1. Suíça, Itália e ilhas 2018

Cucu!

Este ano voltarei a acrescentar algumas linhas no meu mapa de viagens, por zonas nunca antes desenhadas! Não, não irei ao fim do mundo nem onde nunca ninguém foi, apenas onde eu ainda não passei, nada mais!

Mas as novidades não ficam por aí…

Desde sempre eu convido o meu moçoilo a acompanhar-me e desde sempre ele me responde que não aguentaria uma viagem “das minhas”. E eu prometo desenhar uma viagem especialmente para ele e que iremos à Suíça, que é o país do meu coração, é lindo e pequeno onde se vê muita coisa linda sem andar demais… Ora este ano ele virá comigo!

Assim nos primeiros 13 dias eu terei companhia, que será a linha verde do meu mapa. Connosco virá o nosso amigo Filipe Marques, que já me acompanhou nos primeiros dias da minha viagem à Noruega, no ano passado, e se mostrou uma boa companhia de viagem. Então seremos 3 em 2 motos!

No fim da linha verde estaremos em Turim e será o último dia juntos, porque ambos terão de voltar para casa… mas eu não! Então enquanto os rapazes voltam para Portugal eu sigo o meu caminho!

Então começa a linha azul, onde eu estarei por conta própria, pronta para explorar o sul da Itália, a Sicília, a Sardenha e a Córsega, a solo!

Lindo! Heim?

Advertisement

10. Passeando pelos Balcãs… – San Marino, Imola, Bled

6 de agosto de 2013

Este foi um dia para percorrer mais uma grande distância. Queria ver uma ou duas coisas por ali perto mas o destino era outro país.

San Marino era uma daquelas terras que eu queria visitar. Sempre me despertou a curiosidade conhecer um dos países mais pequenos do mundo!

Dizem que é o 5º mais pequeno do mundo com apenas 61 km² de área e o 3º mais pequeno da Europa, depois do Vaticano com 0,44 km², e do Mónaco com 1,95 km²!

Adorei a designação completa de San Marino: Serenissima Repubblica di San Marino! E na realidade é mesmo sereníssima! Um enclave que é como uma ilha rodeada por Itália, é a população mais pequenita do Concelho da Europa! Olha-se de longe e vê-se o penhasco em que fica empoleirada e apetece mesmo lá ir!

Não se pode circular pelas ruas ingremes que sobem a encosta do monte, mas pode-se ir até bem perto e depois não custa nada caminhar por ali acima e por ali abaixo! As pessoas são simpáticas e, aquela hora da manhã, quando lá andei, não estava ainda inundada de turistas, por isso foi um passeio pelo topo do morro, que sobressai na imensa planície em paisagens deslumbrantes! Um elevado recanto encantador!

A ignorância é grande e eu não conseguia entender onde poderia estar o circuito de San Marino!

Aquilo é tudo tão justinho e ingreme que não caberia ali um circuito de Formula 1!

Claro que me pus a imaginar como seria uma alucinação uma corrida de moto por aquelas ruelas, um espanto, seguramente!

Lá de cima pode-se ver um mar que rodeia o penhasco, mas um mar de casas e paisagem, como se San Marino fosse uma ilha rodeada de Itália por todos os lados!

Ali ao lado fica o posto de turismo, onde perguntei onde ficava o autódromo onde se realiza o Grande Prêmio de San Marino. Fiquei a saber que nem é ali perto sequer, como eu imaginara! Na realidade realiza-se em Imola, no autódromo de Enzo e Dino Ferrari, perto de Bolonha.

Ok, Bolonha até ficava no meu caminho, vou lá passar e ver como aquilo é!

Entretanto continuei a explorar as ruelas encantadoras.

E no meio do intrincado trajeto de ruelas estreitas chega-se à basílica, numa praça empoleirada na encosta.

A Basilica di San Marino é naturalmente dedicada a São Marino, o fundador da republica!

É neoclássica, um estilo sóbrio que me fascina, pois foi construída no séc. XIX, quando a anterior construção, muito antiga com cerca de 15 séculos, entrava em colapso!

A sensação é de que estamos a passear por uma cidade e não por um país!

As torres são 3 e serviram para defender a república de ataques dos povos vizinhos, entre eles os que vinham de onde eu vinha: Rimini!

O calor era já tanto que comecei a não querer andar muito mais! O que me valia era o meu lenço que eu molhava em todas as fontes para limpar e refrescar o rosto já febril!

Peguei na moto e pus-me a andar, ao conduzir o calor suporta-se melhor!

Queria passar em Imola, por isso no caminho passei pela terra de uma amiga do Facebook! Não a encontrei, mas passei perto.

O calor não me deixava sequer raciocinar, não havia ninguém na rua para eu perguntar e descobri, só depois, que era mais à frente um bocado…

Não foi desta que vi a terra da minha amiga Franca Bagnari!

Fui embora frustrada mas agradecendo o vento que a moto provocava em mim ao andar, já que não corria a menor aragem e a temperatura passava os 42º….

Mais à frente cruzei com um castelinho encantador todo em tijolo! Aquele país é cheio de surpresas!

O castelinho na realidade é considerado uma joia de entre as fortificações do séc. XV em Itália!
Chamam-lhe La Rocca di Bagnara e é lindo!

E tem um jardim com sobras deliciosas para eu parar e refrescar-me com uma deliciosa e gelada garrafa de água de um litro e meio!

Imola fica logo à frente!

Tal como eu imaginava, não faltam indicações que falam do autódromo! E lá estava ele!

Coisas de carros não são o que mais me apaixona, por isso pouco ou nada sabia do autódromo! Nem sabia que ele não era perto de San Marino!

Mas as histórias e os mitos desses locais atraem-me por isso fui juntando as que descobri por lá e as que catei naqueles dias… Afinal tratava-se do autódromo com o nome do fundador da grande marca italiana e onde morreu Ayrton Sena em 1994…

Estava tudo deserto por ali, mas podia-se andar à vontade pelas bancadas… pena não se poder ir até à pista…

Enzo, o criador da marca Ferrari, e Dino, Alfredino Ferrari, o seu filho que deu o nome a um modelo da marca, sofria de uma doença muito complicada e que o vitimou, distrofia muscular…

Na entrada principal tem uma escultura curiosa com uma série de carros que saem de dentro uns dos outros.

Pus a moto a beira e fui tirar fotografias para o meu moçoilo ver e para os meus amigos que me pediram fotos do circuito!

Fotos a acrescentar à minha pequena coleção de grandes circuitos:

Estoril – Portugal
Portimão – Portugal
Silverstone – Reio Unido
Nurburring – Alemanha
Enzo e Dino Ferrari – Italia

Não está mal para quem nem aprecia carros!

O calor estava infernal! Dei-me conta de repente de que as mãos suadas não entravam nas luvas, a roupa estava colada às costas e a moto escaldava. Era o suplício total.

Tinha de conduzir ou morreria naquele ar escaldante e parado que parecia estar a sacar toda a água do meu corpo. Se não partisse rapidamente acho que cairia para o lado inanimada!

E foi o que vi uns quilómetros à frente, quando o termómetro da minha moto oscilava entre os 42 e os 43 graus! O trânsito estava lento e em fila de pára-arranca, eu fui furando até que vi um pequeno aparato policial. Pensei que era uma operação stop, por isso deixei-me ficar muito educadamente na fila dos carros. Mas ao passar perto é que vi que não era nada disso!

Um grupo de polícias estava realmente parado na entrada de uma rotunda, mas não era operação stop nenhum! Um deles tinha simplesmente desmaiado na moto! Um frio percorreu a minha coluna!

As motos estavam paradas na berma da estrada e eles estavam em volta do colega estendido na relva da berma da estrada. Um segurava um guarda-chuva que protegia o desfalecido e os outros abanavam-no. A sua moto estava meio reclinada na rua…

Comecei a temer pela minha segurança, afinal eu tenho a tensão arterial muito baixa e aquilo não podia acontecer comigo!

Segui para a Eslovénia rezando para que o calor não me fizesse mal.

O entardecer e a montanha sossegaram o calor que me afligia tanto! Apenas olhar para a paisagem verde e cheia de sombras me refrescava a mente!

Como eu gosto daquele país!

Cheguei a Bled cheia de fome e obcecada com a comida! Eu não podia continuar a encher apenas a barriga de líquidos e arriscar-me a enfraquecer por não ter vontade de comer, porque o calor derrubar-me ia!

Fiquei ali, no meu restaurante de eleição na cidade, sobre o lago e com direito a musica ao vivo. A comida é sempre ótima e a cerveja deliciosa!

E foi o fim do 8º dia de viagem!

9. Passeando pelos Balcãs… – La Spézia, San Gimignano, Siena, Rimini

5 de agosto de 2013

Haveria muita coisa que eu gostaria de ver no meu caminho… há sempre!

Mas não voltei a Florença, nem a Pisa, apenas segui por onde tinha traçado o meu caminho. Por vezes dá jeito ter um percurso pensado para que não fique ali, como o tolo no meio da ponte a querer seguir todas as placas.

Afinal, se tudo correr bem, não faltarão oportunidades para voltar a Itália e catar mais um pouco ou voltar a sítios já antes visitados! Por vezes perguntam-me como giro o que quero ver quando afinal queria era ver tudo! Giro assim, com a promessa dentro de mim de que vou voltar!

Quando a gente faz uma viagem de vez em quando poderá ter essa dificuldade, de saber o que ver, porque não sabe quando voltará, mas Itália começa a ser uma daquelas terras que eu nunca visitei de fio-a-pavio mas onde passo tão frequentemente e por tantos trajetos diferentes, que já é um dos países que mais visitei e de que conheço mais!

Não havia nada de especial que eu quisesse ver em La Spézia, mas não resisti a ir ver uma construção religiosa muito interessante e bizarra que me apareceu na berma da estrada!

Uma igreja redonda, no meio dos prédios, ou mesmo em cima deles!

Descobri que é a Cattedrale di Cristo Re, (não sabia que eles diziam Re e não Rei!) que foi projetada nos anos 20 mas apenas consagrada nos anos 70, depois de muita lavoura, de guerras, atrasos, reestruturações do projeto inicial, e vários arquitetos se debruçarem sobre ela!

A construção é redonda e sem janelas visíveis, o que provoca uma luminosidade curiosa e inspiradora!

Há dois tipos de igrejas/catedrais que me fascinam, as muito antigas, desde o início da cristandade até ao final do gótico, e as muito modernas, para a frente do final do séc. XIX início do séc. XX! No entretanto, entre umas e outras, as renascentistas, barrocas e tal, são interessantes mas não me provocam as mesmas sensações… manias!

Tem no meio do teto, aquilo a que eles chamam um olho, extraordinário! E a sensação que provoca é única!

E siga para San Gimignano!

Há muita coisa que eu ainda quero visitar na Toscana e uma delas era esta terrinha medieval, com as suas torres que lhe dão o nome de Cidade das Belas Torres!

A cidadezinha estava cheia de gente, o calor era insuportável e havia momentos em que eu não tinha mais a certeza se queria visitar a cidade, ou andar de moto ou deixar-me cair para o lado! Acho que parei em todas as esplanadas para beber mais qualquer coisa, a cada vez que os meus miolos pareciam ir começar a fumegar!

Realmente as torres são muitas por ali, a gente pode vê-las em todas as praças a espreitar lá de cima!

A Praça Cisterna tem o poço no meio e os turistas entretêm-se a atirar moedas lá para dentro!

Fez-me lembrar o guia do Palácio de la Aljaferia em Saragoça que, junto ao poço Da Torre do Trovador, dizia que os turistas adoram atirar moedas para todos os poços que encontram, por isso se alguém o quisesse fazer e não tivesse moedas ele aceitava cartão de crédito! Eheheheh

E é verdade e quase patético, encontram-se moedas em tudo o que é poço, lago, ou pocinha de água por essa Europa fora!

Tinha de seguir o meu caminho porque, apesar de tudo, era menos penoso conduzir moto do que caminhar debaixo de 40 tórridos graus de temperatura! Ao longe podiam-se ver as torres irregulares da cidade!

Ainda parei em Siena!

Estava a precisar demais de voltar a beber qualquer coisa!

Por aqueles dias eu já quase não comia durante o dia, apenas bebia, bebia e voltava a beber! A sensação de que a água aquecia rápido demais fazia-me parar a cada momento para a beber antes que ela aquecesse, lá trás na mala, que mais parecia um forno.

Siena, aquela cidade tão antiga que a sua história quase se perde na história! Fiz amizade com um pintor de rua que estava a pintar uma imagem religiosa no chão.

O sol ajudava a valorizar as cores e a tornar a obra mais viva e interessante, mas estava a torrar os miolos ao homem!

Depois é caminhar pelas ruas antigas e estreitas, com praças que se abrem rodeada de construções que são autênticos monumentos grandiosos e que estão por todos os lados. Aliás, a cidade é conhecida por isso mesmo, pela harmonia e magnificência da sua arquitetura que faz do seu centro histórico um autêntico museu ao ar livre!

E de repente, por umas “portas” aparentemente pequenas, entra-se na grande e ampla Piazza del Campo, com o Palazzo Pubblico e a sua enorme torre ao fundo.

Parei logo ali a tomar uma grande cerveja gelada à sombra! A paisagem e a possibilidade de apreciar detalhadamente o que me envolvia justifica perfeitamente a fortuna que uma cerveja custa por ali!

A Torre dei Mangia tem 88 metros de altura e as suas paredes têm 3 metros de espessura mas, o que me fascinou mais foi a história do seu nome! Dizem que ela deve o seu nome à alcunha do seu primeiro guarda “Mangiaguadagni” que gastava tudo o que tinha em comida!

Como eu entendo o senhor!

Isso fez-me lembrar quando há uns tempos eu dizia que gastava tanto para comer sozinha como uma família de 3 ou 4 pessoas e que, se eu engordasse na proporção do que como, já não caberia nas portas! Eheheheh

Fui ver aquilo de perto mas estava decidida a não entrar para ver interiores!

Por isso pus-me a apreciar o pátio interior e a brincar com perspetivas vertiginosas!

Uma guia giríssima, vestida como uma princesa, com uma sombrinha rendada prendia mais a minha atenção que a do grupo que lhe pagava os serviços!

Diz a lenda e a mitologia romana que Siena foi fundada por Sénio, filho de Remo, e isso é visível pela cidade já que há estátuas, gravuras e relevos representando os irmãos Romulo e Remo a serem amamentados pela loba, por todo o lado, como acontece em Roma.

A catedral estava cheia de gente, à fila e ao sol para a visita! Eu, ao sol, para visitar o quê? Nem pensar! Estão 40 graus e eu não morro por visitar coisa nenhuma! Por isso olhei-a por fora, debaixo de uma sombra, e mais nada!

A catedral é lindíssima, em gótico italiano, com os mármores policromados e tal, mas terei de a visitar noutra altura…

Bebi mais uma garrafa de água gelada por ali, a minha barriga já chocalhava com tanta coisa que eu já bebera, e segui pelas sombras nas ruelas estreitinhas da cidade.

Claro que ao chegar perto da moto já estava a morrer de calor e de sede de novo! Fui a uma lojita comprar mais uma garrafa de água. Não consegui abri-la, agarrei com a mão direita e torci com a esquerda e não consegui… voltei lá dentro e pedi ao senhor que ma abrisse! Ele ficou estupefacto “Então você conduz aquela moto grande e não abre uma garrafa de água?” – exclamou!
“Pois é, tenho a minha mão direita doente!” – expliquei eu e mostrei o meu dedo polegar inchado e paralisado. O homem ainda ficou mais escandalizado “E vem de tão longe com a mão assim naquela moto?!” – e arregalava os olhos incrédulo. “Não tem problema, eu consigo conduzir assim só não consigo abrir uma garrafa de água, mas isso não falta quem faça por mim!”

Segui viagem rezando dentro do meu capacete, que mais parecia um forno, por um pouco de ar fresco!

“Valha-me Deus oh S. Pedro, manda-me um pouco de ar fresco antes que eu morra esturricada!” – cantarolava eu dentro do capacete, quando estava mais fresco lá dentro, com a viseira fechada, do que cá fora!

Estranhei o céu azul, que parecia meio basso mais ao longe. Será nevoeiro? Isso é que era fixe desde que fosse fresco! Mas claro que não devia ser nevoeiro, afinal o céu mantinha-se azul, apenas basso, fosse pelo que fosse.

Mas qualquer dúvida foi imediatamente esclarecida à medida que fui andando! Grossas pingas começaram a cair, como torpedos em cima de mim! “Chuva?” sim cada vez mais forte, pingas que “enchiam baldes”!

De repente entendi que, ou parava para guardar a maquina fotográfica, ou iria expô-la a um banho. E assim foi, parei na berma da estrada e, tão depressa guardei a máquina, começou o diluvio! Chuva tão intensa que em breves momentos me molhou toda, enquanto eu vestia o blusão. Oh que bem que soube, a temperatura desceu vertiginosamente e a rua virou um pequeno rio. Eu quis dançar no meio da rua!

O céu não deixou de ser azul, a nuvem mijona não era negra, a temperatura desceu para os 23 graus e eu segui caminho naquele temporal surrealista!

Uns 10 ou 15 km à frente tudo era sol e calor, voltei aos 40 graus e tudo secou em mim, como se nada tivesse acontecido!

“Oh S. Pedro, se realizas assim os sonhos de quem te pede vou recorrer mais vezes a ti!”

Cheguei a Rimini ao entardecer, onde um ambiente noturno de praia me esperava, numa festa constante. O hotel era gerido e assistido por pessoal russo muito simpático que me tratou muito bem e acomodou a minha motita nas traseiras do edifício, longe de olhos curiosos.

E fui-me encher de comida pois começava a ter receio de ficar fraca de apenas beber e pouco comer!

Aquela terra é uma animação de música nas ruas e esplanadas e montes de movimento! A noite estava bem mais fresca e agradável que o tórrido dia, por isso deixei-me estar por ali a curtir o ambiente e a falar com uns e com outros!

E foi o fim do 7º dia de viagem.

8. Passeando pelos Balcãs… – Les Cinque Terre

4 de agosto de 2013

A minha ida a La Spézia tinha uma única finalidade… que afinal eram cinco!

Fui para ali para visitar as Cinque Terre! Dizem que aquelas terras se visitam de barco, porque se tem perspetivas únicas sobre elas mas, como eu costumo dizer, quem decretou isso, provavelmente nunca as fez de moto senão mudaria um pouco o seu discurso, do tipo “As Cinque Terre visitam-se de barco ou de moto!” e aí sim, eu assinaria por baixo!

Estas cinco aldeias piscatórias, estão encravadas na encosta rochosa e ingreme da costa, com poucos acessos e as praias sem areia! Tudo é pedra e água por ali! As ruelas que levam a cada uma, e de umas para as outras, é ziguezagueante, deformada, como eles avisam, e por vezes em muito mau estado já que as intempéries mais invernosas as vão destruindo com enxurradas de água que corre violentamente pela encosta até ao mar.

Decidi começar pela mais longínqua em relação a La Spezia. Entenda-se que este “longínqua” se refere a apenas 32km de distancia! E fui até Monterosso Al Mare, depois viria de terra em terra até chegar de novo a La Spézia!

Os enquadramentos encantadores não se fizeram esperar! O mar ao fundo e as montanhas logo a seguir, sem dar tempo a procurarmos pelas praias pois elas não existem!

A vantagem de se ir por terra e de moto é que a qualquer momento a gente encosta um pouco e apanha perspetivas espantosas da costa!

Por isso bem antes de chegar ao destino eu já conseguia vislumbrar a cada curva do caminho a aldeia que queria visitar!

Ao chegar-se lá, pousa-se a moto no meio da multidão de scooters e toca a caminhar por entre o casario vertiginoso e colorido! Aquilo é mesmo bonito porque não é feito para turista ver, é como as pessoas fizeram que fosse ao longo dos tempos e agora a gente vai lá ver!

Uma das coisas que me encantou por ali foram as cores vivas, quase berrantes por vezes, e o ar de “normalidade” que tudo tinha, desde pessoas que lavam e esfregam na rua até barcos “estacionados” na berma do caminho, encostados às casas, com toda a naturalidade!

Gente muito religiosa, as igrejas às risquinhas estavam cheias àquela hora, com povo devoto a enche-las, apesar do calorão que se fazia sentir lá dentro! Estava bem mais fresco cá fora!

Então chega-se à Piazza Garibaldi e logo a seguir fica o mar e aquele é o único areal nas cinque Terre! Ainda estava vazio, nem todo o turista e banhista se levanta cedo como eu!

Andei por ali de nariz no ar, pois muito do encanto está nas casinhas encavalitadas que quase se tocam lá no alto!

A aldeia seguinte seria Vernazza.
Segui o seu caminho e a dada altura conseguia já vê-la e tudo mas, de repente a estrada estava cortada! Andei por ali a experimentar pois por vezes até dá para uma moto passar, mas a dada altura não havia mais estrada! Tinha desaparecido de todo e restava apenas um caminho muito manhoso e extenso, cheio de buracos, cascalho e descidas ingremes!

Não meti ali a moto! O meu problema não era só o ir por ali abaixo, era também o regressar e subir aquilo a pique com uma moto de 320 kg a resvalar! Por isso tentei uma outra ruela, que também anunciava que estava cortada mais à frente! Estava melhor que a anterior mas nada fácil de fazer com a minha Ninfa, por ser muito extensa, irregular e esburacada para além do cascalho, por isso fiquei ali a decidir se devia ou não arriscar.

Então apareceu um fulano numa maxi-scooter, ficou um bocado a olhar e propôs, eu ajudava-o a passar e depois ele ajudava-me a mim! Boa, assim já arrisco, disse eu!

Ora o homem mete-se por ali fora, eu a segurar a moto pela traseira e nem assim ele a segurou e pimba, no meio do chão!

“Mas então você não sabe andar fora de estrada?” – perguntei eu
“ Nunca andei pois tenho um medo de morte!”

Oh valha-me Deus, e vem-me com propostas de ajude-me ai que eu passo? E o pior de tudo, não tinha força para levantar a moto do chão, fui eu quem fez o maior esforço senão ele ainda lá estaria hoje a puxar por ela!

Bem, se nem com a tua podes como poderás com a minha?
Peguei na minha motita e fui mas é dar a volta a todo o circuito e tentar chegar a Vernazza vinda de Lá Spézia. Se desse veria a terrinha, se não desse veria as outras todas e pronto!

E ainda me dizem que eu não devo viajar sozinha, e seria melhor levar alguém assim, que em vez me ajudar teria de ser ajudado por mim?

Voltei aos bons caminhos porque por ali as ruínhas são muito bonitas… quando não estão todas lixadas!

Voltei a la Spézia e, quem vai dali pode fazer a via panorâmica que nos permite ver toda a cidade com o porto e a montanha ao fundo!

Julgo que é o ângulo mais bonito para se apreciar a cidade!

E lá estava a primeira aldeia para quem vem da cidade: Riomaggiore

Tão visível lá de cima que fiquei ali debruçada sobre a berma a aprecia-la!

Mais uma vez a gente deixa a moto junto à multidão de motos e scooters e vai por ali abaixo, pelas ruelas estreitas, apreciando perspetivas deliciosas do conjunto!

A casa do Município estava toda pintada com murais de mar e mitologia muito bonitos! Espero que estejam a pensar restaura-los pois a tinta começava a estalar!

E as ruínhas e caminhos por entre as casas, com degraus e passagens cobertas por elas, mais pareciam entradas particulares!

Quando o calor era já insuportável e o sol ameaçava torrar-me a mioleira… o mar apareceu ao fundo de um caminho estreitinho por entre casa! Oh visão do paraíso!

Meio como quem se precavém para o que não vai acontecer e se prepara para o que não vai fazer, eu pusera o fato de banho na bolsa de cinta, muito enroladinho… e agora ele berrava por mim lá dentro!

A frescura das águas berrava também por mim! Mas como fazer? Não havia condições de vestir o fato ali perto e ir para a água!

Então uma senhora provocou-me “vá nadar!” ao ver-me ali tão sôfrega a olhar para o mar “não tem fato?” sim tenho, tirei-o da bolsa e mostrei-o, mas como o visto por aqui?

Italiano é desenrascado como português! Então ela chamou a filha (acho eu) e, depois de catarem nos sacos, deram-me um vestido de alças, daqueles que eu nunca usei na vida, tipo franzido no peito e solto e comprido até aos pés, e disse-me para eu me trocar dentro dele!

Oh santinha, vou pôr uma velinha por ti em algum lado!

Deixei-lhes as minhas coisas a guardar e fui nadar! Saltei direta do penhasco para a água como os miúdos estavam a fazer! Huuuuuum delicia!

No fim nem precisei me limpar, vesti a roupa por cima do fato molhado e fui passear pela aldeia com o rabo molhado ainda! Que bem que soube!

A senhora ficou minha fan, falamos um bom bocado de onde eu vinha, para onde eu ia e, no fim, deu-me o vestido, para que eu não morresse de calor onde houvesse mar, porque a Itália estava sob uma vaga de calor muito forte! Mas não era só a Itália, era toda a Europa e o vestido veio a revelar-se útil noutras situações semelhantes!

É nestes momentos que eu acho que deveria comer um gelado, que era o que toda a gente fazia por ali… mas tive de me reduzir a muita água e alguma cerveja já que não gosto de gelados…

Estavam 39/40, tudo irradiava calor e um pormenor me enterneceu! A cada fonte, a cada chafariz, uma taça estava disponível para dar de beber aos animais! A princípio pensei que era da loja ao lado, para o seu cão, mas depois percebi que era para toda a gente pois existiam em todos os pontos de água! Um gesto tão simples e tão grandioso! Quanto cão e gato vi ser saciado e quantos ficavam ali à espera que alguém lhe enchesse a pia! Lindo!

E segui para Manarola que é logo à frente!

O mesmo clima, o mesmo ambiente, o mesmo calor, o mesmo mar e um novo mergulho!

Ali eu já fui direta à água! Tinha o fato vestido, foi só tirar a roupa, meter tudo dentro do chapéu e entregar a uma velhota para cuidar!

Lá de baixo eu via a velhota a espreitar, pensando com os seus botões que eu devia bater muito mal!

Só não tinha levado a toalha comigo, tinha ficado na mota, mas também não fazia falta, com todo o sol e calor que estava até sabia bem secar o corpo ao ar!

Aquela vidinha já estava a fazer fome e fui comer um peixinho aos pacotes ali perto, que me tinha chamado tanto a atenção! Uma fritada deliciosa!

Podia passar por ali todas umas férias! Que perfeito ambiente!

E segui pela costa apreciando as terrinhas encavalitadas nos extremos dos penhascos com vista privilegiada para o mar!

Vi Corniglia ao fundo, para mim a menos interessante das 5 terras!

Ali foi só para beber mais qualquer coisinha que o calor estava a sacar toda a água de mim e eu tinha de repor o stock!

As ruelas estavam cheias de gente a lambuzar-se de gelados!

E a minha motita a espantar toda a gente no meio das colegas mais pequenas!

Finalmente voltei a aproximar-me de Vernazza, aquela que estava inacessível pelos caminhos lá de cima, deixou-me aproximar pelo caminho que vinha de Corniglia! Maravilha!

Ao aproximar-me da aldeia pude perceber a dimensão do estrago nas ruas de acesso! Entendi então que se tivesse persistido em desce-las poderia mesmo ter-me virado de pernas para o ar, porque o estrago era muito grande e muito extenso e as obras estavam a decorrer até à entrada da aldeia, com direito a terra, pó e buracos com fartura!

Entrando na aldeia, era a paz e a alegria!

E mais multidões a comer gelados por todos os lados!

Oh mar bendito, depois da caminhada, da poeirada e do calorão… claro, voltei a tirar a roupa, a meter tudo dentro do chapéu, a dar a uma velhota para guardar e pimba, mar!

Eu já nem me preocupava se me iriam roubar a maquina fotográfica ou a bolsa, eu só pensava no fresquinho da água!

Pela aldeia as pessoas faziam filas para encher as garrafas de água nas fontes! Eu sentia-me fresca, com o rabo ainda molhado do banho e uma cerveja fresquíssima a acompanhar!

E fui passear um pouco, que não sou pessoa de ficar horas num lugar a apanhar sol e calor!

La Spézia lá estava com o pessoal simpático do hotel que se fartava de falar comigo e achava graça à pronúncia portuguesa e se punha a encontrar semelhanças entre as duas línguas!

E foi o fim do 6º dia de viagem!

7. Passeando pelos Balcãs… – Sisteron, La Spézia

3 de agosto de 2013

Naquele dia… tirei o dia para andar de moto!

Eu tinha dias destes nos meus planos, em que o que eu queria ver a seguir seria longe, por isso estava preparada para passear, para curtir a paisagem e as curvas da estrada de montanha, mas também para correr um pouco!

São estes dias, e tive alguns nesta viagem, que desentorpecem os meus sentidos e os da motita, depois de voltinhas a baixa velocidade por aqui e por ali.

Mesmo assim faço tudo sem stress, não há-de ser porque o meu destino é mais distante que eu desatarei a correr sem olhar para os lados. Cada dia é percorrido como se fosse o único da viagem, com todo o interesse e prazer de condução e passeio, parando sempre que me apetecer, para ver, fotografar, desenhar ou comer. Se se fizer tarde e chegar ao meu destino durante a noite, tanto pior, o meu Patrick GPS que faça o seu trabalho e me leve à porta de “casa” e se não o souber fazer… logo se verá!

Por isso ainda me dei ao luxo de andar para cima e para baixo no mapa e de tirar algumas fotos de montanha, quando o prazer foi em altitude e curvas alucinantes!

Para mim passear pela montanha, neste caso pelos Alpes, é, só por si, um delicioso encanto! Não precisa de ter nada mais para eu ser feliz!

À luz da manhã é que pude ver direito onde dormira, rodeada por montanhas extraordinárias!

E descobri também que ficava na “Route du Temps”, um nome bem sugestivo para um percurso perto do céu e a tocar o paraíso!

E mais à frente já se via o imenso vale onde se situa o penhasco de Sisteron.

Sisteron, entre a rota da grande produção de fruta e a rota da lavanda!

A cidadezinha não é tão encantadora como eu pensava! Quando a vemos de longe, com o penhasco encimado pela cidadela, temos a sensação de que é toda construída em pedra, com ruelas estreitas e onde os carros não podem entrar… e em parte é!

Mas tem também estradas cheias de carros e movimento e confusão, e as casas são cinzentas e o chão alcatroado ou de cimento!

Não me apeteceu subir até à cidadela, estava muito calor e tinha de subir ainda muito…

A perspetiva da cidade era muito interessante lá de cima. Sisteron, uma cidade cheia de história antiga que se estende desde os romanos, testemunhando todos os grandes momentos históricos do país, por se situar em ponto tão estratégico e de passagem obrigatória para tantos destinos!

Preferi passear-me pelo mercado de rua e deixar explorações mais profundas para uma visita posterior!

Eu queria ir a Castellane e à Gorge de Verdon, mas aquilo estava impossível de povo irrequieto por todo o lado! Tive de me obrigar a deixar para outra vez, quando eu programar passar ali a noite e visitar a garganta de manhã, porque naquele momento era impossível! Por isso amuei e segui até Rougon.

Subi até à aldeiazinha e, ao menos lá, não havia ninguém para além dos locais! Foi um alívio e uma pausa na paz!

Com os montes “rachados” como paisagem, os mesmos que se abrem para Verdon!

Eu tenho mesmo de ir explorar aquilo direito, pois se o rio Verdon é deslumbrante no seu percurso mais banal, nas gargantas deverá ser realmente extraordinário, com as águas turquesa e os penhascos a pique em seu redor!

E seguindo percursos de água logo a seguir fica o Lac de Castillon, provocado por uma barragem e cheio de beleza, com as suas águas turquesa com barquinhos a passear em cima!

E tinha de tratar de atravessar os Alpes para descer para Itália.

Estava numa zona cheia de passos de montanha interessantes, lá fui andando de curva em curva pelo Col d’Allos até aos 2.250m de altitude.

Há momentos em que a gente olha para o caminho percorrido e ele parece que está por todo o lado!

Entrei em Itália por uma das minhas fronteiras preferidas!

Pertinho de Barcelonnette, onde a seguir ao lago muito bonito fica a estrada extraordinária com este aspeto!

Depois vem mais montanha, estamos em Argetera.

E começa a confusão dos vilarejos e aldeolas, sem muito o que ver mas com muito transito e camiões à mistura!

É este ponto um dos únicos nas minhas viagens em que eu gosto de apanhar a autoestrada, pois é uma alucinação! Sempre que vou por aqueles lados passo ali da estrada nacional aborrecida para a autoestrada mais louca que se pode desejar! As velocidades variam entre os 80km, nos troços mais lentos e sinuosos, para os 130km/h nos mais rápidos e a gente parece que anda num carrocel, ladeado de paredes, repleto de curvas e com os carros a competir connosco! Adrenalina pura!

E cheguei a La Spézia, onde ficava a minha casa naqueles dias!

E foi o fim do 5º dia de viagem!