61 – Passeando até à Suiça 2012 – A Bélgica – Lier, Antuérpia e Sint Niklaas

29 de Agosto de 2012 – continuação

Voltei à estrada, por nacionais e secundárias. As casinhas na berma das ruas valem a pena o percurso, como as casas com telhados em colmo!

Lier é uma cidadezinha interessante

com a rathaus e o seu campanário a parecer uma igreja!

Logo ali fica o rio… aliás em Lier passa-se uma “guerra de rios” que se juntam e formam um novo rio, que se vai juntar a outro mais à frente para formar um novo ainda! Xi!

Na realidade em Lier forma-se o rio Nete, da confluência de 2 rios: o Grote Nete e o Kleine Nete! Depois ele segue pela zona de Duffel e vai-se juntar a outro rio, o Dijle e formam assim o rio Rupel! Muita água corre por aquelas bandas!

Mas eu tinha era fome, por isso andei a espreitar uma boutique de comidinha (e tinha tanta e com tão bom aspeto!) e decidi comprar o meu “tacho” e pic-nicar no jardim! Que fixe!

Ao fundo da rua da comidinha fica a Gummaruskerk, isto é a igreja de São Gummarus, o padroeiro da cidade.

Uma igreja gótica de entre os séc.s XIV e XVI, que não visitei por dentro porque estava fechada e porque me apetecia mais comer que visitar igrejas!

Mas certamente é muito bonita por dentro, a considerar pela sua beleza exterior!

Toda a cidade belga que se preze tem uma Grote Markt, isto é uma Grand Place, tal como as espanholas têm uma Plaza Mayor!

E era na Grote Markt que a minha Magnífica estava a chamar as atenções!

Umas senhoras ficaram estupefactas quando eu me aproximei dela e me prepararei para partir!
“Trop grande, trop lourd!!” (demasiado grande, demasiado pesada!) diziam elas!
“Pas de probleme, medames!” (sem problema, minhas senhoras) respondia eu! Eheheheh

“Vous êtes une diva!” diziam elas apontando para a montra mais à frente! Fartei-me de rir, mas não deixei de tirar uma foto ao passar na dita montra!

E foi no meio do trânsito mais intenso que cheguei a Antuérpia, a segunda maior cidade da Bélgica e o maior centro de comércio de diamantes do mundo!

(Para se ter uma ideia, 50% dos diamantes lapidados e 80% dos diamantes brutos são comercializados ali para o mundo.)

Antuérpia era aquela cidade que eu queria visitar apenas pelo nome! Porque desde sempre este me despertou a atenção, talvez apenas pela sua sonoridade…

Cheguei à Groenplaats… uma praça que tem uma história curiosa! Até ao séc. XVIII ali era o principal cemitério da cidade, então, quando a cidade estava sob o domínio austríaco o imperador mandou retirar o cemitério para fora da cidade e construir no seu lugar uma grande praça. Daí o nome "Groenplaats", que quer dizer “praça Verde”!

E é uma praça toda animada, com montes de gente sentada nos bancos enfileirados, ao sol!

Depois começam as ruínhas mais estreitas e chega-se à catedral, com uma escultura muito interessante que lembra os pedreiros construtores do edifício!

Mesmo à porta estava esta “coisa” monstruosa e minúscula! O homem devia ser quase um anão, mal me chegava ao ombro!

E lá estava ela imponente e linda!

A Catedral de Notre Dame, gótica dos séculos XIV e XV, é o maior templo da Bélgica, com uma flecha de quase 122 metros. Está em restauro e naquele dia estava fechada…

Paciência! Logo ali fica a Grote Markt com a rathaus do séc. XVI, linda!

Esta Câmara Municipal é muito importante na arquitetura porque foi construída num estilo inovador na época, contendo ainda vestígios do gótico tardio (o estilo anterior) em partes do edifício. Na realidade foi o primeiro edifício a ser construído em estilo renascentista! A obra do seu arquiteto Cornelis de Vriendt viria a influenciar outras construções pela Flandres!

A Grote Markt, em Antuérpia, é uma praça extraordinária rodeada por lindíssimos edifícios do séc. XVI, alinhados, com as suas centenas de janelas a fazerem padrões.

A fonte de Brabo, em frente à rathaus, honra a origem da cidade, que segundo a lenda foi libertada pelo soldado romano Brabo, que matou o gigante Antigoon que aterrorizava os habitantes e marinheiros que passavam pelo rio Escalda, cobrando metade dos seus bens pela passagem. Quando o “imposto” não era pago ele cortava as mãos aos desobedientes! Um dia Brabo navegava pelo rio e recusou-se a pagar e desafiou Antigoon para um duelo. Venceu-o, cortou-lhe a cabeça e a mão e atirou para o rio e é nesta atitude que é representado hoje nesta escultura!

Gostei bastante da cidade e da sua animação, com gente por todos os lados mas sem que isso significasse qualquer tipo de stress!

Mais à frente, na praça Hendrik Conscienceplein, fica a St Carolus Borromeuskerk uma igreja barroca impressionante, construída no séc. XVII.

Grande parte da igreja, incluindo a fachada e torre, foi projetada por Rubens.

Os confessionários são espantosos! Apeteceu-me tanto entrar e sentar ali!

Infelizmente, a maioria do interior de mármore e 39 pinturas do teto de Rubens e outros artistas da época foram destruídos por um incêndio em 1718… hoje é assim

Eu nem sabia que Rubens tinha projetado parte de uma igreja!

E voltei para a minha motita, por ruínhas com coisas muito curiosas!

Para vir encontrar junto ao rio Escalda o castelo Het Steen (A pedra), a construção mais antiga de Antuérpia. Começou a ser construído em 1200 e passou por diversas mudanças, reformas e demolições. Hoje funciona lá o museu marítimo.

Foi com este castelo que se “construiu” a lenda do gigante Antigoon e do soldado romano Brabo e lá está o gigante numa escultura inspiradora, antes de levar uma tareia do romano e de ficar sem mãos!

Desta lenda e deste castelo surge o brasão da cidade:

Ainda dei uma vista de olhos pelo interior do castelo.

Há momentos em que parece um castelinho de brincar, com uma vista para a cidade interessante!

Estava lá dentro a decorrer uma atividade com miúdos e eu pus-me a andar, que farta de miúdos ando eu o ano todo! 😀

Estava a chegar um grupo de turistas que tinha ido visitar a cidade naquelas coisas curiosas de 2 rodas! Um dia vou-me meter a andar naquilo numa cidade qualquer a ver como é! Eles pareciam muito divertidos!

Despedi-me da cidade e segui caminho para Sint Niklaas!

Por ruas secundárias ladeadas por casinhas deliciosas onde apetecia mesmo viver!

Sint Niklaas quer dizer São Nicolau, esse mesmo, o do Natal!

E na Grote Markt, que lá também há uma e também é grande…

está o santinho em frente à rathaus, um edifício do séc. XIX muito interessante!

Uma escultura do 1997.

Achei piada ao cesto dos presentes com as crianças dentro!

E estava na hora de ir para casa.

As ruas secundárias naquele país parecem todas feitas naquela espécie de lajes de cimento, como as pistas dos aeroportos! E o aborrecido são as junções que fazem um “trec…. trec…. trec” ao passarmos por cima! Uma pena porque as paisagens mereciam sossego na condução!

A minha casa seria ainda em Brugge por aquela noite… Brugge com os seus moinhos junto aos canais, à medida que nos aproximamos da cidade!

E entra-se serenamente na cidade

Com as pontes levadiças que Van Gogh tanto representou nas suas pinturas, embora na Holanda!

Não há muitos fins de tarde tão bonitos como naquela cidade!

Pousei a minha Magnifica no seu recanto, onde dormiria mais uma noite, e fui confraternizar com o povo da pousada, que o dia fora longo e apetecia conversar, comer e beber!

E foi o fim do trigésimo primeiro dia de viagem…

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56 – Passeando até à Suiça 2012 – Reims, Arras, Kortrijk e a bela Brugge!

27 de Agosto de 2012 – continuação

Claro que Reims é aquela cidade que é grandiosa pela catedral grandiosa que tem! Que se há-de fazer? Foi o dia das catedrais/basílicas/igrejas! Fiquei muito mais santa depois daquele dia! 😉

E não consigo passar em Reims sem ir ver a dita catedral! É “apenas” a catedral mais extraordinária de França!

A Catedral de Notre-Dame de Reims é aquele monumento incontornável que ninguém consegue ignorar quando passa perto da cidade! Construída no séc. XIII é até hoje uma das duas catedrais góticas mais importantes de França, juntamente com a catedral de Chartres.

Na realidade ela é o monumento, é a igreja, é a cidade, é tudo naquele recanto de França! Olha-se para ela e olha-se para o poder humano sobre a pedra, a gravidade e a beleza!

Ali se passaram alguns dos momentos mais importantes e inesquecíveis do país, entre eles a coroação de Carlos VII, em 1429, com a presença de Joana D’Arc, depois de ela ter liderado a expulsão dos ingleses do território!

Sobreviveu milagrosamente aos intensos bombardeamentos da II Grande Guerra, embora bastante danificada. Mas felizmente, enquanto uns humanos destroem, outros reconstroem e ela ali está hoje, magnifica!

Grande parte dos vitrais medievais da catedral desapareceu, vítimas da sua fragilidade e da estupidez humana… já que a catedral foi bombardeada insistentemente na primeira guerra também, por exemplo!

E lá estavam os vitrais de 1974 de Marc Chagal, pintor francês de origem russa que visitava frequentemente a cidade para trabalhar.

Pela maqueta da catedral pode-se ver a dimensão do edifício, se compararmos o seu todo com a dimensão das portas, por exemplo!

E os interiores são lindos e misteriosos, testemunhas da história de um povo!

A rosácea, sobre o portal principal, é extraordinário e nesta catedral é única e característica, pela sua dimensão, beleza e enquadramento no conjunto arquitetónico e escultórico!

E ela faz-nos sentir bem pequenos e insignificantes aos seus pés! Curiosamente a sensação que tenho sempre, quando estou junto dela, é que é mais “poderosa” que a de Colónia ou Estrasburgo! Talvez porque, por não ser tão alta, tem um ar mais robusto e próximo de nós! Quase ameaçadoramente próxima de nós mortais! 😀

As suas torres são “cortadas” o que ajuda a sensação, pois não sendo pontiagudas, como as das outras catedrais, tornam-na mais larga e baixa!

No jardim em frente a estátua de Joana D’Arc, permanece junto do local onde levou o seu rei…

Para sempre espantosa aquela igreja…

E continuei o meu caminho para norte, fazendo com que Arras ficasse no meu caminho, uma cidade que me chamou a atenção na história!

Uma cidade com uma história antiga, feita de invasões, influencia, cultura e encantos, mas também de destruição e guerra, já que foi palco de batalhas e invasões com edifícios destruídos tanto na Primeira quanto na Segunda guerra! Centenas de suspeitos da Resistência francesa foram executados ali, durante a Segunda guerra, quando a cidade esteve ocupada pelos alemães…

A Camara Municipal e o seu campanário estão catalogados pela Unesco! Originalmente construídos entre os sécs. XV e XVI em estilo gótico, mas destruídos durante a Primeira Guerra, em 1915: o campanário foi destruído e o edifício da Camara queimado juntamente com grande parte da cidade …

A reconstrução foi feita com todo o cuidado, mas desta vez em betão armado, segundo o trado original…

A Grand’Place d’Arras com cerca de 2 hectares de área, onde desde sempre se fizeram feiras e mercados, e as suas 155 casas flamengas de estilo barroco, construídas a partir do séc. XVII.

Tudo ali e pela cidade toda, foi severamente afetado pelos bombardeamentos da Primeira Guerra. Toda a gente foi também sujeita à obrigação de apresentar os planos para as reconstruções, afim de que não se perdesse o traçado nem o aspeto anterior à destruição!

E foi uma medida acertada a considerar pela harmonia e beleza que se recuperou!

E voltei a partir, para entrar finalmente na zona flamenga da Belgica!

Segui para Kortrijk, nome flamengo que em português se chama Courtrai, com a sua Grote Markt, uma praça encantadora e que parece o centro do mundo dali!

O campanário da igreja de Sint-Maartenskerk ao fundo, que é o mesmo que dizer igreja de São Martinho como está fácil de ver!

Estava fechada, mas mesmo por fora é linda!

Gótica do séc. XIII … há lá dentro coisas que eu queria muito ver, mas terá de ficar para a próxima vez…

O seu campanário de 83 metros! Imponente!

Mais à frente fica a Onze-Lieve-Vrouwekerk kortrijk, que é o mesmo que dizer a Catedral de Nossa Senhora de kortrijk!

Uma construção do séc. XII em estilo românico, é um dos edifícios mais antigos da cidade e é “protegido” por isso!

Já foi como que uma fortaleza para proteger a população em tempos muito remotos e isso é visível pelo seu ar robusto e inexpugnável!

Ao longo da sua longa história muitas histórias passaram por ela, desde pilhagens, destruições, roubos, armazenamento de serreais e a iminência da demolição… a tudo sobreviveu com o esforço da população…

Foi fortemente danificada durante a Segunda Guerra em que, alem dos bombardeamentos, peças, como o relógio da torre, foram roubadas pelos alemães!

Os seus interiores não são românicos há muito, devido às remodelações posteriores, mas contem ainda recantos muito bonitos e antigos, como a Gravenkapel, do séc. XIV, já em estilo gótico!

No meio da praça fica o monumento aos mortos na Primeira Guerra..

Uma espécie de campanário com um telhado no topo onde personagens douradas deverão tocar um sino, ou algo parecido!

Na outra ponta a camara municipal, um belíssimo edifício barroco!

Cá está ele! A minha motita estava estacionada pertinho!

Peguei nela e segui caminho para Brugge, uma das cidades mais encantadoras que conheço e onde ficaria vários dias.

A sua Grande Praça, Grote Markt, é encantadora! Como eu dizia um dia, que me desculpe Vitor Hugo que achava que a Grande Praça de Bruxelas era a mais bonita do mundo… mas esta não lhe fica nada atrás!

A torre Halletoren, do séc. XII é espetacular e possui um carrilhão com 47 sinos que naquele dia estaria em concerto, por isso havia uma bancada montada na frente!

Podia-se entrar no espaço interior

Mais uma torre que eu gostaria de subir um dia, mas são 366 degraus que me arruinariam os músculos das pernas… por isso ainda não foi desta vez que subi!

O palácio provincial fica logo ali ao lado!

Mas eu estava era cheia de fome e fui buscar a motita para o meio da praça, onde outras motos estavam instaladas também e fui eu mesma instalar-me para comer!

Enquanto a moto espantava olhos eu enchia-me de mexilhões! Ui, o que eu gosto daquilo!

A paisagem da esplanada do restaurante era tão bonita que nem apetecia ir embora!

Demorei o tempo todo do mundo, a comer, a beber e na conversa com quem estava por perto, até a noite me chamar para a cama!

O concerto do carrilhão iria começar a qualquer momento, mas eu não esperaria, fui-me embora para casa, que naquele dia era em Brugge!

Fim do vigésimo nono dia de viagem!

54 – Passeando até à Suiça 2012 – Luxemburgo e Verdun… o campo de batalha…

26 de Agosto de 2012 – continuação

Luxemburgo é um país surpreendente que ainda hei de catar devidamente um dia destes. Naquele dia eu apenas queria dar uma volta pela cidade de Luxemburgo, que conhecia apenas de passagem e sabia que tinha encantos que mereciam ser visitados!

Como a catedral de Notre-Dame, do início do séc. XVII, num estilo gótico tardio já com elementos renascentistas.

Estava em missa, mas ninguém impedia as pessoas de entrarem e admirarem a construção.

A igreja é muito bonita, sendo já uma mistura de estilos contem elementos decorativos curiosos que não existiram se fosse apenas gótica.

Muito bonita e eu ainda não a tinha visto por dentro por a ter encontrado sempre fechada!

Depois andei pela zona antiga da cidade, que circunda a catedral. Uma zona muito animada e cheia de turistas, o que contrastava com a última vez que ali estivera e que não havia vivalma na cidade!

Luxemburgo é uma cidade encantadora com o mesmo nome do país de que é capital e lá, na zona baixa da cidade, fica o também encantador Chemin de la Corniche, um percurso pedestre, conhecido como “a varanda mais bonita da Europa”. Era lá que eu queria ir!

Passeia-se por ali, por caminhos ora escavados nas rochas, ora pela borda do rio Alzette ao longo das muralhas da cidade velha e das fortificações construídas pelos espanhóis e austríacos no século XVII.

Lá em baixo no vale de la Corniche a perspetiva do desnível é deslumbrante, enquanto se passeia por entres as casas de pescadores de outros tempos.

Cá em baixo fica o Grund, um dos distritos de Luxemburgo, que se divide em duas zonas sendo a outra a zona alta da cidade.

A Abadia de Neumünster domina a paisagem, cá em baixo. Inicialmente românica, mas depois de diversas destruições e reconstruções, chega até nós numa mistura de estilos!

No “meio” entre o Grund e a cidade alta, fica uma série de cavernas, caminhos escavados e as Casemates, que são património da Humanidade, cá de baixo podem-se ver as aberturas nas rochas.

Enquanto as pessoas se apinhavam lá em cima nos percursos e nas casemates, eu passeei-me cá em baixo, completamente só no sossego da margem encantada do rio Alzette.

A abadia é também um centro cultural e ainda tive direito a visitar os seus claustros e uma belíssima exposição de fotografia de viagem!

Voltei a subir à cidade alta, porque o meu fascínio estava lá em baixo e de outra perspetiva é sempre encantador!

De cima podia ver os caminhos que percorrera cá em baixo na margem do rio e a abadia e o centro cultural.

Adorei a cidade vista desta perspetiva! Valeu a pena dar a volta ao meu caminho e passar por lá!

Mas o meu objetivo ao desviar-me não era apenas este destino… havia algo que eu queria ver ainda, mais à frente e num contexto completamente diferente!

Há 2 anos andei a passear por campos de batalha da Segunda Grande Guerra, desta vez andaria por campos de batalha da Primeira: Verdun!

Ainda parei em Esch-sur-Alzette, pois sabia que lá existia uma catedral espetacular… mas estava fechada!

A cidade é bonita e uma das maiores do país, mas o tempo estava uma bosta, o ambiente sombrio e desértico e eu deixei para visitar noutra altura… coisas que me dão!

A minha Magnífica a espreitar para mim por trás de uma arvore! 😀

Peguei nela e segui para o sol e para a guerra…

A Batalha de Verdun foi uma batalha terrível, entre franceses e alemães, que durou quase todo o ano de 1916.

Andar por ali teve em mim um efeito próximo do que teve visitar Auschwitz… cheira a morte, quase 100 anos depois e os monumentos, marcos, lapides e todo o tipo de memórias de morte, multiplicam-se por quilómetros e quilómetros da área que foi o grande campo de batalha…

Aldeias “destruídas” na batalha são relembradas em capelas e placas…

Fiquei chocada quando, ao seguir as placas que indicavam uma aldeia destruída e ao chegar lá…

Tudo fora reduzido a placas e a espaços nus por entre a relva… como se cada casa desaparecida tivesse dado lugar a terra queimada onde nada nasce, nada cresce!

E tudo é silêncio por ali ainda hoje!

Na época calculava-se que tivessem morrido mais de 700.000 homens, entre franceses e alemães…

O que faria uma média de 70.000 mortos por cada mês de guerra…

Numa batalha que foi a mais longa e a mais sangrenta daquela guerra e de toda a história militar!

Hoje pensa-se que o número de mortos foi mais elevado que o estimado na época… para mais 250.000…

O Ossuário está em restauro, bem como o extenso cemitério militar… não entrei no Ossuário…

“A batalha de Verdun – 21 de Fevereiro – 18 de Dezembro 1916, 300 dias e 300 noites de combates ferozes, terríveis. 26.000.000 obuses disparados pela artilharia, sendo 6 obuses por metro quadrado, milhares de corpos mutilados, cerca de 300.000 soldados franceses e alemães considerados desaparecidos.”

“O ossuário mantém dentro de si os restos de soldados mortos no campo de batalha, a fim de preservar sua memória.”

Ali ao lado fica um monumento para os soldados muçulmanos que morreram na batalha.

Por todo o lado é frequente encontrarmos zonas de relvado ondulado que são trincheiras, espaços ocos, onde os homens se protegiam…

E o Fort de Douaumont, o maior da região de entre os 38 fortes construídos nos últimos 25 para proteger a linha fronteiriça numa área de 40km em redor de Verdun… era novo quando começou a batalha de Verdun…

Ao entrar ali percebe-se que ser soldado não era muito diferente de se ser prisioneiro!

500 homens viviam ali, por baixo de terra, sem grandes condições e numa guerra permanente, já que os ataques alemães eram intensos!

A “Tourelle de 155mm”

As casas de banho…

e uma cidade subterrânea e húmida…

e podia-se descer mais pelo abismo!

Os lavatórios, cheios de estalactites do tempo e da humidade!

Ao fundo a capela…

Atrás da cruz branca estão os corpos de 400 soldados franceses e 30 alemães mortos no forte…

O ambiente torna-se pesado, não pelo cheiro ou pela humidade, pois curiosamente não cheira a nada nem sequer à humidade! É a história que pesa no coração da gente!

Cá fora estava sol e subi ao topo do forte, que não é muito alto…

E por ali se entende o ondulado da relva, sabendo o que está por baixo!
As Tourelles…

Furos de balas nas carapaças das Tourelles…

Ainda passei por outra aldeia destruída, Vaux…

E fui-me embora, por entre mais memoriais e mais lápides de mais trincheiras…

Até só ver cemitérios de quando em quando…

Depois foi o vazio e a imensidão e fui andando, ainda com o coração oprimido pela viagem ao passado, tão presente ali…

Uma paisagem infinita e infinitamente bela serena-me sempre o coração e naquele momento era tudo o que eu precisava!

E parei para dormir em Troyes…

E foi o fim do vigésimo oitavo dia de viagem… sem conseguir evitar de falar e mostrar tanto de um dia que me ficou para sempre na memória… sorry!

53 – Passeando até à Suiça 2012 – Nürburgring

26 de Agosto de 2012

Por estranho que pareça, quanto mais a viagem avança, maior é a sensação de não ter visto tudo o que queria, a sensação de que deixei para trás tanta coisa fantástica e de que não conseguirei ver tudo o que poderia aproveitar para ver em cada zona onde passo!

De repente o tempo parece tão pouco e tanta coisa que quero ver!

É nesses momentos que me apetece não parar nunca de viajar e continuar eternamente na estrada!

Ao mesmo tempo sinto-me uma desnaturada, que não tem saudades do seu país, apenas da sua gente! É nesses momentos também que eu me deixo levar pelo que a vontade me dita, rapo do computador, ligo-me à net e reformulo percursos e mudo reservas e no dia seguinte parto noutra direção!

Foi o que por aqueles dias fiz e, em vez de seguir para norte… desci para o Luxemburgo!

Segui em direção a uma terrinha pequena e discreta que contem um circuito mítico!

O Autódromo de Nürburgring é um circuito na cidade de Nürburg a pouco mais de 50 km de Koblenz. Tinha estado a falar sobre ele com o dono do Hostel onde dormi e decidi lá passar.

Andei por ali a catar. Na cidadezinha não faltam carros desportivos a alugar para quem quiser participar nos famosos “track days”, do circuito!

O circuito foi construído em 1927 e foi a sede anual do Grande Prémio da Europa de Formula 1 até 2007.

Dei-lhe a volta por fora, ouviam-se máquinas em velocidade, eram motos!

Havia por ali uma série de motos estacionadas, os seus tripulantes deviam ter entrado a pé! Mas aquilo tinha ar de ser longe o suficiente para eu ter de caminhar um bom pedaço, por isso arrisquei ir de moto! O pior que me podia acontecer era mandarem-me para trás! Ninguém mandou e eu segui!

Havia motociclistas por ali a pé, com os capacetes no braço… ficaram a olhar para mim mais a minha motita! Pus-me a ver a corrida!

Não sou pessoa de me pôr muito tempo a ver as motos passar, por isso fui cuscando um pouco por ali

E segui o meu caminho na direção de Luxemburgo, que o dia prometia ser longo!

(continua)

52 – Passeando até à Suiça 2012 – Bonn e Köln

25 de Agosto de 2012 – continuação da continuação

Era cedo, já tinha visto o nque queria e o resto do dia estava por minha conta!

A escolha foi rápida e óbvia, embora repentina! Sempre que passava por “aquelas bandas” e via as placas a dizer Bonn, pensava para mim que da próxima vez teria de lá passar! E foi desta!

Nunca pesquisei se a cidade era bonita ou não, mas era um nome que trazia na mente e, só por isso para mim, valia a pena visita-la.

Afinal é a terra natal de Beethoven e foi a capital da Alemanha ocidental – RFA, durante a divisão do país em República Federal e República Democrática, enquanto Berlim leste era a capital da RDA.

No outro extremo da Marktplatz fica o edifício barroco da rathaus antiga, que assistiu a grandes momentos da cidade, sendo muito danificado durante a guerra. Hoje está lindo depois de restauro profundo e de boa manutenção!

Logo ali ao lado fica a Münsterplatz

e a Catedral, um magnífico exemplar de arte românica no vale do Reno e uma das mais antigas da Alemanha, construída entre os séculos XI e XIII.

Que tem junto, na parte de trás, duas cabeças descomunais “caídas”!

Faz um efeito ver tamanhas cabeças por ali, como se tivessem caído e rolado de 2 monstruosas esculturas! Claro que quis saber a que propósito ali estavam e encontrei quem me narrasse a história!

Na realidade a basílica foi edificada num local sagrado há mais de 2.000 anos, primeiro como um templo romano e depois como uma igreja cristã e santuário para os mártires Cassius e Florêncio.

Reza a história que dois soldados cristãos romanos estacionados na Castra Bonnensia, Cassius e Florêncio, foram martirizados por causa da sua fé.

Então ali foi construído um pequeno santuário/memorial junto dos seus túmulos no século IV, por Helena, mãe do imperador Constantino. Não há sinais desta primeira estrutura, mas as escavações arqueológicas mostraram que a basílica fica no local de um templo romano e necrópole.

As duas esculturas são por isso as cabeças dos dois Santos Cassius e Florentius ali decapitados.

A igreja em si, desiludiu-me um pouco, à primeira vista, por causa das luzes pirosas que lhe davam um ar de igrejinha de aldeia com enfeites meio de gosto duvidoso, que dão um ar “de plástico” ao edifício….

Mas depois da gente se habituar às cores fortes de semelhantes luzes, conseguimos ver a construção em si, e essa é bonita!

A cripta fascinou-me muito mais com o seu ar e luminosidade sóbrios e naturais!

A luminosidade da igreja fazia lembrar a luz negra das discotecas, mas vista cá de baixo da cripta, até ficava curiosa!

E a estatua de Helena, que é santa, a mãe do imperador romano. Diz a lenda que ela encontrou a cruz de Cristo em Jerusalém e por isso aparece sempre representada com ela.

Tanta história e tanta igreja dá cá uma fome que tratei de me juntar a mais uma festa, ali mesmo em frente à catedral, para me encher de cachorros e cerveja, no meio da animação popular, que aqueles alemães parece que passam o mês de Agosto em festa!

Quando dei por mim já falava com gente que nem inglês sabia falar direito! Eheheh

Na outra ponta da festa ficava o edifício antigo dos correios com a estátua de Beethoven em frente, erigida aquando da comemoração dos 75 anos do seu nascimento, em 1845, apenas 18 anos depois do seu falecimento…

E era minha obrigação, pelo menos, passar na sua casa, já que ali estava! Já estive na casa de Mozart, em Salzburgo, na de Bach, em Leipzig e agora acrescentaria a de Beethoven, em Bona!

E lá estava a cara do génio pintada numa parede!

E o museu, mesmo na porta ao lado daquela que foi a sua casa durante os primeiros vinte e tal anos da sua vida, até partir para Viena!

A casa é gira e está bem conservada, mas eu não a visitei. Fica para outra vez, pois estava a fechar!


Ora, podia ser tarde para visitar a casa e o museu de Beethoven, mas era cedo para ir para casa, por isso continuei o meu caminho até Köln.

Voltei a Colónia, à catedral que parece que chama por mim e que volto a visitar a cada passo! Esta construção imensa, que na época em que foi concluída “destronou” a catedral de Estrasburgo como edifício mais alto do mundo, possui uma nave extraordinária com 43 metros de altura, contra os 32 da nave da outra catedral!

E são 11 metros mais de grandiosidade e espanto, que me fazem andar por ali de nariz no ar até à vertigem!

Começou a ser construída em 1248 e só foi concluída em 1880, 632 anos depois. Sobreviveu, milagrosamente à violência da II Grande Guerra que quase a derrubou, quando foi bombardeada por 14 vezes, mantendo-se de pé, no meio dos escombros da cidade derrubada!

É verdade que a catedral não ruiu e, se virmos imagens da época, nem dá para entender porquê, já que parece o único edificio de pé, numa cidade em ruinas! 😮

É um dos edifícios góticos mais espantosos que conheço!

Dizem que alberga os restos mortais dos 3 reis magos e, embora já lá tenha ido por diversas vezes, ainda não consegui vê-los! A área está sempre “indisponível para visita! Naquele dia estava a decorrer uma celebração com direito a coros e nem se podia entrar verdadeiramente no espaço principal da igreja. Ou íamos rezar, ou ficávamos na ponta da igreja, do lado de fora dos cordões de proteção, devidamente guardados por padres de vermelho, ou acólitos ou lá o que eram!

Está a ser limpa por partes e tem uma das torres parcialmente empacotada para esse trabalho

Decidi ir passear um pouco para fazer horas e passar pela “casa das bolas”, onde sempre vou comprar 2 bolas de Berlim muito fixes! Já é ritual, a cada vez que ali passo! 😀

E andei por ali a lambuzar-me com as bolas de Berlim, que eu não sou apreciadora de bolos, mas tenho as minhas exceções: como bolas quando vou a Colónia!

A fachada da catedral é vertiginosamente alta e a gente sente-se bem pequenininha cá em baixo!

Em frente da catedral está edificado, como se de uma escultura normal se tratasse, um florão igual aos que estão colocados lá em cima, no topo das torres, e é enorme, conforme se lê nas placas explicativas escritas em todas as línguas sobre a sua base:

Lendo-se a placa percebemos que cada florão mede 9.50 metros de altura por 4.60 metros de largura! Faltava saber quanto pesa… e acho que toda a gente se afastaria das torres, só de imaginar uma coisa de toneladas lá no topo!

Olhamos para ele no chão e custa a crer que os de lá de cima sejam tão grandes!

Então pus-me a tentar apanha-los com a máquina fotográfica!

E lá estavam eles no topo do bico florido! Como terão levado semelhante coisa lá para cima era o que eu gostava de ver!

Voltei à catedral a ver se já podia fazer uma visita aos reis magos…

A celebração estava a acabar e não deixavam passar para trás do altar, onde está o cofre com os ditos senhores!

Seria uma coisa parecida com esta mas muito maior o que eu procurava! Está mesmo atrás do altar-mor…

Mas, mais uma vez não deixavam passar! Ainda não foi desta que eu consegui ver o relicário…

Ainda dei uma olhada à flecha da catedral, estava rodeada de andaimes.
Um dia eu voltarei lá… quando ela estiver totalmente limpa e aí talvez eu possa passar para trás do altar…

Voltei direitinha para Koblenz, que estava a ficar de noite!

Fim do vigésimo sétimo dia…