4. Passeando pela Grécia/Balcãs – dia de embarcar

22 de agosto de 2022

Acho que cada dia de crónica desta viagem vai começar sempre com um desenho do dia anterior! Dos vários que fiz, vou escolhendo aquele que está mais aceitável.

Torla vista da estrada cá em baixo 🙂

As coisas com a minha mão estão assim: fica ladina durante o dia, mas acorda toda bloqueada e inchada na manhã seguinte! E de dia para dia nada muda! Só me resta por muito gelo ao pequeno almoço e seguir conduzindo com muito cuidado, pois a mobilidade vai-se conquistando ao longo da manhã, à medida que vou usando a embraiagem como mola de fisioterapia. Nada a fazer, é assim e pronto.

De preferência que ninguém veja de perto o estado em que ela está para não me encherem a cabeça sobre como é perigoso andar em viagem, conduzindo moto, com uma mão incapaz! Não, ela não está incapaz, apenas está muito preguiçosa para acordar.

O pequeno almoço voltou a ser no exterior, com a motita como paisagem, bem em frente do hostel.

Encontrei o meu amigo do jantar de ontem entre os hospedes ao pequeno almoço, por isso não houve gato que se aproximasse de mim hoje!

O caminho não era longo e a hora de embarque era apenas às 19.30h, por isso daria tempo para explorar um pouco no caminho até ao ferry.

Pertinho do meu hostel fica a Bodega Sommos, na região de vinicola de Somontano e a sua arquitetura é impressionante! Dizem que custou 90 milhões de €uros, mas consta agora entre as 10 maravilhas arquitetónias vinicolas do mundo!

Já tinha passado ali com a ideia de visitar um dia. Desta vez apenas entrei nos seus domínios, pode ser que da proxima entre para visitar o edificio por dentro.

Hoje era muito cedo para visitas, por isso apenas dei umas voltar por ali para admirar o edificio em diversos ângulos.

O rio Ebro sempre me fascina. Cada vez que passo por ele relembro uma ideia antiga de um dia o percorrer da nascentre até à foz e apreciar toda a sua beleza, de ponta a ponta!

É o maior rio totalmente em terras espanholas e é cheio de curvas e contracurvas por paisagens deslumbrantes. Há quem diga que o seu nome pode estar ligado à origem do nome da península, quem sabe?

No meu caminho muita coisa me desperta a atenção, igrejas velhas, como toda a gente sabe, recantos medievais, com casas antigas e ruelas estreitinhas, paisagens deslumbrantes, motanhas e por ai fora, mas a arte urbana também me faz parar, sobretudo porque nunca sei quando vou cruzar com ela e o efeito surpreza tem um grande impacto em mim.

Gandesa apanhou-me de surpreza. Vi por entre os muros das casas algo muito grande e dei a volta para ir ver de perto.

A obra não era própriamente para ser vista de perto, de tão grande que é!

Verdadeiramente impressionante!

O tempo que andei por ali a apreciar os pormenores!

Logo à frente havia um grafitti, que até era grandinho, mas perto do grande mural, era quase insignificante.

Então cheguei a Calaceite, que consta como Uno de los Pueblos Más Bonitos de España.

E é mesmo bonito, bem merecedor da designação.

A cidadezinha tem uma origem muito antiga, mas os seus edificios mais proeminentes são renascentistas

Como o edificio do Ayuntamiento, do século XVII.

As ruelas estavam bastante solitárias, apenas na praça do Ayuntamiento havia uma esplanada com gente.

A vantagem é que não precisei de andar a desviar-me das pessoas, nem esperar que parassem de fazer selfies para eu poder fazer uma foto sem ninguém, aos recantos mais bonitos que fui encontrando!

Ainda passei em Vaderrobres, também considerado Uno de los Pueblos Más Bonitos de España, com a sua igreja e castelo no topo de um núcleo urbano medieval extraordinário.

Do lado de cá da ponte é tudo mais recente e moderno, mas do lado de lá, começa a beleza do local

A Puente de Piedra atravessa o rio Matarranya até ao Portal de San Roque, protetor contra as epidemias e padroeiro da população, que é entrada para o núcleo antigo da cidade.

A ponte é lindissima, do século XV, com aqueles quebra-mares impressionantes.

Depois é subir e descer por ruelas e ruinhas vertiginosas.

Vislumbrar a catedral por entre as casinhas, no topo de uma ruela estreitinha, é quase uma imagem surreal!

Tive azar, a igreja e castelo estavam fechados, mais uma promessa a mim própria de voltar para visitar melhor! Depois as pessoas estranham que eu volte aos locais onde já passei, às vezes tem mesmo de ser!

É a Iglesia de Santa María la Mayor, do século XIV, uma construção gótica impressionante!

E pronto, o melhor é seguir para Barcelona, pois stresso sempre com embarques e desembarques em ferries, o melhor é chegar cedo para ter tempo de não fazer bosta!

Ao longe os rochedos curiosos dos Estrets D’Arnes, onde vale a pena passear, eu apenas não tinha tempo desta vez…

Cheguei ao porto de Barcelona, vi as motos do lado direito mas mandaram-me pôr a minha moto do lado esquerdo! Nao sei porquê, mas fiquei sozinha daquele lado do portão de entrada. O povo do outro lado olhou para mim com curiosidade, devem ter achado que eu estava a furar a fila e eu nem culpa tinha de nada!

Quando abriram o portão, mandaram-me avançar. Fiquei meio desconfortável, pois cá no fundo tinha medo de entrar no barco, sei lá, de não conseguir subir a rampa, escorregar, derrapar e não conseguir segurar a moto! Vários motociclistas apressaram-se a passar-me à frente, foi quando percebi que deviam estar aborrecidos por eu lhes passar à frente.

Fomos guiados por um carro por entre contentores, camiões e outros obstáculos, até ao barco que estava do outro lado. E foi então que a grande rampa apareceu na nossa frente. Bolas, iriamos subir para o andar de cima do porão, por uma rampa cheia de óleo que mais parecia betume negro. Os que se meteram na minha frente começaram a subir, hesitantes, eu não podia hesitar, tinha de subir de uma vez ou a minha mão poderia falhar se tivesse de embraiar.

Não, eu não consigo pôr a moto no descanso central. Os outros motocilcista ficaram a olhar para mim, pensando certamente que eu era fraquinha por não o conseguir fazer. Depois percebi que outros também não conseguiam, o meu vizinho de trás, por exemplo! Ainda tentei ajuda-lo, mas não adiantou nada.

É sempre uma sensação curiosa ser dos primeiros veículos a entrar num ferry e ter todo o porão vazio na minha frente e ser das primeiras pessoas a subir a bordo, enquanto a multidão se enfileira lá em baixo até perder de vista.

Tanto espaço só para mim! Pelo menos por enquanto.

Muito aparato no local, pouco aparato na refeição. Sem problema, frango com batatas fritas é sempre bom, mesmo sem aparato!

Por-do-sol no porto. Vamos lá para uma longa noite de nada e de coisa nenhuma…

Eu detesto este tempo infinito no mar…

3. Passeando pela Grécia/Balcãs – Até Ordesa

21 de agosto de 2022

Dado o estado da minha mão esquerda eu propus-me fazer pelo menos um desenho por dia e o de ontem ficou fofinho! Claro que acabei por ter dias em que fiz mais que isso, mas vamos ver se tenho um decente por cada dia!

Inicialmente a ideia de ficar hospedada duas noites naquele hostel era para me dar tempo de passear um pouco calmamente pelos Pirinéus Catalães, mas agora que estava ali as montanhas assustavam-me um pouco… E se eu não conseguisse fazer subidas íngremes, com curvas vertiginosas ou pisos esquisitos? Afinal eu sou traumatizável como toda a gente e imaginar uma estrada a subir vertiginosamente na minha frente provocava um frio dentro de mim…

O gatinho do hostel veio amenizar meus pensamentos. Gatos sempre se aproximam de mim e me fazem sentir bem!

No dia anterior eu queria ter ido até ao Castelo de Montearagón, mas não tive coragem… Eu estava muito cansada, o braço doía todo, a mão não me inspirava conficança. Então eu iria tentar ir lá acima hoje.

Perto da minha morada ficava a Ermita y Convento de San Joaquín, não é muito antiga, lá pelo século XVIII, mas é impressionante! Talvez pela sua cor de terra que lhe dá aquele aspeto de coisa com história e isso me fez parar.

E então fui até aos domínios do Castelo de Montearagón.

Na realidade eu não fui lá acima ontem porque tive medo…

Porque visto de lá de baixo o monte parecia-me íngreme, com uma estrada que subia a pique, e isso aterrorizava-me… subir aterrorizava-me!

Felizmente, como em tudo, quando a gente traz os fantasmas para a luz do dia, eles parecem menos assustadores e eu subi, sossegadamente pela estrada serpenteante e efetivamente íngreme, até chegar lá acima, em segurança.

E depois de subir, passear por terra batida não me stressou nada! Fiz amizade com um ciclista e dei umas voltas por ali atrás dele.

Foi o meu momento de relax depois do stress de subir pela primeira vez após o acidente!

“Só entendes os teus traumas quando os trazes para a luz do dia. Um acidente deixa medos, mas quem não tem medo não é um herói, é um inconsciente. O segredo é não deixar os medos se transformarem em pavor ou pânico. A estradinha subia, nada de especial, nada que eu já não tenha feito pior, mas foi numa subida que eu me magoei tanto…

Tive de acionar o meu modo automático, aquele que já me fez subir estradinhas incríveis, e subi 😉
Agora siga para a montanha que o castelo foi só um estágio”               in Facebook

Sim, desenhei-o cá de baixo, pode ser que amanhã mostre o desenho, acho que não ficou nada de especial…

Segui para norte. Às vezes passo em sitios inspirada pelo nome, e uma terra chamada Latas definitivamente despertou minha atenção!

O lugar não tem muita coisa, mas tem uma Iglesia de San Martín muito bonita. Uma construção românica, do século XII, sempre prende minha atenção, pena estar fechada.

Então fui-me enchendo de coragem e subindo os montes, podia ir a direito mas fui curtindo a estrada na direção de Viu, outro nome que me despertou a atenção. Tão bom voltar a apreciar o prazer de conduzir descontraída pela montanha…

Pausa no Camping de Viu para almoçar.

Um dia tenho de voltar ali para explorar todo o vale de Ordesa, como eu já fiz um dia há muito tempo, há umas 5 motos atrás…

Porque não é apenas o espaço delimitado e ofical do Parque Nacional de Ordesa que é extraordinário, é todo o vale e o caminho até ele. Assunto para uma viagem só!

Desta vez fiquei-me por Torla e as paisagens deslumbrantes em redor.

Não tive coragem de subir e enfiar-me no meio dos turistas, como eu costumo dizer, às vezes a beleza de uma aldeia na montanha é mais deslumbrante em um enquadramento de fora, do que nas suas ruas cheias de turistas e selfies e souvenires e essas tretas todas.

Como não se pode passar mais além de moto limitei-me a desenhar… é, voltei a desenhar um pouco 😀

Broto é um ponto de partida para a montanha, cheio de gente, cafés, esplanadas e movimento, mas eu concentrei a minha atenção na Iglesia de San Pedro Apostol, que mais parece um castelo ali ao lado da estrada principal.

A igreja é do século XV, mistura intervesões de góticas e renascentista. O tempo passou por ela deixando marcas de todas as épocas, até hoje.

O interior surpreendeu-me, pois esperava que fosse mais degradado, mas está em perfeitas condições com mais um estilo no altar: o barroco.

De todos os estilos que contem nela, o mais antigo é o que mais me fascina, aquele que a viu nascer.

O rio Ara atravessa o pueblo e, na realidade,está por todo o lado, acrescentando beleza a toda a paisagem. Pena ali ter tantos fios de eletricidade na frente. Porque é que há sempre tantos fios de eletricidade, telefone e sei lá mais o quê, a estragar um enquadramento perfeito?

Mais à frente, quem desce o mapa na direção do sitio onde eu deixei a minha mala para dormir segunda noite, fica Fiscal. Com um nome destes e umas torres a espreitar ao longe, eu tive de ir ver!

O coração da localidade é a Iglesia de la Asunción e o arco na praça, o pormenor mais curioso. Chamam-lhe o Pórtico de Jánovas, pois trata-se do portico de uma igreja do pueblo “fantasma” de Jánovas.

Um dia tenho de ir visitar Jánovas, que tem uma história de destruição e reconstrução que vale a pena conhecer!

“Hoje, ao regressar do parque de Ordesa, já me aventurei por ruinhas até aqui. É bastante cansativo e até violento para a minha mão, pois nem sempre o piso é o melhor, o que faz trepidar muito o guiador, e as curvas são aos milhares, o que implica usar bastante a embraiagem, mas cá cheguei feliz e contente… e cansada!”               in Facebook

E segui apreciando terrinhas com nomes interessantes! Aguas ao longe! Como será viver numa terra que se chama Aguas?

Até chegar a Adahuesca, a minha casa.

Como um passeio tão simples rendeu mais de 300km, eu não sei, mas estava cansada e com uma mão completamente pendente, inchada e morta de dor!

Não importa o que tenho planeado, eu sempre faço apenas o que quero e posso, sem pressas e, desta vez, sem pressões! E a voltinha que dei acabou por ser bem interessante!

Desta vez não jantei sozinha, fiz amizade com o Franck, um hospede francês la do sitio, e fomos comer umas tretas e beber um vinho na praça do pueblo.

Eu gosto de provar os vinhos das localidades onde passo e aquele era mesmo de Adahuesca! Que bem que soube!

Amanhã é dia de ir até Barcelona para apanhar o ferry para Civitavecchia. Ferries sempre me assustam, tenho sempre medo de me enganar, embarcar errado ou não conseguir embarcar por ter feito algum erro na reserva, eu sei lá! Mas desta vez tinha medo de não ter mão para subir para o ferry, para circular lá dentro para estacionar naquele piso metálico e cheio de cebo do porão…

Deixa para lá, amanhã vê-se!

2. Passeando pela Grécia/Balcãs – Espanha

20 de agosto de 2022

No dia seguinte a minha mão estava uma verdadeira bosta!

Os dedos estavam tão inchados que era muito difícil mexe-los, o pulso estava uma verdadeira bola e fechar a mão era tarefa completamente impossível! Oh valha-me Deus, como iria eu conduzir com uma mão inútil? Será que fora o esforço do dia anterior que provocara aquele inchaço todo? Se assim fosse a coisa iria piorar de dia para dia?

Sentei-me na praça e terminei o desenho que começara no dia anterior, enquanto gelava a mão e o pulso, a ver se desinchavam um pouco.

Eu estava cheia de vontade de seguir caminho e explorar coisas. O meu espirito estava longe do do dia anterior e a ultima coisa que me apetecia fazer era seguir direto para o meu destino!

Era cedo, não havia ninguém na rua e isso era fantástico para eu conduzir sem ter de andar a meter muitas mudanças, era só rolar!

Comecei timidamente indo tomar o pequeno almoço a Ayllón, uma terrinha muito mimi ligada à história de Portugal e ao tratado de paz depois da batalha de Aljubarrota.

Muito fixe, a Plaza Mayor estava toda por minha conta, por isso pude por-me por ali a comer croissants enquanto apreciava o ambiente medieval em redor, com o Edifício do Ayuntamiento ao fundo.

Não é por acaso que Ayllón faz parte dos “Los Pueblos Más Bonitos de España” porque é muito fofinha, cheia de história e vestigios do passado.

 Na varanda do Ayuntamiento um cartaz falava da reforma da saude rural, parece que em Espanha as coisas também não estão faceis com a saude!

A igreja de San Miguel, ao fundo da Plaza, do outro lado do Ayuntamiento, chamou-me a atenção é claro!

As construções românicas sempre me chamam a atenção. Mas era muito cedo, estava fechada. Apenas pude apreciar os pormenores do exterior.

Todo o pueblo é encantador e muito agradavel para passear e apreciar os pormenores

Do lado de fora da muralha fica o Río Aguisejo, onde a minha motita me esperava.

Tão bom passear ao sábado, com as estradas ao meu dispor! Aos poucos a minha mão marota estava a conseguir finalmente voltar a apertar a embraiagem, por isso eu estava animada para procurar um pueblo que queria muito visitar.

E valeu a pena parar. O nome Calatañazor deriva do árabe “be Qal`at an-Nusur”, que significa “Castelo das Águias”

A vantagem desta terrinha é que fica no topo de um monte, mas tem bom acesso, a moto vai até à porta e depois as ruínhas não sobrem muito. E são lindas de morrer, com as casinhas cor de terra, sustentadas por bigas e colunas de madeira, com ar de serem mais velhas que o mundo!

O castelo é do século XIV ou XV, está bastante aruinado, mas permite uma bela perspetiva sobre o pueblo e o vale. Fica ali à beirinha também, não é preciso escalar nenhuma montanha para lá chegar!

E o pueblo é bem giro visto de lá de cima da torre.

Ao fundo a Iglesia de Nuestra Señora del Castillo, românica é imponente! A sua origem é do sec XII, foi alterada postreiormente, mas não perdeu a sua imponencia. Estava fechada, uma pena, teria gostado de a ver por dentro.

E as ruinhas, cheias de sol, voltaram a encantar-me ao ir embora. Acho que vou ter de voltar lá um dia, para explorar também a redondeza com calma, quando eu estiver plenamente recuperada desta não, para que nada me prenda de explorar.

No caminho para o meu destino decidi ir pelo parque Natural de Moncayo. O dia estava quente, eu já tinha o rosto a ficar queimado, porque como não conseguia abrir e fechar o capacete, mentinha-o aberto, por isso achei que andar pelo meio da natureza, entre arvores e sombras, seria fantástico!

E realmente foi uma bela escolha de caminho, fresco e lindo, até parei várias vezes para registar perspetivas da bela estrada!

Até a paisagem mudar abruptamente!

E foram tantos quilómetros de terra queimada! A luta com o fogo deve ter sido feroz, porque havia pedaços de terra lavrada e algumas casas ao longe que foram protegidas por contrafogos. Nitidamente tinham pegado fogo a arbustos menores junto de habitações e terrenos de vinha e fruta, para que o incendio maior não passasse, e ele contornou e seguiu!

Santo Deus, a sensação foi de entrar num cemitério da natureza!

A tragédia não era antiga, ainda cheirava a fumo e a cinzas.

O Mosteiro Real de Santa María de Veruela, estava bem no limite da linha de fogo! Acredito que foram momentos e terror e luta para que o fogo não chegasse até ele!

Não tive vontade de entrar e visitar, ficará para uma proxima vez, apenas visitei em redor sem me meter lá dentro.

Embora as fotos apareçam sem ninguém, havia bastante gente lá dentro e eu estava muito antissocial para entrar!

Há coisas em Espanha que me fascinam, como as casitas, armazéns ou caves construídas debaixo da terra. Existem em diversas zonas do país, já visitei varias em vários sítios, ali só olhei de longe. É sempre uma visão que me surpreende!

E cheguei a Alquézar, para mim um dos pueblos mais bonitos que conheço em Espanha!

Não só é uma terra lindíssima, como fica situada junto do Cânion do Rio Vero e do Parque Natural de la Sierra de Guara, por isso por ali, toda a gente se tenta a aderir a atividades na natureza e algumas mais radicais no Canion. A minha atividade por lá, a cada vez que passo, tem sido sempre passear pelas ruelas, desenhar e beber sangria, mas um dia vou ficar mais tempo para poder explorar também a natureza em redor! 😉

Fui cedo para o meu destino, em Adahuesca, não muito longe de Alquezar. Sabia que havia petiscos no hostel e boa cerveja, por isso fui para o aconchego comer e beber e pôr gelo no meu pulso, que já não queria caber na luva!

Estava visto que os meus dias terminariam como começavam, com gelo até adormecer tudo, desde a pele até ao osso! Esse seria o segredo para fazer funcionar esta mão e ela de me dar um pouco de paz.

Vamos ver como é que a mão acorda amanhã, porque a vontade de explorar está a aumentar e não poderá ser uma mão marota a parar-me… ou poderá?

41. Passeando pelos Balcãs… – Fim de uma bela história… regresso a casa…

1 de setembro de 2013

Andorra-la-Vella não é a cidade mais bonita que conheço, é mais aquela espécie de supermercado onde se aproveita para comprar umas coisitas, como o meu perfume, ou um radio para o carro do moçoilo. Dá-se umas voltitas por ali e está tudo visto… ou será que tenho essa sensação porque passo lá vezes sem conta, ano após anos de há muitos anos para cá?

De qualquer maneira as pessoas são simpáticas e até se torna agradável andar por ali a ver montras… de material motard! Pois, estava na hora de continuar à procura de uma viseira para o meu capacete!

A dada altura eu já nem tirava o capacete, simplesmente pousava a moto à porta da loja, entrava um pouco e perguntava “tem uma viseira interior para este capacete?” e apontava para a cabeça “Ah, não! Vá à loja XX»” e eu seguia para a tal loja!

E ía-me divertindo um pouco por aqui e por ali!

É inacreditável como um capacete tão bom, de uma marca tão importante, não tem em nenhum dos seus representantes uma porcaria de uma viseira para vender! É mais fácil comprar um capacete novo que uma viseira para o que tenho? Pois, parece que o que importa é vender, agora cuidar do que se vende, nem por isso!

Acabei por fazer amizade com gente boa, uns portugueses outros espanhóis, mas todos muito simpáticos e curiosos sobre a minha moto, os seus autocolantes e os sítios onde fui com ela!

E vim embora com a viseira colada com fita-cola e até hoje ainda ninguém me arranjou a porcaria da coisa! Está encomendada à Schuberth desde setembro e… nada ainda!

A viagem acabaria logo a seguir! É sempre a sensação que tenho quando passo os Pirenéus para o lado de Espanha, por isso não me interessaria ir a mais lado nenhum…

Uma coisa que eu aprendi recentemente, numa das últimas viagens que fiz, foi que não adianta alongar por Espanha o que terminou em França ou Andorra, porque o sentimento já é de saudade da viagem e tudo parece ter o sabor da despedida! Então, sendo assim, o melhor é atravessar o país e vir para casa! Saudade por saudade, mato as saudades da viagem com o regresso a casa para junto do meu moçoilo…

Entretanto, depois de combinações descombinadas eu, que deveria passar em Pedrola, na terra do Rui Vieira, para dizer um olá, recebo a mensagem de que o homem afinal combinara tudo mal e não estaria por lá!

Mas eu fui na mesma! Ora aí está uma boa maneira de não fazer sempre os mesmos caminhos e dar uma volta pela terrinha do rapaz!

É um pueblo pequeno e simpático com um canal “à porta”, onde a gente dá uma volta, ficam algumas pessoas a olhar, a gente segue caminho e tudo volta ao normal!

E segui para casa… há uma nostalgia em cada regresso e a Espanha potencia esse sentimento com as suas planícies de perder de vista…

Voltei a passar em Peñafiel, cujo castelo ainda não visitei mas está agendado para uma próxima passagem…

Mas tirei a dúvida: sim, é geminada com a nossa cidade de Penafiel, onde vivo, como eu imaginava! Está ali o brasão cá da terra estampado na placa! Adorei!

Ao longe começou a aparecer uma coluna de fumo muito intensa! Puxa, que grande incendio por ali haveria!

Foi quando entendi que as coisas que me diziam eram mesmo verdade: o país estava a arder!

Depois de mais de 17 mil quilómetros, em que apanhara temperaturas proibitivas, países pobres e com as matas cheias de lenha apetitosa para arder à toa, eu apenas vira os vestígios de um pequeno incendio na Bósnia! 20 países sem fogos nem vestígios de terra queimada!

E o meu país? Estava a arder!

Entrei por Chaves e, de lá até Penafiel vi 8 colunas de fumo, sem esquecer que para sul de Penafiel tudo era fumo, por isso os fogos continuavam às dezenas por aí abaixo. O ar cheirava a queimado, o céu era meio negro, meio castanho…

…e cheguei a casa!

Com direito a receção, com fotógrafo de serviço a registar a minha entrada…

… com a cara toda queimada, o nariz vermelho, depois de ter largado já a pele, mas muita satisfação pelo caminho percorrido na maior paz!

E foi o fim do último dia de viagem!

Cheguei a casa depois de:

34 dias
17.500 km
20 países
8.000 fotos
885 litros de gasolina
1.050.53 € em gasolina
649 € em dormidas
41 € em portagens
E resto foi mais em bebida do que em comida…

Despesa total: 2.215.48 €

O que me faltou?
Um pouco mais de tempo para explorar tanta beleza que tive de deixar para trás!

O que sobrou?
Encanto, beleza, surpresa e simpático acolhimento em todo o lado!

O que valeu a pena?
Seguramente que valeu a pena ignorar, mais do que nunca, todos os medos, e avisos, e temores, de uns e de outros, e ir onde queria ir!

O que teria dispensado?
Tanto calor, por tanto tempo, quase até ao esgotamento físico, porque a moral, nada a esgotaria!

O que me apetece dizer ainda?
Esta foi uma das viagens mais extraordinárias que fiz, por isso vai ter continuação!

O mapa das voltas que dei nesta viagem aparecerá mais tarde, pois está uma trapalhada que tenho de rever!

Adeus e até ao meu próximo regresso à estrada!

4 . Passeando pelos Balcãs… – de Saragoça até Albi

31 de julho de 2013

A cada vez que atravesso os Pirenéus faço-o por caminhos e direções diferentes, porque aquilo é imenso, é lindo e tem muito o que ver, não há necessidade de fazer eternamente os mesmos caminhos com tantas hipóteses de combinação diferentes!

Em Saragoça havia algo que eu queria visitar há tempos, o Palácio de la Aljaferia!

Trata-se de uma construção única do séc. XI que vem desde o tempo dos califas!

O edifício é extraordinário, com uma história infinita e ali funcionam hoje também as cortes de Aragão. É imponente olhar para ele, parece diretamente saído do passado!

As histórias que se sabe ali, com um guia simpático e bem-humorado que nos desafiava a repetir o nome do califa a cada momento! Claro que ninguém conseguia por isso marquei como trabalho de casa procura-lo e regista-lo na crónica que fizesse.

E então o homem chamava-se: Abu Jafar Ahmad ibn Sulayman al-Muqtadir Billah…

Se preferirem em árabe é: أبو جعفر أحمد “المقتدر بالله” بن سليمان

O palácio é lindo, apesar de se terem perdido os seus adornos originais, já que foi sendo alterado e acrescentado por cada rei proprietário e por fim pelos usos menos apropriados que lhe foram sendo reservados, como quartel de guerra!

Felizmente acabaram por restaura-lo e poupa-lo a mais danos e perdas…

Aquele que foi chamado pelo seu criador o Palácio da Alegria!

O palácio era fresco, mas o calor apertava já cá fora! Segui para norte, o destino era França, porque a Espanha é para se ver na Páscoa nas minhas voltinhas peninsuleiras!

Passei por Barbastro, uma terra que ficava no meu caminho e prometia uma boa esplanada para eu comer qualquer coisa!

Eu já tinha passado ali noutra viagem qualquer, por isso sabia que comeria bem e fresca!

A cidadezinha é simpática, fica na província de Huesca, uma zona que adoro! Cada vez que lá passo apetece catar mais um pouco! Mas isso seria se não tivesse uma imensa viagem pela frente para fazer, por isso comi, dei uma volta e segui!

O que eu gosto de conduzir pela montanha!
Não importa se a estrada está em bom estado, ou se as curvas são muito apertadas! O que eu gosto numa moto é de a conduzir e na montanha é aquela “aventura” que me apaixona e a minha moto adora também, parece que nem tem peso e que o seu corpo se molda à estrada!

Uma constante nesta viagem foi o parar para comprar água, beber meia garrafa e depois voltar a parar antes que ela aquecesse para beber o resto e assim se ia uma garrafa de 1.5l!
Ao menos a parar que fosse em sítios bonitos!

Porque assim poderia aproveitar para esticar as pernas e ver algo de interessante no entretanto!

E cheguei a França “pronto minha querida, já vais conhecer um pouco do 3º país da tua vida” dizia eu à minha Ninfa!

E o passeio continuava por estradas serpenteantes, daquelas que nunca se sabe quando acabam de subir e começam a descer porque olha-se e estão por todo o lado!

Ora se sobe, ora se desce, e volta-se quase ao mesmo sítio no fim, só que noutro nível! A D O R O!

E com esta brincadeira cheguei a Albi ao entardecer! O que eu me tinha divertido apesar do calor!

Albi era uma cidade que eu andava para visitar há uma série de viagens atrás, mas há tempo, e acabou por ser desta! A sua catedral de tijolo é impressionante! Acabei por não a visitar por dentro, nesta viagem não vi muitas igrejas, eram outras coisas que eu procurava por isso vi mais mesquitas e igrejas ortodoxas! Manias que eu crio assim de repente!

Mas certamente que um dia lá passarei e lhe dedicarei mais atenção, afinal a Cathédrale Sainte-Cécile d’Albi é um edifício gótico extraordinário, do séc. XII, que merece ser visitado!

Ali, enquanto me passeava pela zona mais antiga da cidade, um tipo passou por mim e cumprimentou-me por 4 vezes até eu ter um ataque de mau feitio e o mandar à me***!

Quando me voltei de repente para ele e lhe perguntei o que queria ele até deu um passo atrás! Afinal eu consigo intimidar um homem, heim? Porque terei de ter medo deles, pensei eu, no caso de num país qualquer ter de me descartar de um emplastro que me tente chatear! Fui-me embora a rir sozinha e alto o suficiente para ele ouvir! Desapareceu!

Aquelas ruelas são encantadoras, passeia-se por ali como numa historinha dos Irmãos Grimm !

Comi muito bem naquela noite! O senhor do hostel aconselhou-me um restaurante típico que foi uma deliciosa surpresa, Le Loup Sicret e era mesmo secreto! Se o homem não me tivesse falado dele nunca o encontraria pois fica bem escondido!

Entra-se por uma espécie de centro comercial e lá dentro, inesperadamente, tem um jardim lindíssimo onde eu jantei!

Uma versão deliciosa e sofisticada de hambúrguer de pato que mais parecia um prato de grande culinária, acompanhado de um delicioso vinho, ou não estivéssemos na terra do precioso néctar!

Naquela noite eu andava mascarada de turista “normal” de calções e tal, mas nem assim passei despercebida pois levava o chapéu! Manias!

Cá fora na praça o mundo parecia outro, feito de gente em esplanadas longe do recolhimento romântico do restaurante!

Foi um belíssimo serão, que serviu para retemperar energias e relaxar, como eu estava a precisar.

Fim do 2º dia de viagem!