20. Passeando pela Grécia/Balcãs – de Ljubljana até Zone

7 de setembro de 2022

Há momentos numa viagem que são difíceis de gerir.

Por um lado, tenho de seguir para casa, por outro lado quero ficar…

Há tanta coisa que eu quero ver e não posso, que tudo o resto parece secundário, como a dor no meu pulso, o trabalho que me espera, ou as saudades de casa. É nestes momentos que sinto que não devo ser normal, quando todo o tempo do mundo me parece pouco para realizar tudo o que quero…

Um dia, numa viagem qualquer, eu comentei que as coisas já sabiam a saudade e alguém respondeu que era compreensível que eu estivesse com saudades de casa… mas o que já me sabia a saudade era a própria viagem, porque se aproximava do fim.

Hoje eu estava nesse espirito…

Olhando pela janela do corredor podia ver lá em baixo a minha moto e isso perturbava-me tanto…

No dia anterior, para guardar a moto no pátio, eu percorrera um carreiro estreito em lajes de pedra, que alargava apenas um pouco no extremo, onde eu a parara, tudo o resto era gravilha!

Mas não havia espaço para dar a volta sem pisar a gravilha e eu não tinha habilidade para manobrar avançando e recuando até dar a volta, pois a minha mão esquerda não seria capaz de segurar o guiador.

Manobrar a moto à mão, então, estava completamente fora de questão, pois se eu nem conseguia pegar direito no capacete e tinha de o enfiar na cabeça essencialmente com a mão direita!

Então andava pelo hostel apreciando todos os recantos, enquanto mantinha o meu pulso esquerdo no gelo e ginasticava a mão, a ver se ela acordava e recuperava um pouco de força e mobilidade.

Por isso custou-me sair dali e fui aproveitando o espaço até me sentir suficientemente corajosa para partir.

Aquele dia não seria cheio de descoberta, seria mais como percorrer um caminho, por isso havia tempo para apreciar de perto a tão famosa transformação da prisão em hostel, com uma decoração muito zen

O recanto de apoio à cozinha dos hospedes era tão original quando bonito. Na realidade, em vez da mesa e os bancos sobressaírem, estava escavados no chão.

Não sei se foi um aproveitamento de uma configuração já existente ou se foi um trabalho de design original, mas que resultou muito interessante, resultou!

Finalmente a minha mão fechou, eu enchi-me de coragem e arrisquei tirar a moto para a rua.

Eu, que sempre tive os pulsos tão frágeis e tão pouca força nas mãos, percebia agora o quanto a habilidade e experiência são, por vezes, mais importantes que a força!

Dei a volta por cima da gravilha, usando a força da mão direita, enquanto a esquerda apenas seguia pousada no guiador.

Tive de o fazer em piloto automático, sem pensar muito, para não deixar os receios tomarem conta de mim, e foi limpinho!

E segui para Kamnik, uma encantadora cidade situada no vale do Rio Kamniška Bistrica, aos pés dos Alpes eslovenos. Dizem que é uma das mais bonitas cidades medievais da Eslovénia.

Sempre sorrio com as placas de “zona” daquele país!

mania de escrever zona com um “c”!

Šutna é a rua principal que atravessa a zona mais pitoresca da cidade. Está repleta de casas fofinhas coloridas e lojas pitorescas.

A Igreja Paroquial da Imaculada Conceição de Maria é o principal templo da cidade, de arquitetura de influência barroca, com linhas elegantes e fachada imponente.

Sempre acho piada como as igrejas parecem rebeldes, ao não estarem posicionadas no alinhamento das casas! Na realidade o seu alinhamento não obedece ao das casas e sim ao do sol, tendo sempre o altar virado a nascente e o portal a poente, para que os fieis caminhem da escuridão para a luz.

Porém isso faz com que seja difícil, por vezes, fotografar uma igreja de manhã, pois corre-se o risco de a apanhar em contraluz!

Era um pouco estranho para mim encontrar ruas completamente vazias. Não gosto de ruas cheias de turistas, mas ruas sem ninguém é um pouco desolador também!

Provavelmente noutras cidades haveria muita gente ainda, mas ali não é um sitio muito turístico, por isso não se via vivalma!

A Glavni trg é a praça principal da cidade. Encantadora sem ser demasiado decorada, como praças de noutras cidades, que são claramente desenhadas para turista ver. A simplicidade elegante da decoração apenas realça a verdadeira essência do local, tornando-o ainda mais especial para quem o visita.

Há ali um charme e autenticidade, combinando perfeitamente a atmosfera acolhedora da praça com a serenidade da cidade.

E ao fundo fica o lindissimo café Kavarna Kalipso!

Aquela fachada chamou-me a atenção desde a primeira vez que pesquisei sobre Kamnik. Ok, não fui lá por causa do café, mas estando lá, tinha de o encontrar e desenhar!

A casa chama-se Maistrova e tinha acabado de ser restaurada pouco antes de eu chegar. Eu pensei até que ainda a iria encontrar em obras, mas ela tinha-se vestido a tempo para mim!

Na realidade meses antes, tinha sido concluído o restauro da fachada da casa, como parte do projeto de reestruturação da praça principal da cidade.

Antes do restauro, a fachada era bege acinzentado, com elementos decorativos laranjados. Após a renovação, as novas cores da fachada geraram confusão por parecerem completamente novas e inadequadas. Mas, na realidade, as cores foram escolhidas conforme o original, antes do desgaste do tempo e a ação do sol.

Para mim ficou perfeita!

Ao lado fica o Caferacer Bar, onde eu tomei um café, um bom sitio para apreciar a fachada do Kavarna Kalipso!

Não havia motos nem motards à vista, apenas eu!

No topo da colina do Calvário, que pertence ao Mali grad, fica a Capela de Santo Eligius, ou Kapela Svetega Eligija.

Mali grad quer dizer, literalmente, castelo pequeno.

O portão para a capela estava aberto, mas tudo o resto estava fechado. Acho que é a desvantagem de se passear fora de época, ele só abriria muito mais tarde.

A capelinha empoleirada lá na ponta da colina, estava fechada também.

Felizmente as paisagens estão sempre abertas e dali podia verboa parte da cidade.

Fiquei surpreendida com a fidelidade da foto e de todas as explicações. Às vezes estes painéis são tão diferentes do que a gente vê na nossa frente, que se demora um pedaço até se descobrir onde está cada coisa!

Dali podia ver-se como as montanhas estavam perto.

A moto estava no outro extremo da rua Šutna. Estava na hora de pegar nela e seguir caminho.

Antes de sair do país tinha de encher o deposito, que a gasolina em Itália é sempre um roubo! Na realidade, comprovaria mais tarde que ela estava “só” mais cara 40 cêntimos por litro em Itália!

A Eslovénia continua a fascinar-me, podia sentir isso à medida que me aproximava da saída. Ainda há muitos mistérios, lendas e belezas naquele país a chamarem a minha atenção. Um dia terei de voltar!

Um dia terei de voltar!

Onde há monte há motociclistas e os avisos para que tenham cuidado começam a aparecer.

Ali diz: Secção de estrada perigosa.

E, ao dar uma olhada ao meu Ambrósio, podia perceber que tinha montanha gira para fazer. Os Alpes Julianos estavam tão perto e, infelizmente, eu não os iria atravessar, mas pude pelo menos ter um vislumbre!

Ora vamos lá Itália!

É sempre tão pouco interessante atravessar aquela zona de Itália, até chegar aos Alpes, mas eu não estava com disposição para andar a dar voltas em busca da montanha. Tinham previsto chuva para a zona onde eu pernoitaria e eu queria chegar lá antes dela, pois aquilo é bonito e montanhoso e não teria qualquer graça subir em meio à tempestade!

Enquanto as estradas eram vazias e distantes, a coisa teve piada, mas depois começam a aparecer as cidades e as estradas pilhadas de carros. Eu tinha consciência de que estava a passar perto de cidades muito movimentadas, como Pádua e Verona…

Estava tão perto de Veneza! Ui, aos anos que eu não passo lá!

É aquela sensação de estar perto de tanta coisa que quero ver ou rever e não posso. Uma pena!

O pior que me podia acontecer ainda, era ter de conduzir no meio do transito, e eu fazia tudo por evitar usar a embraiagem. Na realidade, naquela viagem, eu vinha usando e abusando da 4ª mudança, aquela que me permitia fazer mais coisas sem ter de mudar. Subi, desci, curvei e acelerei por dias a fio usando basicamente a 4ª.

Agora ia no meio de trânsito lento por quilómetros, rezando para que me deixassem usar pelo menos a 5ª, sem ter de baixar!

E finalmente cheguei à estrada de Zone.

Eu já lá tinha estado uns anos antes, com uma CrossTourer, quando regressava da Islândia, por isso sabia que a estrada era fixe, com curvas e subidas excelentes para a minha 4ª mudança.

É, parece que qualquer terra pode ficar no caminho da Islândia. Neste caso no regresso da Islândia, quando eu decidi que seria uma boa ideia passar pelos Alpes Italianos, pelas Dolomitas e pelo lago de Garda!

Zone fica na montanha, nos Pré-Alpes de Bréscia, conhecidos em italiano como Prealpi Bresciane, com vista para o Lago d’Iseo.

E fiquei no mesmo albergue da ultima vez. Eu lembrava-me bem, mas não contava que se lembrassem de mim!

“Ainda da série, quanto tempo as pessoas se recordarão de nós após a nossa passagem, aqui fui recebida com um alegre ” questa è la tua seconda volta qui!” e um enorme sorriso a acompanhar a exclamação! Eu já não me lembrava bem quando cá estive, mas a senhora lembrou-me que a minha moto era preta. Puxa, sabe bem que se recordem de mim depois de tanto tempo e tanta gente que aqui passou…” in Facebook

Depois lembrei-me que a moto não era totalmente preta, tinha o deposito vermelho. A senhora lembrava-se que era uma moto alta e que eu apanhara muita chuva. Eu sei, e hoje quase a apanhava outra vez!

Lembrava-me da paisagem da janela do meu quarto, que era o mesmo.

Será que o hostel só tinha um quarto?

Eu tinha percebido da ultima vez que muita gente se alojava ali para praticar desportos de montanha, subir os trilhos e relaxar. Já da outra vez eu era a que estava de passagem, que vinha de mais longe e que ia para mais longe também!

Desta vez a história repetia-se!

Aquelas paisagens deslumbravam-me! Não me admirava que houvesse quem fosse para ali só por causa delas!

É sempre curioso como uma terra estranha se torna, depois de uma viagem, terra conhecida! E era isso que eu sentia, que passeava por terra conhecida, tentando descobrir algum recanto novo.

A igrejinha é muito fofa, da ultima vez estava fechada, mas desta vez consegui vê-la por dentro. Pareceu-me que era consagrada a S. Pedro, a considerar pelo santo que está no altar, vestido de escuro e com barbas e cabelo branco!

Irónico se o santo padroeiro for o S. Pedro, pois parece que por ali chove que se farta! O santo não tem consideração pelos seus fieis?

Eu e o meu braço, todo folclórico, com as fitas de drenagem neuromuscular azuis para dar um pouco de cor ao conjunto.

Regressei à base, antes que o temporal se instalasse. No hostel tinham avisado que vinha aí muito mau tempo, a confirmar as previsões que eu vira no meu telemóvel.

A comida estava deliciosa!

Aquela carne estava um luxo, acho que apenas como carne com aquela qualidade e grelhada exatamente no ponto, lá ou cá! Como se em mais país nenhum conseguissem entender como ela se prepara!

Então um fulano entrou no restaurante e pôs-se a falar com outro que estava numa mesa perto da minha. Percebi, pela conversa, que o homem que tinha entrado era português, por isso falei…

Eu, que fico sempre no meu canto, que nunca revelo quem sou nem de onde sou a outros portugueses, disse que era portuguesa. Ele veio sentar-se na minha mesa, o que já me deixou meio desconfortável, mas lá nos pusemos à conversa e tudo correu bem, até eu falar do meu moçoilo…

O homem ficou em choque, então eu tinha marido e andava por ali sozinha?

– Não está certo, não está correto, não pode ser! – dizia abanando a cabeça negativamente.

– Mas então porquê? Eu não ando a fazer nada de errado!

– Mas um casal tem um compromisso, têm de andar os dois! – defendia ele

– Como isso? O meu homem não gosta de viajar e viajar é um dos grandes objetivos da minha vida, não dá para andarmos juntos!

– Não importa, têm de arranjar um entendimento porque vocês têm um compromisso!

Eu olhava-o incrédula!

– Temos o compromisso de nos fazermos infelizes um ao outro? E se eu fosse um homem, para si já estaria tudo bem, certo?

– Bem, não, sim, talvez…

Peguei nas minhas coisas e fui embora, prometendo a mim mesma manter a boca calada, como sempre faço quando percebo portugueses por perto…

Então a tempestade começou, para complementar o meu aborrecimento pela conversa que eu não pedi, mas tive de aturar.

A cada trovão que explodia o céu se iluminava mostrando o perfil dos montes em redor, num espetáculo que me fascinou e me fez esquecer o estupido lá de baixo.

As noites de tempestade sempre me fascinaram, mesmo quando as apanho na estrada. Mas ali, protegida, com uma janela privilegiada para ver o espetáculo, foi o máximo!

Além dos flashes que iluminavam tudo, a chuva tornou-se violenta, curiosamente sem qualquer vestígio de vento!

E lá fui dormir quando o espetáculo terminou, esperando que o São Pedro tivesse gasto a água toda e não houvesse mais para amanhã!

19. Passeando pela Grécia/Balcãs – a Eslovénia e a bela Ljubljana

6 de setembro de 2022

Depois da longa distância de mais de 500km de ontem, hoje eu tinha um pequeno trajeto para percorrer.

Frequentemente eu faço isso ao planear as minhas viagens, quando tenho um percurso longo num dia, trato de desenhar um pequeno para o dia seguinte.

Na realidade eu quis fazer a costa croata de uma vez só, como uma história contada seguida, um passeio de dia inteiro, e deixara a passagem pela Eslovénia para um passo a passo e assim poder apreciar cada curva do seu caminho, cada subida e descida, até à capital.

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O meu quarto era tão bonito, com a cama junto à enorme janela de parede inteira, a dar-me a sensação de que estava a flutuar sobre a paisagem! Até apetecia viver ali mais tempo!

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A vista sobre a baía era fenomenal!

Mas estava na hora de partir. A sensação de ter de seguir entristecia-me um pouco, estava numa viagem encurtada e, de alguma forma, sentia isso no meu esqueleto, habituado a passar muito mais tempo na estrada.

Naquela altura eu já estava tão habitada à dor que, se pudesse, teria alongado a viagem mesmo com o ritual de dor-estrada-gelo-e-mais-estrada, sem problema!

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Não foi longo o caminho até passar mais uma fronteira e lá estava a Eslovénia.

A Eslovénia é um país deslumbrante, com uma paisagem natural impressionante de majestosas montanhas. As minhas memórias, das vezes que me passeei pelo país, sempre são recheadas de percursos encantadores, mesmo quando não há mais nada para ver para além de estradas rodeadas de natureza.

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Estava a passar em Bač quando vi a indicação do castelo de Kalec. Não pude resistir e tentei ir até ele…

Mas tive de o ver de longe, porque o caminho era ruim, em terra batida… Isso não me teria stressado noutras circunstancias, mas, naquele momento, não me atrevi a meter a moto por ele. Era triste para mim sentir-me limitada, mas não tinha alternativa, não podia correr riscos.

O castelinho do séc. XIV, tem apenas uma torre e alguns trechos de muralha, mas parece que está em ruinas. Então contentei-me imaginando que, se calhar, ele até era mais bonito visto ali da rua, com a torre a aparecer por cima das árvores… 😦

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Normalmente eu percorreria caminhos e ruelas, sem me importar com o estado em que estivessem, mas tinha de me reduzir à minha incapacidade e permanecer civilizada, andando apenas por estradas em bom estado. Nada a fazer!

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Logo à frente, em Pivka , fica o Parque de História Militar.

O Parque é o maior complexo museológico da Eslovénia, tornando-se um dos museus mais visitados. O projeto transformou Pivka em atração turística, impulsionando o desenvolvimento local. A exposição “Caminho para a Independência” relata a defesa da Eslovénia em 1991, aquando da Guerra dos Dez Dias, ou Guerra da Independência da Eslovênia, o conflito armado decorrente da declaração de independência da Eslovênia da Iugoslávia.

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Eu queria visitar o museu, mas o paleio com um par de motociclistas acabou por esgotar-me e esgotar o meu tempo, e a visita seria muito demorada para eu a iniciar tão tarde!

É muito gratificante ficar à conversa com motociclistas, mas, numa viagem, normalmente é pouco produtivo, porque se fala essencialmente de motos e se gasta muito tempo com isso. Mesmo eu tendo tentado saber coisas diferentes, sobre locais e historias de viagem, nem sempre adiantou. Falou-se de motos e mais motos, encontros e outros motociclistas que fazem trilhos e convívios… tudo coisas que não conheço e de que só gosto de falar quando estou quieta, porque me esgotam quando estou em viagem, pois não trazem nada de novo!

Momentos giros que me tiraram o tempo que podia ter usado visitando o museu…

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Entrei na loja, comprei um boné para o meu moçoilo, dei uma olhada em redor e segui o meu caminho… Pode ser que um dia eu lá passe de novo e consiga visitar a coisa com calma!

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Parei mais à frente na sombra da igreja Župnijska cerkev sv. Petra, a igreja paroquial lá do sitio. Igrejas sempre me prendem a atenção, sobretudo em países onde sei que os interiores são inesperadamente diferentes dos nossos!

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E mais uma vez não me enganei! Embora a igreja fosse simples no exterior, era muito bonita no interior, todo pintado com cores e imagens extraordinárias. Pelo que percebi tudo aquilo foi pintado por um padre pintor! Fantástico!

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Estava nos domínios do Castelo de Predjama – o Predjamski grad.

O imponente Castelo, que tem mais de 800 anos, está encrustado no topo de um penhasco e é uma maravilha de origem medieval que parece saída de um conto de fadas.

Ali por baixo dizem que há uma rede de túneis secretos pelos quais o cavaleiro Erasmo de Lueg, saia e entrava, para as suas expedições de saque. Sob o castelo, encontra-se a Caverna de Predjama, com uma colónia de morcegos, acrescentando um toque misterioso e fascinante a toda a área.

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E há mais lendas ali, eu adoro descobrir lendas, e castelos sempre têm as suas.

Então, reza outra lenda que Erasmo de Lueg teria matado um nobre na Corte de Viena durante uma discussão onde o outro teria ofendido a honra de um seu amigo falecido. Como o nobre era parente do Sacro Imperador Romano Frederico III, Erasmo fugiu para seu Castelo de Predjama, para evitar a punição. Então o imperador enviou o governador de Trieste para cercar o Castelo, planejando privar Erasmo de comida. No entanto, Erasmo conseguiu sobreviver com alimentos entregues através de um túnel secreto no sistema de cavernas por baixo do castelo, ao que parece por uma mocinha que gostava dele.

Após o longo cerco de mais de um ano, Erasmo foi traído por um de seus servos e morto, quando estava a fazer as suas necessidades, com um tiro de canhão que destruiu a retrete toda e parte da muralha do castelo.

Que forma mais embaraçosa de um cavaleiro morrer!

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O castelo é conhecido como o maior castelo-caverna do mundo, sendo reconhecido como um dos recordes mundiais do Guinness. Devido à sua singularidade e grandeza, destaca-se como um dos castelos mais fascinantes do mundo, tendo já sido usado como cenário de varios filmes.

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O edifício atual é do século XVI, quando outra família nobre decidiu reconstruir as ruínas da estrutura medieval. Depois disso ele foi sempre habitado, até à proclamação da República Federal Socialista da Jugoslávia, quando foi confiscado pelas autoridades comunistas jugoslavas e transformado em museu.

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Eu já o tinha visitado numa outra viagem, anos atrás, por isso apreciei-o por fora, fiz uns pequenos desenhos e fui-me acomodar uma esplanada muito interessante, para lanchar qualquer coisa e apreciar o momento.

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Um lanchinho delicioso, numa esplanada cheia de esculturas de madeira, acompanhado por música e conversas com os senhores que estavam a servir no local.

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Até a placa dos bilhetes tinha direito ao seu próprio boneco em madeira! E sim, vstopnice que dizer bilhetes. As coisas que eu sei, heim?

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A seguir passei na famosa Idrija

A cidade é famosa por várias coisas: primeiro ali existem as maiores minas de mercúrio do mundo, depois o seu famoso Castelo Gewerkenegg é património mundial da humanidade e, finalmente, um novo mineral foi encontrado pela primeira vez em Idrija e recebeu o nome de idrialita em homenagem à cidade.

Segundo a lenda que, há mais de 500 anos, um fabricante de baldes descobriu mercúrio líquido perto de uma fonte e hoje sabe-se que Idrija é um local raro onde o mercúrio pode ser encontrado tanto na sua forma líquida como mineral.

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E lá estava o famoso Castelo Gewerkenegg. 

Foi construído pelos proprietários das minas, no séc. XV, para abrigar a administração, apoiar as minas e armazenar e proteger o precioso mercúrio contra as invasões turcas e venezianas. Por isso nunca foi um castelo convencional, dado que nunca foi residência de uma família aristocrática!

Não sei porquê, mas estava fechado, por isso tive de seguir caminho sem o visitar. Uma pena, pode ser que um dia eu volte a passar e consiga visita-lo por dentro!

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O verde é tão vibrante por aquelas terras!

A vantagem de se viajar de moto é que se sentem todas as variações de temperatura e todos os cheiros e aromas da natureza e isso é uma sensação que envolve completamente os sentido de forma inebriante, por vezes!

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É sempre como se a própria terra me convidasse com segredos antigos para explorar cada recanto de cada cenário em redor!

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A beleza cênica das estradas montanhosas da Eslovênia pode ser verdadeiramente incomparável.

Eu terei de voltar ao país para fazer algumas estradas fantásticas que estão na minha agenda. Mas, infelizmente, não agora, que o tempo não deixa e a mão não ajuda…

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Cheguei a Ljubljana cedo como eu queria

O meu hostel, moderno e bonito, foi ele próprio uma das razões da minha reserva, porque o queria ver por dentro.

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Na realidade, o edifício onde ele está, era uma antiga prisão militar que foi transformada num hostel moderno e artístico. Cada quarto do albergue foi projetado exclusivamente por diferentes artistas, tornando cada estadia uma aventura criativa e inspiradora.

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O hotel é reconhecido e premiado internacionalmente pela sua singularidade, perfeita adaptação de um espaço militar e beleza de decoração.

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Com um conceito e história únicos, passar a noite numa das 20 antigas celas de prisão, com grades nas janelas e portas, pode ser uma experiência muito interessante!

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E tem um pátio, onde mais tarde eu guardaria a moto, com pormenores interessantes!

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Outra razão para eu querer pernoitar ali é que o hostel está rodeado pela vibrante área de Metelkova, conhecida por seus bares, pubs, galerias, museus e teatros e arte urbana.

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O nome completo é Avtonomni kulturni center Metelkova mesto – “Centro Cultural Autonomo da Cidade de Metelkova”, e é um centro social e cultural autónomo localizado no coração de Liubliana.

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O nome completo do local é Avtonomni kulturni center Metelkova mesto – “Centro Cultural Autonomo da Cidade de Metelkova”, e é um centro social e cultural autónomo localizado no coração de Liubliana.

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Inicialmente, o aquilo tudo era o quartel-general militar do Exército do Império Austro-Húngaro e, posteriormente, do Exército Popular Jugoslavo.

Então foi ocupado por artistas e ativistas, desde setembro de 1993, depois do país se ter separador da Jugoslávia e após o exército se retirar, e recebeu o nome de Metelkova, em homenagem a um padre católico, filólogo e reformador linguístico esloveno do século XIX, Fran Metelko.

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Desde então, Metelkova transformou-se num centro cultural autónomo, conhecido por sua arte de rua, eventos culturais, clubes noturnos e exposições.

O quarteirão é composto por sete edifícios, antigos quartéis militares, espalhados por uma área total de 12.500 m².

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Metelkova atrai uma mistura eclética de visitantes com uma atmosfera alternativa e criativa, desde artistas e músicos a turistas curiosos em busca de algo diferente. Os edifícios coloridos e decorados com grafitis são palco para festas, concertos, performances teatrais e exposições de arte contemporânea. Além disso, o bairro é um importante espaço para a expressão artística e para o debate de questões sociais e políticas na Eslovênia.

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Metelkova é estudada por sua ocupação e convivência com as leis. É considerado um espaço heterotópico, que coexiste com a cidade legalmente. Dividido em áreas de arte, vida social, envolvimento civil, e comercial, convivendo bem com espaços institucionais como o Museu de Arte Contemporânea e o Hostel Celica.

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Em 2005, Metelkova foi declarada património cultural nacional, recebendo apoio financeiro do Fundo Cultural Europeu. É uma comunidade autogerida com urbanismo informal, inicialmente ilegal, mas agora legalizado, que contribui significativamente para a cena cultural de Liubliana, concentrado grande parte dos dos concertos musicais e eventos artisticos da cidade.

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Andava eu mas minhas explorações, quando um rapazão meteu conversa comigo. Na realidade eu andara por ali praticamente sozinha, por isso a sua abordagem não me inspirou muita confortavel. Mas ele era um tipo muito bem-disposto que se pôs a dizer uma infinidade de coisas até eu me rir. Aparentemente era esse o seu objetivo! Mas o ponto alto foi quando me dirigi à minha moto e ele ficou escandalosamente em estado de choque, por eu ir conduzir uma moto tão grande! Como ele continuava a gesticular eu acabei por lhe tirar uma foto para a posteridade, quando já me ia a afastar.

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Fui passear pela rua principal da zona antiga da cidade, que é sempre uma experiência encantadora. Àquela hora os monumentos estariam fechados, mas isso não seria um problema, visto que eu conhecia um pouco de tudo o que há para visitar por lá, de outras visitas anteriores à cidade.

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Os edifícios históricos sucedem-se de forma harmoniosa, com lojinhas, cafés e esplanadas a adornar a rua. E apetece parar, sentar e ficar a apreciar quem passa.

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Então chega-se à Praça da Cidade e lá está a Fonte Robba, também conhecida como Fonte dos Três Rios Carniolanos, um ícone de Liubliana. (Carniola é a região em redor da cidade).

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Felizmente não havia demasiada gente, o que permitia apreciar a beleza do local com uma luminosidade impressionante.

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Acho que não havia tanta gente nas ruas por ser setembro, como em agosto quando costumo viajar, por isso foi um passeio descontraído, sem demasiados turistas nem demasiado calor.

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O rio Ljubljanica atravessa a cidade serpenteando por ela de ponta a ponta e é ele quem dá o nome à cidade.

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Pude passear pelas margens calmamente. Lembro-me de passear por ali ao som de musica ao vivo, com magotes de pessoas a fotografar tudo e todos, sobretudo a si mesmas, e desejar voltar fora da época alta.

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Junto à Praça Peresen fica a Ponte Tripla e a Igreja Franciscana da Anunciação, do século XVII, a igreja paroquial é a mais icónica da cidade, que chama a atenção pela sua cor rosada, uma cor simbólica da ordem franciscana.

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Eu já lá tinha entrado há muitos anos, mas não deixei de dar uma olhada.

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O barroco não é o estilo que mais me fascina, mas não deixo de apreciar a sua grandiosidade decorativa.

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Havia um clima sereno e, aparentemente, não era apenas eu que tinha vontade de sentar e apreciar o momento.

O ambiente era super agradável, com o pôr do sol a aproximar-se. Era como se a tranquilidade do lugar convidasse todos a desacelerar e simplesmente apreciar.

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Acho que sempre que passo em Ljubljana janto junto ao rio e desta vez não foi exceção!

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Comi uma deliciosa piza, empoleirada numa tábua com pernas, acompanhada por uma enorme cerveja. Nunca me desiludo a comer naquela cidade!

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E fui embora com a barriga cheia, e o espirito leve por relembrar tão bela cidade, que já não visitava há alguns anos!

12. Passeando pelos Balcãs… – de Bled até Zagreb…

8 de agosto de 2013

Estava na hora de enfrentar o calor de novo, mas eu não imaginava o quanto ele seria forte naquele dia! A vontade de ficar mais um pouco desaparece quando penso em tudo o que ainda há para visitar e nos grandes destinos que me esperam e naquele momento a partida sabia não a despedida mas a continuação do prazer da descoberta!

Percorri o caminho até ao centro da cidade, com casinhas fofinhas que apetecia habitar

E fui fazer um último picnic junto ao lago, porque eu tenho sempre tempo para mais um momento de paz nas minhas viagens! Nada é frenético nos caminhos que faço, por isso apesar do café da manhã que me deram na pousada onde dormi, fui comer a minha fruta com toda a calma, num banco de jardim à sombra e com uma paisagem que sempre me deixa saudades!

E ao pegar na moto ainda dei um belo passeio em torno do lago, num último olhar sobre a beleza pura!

E só depois segui viagem, com a vontade de não parar muito no meu caminho para Zagreb. O calor apertava já e rapidamente decidi que não iria andar de um lado para o outro a morrer, pois não tenho qualquer vocação para sofrer!

Por isso desviei-me apenas para visitar Predjama e o seu castelo!

O castelo é um espanto, construído literalmente na boca de uma caverna, foi sendo aumentado e adaptado à rocha que o acolhia ao longo dos séculos.

Inicialmente ele foi gótico, uma construção pequena do séc. XIII que se abrigava quase totalmente dentro da gruta, mas depois foi crescendo para fora dela.

E a gruta faz parte dele, com recantos inspiradores!

Sobe-se, desce-se, passa-se por corredores estreitos, passagens mais amplas e volta-se quase ao mesmo sítio!

E o pedregulho que forma a encosta e a gruta está por todo o lado!

Do castelo a paisagem sobre a aldeia e os campos inclinados, onde se fazem jogos de época, é linda!

Então volta-se a encontrar escadas escavadas na rocha, ingremes e sombrias que levam mais para o interior da gruta!

Há uma lenda sobre o castelo que conta que um cavaleiro, conhecido por Barão Ladrão, se fechou no castelo por muito tempo ao ser perseguido pela morte de um nobre.

Do castelo ele atirava cerejas para os soldados que o cercavam, levando-os ao desespero por não saberem nem entenderem como podia ele ter cerejas frescas depois de tanto tempo fechado no castelo cercado.

Na realidade o castelo tinha um túnel secreto, que ligava a uma aldeia mais longe, de onde vinham os mantimentos e as cerejas.

Os inimigos acabaram por subornar um criado do Barão que denunciou a sua presença na retrete, que era o único ponto frágil do castelo, e o nobre foi apanhado, literalmente, com as calças na mão por uma bala de canhão!

O castelo foi destruído e mais tarde reconstruido pelos novos proprietários e hoje lá está, com as suas galerias em pedra a complementar a construção.

Por baixo dele há uma série de grutas que podem ser visitadas, mas a fila de pessoas com capacetes de lampadinhas na testa era grande e não me apeteceu esperar para ir ver!

É curiosa a sensação de olhar para um castelo real enfiado numa gruta!

O calor era insuportável e eu só conseguia sentar e beber a todo o momento enquanto apreciava tão extraordinária paisagem!

Constatei que o termómetro da moto, por tudo e por nada, subia a valores fora do comum, até fixar-se regularmente nos 44º, por vezes ía mesmo aos 45º…

Estas temperaturas são de tal ordem fortes que conseguia estar mais fresco dentro do capacete fechado do que cá fora!

Eu parava a cada oportunidade, já por vício, já por desespero! Comprava uma garrafa de agua com gas gelada, bebia um bom pedaço e partia, pois apesar de tudo era menos penoso rolar do que parar, mas a garrafa fresca na mala chamava por mim e a urgência de parar antes que ela aquecesse era obsessiva! Quando encontrava trânsito lento o desespero começava a ameaçar instalar-se, volta a parar, bebe mais um pouco, segue mais um pouco!

Então, a dada altura, quando o trânsito voltava a ser mais lento, porque os automobilistas reduzem a velocidade com o calor e deixam o carro deslizar suavemente… porque têm ar condicionado e deslizar pelo calor infernal é natural, 5 motos desportivas seguiam na minha frente, a passinho de caracol, tentando passar. Eu ia mais atrás, a cismar mais uma vez com a água fresca que acabara de comprar, quando um dos motards vai abrandando o ritmo até que caiu para o lado!

Cruzes! O homem desmaiou!!!

Parei na berma da estrada tentando encolher a moto sob uma pequena sombra de árvore.

Os colegas acorreram a ajudar o rapaz, tentando a todo o custo senta-lo. Valha-me Deus, nunca se levanta um desmaiado!

Fui ajudar. Eles falavam alemão, mas a linguagem gestual e o inglês serviram muito bem para lhes dizer “parem com isso!”. Fui buscar a minha toalha de banho, que é enorme, e pus dois a segura-la pelas pontas para fazer uma tenda de sombra sobre o rapaz, que estava ardente, parecia que tinha febre!

Tirei-lhe as botas, tirei-lhe o capacete, abri-lhe o blusão. Estava de fato de couro completo com camisolas por dentro! Só de ver aquilo eu própria quis desmaiar de calor! Então molhei-lhe a cabeça e os pulsos com a minha água ainda bem fresca e frisante. Lentamente ele voltou à vida.

O dilema ali era, se andasse sem casaco podia cair e magoar-se, se andasse com o casaco cairia de novo de certeza! “siga sem o casaco ou vai voltar a cair mais à frente!”

Ele assim fez, prendeu o casaco com a aranha no banco da moto e preparou-se para seguir caminho.

Quando voltei à minha moto ela apontava 42º, ao andar deveria ir descendo… mas não desceu, subiu mais e mais até aos 44º…

Depois da minha boa ação, fiquei de novo sem água! E a sede não era muita… era demais! Comecei a temer pela minha própria segurança, apesar de tudo eu também tenho a tensão arterial baixa…

Parei em Novo Mestro para me reabastecer de água, porque condições para visitar não era nenhuma!

Mais uma cerveja. Mais uma garrafa de água XL e o meu lenço vermelho a ficar todo molhado de eu limpar o rosto a todo o momento!

Tudo era escaldante por ali, pensar em caminhar só por si era um suplício! Oh céus, eu quero um lago para me meter dentro!

A terrinha era simpática mas o calor não deixou apreciar nada! Dei um banho à moto com a água gelada que pedi no café, pois agora eu já pensava também em refrescar a moto para poder sentar-me sem ter de levar com o calorão do assento!

Cada sombra da estrada sem trânsito servia para beber mais e mais água. Não me lembro de ter sofrido nunca tanto calor seguido, por tanto tempo, numa viagem!

Eu sentia que estava a perder paisagens lindas e recantos encantadores do país, mas só tinha uma coisa em mente… encontrar frescura no meio do inferno!

Passei pelo Grad Mokrice que eu queria ver mais de perto mas a vontade passou-me! O castelo do séc. XV já me chamou a atenção há uns anos atras, mas ainda não foi desta que fui vê-lo mais de perto! Terá de ficar para outra vez com menos calor!

A fronteira da Croácia é logo ali e eu só pensava em ir a correr esconder-me em Zagreb na pousada!

E foi o que fiz!

Que me importava se era cedo ou tarde? Entrei em desespero pela receção e… estava tãããão fresquinho lá dentro! Huuuuuum
O gatito da rececionista ficou em pânico com a minha entrada desesperada! eheheheh

Enfiei-me no bar, estiquei-me num sofá, pedi uma cerveja e morri de prazer e frio!

Então foram chegando outros hóspedes mochileiros, aflitos como eu, que se foram enfiando lá dentro refugiados e esbaforidos do calor. Um grupo de rapazes trazia garrafões de água de 5 litros, em vez de garrafas, num grupo de raparigas 2 apresentavam queimaduras solares graves nos ombros nus e toda a gente ali sofria atrozmente com o calor!

A tarde foi avançando e ninguém tinha vontade de voltar ao calor, então o céu desabou em fortes chuvadas intermitentes que fizeram tudo cheirar a terra e a pó, como se o chão estivesse são sedento de água e frescura como nós!

Não saí mais, jantei e fiquei por ali

e foi o fim do 10º dia de viagem!

11. Passeando pelos Balcãs… – A bela Bled…

7 de agosto de 2013

Desde que passei por Bled a primeira vez que eu tenho vontade de voltar! Há algo de irreal na sua beleza que nos faz sentir a viver num conto de fadas ou num postal ilustrado de agência de viagens, daqueles que a gente sabe que são apenas para turista ver, pois beleza tal só pode ser falsa…

Mas tudo é real por ali e tudo é encantador também! Depois a acrescentar a toda a beleza havia uma brisa fresca e o lago que parece nunca aquecer seja qual for a temperatura ambiente no seu exterior!

Naquele dia acordei obcecada com a vontade de mergulhar no lago, por isso sai de casa já com o fato de banho vestido. À primeira oportunidade eu iria meter-me na água, isso era certinho!

Tinha pensado em casa num percurso a fazer pelas montanhas ali perto mas, ao sair para a rua a ideia não me inspirou minimamente! Tinha sofrido bastante com o calor dos últimos dias e aquele prometia aquecer também, logo ir para longe da água estava fora de questão. Parece que quando a gente anda perto de um rio ou de um lago o calor não é tão agressivo, por isso não sairia dali de perto e fui passear para o lago!

Chegar ao lago pela manhã, foi a imagem da frescura e do paraíso para a minha mente!

Pousei a moto e fui passear pela fresca, apreciar o castelinho de longe. Não iria visita-lo, embora ele seja muito bonito e o mais antigo do país, porque já o visitei noutra altura e queria apenas aprecia-lo no enquadramento lindíssimo em que fica!

Encontrei um pintor que tinha o seu estaminé montado à sombra das árvores e pintava uns postaizinhos muito coloridos em aguarela para vender. Ainda me pus ali no paleio com ele e desenhei e pintei um pouco também. As minhas aguarelas são bem menos coloridas que as dele, por isso mais próximas das cores reais e houve quem passasse e me quisesse comprar duas das que fiz ali! Eheheh

“Não, não são para vender!” repetia eu enquanto as pessoas insistiam que as minhas eram mais bonitas que as do homem.

“Fique aqui hoje comigo a pintar para eu ver como faz!” insistia ele.

“Nem pensar, estou a passear e desenho pelo prazer, não para ensinar ou por obrigação!”

Deixei-o tirar fotos aos meus desenhos e fui embora, que tinha muita coisa para ver por ali!

Não se pode ficar indiferente, a paisagem é mesmo inspiradora! A ilha natural vê-se muito bem dali com a Igreja e Santuário da Assunção de Maria, do séc. XV a encima-la.

Pus-me a olhar bem para a ilha e para a sua escadaria até ao santuário. Dizem que tem 99 degraus… pode-se ir até lá de barco, mas eu não tinha a certeza se queria subir todos aqueles degraus debaixo do calor que se preparava para chegar…

Passear pela borda do lago é tão agradável e encantador que só apetece continuar calmamente e fotografar a cada 2 passos que se dá! E nunca se dá conta se está muito ou pouco calor pois a sobra é sempre fresca!

Só ao voltar à moto, e ao sair debaixo das árvores, é que me apercebi que o calor já tinha voltado! O termómetro da moto, que estava ao sol, apontava já 38º!!!

Eu bem tinha razão que não era coisa boa ir passear para a montanha! Por isso fui mas é visitar as Vintgar Gorge ou Soteska Vintgar, um desfiladeiro deslumbrante ali mesmo perto da cidade, com as águas mais puras e frescas que se possa imaginar!

Este desfiladeiro foi descoberto no final do séc. XIX e desde então que foram criadas condições para que ele possa ser visitado, com passadiços de madeira, renovados ao longo dos tempos, até hoje!

Dizem que aquelas águas são das mais puras da Europa!

São 1600m desta paisagem e desta frescura! Se fosse 3 vezes maior a distancia, ninguém se queixaria, pois é simplesmente delicioso passear por ali!

Então chega-se à outra ponta e tem lá um bar com gelados e cerveja para a completar todo o prazer do caminho!

É em momentos destes que eu sinto que o paraíso existe e é cá na terra mesmo!

Então volta-se para trás pelo mesmo caminho, que visto ao contrario e com o sol noutro angulo, parece renovado!

Há uma represa que torna o quadro mais perfeito e doseia o curso das águas!

E mesmo ali “dentro” com toda aquela sombra, o calor começava a querer entrar! A água chamava mesmo para lhe enfiar os pés dentro, e foi o que fiz! Mergulhei os pés e o corpo todo!
A água era incrivelmente fria!

Dizem que aquela agua é tão fresca e pura, que se pode beber direta do rio! O banho, na realidade não foi refrescante, foi gelado mesmo! Que sensação de contacto com o coração da terra mais inesquecível! Quando voltei ao trilho continuei gelada por muito tempo, agradavelmente fresca e cheia de vida…

Mal saí da sombra do desfiladeiro o calor estava todo à minha espera cá fora!

Peguei na moto e fui passear um pouco, mas à medida que o efeito refrescante do banho ia passando, eu ia recuperando a vontade de me voltar a enfiar na água! E foi o que fiz, fui pousar a moto junto ao lago e ali passei o resto da tarde, entre sombra e sol, mergulhos e longas braçadas a nado! Que bela é a vida assim!

A gente chegava-se um pouco para o sol e o calor era escaldante, chegava-se um pouco para a sombra e quase tinha frio! Curiosa a diferença de temperatura entre sombra e sol!

Acho que aquele foi o recanto do mundo onde eu nadei com melhor paisagem!

A água é límpida e tão fria que parecia impossível que todo aquele calorão existisse mesmo, quando a gente estava enfiada nela!

Eu bem digo que o paraíso existe!

Terminei a tarde acompanhada de uma belíssima cerveja, a apreciar os encantos do lago, com o castelinho medieval lá em cima do penhasco a completar o quadro irreal!

Depois fui passear um pouco, descalça pela relva e pelos passadiços de madeira, porque há vontades que não posso negar a mim própria e porque o momento assim me inspirava, para viver um pôr-do-sol lindíssimo digno das mais belas sombras chinesas do conto de fadas mais encantador!

E foi o fim do 9º dia de viagem!

10. Passeando pelos Balcãs… – San Marino, Imola, Bled

6 de agosto de 2013

Este foi um dia para percorrer mais uma grande distância. Queria ver uma ou duas coisas por ali perto mas o destino era outro país.

San Marino era uma daquelas terras que eu queria visitar. Sempre me despertou a curiosidade conhecer um dos países mais pequenos do mundo!

Dizem que é o 5º mais pequeno do mundo com apenas 61 km² de área e o 3º mais pequeno da Europa, depois do Vaticano com 0,44 km², e do Mónaco com 1,95 km²!

Adorei a designação completa de San Marino: Serenissima Repubblica di San Marino! E na realidade é mesmo sereníssima! Um enclave que é como uma ilha rodeada por Itália, é a população mais pequenita do Concelho da Europa! Olha-se de longe e vê-se o penhasco em que fica empoleirada e apetece mesmo lá ir!

Não se pode circular pelas ruas ingremes que sobem a encosta do monte, mas pode-se ir até bem perto e depois não custa nada caminhar por ali acima e por ali abaixo! As pessoas são simpáticas e, aquela hora da manhã, quando lá andei, não estava ainda inundada de turistas, por isso foi um passeio pelo topo do morro, que sobressai na imensa planície em paisagens deslumbrantes! Um elevado recanto encantador!

A ignorância é grande e eu não conseguia entender onde poderia estar o circuito de San Marino!

Aquilo é tudo tão justinho e ingreme que não caberia ali um circuito de Formula 1!

Claro que me pus a imaginar como seria uma alucinação uma corrida de moto por aquelas ruelas, um espanto, seguramente!

Lá de cima pode-se ver um mar que rodeia o penhasco, mas um mar de casas e paisagem, como se San Marino fosse uma ilha rodeada de Itália por todos os lados!

Ali ao lado fica o posto de turismo, onde perguntei onde ficava o autódromo onde se realiza o Grande Prêmio de San Marino. Fiquei a saber que nem é ali perto sequer, como eu imaginara! Na realidade realiza-se em Imola, no autódromo de Enzo e Dino Ferrari, perto de Bolonha.

Ok, Bolonha até ficava no meu caminho, vou lá passar e ver como aquilo é!

Entretanto continuei a explorar as ruelas encantadoras.

E no meio do intrincado trajeto de ruelas estreitas chega-se à basílica, numa praça empoleirada na encosta.

A Basilica di San Marino é naturalmente dedicada a São Marino, o fundador da republica!

É neoclássica, um estilo sóbrio que me fascina, pois foi construída no séc. XIX, quando a anterior construção, muito antiga com cerca de 15 séculos, entrava em colapso!

A sensação é de que estamos a passear por uma cidade e não por um país!

As torres são 3 e serviram para defender a república de ataques dos povos vizinhos, entre eles os que vinham de onde eu vinha: Rimini!

O calor era já tanto que comecei a não querer andar muito mais! O que me valia era o meu lenço que eu molhava em todas as fontes para limpar e refrescar o rosto já febril!

Peguei na moto e pus-me a andar, ao conduzir o calor suporta-se melhor!

Queria passar em Imola, por isso no caminho passei pela terra de uma amiga do Facebook! Não a encontrei, mas passei perto.

O calor não me deixava sequer raciocinar, não havia ninguém na rua para eu perguntar e descobri, só depois, que era mais à frente um bocado…

Não foi desta que vi a terra da minha amiga Franca Bagnari!

Fui embora frustrada mas agradecendo o vento que a moto provocava em mim ao andar, já que não corria a menor aragem e a temperatura passava os 42º….

Mais à frente cruzei com um castelinho encantador todo em tijolo! Aquele país é cheio de surpresas!

O castelinho na realidade é considerado uma joia de entre as fortificações do séc. XV em Itália!
Chamam-lhe La Rocca di Bagnara e é lindo!

E tem um jardim com sobras deliciosas para eu parar e refrescar-me com uma deliciosa e gelada garrafa de água de um litro e meio!

Imola fica logo à frente!

Tal como eu imaginava, não faltam indicações que falam do autódromo! E lá estava ele!

Coisas de carros não são o que mais me apaixona, por isso pouco ou nada sabia do autódromo! Nem sabia que ele não era perto de San Marino!

Mas as histórias e os mitos desses locais atraem-me por isso fui juntando as que descobri por lá e as que catei naqueles dias… Afinal tratava-se do autódromo com o nome do fundador da grande marca italiana e onde morreu Ayrton Sena em 1994…

Estava tudo deserto por ali, mas podia-se andar à vontade pelas bancadas… pena não se poder ir até à pista…

Enzo, o criador da marca Ferrari, e Dino, Alfredino Ferrari, o seu filho que deu o nome a um modelo da marca, sofria de uma doença muito complicada e que o vitimou, distrofia muscular…

Na entrada principal tem uma escultura curiosa com uma série de carros que saem de dentro uns dos outros.

Pus a moto a beira e fui tirar fotografias para o meu moçoilo ver e para os meus amigos que me pediram fotos do circuito!

Fotos a acrescentar à minha pequena coleção de grandes circuitos:

Estoril – Portugal
Portimão – Portugal
Silverstone – Reio Unido
Nurburring – Alemanha
Enzo e Dino Ferrari – Italia

Não está mal para quem nem aprecia carros!

O calor estava infernal! Dei-me conta de repente de que as mãos suadas não entravam nas luvas, a roupa estava colada às costas e a moto escaldava. Era o suplício total.

Tinha de conduzir ou morreria naquele ar escaldante e parado que parecia estar a sacar toda a água do meu corpo. Se não partisse rapidamente acho que cairia para o lado inanimada!

E foi o que vi uns quilómetros à frente, quando o termómetro da minha moto oscilava entre os 42 e os 43 graus! O trânsito estava lento e em fila de pára-arranca, eu fui furando até que vi um pequeno aparato policial. Pensei que era uma operação stop, por isso deixei-me ficar muito educadamente na fila dos carros. Mas ao passar perto é que vi que não era nada disso!

Um grupo de polícias estava realmente parado na entrada de uma rotunda, mas não era operação stop nenhum! Um deles tinha simplesmente desmaiado na moto! Um frio percorreu a minha coluna!

As motos estavam paradas na berma da estrada e eles estavam em volta do colega estendido na relva da berma da estrada. Um segurava um guarda-chuva que protegia o desfalecido e os outros abanavam-no. A sua moto estava meio reclinada na rua…

Comecei a temer pela minha segurança, afinal eu tenho a tensão arterial muito baixa e aquilo não podia acontecer comigo!

Segui para a Eslovénia rezando para que o calor não me fizesse mal.

O entardecer e a montanha sossegaram o calor que me afligia tanto! Apenas olhar para a paisagem verde e cheia de sombras me refrescava a mente!

Como eu gosto daquele país!

Cheguei a Bled cheia de fome e obcecada com a comida! Eu não podia continuar a encher apenas a barriga de líquidos e arriscar-me a enfraquecer por não ter vontade de comer, porque o calor derrubar-me ia!

Fiquei ali, no meu restaurante de eleição na cidade, sobre o lago e com direito a musica ao vivo. A comida é sempre ótima e a cerveja deliciosa!

E foi o fim do 8º dia de viagem!