72 – Passeando até à Suíça 2012 – A França – Château de Chambord, Blois, Amboise, Tours…

3 de Setembro de 2012 – continuação

De cada vez que passei em Chambord prometi a mim mesma que teria de visitar o palácio/castelo por dentro e nunca o fiz! Desta vez, que nem pensara em lá passar e me desviei à última hora, não resisti! “Que se lixe a distância, se chegar a meio da noite para dormir, alguém me há-de abrir a porta!”

Uma das coisas que me chamava a atenção era a famosa escada em dupla espiral e ela está logo ali, é o coração do edifício!

Dizem que o edifício foi concebido segundo um esboço de Leonardo da Vinci e que a Grande Escada, em dupla espiral, foi mesmo um projeto seu! Esta escada fantástica tem a particularidade de entrelaçar duas espirais, o que faz com que quem sobe numa não cruza com quem desce noutra!

No meio, uma coluna de vazio se forma até à claraboia superior, provocando uma perspetiva alucinante com aberturas de corrimão até ao topo!

O castelo de Chambord é do séc. XVI e nunca foi completamente concluído, afinal ele era apenas uma residência de caça e para uns dias de caça quase 2000 pessoas acompanhavam o rei! Quanta privacidade!

Durante a ocupação nazi as obras do Louvre foram trazidas para lá, a fim de as salvar da pilhagem e destruição e entendemos a escolha quando nos aproximamos do palácio e nos apercebemos o quanto ele fica longe de tudo! Bem como quando percorremos os seus longos corredores, alas e salões, entendemos porque foi escolhido para proteger tão importantes obras!

Os telhados são repletos de elementos decorativos que se misturam com chaminés e respiros e criam perfis curiosos do edifício!

As escadas nos recantos dos pátios interiores, como “tourelles” são escadas em caracol deliciosas!

Há pormenores curiosos no palácio, os quartos de dormir são muito grandes, as camas parecem altares, cheios de cortinas em dossel, por vezes mesmo com grades que separam o espaço da cama do restante quarto e no entanto as camas são tão pequenas!!

Eu estive-me lá a medir e não caberia assim tão bem ali dentro! Para além de me sentir claustrofóbica!

E em cada andar a fantástica escadaria domina o cruzamento de salas e corredores!

Ao longe, pela janela vislumbra-se o fosso! Um fosso que foi construído, já de origem, para ser decorativo e serve ainda hoje a sua finalidade, pois é fantástico!

E as torrezinhas de escadinhas em caracol são lindas vistas de cima!

Lá de cima podem-se ver finalmente as clarabóias, as cúpulas, as chaminés e os telhados escamosos, em pormenor e a perspetiva é fascinante!

Toda aquela “tralha” que se vê de longe em cima do edifício fica ali ao nosso lado!

O jardim não tem fim…

Chega-se lá acima ao telhado, pela fantástica escada em duplo caracol, que termina numa torre oca, decorada e impressionante!

E, claro, depois de ter espreitado de baixo para cima, tive de espreitar de cima para baixo, pelo vão cilíndrico que se forma no centro das escadas espiraladas!

Momentos em que, quem desce numa escada, cruza olhares com quem sobe na outra!

magnificas escadarias…

E à medida que me afastava do castelo, para ir buscar a minha motita e seguir viagem, não consegui afastar os olhos dele, nem deixar de fotografa-lo…

E Chambord despediu-se de mim na minha própria língua, com um “Obrigado”!

Segui nostálgica o meu caminho. Porque tinha o tempo de estar cinzento? Para me entristecer mais ainda o regresso?

Blois veio logo a seguir, depois da Reserve National de Chasse de Chambord, uma cidade bonita e acolhedora que me proporcionou enquadramentos muito bonitos, com o famoso Loire a completar o quadro!

Foi uma pena passear por Blois com o céu cinzento!

Encontrei a igreja de Saint-Nicolas, uma construção tão monumental quanto bela!

Uma daquelas belas igrejas românicas que me faz parar imediatamente, saltar da moto e ir ver!

E lá dentro a atmosfera é tão pura quanto a arquitetura que a cria!

O núcleo histórico da cidade é muito bonito e bem conservado, sem monstruosidades arquitetónicas a perturbar a sua beleza!

Ruelas como nesgas, entre casas, improprias para claustrofóbicos, não faltam por lá!

No seguimento do meu percurso passei em Amboise, porque ficava na margem do meu caminho! E de novo não fui visitar o seu castelo! Voltei a fazer uma foto com a moto no mesmo lugar como fizera em 2009, quando lá passei a ultima vez, com o Rio Loire como paisagem e o château d’Amboise ao fundo!

Ainda não foi desta que o fui visitar por dentro, ficará para uma próxima vez!

E ao chegar a Tours, numa curva do caminho, uma moto me saltou à vista! Parei de repente mais à frente e voltei para confirmar que não me enganara: era mesmo uma X11, uma linda motita igual à do meu moçoilo!

Naquele dia publiquei a imagem no meu mural do facebook, para que ele a visse!

E lá estava a catedral de Tours! Linda e imponente construção gótica que demorou 4 séculos a ser concluída, entre o séc. XII e o XVI.

Esta era uma das catedrais que queria muito ver e foi por ela que ali fui, embora a cidade também me despertasse o interesse.

Afinal eu só visitei 32 das 51 mais belas catedrais de França, ainda me falta visitar tantas! 😉

Aqueles tetos “suspensos sobre pedacinhos de vidro chumbado”, que são os vitrais, fascinam-me! Como uma luta entre o terrestre e o divino, entre o peso e a gravidade!

E estava na hora de ir embora! O sol não queria nada comigo e eu queria ir dormir muito longe dali! Dei uma última olhada a Tours e segui sem parar nem pensar muito até Tulle, em mais de 300 quilómetros de paisagens tão lindas quanto tristes, pela despedida e pela falta de sol…

Cheguei à “minha casa” daquela noite, tarde. Uma maison d’hotes linda e com um anfitrião muito simpático que me ofereceu um lanchinho bem-vindo e dois dedos de conversa, que eu já vinha calada há muitas horas!

O meu quarto, como toda a casa, parecia um quartinho de bonecas, quente e aconchegado, que por aqueles dias as noites já eram frias!

E foi o fim do trigésimo sexto dia de viagem…

71 – Passeando até à Suíça 2012 – A França – Meung-sur-Loire, Chambord

3 de Setembro de 2012

As coisas precipitam-se sempre um pouco na minha cabeça quando uma viagem se está a aproximar do fim. De repente a sensação de que não vi muita coisa que queria e a sensação de que passará muito tempo até eu poder voltar a partir, começam a interferir no meu ânimo! Tinha recebido um mail da escola comunicando uma reunião e eu teria por isso de chegar a casa a tempo! Isso entristeceu-me um pouco pois era sempre menos um dia na minha epopeia…

Então fiz-me à estrada querendo ver tudo o que me aparecesse no caminho, à medida que descia o país na direção de Tulle.

Claro que fui parando nas terrinhas que me apareciam e, a dada altura, tive de parar com isso e correr para não chegar a meio da noite ao meu destino! Nada disso aconteceria se eu não tivesse de repente de estar em casa no dia 8…

Meung-sur-Loire chamou-me atenção ao longe e fui ver como era. É comum os Franceses acrescentarem ao nome das cidades um “sur” e o rio que lhe está próximo e ali continuava a ser o rio Loire!

A cidadezinha é deliciosa! Medieval e com uma igreja espantosa, a Collégiale Saint-Liphard do séc XII, com boa parte românica e a sua torre fortificada que parece a torre de um castelo!

Encostadinho à igreja fica o castelo, quase se confundindo com ela, aliás as suas partes mais antigas serão mesmo contemporâneas da collégiale!…

O castelo é lindo e deu-me imensa pena não poder visitar, pois estava fechado! Por azar o horário muda em Setembro, quando começa a abrir só de tarde…

Um castelo cheio de história, que participou na história da França, entre outras personalidades Joana D’Arc passou lá!

Soube que é muito bonito e que vale a pena visitar, mas teria de ficar para outra altura!

Dei uma volta pela cidade, que é encantadora!

E lá estava a estátua da Joaninha! Afinal ela libertou a cidade por isso é venerada por ela! Chamam-lhe a Libertadora!

A torre imponente do antigo Hôtel Dieu do séc. XII. Curioso chamarem Hotel de Deus aos hospitais ou hospícios!

E mais uma igreja impressionante, a Abbatiale de Notre Dame, do séc. XI, que conservou elementos românicos espantosos, apesar das remodelações posteriores!

Aquele altar apaixonou-me! Quando temos o hábito de ter os batistérios aos “pés” das igrejas, ali a pia batismal está bem no topo da igreja, e o efeito é lindo!

Foi uma agradável descoberta Meung, serena e antiga como eu tanto gosto!

Há coisas feias que se encontram no meio do paraíso… que acabam por se tornar lindas no contexto!

E de repente não resisti, desviei-me do meu caminho e fui atras das placas…

Eu já fizera aquele caminho e já sabia que a estradinha é longa e cheia de avisos, pois há animais à solta por ali, é preciso ter cuidado com as velocidades! Já uma vez na Eslovénia quase chocava com um alce que atravessou a estrada de um salto e deu para perceber que, ou se vai devagar… ou é a morte do artista!

E pude comprovar que em França sabem que existem portugueses, e escrevem, entre outras línguas, na nossa língua, porque somos gente! Coisa que não acontece em Espanha, por exemplo, um país que fica tão longe do nosso que tem folhetos, placas e indicações em francês, inglês, alemão ou italiano, mas raramente em português!

E lá estava ele, o Château de Chambord, um dos maiores castelos do Vale do Loire!

Eu visitara os seus exteriores a pé, da última vez que ali estivera, por isso fui pelos caminhos que sabia onde a moto podia passar. Não me apanham a caminhar duas vezes por uma extensão tão grande se descobri caminho para a minha motita para lá! Claro que depois pusemo-nos a tirar fotos uma à outra com o castelo como paisagem, como fazem os turistas todos!

Mas desta vez fui visita-lo por dentro…

(continua)