse. Fiquei a olhar para ele como quem fez uma asneira esperando o que viesse! – “Pode seguir.” – disse ele então, com um sorriso, e piscou-me o olho!

Puxa, que menino giro e simpático! Se eu pudesse tinha-lhe tirado uma foto!

Depois vieram as vacas! Detesto cruzar com vacas que me olham fixamente! Fico sempre com a sensação que se ela vem e se encosta, não haverá nada que me salve debaixo dela! Como eu desejei que o polícia simpático estivesse mais perto um pouco para me salvar!

As ovelhas são muito menos assustadoras, correm para todos os lados e são mais pequenas do que a moto!

O lago Bilecko estava encantador ao entardecer!

Trebinje estava quase invisível!

E Dubrovnik estava linda!

Fui jantar à cidade, que é muito bonita à noite, com as suas ruelas estreitinhas de pedra polida e brilhante!

Ali é terra de peixe, e que bom peixe! Comi mexilhões porque não resisti ao seu aspeto! Tive de apontar para o prato dos vizinhos pois descobri que não sabia o seu nome em inglês! Tão cedo não me vou esquecer, chamam-se: Mussels

A Stradun, aquela rua que é quase uma praça, de tão larga, é pavimentada a calcário o que a faz brilhar. Mas naquela noite estava cheia de gente e pouco se via do seu chão. Ela é a rua principal de cidade desde o séc. XIII.

A Igreja de São Brás estava aberta àquela hora!

E tudo era uma animação! Parecia que estava em Espanha, onde o jantar se prolonga até à ceia e a festa até às tantas!

Um grupo de rapazes queria trocar o meu chapéu por um chapéu todo colorido! Diziam eles que eu, toda de preto, iria ficar um espanto com um chapéu azul turquesa ou vermelho!

E o porto velho com a Fortaleza de São João logo ao lado!

Aquela população viveu sempre do mar, até chegar o turismo, e dizia a tradição que cada homem devia plantar 100 ciprestes durante a sua vida, para poder um dia construir o seu próprio barco. Dizem que por isso hoje há tantos ciprestes em torno da cidade!

E fui-me despedir da Stradun e da torre do relógio e fui dormir!

E foi o fim do 15º dia de viagem!

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17. Passeando pelos Balcãs… – de Split até Dubrovnik , passando por Mostar

12 de agosto de 2013

O calor começou cedo em Split! Logo pela manhã começava a prometer torrar-me de novo os miolos, mas mesmo assim eu ainda me aventurei a passear um pouco!

Subi ao Monte Marjan de onde se pode ver toda a cidade.

Apenas no trajeto do Monte Marjan até à marina vi 2 carros serem rebocados! Bem, não diria rebocados, pois na realidade foram guindados na frente dos meus olhos! Um policia punha aquelas coisas de metal nas jantes e um guincho prendia nelas, erguia o carro no ar e pimba com ele em cima do reboque! Uma operação de meia dúzia de minutos que a gente quase nem sentia, na fila do trânsito!

Fiquei meio traumatizada pois nunca vira fazer tal coisa! Será que aquilo também funciona assim com as motos?

Depois vi que as motos têm tratamento vip e há sempre uns corredores para os parques por onde apenas elas podem passar sem pagar! Muito simpático! Por isso eu não seria rebocada!

E fui passear um pouco pelo centro da cidade, onde andara no dia anterior. Eu queria visitar a catedral!

A Catedral de St. Svetog Dujma é a catedral mais antiga do mundo! Inicialmente era o mausoléu do imperador Diocleciano, mas foi convertida em catedral no séc. VIII fazendo parte do palácio de Dioclesiano.

Não se podia fotografar lá dentro, por isso lá tive de roubar uns quantos enquadramentos à socapa com a minha máquina silenciosa!

A torre sineira fica ao lado da catedral e é espantosa!

Mais espantoso é vê-la por dentro e subi-la! Para minha surpresa estava um grupo de pessoas amontoadas a alguns degraus do chão, na escada que sobe em caracol, junto ao interior das paredes da torre.

Esperei, pensando que havia fila por qualquer motivo. Talvez a escada em metal não suportasse toda aquela gente de uma vez e tivéssemos de subir aos poucos, mas então aquela gente encostou-se fazendo um esforço para me deixar passar. Só então, ao subir, percebi! As pessoas tinham medo!

A torre é “esquelética” cheia de aberturas e nada que isole o interior, isto é, ao subirmos podemos ver tanto o vazio para o interior da torre, como o vazio para o exterior! Faz um efeito curioso subir assim uma aparente frágil escada no vazio! A paisagem lá de cima é deslumbrante e vale bem a subida àquele que é o símbolo da cidade! Split aos nossos pés!

Vai-se subindo e acompanhando as perspetivas da paisagem pelas inúmeras aberturas

Aberturas ao nosso lado e no ado oposto da torre.

De lá de cima temos uma imagem espantosa de 360º sobre a cidade!

Split é a segunda maior cidade da Croácia e a capital da Dalmacia. Por momentos perguntei-me se os cachorritos dálmatas não viriam de lá, afinal em francês chamam-se “dalacians”!

Então voltei a descer a torre, onde andei sozinha, apenas na descida cruzei com algumas pessoas começavam a subir, o resto permanecia lá em baixo ou desistira!

A meio da descida eu podia ver as pessoas sentadas nas beiras das janelas lá em baixo! Eheheheh

Mas ao olhar para cima era compreensível o medo e a sensação de vertigem que aquelas pessoas deviam sentir!

Uma torre muito bonita!

Depois são as ruínhas estreitas, com esplanadas por todos os cantos

até à Praça do Povo com a Torre Marina, medieval, e o monumento a Marko Marulic, o fundador da literatura croata.

Por esta altura o calor estava mesmo infernal, eu já tinha bebido uma garrafa de 1.5l de água e estava a tratar da segunda!

Saí da cidade e, antes de seguir para sul, passei por Trogir, uma cidadezinha ali ao lado muralhada e muito bonita! Um mimo criado por gregos antes de Cristo e que hoje é uma grande atração turística!

A Katedrala Lovre Sv é encantadora, numa mistura de românico e gótico com a torre a lembrar a torre da catedral de Split!

Como diz a literatura “Trogir possui 2.300 anos de tradição urbana contínua”

A lente da máquina continuava a embaciar com o calor, uma pena pois captava pormenores curiosos de uma cidade que parece de brincar!

Como o recanto dos hippies pintores. Não tenho muita vocação para hippie, mas acabo sempre por meter conversa com quem desenha ou pinta, e ali não foi exceção!

Então segui viagem, não sem parar um pouco para ver de longe a torre sineira da catedral, que sobressai do aglomerado de casinhas, por trás das muralhas!

Eu sei que o caminho pela costa é muito bonito e sei também que é o caminho mais lógico para quem vem de Split para Dubrovnik … mas nem sempre eu vou por lógicas e voltei a fazer o caminho pelo interior!

De novo a Bósnia a despertar a minha curiosidade, mesmo ali ao lado, e foi por lá que eu fui!

Aquilo quer dizer: “Rota do Vinho Herzegovina”. Deu para ver que os Bósnios são muçulmanos mas produzem bons vinhos!

É curioso passar por cemitérios nas bermas das estradas como jardins comuns, sem qualquer resguardo! Dá para ver que não são muito preocupados com isolamentos para os mortos!

E cheguei a Mostar!

Os sinais de destruição provocada pela guerra da Bósnia ainda são um pouco visíveis em edifícios na cidade moderna, mas o centro histórico está lindo, com a sua ponte e ex-libris da cidade perfeitamente reconstruida!

O centro histórico de Mostar é encantador, com as ruelas empedradas com seixos redondos a fazerem-nos cocegas nos pés, e a sua extraordinária Stari Most – a ponte velha, do séc. XVI, sobre o rio Neretva, de águas profundamente esmeralda!

Entrei na Mesquita Koski Mehmed Pasha, que fica mesmo ao lado do rio e tem uma perspetiva extraordinária sobre o rio e o centro histórico!

Para isso tive de subir ao minarete. De novo ainda bem que não sofro de vertigens nem de claustrofobia, porque aquela escadinha não é em caracol, é encaracoladíssima, de tão estreito que é o minarete!

Mas vale a pena subir!

Oh p’rá minha sombra lá em baixo na abobada da mesquita!

E lá estava o rio e a ponte!

E o casario antigo, com telhados de pedra…

Mas os meus olhos não descolavam da ponte, aquela joia lindíssima, sobre o rio esmeralda!

Tirei um milhão de fotos parecidas, simplesmente porque não se consegue evitar de olhar e captar toda aquela beleza!

E por fim lá desci. O minarete era verdadeiramente estreito, podia-se apreciar a sua elegância delgada cá de baixo!

E do jardim da mesquita ainda tirei mais uma série de fotos ao rio e à ponte, era inevitável!

E lá fui ver a ponte de perto.

Ao longe a mesquita de onde eu vira a ponte pela primeira vez!

Agora já cheia de gente, naquele espaço minúsculo, a fotografar em todas as direções como eu fizera!

Há uma tradição na cidade, em que rapazes mergulham desde a ponte para o rio, o que não é coisa fácil já que as águas do Neretva são gélidas e apenas pessoas experientes o devem fazer. Diz-se que esta tradição vem desde o séc. XVII!

Fiquei ali a olhar para a ponte um bom tempo, pensando em quem morreu ali, em quem tudo perdeu e em como tudo parece tão normal, tão pouco tempo depois da catástrofe!

A ponte foi destruída em 1993 e reconstruida por uma série de anos, inaugurada em 2004 e classificado, junto com o centro histórico, como Património Mundial da UNESCO em 2005.

Claro que fiquei ali á fresca muito bem acompanhada por uma cervejinha da terra! E sim, a cerveja Bósnia é muito boa!

Continuei a minha caminhada, com o meu lenço vermelho como apoio, pois o calor era impiedoso e eu transpirava!

A ponte estava agora cheia de mulheres sexies e eu lembrei-me do meu amigo Elísio e tirei uma foto a apanhar algumas!

Nas lojas adjacentes à ponte podem-se ver vídeos da sua destruição em 1993… a gente sabe que aquilo foi tudo abaixo, sabe que toda a zona foi arrasada e, mesmo assim, não consegue deixar de estremecer a cada investida da artilharia de fogo Sérvia e desejar intimamente “parem com isso que a ponte vai cair!” então ela cai e tudo é um monte de escombros em seu redor. É terrível esta sensação de impotência perante a estupidez humana que destrói deliberadamente uma parte da história do seu povo, uma ponte com mais de 400 anos. Hoje ela está lá, perfeita e reconstruida e olho-a com toda a admiração como símbolo de uma cidade martirizada!

 

E fui embora, pelas ruelas às pedrinhas, cheias de lojas de tudo, em que tudo parecia custar um euro!

A Mesquita Nesuh-aga Vucjakovic fica na berma da estrada com o seu cemitério cheio de “mecos” brancos de mármore, em memória de muita gente que morreu na guerra da Bósnia…

A minha motita tinha feito uma amiga italiana carregada de tralhas! Até almofadas ela tinha amarradas ao assento!

Segui em direção a Dubrovnik, por paisagens cheias de curiosidades!

Voltei a encantar-me com a Bósnia!

Até chegar aos seus 8km de praia!

Dubrovnik à vista!

Não fiz muito mais naquela noite, para alem de tomar um bom banho e me esticar de pernas para o ar, depois de um jantar feito mais de bebida do que de comida, pois o calor fora muito e estava visto que o dia seguinte me reservaria ainda muito mais…

E foi o fim do 14º dia de viagem!

14. Passeando pelos Balcãs… – Uma espreitadela pela Bósnia e o seu lindissimo rio Una!

9 de agosto de 2013 – continuação

A Bósnia sempre me despertou o interesse, desde que eu estava em Genève e acompanhava diariamente a guerra que por lá andava! Desde essa época que eu quis visitar o país e, sobretudo ir a Sarajevo! Mas como eu digo, e às vezes as pessoas não acreditam, sou medrosa e receava pelo que pudesse ser circular pelo país, por causa de informações do Portal do Governo que refere que as condições de segurança são razoáveis e que há que ter cuidado com as ruas de pouco uso pois existem ainda minas…

Por isso fui dar uma vista de olhos para perceber qual o ambiente e decidir se devia seguir mais para o interior do país!

O calor apertava tanto que ao circular mesmo ao lado do rio Una não resisti! Saquei do vestido que me fora oferecido na Itália, vesti o fato de banho, guardei tudo na mala da moto e fui mas é passear para o meio do rio, como toda a gente estava a fazer por ali!

Estava perto de Bosanska Krupa e as pessoas eram simpáticas e sorriam para mim, ao verem-me meio encolhida, é que a água estava tão fresca que o contraste com a temperatura do ar era brutal e eu estava muito quente de vir exposta ao sol, na moto!

“Entrei na Bósnia em paz, uma carimbadela no passaporte e um país simpático à minha espera! Como era de imaginar não difere muito da Croácia, a paisagem verde, um rio magnífico sempre ao meu lado, o rio Una, limpo que desde a estrada se lhe podia ver o fundo e mais á frente Bosanaska Krupa. As pessoas olhavam para mim quando eu passava e o ambiente era acolhedor. Ninguém falava inglês quando eu tentava comunicar ou perguntar algo mas sempre os entendi e eles sempre se fizeram entender! Vou descer a Croácia e voltar a entrar no país, deixou uma enorme curiosidade em mim!”

Os restaurantes têm à porta assadores, com cordeiros a assar no espeto, como nós fazemos com o porco. Por ali ninguém come porco porque são islâmicos, mas o cordeiro serve bem! É simplesmente delicioso!

Com o rio logo ali atrás, é só vestir qualquer coisinha e sentar à mesa!

E foi o que fiz! Isto de conduzir, e nadar, e apanhar calor e tal, dá cá uma fome!

Por esta altura o termómetro da minha motita acusava 50º com demasiada facilidade! É claro que não estaria exatamente esta temperatura, estariam uns 48º ou 49º, mas bastava abrandar um pouco o andamento que aquilo subia logo para 50 e depois começava a piscar, julgo que porque a maquineta não tem capacidade para medir mais acima do que isso!

Aproximava-se chuva! Só podia ser, com temperaturas tão elevadas!

Fui beber mais qualquer coisa fresca enquanto a chuva começava a cair! Nada demais, apenas uns pingos!

Percebi pelo cuidado que o rapaz estava ter em recolher tudo o que estava na esplanada que se calhar não seria “apenas” chuva!

E não era!

Era o diluvio, a tempestade e a barulheira total que se aproximava e que caiu sobre mim!

Cheguei à fronteira e ao ir buscar o passaporte ao tablier da moto, a água que me corria pelo braço era tanta que mais parecia uma cascata. Tive de fazer uma ginástica para não molhar tudo… ou antes, para molhar o menos possível!

Estava tudo certo e eu preparava-me para seguir, quando o polícia me diz “espere!” e disse aquilo com uma urgência que eu pensei que havia algo de errado “não vá já, espere um bocado que está a chover muito!” explicou ele!

E eu esperei! Parei a moto junto de outros carros, abrigada por uma cobertura, ali ao lado, mas o tempo não iria melhorar! Podia-se ver que era muito extensa a área de céu carregado que nos envolvia! Eu tinha de seguir, depois Zagreb era suficientemente longe para eu ter a esperança de sair da tempestade ao ir para lá!

E foi um filme de terror completo sobre duas rodas! Ele era vento, chuva e trovões a toda a minha volta! Eu nem sabia se devia seguir ou se devia parar! Logo à frente a tromba de água foi tão forte que parei, eu e todos os carros, porque a rua era já um rio cuja água me chegava aos pés!

Um senhor quis-me abrigar na sua casa e como eu recusei, foi chamar a mulher, para eu ver que ele não estava sozinho! Como eu mesmo assim não fui, vieram eles para cá para fora, para o alpendre onde eu me abrigara, fazerem-me companhia! Gente boa!

Houve momentos ao atravessar a zona mais montanhosa, mais à frente, em que nem via mais a estrada. Anoitecera, trovejava intensamente muito perto e as pingas da chuva pareciam rajadas de metralhadora sobre mim! “valha-me Deus, se essas flashadas me acertam não ficará ninguém para contar como foi!” pensava eu enquanto cantarolava ao som da musica e me sentia feliz por não ter qualquer medo de trovoadas!

Quando cheguei a Zagreb, pus tudo a secar no estendal e fui-me encher de comida, sob o olhar atónito dos hóspedes que não acreditavam que eu tinha chegado de moto no meio de tal vendaval!

E foi o fim do 11º dia de viagem!