Glasgow – 12 de agosto de 2014

Glasgow ficará para sempre lembrada como a terra do azar para mim! Se alguma vez eu disser que vou voltar à Escócia, por favor alguém me lembre de não ficar em Glasgow, apenas passar e andar!

Apenas falhou por uns 7 dias para ser exatamente 3 anos depois do tal dia 19 de agosto de 2011, quando o primeiro azar se manifestou…

Pois, e hoje foi dia de azar de novo!

Às vezes perguntam-me como farei eu se tiver um azar em viagem, estando sozinha, uma avaria um furo, qualquer coisa!

Uma avaria, tive-a cá no tal dia 19 de agosto e resolvi-a com a minha seguradora e a gente daqui.

Um furo, tive-o hoje e resolvi-o conduzindo por cerca de 40 milhas até chegar onde me pudessem ajudar. Gente simpática, de oficina em oficina, lá me foram mantendo o pneu suficientemente alto para a jante não chegar ao chão, até chegar a uma oficina Honda em Ayr.

O furo? Era uma enormidade, o que foi mantendo um pouco de ar foi o próprio parafuso que o provocou. Um parafuso enorme que atravessou o pneu em dois sítios, por onde entrou e por onde saiu a ponta!

O parafuso era esta coisa monstruosa!

Tudo está bem quando acaba bem… espero!

Até amanhã!

1. Passeando por caminhos Celtas

Cucu!

Pois é, já parti o meu porquinho e já decidi o que vou fazer a seguir!

Não importa quanto tinha, importa o que posso fazer com o que tinha…

E o desenho foi feito à medida do que posso fazer!

Então, depois do azar que tive em 2011 com a minha Magnifica, volto para completar as minhas explorações e passear por essas terras celtas que tanto me chamam há tempo demais!

O meu plano A era outro, mas irrealizável para já, por isso sai o plano B, que será memorável!

Desta vez, baseada no “queres que te faça um desenho?” para ilustrar um pouco do que quero fazer fiz mesmo um desenho!

Digam-me que não está um desenho lindo!

Ora o desenho mais perfeitinho, apenas contendo os pontos onde dormirei, feito no Google maps, ficou assim!

O desenho que fiz à mão, lá em cima, é mais próximo das voltinhas que darei na realidade, o que fará com que esta volta vá dos 8.000km, do Google maps, para uns 13 ou 14.000 na estrada, depois de muito floreado o percurso!

Será isto o meu mês de agosto… desejem-me sorte!

37 – Passeando até à Escócia – De Trier até Dijon!

29 de Agosto de 2011

O meu caminho de regresso continuaria rumo a sul, mas não tinha de ser uma viagem sem interesse, por isso continuaria sem fazer vias-rápidas e muito menos auto-estradas. Há tanta coisa para ver e visitar naquele caminho que difícil seria escolher o que ver e fazer!

É esta sensação de liberdade de decisão de última hora, conjugada com o trabalho de casa feito e que me acompanha, que me fascina! Eu faço o que quero como quero! Paro aqui ali e acolá, tiro fotos sem fim ao que me apetece, como quando quero e o que me dá na telha e sigo sem perder tempo! É delicioso viajar assim!

A dormida seguinte seria em Dijon, a terra que chamei da maionese, quando na realidade é da mostarda! Mas até chegar lá havia uma série de sítios onde eu queria passar… alguns deles míticos para mim…

Fui passear para Trier, a cidade que me atraíra tinha tudo para me cativar!

Cheguei ao centro pela Porta Nigra, onde eu vira no dia anterior um parque para motos.

Foi um conforto ter onde por a moto sem stress, depois de tanto tempo sem saber onde a estacionar por terras de sua majestade!

E, pormenor curioso, no parque existe um mapa onde estão assinalados todos os parques para motociclos da cidade! Extraordinários estes alemães!

O sol estava delicioso!

Fui descobrir o Hauptmarkt, que quer dizer “mercado principal“ e é a praça central e uma das maiores da cidade. É muito bonita!

Lá atras da primeira fileira de casas fica a Igreja de St. Gangolf que é a igreja paroquial da cidade.

Entra-se por uma porta entre as casas para o pequeno patio de acesso à igreja.

A construção original era muito mais antiga, esta tem uma base gótica tardia já com decorações barrocas

Embora o barroco não seja o estilo que mais me fascina, tenho de reconhecer que aqueles tectos são muito bonios!

Na praça podem-se ver edificios bem antigos e lindissimos!

Esta é uma das praças mais antigas do país, do sec X, e contem contruções de todas as épocas posteriores: medievais, renascentistas e barrocas

Fui visitar a catedral que tem na sua origem uma antiga igreja do século IV. É a mais antiga igreja da Alemanha, erguida em diversas etapas desde o sec XI até XIV.

Lá dentro os pormenores é que me fascinaram, como o orgão que parecia uma peça decorativa de um trabalho de incrustação minucioso lindissimo!

e o tecto do coro aos “pés“ da igreja.

A igreja em si interessou-me muito mais pelo exterior…

Voltei ao Hauptmarkt, ali ao lado onde tudo se passava!

e que vai dar à Poerta Nigra, lá ao fundo, por uma rua cheia de casas giras

A Porta Nigra é uma construção romana impomente e surpreendente, do sec II!

Foi convertida em igreja no sec XII e manteve essa função durante seculos

Sempre tivera a vontade de a ver por dentro, já que as fotos que chegavam até mim apenas a mostravam por fora

Vista de frente é esta coisa extraordinária!

Não me apeteceu ir explorar os outros vestigios romanos, o rio Mosel atraia-me muito mais

E parti em direcção a sul. Recolhera já por ali ainformações preciosas que procurava sobre o rio que quero explorar e só não o segui logo porque as férias estavam a acabar e eu tinha mesmo de voltar para casa!

Passei por Metz, uma cidade que me desperta todo o interesse pela sua catedral e por ser a capital da região da Lorena, o pomo da discordia entre alemães e franceses por muito tempo.

A Tour de la Temple Garnison é visível a grande distancia e promete ser o templo que não é…

ela é, efectivamente, apenas uma torre! Na realidade ela já foi parte de uma igreja neo-gótica do sec XIX, mas depois de Metz ter andado de mão em mão, entre Alemanha e França, a França mandou desmonta-la. Esse trabalho ficou a meio e a torre permanece hoje imponente no meio da cidade, sozinha!

No meio do rio Mosel, que aqui se chama Moselle, le Temple Neuf, um templo protestante em estino neo-românico, do inicio do sec XX, provoca um efeito surpreendente!

A cidade é muito interessante e percorri as suas ruelas em todas as direcções

até ir encontrar a Place d’Armes onde pousei a moto para ir ver a catedral

A catedral de St Etienne é espantosa, em pedra amarela, é uma das maiores de França e tem a maior extensão de vitrais do mundo o que lhe valeu o nome de “la lanterne du Bon Dieu » (a lanterna do bom Deus)!

É linda!

E os seus vitrais estão por todo o lado!

Continuo a achar que quem a vê por fora não prevê o que é por dentro, embora o seu exterior seja bonito!

Voltei ao rio. Muita coisa há para visitar na cidade, mas ela fará parte do meu “Passeando pelo Mosel“ e aí catarei o resto! Eheheh

O rio é encantador em todos os recantos que lhe conheci!

Acho que o vou visitar já no proximo ano!

Continuei o meu caminho e passei em Nancy… mas não gostei da experiencia! O céu estava emcoberto, as voltas que dei foram aborrecidas e a cidade não me inspirou, por isso não perdi ali mais tempo. Um dia visita-la-ei como deve ser e logo se verá se é feia ou se apenas não gostei do que vi!

Mais à frente, na Commune de Dinoze, fica o Cemitério Americano d’Epinal…

Este é um dos 5 Cemitérios-Memoriais Americanos em solo francês e o segundo que visitei, o primeiro foi em 2009 na Normandia…

Ali vive-se uma porção de silêncio e vazio indescritíveis!

5 255 soldados estão ali enterrados num espaço de 22 hectares de terra, o local libertado em 1944 por soldados americanos.

Ali perto um jardineiro satisfez as minhas duvidas de como se corta aquela relva cravejada de cruzes !

Na realidade eles usam um tractor que tem um dispoditivo que faz as laminas contornarem cada cruz !

Numa viagem em que visitei tantos cemitérios antigos, encerrei este tema com um cemitério impressionante e cheio de história. Mais dia menos dia acabarei por visitar os restantes cemitérios militares de França…

Mas as minhas visitas « religiosas » não tinham terminado ainda e a que se seguia era aquela que me fizera descer o país por ali !

Cada um de nós tem os seus sonhos e desejos e eu queria visitar aquele monumento espantoso desde o meu tempo de faculdade, por isso segui para Ronchamp para procurar a Chapelle de Notre Dame du Haut !

Depois de uma subida por uma rua que nada deixava ver para lá das arvores que a ladeavam, deparar com a magnifica capela de Le Corbusier foi o êxtase total!

O interior da capela é impressionante e, embora dissesse algures que era proibido fotografar lá dentro, não resisti !

Le Corbusier foi um arquitecto Suiço considerado um dos arquitectos mais importantes do sec XX, a sua obra é espantosa, de linhas simples e sintéticas, entre dialéticas de cheio-vazio, luz-sombra ou recto e curvo…

Curioso que um artista herege dedique o seu talento a uma obra religiosa que permanecerá historicamente ligada a si !

Naquele local existiu um templo medieval já degradado e que foi arrazado com os bombardeamentos da 2ª guerra, uma placa com uma pomba em cima diz «aqui nesta colina, franceses morreram pela paz»

A capela tem um altar no lado de fora, exactamente no exterior do altar mor de dentro

que dá para o relvado em frente.

Ali de cima da colina pode-se ver a paisagem que inspirou Le Corbusier e que o levou a aceitar projectar um templo religioso daquela beleza e importancia!

Segui o meu caminho cheia de alegria! Tinha realizado mais um sonho!

Fim do 24º dia…

35 – Passeando até à Escócia – Uma corrida pelo reino, passando por Chester!

27 de Agosto de 2011

A reformulação da viagem, após a avaria, obrigara-me a deixar um percurso muito longo, no regresso a Londres, para tentar aproveitar ao máximo o tempo que pudesse na Escócia, por isso este dia foi passado quase totalmente a conduzir e fiz 1.050 km até ao meu destino.

Não resisti em partir sem dar uma volta pela zona. O tempo estava chuvoso mas mesmo assim fui dar a volta ao lago mais famoso, em tom de despedida. A vontade de ficar mais um pouco tornou a despedida triste, ainda por cima era bastante cedo e não havia ninguém nas ruas… enfim, todos os ingredientes para uma despedida como convém!

Há vários símbolos e representações do monstro do lago junto ao centro da NessieLand

Havia motards alojados no local, deixei a minha motita junto das deles para ficarem amigas.

Estava tudo a dormir ainda…

Tirei as últimas fotos com o lago como fundo

Fiquei ali a olhar longamente a paisagem, não tinha mesmo vontade nenhuma e partir!

Segui o meu caminho por via-rápida. Tinha muitos quilómetros para fazer não havia tempo para nacionais.

Fiz um grande trajecto atrás de um grupo de 5 motos da polícia, que me fascinou pela coordenação e plena confiança entre si, que demonstravam! Conduziam como se fossem um único veículo, moviam-se sem desfazerem a formação, mesmo quando se tratava de ultrapassar um camião, onde apenas os da direita tinham visibilidade para fazer a manobra! Fascinante forma de conduzir!

A distância entre eles era sempre constante, inclinavam todos exactamente ao mesmo tempo para uma ultrapassagem e nunca desfaziam a formação de 2+2+1! E não circulavam propriamente a velocidade legal! Eu ía a 140km/h, por isso eles iam a mais!

Mas eu também não sou pessoa para fazer uma corrida sem parar e havia ali uma cidade a meio do caminho que eu queria muito visitar. Tinha-me distraído na subida com outras coisas, mas não a podia deixar passar na descida!

Tinha de passar em Chester, uma cidade histórica lindíssima, a meio do país, cheia de ruínhas e casas medievais espantosas. Ali fica a loja mais antiga do mundo a funcionar desde o sec XI, não a encontrei…

Pedi a um polícia, junto da câmara da cidade, que me dissesse onde podia pousar a minha motita, pois não tinha tempo a perder a dar voltas e voltas à procura de um lugar!

E fui explorar a cidade, comer qualquer coisa e deliciar-me com tudo o que havia ali para ver!

A cidade tem imensos edifícios de paredes de madeira que remontam aos tempos de Tudor.

Uma terra encantadora onde apetece ficar uns dias!

Cada volta que se dá revela mais um recanto encantador!

A catedral deixou-me a pena de não a poder visitar, não teria tempo de o fazer!

Uma construção que vem desde o sec XI, mistura os estilos Românico e Gótico e é linda….

The Eastgate Clock, é o relógio mais fotografado da Inglaterra, depois o Big Ben! Está no sitio onde ficava a entrada da fortaleza romana que ali existiu.

Claro que fui procurar o caminho que me levasse lá acima!

O relógio diz ele próprio de que ano é, nem tive de perguntar a ninguém!

Lá de cima a vista sobre a rua com o mesmo nome: The Eastgate streat, para um lado

e para o outro

ali ao lado fica uma casa do ano 1395!!

Então continuei a minha viagem em direcção a Londres, sempre por via-rápida, apreciando o mesmo país que eu visitara por nacionais, dias antes, e o interesse era diminuto, perto que eu sabia que existia por ali para ver!

A minha vontade de sair e engrenar por uma ruela qualquer era grande mas fui-me contendo, nunca mais chegaria a Londres se me pusesse a explorar ruelas…

Lá fui tirando umas fotos de quando em quando, ao ver passar construções em feno nas bordas dos terrenos! Vi vários castelos feitos de fardos de feno mas foi um urso que me espantou!

Um urso construído em fardos de feno não é obra de qualquer um! Espantoso!

Lá cheguei a Londres cheia de fome (o meu estado natural, eheheh) e fui directa ao Ace Café, com a ideia no franguinho com batatas que lá comera “milhares” de dias antes!

Estava por lá uma animação! Um evento que reunia carros e motos antigos

O franguinho estava óptimo e a cerveja deliciosa!

Depois lá fui espreitar a festa, para lá de um carro da polícia, no palco, onde dois tipos imitavam o Blues Brothers acompanhados por uma série de fulanas de chapéu. Alguém sugeriu que eu fosse lá para o meio já que também tinha chapéu!

Ok dancem vocês que eu já trago uma “milena” de quilómetros no corpo!

Acabei a noite a conversar lá fora com uns motards muito simpáticos que queriam saber de onde eu vinha “eu venho da Escócia!” pois, mas de que país era eu? “há, sou portuguesa” e tinha vindo de Portugal com a moto no ferry? “não, fiz por terra tudo o que pude!” mas isso dava para aí uma porrada de quilómetros! “claro, aí é que está a piada!” e onde estavam os meus amigos? “os meus amigos?! Estão em Portugal porquê?” puxa eu tinha vindo sozinha? Não tinha medo? “o vosso país não é um país seguro?” sim claro “então de que devo ter medo?”…

Um dia querem vir à concentração dos Piguinos, não se sentiam atraídos por Faro por ser muito quente e eles não estão habituados ao calor, além de ser muito longe do ferry…

Fui finalmente para o hostel, uma casa giríssima que eu já conhecia de ter passado à porta quando estivera em Londres dias antes.

Casa gira, pessoal super simpático e ambiente muito agradável!

Sentei-me de pernas para o ar num grande sofá e liguei-me à net de borla, a falar com o mundo!

Fim do 22º dia de viagem…