1.Islândia-Ilhas Faroé-Noruega

30 de julho de 2019

– de casa – Penafiel, até  Lorca – Espanha – 

A viagem de 2019 foi carregada de sentimentos e emoções que eu não quero perder… aquela viagem que eu fiz meses depois de perder o meu irmão!

A gente viaja mas tudo o que temos no coração parte connosco. É assim, nada a fazer! E todas as memórias ficam impregnadas do que o coração continha e acompanhou cada passo do caminho…

Por isso eu não escrevi nada ao voltar, nem no tempo que foi passando sobre a tristeza que pesava sobre mim por aqueles dias. Agora o tempo encheu as memórias tristes de sensações e momentos vividos e apetece relembrar e ordenar o que foi aquela viagem tão especial… Pode ser que eu a consiga ordenar sem ter vontade de desistir, parar e esquecer…

Lembro-me de organizar meus pensamentos e meu caminho com a maior angustia no coração. Uma capacidade que tenho de, apesar do sofrimento, conseguir dormir, viver e concentrar-me em algo bom, algo que me realiza e mesmo assim sonhar!

Organizar uma viagem que implica travessias de ferry sempre me stressa, não que eu tenha medo de andar de barco, medo do mar ou de que algo aconteça, apenas porque eu e minha moto estamos dentro! Acho que o meu stress vem mais do receio de não conseguir cumprir tempos ou errar embarques. E nesta viagem a preocupação era maior ainda, pois se algo corresse mal, não teria outro ferry no mesmo dia, nem no seguinte, nem sequer na mesma semana! Mas acabei fazendo um bom trabalho e um pequeno desenho do meu percurso total que seria a capa do meu livro de viagem!

Desta vez a minha bagagem era imensa. Para além de a Islândia ser um país caro, não há onde dormir por todo o lado. O país é pouco povoado e a melhor maneira de o percorrer calmamente é ir acampando nos muitos parques de campismo que se encontram por lá. Nas Ilhas Faroé a história repete-se, por isso na minha bagagem seguia uma tenda de alta montanha, um saco cama de baixas temperaturas e toda a roupa necessária para quem viaja no inverno! Eu já tinha a experiência do frio no norte da Noruega e Cabo Norte, por isso não iria pecar por falta de agasalho!

Eu não estou nada habituada a viajar com muitas tralhas e, definitivamente, ver a minha moto com coisas agarradas não era a coisa que me fazia relaxar minimamente! Mas tudo bem, há quem viagem com a moto mais carregada para ir mais perto e não morre, eu também não morreria!

Mas não deixa de ser caricato, justamente a minha moto com malas maiores até hoje, era justamente aquela que viajaria com carga amarrada ao banco por não caber tudo nos latões!

E parti sozinha…

Não sou pessoa de grandes momentos, sempre foram simples as coisas que fiz, sem muita pompa ou algazarra, mas depois de adiamentos por causa do trabalho, acabei por partir a uma terça-feira com o moçoilo a trabalhar, e foi um pouco triste, sem um beijo ou um abraço, a acrescentar à angústia que me acompanhava há tanto tempo.

Eu nunca me sinto em viagem mal saio a porta de casa, talvez porque passeio muito em redor. Apenas umas horas depois, à medida que me vou afastando, a sensação se apodera de mim e eu assumo o meu espirito e atitude de viajante! E é quando eu começo a parar para ver coisas que me chamam a atenção, normalmente antes de passar a fronteira para Espanha, em jeito de despedida, claro!

Claro que não passa um mural ou um grafitti que eu não pare para fotografar! Adoro!

E eu vi vários por Bragança, mas estes bichinhos derreteram o meu coração!

Bragança é uma cidade bonita e simpática onde sempre é um prazer passear.

“Antes de morrer o meu sonho é…. “

… tanta coisa eu podia escrever ali, apenas porque nem sei qual é o meu sonho, são tantos afinal!

E siga viagem, que Espanha é logo ali…

Não sei quantas vezes sou capaz de parar apenas porque vi uma parede pintada, mas acontece a todo o momento em todos os paises!

Naquela noite iria dormir em Lorca, Navarra, num albergue do caminho de Santiago. Eu sempre gosto destes locais, onde os hospedes são, normalmente, peregrinos. Gosto da atmosfera em redor, pois têm uma forma de estar e se comportar mais serena e focada do que os turistas frenéticos, sedentos de festa e algazarra.

“E eu a pensar que só estava frio em Portugal! Hoje andou entre os 20° e os 23°, e agora desceu para 18°!!!!
Depois de percorrer boa parte do caminho francês de Santiago ao contrário, vou ficar num albergue de peregrinos, pois então . As pessoas ficaram maravilhadas achando que eu estava a fazer o caminho de moto, claro que tive de explicar que não, que estou a caminho da Islândia! Instalou-se um silêncio de assombro, nem sei porquě! “
(in facebook)

O único senão, é que dormem cedo e por isso comem cedo também, nada a ver com os serões noutras localidades de Espanha, onde a vida começa às 10 ou às 11 horas da noite! E eu lá jantei cedinho ou não teria mais onde comer por ali!

De qualquer maneira não se perdeu nada, pois quando começo uma viagem sempre parto bastante cansada, depois de um ano de trabalho, avaliações, reuniões, relatórios, atas e correção de exames. Acrescentando a isso o facto de que o corpo não está habituado a fazer tantos quilómetros por dia e por isso os 2 ou 3 primeiros dias na estrada são para pôr tudo  isso na ordem dentro de mim! O caminho faz-se caminhando, como dizia o poeta e eu fizera já perto de 700km…

A motita tinha uma praça toda para ela e eu fiquei fazendo companhia até anoitecer, entre musicas, fotografias e cervejas!

O dia seguinte seria o verdadeiro inicio da exploração, eu estava já longe de casa o suficiente para haver muita coisa nova para ver, um pouco mais fora do meu raio de ação mais constante.

É sempre assim.

31 de julho de 2019

– de Lorca – Espanha, até Decazeville – França –

Há uns anos eu passei em Sos del Rey Católico, mas não explorei direito o pueblo, porque levava comigo um amigo que não queria andar, por isso dispôs-se a ficar na sua moto à minha espera enquanto eu ia explorar o local. Naturalmente não vi grande coisa, pois não se faz nada calmante sabendo que se tem alguém à sua espera! Desde essa data que eu queria lá voltar e demorar o que me desse na real gana, por ali!

A terrinha medieval é deliciosamente linda, não é por acaso que constra entre os pueblos mais v«belos de Espanha!

Deve o seu nome ao rei Fernando II de Aragão, que era católico e nasceu ali.

Está tão bem tratada e recuperada, que quase parece artificial!

É claro que fui lá acima à igreja, nunca deixo passar uma igreja velha, estava fresco lá em cima e fiz amizade com o velhote que estava a tomar conta do local. O senhor fez questão de me mostrar alguns pormenores da construção, contou-me algumas histórias, lendas…

E disse-me para eu me sentar cá fora e apreciar a paisagem, que eu tinha ar de precisar muito de estar só! E tinha razão, a maior paz estava em redor!

Não importa quantas coisas eu tenha planeado em casa ver, em viagem só vejo e só faço aquilo que me apetece, não sou escrava de nada, nem mesmo dos meus sonhos! Por isso fiquei ali o tempo que calhou até me apetecer seguir. E embora igrejas e mosteiros antigos sempre me despertem o interesse, não quer dizer que eu me vá enfiar em todos a estuda-los em pormenor. Por vezes sabe tão bem apenas parar e ficar a olhar!

E um cuidado que tenho é em parar em sitios bonitos para comer!

Raramente eu almoço com as perninhas debaixo da mesa numa viagem. Normalmente não me disponho a perder o melhor do dia sentada numa mesa, por horas, a comer. Deixo esses luxos para o jantar quando já não irei a mais lado nenhum e tenho o serão todo por minha conta!

Isso não me impede de escolher sitios bonitos para fazer o meu picnic de almoço! Com direito a mesa e telhado e tudo, só faltou fazer um churrasco improvisado ali!

E logo a seguir entrei em França, por um passo de montanha já meu conhecido mas que sabe sempre bem rever!

O Col de Marie-Blanque

“Por entre as curvas do col de Marie Blanque, encontra-se a pequena Chapelle de Houndas, num espaço simpático para um momento de pausa. A capelinha está ligada a histórias de doença e agradecimento pela saúde, vindas dos tempos da peste e celebrando em agradecimento pela cura até aos dias de hoje! Aos anos que eu a conheço, e no entanto é sempre um agradável encontro, como se revisse um amigo depois de muito tempo.”
(in Facebook Passeando pela Vida)

E a minha casa naquele dia era em Decazeville – França. Uma terrinha simpatica, com alguns murais para eu me entreter a procurar e apreciar!

A minha casa era muito antiga num recanto que era preciso encontrar por entre caminhos e ruelas ingremes que me levaram até ao topo do morro!

Lá fiz amizade com varias caminhantes do caminho de Santiago Francês, Todas mulheres, varias a caminhar sozinhas. Foi o serão do poder feminino ali!

Eu acabei por me retirar para a sala de leitura mais encantadora que podia esperar! Há sitios que são exatamente aquilo que eu precisava de encontrar e nem sabia…

Porque uma paisagem é mais poderosa que uma imagem e vale muito mais que as tais mil palavras…

Boa noite e até amanhã …

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24 thoughts on “1.Islândia-Ilhas Faroé-Noruega

  1. Que grandes saudades de eu relato de viagem da Gracinda! E neste confinamento vem mesmo a calhar!
    Só é pena que as fotos não estão a dar. Não deve ser do meu lado, já experimentei vários dispositivos e ligações diferentes à net. Dá para arranjar?

  2. Olá, gosto muito de ler os relatos da tuas viagens!!!
    Penso que deve haver um problema com o carregamento das imagens porque só consigo ver 3 e no 2.Islândia-Ilhas Faroé-Noruega nem uma foto se vê.

      • Bom dia Gracinda, é sempre um regalo ler os seus relatos.
        Infelizmente, eu também só consigo ver algumas das imagens.
        No post 1, aparece-me o ícone de uma imagem antes de “É claro que fui lá acima à igreja,(…)”, mas não a abre. Ao tentar fazer “botão direito – Abrir imagem num novo separador”, pede-me para fazer login numa conta microsoft. Após o login, diz-me que não tenho permissões para ver a imagem.
        Não terá algumas das imagens sem permissão para outros acederem? Espero ter ajudado.

        Entretanto, já estou à espera do post 3 🙂

      • Não sei, eu sempre faço as cronicas assim e sempre se conseguem ver as imagens, pelo que andei a explorar não ha nada que eu possa fazer! 😦
        Quando abrir ver no telemovel também não vejo as imagens, so no computador consigo ve-las.

      • Ainda não sei muito bem porquê, mas os URL das imagens estavam certos mas não eram assumidos para algumas pessoas! Voltei a coloca-los e funcionou! Hoje ainda, ficarão todas as crónicas visiveis.
        Boa viagem a partir de agora, entãoi 😉

  3. Muito obrigado por dividir suas viagens conosco. Gosto muito da forma como voce descreve toda a viagem. Sigo acompanhando.

  4. Pingback: Gracinda Ramos e a sua viagem de mota de Penafiel até à Islândia – Go Moto Travel Blog

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