20. Passeando pela Grécia/Balcãs – de Ljubljana até Zone

7 de setembro de 2022

Há momentos numa viagem que são difíceis de gerir.

Por um lado, tenho de seguir para casa, por outro lado quero ficar…

Há tanta coisa que eu quero ver e não posso, que tudo o resto parece secundário, como a dor no meu pulso, o trabalho que me espera, ou as saudades de casa. É nestes momentos que sinto que não devo ser normal, quando todo o tempo do mundo me parece pouco para realizar tudo o que quero…

Um dia, numa viagem qualquer, eu comentei que as coisas já sabiam a saudade e alguém respondeu que era compreensível que eu estivesse com saudades de casa… mas o que já me sabia a saudade era a própria viagem, porque se aproximava do fim.

Hoje eu estava nesse espirito…

Olhando pela janela do corredor podia ver lá em baixo a minha moto e isso perturbava-me tanto…

No dia anterior, para guardar a moto no pátio, eu percorrera um carreiro estreito em lajes de pedra, que alargava apenas um pouco no extremo, onde eu a parara, tudo o resto era gravilha!

Mas não havia espaço para dar a volta sem pisar a gravilha e eu não tinha habilidade para manobrar avançando e recuando até dar a volta, pois a minha mão esquerda não seria capaz de segurar o guiador.

Manobrar a moto à mão, então, estava completamente fora de questão, pois se eu nem conseguia pegar direito no capacete e tinha de o enfiar na cabeça essencialmente com a mão direita!

Então andava pelo hostel apreciando todos os recantos, enquanto mantinha o meu pulso esquerdo no gelo e ginasticava a mão, a ver se ela acordava e recuperava um pouco de força e mobilidade.

Por isso custou-me sair dali e fui aproveitando o espaço até me sentir suficientemente corajosa para partir.

Aquele dia não seria cheio de descoberta, seria mais como percorrer um caminho, por isso havia tempo para apreciar de perto a tão famosa transformação da prisão em hostel, com uma decoração muito zen

O recanto de apoio à cozinha dos hospedes era tão original quando bonito. Na realidade, em vez da mesa e os bancos sobressaírem, estava escavados no chão.

Não sei se foi um aproveitamento de uma configuração já existente ou se foi um trabalho de design original, mas que resultou muito interessante, resultou!

Finalmente a minha mão fechou, eu enchi-me de coragem e arrisquei tirar a moto para a rua.

Eu, que sempre tive os pulsos tão frágeis e tão pouca força nas mãos, percebia agora o quanto a habilidade e experiência são, por vezes, mais importantes que a força!

Dei a volta por cima da gravilha, usando a força da mão direita, enquanto a esquerda apenas seguia pousada no guiador.

Tive de o fazer em piloto automático, sem pensar muito, para não deixar os receios tomarem conta de mim, e foi limpinho!

E segui para Kamnik, uma encantadora cidade situada no vale do Rio Kamniška Bistrica, aos pés dos Alpes eslovenos. Dizem que é uma das mais bonitas cidades medievais da Eslovénia.

Sempre sorrio com as placas de “zona” daquele país!

mania de escrever zona com um “c”!

Šutna é a rua principal que atravessa a zona mais pitoresca da cidade. Está repleta de casas fofinhas coloridas e lojas pitorescas.

A Igreja Paroquial da Imaculada Conceição de Maria é o principal templo da cidade, de arquitetura de influência barroca, com linhas elegantes e fachada imponente.

Sempre acho piada como as igrejas parecem rebeldes, ao não estarem posicionadas no alinhamento das casas! Na realidade o seu alinhamento não obedece ao das casas e sim ao do sol, tendo sempre o altar virado a nascente e o portal a poente, para que os fieis caminhem da escuridão para a luz.

Porém isso faz com que seja difícil, por vezes, fotografar uma igreja de manhã, pois corre-se o risco de a apanhar em contraluz!

Era um pouco estranho para mim encontrar ruas completamente vazias. Não gosto de ruas cheias de turistas, mas ruas sem ninguém é um pouco desolador também!

Provavelmente noutras cidades haveria muita gente ainda, mas ali não é um sitio muito turístico, por isso não se via vivalma!

A Glavni trg é a praça principal da cidade. Encantadora sem ser demasiado decorada, como praças de noutras cidades, que são claramente desenhadas para turista ver. A simplicidade elegante da decoração apenas realça a verdadeira essência do local, tornando-o ainda mais especial para quem o visita.

Há ali um charme e autenticidade, combinando perfeitamente a atmosfera acolhedora da praça com a serenidade da cidade.

E ao fundo fica o lindissimo café Kavarna Kalipso!

Aquela fachada chamou-me a atenção desde a primeira vez que pesquisei sobre Kamnik. Ok, não fui lá por causa do café, mas estando lá, tinha de o encontrar e desenhar!

A casa chama-se Maistrova e tinha acabado de ser restaurada pouco antes de eu chegar. Eu pensei até que ainda a iria encontrar em obras, mas ela tinha-se vestido a tempo para mim!

Na realidade meses antes, tinha sido concluído o restauro da fachada da casa, como parte do projeto de reestruturação da praça principal da cidade.

Antes do restauro, a fachada era bege acinzentado, com elementos decorativos laranjados. Após a renovação, as novas cores da fachada geraram confusão por parecerem completamente novas e inadequadas. Mas, na realidade, as cores foram escolhidas conforme o original, antes do desgaste do tempo e a ação do sol.

Para mim ficou perfeita!

Ao lado fica o Caferacer Bar, onde eu tomei um café, um bom sitio para apreciar a fachada do Kavarna Kalipso!

Não havia motos nem motards à vista, apenas eu!

No topo da colina do Calvário, que pertence ao Mali grad, fica a Capela de Santo Eligius, ou Kapela Svetega Eligija.

Mali grad quer dizer, literalmente, castelo pequeno.

O portão para a capela estava aberto, mas tudo o resto estava fechado. Acho que é a desvantagem de se passear fora de época, ele só abriria muito mais tarde.

A capelinha empoleirada lá na ponta da colina, estava fechada também.

Felizmente as paisagens estão sempre abertas e dali podia verboa parte da cidade.

Fiquei surpreendida com a fidelidade da foto e de todas as explicações. Às vezes estes painéis são tão diferentes do que a gente vê na nossa frente, que se demora um pedaço até se descobrir onde está cada coisa!

Dali podia ver-se como as montanhas estavam perto.

A moto estava no outro extremo da rua Šutna. Estava na hora de pegar nela e seguir caminho.

Antes de sair do país tinha de encher o deposito, que a gasolina em Itália é sempre um roubo! Na realidade, comprovaria mais tarde que ela estava “só” mais cara 40 cêntimos por litro em Itália!

A Eslovénia continua a fascinar-me, podia sentir isso à medida que me aproximava da saída. Ainda há muitos mistérios, lendas e belezas naquele país a chamarem a minha atenção. Um dia terei de voltar!

Um dia terei de voltar!

Onde há monte há motociclistas e os avisos para que tenham cuidado começam a aparecer.

Ali diz: Secção de estrada perigosa.

E, ao dar uma olhada ao meu Ambrósio, podia perceber que tinha montanha gira para fazer. Os Alpes Julianos estavam tão perto e, infelizmente, eu não os iria atravessar, mas pude pelo menos ter um vislumbre!

Ora vamos lá Itália!

É sempre tão pouco interessante atravessar aquela zona de Itália, até chegar aos Alpes, mas eu não estava com disposição para andar a dar voltas em busca da montanha. Tinham previsto chuva para a zona onde eu pernoitaria e eu queria chegar lá antes dela, pois aquilo é bonito e montanhoso e não teria qualquer graça subir em meio à tempestade!

Enquanto as estradas eram vazias e distantes, a coisa teve piada, mas depois começam a aparecer as cidades e as estradas pilhadas de carros. Eu tinha consciência de que estava a passar perto de cidades muito movimentadas, como Pádua e Verona…

Estava tão perto de Veneza! Ui, aos anos que eu não passo lá!

É aquela sensação de estar perto de tanta coisa que quero ver ou rever e não posso. Uma pena!

O pior que me podia acontecer ainda, era ter de conduzir no meio do transito, e eu fazia tudo por evitar usar a embraiagem. Na realidade, naquela viagem, eu vinha usando e abusando da 4ª mudança, aquela que me permitia fazer mais coisas sem ter de mudar. Subi, desci, curvei e acelerei por dias a fio usando basicamente a 4ª.

Agora ia no meio de trânsito lento por quilómetros, rezando para que me deixassem usar pelo menos a 5ª, sem ter de baixar!

E finalmente cheguei à estrada de Zone.

Eu já lá tinha estado uns anos antes, com uma CrossTourer, quando regressava da Islândia, por isso sabia que a estrada era fixe, com curvas e subidas excelentes para a minha 4ª mudança.

É, parece que qualquer terra pode ficar no caminho da Islândia. Neste caso no regresso da Islândia, quando eu decidi que seria uma boa ideia passar pelos Alpes Italianos, pelas Dolomitas e pelo lago de Garda!

Zone fica na montanha, nos Pré-Alpes de Bréscia, conhecidos em italiano como Prealpi Bresciane, com vista para o Lago d’Iseo.

E fiquei no mesmo albergue da ultima vez. Eu lembrava-me bem, mas não contava que se lembrassem de mim!

“Ainda da série, quanto tempo as pessoas se recordarão de nós após a nossa passagem, aqui fui recebida com um alegre ” questa è la tua seconda volta qui!” e um enorme sorriso a acompanhar a exclamação! Eu já não me lembrava bem quando cá estive, mas a senhora lembrou-me que a minha moto era preta. Puxa, sabe bem que se recordem de mim depois de tanto tempo e tanta gente que aqui passou…” in Facebook

Depois lembrei-me que a moto não era totalmente preta, tinha o deposito vermelho. A senhora lembrava-se que era uma moto alta e que eu apanhara muita chuva. Eu sei, e hoje quase a apanhava outra vez!

Lembrava-me da paisagem da janela do meu quarto, que era o mesmo.

Será que o hostel só tinha um quarto?

Eu tinha percebido da ultima vez que muita gente se alojava ali para praticar desportos de montanha, subir os trilhos e relaxar. Já da outra vez eu era a que estava de passagem, que vinha de mais longe e que ia para mais longe também!

Desta vez a história repetia-se!

Aquelas paisagens deslumbravam-me! Não me admirava que houvesse quem fosse para ali só por causa delas!

É sempre curioso como uma terra estranha se torna, depois de uma viagem, terra conhecida! E era isso que eu sentia, que passeava por terra conhecida, tentando descobrir algum recanto novo.

A igrejinha é muito fofa, da ultima vez estava fechada, mas desta vez consegui vê-la por dentro. Pareceu-me que era consagrada a S. Pedro, a considerar pelo santo que está no altar, vestido de escuro e com barbas e cabelo branco!

Irónico se o santo padroeiro for o S. Pedro, pois parece que por ali chove que se farta! O santo não tem consideração pelos seus fieis?

Eu e o meu braço, todo folclórico, com as fitas de drenagem neuromuscular azuis para dar um pouco de cor ao conjunto.

Regressei à base, antes que o temporal se instalasse. No hostel tinham avisado que vinha aí muito mau tempo, a confirmar as previsões que eu vira no meu telemóvel.

A comida estava deliciosa!

Aquela carne estava um luxo, acho que apenas como carne com aquela qualidade e grelhada exatamente no ponto, lá ou cá! Como se em mais país nenhum conseguissem entender como ela se prepara!

Então um fulano entrou no restaurante e pôs-se a falar com outro que estava numa mesa perto da minha. Percebi, pela conversa, que o homem que tinha entrado era português, por isso falei…

Eu, que fico sempre no meu canto, que nunca revelo quem sou nem de onde sou a outros portugueses, disse que era portuguesa. Ele veio sentar-se na minha mesa, o que já me deixou meio desconfortável, mas lá nos pusemos à conversa e tudo correu bem, até eu falar do meu moçoilo…

O homem ficou em choque, então eu tinha marido e andava por ali sozinha?

– Não está certo, não está correto, não pode ser! – dizia abanando a cabeça negativamente.

– Mas então porquê? Eu não ando a fazer nada de errado!

– Mas um casal tem um compromisso, têm de andar os dois! – defendia ele

– Como isso? O meu homem não gosta de viajar e viajar é um dos grandes objetivos da minha vida, não dá para andarmos juntos!

– Não importa, têm de arranjar um entendimento porque vocês têm um compromisso!

Eu olhava-o incrédula!

– Temos o compromisso de nos fazermos infelizes um ao outro? E se eu fosse um homem, para si já estaria tudo bem, certo?

– Bem, não, sim, talvez…

Peguei nas minhas coisas e fui embora, prometendo a mim mesma manter a boca calada, como sempre faço quando percebo portugueses por perto…

Então a tempestade começou, para complementar o meu aborrecimento pela conversa que eu não pedi, mas tive de aturar.

A cada trovão que explodia o céu se iluminava mostrando o perfil dos montes em redor, num espetáculo que me fascinou e me fez esquecer o estupido lá de baixo.

As noites de tempestade sempre me fascinaram, mesmo quando as apanho na estrada. Mas ali, protegida, com uma janela privilegiada para ver o espetáculo, foi o máximo!

Além dos flashes que iluminavam tudo, a chuva tornou-se violenta, curiosamente sem qualquer vestígio de vento!

E lá fui dormir quando o espetáculo terminou, esperando que o São Pedro tivesse gasto a água toda e não houvesse mais para amanhã!

18. Passeando pela Grécia/Balcãs – as aparições de Međugorje e a costa da Croacia

5 de setembro de 2022

Eu estava no coração do lugar sagrado!

Podia senti-lo mesmo sem sair do meu quarto. Lá fora ouviam-se as pessoas que passavam orando alto. Acho que as ouvi um pouco por toda noite! Aparentemente o mau tempo não tinha perturbado em nada os grupos de crentes no seu vai-e-vem.

Eu sabia que estava no caminho para a colina das aparições, muito perto mesmo, e a agitação no meu alojamento começara cedo também, pois aquela gente toda iria seguir para lá.

Na sala de refeições havia grupos de pessoas tomando o pequeno almoço, preparados para subir à colina.

Eu não iria até à colina.

Apenas iria explorar a agitação religiosa da vila e depois seguiria o meu caminho para a costa.

A minha motita lá estava, agora no seu canto iluminado pelo sol.

Eu temera ter pela frente outro dia de chuva, mas ela tinha-se esgotado durante a noite e hoje estava um belíssimo dia de sol!

Junto à igreja o ambiente religioso intensifica-se.

Há varias imagens da Nossa Senhora, mas a mais emblemática, junto à igreja, é muito bonita e venerada.

A Nossa Senhora de Međugorje, ocupa um lugar significativo no coração de muitos crentes como a Rainha da Paz. As aparições da Virgem testemunhadas por seis crianças croatas em 1981 cativaram a atenção do mundo e suscitaram discussões sobre fé, paz e espiritualidade.

As aparições ocorreram durante o regime comunista ateu da ex-Jugoslávia, que reprimia rigorosamente manifestações religiosas em público.

Muitas perseguições ocorreram e, na aldeia, várias pessoas sofreram com isso, muitas sendo mesmo presas. Dizem que, durante os primeiros anos, a polícia impediu as pessoas de subirem a colina.

Policias armados e com cães ficavam no sopé do monte Podbro, conhecido como “a colina das aparições”, para desencorajar as pessoas de subirem para rezar, pois acreditavam que o que estava a acontecer em Međugorje era uma tentativa de destruir o Estado comunista.

A igreja paroquial é dedicada a São Tiago Maior, padroeiro dos peregrinos, e é um ponto de encontro para os devotos locais e para todos os que viajam até lá em busca de uma conexão mais profunda com Nossa Senhora.

A construção atual, erguida em 1969, substituiu a antiga igreja edificada um século antes, que se degradou já que o terreno era propenso a deslizamentos de terra.

A imponência e o tamanho da igreja contrastavam com o pequeno número de paroquianos da época em que foi construída, o que levanta a possibilidade de os construtores terem tido uma visão profética do crescimento espiritual e da importância que o local alcançaria nos anos seguintes, dizem os crentes,.

Quando as aparições começaram, a igreja ficava isolada no meio dos campos. Com o tempo, esses campos foram-se tornando em áreas de construção e a pequena vila cresceu em redor da igreja.

A Igreja é conhecida como o “confessionário do mundo”, com vinte e cinco confessionários, onde padres de todas as nações ouvem confissões em todos os idiomas do mundo.

E lá estava o altar de Nossa Senhora com fieis em fila para rezar.

Após as aparições marianas, o número de peregrinos aumentou, levando à reorganização dos arredores, incluindo a construção de um altar exterior atrás da igreja e uma área de oração com cerca de 5.000 lugares sentados.

Depois segue-se um jardim, ladeado por diversas capelinhas de construção moderna, a caminho do cemitério.

São varias dedicadas a diferentes momentos da vida de Cristo e Maria.

Então, ao fundo, o caminho estreitece e podem-se ver diversas construções com exposições de imagens emblemáticas do local e sua história.

Ali eu pude ver como tudo era tão simples, a lembrar as imagens muito mais antigas do inicio da história das aparições de Fátima!

Apesar de não ter sido reconhecida oficialmente pela Igreja Católica, a devoção a Nossa Senhora de Medjugorje cresceu significativamente ao longo dos anos, com relatos de conversões, curas e experiências espirituais profundas entre os peregrinos.

O cemitério fica logo a seguir.

Um homem veio ter comigo e, num inglês rudimentar, disse-me que me ia levar à campa.

Não entendi logo onde ele me queria levar, mas segui-o.

Percebi depois que ele me levara à campa do padre Slavko. 

O padre Slavko Barbarić, que também era frade franciscano, foi o diretor espiritual dos videntes até falecer em 2000. Ele substituiu o primeiro padre que acompanhou os videntes, e que foi afastado por estar envolvido num escândalo sexual! Então Slavko Barbarić continuou treinando os videntes e sendo diretor espiritual do lugar.

Embora a sua história esteja cheia de idas e vindas, duvidas e incertezas, continua a ser venerado.

Há vários recantos por ali, como o pequeno jardim onde se levanta a estátua de Cristo Ressuscitado.

Muito interessante a forma como é sugerida a ressurreição, com uma superfície de bronze no chão, onde a silhueta de Cristo está escavada. Definitivamente a gente “vê que ele se levantou” dali.

As pessoas sobem os degrauzinhos ao lado da estatua e tocam-na nas pernas, enquanto rezam. Por isso ela tem as pernas douradas até aos joelhos, polidas pelas muitas mãos que as tocam!

E voltamos à zona exterior de celebração com todos aqueles bancos em semicírculo.

Dá que pensar a historia do local e em tudo o que aprendi antes de lá chegar e depois de falar com varias pessoas por lá…

Desde que a história de Nossa Senhora de Medjugorje teve início, há 40 anos, as crianças (que hoje são gente adulta e pais de filhos) relataram aparições diárias. E acredita-se que Nossa Senhora transmite mensagens para os crentes locais e para o mundo por meio dos videntes, até os dias de hoje.

Além de partilharem as mensagens de Nossa Senhora, cada vidente recebe Dela uma intenção de oração distinta como orações pelos doentes, pelos jovens, pelos descrentes, pelas famílias, pelos sacerdotes e pelas almas no purgatório.

Pelo que sei, os videntes continuam vivos e bem, e frequentemente juntam-se aos sacerdotes e peregrinos em oração.

No entanto, ao contrário de outros casos semelhantes aprovados pelo Vaticano, a Senhora de Medjugorje ainda é hoje objeto de controvérsia, tanto tempo depois de as primeiras aparições terem sido registadas. No centro desta discussão está o primeiro padre envolvido, que foi acusado de abusos sexuais e excomungado pela Igreja em 2020.

Outra das dificuldades para a igreja aceitar plenamente as aparições como confiáveis, está no facto de elas se manterem permanentemente e quase diariamente, quando normalmente aparições são momentos raros e pontuais. O Papa Francisco disse mesmo que a mãe de Jesus não era “chefe dos correios” para enviar mensagens diária a horas certas.

Assim, até hoje as aparições nunca foram confirmadas pelo Papa nem pela Igreja Católica, mas as peregrinações continuam a ser permitidas e a cada ano o volume de peregrinos vindos de todos os cantos do mundo aumenta. Atualmente, mais de um milhão de peregrinos de 120 países visitam Medjugorje anualmente.

Por aquela altura eu já estava cansada da história e só queria ir embora. E tal como pensara de manhã, não tinha qualquer vontade de subir à colina das aparições. O clima seria de muita fé e oração e eu não queria meter-me no meio disso para não perturbar o ambiente.

Por isso pus-me a andar para a costa

“Passar uma fronteira onde vão controlar passaporte é sempre uma experiência que me deixa na expectativa! Desta vez fizeram-me a pergunta da praxe: “your friends?” Havia mais motos e o homem queria que fossem meus amigos! “No friends, I’m alone” depois vieram outras perguntas típicas, tipo de onde eu vinha… meu deus, nunca sei o que responder, de onde venho hoje? De onde sou? Ah, concluiu ele, vens do outro lado de Espanha! Yes, that’s it …” in Facebook

Eu estava a viajar com passaporte, porque o tinha feito para ir mais longe… infelizmente as circunstancias não mo permitiram e eu levei-o comigo na mesma! Para além disso eu gosto da configuração do passaporte, que me permite pôr dentro coisas e documentos importantes que tenho de mostrar por vezes, e assim estão todos juntos, como carta verde e a carta de condução.

E não, o que eu mais gosto na costa da Croácia não é Dubrovnik, é a própria costa!

Já a percorri por diversas vezes e, a cada vez que o faço, se toma mais difícil para mim passar na região de Dubrovnik.

Todo o encanto de passar na estrada, parar e olhar lá para baixo, e ver a cidade que se estende sobre o mar, como uma pequena península, foi desaparecendo ao longo dos anos, à medida que a sua fama foi crescendo como destino turístico amplamente publicitado.

Há muito que eu comecei a passar sem nem parar, furando por entre motos e carros, vendedores ambulantes e roulottes estacionadas mais na estrada que na berma, seguindo o meu caminho como se não houvesse nada interessante ali para mim.

Por isso hoje não terei qualquer pena de chegar à costa mais à frente, perto mas longe o suficiente para seguir pela costa croata, o mais sozinha possível!

A Croácia, possui uma costa deslumbrante sobre o mar Adriático, que me encanta sempre, não importa quantas vezes lá passe!

A região costeira, conhecida como Dalmácia, é famosa pelas suas praias de cascalho e águas cristalinas de um azul turquesa inigualável.

Claro que para além da beleza natural das praias, a Dalmácia é também um local histórico e culturalmente rico, com cidades e aldeias antigas encantadoras e uma culinária deliciosa que combina influências mediterrâneas e europeias.

Mas desta vez eu iria apenas percorrer a costa e deliciar-me com o prazer da condução num verdadeiro paraíso!

Além do território continental, a Croácia tem mais de 1.000 ilhas ao longo de sua deslumbrante Costa Dálmata.

Eu estava tão contente por não haver ninguém a fazer aquele caminho comigo! Não me apetecia sequer ver casas nem aldeias, apenas seguir em piloto automático por ali fora!

Aquilo é ilhas, ilhotas, rochas e rochedos por todos os lados!

Será que, na contagem das mil ilhas estão incluídos os rochedos e as rochinhas?

O fascínio das rotas costeiras, como aquela, está na combinação das paisagens deslumbrantes e a liberdade da estrada aberta, sobretudo quando não há mais ninguém na estrada para além da gente, como naquele dia!

Apenas percorrer aquela costa é uma experiência inesquecível, repleta de paisagens deslumbrantes e vilarejos pitorescos. E nunca significa apenas fazer um caminho para chegar a um destino.

Nada de corridas cheias de adrenalina, apenas deixar a moto rolar e apreciar o caminho!

Novi Vinodolski, que belo sitio para comer!

Eu sempre escolho bem os sitios onde faço os meus picnics, a memos que esteja morta de fome e tenha de comer com o maximo de urgência, porque aí até sou capaz de comer montada na moto!

As coisas giras que a gente vê quando viaja calmamente apenas deixando a moto correr!

A principio pareceu-me um moscardo que voava na minha direção!

Cruzes, se os moscardos fossem daquele tamanho estavamos todos tramados, a considerar pela quantidade deles que vêm contra a gente quando estamos em movimento!

Pausa para refletir! 😀

E cheguei a Rijeka, uma cidade encantadora com um charme único que facilmente conquista qualquer um.

Já lá tinha estado antes, há muitos anos, mas apenas de passagem. Hoje queria aproveitar para explorar em redor, procurar um sitio onde me sentar e passar um pouco do meu serão.

A rua Korzo é o verdadeiro coração da cidade, onde se encontram os principais cafés, bares, restaurantes e lojas, criando um ambiente animado e acolhedor.

É a rua principal de Rijeka, paralela ao mar e à avenida Riva, que eu percorri vezes sem conta, até encontrar um sitio para pousar a moto.

A mistura única de história e modernidade torna a cidade encantadora.

O Gradski Toranj – Torre da Cidade, está ali, no centro da Korzo. A torre destaca-se mesmo estando cercada por construções mais modernas. A sua construção remonta à Idade Média, possivelmente sobre os alicerces das antigas portas da cidade. A fachada da torre hoje é barroca, como um portal espetacular.

Encontrei o sitio certo para sentar, comer e relaxar, longe das multidões de turistas que testam minha paciência! com a sua algazarra! Foi um serão muito fixe!

A dada altura o barman viu-me a tirar fotos do local e se ofereceu para me fotografar. Sempre me sinto tão descuidada em viagens, com o rosto marcado pelo sol, cabelo desgrenhado e roupas pouco convencionais, mas aceitei!

Agradeci ao rapaz pela gentileza e trocamos algumas palavras. Perguntou-me de onde eu vinha.

A tal pergunta que eu nunca sei como responder: de onde venho hoje, de onde eu venho nesta viagem ou de onde eu venho do ponto de partida?

Ele ficou surpreendido pela minha duvida, são coisas assim tão diferentes? quis saber.

Muito diferentes, senão veja: Hoje venho da Bósnia, mais propriamente de Medjugorje; nesta viagem, venho da Grécia, que foi o país que mais explorei, e o meu ponto de partida é Portugal, norte de Portugal mais propriamente, lá na terra onde se produz o vinho do Porto!

Ok, entendi, explamou ele espantado.

E fui para casa que tinha feito muitos quilometros e estava mortinha por pôr gelo neste braço….

13. Passeando pela Grécia/Balcãs – Bulgária e a bela Plodiv

31 de agosto de 2022

Foi com uma profunda sensação de perda que eu acordei e sai para a rua…

Eu sempre detesto quando as pessoas começam a chamar “regresso” à minha viagem, mas a realidade é que aquele era o ponto em que até eu sentia que começava a regressar…

Se nada me tivesse acontecido o meu caminho seguiria para a Turquia e eu teria uma infinidade de coisas para descobrir ainda. Mas na realidade era hora de seguir para a Bulgária e deixar a Turquia para outra viagem, tentando ignorar que estava a menos de 500km de Istambul.

Depois de 3 PanEuropeans e 2 Crosstourers com veio de transmissão, ter uma moto com corrente deixava-me um bocado apreensiva. Eu já inspecionara se o Scottoiler tinha óleo e se a corrente estava em boas condições, mas não há nada mais persistente que uma cisma e, quando vi um stand da Honda, fui lá pedir para darem uma olhada à saúde da minha motita.

“Ter uma moto com corrente, e que deu um trambolhão há pouco tempo, requer que lhe dedique alguns mimos. Vamos ver se esta tudo bem…”

Na época havia muito poucas motos novas nos stands e muita gente estava há meses à espera da sua NT1100, mas ali havia uma toda vaidosa na montra!

“Uma mana da minha Penélope à venda, novinha ❤️
A minha motita estava ótima, não precisava de nada, apenas eu não consigo ver direito a pressão dos pneus, com esta mão marota a não ajudar nada.
A minha motita foi recebida com muita admiração por ter 20.000km, ainda não tinham visto uma NT1100 tão rodada! E ao verem a minha incaparidade na mão da embraiagem, quase me pegaram ao colo e me mimaram! Chamaram-me super woman ❤️” in Facebook

Percorrendo a Macedónia grega, aquela que obrigou que a Macedónia país se chame Macedónia do Norte, para que não se confundam!

Logo à frente apareceu Xanthi, a cidade das mil cores, dizem.

A mim pareceu-me uma cidade muito alegre e animada, cheia de sol, de gente e de movimento. O sitio ideal para parar e comer qualquer coisa, que o alojamento não tinha pequeno almoço!

E lá estava a catedral: Καθεδρικός Ναός Αγίας Σοφίας Η Σοφία του Θεού

Sim, este é o nome da catedral de Xanthi! E Xanti escreve-se Ξάνθης

Como não nos sentirmos analfabetos num país daqueles? Será que esta é uma das aflições que deu origem à expressão “viu-se grego”? Pessoalmente eu vejo-me sempre grega naquele país, e dizem que os gregos são eles!

Em língua que se leia o nome da catedral de Xanthi é: Catedral de Santa Sofia a Sabedoria de Deus

As igrejas ortodoxas são sempre fascinantes por dentro, mesmo as mais pequenas e mais modestas, por isso, seguramente, a catedral também tinha de ser linda!

E, mesmo estando a contar com exuberância, eu sempre me espanto! Com as cores vivas, os detalhes decorativos, os muitos desenhos e pinturas e, claro, os dourados!

Felizmente não havia lá ninguém, sempre me sinto incomoda perturbando a orações das pessoas com a minha presença curiosa, mesmo se me tento tornar invisível. Todo aquele ambiente me impressionava, eu tinha de ter tempo para ver tudo com calma.

Os caminhos para Bulgaria não são muitos naquela zona. É preciso decidir entre uma grande volta pela esquerda ou uma grande volta pela direita e eu tinha escolhido ir pela costa do mar Egeu.

Eu sabia que havia lago e mar mas, estranhamente, a sensação que tinha era de circular por um grande lago, com zonas pantanosas!

Logo à frente fica Porto Lagos, tão português escrito numa placa, depois de tanto tempo a ler coisas esquisitas por todos os lados!

Porto Lagos fica na barra que separa o segundo maior lago de toda a Grécia, o Lago Vistonida, do Mar Egeu e eu tinha dificuldade em distinguir um do outro, já que tudo parece lago por ali!

E lá estava o Santo Mosteiro de Agios Nikolaos!
Aquele mosteiro é uma dependência do Mosteiro de Vatopedi no Monte Athos. E é único, pois foi construído sobre duas pequenas ilhotas e parece estar flutuar no Lago Vistonida. 

A sensação de encontrar algo que procuro, algo que vi em fotos, livros ou documentos, e descobrir que tudo é exatamente como eu imaginara, é de puro êxtase!

No primeiro ilhéu encontra-se a igreja de Agios Nicolaos e no outro a capela Panagia Pantanassa.

A igreja foi construída para substituir uma anterior destruída num desastre, é dedicada a São Nicolau porque uma imagem de São Nicolau foi encontrada ali. 

Não consegui deixar de lembrar-me do nosso alentejo ao apreciar as paredes brancas, com janelas contornada a azul!

Uma ponte pedonal de madeira conduz ao primeiro ilhéu e uma segunda ponte liga os ilhéus entre si.

Reza uma lenda que, quando aquela zona estava sob o domínio turco, em Porto Lagos vivia um monge santo asceta que curou a filha do senhor daquelas terras. Este, num gesto de gratidão, ofereceu a área ao mosteiro de Vatopedi, no Monte Athos.

Uma outra lenda mais antiga conta que o mosteiro de Agios Nikolaos foi inaugurado com a presença do Imperador Bizantino Arcadio, para agradecer à Virgem Maria por tê-lo protegido de um naufrágio no regresso a Roma.

Tudo é tão bonito e acolhedor por ali que tinha quase um toque de espaço de recreio e não de oração! Felizmente não estava ninguém por lá enquanto andei a explorar, mas essa realidade estava prestes a mudar, pois ao longe eu podia ouvir autocarros a chegar e muita gente a preparar-se para invadir as pontes até ao mosteiro!

Felizmente as pessoas eram respeitosas e foram-se chegando aos poucos sem perturbarem demais a calma do lugar. Seguramente era turismo religioso, pois havia uma atitude de respeito, que não perturbou o lugar.

E enquanto elas se amontoavam no velário eu pude ainda apreciar em paz todos os recantos que me fascinavam, com direito a picnic em local privilegiado e tudo! Pode-se dizer que foi um picnic sagrado!

Ao longe o mosteiro parecia um pequeno recanto de férias…

Eu adoro conduzir, mas também gosto muito de parar, por tudo e por nada. Estava calor e eu aproveitei para parar numa estação de serviço para me refrescar e tomar um café, que costuma ser bastante decente em terras gregas. Não valia a pena por gasolina naquele momento, já que a gasolina na Grécia era bastante cara e na Bulgária seria bem mais barata. Encostei-me por ali a ver os comentários dos meus amigos facebookianos, que estavam a acompanhar a minha viagem. Então uns fulanos se aproximaram de mim e da minha moto!

“Fico sempre surpreendida quando alguém me vem ensinar a viajar, como se existissem fórmulas decretadas para o efeito! Mas a verdade é que dois tipos meteram conversa comigo e um foi logo criticando isto e aquilo, assim que percebeu que eu tinha planos. Eu tentei dar a conversa por terminada, mas tive de ouvir que é uma parvoíce planear muito, que o certo é ir rolando e curtindo a estrada, dormir no hotel mais perto e aproveitar a vida e tive de ver um vídeo que fez em alta velocidade (140km/h valha-me a santa, se isso é tão alto assim!)
Pois é amigo, para curtir a estrada eu não precisava de vir para a Bulgária, não faltam estradas boas em Portugal, os 40.000km que faço por ano são feitos de todas as maneiras, por todos os lados e como me apetece!
“40.000km? Ninguém faz tanto quilometro num ano!!!!” Exclamou com ar de gozo…
Claro que não, eu compro as motos já com os km feitos 😉” In Facebook

Vamos lá embora para a Bulgária que não me apetece aturar mais maluco nenhum, sobretudo malucos que me vêm ensinar a viajar, mas nunca saíram do seu país!

A perola mais encantadora que recebi foi um “ah, Portugal não é um país grande! A Grécia é muito maior, uma volta por aqui é muito mais que uma voltinha por lá!” disse o super-herói sorrindo.

“Claro que sim, mas eu estou cá neste momento e farei mais de 4.000km só para chegar lá!” – Acho que ele não tinha pensado nisso!

Sempre me sinto privilegiada quando cruzo com uma placa que aponta um país longe de minha casa. Isso fazia-me lembrar da primeira vez que passei por aquela zona, saía da Turquia na direção da Bulgária, e cruzava com uma placa que dizia “Bulgaristão” e experimentei de novo a sensação de euforia que senti da primeira vez, só por estar ali de novo!

O encanto quebrou-se quando alcancei carros em fila, parados! Mas a fronteira ainda era longe, não podia ser fila para lá! Seriam obras? Um acidente? Não me apetecia ficar ali parada, quando havia tanto espaço para ir furando!

E sim, era a fila para a fronteira, vários quilómetros de fila. A cada curva eu podia vê-la sem fim, a perder de vista na curva seguinte, até finalmente chegar verdadeiramente à portagem!

De onde vinha aquela gente toda, se no meu caminho não havia transito nenhum? Ainda pensei que fossem os milhões de istambulenhos a sair de Istambul e a virem passear para a Bulgária, já que a cidade é tão sobrelotada, mas não, eram quase todos búlgaros!

Eu sempre disse que os búlgaros passeiam para caramba!

Era a primeira fronteira física/terrestre que eu atravessava, já que até ali tinha passado fronteiras em portos. Não havia nenhuma moto na fila, apenas eu e a minha motita e, no entanto, quando chegou a minha vez a pergunta da praxe surgiu: Your friends?

Ao tempo que eu não ouvia aquilo! De alguma forma era como se me sentisse em casa!

No friends, i’m alone!

O homem, nitidamente, aproveitou para conversar um pouco e perguntou onde eu ia, eu respondi que ia visitar o seu país a caminho de casa. O seu ar de surpresa, estas a ir para casa por aqui?

Sim, todos os caminhos vão dar a minha casa, senhor, assim eu queira!

“A Bulgária recebeu-me com a maior carga de água, para lavar o lixo da moto.
Normalmente não sou muito contraditória, mas nestas coisas sou:
– Se trago o fato de chuva e não o uso, fico lixada, andei a passea-lo sem o usar!
– Se o trago e o uso, fico lixada por ter de o vestir no calor e andar por aí toda enchouriçada!
– Se o trago, chove e não o visto a ver se a chuva passa, fico lixada porque devia vesti-lo pois para isso o trouxe!
– Se o trago e o visto, porque começa a chover… fico lixada porque a chuva passa!
– Se não o trago, fico lixada comigo porque fui uma inconsciente e a qualquer momento vou levar com uma chuvada na testa!
Tão eu!!! 😀” in Facebook

É claro que segui numa corrida por ali acima até Plovdiv. Entretanto a chuva parou mas, mesmo assim, eu não perdi mais tempo. Percebi que não haveria ninguém na receção no alojamento quando chegasse. Eu já lá tinha estado uns anos antes e tinha sido muito bem-recebida. Na época cumprimentei as pessoas pelo seu acolhimento, mas desta vez não iria ter direito a nada, certamente, mas paciência.

E no entanto!

“Quanto tempo as pessoas se recordarão de nós após a nossa passagem?
A tradição ainda é o que era aqui na Old Town Plovdiv!
Estive aqui em 2016 e fui recebida com mensagem personalizada. Hoje voltou a acontecer, mas tive duas, uma na entrada e outra na porta do quarto. Depois de várias mensagens pelo Telegram, tudo estava perfeito à minha chegada. Eu adoro este hostel” in facebook

Eles lembravam-se de mim! Até o gato era o mesmo!

Cada vez que volto a uma cidade tenho em mente coisas diferentes para ver e fazer. Desta vez queia ir passar o serão à Kapana, o distrito das artes da cidade.

O alojamento fica no topo do centro histórico, a que chamam Old Plovdiv, estão é só ir descendo as ruelas empedradas e apreciando as belas casas coloridas, com debruns bonitos.

Cá em baixo atravessar a estada movimentada e lá está a Kapana!

Kapana, o quarteirão das artes!
Situado no coração de Plovdiv, lá estava o encantador bairro Kapana, um centro vibrante de criatividade e expressão artística. Um bairro que já foi repleto de oficinas de artesãos no século XV

O bairro histórico passou por uma transformação notável nos últimos anos, evoluindo para um próspero bairro artístico que atrai visitantes de perto e de longe. 

Uma das características mais marcantes de Kapana é a infinidade de murais que adornam suas paredes, cada um contando uma história única e aumentando o fascínio da área.

Caminha-se pelas suas ruas de paralelo e somos envolvidos por um ambiente pitoresco e acolhedor

Os murais pintados contribuem significativamente para esse encanto, infundindo cor e vida em cada recanto. 

Desde designs complexos que mostram o folclore local até peças abstratas que despertam a contemplação, esses murais servem como contadores de histórias visuais que cativam tanto residentes quanto turistas.

Artistas locais se reúnem para criar obras impressionantes que refletem o espírito da comunidade. Esta vibrante comunidade artística não só enriquece a paisagem cultural de Kapana, mas também desempenha um papel fundamental na formação da sua identidade como bairro eclético e dinâmico.

O charme do bairro Kapana é inegável.

O bairro é um testemunho do poder transformador da arte

Kapana tornou-se não apenas um destino de visita obrigatória, mas também um exemplo brilhante de como a criatividade pode dar nova vida aos espaços urbanos.

Jantar num ambiente único, onde a arte se fundia perfeitamente com a gastronomia, foi uma experiência fantástica. Estar cercada por murais impressionantes e elementos artísticos elevava a atmosfera a outro patamar! 

Sentei-me numa esplanada ao ar livre, coisa que sempre melhora a experiência e o humor, e permiti-me desfrutar da beleza do ambiente enquanto saboreava um prato de carne deliciosa e um copo de vinho local, bem ao meu gosto.

E pronto, depois era hora de voltar a subir as ruelas até ao alojamento, procurando fazer caminhos diferentes, que não gosto de voltar pelo mesmo caminho que fui.

Vamos lá tomar um banho e dormir que tenho uma mão para por a descansar…

Desenhos de Viagem 5

Por vezes também desenho na minha terra, quer em Penafiel, onde vivo, quer no Porto, onde estudei, quer em Leça da Palmeira onde nasci… mas não me sinto tão à vontades por terras “minhas” para o fazer! Faz-me lembrar os tempos de faculdade em que tínhamos de vir para as ruas do Porto desenhar e a miudagem andava em torno de nós a ver o que fazíamos.

Mas tenho alguns desenhos destas terras algures nos meus livrinhos! Aqui estão dois:

Porto 2010 – Rio Douro e ponte da Arrábida

Quatro pinceladas e sai uma perspetiva do Porto! Este desenho foi feito de cima da moto, na curva do rio Douro!

Porto 2010 – Torre dos Clérigos

Porto, num dia de sol e céu azul, em que apenas apetece ficar a apreciar o perfil de uma das cidades mais fascinantes que conheço…

Escócia 2011 – Glen Coe

Oh recanto de paraíso onde só me apetecia desenhar e pintar!

Alemanha 2011 – Trier

Trier uma das cidades mais antigas da Alemanha, a cidade natal de Karl Marx e cidade romana com a sua fantástica Porta Nigra que me pus a desenhar de cima da moto! Sé à segunda tentativa consegui ficar satisfeita com o “boneco”, não é fácil apanhar o geral da construção!

França 2010 – Arles

O “coliseu” de Arles, como eu lhe chamava, chamam-lhe Arena e é um anfiteatro romano extraordinário, quando se vem de baixo e depara com tal construção, no meio das casas! Fiquei ali a olhar para ela horas!

Escócia 2011 – Glen Coe

Deixava-me ficar ali, na berma da estrada a olhar a imensidão da paisagem e criava mundo no papel, quando a máquina fotográfica não conseguia transmitir-me o que eu sentia! Alguns desenhos que fiz ali são mais fantásticos que reais e eu gostei disso!

Escócia 2011 – Ilha de Skye

Ao fim do dia, finalmente, a tão famosa chuva que por lá se encontra com facilidade, ameaçou aparecer! A imensidão da paisagem esmagava a minha motita que parecia tão pequena e insignificante!

59 – Passeando até à Suiça 2012 – A Bélgica – Brugge, a encantadora!

28 de Agosto de 2012 – continuação da continuação!

Brugge é um cidade encantadora onde apetece passear a pé, tirar umas fotos, parar numa esplanada, sem pressas, apenas apreciando o momento!

Uma cidade onde eu viveria feliz, porque é linda e é perto de tantas outras coisas lindas!

Uma cidade muito antiga e que é cidade há quase 900 anos, cheia de história e histórias pela história fora!

Para além de canais ela tem também lagos e parques e muitas zonas verdes como o Kon Astridpark!

Que tem até direito a uma grande igreja! Aliás parece que igrejas é o que não falta na cidade!

Dizem que Brugge é a Veneza do Norte, por causa dos muitos canais que cruzam a cidade… mas que me perdoe quem é fan de Veneza, mas Brugge tem coisas em que é mais bonita!

Permanentemente cheia de turistas, tem para oferecer todo o tipo de atrações turísticas e culturais!

A praça da Municipalidade é um dos centros da cidade com a sua Câmara gótica do séc. XIII, a mais antiga da Flandres.

Dizem que tem, na sua fachada, alternando com as 6 janelas, 48 nichos com estátuas!

Ao lado fica a Basilique du Saint-Sang – Basílica do Sangue Sagrado, um santuário românico do séc. XII. Diz a lenda que o Sangue Sagrado de Cristo foi trazido de Jerusalém para a cidade!

E as rendas!
As rendas são património preservado!

Desde o século XV, quando Charles V da Bélgica decretou que a renda deveria ser ensinada nas escolas e conventos das províncias belgas, que as técnicas rendeiras, além de não se perderem, se foram aperfeiçoando e tornando ex-libris de cidades, aldeias e do próprio país!

Rendas que já fizeram e dominaram a moda ao longo da história, como durante o renascimento.

A renda típica de Brugge é a renda de bilros, que é rara e acarinhada porque só pode ser feita artesanalmente! A mais procurada é a “Toveressesteek” – “Ponto de Feiticeira”, que requer entre 300 a 700 bobinas (bilros), e deve ser mesmo necessário ter poderes mágicos para não baralhar aquilo tudo e fazer uma rodilhice de fios!

Por vezes encontramos rendeiras que trabalham à entrada da porta de casa, para que os transeuntes possam apreciar a técnica!

E volta-se sempre à Grote Markt – Grand Place…

Já tinham retirado a bancada da frente do Campanário, já não haveria mais concerto de carrilhão!

Não iria voltar a comer mexilhões! Apetecia-me encher a barriga de porcarias, por isso fui à procura de uma casa de batatas fritas, onde toda a gente compra pacotões de batatas com molhos para comer sentados pelos muros na berma do canal!

Só faltava localizar o tal canal!
Era logo ali à frente!

Huuuum, há dias em que só uma coisa desta me serviria de jantar! Batatas fritas e espetadas! Delicia!

E então com o “Rozenhoedkaai” – O Cais do Rosário, como cenário, tudo estava perfeito! Aquele canal é o mais fotografado e desenhado da cidade!

Segui para mais uma voltinha pela cidade, até ficar noite!

Porque há recantos lindos por todos os lados, basta apenas passar e apreciar!

A vantagem é que se passeia por ali como por Amesterdão! Pode-se andar por todo o lado, pelo menos de moto, encostar e disparar mais uma foto, sem que ninguém stresse com a gente!

Na realidade estamos muito perto da Holanda e há pormenores que nos fazem pensar que até estamos lá!

Há diversas portas da cidade, esta é numa ponte muito bonita! Não passa trânsito ali, há um pino no meio do caminho, mas a minha motita passou!

A cidade é quase totalmente cercada pelo rio, o que faz com que este sirva de foço nas entradas antigas da cidade!

Então vi que o sol estava a preparar-se para se pôr em efeitos de laranjas e nuvens muito bonitos e saí um pouco da cidade na sua direção!

E vivi mais um momento de paz, deslumbrando-me com ele, antes de voltar para a pousada de juventude e me encher de cerveja com o povo!


E foi o fim do trigésimo dia de viagem!