26. Passeando pelos Balcãs… – Istambul, cidade extraordinária!

21 de agosto de 2013

Eu estava hospedada muito perto do monte Olimpo, sim aquele onde viviam todos os deuses gregos! Eu sabia que ele estava logo ali por isso não me preocupei muito em procura-lo pois ele apareceria a qualquer momento ao alcance do meu olhar, certamente, pois se ele é a montanha mais alta da Grécia e uma das mais altas da Europa!

Do outro lado da rua ficava o castelinho que me tinha feito companhia ao jantar na noite anterior, podia vê-lo no topo do morro, mas era outro monte o que eu queria ver!

Logo a seguir podia ver o mar Egeu! Que sensação olhar para o mar e saber que aquele não era o meu mar do costume, era o mar que provavelmente deve o seu nome a Egeia, rainha das Amazonas! Um mar da antiguidade cheio de história e histórias, lendas e memórias… importante para alguém a quem chamam Amazona! 🙂

Foi ali, ao caminhar pela areia, que eu percebi que me entrava areia por uma bota e constatei que tinha gasto boa parte da sola de tanto caminhar!

E lá estava o monte ao longe, imponente e envolto em nuvens misteriosas!

Um velhote viu-me ali especada a olhar e foi-me informando que estava mau o tempo no monte!

Falei-lhe da vontade de lá ir dar uma volta e tal!

Disse-me que com aquela nuvem enorme no topo, não valeria a pena lá ir, pois nada se veria, seria passear pelas nuvens, frio e chuva!

Logo à frente cruzei coma placa que indicava o caminho para lá…

Não sabia o que fazer!

Pus-me a comer amoras enquanto pensava, ao tempo que eu não via amoras na berma da estrada!

Se fosse arriscava-me a nada ver, apanhar uma molha e perder muito tempo no frio e mau tempo! Se não fosse, teria de escrever na minha agenda “Monte olimpos, um destino a visitar!” e seguiria para Istambul que ficava a uma infinidade de quilómetros dali!

Ora aquela infinidade de quilómetros eram afinal 737km, que foi o total percorrido por mim nesse dia…

Paciência, o Monte Olimpo e toda a sua mitologia teriam de ficar para outra vez, que Istambul estava a chamar-me e eu iria mas é para lá.

O caminho que eu faria a seguir seria uma tentação, eu sabia! Afinal estaria a percorrer o estreito caminho entre dois países, com o mar do lado direito e um terceiro pais da esquerda!

As placas a dizer Bulgária eram frequentes, como eu imaginava, e eu tive de as ignorar ou nunca mais chegaria ao meu destino!

Quando eu traço o meu caminho em casa, eu imagino o que vai acontecer e o que me vai passar pela cabeça e deixo para o momento as decisões que vou tomar do tipo, se me apetecer ir passear para a Bulgária, logo se vê, mas traço o caminho para Istambul!

O mar Egeu acompanhava-me sempre mais ou menos ao meu lado direito e a Bulgária do lado esquerdo!

E eu consegui resistir até começarem a aparecer as placas a dizer Turquia. Era melhor assim eu tinha de ter em conta a passagem da fronteira que podia ser demorada e não havia necessidade de a deixar para passar à noite! Depois a Bulgária continuará lá para eu visitar noutra viagem qualquer.

E passar a fronteira foi um momento único que me chegou mesmo a divertir!

Considerando que eu já tinha passado uma série de fronteiras, fiz como sempre faço, parei no primeiro guiché que me apareceu. Fui recebida por um “bom dia, o seu passaporte!” mostrei-o, perguntaram-me onde estavam os meus colegas, respondi que estava sozinha, o senhor ergueu-se de repente dentro da cabine e espreitou para moto “sozinha?!!!” arregalou os olhos “sim!” depois daquilo que pareceu uma eternidade de espanto, mandou-me seguir!

Só isto? Então e não quer ver mais nada para além do passaporte? Mas lá segui por uns 200 metros, outro guiché! Ah ok! Há mais um sítio para parar!

Mais um “bom dia” mas desta vez pediram-me a carta verde, perguntaram-me de novo pelos meus colegas, respondi de novo que estava sozinha “sozinha?” exclamou o homem, e desta vez ergueu-se ele e um colega que estava também dentro da cabine e olharam para a moto lá de dentro. “faça uma boa viagem!” disse ele finalmente entregando-me a carta verde!

Siga para a frente, parece que por ali toda a gente olhava para a minha moto como se ela fosse um veículo de outro planeta! Para ela e para mim! Mas sempre com simpatia e surpresa, nada que me assustasse ou sequer preocupasse.

Foi quando me começou a dar vontade de rir, porque logo à frente, pimba, mais um guiché, mais um “bom dia” e tal, desta vez estavam 3 homens dentro da cabine e pediram-me a carta de condução e o passaporte! “com quem viaja” perguntaram-me “sozinha” respondi! Levantam-se o três e olham para moto desde lá de cima da cabine cá para baixo. Não me contive e ri mesmo!

Conversavam entre eles e voltavam a espreitar para a moto. Valha-me Deus, que lhes estará a passar pela cabeça?

Bem, desta vez eu teria de ir a pé até ao guiché noutro lado, onde pagaria finalmente os 15€ para fazerem o visto. Aí o rapaz não espreitou para a moto porque a podia ver pela porta aberta da cabine, já que esta era num caminho lateral em relação àquele onde eu pousara a moto!

Recebeu-me com um “que grande moto!” e um sorriso, e foi o 4º guiché em que parei! Fiquei com o meu passaporte todo bonito, com um autocolante novo e tudo, para juntar aos diversos carimbos que vinha colecionando por aqueles países!

De volta à moto, encontrei-a toda vaidosa no meio de vários polícias aduaneiros que a admiravam de todos os ângulos. Ela ostentava já alguns autocolantes desta viagem o que, a somar aos da top-case, estava a entreter bastante aqueles homens! Quando me aproximei fizeram a pergunta da praxe, se fui a todos estes sítios de moto, e eu tive de me conter para não responder o que sempre respondo (Não, comprei os autocolantes pela internet!) e limitei-me a dizer que sim! Sim, sempre sozinha, sim mesmo à Escócia e à Polonia e à Holanda e tudo! Só a Marrocos é que fui com amigos!

E não tenho medo? Não, é tudo boa gente, não a Turquia não me metia medo pois é tudo boa gente também!

Lá me mandaram seguir e, como previsto, lá estava mais um guiché! Aí soltei uma gargalhada! Oh valha-me Deus será que vou ter guichés em filinha até chegar a Istambul? Que mais me vão pedir, onde mais me vão carimbar?

Ah, o passaporte para confirmar se lá estava o autocolante do visto? Ok! Com quem viajo? Sozinha e, adivinhe-se, lá se levantou o rapaz para olhar para mim e para a moto!

“wow, linda moto! Faça boa viagem e aprecie o nosso país!”

E isso quer dizer que há ou não mais guichés ali para frente? Não havia mais eu podia seguir à confiança! E assim foi, 30 minutos de guichés, admiração e espanto depois, lá estava eu a caminho de um dos pontos mais desejados desta minha viagem!

O Marmara aparecia ao meu lado, uma emoção… o 6º dos 7 mares que visitaria nesta viagem!

E comecei a sentir que estava perto de Istambul! A bem dizer eu estava já em Istambul mas pensava que não era possível, afinal faltavam tantos quilómetros para chegar ao meu destino!

Enquanto o trânsito foi fluído eu não pensei que já estava na cidade! Mas afinal tratava-se da cidade maior da Europa e uma das maiores do mundo e eu não processei logo o que isso quereria dizer, em termos de quilómetros, e estrada, e transito e tal… até tudo parar e eu ficar meio entalada muito direitinha na fila dos carros! “E agora o que faço? Furo ou sigo muito ordeira na fila?”

Havia policias no passeio por isso eu fiquei muito quietinha na fila! Então uma moto parou ao meu lado, o fulano abriu a viseira e falou-me em inglês “Tu não és um carro, anda para a frente!” “Mas está ali a policia!” disse eu “não importa, tu não és um carro e estás em Istambul, ou andas ou nunca mais sais daqui!” e seguiu fazendo gincana por entre os carros, mesmo por baixo do nariz dos policias.

Bem, se ele faz aquilo eu também faço! E foi a alucinação total, com a minha moto gigante a furar pelo meio das nesgas mais estreitas e variáveis, porque por ali o trânsito é caótico mas fluido e meio selvático em termos de rapidez! Uma alegria de condução que eu adoro e onde eu tinha de ter cuidado até com o sitio onde punha os pés, pois os carros circulam tão perto da gente que eu temia que me pisassem com alguma roda!

Eu sempre gostei de conduzir por entre os carros, torcer-me e retorcer a moto para passar aqui e ali, mesmo sendo ela grande e os espelhos demasiado ao nível dos dos carros, por isso foi um fartote de diversão e exercícios de pura agilidade!

O meu hostel era bem no centro da cidade, ali pertinho das mesquitas e tal, o que complicou a coisa pois o GPS mandava-me seguir para a esquerda e era sentido proibido, mais à frente a mesma coisa e eu a ver que estava mesmo no coração do turismo e da confusão. Parei junto a um polícia que estava na berma da estrada com a sua Crosstourer e, depois de um “Nice bike” mostrei-lhe no GPS onde queria ir e perguntei como fazer se as ruas eram todas de sentido proibido!

Ele apontou a rua ali ao lado e disse “Go!” mas é sentido proibido, insisti eu, “No problem!” insistiu ele! Ah ok, então bora lá!

Meti a moto pelos quelhos e na verdade ninguém pareceu importar-se que eu ali passasse, por esplanadas em que as pessoas arrumaram as cadeiras para eu passar, pisando tapetes e tocando nos vasos de flores, até chegar, meia dúzia de curvas depois, à porta que eu procurava!

O hostel ficava a escassos 200 ou 300 metros da praça onde para um lado fica a Mesquita Azul e para o outro a Basílica de Hagia Sophia, por isso o trânsito era tão condicionado!

Pousei a moto no parque do hostel e fui passear a pé, agradecendo a mim mesma a decisão que tomara de seguir direta para Istambul pois teria tempo para ver de imediato algo da cidade!

Istambul era uma cidade onde eu queria ir há muito tempo, já quando fiz o meu atual passaporte, há 3 anos, foi com a ideia de ir até lá, acabei na época por ir apenas até à Croácia e Hungria, deixando Turquia no baú do “tenho de lá ir”, por isso desta vez queria muito ali estar o máximo de tempo possível, sabendo que vou lá voltar mais tarde com todo o tempo!

Passeei-me um pouco junto à basílica de Hagia Sophia, aquela construção magnífica que já foi templo de 3 religiões, mas era a Mesquita Azul que eu queria ver naquele dia… e ela lá estava extraordinária do outro lado da praça!

Espanto, foi tudo o que consegui sentir ao olha-la…

Fui-me aproximando e o deslumbramento era crescente, porque a sua grandiosidade aumenta com a sua dimensão, a sua redondeza e os seus pormenores!

A Hagia Sophia fascina-me pela antiguidade e história, afinal é uma construção bizantina antiquíssima lá do séc. VI, mas a Mesquita azul, que é bem mais recente, do séc. XVII, foi construída para ser bela, surpreendente e superar a primeira e consegue-o pela harmonia de formas do seu estilo otomano em que a luz é bem aproveitada e joga para completar o quadro que ela é!

Em frente à Mesquita Azul há uma série de bancos fixos ao chão onde as pessoas se sentam, como numa plateia, onde o cenário é a basílica para um lado e a mesquita para o outro, num ambiente simpático, num entardecer de verão!

E fui à mesquita. À porta há placards a explicar como as pessoas devem estar vestidas para entrar.

Um fulano acercou-se de mim e esteve a ajudar-me e a explicar-me como devia fazer, pôr as botas num saco, tirar o chapéu e pôr um grande pano na cabeça, para poder entrar. Depois entrou comigo e só aí percebi que ele era uma melga a tentar cativar-me, porque os outros que estavam a ajudar as pessoas não entravam com elas! Oh valha-me Deus, lá vou ter de descartar esta melga da minha beira!

Fui tirando fotos daqui e dali e ele atras de mim com uma conversa de “vou-te levar a ver a mesquita do terraço de uma loja aqui ao lado e vamos tomar chá e mais bla, bla, bla!”

“Oh homem, desampara-me a loja!” mas não havia maneira, então disse-lhe que se fosse embora pois o meu marido estava a chegar e não seria bom que se encontrassem. “Eu não tenho medo do teu marido!” exclamou ele “Ai não? Mas devias ter! Olha que se eu sou assim grande, imagina como ele é, e tem mau feitio e é ciumento e tudo!” foi tão giro, o homem desapareceu imediatamente como o fumo! eheheheh

“E hoje cheguei a tempo de visitar a Mesquita Azul, antes das orações do fim do dia! Que bem me soube passear descalça pela alcatifa vermelha que reveste todo o seu espaço interior! Dão-nos sacos de plástico para pormos os sapatos e panos para as senhoras cobrirem a cabeça. Valha-me Deus, eu que não tenho jeito nenhum para segurar um pano tão rijo em cima de mim e ao mesmo tempo tirar fotos! Sentei-me no chão e fiquei ali a olhar o imenso espaço, sob a grande cúpula, onde apenas os homens podem entrar. Vou lá voltar amanhã, tenho muito o que ver numa construção tão fantástica como aquela!”

Sentei-me no chão e desenhei….

E fotografei e de alguma forma não me apetecia sair dali!

Tal como imaginara, apaixonei-me pelo edifício, e voltei a desenha-lo uma e outra vez, porque era uma das coisas que eu queria fazer ali, desenhar aquela mesquita!

A Mesquita Azul é a única na cidade que tem 6 minaretes e dizem que Istambul tem vinte e tal mesquitas! Dizem também que esta é a mais bela de todas!

E fui-me sentar nos tais bancos que estão na frente da mesquita, cheios de gente e miúdos e movimento, a comer melancia, que por ali se vende cortada aos cubos em latinhas de plástico com um garfo para a gente comer ali mesmo.

Duas crianças acercaram-se de mim, brinquei um pouco com elas tentando ver se me entendiam em francês ou em inglês. A mãe era uma daquelas fulanas todas cobertas com panos pretos apenas com uma frincha aberta nos olhos, que eram a única coisa que eu via do seu rosto. Cheia de lata dirigiu-se a mim

“És um cowboy?” perguntou “É que usas chapéu!”

Olha-me esta! Eu não podia acreditar que aquela coisa embrulhada em panos pretos me estivesse a querer gozar!

“És um ladrão?” perguntei eu em resposta “É que usas panos a tapar a cara!”

A menina, ou o que quer que fosse que estivesse dentro dos panos, parece que não gostou da resposta e foi-se juntar à amigas. Pelo sim pelo não pus-me de pé, para que ela e as outras entendessem que eu era muito mais alta que os seus 1.5m de altura e que não seria boa coisa virem meter-se comigo mais! Resultou, pude ver os seus olhos medirem dos pés à cabeça. Levantaram-se, recolheram os miúdos e foram embora! “Pindéricas!”

E eu fui passear pelo mercado ali ao lado!

Começava a hora da oração e estava tudo meio deserto por ali!

“Passear ao serão pelas ruas de Istambul foi a sensação tão esperada de liberdade, despreocupação e descanso de uma longa jornada! Tinha feito muitos quilómetros já, debaixo de temperaturas muito altas e uma noite fresca e agradável, com uma caixa de melancia fresca aos cubos para saborear, era tudo o que eu precisava para me sentir no paraíso! A Mesquita Azul brilhava por trás da fonte luminosa que mudava de cor a cada coreografia das águas, ouviam-se as vozes de quem, como eu, comia melancia às garfadas por ali e miúdos brincavam pelo relvado… Tenho de reviver isto de novo, um dia!”

E finalmente fui dormir, que este 23º dia de viagem fora longo!

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4 thoughts on “26. Passeando pelos Balcãs… – Istambul, cidade extraordinária!

  1. Que maravilha!!!
    Três coisas: viajar, duas rodas e… Istambul!!!
    Adorei ler e ver as suas fotografias. Pude relembrar o que ainda há pouco visitei (mas que nunca é demais ver e rever) e, diverti-me com os seus comentários ao que foi passando.
    Já agora, o tal velhote com quem falou sobre o monte Olimpo, não lhe disse que, por volta do meio-dia, há sempre nuvens a rodear o cume do monte?
    Um abraço e… boas viagens!!!

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