– As belas cataratas e as imensas praias negras –
13 de agosto de 2019
Naquele momento o vento já não era um problema, eu queria ir mais para a frente, o meu tempo estava a esgotar-se e havia uma infinidade de coisas que eu tinha de ver, a todo o custo. Queria ver as cascatas maravilhosas e acampar algures para poder disfrutar de tudo o que pudesse. É assim quando acordo cheia de energia e com vontade de devorar o mundo!
Estava sol, o que já era um bom combustível para o meu ânimo. A parte mais aborrecida do dia era sempre arrumar os bagulhos na moto. E eu, que estou habituada a viajar com nada, tinha aquelas tralhas todas para gerir. Detesto viajar com bagulhos, mas, enfim, vai-se ganhando pratica e as coisas vão ficando mais mecanizadas e fáceis de gerir, ao longo dos dias!
Memo assim era muito cedo quando partir. A bem dizer, não havia ninguém em lado nenhum da pousada, como se todos dormissem ainda!
Primeira paragem para pôr gasolina. Como eu gostava daqueles momentos de abastecimento, com croissants quentinhos e gente meio ensonada para dar vida aos primeiros quilómetros do meu dia!
O famoso Kaffi para ajudar a acordar e siga para a luta.
O camino desde Reykjavík era da maior violência, de estrada desamparada e vento fortissimo, por isso aquela pausa era como a primeira etapa superada e recuperação de energia para prosseguir!
De manhã tudo parece muito menos assustador e a paisagem inóspita era tão fascinante!
Lua, estava a atravessar de novo a superficie lunar!
O vento continuava tão forte que o percurso pelo monte tinha sido cortado e o trânsito desviado de forma a contorna-lo. Teria de fazer mais uma série de quilómetros e o vento não era menos forte por ali. Eu poderia ter facilmente enfrentado o vento do monte, com a prática que já adquiria, mas enfim, pela segurança de todos e de cada um, tinha-se de dar a volta e pronto!
Cheguei a Selfoss. Eu sabia que estava numa zona a explorar, mas não teria tempo.
Parei junto ao rio Ölfusá. Parece que por ali até um simples rio se enche de mistério facilmente!
Não havia ninguém na rua, apesar de ser um ponto de passagem para as paisagens mais impressionantes.
O facto de não poder decidir quantos dias ficar, condicionara as minhas escolhas. Afinal eu tinha os dias contados para percorrer toda a ilha, não podia acrescentar um ou dois, eram os dias determinados pelo ferry e pronto. Por isso eu tinha de fazer as minhas escolhas e segui…
Muitos dos encantos do país estão junto à Ring Road N1, nem é preciso procurar muito, basta seguir a estrada.
E lá estava a Seljalandsfoss…
“Não há muitas cataratas no mundo onde a gente possa entrar e passar por baixo das suas águas, sobretudo com a dimensão e imponência de Seljalandsfoss. A água cai violentamente, porque não provem de simples águas que escorrem de pedra em pedra e sim de um grande rio que nasce num enorme glaciar que, na realidade, cobre um vulcão! O Eyjafjallajökull, de onde toda aquela água provém, é o famoso vulcão que entrou em erupção em 2010 e encheu os céus de fumo e poeiras e fez parar todo o tráfego aéreo na Europa por 5 dias. Cá em baixo, onde a água cai como uma cortina enorme, não parece possível que estejamos tão perto do gelo como do fogo…” (Passeando pela Vida – a Página)
A sensação de estar ali dentro era espantosa!
Os turistas vestiam capotes de plástico todos iguais, julgo que as empresas os forneciam aos seu passajeiros. Faziam lembrar os miudos dos infantários, quando saem à rua todos vestidos de igual. E como se divertiam!
A presença das pessoas não me chateava, o barulho das águas era demasiado forte para se puvir o barulho das pessoas. A natureza a sobrepor-se ao poder dos homens, era fascinante!
” A paz e o sossego estavam por todo o lado, como se o tempo não fosse importante e não houvesse nada de especial para ver ou fazer. E no entanto havia, porque a beleza está por todo o lado também! A imensidão é tanta que os grupos de turistas, que eu pensava seriam aos magotes, eram na verdade insignificantes, como se nada pudesse perturbar aqueles momentos de contemplação. Enfiei o gorro até aos olhos, o carapuço do blusão impermeável por cima, e fui percorrendo o caminho pelas entranhas da Seljalandsfoss, um percurso raro e único, ao som da água caindo de 60 metros de altura…” (in Passeando pela Vida – a Página)
Sentei-me na beira do penhasco, onde a erva estava molhada, mas o meu fato de chuva, que era o meu unifrome desde o primeiro dia, me protegia de tudo. E desenhei, usando a água da catarata! Aquela gente ficou meio confusa quando eu me pus a catar água de uma poça com o tubinho do pincel e eu sentia-me eufórica!
“Pertinho de Seljalandsfoss fica Gljúfrabúi, uma cascata escondida no meio das pedras onde só vai quem a quer ver, porque não é famosa como a sua vizinha, nem permite fantásticas selfies instagramáveis! Entra-se no seu espaço como no interior de um come de pedra, onde ela cai de forma ensurdecedora, espalhando o seu “spray” em redor, como quem diz “isto é tudo meu!”. Valeram-me as botas da neve e o fato de chuva para poder andar por ali a seco, pois todo aquele que teima em entrar nos seus domínios sai molhado, muito molhado!” (Passeando pela Vida – a Página)
Não foi fácil convencer as pessoas a deixarem-me passar. Um ou outro aventurava-se mas saía molhado. Naquele dia a catarata estava violenta, dizia o guia. Parece que normalmente se entra melhor sem se molhar muito.
Acabei por conseguir entrar, finalmente, apesar dos protestos de uma fulana que estava aparentemente muito preocupada coma minha saúde. Sem stress minha senhora, eu não me vou molhar!
“Sentei-me dentro da cascata, não é a todo o momento que se pode fazer tal coisa, mas eu estava bem protegida com o fato de chuva da moto e as botas impermeável da neve. Na entrada as pessoas ficavam a olhar para mim, elas não podiam fazer o mesmo, pois não tinham roupa que o permitisse. Capotes de plástico não eram suficientes para estar ali sem ficarem uma sopa. Desenhei, com as folhas do diário de viagem a ficarem todas molhadas. As minhas aguarelas foram alimentadas pelas águas do glaciar que pairava por todo o lado, e eu estava tão feliz, como quem desenha as entranhas de um enorme dragão, que mais acima é de fogo mas ali é de gelo. E eu podia ouvi-lo rosnar bem alto em meu redor! ” (Passeando pela Vida – a Página)
Sempre me acontece, quando vejo e vivo algo que me fascina, tenho dificuldade em ir embora, como se estivesse a deixar para trás mais mistérios para desvendar que eu esqueci. Então ando em redor, olho em todos os ângulos até me afastar!
Parecia-me incrível que toda aquela água não formasse um rio enorme, na realidade a água escapulia-se por todo o lado e formava apenas um pequeno curso de água…
Vamos lá embora, mais à frente há mais cataratas para ver!
Toda a montanha ao longe jorrava água, podiam-se ver os fios brancos, mas não havia caminho para lá e eu não tinha vontade de atolar a moto!
E não muito longe fica a Skógafoss!
Eu sabia que se acampava por ali e tinha sonhado faze-lo. Só precisava saber onde, pois eu vira fotos de tendas muito perto da cascata!
A estrada de aproximação era mais à frente, pude ver o rio que a catarata formava antes de chegar a ela.
Uma placa para memória futura da minha moto!
Arrastei o meu saco dos bagulhos comigo e num instante montei a minha tenda!
Fiquei tão contente por conseguir pôr a minha tenda ali! Yess! Tinha arbustos para a proteger do vento e não havia humidade no solo.
Claro que também não haveria mais nada, nem cozinha, nem sala de estar, nem eletricidade, nem banho! Mas eu não morreria sem essas coisas, amanhã dormiria numa sitio civilizado e cuidaria de tudo.
Eu nunca acampara fora de sítios legais, mas ali eu não estaria sozinha, havia uma série de gente a montar tendas logo a seguir, outras tinham ar de estar por ali há algum tempo.
Era cedo e eu já me livrara dos bagulhos na moto. Assim seria mais facil conduzir com o vento, sem nada em cima do banco a empancar o vento! E senti-me livre para explorar a zona à minha vontade, sem pressas!
Fiz uma aproximação lenta, olhando o conjunto em cada ângulo. A catarata era impressionante! Fiz alguns esboços daquele que seria o jardim da minha casa por aquela noite!
Passeei por ali com quem tem todo o tempo do mundo. A catarata é tão grande que a gente tem a sensação de que está mais perto do que realmente está!
Aré chegar realmente perto dela e a ver em toda a sua amplitude!
É simplesmente espantosa! O spray que gera em seu redor estende-se por todo o lado a bastante distância, molhando tudo e todos.
Era tão bom poder aproximar-me, entrar na água para a ver de outro ângulo sem me molhar! Sentia-me uma criancinha a pular nas poças depois da chuva forte!
As pessoas atrás de mim dedicavam-se a procurar ângulos favoráveis para fazerem selfies com a catarata como fundo.
Mas não era fácil, pois havia sempre gente a perturbar a paisagem.
Aquele era um dos momentos que fizeram valer tudo o que passei até chegar ali. Estava sol, não estava frio, (estavam uns fantásticos 15º), tinha a minha tenda montada junto daquela cascata impressionate e o mundo parecia meu!
Claro que me dispus caminhar em redor e subir à cascata.
Aquela água vem de dois glaciares Eyjafjallajökull e Mýrdalsjökull, que formam o rio Skógaá, (de onde sai o nome da catarata) como todos aqueles nomes são giros!
Estava no topo dos 60 metros da Skógafoss, vendo o rio se dobrar e cair por ali abaixo! Que momento mágico!
O mundo lá em baixo, visto lá de cima, era menos cheio do que parecia.
Toda aquela gente que subia e descia, não era suficiente para encher o local de gente. Quando tudo é tão grande e amplo, nada parece suficiente para encher e abarrotar os espaços!
Podia ver o pequeno ponto cinzento que era a minha tenda, lá em baixo. É, ela não estava tão próxima da catarata como parecia quando a montei!
“Skógafoss parece colocada na natureza para encantar! Pode ser apreciada desde a estrada como um postal ilustrado vivo, numa manifestação fantástica de um rio que transborda desde os glaciares, o Skógaá. Subi ao seu topo, acampei pertinho dela e sentei-me na relva por tempos infinitos, como se todo o tempo do mundo não chegasse para guardar toda a sua beleza na minha memória. De alguma forma nada mais importava enquanto estive por ali, como se estivesse na presença de uma entidade cheia de personalidade que tudo dominasse…” (in Passeando pela Vida – a página)
Livre de bagulhos, peguei na minha motita e segui para explorar outras coisas em redor.
Eu sabia que ali perto ficava o glaciar de Sólheimajökull, que faz parte de um dosglaciares que alimenta a catarata de Skógafoss.
É facil caminhar até ele desde o ponto onde pousei a moto, dificil foi chegar até ao ponto em que a pousei. O vento ali era tão forte que tive dificuldade em segurar a moto no seu caminho!
Os glaciares sempre produzem uma água esbranquiçada, mas ali estava cinzenta. A terra toda é negra em redor, dando aquele tom cinza sujo à água e preto ao gelo. Como deve ser bonito aquilo tudo no inverno!
Um dia eu quero voltar para caminhar mais para dentro, com mais tempo.
Literalmente o mundo é preto e branco naquele glaciar!
O vento soprava tão forte que o som era quase assustador.
A minha motita parecia em paz mas, na realidade, lutava para se manter de pé, completamente desamparada, sem nada para travar o vento em seu redor! Felizmente o regresso à Ring Road foi menos penoso do que eu esperava, apanhei o vento mais de trás do que de lado. Que felicidade!
Eu ainda iria mais para a frente, até ao deserto negro que é a praia de Solheimasandur.
Quando se fala em praia, não se imagina um deserto tão imenso, onde o mar nem é visivel de tão distante que fica!
Pousei a moto e dispus-me a caminhar!
O piso irregular, de pedras soltas por todo o lado, cansava os pés e quanto mais caminhava mais caminho havia para fazer. Não me lembro de ter lido em lado nenhum qual a distância que percorreria, mas podia prever que seriam vários quilómetros.
A música ajuda sempre a percorrer grandes distâncias, mas tenho de reconhecer que a caminhada começou a ser monótona e cansativa!
Então, ao fim de não sei quanto tempo e milhares de passos, lá estava o objetivo da minha caminhada…
Não podia deixar de me sentir eufórica cá por dentro!
Olhando em redor, podia entender porque aquela praia tinha sido escolhida num momento de aflição, tantos anos atrás…
… para a aterrissarem de emergencia de um avião!
” A história do avião no meio da imensa praia negra de Sólheimasandur não é muito antiga, foi em 1973 que o avião americano ficou sem combustível e caiu ali, no meio de lado nenhum! Os tripulantes ainda são vivos e podem testemunhar a aventura! Sim, ninguém morreu e, na realidade, parece que não faltou combustível nenhum, o piloto apenas se enganou e mudou para o deposito errado. Hoje o DC3 Plane Wreck é uma atracão surreal, com a sua carcaça a contrastar com o solo negro, de poeiras amareladas, que faz turistas e viajantes caminharem 4km desde a estrada, apenas para o verem de perto. Como uma caminhada pela lua!” (in Passeando pela Vida – a Página)
Como sempre, as pessoas visitam os sítios e não podem deixar de os destruir um pouco apenas para deixarem a sua marca, sabe-se lá para quem ver!
Pouco a pouco o avião foi sendo delapidado até que um dia, provavelmente, nada mais restará dele!
Ainda é uma presença bizarra no meio daquela paisagem. Lembro-me que, a primeira vez que vi uma foto daquele avião, fiquei tão impressionada que o quis ir ver. Estava pronta a fazer toda uma viagem só para isso!
E ali estava eu, no meio do maior vendaval, testemunhando a vedeta daquela primeira foto que vira tanto tempo atrás!
Mesmo com todo o vento, dispus-me a registar o momento, usando ainda a água da catarata de Skógafoss. tudo a condizer com o momento!
O tempo que me paseei em redor, os milhões de fotos que eu fiz…
O mar não era logo ali, ainda era preciso caminhar bastante para ir até ele! Tudo é tão distante!
Tudo é tão surreal!
“Desertos me fascinam, me enchem de espanto e me fazem sentir tão pequena e insignificante que me silenciam e imobilizam! A praia de Sólheimasandur teve esse efeito sobre mim, mesmo sendo uma praia com mar ao longe. Fiquei ali sentada nem sei quanto tempo, a olhar o infinito em redor, com o glaciar ao longe. Tão difícil definir as distância quando não se tem termo de comparação, que a sensação é de que em qualquer direção que caminhasse, todo o destino seria muito longínquo. Que experiência fascinante viver toda aquela imensidão!”
(in Passeando pela Vida – a Página)
De repente apetecia-me montar a tenda ali perto e ficar!
Mas além de proibido, o solo é bastante rijo e sujo. Apesar de a terra, que era mais cascalho que outra coisa, ser negra, o pó que voava e sujava as minhas botas era amarelo! Teria sido bem mais fascinante se fosse negro também!
Vi pelo telemvovel, sim, ali não faltava rede para eu ligar os meu dados móveis, que estava a mais de 4 quilómetros da minha moto. Teria de caminhar até lá de novo… ou não!
No caminho até ao avião um autocarro, que parecia um jeep de rodas grandes, passou várias vezes por mim, levantando uma imensa poeirada. Eu poderia apanha-lo no regresso. Havia uma placa com o seu horario e não faltava muito para as 17.00h chegarem! O problema é que eu não tinha dinheiro para pagar a passagem. mesmo assim decidi esperar, se não pudesse ir, tanto pior, caminharia de novo.
Disse ao motorista que queria ir embora no autocarro mas que não tinha dinheiro, só cartão multibanco e visa. Seria possível eu ir mesmo assim? Claro que sim! Disse-me mesmo que apenas se podia pagar com cartão! Não só eu podia ir, como era a única que estava devidamente preparada para o fazer, já que todas as outras pessoas tinham estado a juntar o dinheiro para pagar! Yesssss, ainda bem que arrisquei em esperar e não me pus a caminhar por não ter dinheiro vivo
Meti conversa com o condutor e ele explicou-me ali e em todo o país tudo se pode processar com cartão multibanco e que cada vez o dinheiro é menos usado. Percebi que não era permitido a outros veículos circularem por ali e nem pensar em acampar, imediatamente apareceria alguém para correr com os aventureiros. Mas que mais à frente, em Vík í Mýrdal, jé era permitido montar tenda.
Perguntou-me de onde eu vinha e ficou surpreendido por eu ter vindo desde Portugal de moto, pois muita gente aluga motos lá! Pois aluga, mas é tão caro que, sem contar com a gasolina, gastaria metade do orçamento total da viagem, apenas para pagar o aluguer de uma moto equivalente à minha!
Se acrescentasse as viagens de avião, a gasolina, as dormidas e a comida, gastaria em 7 dias, sem ir a mais lado nenhum senão a própria Islândia, o dobro do que gastei no total da viagem, por mais de 35 dias de viagem e uma série de países…
Pois, não fazia ideia, ainda assim você é uma valente mulher! – murmurou o homem.
Não pude deixar de dar uma gargalhada.
A minha motita tinha uma companheira bem original, uma moto cheia de tralhas e com um skate na bagagem! Bem interessante devia ser andar por aquelas estradas de skate! Um letão que viaja de moto de tão longe com skate acoplado.
Afinal Islândia de moto não é só para homens valentes, exclamou ele quando me viu chegar e percebeu que a outra moto era minha!
Olhava para a minha moto sem bagagem amarrada e pensava que afinal podia ter deixado para montar a minha tenda mais à frente!
Voltei a Skógafoss e fiquei meio desiludida. Havia mais tendas no local. Isso não seria problema se aqueles tipos não se pusessem a por música aos berros. Claro que conviver seria giro, mas eu nem apreciava a sua música.
Tudo piorou quando começaram a falar do vento. Eu tinha lido que o vento na costa leste podia ser verdadeiramente terrível. Havia histórias de que, quando ele era verdadeiramente forte, levantava as pedras das praias e partia os vidros dos carros. Histórias de motos serem arrastadas e não conseguirem circular… Parece que aquela costa podia ser assustadora. Um fulano, que fizera a costa dois dias antes, contou que tinha caminhado por quilómetros, lutando com o vento, pois não conseguira montar a sua moto e mesmo caminhando, tivera uma luta desigual e esgotante para chegar até ali. Por isso ficara por vários dias quieto a recuperar-se.
Todos eles tinham tempo porque estavam na ilha por mais de uma semana, já que tinham ido de avião, e estavam a voltar a Rekjavik para apanharem o voo e voltar para a Dinamarca. Ficaram espantados por eu ter ido de ferry, com moto e tudo, e preocupados por eu estar a subir para Seyðisfjörður, com data certa para embarcar! E se eu não conseguisse passar a costa, qual era a minha alternativa?
Voltar para baixo e dar a volta toda à ilha, por onde eu descera, e chegar a Seyðisfjörður por cima. Isso implicava fazer mais de 800km em vez dos 500 e poucos pela costa… O chato era que poderia não ter mais tempo, para além de não ver as coisas que queria por ali acima!

Então decidi levantar a tenda e seguir mais um pouco, assim teria mais noção do tempo que me esperava pela costa, no dia seguinte, e decidir se subia por ali ou se dava de novo a volta à ilha por onde viera.
Aquela gente achou que eu era louca, (e eu sou mesmo) e lá fui para Vík í Mýrdal, onde o condutor do autocarro me dissera que era permitido montar tenda!
Nem pensei em subir ao rochedo, por terra batida com todo aquele vento ninguém subia! Gostava de ter podido ver as praias lá de cima, mas o vento não estava para brincadeiras.
E mais à frente o tempo era outro. O sol desapareceu e nuvens meio sombrias cobriram tudo. Como é possivel as coisas mudarem tando depois de umas pedras ou morros?
Podia ver as pedras aguçadas da praia de Vík ao fundo e a encosta junto à igreja parecia a paz absoluta. Mas não era, o bendito vento estava infernal…
Pousei a moto no melhor ângulo possivel para que se aguentasse em pé e eu mesma quase fui levada pelo vento.
Se contiinuasse assim, seguramente que no dia seguinte teria de voltar para trás e dar a volta à ilha pelo mesmo caminho que viera, que chatice!
Cheguei a moto à igreja para que ela a protegesse e conferi o tempo para amanhã… Aparentemente o vento abrandaria, YESSSSS…. mas antes disso a coisa prometia ficar mais ruim do que já estava!
E ficou, tão depressa desci a colina da igreja e desatou a chover. Credo, as gotas de chuva pareciam torpedos em mim! Lembrei-me que tinha várias coisas nos bolsos do blusão, mas contava que eles fossem tão impermeáveis quando o blusão em si, ou as coisas podiam piorar lá dentro. De qualquer maneira nem queria parar, com a ventania que estava e com a tromba de água que veio sei lá de onde, queria tudo menos parar desamparada no meio de nada que me abrigasse!
Nem pensar em ir mais longe, ficaria em Vík custasse o que custasse!
Fiquei sem telemóvel, a power-bank deu o berro, com toda a humidade que apanhou, e eu só o poderia carrega-lo de novo na tomada de isqueiro da moto, no dia seguinte. Paciência, amanhã penso nisso, agora tenho uma casa para montar debaixo do maior temporal e isso é trabalho de profissional!
Havia mais gente a chegar e a preparar-se para montar tendas. òtimo, não ficaria sozinha!
E que bem ficou a minha casinha ali plantada! Não podia fotografar mas podia desenhar!
O vento uivava e a chuva parecia uma metralhadora sobre a tenda… aquela noite prometia ser animada!