25 de agosto de 2017
Tinha cerca de 11 horas de barco para fazer naquele dia. Por isso eu me hospedara dentro mesmo do cais, e dormira num hostel que era um barco, assim não teria de acordar cedo demais nem de stressar a percorrer distancias entre a minha dormida e o meu transporte.

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Eu nunca tive medo de andar de barco e no entanto sempre tive medo de embarcar a minha moto num! Não porque tema que o barco se afunde comigo e ela dentro, não sofro do pavor arrogante de achar que por eu ir nele algo irá acontecer! O meu medo é apenas de fazer as coisas erradas e não conseguir embarcar a tempo no momento, cais e barco certo! Que fazer? Também tenho direito a ter os meus medos!
Assim, no dia anterior passara no cais de embarque a seguir aquele onde a minha casa estava atracada e confirmara que não era ali, nem no a seguir e sim noutro mais à frente e senti-me reconfortada por ter sido perspicaz em evitar o stress de última hora que tanto me aflige!
Acordei cedo, a minha motita esperava junto ao meu cais e o ambiente era meio surrealista, afinal não é todos os dias que um cidadão comum dorme num navio com um barco de guerra como vizinho!

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Fizeram-me entrar no cais e seguir para a frente, por uma linha onde apenas havia eu!

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O meu ferry era todo catita e, embora estivesse a chover, não me mandaram entrar. Parecia que toda a gente entraria antes de mim. Aconselharam-me mesmo a proteger-me da chuva numa tenda, que havia ali perto.

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Confesso que me senti ignorada e meio miserável, a ver toda a gente a entrar e eu a ficar. Mesmo um grupo de motos seguiu para dentro bem antes de mim! Uma injustiça, pois eu até chegara antes!

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Só lá dentro percebi que, obviamente havia uma razão para a entrada por aquela ordem. A minha motita ficou sozinha depois de a parte da frente do porão estar completamente preenchida. Nem as motos que vira entrar estavam por perto sequer!

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Bastou-me olhar de novo para o mapa para perceber que a viagem tinha uma “escala” onde sairiam os primeiros veículos a entrar no ferry e que ocuparam a frente toda.
Nem toda aquela gente estava ali para ir até Estocolmo!

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A entrada no ferry foi a coisa mais estranha a meus olhos!
Quando a gente reserva a passagem escolhe se quer camarote ou assento para fazer a viagem a seu gosto. No entanto imensas pessoas entraram pela receção dentro apressadíssimas para descobrirem os seus camarotes, como se alguém lhos pudesse tomar se não chegassem até eles a tempo! E corriam empurrando enormes troleys e empurrando quem se lhes pusesse na frente!
Eram 8 horas da manhã, qual era aflição de irem a correr para os camarotes? Não tinham dormido aquela noite?
Eu preferi apreciar a partida, sempre gosto de saborear a deslocação de um barco, sobretudo quando vou dentro dele!

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Eu tinha noção de que navegaríamos por zonas cheias de ilhas e ilhotas, mas, de alguma forma, não estava preparada para fazer uma viagem de tão longa distância sem perder terra de vista!

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Comecei por ver as casinhas de uns e de outros nas margens próximas de Turku e segui vendo penedos e rochas por quase todo o tempo!

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Entretanto dentro do ferry o ambiente estranho continuava! Uma banda, que me recusei a registar em foto, tocava a mais pura pimbalhada em inglês e em línguas bizarras e desconhecidas, que deduzi serem nórdicas, tipo finlandês, sueco ou ambas à mistura. E sim, o fenómeno pimba é meio universal, cada país tem a sua versão!
Uma pena, já que o melhor heavy-metal é finlandês… 😉

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Escrevia eu no entretanto:
“Não entendo muito bem as pessoas! A maioria, mal entrou no barco foi comer! De onde vinham elas para estarem cheias de fome às 8.00 horas da manhã? Outras corriam para os camarotes, como se estes não estivessem reservados e alguém os pudesse ocupar ou roubar! Não dormiram de noite? Agora é meio dia e meia e está tudo a comer bolos e a tomar café! Serei a única dentro dos horários certos, que tomei o pequeno almoço antes de embarcar e agora estou a comer uma deliciosa batata recheada com frango e a beber cerveja?”

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E as paisagens sucediam-se impressionantes lá fora…

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A costa, fosse ela qual fosse, estava tão perto de nos que fomos acompanhados por motos de água em vários momentos!

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E o imenso vazio alternava e apenas era visível de um dos lados do barco, bastava escolher de que lado sair para apreciar!

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Acho que não é possível ficar indiferente a um percurso tão rico em enquadramentos com aquela beleza

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Aquela travessia marcou o primeiro balanço de tudo o que eu já vivera por terras nórdicas. Foram horas de serenidade, apenas perturbadas pelos meus pensamentos humorísticos em relação ao ambiente dentro do ferry. Horas repletas de pensamentos bons, de imagens fascinantes e de saudade…

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… saudade do que já vivera e não se voltaria a repetir tão cedo…

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E o ferry seguia de forma impressionante por entre os milhares de ilhas que rodeiam o continente, dando a sensação, por vezes, de que o espaço não seria suficiente para ele passar!

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E chegamos a Estocolmo ao entardecer!
Claro que peguei na moto e fui logo explorar tudo o que pudesse, de alguma forma conseguia ter saudades de conduzir, pelo simples facto de ter ficado todo o dia a ver a água passar!
E fui ver o pôr-do-sol na ilhota de Riddarholmen, com a Stadshuset – a câmara – ao fundo, em contraluz!

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A cidade antiga de Estocolmo começa logo ali, por ruelas encantadoras onde o tempo não parece ter passado!

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“Estocolmo é uma cidade fascinante, vai-se até junto da catedral e começa a viagem no tempo para trás. E as lojinhas decrépitas são tão bonitas, com a luz a incidir nas ruas estreitas, criando um clima a lembrar o Natal! Que belo entardecer!”
(in Passeando pela vida – a página)

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Havia uma serenidade no ar, como se nada de mau pudesse estar a acontecer no mundo. Impossível quebrar aquele encanto!

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E apesar dos muitos turistas que passeavam por ali, as ruelas não eram um frenesim como noutras cidades europeias. E eu agradeci em silêncio que a calma não fosse quebrada por gritinhos, corridinhas, selfies e coisas afins típicas dos turistas descontrolados!

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A gente esperava um pouco, as pessoas passavam e a beleza dos recantos ficava toda ao nosso dispor, como se estivéssemos sós na cidade!

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Mesmo as esplanadas eram alegremente sossegadas, com música ambiente que não atordoava os passantes e agradava aos clientes!

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E as lojas? Oh as lojas!
Eram lindas, casas velhíssimas com as janelas a fazer de montras, muitas vezes bem altas, mas cheias de encanto, sem quebrar em nada o tradicional traçado dos quelhos!

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Apaixonei-me por Estocolmo…

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Felizmente amanhã ainda estaria por ali…