18. Escandinávia 2017 – De Føllenslev até Gotemburgo

10 de agosto de 2017

O meu ultimo amanhecer em Føllenslev foi tão agradável quanto os anteriores e eu já me estava a habituar a eles! Mas desta vez não foram os bichinhos da quinta que me chamaram a atenção!

Tinham chegado novos hospedes, eu podia ver os seus carros no relvado, mas foram as duas motos, todas catitas, no canto que me prenderam a atenção.

Conheci os simpáticos donos das mostos ao pequeno almoço. Eram um casal holandês que andava a explorar a Dinamarca. Eles ficaram impressionados com a minha viagem e eu fiquei cheia de vontade de fazer igual à deles e explorar a Dinamarca de ponta a ponta! E a conversa estendeu-se entre viagens, costumes de uns e de outros, gostos musicais e sonhos a realizar. Havia tantos interesses em comum entre nos, embora fossemos tão diferentes. Filosofias de vida que nos uniam a todos, eu, os motociclistas holandeses e os nossos anfitriões.

É tão gratificante quando depois de apenas dois ou três dias fica uma pequena amizade pelas pessoas!

Registos de viagem – 4

Hoje de manhã a despedida foi de abraços e promessas de voltar, porque se faz facilmente amizade com gente boa e simpática que nos acolhe e nos mima com o que nos faz bem! Adorei os dinamarqueses que conheci, e estes três em especial. Por vezes são memórias como estas, que ficam e me fazem voltar a sítios onde já estive!
Kisses & hugs to Karen Lisbeth Brinch Birch & Brian

(in facebook)

E era hora de partir na direção da Suécia.

A minha intensão era fazer caminhos diferentes entre a Dinamarca e a Suécia, na ida e na volta, por isso decidi entrar de ferry e mais tarde sair pela ponte/túnel. O preço das duas travessias era aproximado e as experiencias seriam bem diferentes.

Por isso segui calmamente para Helsingor, onde tomaria o ferry para atravessar o estreito Öresund. De alguma forma eu percebia que a minha passagem pela Dinamarca determinaria todo o meu estado de espirito e ânimo ao percorrer o resto da Escandinávia. Havia uma paz que se instalara dentro de mim, que me fazia querer ver o que ninguém procura ver, o que ninguém faz questão de colocar na net. E o que me fascinava mesmo eram os momentos anónimos mesmo!

As perspetivas de absoluta serenidade do mar eram tão impressionantes para mim

que, embora tenha ido até ao famoso castelo de Kronborg,

ao chegar lá não me apeteceu visita-lo por dentro!
Havia gente a organizar-se para entrar, uma pequena fila na bilheteira, turistas meio ruidosos…

e eu não quis meter-me ali!

E havia um jovem Hamlet, que interagia com as pessoas nas suas divagações sobre a obra de Shakespeare.

Aquele ambiente cativou-me muito mais que uma visita ao interior do castelo. O rapaz, aparentemente, achou-me piada a mim e ao meu chapéu e declamou alguns versos para mim! Quanta honra!

Dizia ele: “Though this is madness, yet there is method in it!”

O dia já ia avançado para me enfiar dentro de paredes, por isso decidi passear em redor.

“E quando aparentemente não há nada para ver, toda a beleza da simplicidade se revela! O mais turistico do local estava trás de mim, era para lá que toda a gente se dirigia, e no entanto o mar, debaixo de um céu revolto, me fascinava tanto. Seguramente que não vi o que toda a gente vai ali para ver, não fiz as fotos tradicionais, não explorei historias de reis e lendas, mas a minha mente parou no tempo, a batida do meu coração abrandou um pouco e eu olhei para a Suécia, do outro lado, pela primeira vez, para lá de toda a beleza do momento…”

(in Passeando pela Vida – a página)

O ambiente era muito agradável, havia uma esplanada num dos edifícios em redor do castelo onde não me atrevi a pedir um café, pois seria ruim, certamente. Mas tomei um relaxadamente, que isto de viajar e explorar não tem de ser uma obrigação nem uma correria!

E as perspetivas do castelo e do estreito eram fantásticas, por isso subi às muralhas, passeei pelos caminhos junto à água e apreciei aquele céu nublado espantoso!

Podia ver ao longe os ferrys cruzando-se, entre ida e voltas. Seria num deles que eu e a minha Negrita embarcaríamos para irmos para o outro lado.

E eu que reclamo da paranóia generalizada das pessoas têm de fazerem selfies junto de tudo e mais alguma coisa, rapei do telemóvel e fiz uma selfie com o castelo como cenário!

Antes de sair da propriedade para me ir embora.

Mas Helsingør não é só Kronborg e o ferry, por isso dei uma vista de olhos à cidadezinha, com recantos bonitinhos e pormenores curiosos.

Passa-se uma portagem como se se entrasse numa autoestrada e depois apanha-se o ferry como quem apanha um autocarro! Não eramos muitas motos a fazer a travessia, apenas um suíço que ia para o sul da Noruega, um casal sueco que voltava para casa depois de um pequeno passeio pela Dinamarca e eu!

E viajamos muito bem acompanhados, com imensos Ferraris mesmo ao nosso lado!

Ficamos todos a ver Helsingør a ficar para trás

e as perspetivas fascinantes de Kronborg à medida que nos afastávamos da costa.

As fotos acidentais que eu descubro por entre todas as que tirei!

Já não era nada cedo quando cheguei ao outro lado do canal. Não teria muito tempo para explorar, mas a verdade é que não me apetecia andar a catar muitos sítios. De alguma forma apetecia-me conduzir sem parar muito e ficar a sós com os meus pensamentos e com a doce sensação que a Dinamarca deixara em mim. Por isso fui seguindo o meu caminho parando apenas para abastecer e apreciar placas curiosas que foram cruzando comigo no caminho!

E Gotemburgo estava cheia de transito! Não é fácil circular pela cidade para quem vem de fora, ainda por cima quando vem habituada a paz e sossego. As ruas são meio confusas e se se faz a escolha errada ou não se obedece criteriosamente ao GPS, corre-se o risco de ter de dar grandes voltas sem ter hipótese de voltar para trás! Arreliou-me bastante andar para trás e para a frente na luta do transito, por isso fugi para a paisagem mais serena que encontrei por ali!

Eu sabia que iria cruzar com dezenas, senão centenas, de lagos ao longo da viagem, provavelmente muito mais bonitos do que aquele, mas a serenidade que me transmitiu era a que necessitava naquele momento.

Claro que nada tinha melhorado no meu regresso à cidade. Terminava um jogo qualquer de futebol e as multidões enchiam passeios e estradas, completando a sensação de “quero sair daqui” que eu já trazia em mim!

Acho que amuei e fui para a cama cedo…

Afinal amanhã era dia de ir para a Noruega e isso é que me importava!

17. Escandinávia 2017 – Passeando pela ilha de Sjælland até Copenhaga

9 de agosto de 2017

Os meus passeios pelo país tiveram o efeito de me fazer querer ficar, de não querer sair da calma que tudo me transmitia. Desde sempre que eu quisera conhecer aquele país, embora me falassem dele como um país de ligação.
Os países que não estão na moda sempre me atraem afinal!

Não pretendia percorrer os sítios da moda, mas havia duas ou três coisas que eu queria ver, por isso dispus-me a passear um pouco pela ilha, entre a paz e a multidão.

Claro que o meu dia começaria pela parte da paz, com a bicharada a grasnar no meu jardim! Todos os dias, ao amanhecer, todos os animais da quinta eram postos em liberdade, para comerem e ginasticarem as pernas, e eu podia ouvi-los como um despertador natural.

E a paz começava logo no lado de fora da minha roulotte!

Naquele país a vontade é de deixar a moto rolar pela serenidade da paisagem e isso era o que eu faria de boa vontade até conhecer todos os seus recantos. Mas o tempo não é infinito numa viagem grande, por isso fui até Fredensborg, em busca de palácios e castelos.

O Fredensborg Slot foi uma agradável surpresa.

Sendo o palácio mais usado pela família real dinamarquesa eu esperava encontra-lo atolado de turistas barulhentos, mas não! Havia uma serenidade por ali que me inspirou a passear e ficar grande parte da minha manhã! Havia mesmo muito espaço para estacionar a minha moto junto ao portão!

Tomei a alameda esquerda, ladeada de arvores geometricamente dispostas, até ao lago.

E lá estava o imenso Esrum Sø, um dos maiores lagos da Dinamarca.

Logo ali fica o Nordmandsdalen, algo como Vale da Normandia, um jardim construído no séc XVIII, onde 70 esculturas retratam a população com vestes e utensílios característicos da época.

Retratar a população num jardim real foi uma inovação, ideia do rei ao que parece, pois até então só deuses, anjos e seres mitológicos tinham direito a serem representados em espaços nobres!

Quando voltei finalmente à entrada do palácio já havia alguns turistas por lá, mas a serenidade ainda se mantinha.

A apenas uns 10 ou 11 km dali fica Hillerød e o seu pequeno Slotsøen, o lago que é propriedade do rei e por isso não se pode pescar nem velejar nele, mas andam pequenos barcos turísticos por lá!

E ao fundo aparecia o Frederiksborg Slot, uma paisagem perfeita para um passeio ao som da minha musica.

Por caminhos muito bonitos e bem cuidados!

Senhoras passeiam seus bebés de bicicleta em redor do lago! Que coisa mais bonita que sempre aprecio ver!

Cada perspetiva era um postal ilustrado!

Jovens jogavam à bola nos campos do castelo e as bicicletas amontoavam-se no relvado. Fez-me lembrar quando eu era jovem e ia de bicicleta para a escola e havia rapaziada que fazia troça de mim, porque ninguém usava bicicleta para se deslocar. E eu sempre achava que um dia mais pessoas, jovens e adultos, usariam bicicletas para se moverem… mas enganei-me, o tempo passou e mesmo hoje só anda de bicicleta quem pratica ciclismo…

Em frente ao castelo fica o jardim barroco, inspirado nos jardins europeus da época, que é incontornável, e toda a gente visita e faz fotos por lá.

Eu tinha dado a volta a todo o lago para ir até ao castelo, e tinha valido a pena!

Ok, eu iria explorar o castelo, se houvesse pouca gente por ali entraria para o ver por dentro, mas só se não estivesse inundado de gente!

O palácio é renascentista, do inicio do séc. XVII, e é imponente, o maior da Escandinávia, dizem eles!

Não havia enchentes para a visita, o castelo era lindo e eu ia entrar!

No Palácio funciona o Museu de História Nacional que retrata um pouco da história da Dinamarca com uma coleção considerável de retratos, pinturas históricas e arte moderna.

Mas era o edifício que me apaixonava mais, afinal ali viveram muitos dos monarcas do país! No séc XIX o palácio foi gravemente danificado por um incendio, que obrigou a um profundo restauro. A belíssima capela saiu ilesa desta catástrofe e permanece linda até hoje!

O grande salão é impressionante!

Anda-se por ali a catar pormenores por todos os lados!

A minha paciência e concentração para visitar museus, castelos e palácios é meio limitada numa grande viagem, por isso eu sabia que não deveria visitar muitos mais castelos e aquele ficaria bem na minha memória, pela sua imponência e beleza!

Como o edifício está assente sobre 3 pequenas ilhas, o próprio lago funciona como foço e o regresso a terra faz-se por caminhos que inspiram respeito!

Visto do outro lado o castelo ainda é mais imponente do que visto do lago!

E finalmente segui para Copenhaga!

Registos de viagem – 3

Eu via tantas placas indicando København que pensava “puxa, que terra famosa esta, não me lembro de uma cidade tão importante com este nome!”. Por outro lado a capital nunca aparecia nas placas! Uma cidade mais anunciada do que Copenhaga?! Então fez-se luz! Os gajos chamam cada nome a sua capital ! AHAHAHAH

(in Facebook)

A capital tem tanto de encantador como de “assustador”!

Depois de tão belos passeios pela serenidade do país, chegar a Copenhaga e mergulhar numa multidão constante e frenética, foi o choque total que eu teria dispensado…

Pousei a moto junto à coluna de Lurblæserne, dos tocadores de Lur, na praça da câmara, e dei uma volta em redor.

As ruas estavam cheias de gente, o vento estava forte, decididamente não faltava nada para me chatear!

Pormenores de uma cidade apinhada de gente!

É sabido que grande parte da população do país vive concentrada ali, é sabido também que, como qualquer capital, todo o turista passa por lá e é sabido também que para muito turista Dinamarca é Copenhaga, resultado… enchente e mais enchente…

O transito também era complicado e, na impossibilidade de passar pelo meio dos carros, eu tinha de ficar na fila e pronto! Um canito meteu-se comigo, aparentemente os cães por lá são como os de cá, detestam motos! O dono aproveitou para meter conversa comigo e perguntar-me se era confortável passear de moto ou se fazia doer as costas. Disse-lhe de onde vinha e para onde ia e que não morreria de cansaço. O fulano pareceu animado! Preferia estar no meio do transito numa moto do que num carro, concluiu ele! Pois, também eu!  😉

Havia muitas bicicletas pela cidade também mas, ao contrario de muito ciclista maluco que vejo noutros países, eram civilizados e cumpridores!

Cansei-me da confusão e tratei de ir embora. Afinal no regresso da viagem voltaria a passar em Copenhaga e então teria outra disposição para explorar melhor a cidade. Mas não fui embora sem passar na famosa Den lille Havfrue – a Pequena Sereia!

É mesmo pequena e meio insignificante! Está ali, em cima de uma rocha, junto da margem onde qualquer pessoa lhe pode pôr a mão e fazer selfies, tudo o que os turistas precisam para se amontoarem!


E lá estavam eles à fila!

Por terra e por mar!

Havia mesmo um carrinho de café mesmo ao lado. Aproveitei para tomar um que era mais uma mijoca, mas a menina era muito simpática e deu-me 2 pacotes de açúcar, pois a coisa era amarga como rabo de gato!

Encontrei ali uma das poucas raparigas da minha altura e era um trambolho! Eu não estava preparada para encontrar dinamarquesas gordas e desajeitadas!

Claro que o regresso “a casa” não tinha de ser feito a direito e, depois da trapalhada da multidão, eu estava a precisar de um caminho de paz de novo! Por isso passei em Køge

A cidade tem um centro encantador com casa muito antigas, a mais antiga do séc XVI. Encontrei-a facilmente porque se distingue das outras até pela cor vermelha! Linda!

Mas as casas amarelas são mais populares e são espetaculares, fazem bom contraste com a minha moto!

Embora tenha um ar de terrinha pequena, Køge é um porto imponente e tem o seu centro empresarial importante nas proximidades! Por isso, nunca negligenciar o ar de aldeia que uma cidade pode ter!

Roskilde, foi apenas uma cidade que apareceu no meu caminho e que eu atravessei. Estava deserta e pouca coisa havia aberta.

Teria de voltar a jantar com o pessoal do meu alojamento!

Tão relaxante voltar a conduzir serenamente pelas ruas desertas ao pôr-do-sol…

Amanhã seria o dia de atravessar para a Suécia…

 

16. Escandinávia 2017 – Passeando entre as ilhas até à bela Odense.

8 de agosto de 2017

Acordar com o grasnar de patos foi uma sensação inesperada e muito agradável, como se eles fizessem parte de um sonho de que eu acabava de acordar.

O ambiente que eu procurava, ao hospedar-me ali, era de paz e natureza, mas o que me esperava superou as espectativas.

Eu queria ver como eram as pessoas comuns e as localidades fora dos roteiros turísticos, passear sem pressas e viver dias lentos de viagem, sem correr para lado nenhum para ver coisa nenhuma. Apenas descobrir o que houvesse no meu caminho!

Por isso despenderia todo o meu dia passeando entre as duas grandes ilhas, Fyn e Sjælland.

Eu nunca vivo uma viagem esperando pelo que vem a seguir. Cada momento tem toda a importância da minha atenção e curiosidade como se fosse o ponto alto de toda a viagem!

Paro a todo o momento e aprecio cada recanto anonimo que me prende a atenção e os sentidos!

Fui percebendo que, não andando pelos sítios mais turísticos, poderia ter de percorrer longas distancias em ruas de terra batida, algumas mesmo com “jardim” ao meio!

Mesmo quando não eram visíveis, por trás dos arbustos havia casas, não importava que aspeto tivesse cada quelho!

As casas eram sempre lindinhas, mas algumas eram mesmo encantadoras!

E o mar de Kattegat era logo ali, lisinho como um lago…

Quintas e castelinhos são pequenas maravilhas retiradas de uma história de encantar

e as igrejinhas deliciosas, pintadas de branco com portais curiosos e portas e portões vermelhos que adorei e estavam por todos os lados!

Também as há em tijolo, mas a estrutura é semelhante, pelo menos quando vistas do exterior.

Todo o caminho que fui fazendo pela Sjælland, a mesma ilha onde fica a capital, era rural e cheio de beleza simples e o humor dos agricultores ia-se manifestando nas esculturas em feno nos limites das suas propriedades.

E acabei por atravessar o pedaço de mar que me separava da ilha ao lado e voltei a Fyn

e cheguei a Odense, uma das cidades mais antigas do país, que eu tinha em mente desde o tempo em que as civilizações vikings me encantaram. A origem do nome da cidade vem desse tempo, precisamente, uma reminiscência das adorações do deus nórdico Odin.

Há um encanto nas cidades dinamarquesas, como se cada uma, não importa a sua dimensão, tivesse sempre um pouco de conto de fadas. Odense é mesmo a cidade natal de Hans Christian Andersen, que tantos contos escreveu, e ao passear pelas ruas da cidade, ladeadas de casinhas térreas, pintadas de cores vivas, quase conseguia sentir a inspiração para os cenários dos seus contos. Tudo tão bonito!

(in Passeando pela vida – a página)

Ali nasceu Hans Christian Andersen e ele está representado na cidade em escultura e no jardim Lotzes, numa espécie de teatrinho a lembrar um palácio de conto de fadas, junto ao seu museu. Ao longe eu via gente a desenha-lo.

Aproveitei e fiz o meu próprio desenho.

Claro que depois fui espreitar os delas e isso deu uma boa conversa, com comentários técnicos e opiniões. Elas gostaram dos meus desenhos, eu gostei dos delas!

O centro da cidade estava em obras, mas a ruinhas em redor eram inspiradoras o suficiente para um belíssimo passeio pela cidade histórica.

O rio Asfart está por todo o lado, muito bonito e retorcendo-se pela cidade e jardins até à catedral.

A serenidade do ambiente era tão presente que apetecia ficar por ali o dia todo!

Acho que foi na Dinamarca que eu vi as miúdas mais bonitinhas. Achei curioso o pormenor de as ver frequentemente passear com o cãozinho na cesta da bicicleta, ao ponto de decidir tomar atenção para captar um! E lá estava ele a espreitar, placidamente!

Logo a seguir estava catedral de Sankt Knuds, uma construção gótica do século XV em tijolo, que valeu a pena visitar por dentro.

Sempre me fascinam construções diferentes das que estou habituada a ver e ver como foram tratadas ao longo dos séculos mostra bastante do povo que a cuidou.

Eu não conhecia o Santo Knud, por isso fui investigar e descobri que foi um rei dinamarquês do século XI, que se tornou santo, daí não ser conhecido fora do país.

O altar-mor é a coisa mais curiosa e que eu queria ver há muito, com um retábulo espantoso em talha dourada lindo!

Aquela cidade encantou-me! E a vontade era de voltar daqui a uns anos, para a ver depois de terminadas as obras no centro. Entretanto as ruinhas em redor atraiam-me bastante!

Apreciei também o facto de a cidade não estar pilhada de turistas. Fiquei com a sensação de que não será uma cidade na moda para o turismo! Mas que sei eu disso, que não frequento agencias de viagem nem sites de turismo!

Simplesmente conseguia explorar recantos lindos sem ninguém a encher tudo de ruido e selfies e isso era tão fantástico!

E o lado aldeão da cidade era tão encantador!

As pessoas cuidam do que é seu, não havia vestígios de lixo no chão e havia até quem pintasse as suas próprias janelas!

O passeio pela ilha revelar-se-ia um encanto, como eu suspeitara, com ruas bonitas, ladeadas de terrenos cultivados e casinhas, aqui e ali, espantosas!

E havia as pequenas florestas, onde eu nunca sabia onde terminaria o alcatrão e começaria o piso-aventura!

A minha coleção de casinhas ia crescendo a cada curva do caminho, com exemplares espantosos!

E o tal piso-aventura, quando aparecia no meu caminho, podia ser a coisa mais bonita de se percorrer!

E as igrejas continuavam a ser todas muito parecidas, eu já nem sabia quantas tinha visto nem quando comecei, no regresso, a passar pelas mesmas que vira na ida!

Encontrar obstáculos quase no meio das ruas, é a forma mais curiosa de fazer os condutores andarem devagar e com atenção! Confesso que a primeira vez que vi uma coisa daquelas a contornei pelo lado errado!

Eu tinha de ir ver o braço de mar entre Fyn e Sjælland.

Estava um pouco revolto, pelo vento, e percebi que iria apanhar vento ao atravessar a longa ponte entre as duas ilhas.

Podia ver a ponte ao longe. Sentei-me por ali, estava a arrefecer e provavelmente iria chover naquela noite, por isso tinha de aproveitar cada momento antes que a chuva viesse!

Foi uma pequena luta atravessar a ponte, mas o caminho para casa foi feito de coisas bonitas e simples. Acho que a Dinamarca é toda assim!

A cada quilómetro eu me apaixonava mais um pouco pelo país!

Quase fui atropelada por um bicho saltitante que ficou meio aparvalhado a olhar para mim, provavelmente a questionar-se de que raça eram eu e a minha moto!

E consegui chegar à minha casa daquela noite antes que a chuva chegasse!

No dia seguinte iria explorar a ilha de Sjælland até Copenhaga.

15. Escandinávia 2017 – Finalmente a Dinamarca

7 de agosto de 2017

E chegou o dia de entrar na Dinamarca. Tanta coisa que eu queria ver naquele país e tanta coisa ficou por ver no fim. É sempre assim. Quantas vezes terei de lá voltar até explorar tudo o que tenho em mente?!

Chegou também o dia em que o meu amigo Filipe seguiria o seu caminho e eu o meu! Ora isso merecia um pequeno almoço caprichado, com uma bosta de café, mas muito boa disposição à mistura!

As nossas motinhas também se estavam a despedir, enquanto a GTR tentava secar a toalha de banho do patrão.

Curiosa a sensação de despedida, como se a viagem começasse naquele momento!

E lá seguiu ele o seu caminho…

E eu o meu!
Entraria no país por terra, eu queria ver como eram as coisas por lá, como eram as cidades, as aldeias e as paisagens, mais do que ir a correr para os pontos turísticos apanhar banhos de gente!

A Dinamarca está bem sinalizada, é quase impossível entrar no país sem “tropeçar” na tabuleta de boas vindas!

A curiosidade que o país me despertava era muito para lá dos sítios famosos e turísticos, dos museus ou locais imperdíveis. Eu queria ver como era o nada, o anonimo, os recantos perdidos na paisagem que não fazem ninguém comprar bilhetes para ir vem.

E foi tão bonito cada quilómetro que percorri, olhando em redor com encanto mesmo quando no horizonte não havia mais nada para além dele mesmo!

No meio de lado nenhum uma igreja, um jardim, um cemitério, faziam-me lembrar a Irlanda sem se parecerem nada com ela. Uma atmosfera de paz e serenidade, no meio do vazio, que me encanta.

E cheguei a Ribe, a cidade mais antiga da Dinamarca e uma das mais antigas da Europa. A catedral do século XII é um marco poderoso no meio da cidade feita de pequenas casinhas, muitas deles protegidas e preservadas pela sua importância histórica.

O edifício foi ampliado em tijolo 3 ou 4 séculos depois e mais tarde restaurado e alterado o seu interior, mas está bonito até hoje.

A praça em redor estava tão solarenga e alegre que apetecia passear por ali.

Não consegui sair dali antes de catar todas as ruinhas, em perspetivas encantadoras.

São mais de 100 casas que estão hoje protegidas e ainda bem, pois são o encanto da cidade!

Os pormenores são encantadores, como se cada proprietário cuidasse da sua casa como se de uma joia se tratasse!

A sensação ao passear pelas ruelas era de que as casas eram quase mais baixinhas do que eu!

A sensação que eu tinha era de que poderia ficar ali umas férias completas!

Mas lá fui seguindo pela costa, porque a curiosidade é sempre um bom motor para me manter em movimento e logo a seguir ficava Esbjerg, com os seus Men at sea, uma enorme escultura que comemorou os 100 anos da cidade em 1994.

O conjunto escultórico mede 9 metros de altura e pode ser visto do mar, pelos barcos que se aproximam do porto.

As pessoas pareciam negras e pequenininhas junto dos monstros brancos!

Ia percebendo e sentindo a Dinamarca como um país de pequenos encantos e essa seria a memória que cada quilometro de caminho formava na minha mente!

Não queria ver cidades, nem pessoas, nem atrações turísticas, por isso fui andando na direção do meu destino, procurando desviar-me de ferrys para atravessar para a grande ilha de Funen (Fyn) e depois para a Zelândia (Sjælland).

Ao lado da longa ponte há um farol

E ela é a única estrada em que paguei portagem, para além da ponte/túnel que liga a Zelândia à Suécia, claro.

Aqueles céus iam-se revelando em cenários fantásticos para uma paisagem serena.

Um caminho tão bonito quanto cheio de nada!

E lá estavam as igrejinhas lindas, nem todas brancas, mas todas com uma configuração típica.

Os caminhos que partiam da estrada que eu percorria eram ladeados de arvores, e eu podia perceber onde estavam pelas fileiras de “bolinhas verdes” que elas formavam ao longe.

E eram frequentemente de terra batida o que lhes dava um ar de caminho particular.

O mar continuava fantástico com um céu impressionante cpor cima, seguramente iria chover aquela noite…

Mais um caminho de terra batida e chegaria ao meu destino.

Fui recebida por dois grandes gatos peludos muito curiosos, numa quinta cheia de animais, onde eu dormiria por 3 noites.

Registos de viagem – 2

Cheguei ao meu destino para dormir na Dinamarca e é uma quintinha, cheia de animais bem no meio da natureza! O meu quarto é uma roulotte com avançado e o meu pátio um grande relvado. Grande espanto à minha chegada “big bike and big lady!” Ainda me chamam grande e eu ainda não me sinto pequena junto deles! Vou jantar com esta gente boa e descomplicada!

(in Facebook)

A minha roulotte seria a verde, ao fundo de um relvado foto e perfeito.

Era hora de alimentar os animais da quinta e eu acompanhei a Karen nessa tarefa. A Karen é a jovem proprietária da quinta, que foi fazendo a visita guiada a todos os animais que ali cria, enquanto distribuía comida. Havia alguns recém-nascidos por lá.

Havia também uma enorme variedade de coelhos, separados por raças ou por cores, não sei!

O que mais me fascinou foi o maior de todos!

Acho que nunca tinha visto um coelho tão grande!

Perdi a noção de quantos animais diferentes vi naquela quinta!

Cavalos e póneis, acho que só não vi vacas!

Mas seria com os gatos felpudos e fofinhos que eu conviveria mais.

E à medida que o sol descia de um lado a lua subia do outro. Valia apena passear um pouco e ir vê-la sem as arvores na minha frente.

Tive companhia no meu passeio. Sem que eu dissesse nada, o gatinho simplesmente me acompanhou, como se fosse um cão treinado.

Passear com um cão é coisa de gente banal! Gente especial passeia com um gato 😉
E ele espera a cada vez que eu paro para tirar uma foto e aprecia o que estou a apreciar!

Definitivamente fui adotada por ele, pois veio comigo para casa

Soube bem ter companhia, ainda por cima eu adoro gatos!

Quanta serenidade aquele país e aquele ambiente me transmitia! No dia seguinte iria simplesmente passear, sem me preocupar em ir muito longe nem em ver muitas coisas, aquela atmosfera não me permitia pensar em stresses de multidões nem turistas aos magotes…