29. Passeando pelos Balcãs… – Finalmente o mar Negro!

23 de agosto de 2013

Mais um dia de estrada, mais uma travessia alucinante de Istambul!

Eu gosto de despedidas, gosto de sentir que estou a ir embora, que me importo com isso! Gosto de olhar em volta e tentar reter na memória tudo o que os meus olhos conseguirem abarcar e o meu coração memorizar e depois partir, com esses momentos fugidios acumulados à minha história.

E quando deixo um sítio que gostei de conhecer, planeio como e onde fazer a despedida. Naquele dia, claro que estava determinada a levar a minha motita até ao outro lado do Bósforo, para que ela pusesse as rodas na Asia!

Ao pequeno-almoço vi-me rodeada de coreanos, que estavam muito curiosos a meu respeito! Diga-se de passagem que eu parecia um gigante perto deles, sobretudo das raparigas, pequeninas e miudinhas! Uma delas, que falava muito bem inglês, fartou-se de me fazer perguntas, sobre como era viajar de moto e maravilhava-se com as respostas que eu lhe dava “you inspire me!” repetia ela arregalando os olhos!

Dizia ela que de repente lhe apetecia também ter uma moto e viajar assim por conta própria como eu!

Fizeram-me uma festa quando me preparava para sair, o rapaz da receção estava maravilhado com o meu chapéu também! Mas lá fora é que era o espanto! Aquela gente nem se aproximava da minha moto, só a miúda que me fizera todas as perguntas se aproximou e me pediu para tirar uma foto junto da moto. Depois percebi que ela queria que eu ficasse também. Ela era mesmo miudinha junto de mim, quando me cumprimentou de mão, a sua mãozita era tão pequena e fina que me questionei se seria suficientemente grande para segurar o volante de uma moto!!

Aquilo foi mais uma sessão de fotografia de modelo. Acabei por tirar uma para mim também, pois então!

Ao fim da rua a gente voltava à esquerda e chegava ao meio do jardim onde de um lado se via a Mesquita Azul…

e do outro a Hagia Sophia! Claro que aproveitei para registar o momento em que a minha motita ficou ali no meio de tais cenários!

Desci até ao Bósforo… era por ali que eu queria passar os últimos momentos antes de partir, de um lado e do outro!

Ao longe podia ver a ponte do Bósforo. Aquela ponte tem um trânsito diário impressionante, por isso cerca de 2 meses depois de eu ir embora dali inaugurava o túnel ferroviário do Bósforo, à prova de terramoto, para reduzir a circulação sobre a ponte. Curioso que por lá não se via nenhuma lavoura de obras!

E atravessei a ponte! Wow, que momento! A minha Ninfa estava a entrar na Ásia! Eheheheh

O stop em turco é giro! Coisas que fui aprendendo pelo caminho!

Ora e lá estava a Europa vista da Ásia! Que satisfação infantil, afinal é tudo igual, mas cá dentro é aquela satisfação de “estou na Ásia!”

Despedi-me de Istambul do outro lado do Bósforo, ao longe a mesquita Azul com os seus 6 minaretes e a Hagia Sophia, imponente, acima de tudo… as águas azuis do canal encheram de encanto aqueles momentos que foto nenhuma, ou desenho algum, conseguiu reter… mais um momento histórico na minha história!

E voltei à estrada para seguir o meu caminho!

Conduzir por Istambul é a alucinação completa, as motos circulam pela faixa de segurança sem qualquer problema, ultrapassando tudo e todos!

Eu sempre gostei de conduzir no meio do trânsito, eu sei que é perigoso e tal, mas é tão revigorante! Acho que sinto tanto prazer em conduzir pelo meio de lado nenhum, por entre paisagens deslumbrantes e estradinhas sem ninguém, como pelo trânsito caótico de uma grande cidade. Sobretudo se essa grande cidade é Istambul, onde as motos têm liberdade de seguir por onde puderem.

Lembro-me de ter cuidado ao pôr os pés no chão, a cada vez que parava um pouco, não fosse algum carro passar-lhes por cima!

Depois de conduzir em Istambul, nenhuma outra cidade nesta viagem me deu tanto prazer de condução!

Ora eu queria parar no meio da ponte, fosse como fosse, nem que tivesse de simular uma pequena avaria na moto!

Mas não foi preciso, bastou encostar um pouco e pimba…

“Este foi o momento em que a Ninfa foi grande, parei no meio da ponte que atravessa o canal do Bósforo e ela ficou com uma roda em cada continente! Ao fundo fica o mar Negro, atrás de mim fica o mar de Mármara, do lado esquerdo fica a Europa, do lado direito a Ásia… momento para recordar, quando eu pus as rodas pela primeira vez na Asia!”

E pronto, adeus Istambul!

Uma coisa curiosa é que os polícias tinham sempre motos muito giras!

Segui para a Bulgária… iria ver finalmente o “meu” Mar Negro!

Depois de umas estradinhas giras, pelo meio de lado nenhum, eu estava a ficar cheia de sede! Encontrei uma pequena localidade e fui a um minimercado comprar algo para comer e beber. A senhora (a da bata azul) ficou visivelmente atrapalhada com a minha presença. Queria a todo o custo comunicar comigo.

Não me entendia, eu não a entendia a ela, e ela olha cá para cima, para mim, e ria-se nervosamente! Eu queria dizer-lhe que não era preciso falarmos, pois eu procuraria o que queria, mas não havia maneira de me fazer entender.

Então ela foi buscar uma miúda que, pelo que percebi, era suposto saber inglês! Mas só sabia dizer “yes” e “no”. Desataram a rir-se as duas!

E foi chamar outra… que ainda sabia menos inglês que a anterior. Eu já só me ria com a borga que elas faziam em redor de mim. Não faço ideia do que diziam, mas visivelmente estavam fascinadas com a minha dimensão perto delas, pois eram todas baixinhas!

Então chegou a mais gordinha e a maior de todas, mais risadas, mais brincadeira entre elas, quando esta ultima se pôs a medir-se por mim. Era mais baixa também.

Acabei por pegar no que queria e pagar pelos números que me mostraram na calculadora, que era o que bastava ter feito desde o início!

Mas giro foi quando eu me preparei para partir e montei na moto! Pareciam crianças em volta de mim a mexer em tudo! Então o GPS fascinou todas! Pelos seus gestos percebi que perguntavam o que era aquilo, “TV?” diziam elas! Eheheh

Mostrei o mapa e o sítio onde estávamos, não sei se todas entenderam mas a mais gordinha parecia radiante e fascinada, acho que entendeu o que era aquilo!

Quando dei por ela a rua estava cheia de gente, vários homens tinham-se aproximado um pouco, cheios de curiosidade, mas aquele era um momento feminino, nenhum chegou muito perto!

Pus a moto a funcionar e elas fugiram todas para o passeio, acenei-lhes com a mão, elas acenaram também e fizeram tanta festa que apontei-lhes a máquina fotográfica…

Achei que iriam tapar as caras, voltar-se de costas, sei lá, reclamar, mas para meu espanto, juntaram-se todas num montinho em pose para a foto! Liiindas! Adorei-as!

Eu diverti-me tanto que lhe atirei um beijo com a mão, entre a algazarra que faziam! Que momento giro com todas a atirar-me beijos também!

E logo a seguir comecei a ver placas a indicar… Bulgaristão!

Eu não fazia ideia que por ali a Bulgária se chamava Bulgaristão! Tive um súbito delírio de estar perto de países com Paquistão, Cazaquistão ou Afeganistão! eheheh

Estava o calor do costume quando cheguei à fronteira, e sair da Turquia não era tão simples como sair de um país qualquer! Voltei a andar de guiché em guiché, a preencher papeis sobre o que eu estive a fazer no país, onde estive, onde dormi, quanto paguei e o que gastei! Gente simpática que me ajudou a preencher tudo, pois os papéis eram complexos, até me pediram desculpa por não terem papeis na minha língua, “não se preocupem que Espanha que é ao lado de Portugal também não tem nada em português e eu lá me desenrasco!”. Preenchi os papeis espanhóis, pois então!

Segui para a fronteira búlgara, bolas, fiquei no fim de uma fila de carros, na seca e no calor!

Mas os búlgaros são gente boa, um polícia aduaneiro veio lá do fundo até mim. Pensei que já ía “levar nas orelhas” por estar a tirar fotos dentro da fronteira, que já se sabe é proibido! Mas não, veio-me buscar! Curioso que podia ter-me chamado lá do fundo com um gesto de mão e não o fez, veio à minha beira buscar-me, literalmente. Mandou-me seguir para a frente e mostrar o passaporte ao colega e seguir, que não me metesse de novo na fila!

E assim foi, parei, mostrei o passaporte, e segui com direito a continências e tudo, enquanto aqueles carros todos ficaram ali!!

Segui animada pela sensação agradável que ter sido bem tratada à partida da Turquia e bem recebida à chegada à Bulgária! Até senti uma pontinha de remorsos por não ter incluído uma visita mais detalhada ao país, por isso terei de lá voltar para compensar essa falha!

E lá estava o Mar Negro…. a completar os 7 mares que visitei nesta vieagem:

o Mar Mediterrâneo,
o Mar Lígure,
o Mar Adriático,
o Mar Jónico,
o Mar Egeu,
o Mar de Marmara
e agora o Mar Negro!

«Há ideias que me vêm à memória de vez em quando, a que eu chamo sonhos, mas são apenas vontades e eu tinha o “sonho” ou a vontade de ver o Mar Negro há muito tempo! Desde pequena que o nome me inspirou e me fez desejar lá ir. Não esperava nada mais que um mar, por isso nem sequer tinha receio de me desiludir, o que ele fosse seria fantástico para mim, apenas por pensar “estou no Mar Negro!”. E assim foi, depois do Mar de Marmara, depois da Turquia e do Bósforo, lá estava ele, às portas da Bulgária, a caminho da Roménia, sem nada de especial para além dele mesmo. Parei, aninhei-me na berma da estrada, senti o seu cheiro a maresia e, fechando os olhos, pensei “eu estou aqui!”…»

Todo o caminho a partir dali foi lindo e uma aventura também!

Uma estrada estreita e toda estragada, com depressões profundas, sem que o alcatrão estivesse esburacado, o que queria dizer que tinha de ir com toda a atenção pois podia nem ver as covas até cair nelas!

Cavalos selvagens atravessavam a rua placidamente a qualquer momento e eu já nem sabia se o pior já tinha passado ou estava para vir!

A dada altura passei por um jeep que vinha em sentido contrário, era Búlgaro. Vi pelo retrovisor que um senhor saía e me fazia sinal! “Queres ver que não posso passar e tenho de voltar para trás!?” Ele veio-me perguntar se o caminho de onde eu vinha estava bom, entendi pelos gestos pois ele não dizia uma palavra que eu entendesse!

Acenei com a cabeça que sim apontando com a mão, siga à vontade que, com um carro desses passa por todo o lado, pois se eu passei com esta moto!

Agradeceu-me muito e seguiu caminho. Achei no mínimo curioso que fosse eu, vinda de tão longe e acabada de chegar ao país, a dar indicações a gente de lá! Eheheh

Cheguei a Varna ao fim da tarde, mas não me apeteceu ver a cidade, queria comer e beber e nada fazer! E assim foi!

E foi o fim do 25º dia de viagem!

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28. Passeando pelos Balcãs… – Constantinopla, capital de grandes impérios entre dois continentes!

22 de agosto de 2013 – continuação

Era impossível eu não me apaixonar pela grande cidade de Istambul!

“A Cidade”, como lhe chamaram vários povos, como se mais nenhuma cidade houvesse para além dela!

Já foi chamada de Bizâncio, de Nova Roma, de Constantinopla, de Kostantiniyye e, finalmente, Istambul!
Já foi capital de tantos impérios como:
o Império Romano (durante o séc. IV),
o Império Bizantino (do séc. IV ao séc. XIII),
o Império Latino (durante o séc. XIII),
o Império Bizantino de novo (do séc. XIII ao séc. XV)
e finalmente o Império Otomano (do séc. XV ao séc. XX)

Fica ali, entre o Mar Negro e o Mar de Marmara, entre a Europa e a Asia, e é a única cidade do mundo que se divide entre dois continentes!

E eu fui para a beira do canal… o Bósforo, aquele que divide a cidade em 2 e liga o mar Negro ao Marmara! Passei ali o resto da manhã por entre mercados, restaurantes e povo pelas ruas aos montes! Pertinho fica a ponte Gálata, que atravessa o estuário do Corno de Ouro, onde fica o coração da cidade.

E fui visitar a mesquita Mesquita Yeni

O edifício é do séc. XVI, parece que tudo ali é de há muitos séculos atrás!

É muito bonito e vale a pena ser visitado! Cheguei-me à porta preparada para o ritual de tirar botas, tirar chapéu, embrulhar-me em panos e entrar. As botas eu tirei-as mas quando ia tirar o chapéu um dos senhores que estão à porta a ajudar os turistas disse-me que não precisava tirar o chapéu! “Mas eu quero entrar na mesquita!” expliquei eu “Claro, mas não precisa tirar o chapéu! Entre assim que lhe fica muito bem!” “sem véu?!” “Sim, o chapéu é como um véu!” explicou ele!

Fantástico, não precisei de andar por ali armada em nossa Senhora, a lutar com o pano que cai a cada movimento!

A mesquita é muito bonita por dentro, com o imenso tapete azul a cobrir totalmente o chão, com desenhos extraordinários! Aquilo terá sido feito ali dentro mesmo? É que todo ele é feito à medida do piso da mesquita!

Na realidade tem parecenças com a mesquita azul, mas tem pormenores que eu achei surpreendentes, como estar aberta ao público enquanto estavam em oração, ou reflecção ou algo do género!

Pelo menos estava lá o homem e falar e toda a gente a ouvir!

E o desenho do tapete era muito bonito!

Os homens entram na grande nave, os turistas ficam do lado de fora de uma barreira de madeira e as mulheres que rezam ficam à porta atrás daquelas grades bem fechadinhas de madeira! Uma fulana toda coberta por panos, que ia a entrar para ali, viu-me a espreitar e perguntou-me o que é que eu queria, que ali era o seu espaço de oração.

Não gostei muito dos seus modos e não resisti a perguntar “Ah, e rezam ai atrás das grades porquê? Vocês mordem é?”

Fui-me embora antes que ela me fulminasse completamente com o olhar! Eheheh

Cá fora as pessoas lavavam as mãos e os pés e a cabeça e mais o que pudessem, que estava muito calor. Aproveitei para fazer o mesmo, embora tenha ficado com a ideia de que não tinha direito a fazer tal, pelo menos era a única mulher a pôr mãos e pés na água. Ninguém me disse nada e eu pus também a cabeça!

Logo ali em frente ficam mercados e feiras de tudo, para onde eu fui pois estava fresquinho lá dentro! E o que eu me fartei de petiscar frutos secos e roer pequenos petiscos que me ofereciam!

Ali os doces são muito doces, frequentemente baseados em amêndoa ou noz, come-se um pouco e bebe-se uma grande golada de água e até sabe bem!

Escusado será dizer que bebi uma garrafa de água de 1.5 l enquanto andei por ali nas experiencias alimentares!

Os vendedores são divertidos e brincavam frequentemente comigo, eu ia-lhes respondendo à letra à medida que ia passando e explorando as novidades. Então encontrei numa mercearia um cartaz que me fez partir a rir!

Estava lá em cima, no meio das tralhas. O homem ao ver-me a rir perguntou-me se eu falava espanhol. Não falo mas entendo, por isso estive ali na cavaqueira com ele sobre sogras e venenos e, pimba, mais uns frutos secos para eu provar!

E eles têm aquilo tudo tão bem apresentado! Parece tudo artificial de tão perfeito!

O povo por ali era aos magotes, não só turistas mas também gente nas suas compras diárias!

Voltei à ponte, ao longe podia ver a famosa Torre Gálata, do séc. XIV, que eu não visitaria, não desta vez!

A trapalhada era muita ali junto à ponte Gálata.

Olha-se em volta e vêm-se diversas mesquitas, muita gente e imenso trânsito!

Junto a ela há vendedores de todo o tipo de bugigangas para comer e, por baixo dela, há restaurantes onde me fui encher de comida!

Comi lulas grelhadas acompanhadas com uma enorme cerveja! Inesperado, não imaginei que me oferecessem uma cerveja tão deliciosa por aquelas paragens!

Voltei ao centro histórico da cidade onde fica a mesquita Azul e pensei em visitar o Palácio de Topkapi, o palácio dos soltões que hoje é um museu!

Mas aquilo estava tão cheio de gente e as filas para comprar o bilhete eram de perder de vista!

Foi das coisas que eu tive pena de não visitar… mas teve de ficar para outra vez! Passar horas ali na fila, sob um calor escaldante, estava completamente fora de questão!

Ainda estive ali pelo jardim um pouco, a apreciar cenas giras e a beber mais uma garrafa de água gelada. Estava a ver quando é que o gato esfarrapava o pássaro e o cão esfrangalhava o gato… mas afinal eles eram amigos!

E tinha o resto do dia todo para nada fazer, não é fantástico?

Ali mesmo pertinho da Hagia Sophia fica mais uma das 23 mesquitas da cidade, antiquíssima do séc. XV.

Que eu não visitei porque fiz amizade com um senhor que estava ali ao lado a desenhar. Os desenhos dele não eram geniais, mas ele era muito simpático!

A seguir percorri a Praça Sultanahmet onde se situava o Hipódromo de Constantinopla, uma longa praça ao lado da Mesquita Azul.

Ali encontram-se 3 obeliscos trazidos para embelezar a praça na época da sua construção.

O mais extraordinário para mim é o obelisco do Templo de Karnak em Luxor no Egito, datado de 1490a.c., que foi trazido para Istambul pelo Imperador Teodósio no ano de 390.

Oh, que sensação estar perante uma “peça” do templo de Luxor, onde se calhar eu nunca irei!

Outro é a coluna de Constantino do século X que originalmente era revestida com placas bronze dourado, mas que foi bastante danificado na época das cruzadas e hoje está com a pedra à vista.

E ainda há a Coluna Serpentina que veio da Grécia, onde tinha sido construída para celebrar a vitória dos Gregos sobre os Persas, durante as Guerras Médicas.

E fui visitar de novo a Mesquita Azul que fica ali mesmo ao lado, aquilo não estava muito calmo mas eu queria acabar um ou dois desenhos que deixara a meio no dia anterior, por isso sentei-me no tapete fofinho e desenhei mais um pouco, que se lixasse quem olhasse!

As mesquitas até podem ser parecidas, mas aquela é um espanto! Aquelas abobadas são verdadeiramente vertiginosas!

Havia gente muito interessada no que eu estava a desenhar e eu muito interessada em quem estava por ali, de vez em quando também gosto de pôr pessoas nos meus desenhos!

Fiquei ali muito tempo em longos momentos de paz e serenidade, sem pressa de ir a lado nenhum, apenas estar! Quando sai dei a volta à mesquita, por ruelas encantadoras de casinhas muito giras.

Numa loja de tapetes uns homens meteram conversa comigo, queriam saber quem eu era, de onde eu vinha. Acharam curiosa a minha maneira de vestir e o facto de usar chapéu!

Um queria levar-me a ver a mesquita de cima da loja, a partir do terraço. Então veio o dono da loja e, espanto, falava português! Dizia ele que tinha negócios no Brasil, por isso falava português, sim senhor! Mais uma hora na cavaqueira, que culminou com uma visita à loja, onde ele me fez uma pequena pulseira em fio de seda turquesa, que tirou de um tear de tapetes!

“Isto será como uma pulseira de sorte que te vai acompanhar até ao fim da tua viagem, sem que nada de mal te aconteça! Depois não a tires, deixa que ela caia por si!” disse-me ele, e a verdade é que ela ainda cá anda no meu pulso!

A mesquita era logo ali atrás

E a minha pousada também! Fui até lá tomar um banho e fiz amizade com uma italiana que falava muito bem francês e foi com ela que passei o serão a comer melancia e a passear pelos jardins junto à mesquita e pela Praça Sultanahmet.

E foi o fim do 24º dia de viagem!

27. Passeando pelos Balcãs… – Istambul, Bizâncio, Constantinopla, capital de grandes impérios entre dois continentes!

22 de agosto de 2013

Desde o início que havia duas ou três coisas que eu queria ver e fazer em Istambul e, mesmo não tendo muito tempo para visitar a cidade, passei lá o tempo suficiente para cumprir essa vontade!

Eu sabia que aquela é apenas a cidade maior da Europa e uma das maiores do mundo com tanta coisa para ver que todo o tempo que eu tinha seria pouco, por isso procurei cumprir os meus principais objetivos deixando o resto para uma futura visita! É sempre mais fácil quando a cabeça se organiza antes em vez de ficar no meio da confusão tentando decidir o que fazer a seguir.

Ora uma das coisas que eu queria muito visitar ali era a Cisterna da Basílica, fica ali ao ladinho da Basilica de Hajia Sophia, onde há umas casinhas tão bonitas que nem parecem coisa de lá!

E lá estava ela, do outro lado da rua!

Aquilo quase passa despercebido, não fossem as várias pessoas que se vão enfileirando na berma da estrada para a visita e, contra o que se espera, anda-se um pouco, desce-se umas escadas e… lá está ela!

“Desde a primeira vez que eu vi uma foto da Cisterna de Istambul, que eu decidi que tinha de cá vir vê-la… hoje eu vi-a! Linda, misteriosa, antiga…. A “Yerebatan Sarnici” construída na época bizantina (séc. VI) tem qualquer coisa como 336 colunas e podia comportar 30 milhões de litros de água!! Esta água vinha desde a floresta de Belgrado e era armazenada aqui para fornecer a cidade o que lhe permitiria grande autonomia em caso de seca! Também aqui foi rodado um filme do James Bond! Maravilhei-me ali dentro, como dentro de uma catedral!”

Não consigo descrever o deslumbramento quando encontro o que procurava ver há tempo demais! É como se, de repente, estivesse perante uma personalidade, uma entidade!

Foi muito bom ser das primeiras pessoas a entrar, pois assim pude ver e parar e fotografar de todos os ângulos sem multidões na minha frente a encher-me as foto de “ruidos”!

Dei-lhe a volta, fotografei de todos os ângulos e a vontade era ficar mais um pouco, voltar a dar a volta, voltar a olhar de lá para cá e de cá para lá…

A água tem peixinhos que a gente pressente na escuridão!

O restauro e a iluminação foram perfeitos! Se tentarmos fotografar aquilo som flash percebemos que a iluminação lhe dá todo o encanto e mistério que vemos!

Aqui e ali uma coluna diferente chama a atenção. Afinal a cisterna foi construída rapidamente usando colunas já existentes, vindas de diversos templos da Asia Menor, por isso naturalmente, sendo mais de 300, não serão todas iguais!

E lá bem no fundo, depois de toda a “colunata” há 2 bem diferentes, com cabeças de Medusa na base, onde toda a gente quer ser fotografado. Na realidade são colunas romanas que exemplificam bem a mestria da escultura e arquitetura romana! O mistério permanece sobre as posições que as duas cabeças ocupam lá nas bases das colunas!

Uma de lado…

Outra ao contrário!

Lá em baixo há um café e tudo, mesmo por baixo da saída da Cisterna! Deve ser curioso trabalhar ali, isso é que se pode chamar viver na obscuridade, a servir copos de leite e sumos, nada de cerveja!

Simplesmente não conseguia tirar os olhos da beleza do espaço…

Do outro lado fica a Basílica de Hagia Sophia …

Hagia Sofia quer dizer Sagrada Sabedoria! A Basílica, que já foi catedral de Constantinopla, começou sendo Ortodoxa, depois foi Católica, depois Islâmica e, finalmente, hoje é um museu.
Foi consagrada no dia de Natal do ano 537, o que a faz ter quase 1500 anos! E é linda!

Entrei ali e deslumbrei-me, todo o piso é feito de enormes placas de mármore, gasto e estalado dos muitos séculos de uso, e tudo em volta me inspirava um enorme respeito…

O edifício mostra desgaste, uma pena imaginar se aquilo se perde!

O vão é enorme, por baixo da grande cúpula… quantos séculos de história ali se contam naquele espaço…

Sobe-se para o andar de cima por uma rampa empedrada e não por uma escada!

A Basílica está em recuperação e podem-se ver fotos do espaço coberto por ali.

É reconfortante ver que está tudo a ser restaurado, porque é urgente preservar tudo aquilo antes que seja tarde demais!

Sentia-me no coração da história de Istambul…

Pelas janelas podia ver o exterior e não queria sair dali mais!

Há mosaicos ali do séc. XI e XII!!! Uma coisa deslumbrante que não se encontra em qualquer lado!

E o chão de mármore, continua infinito pelo piso superior, em lajes imensas!

Numa das entradas há uma coluna com um buraco onde a gente mete o dedo e tem de dar a volta toda à mão com ele lá enfiado! Seguramente que eu teria conseguido a proeza pela agilidade de mãos e pulsos que tenho… não fosse ter de usar precisamente o polegar que tenho avariado!

O ambiente cá fora estava lindo, com aquele sol deslumbrante, mas muito calor já!

Apetecia que aquelas fontes estivessem a jorrar água com força e enfiar os pés lá dentro… mas aquilo é só para olhar, há muito que deixou as suas funções!

E pronto, tinha viajado ao passado e visitado algumas das coisas que tanto me chamavam e me levaram ali, parei e sentei cá fora, fiz mais um desenho ou dois da mesquita Azul do outro lado do jardim e da Hagia Sophia pertinho de mim.

Sentia-me tão feliz que de repente nem sabia mais o que me apetecia fazer!

Eu não queria de todo pegar na moto naquele dia, ela estava muito bem estacionada da pousada e precisava de paz, depois de tanto quilómetro, tanto calor e tanto esforço! Por isso apanhei um autocarro e fui dar uma volta pela cidade! Fixe, deixar a condução na mão de profissionais enquanto descansava as minhas mãos!

E com isso, eu, que nunca ando de 4 rodas, a primeira vez que passei a ponte do Bósforo, fi-lo de autocarro e não de moto! Eheheh

(continua)

26. Passeando pelos Balcãs… – Istambul, cidade extraordinária!

21 de agosto de 2013

Eu estava hospedada muito perto do monte Olimpo, sim aquele onde viviam todos os deuses gregos! Eu sabia que ele estava logo ali por isso não me preocupei muito em procura-lo pois ele apareceria a qualquer momento ao alcance do meu olhar, certamente, pois se ele é a montanha mais alta da Grécia e uma das mais altas da Europa!

Do outro lado da rua ficava o castelinho que me tinha feito companhia ao jantar na noite anterior, podia vê-lo no topo do morro, mas era outro monte o que eu queria ver!

Logo a seguir podia ver o mar Egeu! Que sensação olhar para o mar e saber que aquele não era o meu mar do costume, era o mar que provavelmente deve o seu nome a Egeia, rainha das Amazonas! Um mar da antiguidade cheio de história e histórias, lendas e memórias… importante para alguém a quem chamam Amazona! 🙂

Foi ali, ao caminhar pela areia, que eu percebi que me entrava areia por uma bota e constatei que tinha gasto boa parte da sola de tanto caminhar!

E lá estava o monte ao longe, imponente e envolto em nuvens misteriosas!

Um velhote viu-me ali especada a olhar e foi-me informando que estava mau o tempo no monte!

Falei-lhe da vontade de lá ir dar uma volta e tal!

Disse-me que com aquela nuvem enorme no topo, não valeria a pena lá ir, pois nada se veria, seria passear pelas nuvens, frio e chuva!

Logo à frente cruzei coma placa que indicava o caminho para lá…

Não sabia o que fazer!

Pus-me a comer amoras enquanto pensava, ao tempo que eu não via amoras na berma da estrada!

Se fosse arriscava-me a nada ver, apanhar uma molha e perder muito tempo no frio e mau tempo! Se não fosse, teria de escrever na minha agenda “Monte olimpos, um destino a visitar!” e seguiria para Istambul que ficava a uma infinidade de quilómetros dali!

Ora aquela infinidade de quilómetros eram afinal 737km, que foi o total percorrido por mim nesse dia…

Paciência, o Monte Olimpo e toda a sua mitologia teriam de ficar para outra vez, que Istambul estava a chamar-me e eu iria mas é para lá.

O caminho que eu faria a seguir seria uma tentação, eu sabia! Afinal estaria a percorrer o estreito caminho entre dois países, com o mar do lado direito e um terceiro pais da esquerda!

As placas a dizer Bulgária eram frequentes, como eu imaginava, e eu tive de as ignorar ou nunca mais chegaria ao meu destino!

Quando eu traço o meu caminho em casa, eu imagino o que vai acontecer e o que me vai passar pela cabeça e deixo para o momento as decisões que vou tomar do tipo, se me apetecer ir passear para a Bulgária, logo se vê, mas traço o caminho para Istambul!

O mar Egeu acompanhava-me sempre mais ou menos ao meu lado direito e a Bulgária do lado esquerdo!

E eu consegui resistir até começarem a aparecer as placas a dizer Turquia. Era melhor assim eu tinha de ter em conta a passagem da fronteira que podia ser demorada e não havia necessidade de a deixar para passar à noite! Depois a Bulgária continuará lá para eu visitar noutra viagem qualquer.

E passar a fronteira foi um momento único que me chegou mesmo a divertir!

Considerando que eu já tinha passado uma série de fronteiras, fiz como sempre faço, parei no primeiro guiché que me apareceu. Fui recebida por um “bom dia, o seu passaporte!” mostrei-o, perguntaram-me onde estavam os meus colegas, respondi que estava sozinha, o senhor ergueu-se de repente dentro da cabine e espreitou para moto “sozinha?!!!” arregalou os olhos “sim!” depois daquilo que pareceu uma eternidade de espanto, mandou-me seguir!

Só isto? Então e não quer ver mais nada para além do passaporte? Mas lá segui por uns 200 metros, outro guiché! Ah ok! Há mais um sítio para parar!

Mais um “bom dia” mas desta vez pediram-me a carta verde, perguntaram-me de novo pelos meus colegas, respondi de novo que estava sozinha “sozinha?” exclamou o homem, e desta vez ergueu-se ele e um colega que estava também dentro da cabine e olharam para a moto lá de dentro. “faça uma boa viagem!” disse ele finalmente entregando-me a carta verde!

Siga para a frente, parece que por ali toda a gente olhava para a minha moto como se ela fosse um veículo de outro planeta! Para ela e para mim! Mas sempre com simpatia e surpresa, nada que me assustasse ou sequer preocupasse.

Foi quando me começou a dar vontade de rir, porque logo à frente, pimba, mais um guiché, mais um “bom dia” e tal, desta vez estavam 3 homens dentro da cabine e pediram-me a carta de condução e o passaporte! “com quem viaja” perguntaram-me “sozinha” respondi! Levantam-se o três e olham para moto desde lá de cima da cabine cá para baixo. Não me contive e ri mesmo!

Conversavam entre eles e voltavam a espreitar para a moto. Valha-me Deus, que lhes estará a passar pela cabeça?

Bem, desta vez eu teria de ir a pé até ao guiché noutro lado, onde pagaria finalmente os 15€ para fazerem o visto. Aí o rapaz não espreitou para a moto porque a podia ver pela porta aberta da cabine, já que esta era num caminho lateral em relação àquele onde eu pousara a moto!

Recebeu-me com um “que grande moto!” e um sorriso, e foi o 4º guiché em que parei! Fiquei com o meu passaporte todo bonito, com um autocolante novo e tudo, para juntar aos diversos carimbos que vinha colecionando por aqueles países!

De volta à moto, encontrei-a toda vaidosa no meio de vários polícias aduaneiros que a admiravam de todos os ângulos. Ela ostentava já alguns autocolantes desta viagem o que, a somar aos da top-case, estava a entreter bastante aqueles homens! Quando me aproximei fizeram a pergunta da praxe, se fui a todos estes sítios de moto, e eu tive de me conter para não responder o que sempre respondo (Não, comprei os autocolantes pela internet!) e limitei-me a dizer que sim! Sim, sempre sozinha, sim mesmo à Escócia e à Polonia e à Holanda e tudo! Só a Marrocos é que fui com amigos!

E não tenho medo? Não, é tudo boa gente, não a Turquia não me metia medo pois é tudo boa gente também!

Lá me mandaram seguir e, como previsto, lá estava mais um guiché! Aí soltei uma gargalhada! Oh valha-me Deus será que vou ter guichés em filinha até chegar a Istambul? Que mais me vão pedir, onde mais me vão carimbar?

Ah, o passaporte para confirmar se lá estava o autocolante do visto? Ok! Com quem viajo? Sozinha e, adivinhe-se, lá se levantou o rapaz para olhar para mim e para a moto!

“wow, linda moto! Faça boa viagem e aprecie o nosso país!”

E isso quer dizer que há ou não mais guichés ali para frente? Não havia mais eu podia seguir à confiança! E assim foi, 30 minutos de guichés, admiração e espanto depois, lá estava eu a caminho de um dos pontos mais desejados desta minha viagem!

O Marmara aparecia ao meu lado, uma emoção… o 6º dos 7 mares que visitaria nesta viagem!

E comecei a sentir que estava perto de Istambul! A bem dizer eu estava já em Istambul mas pensava que não era possível, afinal faltavam tantos quilómetros para chegar ao meu destino!

Enquanto o trânsito foi fluído eu não pensei que já estava na cidade! Mas afinal tratava-se da cidade maior da Europa e uma das maiores do mundo e eu não processei logo o que isso quereria dizer, em termos de quilómetros, e estrada, e transito e tal… até tudo parar e eu ficar meio entalada muito direitinha na fila dos carros! “E agora o que faço? Furo ou sigo muito ordeira na fila?”

Havia policias no passeio por isso eu fiquei muito quietinha na fila! Então uma moto parou ao meu lado, o fulano abriu a viseira e falou-me em inglês “Tu não és um carro, anda para a frente!” “Mas está ali a policia!” disse eu “não importa, tu não és um carro e estás em Istambul, ou andas ou nunca mais sais daqui!” e seguiu fazendo gincana por entre os carros, mesmo por baixo do nariz dos policias.

Bem, se ele faz aquilo eu também faço! E foi a alucinação total, com a minha moto gigante a furar pelo meio das nesgas mais estreitas e variáveis, porque por ali o trânsito é caótico mas fluido e meio selvático em termos de rapidez! Uma alegria de condução que eu adoro e onde eu tinha de ter cuidado até com o sitio onde punha os pés, pois os carros circulam tão perto da gente que eu temia que me pisassem com alguma roda!

Eu sempre gostei de conduzir por entre os carros, torcer-me e retorcer a moto para passar aqui e ali, mesmo sendo ela grande e os espelhos demasiado ao nível dos dos carros, por isso foi um fartote de diversão e exercícios de pura agilidade!

O meu hostel era bem no centro da cidade, ali pertinho das mesquitas e tal, o que complicou a coisa pois o GPS mandava-me seguir para a esquerda e era sentido proibido, mais à frente a mesma coisa e eu a ver que estava mesmo no coração do turismo e da confusão. Parei junto a um polícia que estava na berma da estrada com a sua Crosstourer e, depois de um “Nice bike” mostrei-lhe no GPS onde queria ir e perguntei como fazer se as ruas eram todas de sentido proibido!

Ele apontou a rua ali ao lado e disse “Go!” mas é sentido proibido, insisti eu, “No problem!” insistiu ele! Ah ok, então bora lá!

Meti a moto pelos quelhos e na verdade ninguém pareceu importar-se que eu ali passasse, por esplanadas em que as pessoas arrumaram as cadeiras para eu passar, pisando tapetes e tocando nos vasos de flores, até chegar, meia dúzia de curvas depois, à porta que eu procurava!

O hostel ficava a escassos 200 ou 300 metros da praça onde para um lado fica a Mesquita Azul e para o outro a Basílica de Hagia Sophia, por isso o trânsito era tão condicionado!

Pousei a moto no parque do hostel e fui passear a pé, agradecendo a mim mesma a decisão que tomara de seguir direta para Istambul pois teria tempo para ver de imediato algo da cidade!

Istambul era uma cidade onde eu queria ir há muito tempo, já quando fiz o meu atual passaporte, há 3 anos, foi com a ideia de ir até lá, acabei na época por ir apenas até à Croácia e Hungria, deixando Turquia no baú do “tenho de lá ir”, por isso desta vez queria muito ali estar o máximo de tempo possível, sabendo que vou lá voltar mais tarde com todo o tempo!

Passeei-me um pouco junto à basílica de Hagia Sophia, aquela construção magnífica que já foi templo de 3 religiões, mas era a Mesquita Azul que eu queria ver naquele dia… e ela lá estava extraordinária do outro lado da praça!

Espanto, foi tudo o que consegui sentir ao olha-la…

Fui-me aproximando e o deslumbramento era crescente, porque a sua grandiosidade aumenta com a sua dimensão, a sua redondeza e os seus pormenores!

A Hagia Sophia fascina-me pela antiguidade e história, afinal é uma construção bizantina antiquíssima lá do séc. VI, mas a Mesquita azul, que é bem mais recente, do séc. XVII, foi construída para ser bela, surpreendente e superar a primeira e consegue-o pela harmonia de formas do seu estilo otomano em que a luz é bem aproveitada e joga para completar o quadro que ela é!

Em frente à Mesquita Azul há uma série de bancos fixos ao chão onde as pessoas se sentam, como numa plateia, onde o cenário é a basílica para um lado e a mesquita para o outro, num ambiente simpático, num entardecer de verão!

E fui à mesquita. À porta há placards a explicar como as pessoas devem estar vestidas para entrar.

Um fulano acercou-se de mim e esteve a ajudar-me e a explicar-me como devia fazer, pôr as botas num saco, tirar o chapéu e pôr um grande pano na cabeça, para poder entrar. Depois entrou comigo e só aí percebi que ele era uma melga a tentar cativar-me, porque os outros que estavam a ajudar as pessoas não entravam com elas! Oh valha-me Deus, lá vou ter de descartar esta melga da minha beira!

Fui tirando fotos daqui e dali e ele atras de mim com uma conversa de “vou-te levar a ver a mesquita do terraço de uma loja aqui ao lado e vamos tomar chá e mais bla, bla, bla!”

“Oh homem, desampara-me a loja!” mas não havia maneira, então disse-lhe que se fosse embora pois o meu marido estava a chegar e não seria bom que se encontrassem. “Eu não tenho medo do teu marido!” exclamou ele “Ai não? Mas devias ter! Olha que se eu sou assim grande, imagina como ele é, e tem mau feitio e é ciumento e tudo!” foi tão giro, o homem desapareceu imediatamente como o fumo! eheheheh

“E hoje cheguei a tempo de visitar a Mesquita Azul, antes das orações do fim do dia! Que bem me soube passear descalça pela alcatifa vermelha que reveste todo o seu espaço interior! Dão-nos sacos de plástico para pormos os sapatos e panos para as senhoras cobrirem a cabeça. Valha-me Deus, eu que não tenho jeito nenhum para segurar um pano tão rijo em cima de mim e ao mesmo tempo tirar fotos! Sentei-me no chão e fiquei ali a olhar o imenso espaço, sob a grande cúpula, onde apenas os homens podem entrar. Vou lá voltar amanhã, tenho muito o que ver numa construção tão fantástica como aquela!”

Sentei-me no chão e desenhei….

E fotografei e de alguma forma não me apetecia sair dali!

Tal como imaginara, apaixonei-me pelo edifício, e voltei a desenha-lo uma e outra vez, porque era uma das coisas que eu queria fazer ali, desenhar aquela mesquita!

A Mesquita Azul é a única na cidade que tem 6 minaretes e dizem que Istambul tem vinte e tal mesquitas! Dizem também que esta é a mais bela de todas!

E fui-me sentar nos tais bancos que estão na frente da mesquita, cheios de gente e miúdos e movimento, a comer melancia, que por ali se vende cortada aos cubos em latinhas de plástico com um garfo para a gente comer ali mesmo.

Duas crianças acercaram-se de mim, brinquei um pouco com elas tentando ver se me entendiam em francês ou em inglês. A mãe era uma daquelas fulanas todas cobertas com panos pretos apenas com uma frincha aberta nos olhos, que eram a única coisa que eu via do seu rosto. Cheia de lata dirigiu-se a mim

“És um cowboy?” perguntou “É que usas chapéu!”

Olha-me esta! Eu não podia acreditar que aquela coisa embrulhada em panos pretos me estivesse a querer gozar!

“És um ladrão?” perguntei eu em resposta “É que usas panos a tapar a cara!”

A menina, ou o que quer que fosse que estivesse dentro dos panos, parece que não gostou da resposta e foi-se juntar à amigas. Pelo sim pelo não pus-me de pé, para que ela e as outras entendessem que eu era muito mais alta que os seus 1.5m de altura e que não seria boa coisa virem meter-se comigo mais! Resultou, pude ver os seus olhos medirem dos pés à cabeça. Levantaram-se, recolheram os miúdos e foram embora! “Pindéricas!”

E eu fui passear pelo mercado ali ao lado!

Começava a hora da oração e estava tudo meio deserto por ali!

“Passear ao serão pelas ruas de Istambul foi a sensação tão esperada de liberdade, despreocupação e descanso de uma longa jornada! Tinha feito muitos quilómetros já, debaixo de temperaturas muito altas e uma noite fresca e agradável, com uma caixa de melancia fresca aos cubos para saborear, era tudo o que eu precisava para me sentir no paraíso! A Mesquita Azul brilhava por trás da fonte luminosa que mudava de cor a cada coreografia das águas, ouviam-se as vozes de quem, como eu, comia melancia às garfadas por ali e miúdos brincavam pelo relvado… Tenho de reviver isto de novo, um dia!”

E finalmente fui dormir, que este 23º dia de viagem fora longo!