20. Passeando pela Grécia/Balcãs – de Ljubljana até Zone

7 de setembro de 2022

Há momentos numa viagem que são difíceis de gerir.

Por um lado, tenho de seguir para casa, por outro lado quero ficar…

Há tanta coisa que eu quero ver e não posso, que tudo o resto parece secundário, como a dor no meu pulso, o trabalho que me espera, ou as saudades de casa. É nestes momentos que sinto que não devo ser normal, quando todo o tempo do mundo me parece pouco para realizar tudo o que quero…

Um dia, numa viagem qualquer, eu comentei que as coisas já sabiam a saudade e alguém respondeu que era compreensível que eu estivesse com saudades de casa… mas o que já me sabia a saudade era a própria viagem, porque se aproximava do fim.

Hoje eu estava nesse espirito…

Olhando pela janela do corredor podia ver lá em baixo a minha moto e isso perturbava-me tanto…

No dia anterior, para guardar a moto no pátio, eu percorrera um carreiro estreito em lajes de pedra, que alargava apenas um pouco no extremo, onde eu a parara, tudo o resto era gravilha!

Mas não havia espaço para dar a volta sem pisar a gravilha e eu não tinha habilidade para manobrar avançando e recuando até dar a volta, pois a minha mão esquerda não seria capaz de segurar o guiador.

Manobrar a moto à mão, então, estava completamente fora de questão, pois se eu nem conseguia pegar direito no capacete e tinha de o enfiar na cabeça essencialmente com a mão direita!

Então andava pelo hostel apreciando todos os recantos, enquanto mantinha o meu pulso esquerdo no gelo e ginasticava a mão, a ver se ela acordava e recuperava um pouco de força e mobilidade.

Por isso custou-me sair dali e fui aproveitando o espaço até me sentir suficientemente corajosa para partir.

Aquele dia não seria cheio de descoberta, seria mais como percorrer um caminho, por isso havia tempo para apreciar de perto a tão famosa transformação da prisão em hostel, com uma decoração muito zen

O recanto de apoio à cozinha dos hospedes era tão original quando bonito. Na realidade, em vez da mesa e os bancos sobressaírem, estava escavados no chão.

Não sei se foi um aproveitamento de uma configuração já existente ou se foi um trabalho de design original, mas que resultou muito interessante, resultou!

Finalmente a minha mão fechou, eu enchi-me de coragem e arrisquei tirar a moto para a rua.

Eu, que sempre tive os pulsos tão frágeis e tão pouca força nas mãos, percebia agora o quanto a habilidade e experiência são, por vezes, mais importantes que a força!

Dei a volta por cima da gravilha, usando a força da mão direita, enquanto a esquerda apenas seguia pousada no guiador.

Tive de o fazer em piloto automático, sem pensar muito, para não deixar os receios tomarem conta de mim, e foi limpinho!

E segui para Kamnik, uma encantadora cidade situada no vale do Rio Kamniška Bistrica, aos pés dos Alpes eslovenos. Dizem que é uma das mais bonitas cidades medievais da Eslovénia.

Sempre sorrio com as placas de “zona” daquele país!

mania de escrever zona com um “c”!

Šutna é a rua principal que atravessa a zona mais pitoresca da cidade. Está repleta de casas fofinhas coloridas e lojas pitorescas.

A Igreja Paroquial da Imaculada Conceição de Maria é o principal templo da cidade, de arquitetura de influência barroca, com linhas elegantes e fachada imponente.

Sempre acho piada como as igrejas parecem rebeldes, ao não estarem posicionadas no alinhamento das casas! Na realidade o seu alinhamento não obedece ao das casas e sim ao do sol, tendo sempre o altar virado a nascente e o portal a poente, para que os fieis caminhem da escuridão para a luz.

Porém isso faz com que seja difícil, por vezes, fotografar uma igreja de manhã, pois corre-se o risco de a apanhar em contraluz!

Era um pouco estranho para mim encontrar ruas completamente vazias. Não gosto de ruas cheias de turistas, mas ruas sem ninguém é um pouco desolador também!

Provavelmente noutras cidades haveria muita gente ainda, mas ali não é um sitio muito turístico, por isso não se via vivalma!

A Glavni trg é a praça principal da cidade. Encantadora sem ser demasiado decorada, como praças de noutras cidades, que são claramente desenhadas para turista ver. A simplicidade elegante da decoração apenas realça a verdadeira essência do local, tornando-o ainda mais especial para quem o visita.

Há ali um charme e autenticidade, combinando perfeitamente a atmosfera acolhedora da praça com a serenidade da cidade.

E ao fundo fica o lindissimo café Kavarna Kalipso!

Aquela fachada chamou-me a atenção desde a primeira vez que pesquisei sobre Kamnik. Ok, não fui lá por causa do café, mas estando lá, tinha de o encontrar e desenhar!

A casa chama-se Maistrova e tinha acabado de ser restaurada pouco antes de eu chegar. Eu pensei até que ainda a iria encontrar em obras, mas ela tinha-se vestido a tempo para mim!

Na realidade meses antes, tinha sido concluído o restauro da fachada da casa, como parte do projeto de reestruturação da praça principal da cidade.

Antes do restauro, a fachada era bege acinzentado, com elementos decorativos laranjados. Após a renovação, as novas cores da fachada geraram confusão por parecerem completamente novas e inadequadas. Mas, na realidade, as cores foram escolhidas conforme o original, antes do desgaste do tempo e a ação do sol.

Para mim ficou perfeita!

Ao lado fica o Caferacer Bar, onde eu tomei um café, um bom sitio para apreciar a fachada do Kavarna Kalipso!

Não havia motos nem motards à vista, apenas eu!

No topo da colina do Calvário, que pertence ao Mali grad, fica a Capela de Santo Eligius, ou Kapela Svetega Eligija.

Mali grad quer dizer, literalmente, castelo pequeno.

O portão para a capela estava aberto, mas tudo o resto estava fechado. Acho que é a desvantagem de se passear fora de época, ele só abriria muito mais tarde.

A capelinha empoleirada lá na ponta da colina, estava fechada também.

Felizmente as paisagens estão sempre abertas e dali podia verboa parte da cidade.

Fiquei surpreendida com a fidelidade da foto e de todas as explicações. Às vezes estes painéis são tão diferentes do que a gente vê na nossa frente, que se demora um pedaço até se descobrir onde está cada coisa!

Dali podia ver-se como as montanhas estavam perto.

A moto estava no outro extremo da rua Šutna. Estava na hora de pegar nela e seguir caminho.

Antes de sair do país tinha de encher o deposito, que a gasolina em Itália é sempre um roubo! Na realidade, comprovaria mais tarde que ela estava “só” mais cara 40 cêntimos por litro em Itália!

A Eslovénia continua a fascinar-me, podia sentir isso à medida que me aproximava da saída. Ainda há muitos mistérios, lendas e belezas naquele país a chamarem a minha atenção. Um dia terei de voltar!

Um dia terei de voltar!

Onde há monte há motociclistas e os avisos para que tenham cuidado começam a aparecer.

Ali diz: Secção de estrada perigosa.

E, ao dar uma olhada ao meu Ambrósio, podia perceber que tinha montanha gira para fazer. Os Alpes Julianos estavam tão perto e, infelizmente, eu não os iria atravessar, mas pude pelo menos ter um vislumbre!

Ora vamos lá Itália!

É sempre tão pouco interessante atravessar aquela zona de Itália, até chegar aos Alpes, mas eu não estava com disposição para andar a dar voltas em busca da montanha. Tinham previsto chuva para a zona onde eu pernoitaria e eu queria chegar lá antes dela, pois aquilo é bonito e montanhoso e não teria qualquer graça subir em meio à tempestade!

Enquanto as estradas eram vazias e distantes, a coisa teve piada, mas depois começam a aparecer as cidades e as estradas pilhadas de carros. Eu tinha consciência de que estava a passar perto de cidades muito movimentadas, como Pádua e Verona…

Estava tão perto de Veneza! Ui, aos anos que eu não passo lá!

É aquela sensação de estar perto de tanta coisa que quero ver ou rever e não posso. Uma pena!

O pior que me podia acontecer ainda, era ter de conduzir no meio do transito, e eu fazia tudo por evitar usar a embraiagem. Na realidade, naquela viagem, eu vinha usando e abusando da 4ª mudança, aquela que me permitia fazer mais coisas sem ter de mudar. Subi, desci, curvei e acelerei por dias a fio usando basicamente a 4ª.

Agora ia no meio de trânsito lento por quilómetros, rezando para que me deixassem usar pelo menos a 5ª, sem ter de baixar!

E finalmente cheguei à estrada de Zone.

Eu já lá tinha estado uns anos antes, com uma CrossTourer, quando regressava da Islândia, por isso sabia que a estrada era fixe, com curvas e subidas excelentes para a minha 4ª mudança.

É, parece que qualquer terra pode ficar no caminho da Islândia. Neste caso no regresso da Islândia, quando eu decidi que seria uma boa ideia passar pelos Alpes Italianos, pelas Dolomitas e pelo lago de Garda!

Zone fica na montanha, nos Pré-Alpes de Bréscia, conhecidos em italiano como Prealpi Bresciane, com vista para o Lago d’Iseo.

E fiquei no mesmo albergue da ultima vez. Eu lembrava-me bem, mas não contava que se lembrassem de mim!

“Ainda da série, quanto tempo as pessoas se recordarão de nós após a nossa passagem, aqui fui recebida com um alegre ” questa è la tua seconda volta qui!” e um enorme sorriso a acompanhar a exclamação! Eu já não me lembrava bem quando cá estive, mas a senhora lembrou-me que a minha moto era preta. Puxa, sabe bem que se recordem de mim depois de tanto tempo e tanta gente que aqui passou…” in Facebook

Depois lembrei-me que a moto não era totalmente preta, tinha o deposito vermelho. A senhora lembrava-se que era uma moto alta e que eu apanhara muita chuva. Eu sei, e hoje quase a apanhava outra vez!

Lembrava-me da paisagem da janela do meu quarto, que era o mesmo.

Será que o hostel só tinha um quarto?

Eu tinha percebido da ultima vez que muita gente se alojava ali para praticar desportos de montanha, subir os trilhos e relaxar. Já da outra vez eu era a que estava de passagem, que vinha de mais longe e que ia para mais longe também!

Desta vez a história repetia-se!

Aquelas paisagens deslumbravam-me! Não me admirava que houvesse quem fosse para ali só por causa delas!

É sempre curioso como uma terra estranha se torna, depois de uma viagem, terra conhecida! E era isso que eu sentia, que passeava por terra conhecida, tentando descobrir algum recanto novo.

A igrejinha é muito fofa, da ultima vez estava fechada, mas desta vez consegui vê-la por dentro. Pareceu-me que era consagrada a S. Pedro, a considerar pelo santo que está no altar, vestido de escuro e com barbas e cabelo branco!

Irónico se o santo padroeiro for o S. Pedro, pois parece que por ali chove que se farta! O santo não tem consideração pelos seus fieis?

Eu e o meu braço, todo folclórico, com as fitas de drenagem neuromuscular azuis para dar um pouco de cor ao conjunto.

Regressei à base, antes que o temporal se instalasse. No hostel tinham avisado que vinha aí muito mau tempo, a confirmar as previsões que eu vira no meu telemóvel.

A comida estava deliciosa!

Aquela carne estava um luxo, acho que apenas como carne com aquela qualidade e grelhada exatamente no ponto, lá ou cá! Como se em mais país nenhum conseguissem entender como ela se prepara!

Então um fulano entrou no restaurante e pôs-se a falar com outro que estava numa mesa perto da minha. Percebi, pela conversa, que o homem que tinha entrado era português, por isso falei…

Eu, que fico sempre no meu canto, que nunca revelo quem sou nem de onde sou a outros portugueses, disse que era portuguesa. Ele veio sentar-se na minha mesa, o que já me deixou meio desconfortável, mas lá nos pusemos à conversa e tudo correu bem, até eu falar do meu moçoilo…

O homem ficou em choque, então eu tinha marido e andava por ali sozinha?

– Não está certo, não está correto, não pode ser! – dizia abanando a cabeça negativamente.

– Mas então porquê? Eu não ando a fazer nada de errado!

– Mas um casal tem um compromisso, têm de andar os dois! – defendia ele

– Como isso? O meu homem não gosta de viajar e viajar é um dos grandes objetivos da minha vida, não dá para andarmos juntos!

– Não importa, têm de arranjar um entendimento porque vocês têm um compromisso!

Eu olhava-o incrédula!

– Temos o compromisso de nos fazermos infelizes um ao outro? E se eu fosse um homem, para si já estaria tudo bem, certo?

– Bem, não, sim, talvez…

Peguei nas minhas coisas e fui embora, prometendo a mim mesma manter a boca calada, como sempre faço quando percebo portugueses por perto…

Então a tempestade começou, para complementar o meu aborrecimento pela conversa que eu não pedi, mas tive de aturar.

A cada trovão que explodia o céu se iluminava mostrando o perfil dos montes em redor, num espetáculo que me fascinou e me fez esquecer o estupido lá de baixo.

As noites de tempestade sempre me fascinaram, mesmo quando as apanho na estrada. Mas ali, protegida, com uma janela privilegiada para ver o espetáculo, foi o máximo!

Além dos flashes que iluminavam tudo, a chuva tornou-se violenta, curiosamente sem qualquer vestígio de vento!

E lá fui dormir quando o espetáculo terminou, esperando que o São Pedro tivesse gasto a água toda e não houvesse mais para amanhã!

17. Passeando pela Grécia/Balcãs – a bela Dervish House…

4 de setembro de 2022

Viajar com dor era tão desafiador e incapacitante que era admirável, até para mim, como eu conseguia encontrar formas de lidar com a situação. Felizmente eu consigo dormir com dor, fazendo uso da minha capacidade de superação e adaptabilidade, senão teriam sido dias de sofrimento e noites de insónia!

Lembro-me de sonhar que me estavam a esmagar o braço de formas sempre aterrorizantes, a cada noite com instrumentos diferentes, como em filmes de terror sucessivos!

A vantagem é que, ao acordar tudo parecia muito melhor, menos assustador e menos doloroso do que nos sonhos, e eu via-me cheia de alegria porque apesar de tudo o sofrimento real era menor e menos assustador que o sonhado!

Uma boa forma de encarar cada novo dia!

De manhã não estava calor nenhum.

Felizmente a minha casinha era quentinha e confortável, mas a gente abre a porta do quarto e está no quintal e isso é estranho! É quase como dormir numa tenda, só que com mais conforto e sem ter trabalho a montar a casa ou de gatinhar para a cama!

O parque de campismo está situado num sitio deslumbrante, na borda do Canyon Tara e está preparado para receber gente que quer aproveitar o rio Tara e toda uma série de desportos radicais aquáticos.

Na realidade o Camp Kljajevića Luka disponibiliza uma série de atividades aquáticas de aventura, como fazer rafting ou navegar de caiaque pelos rápidos do rio Tara.

Qualquer atividade radical estava fora do meu alcance, mesmo que eu tenha pensado inicialmente na hipótese de experimentar alguma.

Mas a reformulação dos planos inicias da viagem fez com que eu apenas pudesse ficar ali por uma noite pois, além de não ter tanto tempo como desejaria, eu já sabia que não iria ter condições físicas para me aventurar…

Uma pena… pode ser que eu volte a passar por lá um dia.

No momento só me podia permitir passear em redor e apreciar os encantos do lugar.

Para mim a grande vantagem do parque, que eu podia aproveitar à vontade, era o simpático restaurante. No dia anterior fiquei lá até às tantas a comer e a beber e hoje iria lá tomar um belo pequeno almoço.

Depois de toda a chuva que eu apanhara, durante todo o dia de ontem o meu telemóvel não se deixava carregar, soltando um apito forte cada vez que o tentava ligar a uma tomada ou à power-banc. Nunca me tinha acontecido tal, até porque dizem que ele é à prova de água! Mas ele continuava a dizer que tinha humidade no sistema, pedia para o secassem com um secador (eu nem sabia que ele sabia escrever a pedir tal coisa!) e gritava!

Por isso passei o dia todo usando a bateria restante até ao limite. Cheguei ao parque muito preocupada pois, se não conseguisse carrega-lo, não teria bateria para continuar a fotografar hoje!

Por entre gestos e sinais pedi à menina do restaurante que me arranjasse algo para o secar, ela não falava inglês e não entendia por muito que me explicasse. Então liguei-o à corrente e, assim que ouviu o apito desesperado do telemóvel, ela pareceu entender, embora não conseguisse ler a mensagem que ele mostrava no visor. Voltou-me as costas e foi para a cozinha… Fiquei à espera a ver o que ela iria trazer-me, na cozinha seguramente não havia um secador de cabelo!

Então ela apareceu com um prato fundo cheio de arroz e enfiou o meu telemóvel lá dentro! Extraordinário, há coisas que são mesmo universais, heim?

Não demorou nem uma hora e ele deixou-se ligar à corrente em silêncio!

Então foi como se se tivesse criado uma conexão entre a miúda e eu e a partir dali foi um serão fantástico, com jantar caprichado e oferta de licores da região e tudo!

E pronto, já que não podia fazer atividades físicas exigentes, podia, pelo menos, encher-me de comida em paz!

E por falar em encher-me de comida, era mesmo isso que eu estava a precisar pois já parecera que perdera alguns quilos…

Oh, e que bem sabia o gelo no meu pulso!

Era como se ele estivesse sempre febril e o gelo o acalmasse. Pessoas olhavam como curiosidade para o meuconjunto azul, não havia forma de esconder o que estava a fazer, por isso pousei tudo em cima da mesa.

“Bom dia mundo! Não gosto que me vejam comer ao pequeno almoço, a minha mão está tão presa que nem consigo pegar direito no garfo! As pessoas ficam atónitas, como vou seguir conduzindo a minha moto com uma mão que não funciona direito? Sem problema, ao longo da manhã ela vai acordando para a vida, até ficar quase como nova” in Facebook

De repente ouviram-se berros lá dentro, um homem ralhava com alguém, depois varias vozes ralharam também! Não podia entender o que diziam, mas era claro que estavam a enxotar um miúdo, pensei eu.

Mas quem saiu não foi um miúdo humano, foi um bichinho! A principio pensei que era um cão, mas ao olhar melhor deu para perceber que não! O pobre pequeno, meio desamparado, veio encostar-se a mim. Mas quem correu com ele veio tira-lo de mim.

Só então puder ver melhor que carinha tinha.  Seria da família das cabras? Dos cervos? Veados? O que és tu fofinho?

O bichinho estava tão desamparado que apeteceu-me pegar-lhe ao colo!

Vendo-me olhar para ele com pena os homens explicaram que ele era um chato, que fuçava em todos os cantos, se metia debaixo das pernas das pessoas e, se não o impedissem, ia tentar meter-se dentro dos armários ou da despensa!

Tirei-lhe uma foto para pesquisar no Google Lens e descobri que era um Rupicapra bebé, também conhecido como camurça.

Dizem que são animais adoráveis, de pelagem macia, muito ágeis nas montanhas e com uma natureza brincalhona. Podem ser encontrados nas altas montanhas, desde os Pirinéus e Alpes até aos Balcãs.

Foi preciso ir tão longe para eu o ver, já que eles não se deixam observar facilmente de perto na vida selvagem. E ali estava um, que tinha de ser enxotado para não se meter no meio das pernas das pessoas, nem entrar pelas casas dentro!

Tão fofinho!

E pronto, estava na hora de me pôr a andar.

As paisagens em redor do parque de campismo mereciam algumas pausas, fotos e desenhos, o tempo necessário para ginasticar a minha mão até ela recuperar um pouco mais de mobilidade, para eu poder aproveitar depois as estradas cheias de curvas que viriam a seguir.

Junto à ponte, no início da rua do parque, há uma placa muito simpática!

E, do meio da ponte, pode-se ver o parque ao longe, numa clareira na borda do precipício do Canyon. Àquela distancia parece tão pequeno que o assinalei com uma setinha vermelha.  😀

Que sitio privilegiado para se montar um parque de campismo! Seguramente que um dia irei voltar a hospedar-me ali!

A ponte é como uma varanda sobre o paraíso!

A Ponte Đurđevića Tara é um marco importante na história do país e da ex-Jugoslávia e esse foi um dos motivos que me fez reservar dormida junto a ela.

Foi erguida entre 1937 e 1940, em tempos do Reino da Iugoslávia e supervisionada por Belgrado. Atravessa Canyon Tara e fica 172 metros acima do rio. Quando foi concluída tornou-se a maior ponte rodoviária em cimento da Europa.

Estava-se em plena II Guerra Mundial e, com a invasão liderada pelos alemães em 1941, grande parte de Montenegro, incluindo o Canyon Tara, foi ocupada pelos italianos. O terreno montanhoso da zona favoreceu a guerra de guerrilha e, durante uma ofensiva italiana, os jugoslavos destruíram de forma cirúrgica um dos arcos próximos à margem, com o auxílio do engenheiro da ponte, Lazar Jaukovic, inutilizando a única passagem sobre o Canyon para impedir o avanço italiano. No entanto os italianos acabaram por tomar conta de tudo e, quando capturaram o engenheiro, executaram-no em cima da ponte…

Provavelmente um dia alguém contará esta história com um “Reza a lenda…” pois a verdade é que a história está ligada à ponte, como as lendas estão ligadas a castelos, mosteiros e aldeias…

A ponte acabou por ser reconstruída em 1946.

Mas como eu não sou arquiteta nem engenheira, para além da ponte, foi a paisagem me trouxe aqui!

O rio Tara e as montanhas em redor são tão extraordinários, que todo o tempo que passei a contemplar e a espreitar, foi pouco. Quando inicialmente decidi pernoitar junto ao Canyon, eu tinha em mente ir lá abaixo de moto, por um caminho que leva a uma igreja, e de lá poderia apreciar a ponte ao longe e tal…

Mas na hora de descer não tive coragem… ainda desci um pouco, mas o caminho era longo, íngreme e em terra batida…

A minha mão, meio inutilizada, e o trauma da queda que quebrara meu pulso, não me permitiram arriscar… 

Quanto tempo iria demorar até o trauma passar?

Eu sou de choramingar pelo perdi e sim de aproveitar ao máximo o que tenho, por isso segui curtindo tudo o que podia, porque as estradas eram inspiradoras e cheias de curvas.

Montenegro é um país deslumbrante com estradas cénicas, montanhas imponentes e vales verdes, sempre com rios cristalinos a passar-lhes pelo meio. São paisagens que me enchem as medidas e facilmente prendem por completo a minha atenção. Desde a primeira vez que explorei este pequeno recanto dos Balcãs que me encantei e sempre que volto me encanto de novo!

As paisagens deslumbrantes, a rica cultura e a hospitalidade calorosa dos montenegrinos tornam cada visita uma experiência única e memorável. É como se, a cada regresso, eu reencontrasse um pouco de mim que deixei para trás quando cá passei de outras vezes!

Então passei por um grupo de motociclistas que me cumprimentaram vivamente, mas, mais à frente, quando parei para tomar um café e eles chegaram, não reagiram! Pousaram as motos e ficaram no seu canto. Muitas vezes me acontece isso e não sei porquê! Como se não se sentissem mais confortáveis em falar-me como quando me cumprimentam de moto para moto! Será que se sentem incomodados junto de mim? Será que intimido outros motards?

Aproveitei o café e continuei desfrutando a minha pausa, com aqueles homens a olhar para mim de longe!

Não faz mal, se ninguém me liga eu também não ligo a minguem e pronto!

Havia tanta paisagem fantástica para ver que isso nem era um problema, muito menos algo importante que me preocupasse. Até porque quando a beleza é realmente grande, o silêncio é a melhor companhia!

E lá estava o Slano jezero, lindo!

Nos arredores de Nikšić, há três lagos artificiais, incluindo o Lago Slano (Slano jezero), criado para suprir as necessidades da central hidroelétrica de Perućica. Nem parece uma estrutura artificial, com uma barragem em uma das extremidades! O lago é encantador, com uma beleza selvagem e natureza intocada ao redor. As águas são azuis cintilantes com varias ilhas e ilhotas pelo meio e margens verdes, que tornam o panorama quase irreal!

Há um miradouro, com um bar bem rustico, de onde se pode ver todo aquele panorama deslumbrante!

Claro que voltei a parar, mas não me atrevi a tomar mais um café, pois embora ele não pareça nada de especial, seguramente a cafeína me iria fazer querer correr mais do que a moto!

“Passei mais uma fronteira e foi uma experiência inédita! O polícia que conferiu meus documentos fez-me uma festa por ser uma Lady sozinha e, quando segui caminho, um motociclista croata colou-se a mim! Eu acelerei e ele também, eu reduzi e ele também. Até que parei para ver um mosteiro, ele parou também! Disse-me que era muito fixe viajar comigo, queria continuar. Nem penses homem, eu vim sozinha e quero continuar sozinha. Estava complicado descarta-lo! Então meti-me pelos quelhos da cidade e deixei-o para trás. Nunca me tinha acontecido algo assim! 😮” in Facebook

A seguir à fronteira estava a atravessar as montanhas de Klobuk, na Bósnia e Herzegovina.

Eu sabia que havia ali para baixo as ruinas de uma fortaleza medieval, mas não podia querer ver tudo.

Essa é uma experiência que levo comigo em cada viagem, nunca tentar ver tudo para não perder o prazer de viajar, por entre a ansiedade de correr de lado para lado.

Então limito-me a fazer o que é possível sem lamentar o que não é!

Sem sair da minha estrada, o que se via era bonito o suficiente para eu seguir feliz o meu caminho, sem sacrificar demais a minha mão marota!

E cheguei a Trebinje.

Eu já tinha passado perto, vinda de Dubrovnik a caminho de Sarajevo, mas não cheguei a explorar a cidade, apenas olhei de longe e pensei que um dia lá passaria.

E esse dia era hoje!

Trebinje é a cidade mais ao sul da Bósnia e Herzegovina, muito perto do mar Adriático e de Dubrovnik.

Na realidade, a Bósnia, apesar de ter uma extensa área próxima ao mar, possui apenas um pequeno trecho de costa. Assim, é sempre interessante seguir ao longo da costa croata, atravessar uma fronteira, percorrer apenas 21 quilômetros na Bósnia e depois cruzar outra fronteira para retornar à Croácia!

Trebinje é atravessada pelo rio Trebišnjica, que já se chamou Arion.

O rio é um fenómeno único, com muitos trajetos à superfície e subterrâneos. Corre para o Mar Adriático pelo subsolo e reaparece muitas vezes à superfície. Com uma extensão de quase 190 km, metade dele corre por baixo de terra o que o torna o rio mais longo do mundo a fazer esta habilidade.

E é em Trebinje que ele é mais bonito e corre à superfície dando umas voltas e curvas.

Resumindo, eu estava junto a uma verdadeira celebridade!

Fiz um picnic, ali ao lado, junto ao monumento a Luka Vukalovic, o herói nacional que defendeu a Herzegovina liderando os rebeldes que lutavam contra a opressão e infligiu pesadas derrotas aos otomanos em várias batalhas.

Ao andar por aqueles países tem-se mais noção de quanto lutaram todos contra o grande império Otomano!

Depois subi a colina Crkvina e as perspetivas sobre a cidade eram cada vez mais esplendidas!

No topo fica o complexo templo Hercegovačka Gračanica, dedicado à “Anunciação e Bem-Aventurada Virgem Maria”, o destino religioso mais visitado da Herzegovina Oriental.

Foi construído em 2000 para homenagear o desejo do famoso poeta Sérvio Jovan Dučić, que deixou declarado no seu testamento que queria ser enterrado nas colinas que rodeiam Trebinje.

Curioso como a história da zona se mistura com a da Sérvia e de Montenegro, afinal aquilo tudo era parte do Império Otomano, ou Turco, que durou uma infinidade de tempo, mais de 6 séculos, e só por isso a história daqueles povos mistura-se quando eram um povo só!

E eu que reparo sempre nos números não pude deixar de achar curiosa a semelhança dos anos de inicio e de fim do Império:  começou e, 1299 e terminou em 1922!!!

No complexo, além da igreja, existe a torre sineira, o palácio do bispo, um anfiteatro, uma loja de souvenirs e o restaurante com esplanada que se espalha pela enconsta abaixo em degarus.

E as vistas sobre a cidade são incríveis com a Ponte Otomanda de Arslanagić sobre o rio Trebišnjica, lá em baixo.

A ponte que foi movida, pedra por pedra nos anos 60, por vários quilómetros por causa da construção de uma barragem.

É fascinante ver de perto um pedaço de história de uma cidade e de uma região!

As coisas que a minha motita testemunhou!

Logo a seguir fica o Manastir Tvrdoš, dedicado à Dormição do Santíssimo Theotokos, um local de grande importância histórica e religiosa.

Foi fundado no século IV pelo imperador romano São Constantino e sua mãe Santa Helena. Tem por isso raízes muito antigas que remontam à época do Império Romano, com vestígios que podem ser vistos pelos fundamentos da antiga igreja romana, através do vidro que cobre parte do chão da igreja.

“Estava calor, eu tinha o blusão vestido e ainda tive de pôr uma saia para entrar na propriedade! Tive eu e todos os que quiseram visitar, até os homens que estavam de calções puseram a saia para tapar as pernas. Foi giro de ver! Mas o mosteiro valeu a pena, era lindo!” in facebook

Lá andávamos todos de saia azul, mulheres e homens!

As mulheres tinham de usar a saia mesmo estando de calças compridas como eu, os homens tinham de por a saia se estivessem de calções.

Eles não podem entrar mostrando as pernas, elas não podem sequer estar de calças. É sempre assim nos mosteiros ortodoxos, aconteceu-me o mesmo há anos para visitar s mosteiros de Meteora, na Grécia.

O mosteiro é composto, não apenas de espaços religiosos, mas também por diversos espaços de habitação de arquitetura muito curiosa.

O que aqueles mosteiros têm de fascinante é a beleza dos seus espaços, que me dão a sensação de que viver ali nunca seria monótono!

A igreja cinzenta da parte de fora, é um mundo de cor e historias no interior. Totalmente preenchida por afrescos, alguns ainda fragmentos de do sec. XVI

A riqueza do interior é hipnotizante, que se olha como para um livro de historias.  

As paredes adornadas com afrescos detalhados contam histórias de fé e tradição, enquanto as preciosas relíquias abrigadas falam muito sobre o passado histórico da igreja.

A relíquia mais importante do local é a mão de Santa Helena.

Para mim é sempre uma coisa estranha isto das relíquias! Parece-me tão inapropriado que alguém tenha mutilado o corpo da santa para lhe tirar um pedaço…

Varias capelinhas se sucedem numa subida ingreme, inspirando paz e reflexão necessária num local de paz e oração como um mosteiro. Um ambiente que contrasta com muitos dos mosteiros católicos mais austeros e monocromáticos!

E cada capelinha que se revela durante a subida é diferente e cheia de cor e história como se vivesse por si só!

Mesmo as mais pequenas têm o seu interior impressionantemente trabalhado como se fosse a mais importante do local!

Cada uma é um lugar onde o tempo parece suspenso, permitindo que os visitantes mergulhem em uma atmosfera de serenidade e contemplação.

O mosteiro foi destruído e reconstruído por diversas vezes ao longo da sua história e boa parte da construção atual é do séc. XVI.

E no topo da subida, feita de degraus e capelinhas, fica o cemitério todo torto, cheio de desníveis, mas muito bonito!

Sim, é sabido que eu aprecio visitar cemitérios!

Além dos monges terem um espaço variado e nada monótono para passarem os seus dias de oração e reclusão, também têm terrenos para tratar e cultivar. E cuidam da sua vinha e produzem mesmo o seu próprio vinho! E ao que me pareceu, um vinho muito apreciado!

Parece que lá, como cá, se produzem nos mosteiros coisas interessantes para beber e comer!

Ao sair do mosteiro, seguida de outros visitantes, cruzei com um par de noivos seguido do fotografo. Devem ter escolhido o mosteiro para fazer algumas fotos e foi bem escolhido, com os seus recantos bonitos e nós, os visitantes, todos de longas saias azuis, faríamos uma boa pandilha de damas de honra!

Não? Não querem? Uma pena, eu não me recusaria a participar das fotos se me levassem para a boda também!

Segui em passo de passeio por paisagens encantadoras.

Eu queria ir a Blagaj há muito tempo e ia aproveitar que ainda era cedo para tentar lá chegar. Digo “tentar” porque, se os caminhos fossem uma bosta e não me sentisse confortável a conduzir por eles, seguramente desistiria.

Eu sei! Eu, que nunca me recusei a ir a algum sitio, nem que tivesse de meter a minhas rodas por cascalho, gravilha ou lama, que subi penhascos e desci barrancos, com motas inapropriadas de mais de 300kg, agora seguia já pensando em desistir se as ruas fossem apenas manhosas…

Mas é assim, faz-se o que se pode com o que se tem, sem remorsos…

Para chegar a Blagaj passei por caminhos que mais pareciam propriedades privadas, atravessei campos e localidades que nem chegavam a ser aldeias. Então lá estava o rio Buna, que é a origem do rio Neretva que atravessa a cidade de Mostar, não muito longe dali.

Não havia indicações do que eu procurava, por isso fui seguindo por ruas pavimentadas de pedras meio irregulares, guiando-me pelo curso do rio.

Quando achava que seria bom parar a moto, um homem saiu do seu jardim para me dizer que não parasse ali, que seguisse mais para a frente pois ainda estava longe e haveria lugar para a minha moto mais perto.

A mim parecia-me que já estava perto o suficiente, podia ver o grande muro formado pelo rochedo, que parecia tão perto! Mas lá segui as instruções do senhor, agradecendo a atenção.

E claro, ele tinha razão!

A rua empedrada ia dar a um caminho pedonal em cimento, que mais parecia o quintal de alguém. Dali para a frente não se circulava mais. Dois homens me chamaram para eu estacionar a moto num terreno de terra batida ali ao lado, com cabine para pagamento do parque e tudo.

Oh senhores, eu não tenho dinheiro bósnio! E agora?

Já me estava a imaginar ter de ir pôr a moto no fim do mundo e depois caminhar até la de novo…

Mas os homens mandaram-me pôr a moto ali mesmo, arrumando as cadeiras de plástico e a mesa de campismo no canto junto à cabine.

Ok, tudo bem, vou levantar dinheiro assim que possa para lhes pagar.

O ambiente surpreendeu-me, de alguma forma eu esperava que fosse um sitio cheio de turistas, mas sem nada mais do que a montanha, o rio e o tekke histórico!

Felizmente os turistas eram poucos, o que me surpreendeu!

Isto de estar a viajar já fora da época alta, tem as suas vantagens. Se eu pudesse sempre o faria ou em junho ou em setembro!

Também me surpreendeu a quantidade de restaurantes na margem direita do rio, com passagens e pontes entre eles, e as águas do rio a passarem em seu redor!

Fantástico, aquilo tudo era tão bonito e inspirador que decidi que iria jantar ali, sem nem me importar se depois seguiria viagem já de noite.

Então, depois de passar os restaurantes e seguir por um caminho invisível na encosta da margem, por trás das casas, lá estava o tekke e a nascente do rio.

O tekke histórico é um mosteiro do séc. XVI, uma construção lindíssima que combina elementos da arquitetura otomana com um estilo mediterrâneo.

O sitio por si só já é bonito, com a agua turquesa muito transparente do rio e o penhasco acima, mas as construções ainda o tornam mais surreal!

Claro que me sentei ali a olhar em redor e a desenhar.

Às vezes os turistas não são muitos, mas há os suficientes para perturbar completamente o paraíso…

Uma fulana, vestindo roupas chamativas amarelo vivo, e usando um pau de selfie com o imenso telemóvel na ponta, apareceu. E ela, sozinha, conseguia arruinar o momento, falando muito alto para o telemóvel, que devia estar a gravar as parvoíces que dizia. Nem sequer estava a falar do local ou algo relacionado a ele, apenas falava de si e de como era fantástico viajar. Certamente tretas de lives para o Insta.

Continuei a desenhar em silêncio, para não perturbar a sua algazarra. Estão aquela estupida dirigiu-se mim, mandando-me sair dali para que ela pudesse ficar sozinha a filmar!

A sério?

Oh rapariga, aproveita o que tens e em silêncio para não perturbares a minha paz, dá-te por feliz por eu nem estar na frente de paisagem nenhuma e cuida de não me captares na bosta da tua live, ou poderás ter problemas legais comigo, ok?

A mulher ficou visivelmente em choque, até esperei que me viesse com um “sabe com quem está a falar?” como acontece nos filmes, mas não, ela simplesmente afastou-se para a ponta do espaço e ouvi-a a a falar com um tom muito mais baixo para a filmagem.

Acho que o meu aspeto intimida mesmo as pessoas!

Respeitinho é bom e eu gosto!

O mosteiro Dervixe tem um grande significado como marco espiritual e histórico. A sua construção ocorreu no contexto do misticismo islâmico, com os Dervixes desempenhando um papel crucial na orientação dos indivíduos para uma compreensão mais profunda da espiritualidade através das suas práticas, dado que o mosteiro era um local de adoração e meditação comunitária.

Na realidade a sua filosofia é de pura espiritualidade, vivendo em condições de grande pobreza e austeridade.

Já agora os dervixes mais famosos são os Dervixes Rodopiantes da Turquia, que rodam sobre si por horas, com saias brancas a fazer balão.

Para minha tristeza, não há multibancos por ali, nem existe a possibilidade de fazer pagamentos com cartão nos restaurantes… ainda pensei em negociar para pagar com euros, mas decidi que não valia a pena, o melhor era seguir para Čalići e jantar por lá.

Mas agora, como iria pagar aos homens o estacionamento? Catei a carteira à procura de moedas de euro, que são sempre aceites. Mas eles não quiseram o meu dinheiro, fizeram-me uma festa de despedida com acenos e lá segui o meu caminho.

Mais tarde percebi que o pagamento do estacionamento era de 2€, foi quanto eles deixaram de receber e ainda me fizeram uma festa!

Não estava longe do meu destino para aquele dia, mas ainda subi o desfiladeiro de Žitomislići.

Às vezes tenho pena que meio nenhum consiga captar o que os meus olhos veem! Eu sei que existem muitas possibilidades, mas nunca me entusiasmei porque ficam sempre aquém do que eu vejo. E nunca me apetece perder tempo montando gadgets por isso também não o faria com outros mais sofisticados que comprasse!

A subida do monte e a perspetiva lá de cima, sobre Žitomislići e o rio Neretva era deslumbrante! Merecia umas perspetivas de drone…

Cheguei a Čalići.

Estava instalada num centro pastoral na cidade das famosas aparições bósnias. Um rapaz muita simpático veio arrumar a esplanada para que eu pusesse a moto lá dentro, protegida do temporal que ele dizia estar a aproximar-se.

A residência estava cheia de peregrinos vindos de todos os pontos do planeta. Estaria a ser servido um jantar para todos, se eu quisesse poderia jantar também.

Excelente, vamos lá jantar em grupo.

O temporal chegou com chuvas e ventos fortes, mas podiam ouvir-se grupos passarem lá fora rezando alto. A fé não se deixa intimidar por temporais.

Amanhã vou explorar a cidade e visitar o Svetište Kraljice Mira o Santuário de Nossa Senhora Rainha da Paz.

11. Passeando pelos Balcãs… – A bela Bled…

7 de agosto de 2013

Desde que passei por Bled a primeira vez que eu tenho vontade de voltar! Há algo de irreal na sua beleza que nos faz sentir a viver num conto de fadas ou num postal ilustrado de agência de viagens, daqueles que a gente sabe que são apenas para turista ver, pois beleza tal só pode ser falsa…

Mas tudo é real por ali e tudo é encantador também! Depois a acrescentar a toda a beleza havia uma brisa fresca e o lago que parece nunca aquecer seja qual for a temperatura ambiente no seu exterior!

Naquele dia acordei obcecada com a vontade de mergulhar no lago, por isso sai de casa já com o fato de banho vestido. À primeira oportunidade eu iria meter-me na água, isso era certinho!

Tinha pensado em casa num percurso a fazer pelas montanhas ali perto mas, ao sair para a rua a ideia não me inspirou minimamente! Tinha sofrido bastante com o calor dos últimos dias e aquele prometia aquecer também, logo ir para longe da água estava fora de questão. Parece que quando a gente anda perto de um rio ou de um lago o calor não é tão agressivo, por isso não sairia dali de perto e fui passear para o lago!

Chegar ao lago pela manhã, foi a imagem da frescura e do paraíso para a minha mente!

Pousei a moto e fui passear pela fresca, apreciar o castelinho de longe. Não iria visita-lo, embora ele seja muito bonito e o mais antigo do país, porque já o visitei noutra altura e queria apenas aprecia-lo no enquadramento lindíssimo em que fica!

Encontrei um pintor que tinha o seu estaminé montado à sombra das árvores e pintava uns postaizinhos muito coloridos em aguarela para vender. Ainda me pus ali no paleio com ele e desenhei e pintei um pouco também. As minhas aguarelas são bem menos coloridas que as dele, por isso mais próximas das cores reais e houve quem passasse e me quisesse comprar duas das que fiz ali! Eheheh

“Não, não são para vender!” repetia eu enquanto as pessoas insistiam que as minhas eram mais bonitas que as do homem.

“Fique aqui hoje comigo a pintar para eu ver como faz!” insistia ele.

“Nem pensar, estou a passear e desenho pelo prazer, não para ensinar ou por obrigação!”

Deixei-o tirar fotos aos meus desenhos e fui embora, que tinha muita coisa para ver por ali!

Não se pode ficar indiferente, a paisagem é mesmo inspiradora! A ilha natural vê-se muito bem dali com a Igreja e Santuário da Assunção de Maria, do séc. XV a encima-la.

Pus-me a olhar bem para a ilha e para a sua escadaria até ao santuário. Dizem que tem 99 degraus… pode-se ir até lá de barco, mas eu não tinha a certeza se queria subir todos aqueles degraus debaixo do calor que se preparava para chegar…

Passear pela borda do lago é tão agradável e encantador que só apetece continuar calmamente e fotografar a cada 2 passos que se dá! E nunca se dá conta se está muito ou pouco calor pois a sobra é sempre fresca!

Só ao voltar à moto, e ao sair debaixo das árvores, é que me apercebi que o calor já tinha voltado! O termómetro da moto, que estava ao sol, apontava já 38º!!!

Eu bem tinha razão que não era coisa boa ir passear para a montanha! Por isso fui mas é visitar as Vintgar Gorge ou Soteska Vintgar, um desfiladeiro deslumbrante ali mesmo perto da cidade, com as águas mais puras e frescas que se possa imaginar!

Este desfiladeiro foi descoberto no final do séc. XIX e desde então que foram criadas condições para que ele possa ser visitado, com passadiços de madeira, renovados ao longo dos tempos, até hoje!

Dizem que aquelas águas são das mais puras da Europa!

São 1600m desta paisagem e desta frescura! Se fosse 3 vezes maior a distancia, ninguém se queixaria, pois é simplesmente delicioso passear por ali!

Então chega-se à outra ponta e tem lá um bar com gelados e cerveja para a completar todo o prazer do caminho!

É em momentos destes que eu sinto que o paraíso existe e é cá na terra mesmo!

Então volta-se para trás pelo mesmo caminho, que visto ao contrario e com o sol noutro angulo, parece renovado!

Há uma represa que torna o quadro mais perfeito e doseia o curso das águas!

E mesmo ali “dentro” com toda aquela sombra, o calor começava a querer entrar! A água chamava mesmo para lhe enfiar os pés dentro, e foi o que fiz! Mergulhei os pés e o corpo todo!
A água era incrivelmente fria!

Dizem que aquela agua é tão fresca e pura, que se pode beber direta do rio! O banho, na realidade não foi refrescante, foi gelado mesmo! Que sensação de contacto com o coração da terra mais inesquecível! Quando voltei ao trilho continuei gelada por muito tempo, agradavelmente fresca e cheia de vida…

Mal saí da sombra do desfiladeiro o calor estava todo à minha espera cá fora!

Peguei na moto e fui passear um pouco, mas à medida que o efeito refrescante do banho ia passando, eu ia recuperando a vontade de me voltar a enfiar na água! E foi o que fiz, fui pousar a moto junto ao lago e ali passei o resto da tarde, entre sombra e sol, mergulhos e longas braçadas a nado! Que bela é a vida assim!

A gente chegava-se um pouco para o sol e o calor era escaldante, chegava-se um pouco para a sombra e quase tinha frio! Curiosa a diferença de temperatura entre sombra e sol!

Acho que aquele foi o recanto do mundo onde eu nadei com melhor paisagem!

A água é límpida e tão fria que parecia impossível que todo aquele calorão existisse mesmo, quando a gente estava enfiada nela!

Eu bem digo que o paraíso existe!

Terminei a tarde acompanhada de uma belíssima cerveja, a apreciar os encantos do lago, com o castelinho medieval lá em cima do penhasco a completar o quadro irreal!

Depois fui passear um pouco, descalça pela relva e pelos passadiços de madeira, porque há vontades que não posso negar a mim própria e porque o momento assim me inspirava, para viver um pôr-do-sol lindíssimo digno das mais belas sombras chinesas do conto de fadas mais encantador!

E foi o fim do 9º dia de viagem!

33 – Passeando até à Suiça 2012 – Le mont Moléson, Freddie Mercury e Lausanne

17 de Agosto de 2012 – continuação da continuação

O Moléson é um monte escarpado que atinge os 2002 metros de altitude e que pertence aos Rochers de Naye que eu visitei quando subi pela encosta em Montreux!

Existe um funicular que faz a primeira parte da subida e um teleférico que faz o topo.

Aquelas encostas, como muitas outras pelo país, são exploradas pelo turismo de inverno com ski alpino, ski de fond e caminhada com raquetes; e pelo turismo de verão com caminhadas, alpinismo e parapente.

Subir no funicular é uma experiência muito bonita, como em muitos outros nos Alpes, porque percorre a montanha serpenteando e revelando pouco a pouco diversas perspetivas da paisagem.

O vale de Gruyères vai ficando para baixo, permitindo ver-se ao longe o lago com o mesmo nome. Um lindo lago artificial provocado por uma barragem.

Ao chegarmos ao fim do funicular, subimos 1.109 metros, depois temos de apanhar o teleférico para subir aos 1.520 metros! E aí já vemos o Moléson, um enorme rochedo proeminente e impressionante!

Ali de cima o vale já é bem distante e pequeno!

Sentimo-nos no topo do mundo e a colina do castelo, lá em baixo, é quase imperceptível!

Lá está o lago ao longe.

Ali de cima, até o que está em cima parece baixo!

E os Alpes estão por todo o lado!

Olhando para sul, por cima dos montes onde alguns parapentes animam a paisagem, a longa mancha branca provocada pelo Lac Leman!

Afinal estamos num ponto alto a poucos quilómetros, a direito, de Lausanne e Montreux!

A sensação de estar-se ali, com uma cerveja fresca na mão e uma paisagem de cortar a respiração… é inesquecível!

Lá tive de me forçar a descer dali, horas depois, depois de muito paleio com alguns caminhantes que se foram sentando perto de mim!

É curioso ver o trilho do funicular pela encosta abaixo, numa paisagem perfeita!

Voltei a passar perto da colina do castelo, para me dirigir para o Lac Leman mais uma vez nesta viagem.

É sempre tão reconfortante passear pelas margens daquele lago!

E fui até Montreux!

Porque estava perto e porque tinha prometido ao meu amigo Rui Vieira tirar uma foto com a minha Magnífica junto da estátua de Freddie Mercury.

Quando lá cheguei havia feira no local! Feira de venda de coisas e feira de gente em volta da estátua do homem!

Bolas, como iria eu fazer para levar a moto até ali com todo aquele povo?

Muito simples! Há um fator que nos permite fazer qualquer coisa sem que ninguém reaja: o fator surpresa!

Por isso fui buscar a moto, subi o passeio, atravessei toda a zona pedonal por entre tendas e povo que me olhava espantado e levei a Magnífica até onde quis!

Freddie Mercury passou em Montreux os seus últimos tempos de vida, onde gravou até morrer…

Diz a placa por baixo da escultura, (numa tradução direta e básica, sem floreios):

“Freddie Mercury, nasceu com o nome de Farrokh Bulsara na ilha africada de Zanzibar, tornou-se um dos maiores artistas de rock da nossa época. A sua carreira de cantor, durante vinte anos, no seio do grupo Queen permitiu-lhe vender mais de 150 milhões de álbuns no mundo inteiro. Visionário, musico fora do comum, ele deixa para trás de si uma herança inestimável assim como uma enorme influencia para as gerações de artistas rock posteriores.

Graças aos Mountein Recordin Studios, adquiridos pelo grupo Queen em 1978, Freddie soube criar até à sua morta, laços muito fortes com a cidade de Montreux.

Apreciador da simpatia e da discrição dos seus habitantes, Freddie considerava Montreux como o seu lar adotivo e um refúgio de paz propício à elaboração das suas últimas obras.”

E ainda aproveitando o tal fator surpresa, tirei as fotos que quis, dando-me até ao cuidado de mudar a motita de posição! Só não a pus em frente à estátua porque aí existe um passadiço de madeira desnivelado e não era mesmo nada aconselhável arriscar a desce-lo com a moto, senão…

Quase em frente da estátua fica uma plataforma circular onde as pessoas aproveitavam para fazer praia e banhar-se no lago a partir dali. Muito interessante!

E pronto, estava cumprida a promessa da foto por isso pus-me a passear por ali. Não me apetecia visitar a cidade, apenas curtir o lago, que o calor era demasiado!

E tratei de seguir caminho, pois com muito calor prefiro andar de moto que a pé! Segui pela margem do lago até Lausanne, logo ali a menos de 30 km.

A cidade estava cheia de gente e de movimento e de calor! Também não me apetecia visita-la de novo já que a tenho visitado em viagens recentes! Mas havia ali algo que eu queria ver: a catedral!

A Cathédrale protestante Notre-Dame de Lausanne é uma construção espantosa do séc. XIII que esteve recentemente em obras de restauro durante muito tempo!

A última vez que a visitei ela estava em obras de recuperação. É um exemplar lindíssimo de arquitetura românica já com elementos góticos, pois foi construída em várias fases! No séc. XVI foi dedicada ao Calvinismo aquando da Reforma Protestante!

Quando fui visita-la, era tarde, deveria estar fechada… mas fui na mesma! Havia uma porta lateral aberta, espreitei, estavam dois homens lá dentro. Perguntei se podia visitar a catedral. “Está fechada menina, só está aberta para quem vem assistir ao concerto! Terá de vir ver o concerto para ver a catedral!” disse um deles “Mas eu não posso, tenho de ir embora!” disse eu. Então um dos senhores disse-me que me deixava ir até ao centro da igreja e voltar. Estávamos exatamente ao nível do início do altar. Fui e tirei 3 ou 4 fotos! Todas as cadeiras estavam voltadas para o novo órgão, (que é uma aquisição relativamente recente e de grande qualidade), no fundo da catedral. A catedral estava linda, mesmo voltada assim “ao contrario”! Tive uma imensa vontade de ficar para assistir ao concerto…

Não podendo ficar, tirei varias fotos a partir do mesmo sitio que o senhor me permitira alcançar!

Aquele teto é mesmo diferente e lindo!

E fui para casa que naquele dia era em Friburgo!

Fim do décimo nono dia de viagem!

28 – Passeando até à Suiça 2012 – O Mont Pilatus, Burgdorf e Biel…

16 de Agosto de 2012

Estava na hora de seguir para Friburgo e fi-lo desenhando um caracol no mapa! É que Friburgo fica logo ali e não teria qualquer piada arrancar direta para lá, com tanta coisa bonita para ver na redondeza! Aliás, as minhas dormidas são marcadas sempre em pontos estratégicos e nunca é por acaso que eu marco 2 num espaço de apenas cento e tal quilómetros!

Não me interessava passar por Bern, pois nos últimos anos tenho lá “passado a vida” e outros dias virão em que terei vontade de lá passar de novo!

Quando cheguei cá abaixo a minha Magnífica tinha feito amizade com uma Suzuki toda desportiva, eu bem lhe disse que nunca se metesse com motos desportivas pois nunca teria pedal para elas, mas ela esquecia-se por vezes que era uma maratonista e não uma R!

Ok, convenhamos que foi a R ZSX que se meteu com ela, pois estava mascarada e tudo quando cheguei lá fora, com uma cobertura preta, a trabalhar para o mistério!

Achei piada à moto com as “orelhas” recolhidas, fez-me lembrar a minha gata que punha as orelhas para trás quando ia fazer uma asneira!

O dono também meteu conversa comigo, era um rapazola simpático que ficou curioso por a Magnífica ser de uma mulher! Ele estava a viver em Genève e tinha ido dar uma volta até Lucerne. Mais tarde comunicou comigo através do meu blogue, um tipo simpático!

Antes de me ir embora dali, não resisti em subir de novo o Mont Pilatus! Eu sabia que se calhar nada se veria lá de cima, mas não resisti em passar, porque por vezes o tempo chuvoso reserva-nos surpresas nas montanhas, proporcionando perspetivas e enquadramentos da paisagem, únicos! E acabou por ser o caso!

Pela dimensão das casas e dos prédios lá em baixo, dá para imaginar a distância a que eu estava. Depois as nuvens ficavam um pouco abaixo de mim! Por isso a visibilidade estava longe de ser nula!

Fiz outras ruelas diferentes das que fizera já, quando por ali andara dias antes, encontrando outros pormenores na paisagem.

Depois segui pelos montes e pelo meio das quintas e dos campos verdes, por ruínhas estreitas e cheias de curvas, que é o que de mais bonito há para fazer naquele país!

Se as ruínhas não estivessem cheias de terra e marcas da circulação de tratores e carros rurais, dir-se-ia que as quintinhas apenas estavam ali para embelezar a paisagem!

Mas não, aquilo ali tudo funciona! As casa são habitadas e as terras trabalhadas!

E depois fica tudo tão direitinho e verde que parecem campos de futebol às ondas!

Lá cheguei a Burgdorf, estava no distrito do Emmental, sim a terra do queijo tão apreciado, com o seu castelo do séc. XII lá em cima duma colina que domina a cidade. Estava no cantão de Berna e o símbolo com o urso lá estava!

A cidade é muito antiga e já andou de mão em mão, como muitas ou quase todas naquele país, por isso se juntaram todos e formaram o seu próprio país, deixando de ter de lutar contra tudo e contra todos passando a defender-se em conjunto.

Comprei uns pãezinhos deliciosos na feirinha de rua e propus-me visitar a redondeza.

Subi até ao castelo e tudo!

Os castelos têm sempre a vantagem de ficar em locais elevados e proporcionarem vistas panorâmicas sobre a cidade em baixo!

No castelo funciona um museu há mais de 2 séculos e que eu não visitei.

Bastou-me deliciar-me com a sua arquitetura que é sempre interessante!

E desci para a cidade pelo lado oposto ao que subira, por caminhos giros e antigos!

Dali até Biel foi mais um instante de belas ruas!

A cidade de Biel fica na extremidade oriental do Lago Biel, no sopé do Jura e é a metrópole da relojoaria suíça pois ali se fabricam alguns dos melhores e mais conhecidos relógios suíços como os Swatch, Rolex, Omega, Tissot, Movado e Mikron.

Na realidade o país divide-se em 3 faixas, ficando o chamado Planalto Suíço, uma zona quase plana que ocupa cerca de um terço do país e onde vive a maior parte da população, ente a cordilheira do Jura a noroeste e os Alpes Suíços a sudeste.

Biel, e zona onde eu chegava fica, portanto, no início do Jura!

A sua cidade antiga é deliciosa, com as fontes medievais pintadas, tão características no país, como a fontaine de L’Ange, do séc. XVI.

Ali fala-se tanto o alemão como o francês e é a única grande cidade onde essa distribuição é de 50/50.

Dizem que Biel tem 72 fontes com água potável alimentadas até hoje por uma fonte romana!

A fontaine de la Justice é uma delas, do séc. XVI, tem sido mantida impecável ao longo dos tempos!

Anda-se por ruínhas e ruelas até se chegar à praça da catedral, que é sempre onde está o centro histórico e mais pitoresco de uma cidade antiga !

A Place du Ring é deliciosa, com cada construção a rivalizar com a outra, em cada esquina e em cada recanto!

E mais uma fonte do séc. XVI la fontaine du Banneret

A igreja gótica do séc. XV lá estava, a dominar o espaço !

É interessante por dentro, com o teto florido e luminoso.

Estamos numa zona elevada da cidade que continua a descer até à zona nova, com avenidas e prédios lá para baixo.

e voltamos à praça que é muito mais gira que tudo o resto !

Depois foi descer até à motita, por ruínhas tão fofinhas

e cheias de coisas curiosas!

Para seguir o meu caminho, que naquele dia eu estava com vontade de ver muitas coisas!

(continua)