55 – Passeando até à Suiça 2012 – Troyes… ou a cidade das 10 igrejas!

27 de Agosto de 2012

Naquele dia seguiria para norte, como inicialmente previra, antes de mudar os meus planos e desviar-me do meu caminho! Seguiria para a Bélgica mas não sem antes catar todos os recantos de Troyes!

Não foi por acaso que eu decidi pernoitar em Troyes!
Há muito tempo que a cidade estava na minha lista de “imperdíveis”!
Trata-se de uma cidade muito antiga e cheia de habitações e igrejas medievais! Nem eu imaginava quantas!

Passeia-se um bocado pela cidade e parece que em cada esquina há uma catedral! Não é por acaso que lhe chamam “La ville aux 10 églises” (a cidade das 10 igrejas!)

A primeira que procurei, seguindo a sua torre por cima das casas, foi a própria catedral dedicada a São Pedro e São Paulo: Cathédrale de Saint-Pierre et Saint-Paul.

A catedral gótica do séc. XII foi vitima de tudo e mais alguma coisa! Diversos fenómenos naturais e “erros” humanos provocaram momentos de destruição no belo edifício, desde guerras, invasões, tufões, tornados e raios que lhe caíram em cima!

Mas conseguiu chegar até nós linda e de novo a precisar de restauro, que está em curso no momento!

Das coisas mais bonitas no gótico são as “paredes de vidro” onde os vitrais provocam os efeitos mais extraordinários com a luz exterior!

Quem vê a igreja por fora não imagina a sua grandiosidade e beleza interior!

Embora seja um edifício remarcável!

Dá-se-lhe a volta e encontram-se edifícios extraordinários, bem antigos!

E outra igreja gótica, a igreja de Saint Nizier, do séc. XVI. Está meio em mau estado e a clamar por restauro!

O que vale é que, pelo que soube, a cada ano um novo edifício entra em fase de restauro e esta igreja já tem vestígios disso pelos andaimes que estão parcialmente colocados!
Não a pude ver por dentro pois estava fechada!

Segue-se mais um pouco pela rua e encontramos mais uma igreja gótica: a Basilique de Saint-Urbain, do séc. XIII

Começada a sua construção no séc. XIII, demorou 8 séculos mais a ser concluída, porque o dinheiro era pouco. Hoje é dedicada a Saint Urbain, o padroeiro da cidade.

Visitei-a demoradamente por dentro, rodeei-a pelo exterior. As suas gárgulas são curiosas, criaturas humanoides, mais do que monstros.

E há momentos que uma camara capta e que não temos a certeza se foi realmente capaz de o fazer! Momentos de rara beleza e demasiado fugazes para que o olho humano memorize e retenha… Trouxe comigo o voo do passarinho!

E o interior era surpreendente!

Mais uma vez aqueles tetos altos, com paredes iluminadas por vitrais, me fascinaram!

As casinhas em redor, e por todo o lado, parecem irreais e saídas de livrinhos infantis!

Mais à frente fica o centro mais “compacto”, em termos de construções medievais extraordinárias!

Casas lindas, boa parte delas do séc. XVI, em madeira ou com os travejamentos exteriores, casas de estuque e lindas de ficar demoradamente a olhar para elas!

Ruelas estreitinhas, como a “Ruelle des Chats” (Ruela dos Gatos)

E pimba, mais um igreja: a Eglise de Sainte-Madelaine, a mais antiga de Troyes, do séc. XII. Inicialmente em estilo românico e posteriormente, no início do Séc. XIII, remodelada já em estilo gótico que acabava de aparecer na França!

O seu jardim já ganhou o prémio das cidades floridas! Na realidade ele é bonito e original já que os corredores para as pessoas passarem, em vez de serem de terra batida ou empedrados, são relvados!

Do jardim pode-se apreciar a construção em redor!

O interior é extraordinário!

O coro e a abside em gótico flamejante, provocam um efeito de grandiosidade e estranheza!

Fiquei ali a olhar!!

Lá fora as ruelas continuam de regresso à cidade histórica, deslumbrantes!

Para encontrar mais à frente a Eglise de Saint-Jean-au-Marché, gótica do séc. XIII, (igreja de São João do Mercado) porque fica no meio da cidade medieval, onde se faziam grandes feiras!

Não a visitei por dentro porque estava fechada! Na realidade está a ser restaurada aos poucos de acordo com patrocínios que vão sendo angariados…

Pela parte que já está pronta, pode-se ver que deve ser muito bonita e vale a pena preservar!

E vi 5 das 10 igrejas de Troyes, apenas aquelas que “se atravessaram no meu caminho”!

A cidade ficou-me no coração pela beleza antiga que encerra e desejei voltar a visita-la de novo um dia!

Entretanto segui o meu caminho pela França profunda, como eu gosto de chamar à imensidão dos campos e searas sem fim, até Reims!

(continua)

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14 – Passeando até à Suiça 2012 – Aosta – Monstreux – Sion

7 de Agosto de 2012 – continuação da continuação!

Então o resto do dia foi mais um “andar para a frente e para trás” espetacular!

Aosta é uma cidade muito interessante, mesmo pertinho do Tunel du Mont Blanc (um túnel que nunca quis fazer de moto, cruzes!). a cidade está cheia de vestígios romanos e é a capital do belissimo Vale de Aosta (que ainda hei-de visitar em pormenor, um dia que esteja menos calor!)

A Collegiata di Sant’Orso é um conjunto do séc. XI que quero visitar mais calmamente, pois é extraordinário e diferente do que se construiu por cá na mesma época.

Naquele dia estava fechada e apenas pude visitar o espaço de culto, pois o claustro estava fechado, o que foi um oásis de frescura junto dos quase 40º grau que se faziam sentir lá fora!

Curioso que, no altar tem uma “janela” no chão que nos permite ver um mosaico do sec XII por baixo, que foi descoberto apenas há 12 ou 13 anos!

O mais bonito (e mais fresco) foi a cripta, que tem sempre um efeito curioso sobre mim! Normalmente é a parte mais antiga de uma igreja e este deve ser da época do mosaico, sec. XII.

Se pensarmos que é do tempo da fundação da nossa nacionalidade!
Lindo!

E voltei para o calor infernal e para as ruas pitorescas e cheias de gente!

Encontra-se este tipo de esculturas também pela Suiça, quando têm de derrubar uma árvore, fazem por vezes com o seu tronco ainda ligado à terra, esculturas que resultam parecidas com tótemes, muito giras!

Estão em escavações sob a Porta Pretoria, a porta da cidade romana que se chamou Augusta Praetoria Salassorum, e que foi construi da no ano 25 aC!

A gente passa pela porta e assiste aos trabalhos de varanda!

Ali ao lado fica o teatro romano, onde havia também um anfiteatro, o que faz da cidade romana uma grande e extensa cidade de grande importância!

O calor estava a torrar-me os miolos, mesmo com o chapéu! Eu não iria mais longe… Aosta lá ficará para quando eu voltar, esperando que o calor seja menos sufocante!

Devia ter feito como os chinocas fazem que visitam as cidades de guarda-chuva, assim o sol não chegaria com tanta força até mim!
O glaciar, lá ao longe, por cima das casas, estava a chamar-me para o fresquinho!

Voltei para a moto, por ruas muitos giras, cheias de artesanato e souvenirs.

E voltei ao paraíso! Lá em cima estava uma temperatura agradável, comparada com o calorão de Aosta, cerca de 24º, o que resultava fresquinho!

A festa tinha acabado e, se não tivesse estado nela, nem perceberia que tinha sequer existido! Reinava a paz e o sossego por ali!

Então fui visitar o Hospice de St Bernard por dentro.

Ali foram recebidos peregrinos e viajantes que atravessavam de ou para Itália, pois o caminho (Pass) é a distancia mais curta entre os 2 países!

Napoleão passou por ali em 1800 com as suas tropas a caminho de Itália, por isso há quem lhe chame rota imperial.

Lá dentro os espaços religiosos são bonitos e típicos da época, a igreja com decoração barroca é dedicada a Saint Nicolas.

Cá fora, patinhas amarelas de São Bernardo guiam-nos para caminhos a percorrer, muito giras! Claro que tirei uma foto à minha Magnífica junto à placa, para memória futura! (as patinhas amarelas vêm-se no chão junto à moto)

E desci o Pass…

Há dias cheios de beleza e que ainda por cima parecem nunca mais acabar!

Quando desci do St Bernard Pass o sol estava tão alto e ainda faltava tanto para anoitecer, que pus-me a pensar “como é que eu já fiz tanto e ainda tenho tanto tempo para mais?”

Perguntei ao meu Patrick o que havia por ali perto para eu ver, antes de voltar lá para baixo e ele “falou-me” de um lago: Champex-lac em Verbier – St Bernard! (quem inventou o GPS deverá ter direito ao céu!)

Aquele nome não me era estranho, tinha ideia que era coisa bonita… bem por ali acho que tudo é bonito! E lá fui!

O lago é bonito e havia gente relaxadamente na relva junto à água, onde me fui estender também, não sem antes comprar algo fresco para me acompanhar. Uma escultura curiosa de um coelho humanoide olhava para nós, dentro da água.

Pus-me a brincar com os miúdos, tirei as botas e fui chapinar na água com eles! Eheheh

Continuava a ser dia claro quando voltei à estrada. A descida parecia uma linha num bolso, na imagem do GPS!

Pelo GPS faltavam 3 horas para o sol se por, por isso decidi ir vê-lo a um lugar muito especial, daria tempo, porque naquele pais é tudo perto!

Passei por muitos motociclistas simpáticos e cordiais que circulavam perfeitamente ordenados! Muito bem!

Passei por carros “especiais de corrida” que por ali existem em número remarcável!

Passei pelo Château d’Aigle, do sec. XII, onde hoje funciona o Museu da Vinha e do Vinho.

Mas eu só queria rodeá-lo e aprecia-lo de todos os ângulos, porque é lindo!

Chama-se Castelo da Águia porque fica numa comuna que se chama mesmo Águia

E continuei até Montreux! Era ali que eu queria ir ver o sol descer!

Junto à cidade de Montreux há uma pequena estrada que sobe o monte, até perto de um rochedo que fica lá no topo, le Rochers-de-Naye!

Encontrei o caminho com uma facilidade espantosa e comecei a subi-lo e a fotografar cada etapa da subida!

O Lac Leman consegue fascinar-me em qualquer ângulo, mas naquele dia deixou-me em êxtase!

Cheguei ao fim do caminho e fiquei ali, a olhar…

O rochedo fica mais acima um bom bocado, mas só se pode aceder a ele depois de uma longa caminhada quase a pique! Não era coisa para mim e, o que via dali para o lago… era suficiente deslumbrante!

Há placas indicativas para os caminhantes informando dos trilhos

Mas eu fiquei ali, quieta, mais a minha Magnifica, a deslumbrar-me apenas…

Ainda olhei para trás na descida, o rochedo esta ali, tão perto!

Mas a beleza que eu procurava estava para baixo, não para cima!

E o sol ainda não se pusera!

Decidi descer e vir cá abaixo vê-lo do nível das aguas, assim não teria de descer às escuras!

Agora entardecia mais rapidamente!

Fui passear para junto do Château de Chillon, o castelo mais emblemático da Suíça e um dos mais conhecidos do mundo.

Foi construído sobre um rochedo no lago por isso este faz de fosso para o castelo!

Construído no séc. XII, mas com antecedentes bem mais antigos que podem ser visitados no seu interior.

Visitei-o há muitos anos, agora o que eu procurava não era vê-lo por dentro (até porque já estava fechado)! Eu queria vê-lo por fora com o lago e o pôr-do-sol…

Deslumbrante!

Então acabei o meu dia numa corrida até Sion onde fiz uma festa com os amigos que fizera na pousada de juventude, a que se juntou um grupo de motociclistas holandeses que iriam descer, no dia seguinte, até Nice, o caminho inverso ao que eu fizera dias antes.

Fizeram todo um espanto por eu andar por ali sozinha com uma moto tão grande! Nem queriam acreditar onde eu iria a seguir!

Fim do nono dia de viagem!

11 – Passeando até à Suiça 2012 – de Thonon-les-Bains até Sion

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6 de Agosto de 2012

E a manhã estava ruim! Havia nesgas de sol para um lado e nuvens monstruosas para o outro. Quando não há tempo melhor temos de sair com o que temos! A distância que tinha de percorrer não era muito grande, bastava não me perder a visitar muita coisa e chegaria facilmente e cedo a Sion… Acabei por seguir ao sabor do tempo!

Por isso lá fui como as moscas atrás da luz, tentando evitar as nuvens mais negras, mas era certo que iria apanhar uma molha, mais aqui ou mais ali!

Eu costumo dizer que me chateia para caramba andar a passear o fato de chuva pela Europa! Se o levo comigo que seja para usar! E a oportunidade de o voltar a usar aproximava-se a cada quilómetro!

Acabei por passar em Megève, uma cidade alpina que apenas conhecia cheia de neve e de gente famosa. Foi ali, há muitos anos que me cruzei com o George Michael, numa noite cheia de neve e luzinhas, em que parecia que estávamos todos no meio de um filme infantil de Natal!

Desta vez foi a chuva que me recebeu e aquilo tudo era tão diferente sem neve!!

Mal reconheci a praça onde eu já passara de skis nos pés!

Chovia tanto que me enfiei num café e fiquei ali, a tomar café (de litro) e a conversar, esperando que a chuva abradasse… mas tive de seguir mesmo assim ou passaria ali o dia!

A paisagem envolvente seria bem mais bonita se não chovesse, tenho a certeza, pois todas aquelas montanhas são deslumbrantes cobertas de neve, no verão serão forradas a verde e igualmente deslumbrantes!

Acabei por passar em Chamonix e entrar no Valais por Matigny! Nada se via do Mont Blanc, era como se ele tivesse tirado férias e nada houvesse no seu lugar! O longo vale só se tornou visível a partir de uma certa altitude para baixo, quando passei a cortina das nuvens densas para descer para Martigny!

Lá ganhei coragem e puxei da máquina fotográfica, que estava bem escondida dentro do blusão, para tirar uma ou duas fotos!

Mas a chuva não queria mesmo foto nenhuma! Agua e máquinas não dão nunca o casamento perfeito!

Ao ver pingos de água na lente desisti, não valia de nada andar por ali a arriscar afogar uma nova maquina, por isso fui direta à pousada de juventude de Sion disposta a ficar quieta e amuada por lá até a chuva parar!

Pus as minhas coisas a escorrer, puxei do computador e dispus-me a viajar pela net, enquanto o tempo não me permitisse viajar de moto!

E a chuva parou!

Voltei a sair, mais leve e mais bem-disposta!

Sion é a cidade mais antiga da Suíça e um dos locais pré-históricos mais importantes da Europa, pois ali há vestígios de ocupação humana que remontam a 6.200 aC!

Para mim bastava-me ver de perto os seus dois castelos! Na realidade é um castelo e uma basílica fortificada que ficam no topo das duas colinas contiguas, quase no centro da cidade!

Mas eis que voltou a chuva!

A pé não há qualquer problema, fui a um supermercado e comprei um guarda-chuva! Sem fotos é que eu não iria ficar!

E lá fui procurar o caminho para os castelos!

É sempre uma sensação curiosa pisar caminhos medievais para mim!

Chegando verdadeiramente ao início das subidas há que decidir se vamos para o château Valère (a basílica), ou para o castelo Tourbillon! Como o castelo me parecia mais uma série de muros e fica atrás da abadia, em relação à cidade, decidi-me pela abadia, o château Valère, que isto de subir a um e depois a outro estava fora de questão! Gosto de ver mas não gosto de subir, que dá-me cabo das pernas e depois custa conduzir!

A meio da subida a chapelle de Tous les Saints, do séc. XIV, linda!

O castelo na outra colina tornava-se numa paisagem muito bonita, com as vinhas pela encosta! Certamente a paisagem vista do castelo não seria tão bonita porque a basílica (deste lado) estava em obras e tinha uma parte envolvida em panos! Por isso eu fiz a boa escolha! 😀

Ao chegar lá acima, em espaço aberto, a paisagem era deslumbrante! Não só porque é linda mas também porque o sol voltava a espreitar por entre as nuvens e provocava o tal efeito que me fascina depois da chuva!

Para trás de mim o castelo e a capela completavam o quadro!

Fiquei ali deslumbrada a deslumbrar-me com o que os meus olhos viam e a minha máquina captava!

Mas ainda não tinha chegado ao topo, a basílica ficava mais acima!

Entrei finalmente nos seus domínios!

A basílica de Valère foi construída entre os séc. XII e XIII como uma igreja fortificada, comuns na época, por isso lhe chamam castelo.

Lá de cima tudo é deslumbrante!

As vinhas, na encosta, com o sol tangente, pareciam resplandecer!

A cidade aos meus pés e o longo vale a seguir!

O aeroporto internacional, mais à frente

A basílica, que não dá para ver de perto pois está embrulhada para obras!

Dentro há uma segunda zona fechada, ouviam-se as pessoas a rezar lá dentro, por isso nem tentei entrar!

Naquele dia o deslumbramento estava cá fora, por isso fui-me embora dali.

O vale é deslumbrante visto de lá de cima, para o outro lado também!

O sol desaparece mais cedo quando estamos entre montes muito altos!

Voltei a descer à cidade que tinha mais 2 ou 3 coisas que eu queria ver…

para além dos caminhos pitorescos típicos de uma cidade medieval!

Como a Cathédrale de Notre-Dame du Clavier, uma construção lindíssima que tem origem lá pelo séc. VIII, numa pequena igreja carolíngia posteriormente alterada no séc. XI, e chega até nós com as proporções e beleza góticas, mantendo o campanário românico.

Logo ao lado fica a Eglise de Saint-Theodule, também gótica, muito menos interessante mas cheia de história, já que é dedicada ao primeiro bispo de Sion, lá pelos anos 500, que abençoa as vinhas do Valais!

Tinha umas esculturas de plástico, ou fibra de qualquer coisa, à porta que davam um ar bizarro ao conjunto!

Em redor das duas igrejas fica o centro histórico e as ruelas mais estreitinhas

Deve ser curioso viver-se sobre um canal! Por aquelas terras é mais ou menos comum, dado que tem de se escoar as águas do degelo!

E fui para a pousada, onde a paisagem era uma casa no meio da vegetação. Se alguém me dissesse que vivia numa casa cor-de-laranja com venezianas roxas eu pensaria que era louco, mas afinal até fica bem o conjunto!

Bebi uma Super Bock, que na Suíça é mais barata que muitas outras cervejas (e melhor), e fiz amigos para conversar e passar parte do serão!

Fim do oitavo dia de viagem..

8 – Passeando até à Suiça 2012 – La Haute route des Alpes – Col de la Bonette

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4 de Agosto de 2012 – continuação

A princípio a estrada é quase banal, escarpa aqui, monte ali e nada mais denuncia o que ela será mais à frente! Eu nunca tinha feito a “ponta” sul por isso tinha de ir atenta, mas a estrada é fácil de encontrar e de seguir, porque está muito bem sinalizada e, mesmo quando a gente não tem a certeza se fez a boa escolha num entroncamento, uma nova placa aparece logo à frente a desfazer as dúvidas!

Então vamo-nos afastando de Nice e vamo-nos aproximando da beleza da natureza em estado puro!

E há momentos de dilema, curtir a estrada ou apreciar os encantos da paisagem? Vou tentando fazer um pouco de tudo, tirando fotos pelo meio!

A estrada é suficiente longa para permitir um pouco de atenção a tudo o que nos vai rodeando mas, por vezes, tive de parar abruptamente porque um recanto da paisagem me prendeu pelo canto do olho!

No seculo XIX viviam nestas casas cerca de 800 soldados que defendiam a zona fronteiriça, é o Camp des Fourches. No inverno apenas um pequeno grupo de homens ficava ali isolado do mundo pela neve e só conseguiam passar de casa em casa por tuneis feitos na neve alta e densa com tabuas de madeira. Chamavam-lhes “les Dilabes Bleus” (os diabos azuis) pela sua coragem e audácia de ali ficarem e caçarem e viverem!

A estrada parece traçada nos recantos mais bonitos da cordilheira!

Há momentos em que olhamos para trás e vemos o caminho percorrido, serpenteando pelo monte acima!

Então chegamos ao cume

A estrada é mítica para ciclistas e às vezes temos a sensação de que eles sentem que ela lhes pertence! Tive de pedir para se afastarem um pouco para fotografar o “menir” que assinala o ponto máximo mas, mesmo assim, tive de gramar com as biclas lá encostadas!

Mas o encanto contínua, numa nova sequencia de curvas e encantos

A estrada continuava a serpentear por ali fora, linda!

E fui surpreendida pelo primeiro acidente da viagem. Vi as pessoas ao longe e não percebi o que se passava, até passar perto… uma moto de pernas para o ar e um casal meio em mau estado na berma… Eu não teria tirado a foto se soubesse o que se passava, mas não apanhei os feridos, o que foi menos mal…

Mais à frente fica o Forte de Tournoux encrustado no monte. É conhecido por lembrar os templos do Tibete mas, na realidade, é uma construção do fim do sec XVIII e tinha como finalidade proteger a França contra os Italianos.

Tem visitas guiadas e deve ser interessante visita-lo, mas subir todo o monte por escadas estava fora de questão!

E lá andavam os ciclistas por tão belas paisagens a pedalar

A estrada torna-se perigosa quando deixa de ser “cadenciada” por curvas e os condutores se entusiasmam com as retas, sem pensarem que, depois de uma reta há sempre uma curva!

Depois há momentos em que ela parece uma linha num bolso, de tanta volta que dá sobre si própria!

E quanto mais voltas dá mais bonita é a paisagem!

E cheguei a Briançon, onde passaria a noite.

Briançon pertence ao Departamento dos Altos-Alpes e é a cidade mais alta de frança e a segunda mais alta da Europa, depois de Davos na Suíça.

Porque fica ali tão perto da Itália é uma cidade bastante fortificada, com uma cidadela cheia de interesse e edifícios classificados pela Unesco.

Fui para o hotelzinho, onde rapidamente a minha motita arranjou uma filinha de amigas!

Comi uma pizza divinal e brinquei um pouco com a minha máquina, que as nuvens acima da montanha estavam inspiradoras!

Fim do sexto dia de viagem!

6 – Passeando até à Suiça – de Montpellier até Nice… cheia de receios!

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3 de Agosto de 2012

O hotelzinho onde fiquei era muito simpático e o patrão estava mesmo preocupado se eu tinha quem me ajudasse com a moto, senão ele mesmo encontraria um stand da Honda para me levar lá!

Mas não foi preciso, o meu amigo Charles Formosa lá estava à hora marcada, mais a sua Pan, para me acompanhar ao senhor doutor!

Ao princípio a minha motita engasgou um pouco, mas depois parecia que nada se tinha passado no dia anterior! E eu acompanhei o Charles sem qualquer dificuldade!

De repente parecia que iria ver as entranhas à minha moto todos os dias!

E tudo para ouvir a mesma coisa! A moto não tinha nada! Tudo funcionava como um relógio, nem dava para perceber que era uma moto com tantos quilómetros!

Mas a minha preocupação mantinha-se! Que adiantava que ela não tivesse nada na frente de toda a gente se, mal se visse sozinha comigo, começasse a falhar de novo?

Não sabia o que fazer, se seguir para a frente, e continuar a viagem, se voltar para trás e acabar com as inseguranças! E diz-me o “manda-chuva” do stand: “Vá para a frente sem medo! Afinal vai andar em países civilizados, a qualquer momento se a moto falhar, chama a assistência em viagem e vai para casa, não sem antes ter feito pelo menos parte da viagem!”

O Charles era da mesma opinião, aliás ele reforçava a sua ideia de que a Magnífica chegaria ao fim da viagem sim senhor! E eu lá fui…

Já não é a primeira vez que eu tenho planos para explorar a zona da Provença e algo me impede de faze-lo! Começo a pensar que tenho de lá ir direta com a única finalidade de a catar de ponta a ponta ou acho que nunca a conseguirei ver como quero!

Ainda dei umas voltas pela zona industrial de Montpellier e pela entrada da cidade a ver se algo acontecia enquanto estava perto da oficina…

Nada aconteceu, era como se ontem nada tivesse acontecido!

Então apanhei a via-rápida e fui por ali fora cheia de cautelas, como evitar permanecer na faixa de ultrapassagem, pois a moto podia engasgar de vez e deixar-me no meio da rua!

Mas nada disso aconteceu…

Eu não gosto de viajar por autoestradas nem vias-rápidas, por isso acabei por sair em Aix-en-Provence…

A moto estava normal mas eu não me aventurei muito pelo centro! Apenas passei e segui o meu caminho junto ao Mont de Saint Victoire, o monte que Sezanne tanto pintou quando ali viveu!

Não tinha vontade de parar, nem de ver nada, apenas chegar a Nice e ter a certeza que a moto estava bem e que não me abandonaria! A Provença? Não faltarão oportunidades para eu a catar de ponta a ponta!

Cheguei a Nice e enfiei-me na pousada de juventude, que por acaso era bem divertida e com uma paisagem bem bonita!

Fiquei ali a conversar com uns e com outros, pois toda a gente ficava, primeiro surpreendida por eu estar ali de moto, depois por a moto estar partida! Ofereceram-me cerveja, e tive um serão de horas de paleio!

E foi o fim do 5º dia de viagem, com direito a comida japonesa e muita conversa!