25. Passeando pelos Balcãs… – Atenas e Micenas e o passado da nossa civilização!

20 de agosto de 2013

Acrópole é a parte alta de uma cidade, uma zona elevada e importante mas, “A” Acrópole é obviamente a de Atenas!

Fica no centro da cidade, elevada e cheia de construções extraordinárias e cheia de gente a toda a hora! Vai-se subindo e apreciando o que fica para baixo e para os lados como o teatro de Odeão de Herodes Ático

Chega-se à entrada e o povo é aos magotes pelo escadório à espera dos guias!

Estar ali para mim não tem nada a ver com turismo ou curiosidade por pedras famosas e antigas organizadas de forma curiosa… estar ali era como estar num templo, muito para lá do religioso! O templo da nossa antiguidade, da civilização ocidental…

Furei por ali acima, por entre gente que mostrava todo o tipo de interesses menos pelo que nos rodeava a todos… quase uma blasfémia… e ele estava ali à frente, o templo de Erecteion!

E as suas cariátides espantosas a quem dediquei tanto tempo de estudo muitos anos antes, estavam ali tão perto! Se eu pudesse tê-las-ia tocado…

E à direita o imenso Partenon…

O Partenon é aquele símbolo do passado, da cultura, da democracia e da civilização grega que tem de ser visitado… O monumento a Atena e que a ela deve o seu nome, já que albergava em si uma estatua em marfim e ouro da deusa Atena Partenos. Tudo o que eu queria era estar ali sozinha, não foi possível… nunca é! Pois é também um dos monumentos mais visitados no mundo!

Mas por momentos foi como se a multidão se evaporasse, o calor amansasse e o silêncio se sobrepusesse a todo e qualquer ruido! Um passo no passado que tocou fundo as minhas memórias e sonhos de jovem estudante de artes, quando sonhei pela primeira vez ali estar…

é uma sensação estar perante tal obra, onde ainda se pode ver uma pequena parte do frontão, já que o resto foi retirado e está no museu

De repente ninguém mais importava, era como se fosse apenas eu e aquela obra fantástica! Sentei-me no meio das pedras, ali onde ninguém passava por ser mais íngreme e mal jeitoso e desenhei…

Lá em baixo, mais a sul, outro teatro, o Teatro de Dionísio, diz-se que ele foi o berço da tragédia grega!

Do outro lado, ao longe fica o Monte Lycabettus, no meio da cidade, aquele onde eu subira na noite anterior e onde prometera voltar!

E eu queria ficar ali uma eternidade, rodeada de tudo aquilo que me fizera ir ali!

Olhava para os monumentos em todos os ângulos e voltava a dar-lhes a volta, e voltava a sentar-me, e voltava a desenhar…

As cariátides são aquelas colunas em forma de gente que suportam todo o peso do “alpendre” que as alberga! Elas são o expoente máximo da técnica arquitetónica grega e por isso são tão fascinantes!

De repente sentia-me completamente desorientada, como se tivesse caído no mundo real! O calor estava insuportável e as pessoas falavam alto… e eu nem dera quase por ela!

Tinha de ir embora, não havia mais nada a fazer ali

O povo continuava a chegar aos magotes e a escadaria de entrada estava intransitável!

Uma ultima espreitadela lá para cima e segui o meu caminho!

Atenas estava aos meus pés, mas o mais bonito de se ver era o ponto onde eu estava, por isso fui procurar outra perspetiva do quadro geral da cidade!

«E no dia seguinte voltei a subir ao Monte Lycabettus! A visita noturna, no dia anterior, tinha-me fascinado tanto que eu queria ver tudo de novo à luz do dia! E lá estava a Acrópole, no meio de um oceano de casas! O monte é o ponto mais alto da cidade, por isso tudo se passa lá em baixo em seu redor de uma forma fascinante! Fiquei ali em silêncio, pensando na pessoa privilegiada que sou por poder ir indo a cada sítio que sonho e neles viver momentos de paz que tocam a euforia do “eu estou mesmo aqui!”»

Atenas parece não ter fim, nem espaço algum entre todas aquelas casinhas brancas!

O monte Lycabettus é o ponto mais alto da cidade e tem no seu topo uma capelinha do séc. XIX dedicada a S. Jorge.

Ao lado há a tal passagem que eu descera no dia anterior, que é também uma saída do monte e que nos leva a um patamar livre de elementos perturbadores e onde a paisagem é soberba!

E fiz uma foto que seria um postal Maravilhou-me tanto ver a bela Atenas aos meus pés, cheia de vida e encanto que a fotografei e desenhei até à exaustão! Simplesmente não queria sair dali e só vou sossegar quando lá voltar! Foi como estar perante uma personalidade, uma estrela, daquelas que não se encontram sempre e por isso provocam um efeito de contemplação muda… momentos de paz e espanto…

Lá em cima do monte, para alem do restaurante e da capelinha, há um anfiteatro moderno onde se fazem festas!

E desci o morro na direção da Plaka, uma das zonas comerciais e pitorescas da cidade, onde se pode comprar de tudo!

Fui recebida por gente supersimpática que me tratou como uma heroína, na loja onde fui ver bugigangas! Uma loja familiar onde trabalhavam pai, mãe e filho. O filho também tem moto e queria dar a volta à Grécia comigo, pois ainda não tivera coragem de o fazer sozinho!

Acharam que eu era de outro mundo por andar ali de moto, vinda de tão longe sozinha, por isso, segundo eles, se estivéssemos na Grécia antiga dar-me-iam uma coroa de louros pelos meus feitos tão inscriveis e fantásticos (segundo eles), como estamos na atualidade, deram-me uma pulseira em turquesa e um olhito da sorte que me puseram ao peito, para me acompanhar na minha viagem até ao fim, e que nada de mal me acontecesse!

Momentos giros de muita risota e brincadeira!

Ainda embalada pelo bom ambiente na loja assisti a um episódio deplorável que me deixou estupefacta! Mais à frente fica uma igreja muito antiga, dizia uma placa colocada na sua fachada que era a igreja ortodoxa de Santa Catarina e que era do século XI.

Entrei para a ver por dentro, tinha uma fila de bancos a impedir a passagem para a zona dos altares e eu pus-me ali a olhar e ia tirar uma ou duas fotos quando uma fulana abriu a fila dos bancos e foi até ao altar! Um padre veio e tentou expulsa-la.

Os ortodoxos rezam tocando nas figuras, beijam-nas, põem-lhe as mãos, tornam a beijar, beijam de novo as mãos e tocam mais uma vez ou duas as figuras, num ritual repetitivo de beijos e toques. Entendi que não queriam que se fizesse aquilo ali, numa igreja tão antiga, por isso estava bloqueado o acesso aos altares.

Mas o que se passou a seguir ultrapassou os limites do bom senso e da religiosidade! O padre tentou expulsar a mulher e ela não acatou as suas ordens, por isso “pegaram-se” ela insistindo que queria rezar, ele insistindo que ela tinha de sair. Agarrou-a e tentou puxa-la para fora, ela insistiu, começaram a berrar um com o outro e, ele não conseguindo tira-la dali, pôs-se em frente do altar onde ela queria rezar, e ficaram ali os dois a ralhar um com o outro, enquanto ele se encostava às figuras de braços cruzados!

Eu nunca vira tal coisa e desagradou-me demais o ambiente! Que coisa feia, ainda por cima estando por ali turistas e gente estrangeira, como eu, de boca aberta a assistir àquela cena deplorável, dentro de um espaço religioso!

Tirei uma foto de fugida e fui-me embora dali, com uma enorme vontade de dar um par de chapadas a cada um por não se saberem comportar numa igreja…

O ar estava a aquecer rapidamente e eu tinha de decidir onde ia a seguir!

Não consegui resistir, estava tão perto de um local extraordinário (para mim) e eu iria lá, mesmo sofrendo com o enorme calor que se avizinhava… fiz-me à estrada, afinal já estava tão habituada a ele que era mais quilómetro menos quilómetro, certamente não me mataria mais uma escaldadela!

Fiz uma boa parte do trajeto sem luvas só para poder apreciar o presente que recebera! Gosto da cor turquesa e achei muita piada à pulseira! Gente boa, aqueles gregos!

Parei numa terra, lá no estreito braço de terra que une a zona continental àquela espécie de ilha, sem conseguir entender muito bem em que terra estava! Aquela letra grega põe-me grega de todo!

Estava um calor infernal e eu só queria beber água, muita água gelada, por isso parei junto a uma esplanada, sob o olhar atento de uma série de pessoas, pois a moto ficou quase dentro da esplanada! Era o lugar mais fresco na sombra!

Sentei-me numa mesa e o empregado veio atender-me com um imenso copo de água cheio de gelo! Bolas, era o que eu queria, água! Nem sabia mais o que pedir! Acabei por pedir um café, contando que fosse uma bosta qualquer mas sempre ajudaria a manter-me reguila!

Engano meu! O café era delicioso, diria que era mesmo muito parecido com o nosso! Puxa, cada vez gostava mais dos gregos!

Dei uma volta pela terra e percebi que por ali não era só eu que apreciava um bom café!

Por entre esplanadas cheias de gente, havia lojas de tudo, peixarias com um ótimo aspeto e floristas muito bem apresentadas e casas de café com os seus enormes moinhos à porta!

Fiquei ali a apreciar os diversos moinhos nas entradas das lojas de café, uma fulana meteu conversa comigo, tinha-me visto chegar e ficara impressionada porque me achava muito magrinha para poder com a minha moto tão grande! Puxa, e não é que de repente toda a gente me achava magrinha! Eu até já começava a creditar que se calhar até era verdade!

E ela insistia, como é que eu podia com a minha moto com um corpinho assim! Valha-me Deus, eu fui sempre imponente e toda a gente me achava magra de repente?

Então entendi que ela também tinha moto e, como era tão alta como eu mas o dobro de mim, achava que eu não tinha corpo para poder com a moto! Outras pessoas pareciam concordar com ela, mesmo eu dizendo que vinha de Portugal e que era a moto que me trazia às costas e não eu a ela!

A dada altura rematei a conversa com um “mas não seria por ter um cú grande que eu poderia melhor com a moto!”

A fulana pareceu não gostar muito da piada… ok, ela tinha um cú grande, aliás tudo era grande nela, e isso não queria dizer que ajudasse a poder melhor com a moto! Quando vi a sua moto percebi a sua duvida, ele era bem maior e volumosa do que eu e a sua moto era bem menos que a minha!

Segui o meu caminho como quem atravessa o deserto, que por ali é o que o clima e a paisagem lembram. As placas falavam cada vez mais grego e menos língua que se entendesse! Tive de parar junto a uma placa e copiar para o GPS aquela macacada usando o teclado grego (sim, que o meu Patrick é muito inteligente e fala grego!) antes que as placas fossem complicando e eu perdesse o tino ao meu destino! Μυκήνες, não é propriamente a coisa mais fácil de memorizar!

E lá estava ela… Micenas!

Comprei uma garrafa de água gelada e fui subir o morro, doseando a água como quem atravessa o deserto!

«Há coisas que eu preciso ver e que faço os quilómetros que tiver de fazer para lá ir… foi o caso de Micenas, aquele lugar quase sagrado que foi o centro da civilização grega lá pelo segundo milénio antes de cristo. Foi tão importante que deu o nome àquela época histórica: o período micénico. E a porta, o Portal do Leão, é aquela “coisa” imperdível e a construção mais famosa de Micenas. Uma construção fantástica composta por grandes blocos monolíticos, de mais de 3 metros, que suportam a pedra calcárica com duas leoas esculpidas! As horas que eu passei estudando esta “acrópole” na faculdade… e finalmente vi-a!»

Olha-se para ela como para um altar…

E eu fiquei ali, debaixo de um sol tórrido a olhar para o portal! Que coisa esplendida!

O túmulo circular, ou cemitério mais propriamente, tão perfeito e visível…

Aquilo é mesmo solo sagrado da nossa civilização, digno de ajoelhar e rezar como fazia o papa João Paulo II!

Há inclusive uma cisterna subterrânea ali! Não a pude ver porque não tinha luz comigo, uma falta imperdoável, e aquilo desce até 18 metros de profundidade, sem qualquer luz exterior portanto!

Não fui só eu que fiquei à porta!

Anda-se por ali, por entre pedras e caminhos com mais de 3.000 anos! Fez um efeito cá dentro!…

Chega-se à porta norte e ela é feita também de blocos monolíticos de toneladas! Como conseguiam eles erguer tais pedras?

Não conseguia sair dali! Sentava-me nas pedras e olhava em volta como quem vive um momento único e tudo quer gravar na memória!

Voltei finalmente para a porta, a minha água estava a acabar e o calor ameaçava esturricar-me os miolos, apesar do chapéu!

Ainda dei uma volta no museu, onde se podem encontrar imensos artefactos da época, descobertos por ali, bem como uma maqueta do local!

Fui comprar nova garrafa de água gelada e lá estava a minha motita à sombra, que bom, o sol não dera a volta suficiente para a deixar a descoberto, graças a Deus, senão teria sido um suplicio montar e andar!

Fiz-me à estrada a toda a velocidade, pois estava longe do sítio onde iria dormir. Apanhei a autoestrada, que aquele calor todo, mais toda a distância que queria fazer, não inspiravam a passeios demorados!

Passei por motociclistas que corriam para caramba sem capacete! Não consegui entender qual era o prazer de ir a 160km/h sem capacete, arriscando todo o tipo de imprevistos, desde mosquitos e poeiras a bater na cara, até a possibilidade de ser envolvido num acidente sem qualquer proteção para a cabeça! Mas eles lá andavam, com o capacete preso nas traseiras da moto e cabelos ao vento!!

Cheguei a Neos Panteleimonas ao entardecer. O GPS disse-me que chegava ao destino à direita e eu só via casas bonitas e particulares! “Valha-me Deus, lá estás tu desorientado!” Perguntei mais acima numa loja onde ficava o sitio que eu procurava… era exatamente onde o GPS dizia! “Pronto, ok, ganhaste, tu é que tinhas razão!”

Fui recebida por uma senhora supersimpática que se apressou a trazer-me uma cerveja gelada, que eu estava meio desidratada, embora tivesse passado o dia a beber de tudo!

Fui jantar ainda toda molhada do banho no restaurante mais acima! Ui e que bem eu comi!

Os senhores eram muito simpáticos, trouxeram-me imensas coisas boas para comer, pois eu deixei ao seu critério o que eu iria comer, já que não nos entendíamos! Eles perceberam que eu estava faminta e bastava! No fim posaram para uma foto e tudo! O jantar foi uma pechincha, por tudo o que comi, com vinho e café e tudo, paguei 12€! Que bem que soube!

A paisagem era o castelinho em frente, que eu podia ver da esplanada do restaurante onde me fui encher de comida!

E foi o fim do 22º dia de viagem… amanhã iria para Istambul, outro dos grandes destinos desta viagem!

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24. Passeando pelos Balcãs… – No coração da antiguidade – a deusa Atenas

19 de agosto de 2013

Aquela era a minha última oportunidade de passear mais um pouco por Meteora… eu nunca consigo deixar um local que me fascina sem voltar a passear um pouco por ele! E foi o que fiz, em tom de despedida, voltar a conferir todo o encanto dos últimos dias!

A minha cinta estava a apertar muito longe do velcro já, ao ponto de não “agarrar” e abrir-se facilmente! Bem, dali a nada estaria com as medidas das modelos esqueléticas, se não me aplicasse mais um pouco a tentar recuperar o meu peso! Estava a beirar os 66kg, que era pouco para mim e o meu 1.75m de altura, que não queria saber de magrezas para nada e tinha uma moto que pesava quase 5 vezes mais do que eu, para comandar!

Na realidade o efeito do excesso de calor, que me acompanhava há demasiado tempo desta viagem, estava a fazer-se sentir há alguns dias, com a tensão arterial a ficar baixa e os músculos a ressentirem-se, em cãibras e brecas que me atacavam até os dedos das mãos! Nada que um pouco de magnésio não resolvesse e siga para a luta!

A minha Ninfa lá estava em despedidas com a sua amiga dos últimos dias! Aquela moto não saiu dali durante os 3 dias que lá estive! Não pude deixar de pensar que “quem tem burro e anda a pé, mais burro é!” eheheh

E fui passeando, muito devagar, apreciando pela ultima vez aquele cenário envolvente de irrealidade!

Fiquei a olhar para o Mosteiro de Agia Tríada, ou Mosteiro da Santíssima Trindade.

Sem dúvida o mais impressionante pela sua localização, sempre usado como ex-libris do complexo… eu não o visitara e, de repente pensava “irei embora sem o ver?”

Eu tinha de descer da rua até ao funco para depois começar a subir o enorme penedo! O calor já estava a apertar mas, mesmo assim, eu fui! “Nah, não vou embora sem lá ir, que se lixe!”

Ali foi rodado o filme de James Bond “For your eyes only” e ninguém vai a Meteora sem o ir visitar!

Reza a história que os monges não acharam muita graça a todo o aparato das filmagens e tentaram boicotar os trabalhos fechando-se dentro dos mosteiros e pondo as suas roupas a secar penduradas no exterior, para “enriquecer” o panorama! Este mosteiro é um dos mais difíceis de alcançar com os seus 150 degraus, que sobem de forma ingreme, por um caminho escavado na parede de pedra do enorme rochedo isolado.

O caminho é “roubado” ao penedo, num meio túnel que sobe até lá acima e as perspetivas da redondeza que se vão vislumbrando valem bem o esforço!

A entrada neste mosteiro foi a mais “desinteressada”, o guardião não era monge, era um rapaz vestido como todos nós e não stressou nada em verificar o que eu fazia, “vista uma saia e boa visita” mais nada!

Por isso foi na maior descontração que visitei aquilo tudo e tirei fotos e tudo, “na boa”!

Aproveitei para pôr uma série de velinhas pelos meus amigos, pela minha família, pela minha viagem, por todos os viajantes e por aí fora, que eu adoro brincar com velinhas e aquelas eram particularmente interessantes, fininhas e giras, era só acender e espeta-las na areia!

Claro que fui pondo uma moeda por cada vela! Não tinham preço, mas tive o cuidade de pôr apenas moedas brancas! 😀

Assim como de Kalampaka se pode ver claramente o penedo do mosteiro, lá de cima a cidade é a paisagem!

Achei curioso que na ponta do penedo há uma cruz branca com um montinho de moedas aos pés! Acho que quando não há fontes ou lagos, as pessoas poem as moedas onde puderem!

Para o outro lado, apenas com uma olhadela 4 ou 5 mosteiros eram visíveis!

Desta vez custou-me ir embora! Eu ficaria ali mesmo, no mosteiro, por uns dias, de boa vontade!

Na torre do mosteiro podia-se ver o sistema de elevador de tempos idos! Imaginei-me a ser descida dentro da rede de corda e a ideia animou-me! Não me importaria nada, só para não ter de fazer todo o esforço para voltar para moto!

E era hora de sair dali! Oh valha-me Deus, a perspetiva era linda mas desmotivante! Estava tanto calor para descer e voltar a subir montes e degraus!

Quando finalmente cheguei à moto, depois de uma transpiradela que me fez ter vontade de voltar ao hostel e tomar um belo banho, tinha uma surpresa à minha espera!

Embora eu tivesse estacionada a moto numa nesga, entre a guia da rua e o muro, num sitio onde ninguém mais poderia estacionar, pois ficaria meio no meio da rua… um carro tinha-se posto na frente dela, tão perto que eu não conseguiria sair, pois a rua era inclinada e eu não tinha força para a puxar para trás! M%&$$#da!

Não havia vivalma por ali! Será que eu teria de esperar que sua excelência acabasse a visita para vir tirar o carro para eu sair? Que desânimo!

Então um carro aproximou-se, um carro todo velho e amassado com um fulano que cantava aos berros lá dentro, e parou! Fui-lhe bater ao vidro! “please, help me!”

O homem ficou a olhar para mim, estava a desfolhar papeis, parece que ía ao mosteiro tratar de negócios! Expliquei-lhe que precisava que me empurrasse! Saiu do carro e olhou para ver o que é que eu queria que ele empurrasse!

“Me??? No!!!” exclamou escandalizado com a moto! “too big, too big!”

Oh homem, um carro é mais big que a minha moto e qualquer homem o empurra! Peguei-o pelo braço e puxei-o até à moto “come on, you can do it!”

Só depois entendi o seu pânico! Ele pensava que eu era a dona do carro e queria que ele tirasse a moto para eu sair! Quando eu montei e expliquei onde ele devia pôr as mãos, na frente da moto para empurrar e a moto recuar, ficou paralisado a olhar para mim “Too big for you! You are too slim for it!”

Oh homem empurra que eu posso com ela, não te preocupes, raios!

E finalmente ele lá empurrou, puxa parece que não havia maneira de o convencer! Agradeci muito e fui embora, podia vê-lo pelo retrovisor, no meio da rua a olhar! Ele iria superar o choque e o espanto e voltar à sua vida normal, certamente!

Meteora ficou no meu coração e eu vou lá voltar um dia, para percorrer caminhos e trilhos e ver os mosteiros mais rudimentares e primitivos que estão longe dos turistas e das pessoas que não conhecem a zona. Há muito mistério e beleza única para desvendar por ali!

Parei em Trikala para tomar qualquer coisa fresca, junto ao rio, onde parece que toda a gente vai!

Também não apetecia afastar dali, como se apenas a visão da agua refrescasse um pouco os miolos!

A estátua de Asclepius, o deus da medicina, está ali no meio do rio, tão feiinha!

Fiz ali um belíssimo pic-nic, enquanto apreciava quem ia e vinha! Muita gente olhava para mim, como se eu fosse um ser bizarro! E não era por eu estar a fazer nada que eles não estivessem a fazer também! Acho que era o meu aspeto que lhes atraia a atenção, o chapéu espantava muitas pessoas por ali! Então eu sorria e dizia “hello!” e as pessoas sorriam também!

E ainda fiz amizade com uns polícias giros que vieram falar comigo, queriam saber se eu era inglesa! Não, sou portuguesa mesmo!

Consegui tirar-lhes uma foto quando se afastaram! Estavam sempre rodeados de gente o que me fez sentir que eram queridos de toda a gente, ou então era por serem giros mesmo! eheheh

E segui pelo mapa abaixo, por caminhos longe de autoestradas ou vias rápidas, trilhando estradinhas deliciosas, não fosse a altíssima temperatura que insistia em acompanhar os meus dias!

Eu sabia que ir a Atenas por uma curta passagem seria penoso para mim, porque é um destino e toda uma envolvência que quero visitar há demasiado tempo para apenas passar e seguir, mas não pude evitar faze-lo, levando em mente o que queria ver e fazer desta vez e planear depois o que fazer numa futura visita organizada já para tudo explorar!

É a minha forma de não lamentar o que eu não puder ver sem ficar por lá perdida tentando ver tudo!

Encontrei na Grécia os ciganos que estava à espera de encontrar na Roménia, não é irónico?

E, diga-se de passagem estragavam muito da paisagem que os rodeava com toda a imundice que espalhavam em seu redor!

Fui sempre andando por ruelas, conhecendo o aspeto menos “civilizado” do país, como eu gosto de fazer!

E cheguei à capital sem parar em lado nenhum, que o calor era pouco inspirador para paragens!

Fui recebida num hostel tão simpático e acolhedor que o ar fresco lá dentro apenas me inspirava a não sair mais.

Fiz amizade com o cachorro de serviço e tudo, entre cervejas frescas deliciosas e muita conversa com a rececionista, que me deu todas as indicações que eu queria, sobre como organizar uma visita ao país, indo também de ilha em ilha e onde deixar a moto para o fazer, que era uma das coisas que eu procurava saber em Atenas!

Quando o tempo arrefecia um pouco, saí para a cidade. Era tarde para visitar a Acrópole, por isso andei por ali, de esplanada em esplanada, apreciando o espetáculo e saboreando o delicioso café daquelas gentes, que é tão bom como o nosso!

Atenas está cheia de vestígios do seu passado grandioso, como o Estádio Panathinaiko, uma coisa com capacidade para 80.000 pessoas!!! Aqueles gregos eram loucos! Foi construído mais de 500 anos antes de Cristo, totalmente em mármore branco!

Já esteve em ruinas e foi restaurado no final séc. XIX aquando da realização dos primeiros jogos olímpicos da era moderna. Voltou a ser usado nos últimos jogos olímpicos em Atenas em 2004.

E andei por ali a vaguear, por solo sagrado para quem aprecia história e mito…

Ao tempo que eu sonhava ir a Atenas… e continuo a sonhar!

Subi ao Monte Lycabettus.
As voltas que eu dei para lhe encontrar a estrada, porque as ruas são íngremes, fazendo como que prateleiras quando se chega à rua de cima, e parecia que a moto bateria com a “barriga” no chão ao passar da ruela que subia para aquela a que ia dar! Tudo isto de noite, sem GPS a conduzir-me e sem ter a certeza de estar a fazer sentidos proibidos!

Lá em cima há um enorme espaço que estava cheio de carros, com famílias inteiras a curtir a paisagem, e jovens com música e tudo, num ambiente simpático, mas onde apena eu estava sozinha!

Senti todos os olhos pousados em mim, quando eu pensei que passaria ali despercebida, momentos de paz e contemplação!

Então comprei umas bugigangas para comer e beber numa roulotte que há ali e fui subir até ao ponto mais alto do monte onde há uma capelinha do séc. XIX e uma paisagem deslumbrante sobre a cidade!

Passa-se por um restaurante/café muito interessante e chega-se à capelinha, estava por ali muita gente também, num ambiente simpático.

Em que as pessoas tentavam desesperadamente tirar fotografias umas às outras com a cidade como cenário de fundo, sem entenderem que não era possível com os equipamentos básicos que tinham, já que com flash apanhavam as pessoas e o fundo negro, sem flash ficava tudo tremido, sem gente nem fundo que se aproveite! Eheheh

Ao lado da capela há uma descida, que é também a outra saída do monte, se a descermos um pouco, com cuidado pois os gregos adoram pavimentos em mármore e aquela treta escorrega para caramba, mesmo com o chão seco, chega-se a um patamar onde Atenas nos enche os sentidos…

Oh a Acrópole ali no meio provocou uma sensação…

Ali sim, fiquei em silêncio, não estava mais ninguém além de mim e soube tão bem….

E fui para casa, era o fim do meu 21º dia de viagem…