24. Passeando pelos Balcãs… – No coração da antiguidade – a deusa Atenas

19 de agosto de 2013

Aquela era a minha última oportunidade de passear mais um pouco por Meteora… eu nunca consigo deixar um local que me fascina sem voltar a passear um pouco por ele! E foi o que fiz, em tom de despedida, voltar a conferir todo o encanto dos últimos dias!

A minha cinta estava a apertar muito longe do velcro já, ao ponto de não “agarrar” e abrir-se facilmente! Bem, dali a nada estaria com as medidas das modelos esqueléticas, se não me aplicasse mais um pouco a tentar recuperar o meu peso! Estava a beirar os 66kg, que era pouco para mim e o meu 1.75m de altura, que não queria saber de magrezas para nada e tinha uma moto que pesava quase 5 vezes mais do que eu, para comandar!

Na realidade o efeito do excesso de calor, que me acompanhava há demasiado tempo desta viagem, estava a fazer-se sentir há alguns dias, com a tensão arterial a ficar baixa e os músculos a ressentirem-se, em cãibras e brecas que me atacavam até os dedos das mãos! Nada que um pouco de magnésio não resolvesse e siga para a luta!

A minha Ninfa lá estava em despedidas com a sua amiga dos últimos dias! Aquela moto não saiu dali durante os 3 dias que lá estive! Não pude deixar de pensar que “quem tem burro e anda a pé, mais burro é!” eheheh

E fui passeando, muito devagar, apreciando pela ultima vez aquele cenário envolvente de irrealidade!

Fiquei a olhar para o Mosteiro de Agia Tríada, ou Mosteiro da Santíssima Trindade.

Sem dúvida o mais impressionante pela sua localização, sempre usado como ex-libris do complexo… eu não o visitara e, de repente pensava “irei embora sem o ver?”

Eu tinha de descer da rua até ao funco para depois começar a subir o enorme penedo! O calor já estava a apertar mas, mesmo assim, eu fui! “Nah, não vou embora sem lá ir, que se lixe!”

Ali foi rodado o filme de James Bond “For your eyes only” e ninguém vai a Meteora sem o ir visitar!

Reza a história que os monges não acharam muita graça a todo o aparato das filmagens e tentaram boicotar os trabalhos fechando-se dentro dos mosteiros e pondo as suas roupas a secar penduradas no exterior, para “enriquecer” o panorama! Este mosteiro é um dos mais difíceis de alcançar com os seus 150 degraus, que sobem de forma ingreme, por um caminho escavado na parede de pedra do enorme rochedo isolado.

O caminho é “roubado” ao penedo, num meio túnel que sobe até lá acima e as perspetivas da redondeza que se vão vislumbrando valem bem o esforço!

A entrada neste mosteiro foi a mais “desinteressada”, o guardião não era monge, era um rapaz vestido como todos nós e não stressou nada em verificar o que eu fazia, “vista uma saia e boa visita” mais nada!

Por isso foi na maior descontração que visitei aquilo tudo e tirei fotos e tudo, “na boa”!

Aproveitei para pôr uma série de velinhas pelos meus amigos, pela minha família, pela minha viagem, por todos os viajantes e por aí fora, que eu adoro brincar com velinhas e aquelas eram particularmente interessantes, fininhas e giras, era só acender e espeta-las na areia!

Claro que fui pondo uma moeda por cada vela! Não tinham preço, mas tive o cuidade de pôr apenas moedas brancas! 😀

Assim como de Kalampaka se pode ver claramente o penedo do mosteiro, lá de cima a cidade é a paisagem!

Achei curioso que na ponta do penedo há uma cruz branca com um montinho de moedas aos pés! Acho que quando não há fontes ou lagos, as pessoas poem as moedas onde puderem!

Para o outro lado, apenas com uma olhadela 4 ou 5 mosteiros eram visíveis!

Desta vez custou-me ir embora! Eu ficaria ali mesmo, no mosteiro, por uns dias, de boa vontade!

Na torre do mosteiro podia-se ver o sistema de elevador de tempos idos! Imaginei-me a ser descida dentro da rede de corda e a ideia animou-me! Não me importaria nada, só para não ter de fazer todo o esforço para voltar para moto!

E era hora de sair dali! Oh valha-me Deus, a perspetiva era linda mas desmotivante! Estava tanto calor para descer e voltar a subir montes e degraus!

Quando finalmente cheguei à moto, depois de uma transpiradela que me fez ter vontade de voltar ao hostel e tomar um belo banho, tinha uma surpresa à minha espera!

Embora eu tivesse estacionada a moto numa nesga, entre a guia da rua e o muro, num sitio onde ninguém mais poderia estacionar, pois ficaria meio no meio da rua… um carro tinha-se posto na frente dela, tão perto que eu não conseguiria sair, pois a rua era inclinada e eu não tinha força para a puxar para trás! M%&$$#da!

Não havia vivalma por ali! Será que eu teria de esperar que sua excelência acabasse a visita para vir tirar o carro para eu sair? Que desânimo!

Então um carro aproximou-se, um carro todo velho e amassado com um fulano que cantava aos berros lá dentro, e parou! Fui-lhe bater ao vidro! “please, help me!”

O homem ficou a olhar para mim, estava a desfolhar papeis, parece que ía ao mosteiro tratar de negócios! Expliquei-lhe que precisava que me empurrasse! Saiu do carro e olhou para ver o que é que eu queria que ele empurrasse!

“Me??? No!!!” exclamou escandalizado com a moto! “too big, too big!”

Oh homem, um carro é mais big que a minha moto e qualquer homem o empurra! Peguei-o pelo braço e puxei-o até à moto “come on, you can do it!”

Só depois entendi o seu pânico! Ele pensava que eu era a dona do carro e queria que ele tirasse a moto para eu sair! Quando eu montei e expliquei onde ele devia pôr as mãos, na frente da moto para empurrar e a moto recuar, ficou paralisado a olhar para mim “Too big for you! You are too slim for it!”

Oh homem empurra que eu posso com ela, não te preocupes, raios!

E finalmente ele lá empurrou, puxa parece que não havia maneira de o convencer! Agradeci muito e fui embora, podia vê-lo pelo retrovisor, no meio da rua a olhar! Ele iria superar o choque e o espanto e voltar à sua vida normal, certamente!

Meteora ficou no meu coração e eu vou lá voltar um dia, para percorrer caminhos e trilhos e ver os mosteiros mais rudimentares e primitivos que estão longe dos turistas e das pessoas que não conhecem a zona. Há muito mistério e beleza única para desvendar por ali!

Parei em Trikala para tomar qualquer coisa fresca, junto ao rio, onde parece que toda a gente vai!

Também não apetecia afastar dali, como se apenas a visão da agua refrescasse um pouco os miolos!

A estátua de Asclepius, o deus da medicina, está ali no meio do rio, tão feiinha!

Fiz ali um belíssimo pic-nic, enquanto apreciava quem ia e vinha! Muita gente olhava para mim, como se eu fosse um ser bizarro! E não era por eu estar a fazer nada que eles não estivessem a fazer também! Acho que era o meu aspeto que lhes atraia a atenção, o chapéu espantava muitas pessoas por ali! Então eu sorria e dizia “hello!” e as pessoas sorriam também!

E ainda fiz amizade com uns polícias giros que vieram falar comigo, queriam saber se eu era inglesa! Não, sou portuguesa mesmo!

Consegui tirar-lhes uma foto quando se afastaram! Estavam sempre rodeados de gente o que me fez sentir que eram queridos de toda a gente, ou então era por serem giros mesmo! eheheh

E segui pelo mapa abaixo, por caminhos longe de autoestradas ou vias rápidas, trilhando estradinhas deliciosas, não fosse a altíssima temperatura que insistia em acompanhar os meus dias!

Eu sabia que ir a Atenas por uma curta passagem seria penoso para mim, porque é um destino e toda uma envolvência que quero visitar há demasiado tempo para apenas passar e seguir, mas não pude evitar faze-lo, levando em mente o que queria ver e fazer desta vez e planear depois o que fazer numa futura visita organizada já para tudo explorar!

É a minha forma de não lamentar o que eu não puder ver sem ficar por lá perdida tentando ver tudo!

Encontrei na Grécia os ciganos que estava à espera de encontrar na Roménia, não é irónico?

E, diga-se de passagem estragavam muito da paisagem que os rodeava com toda a imundice que espalhavam em seu redor!

Fui sempre andando por ruelas, conhecendo o aspeto menos “civilizado” do país, como eu gosto de fazer!

E cheguei à capital sem parar em lado nenhum, que o calor era pouco inspirador para paragens!

Fui recebida num hostel tão simpático e acolhedor que o ar fresco lá dentro apenas me inspirava a não sair mais.

Fiz amizade com o cachorro de serviço e tudo, entre cervejas frescas deliciosas e muita conversa com a rececionista, que me deu todas as indicações que eu queria, sobre como organizar uma visita ao país, indo também de ilha em ilha e onde deixar a moto para o fazer, que era uma das coisas que eu procurava saber em Atenas!

Quando o tempo arrefecia um pouco, saí para a cidade. Era tarde para visitar a Acrópole, por isso andei por ali, de esplanada em esplanada, apreciando o espetáculo e saboreando o delicioso café daquelas gentes, que é tão bom como o nosso!

Atenas está cheia de vestígios do seu passado grandioso, como o Estádio Panathinaiko, uma coisa com capacidade para 80.000 pessoas!!! Aqueles gregos eram loucos! Foi construído mais de 500 anos antes de Cristo, totalmente em mármore branco!

Já esteve em ruinas e foi restaurado no final séc. XIX aquando da realização dos primeiros jogos olímpicos da era moderna. Voltou a ser usado nos últimos jogos olímpicos em Atenas em 2004.

E andei por ali a vaguear, por solo sagrado para quem aprecia história e mito…

Ao tempo que eu sonhava ir a Atenas… e continuo a sonhar!

Subi ao Monte Lycabettus.
As voltas que eu dei para lhe encontrar a estrada, porque as ruas são íngremes, fazendo como que prateleiras quando se chega à rua de cima, e parecia que a moto bateria com a “barriga” no chão ao passar da ruela que subia para aquela a que ia dar! Tudo isto de noite, sem GPS a conduzir-me e sem ter a certeza de estar a fazer sentidos proibidos!

Lá em cima há um enorme espaço que estava cheio de carros, com famílias inteiras a curtir a paisagem, e jovens com música e tudo, num ambiente simpático, mas onde apena eu estava sozinha!

Senti todos os olhos pousados em mim, quando eu pensei que passaria ali despercebida, momentos de paz e contemplação!

Então comprei umas bugigangas para comer e beber numa roulotte que há ali e fui subir até ao ponto mais alto do monte onde há uma capelinha do séc. XIX e uma paisagem deslumbrante sobre a cidade!

Passa-se por um restaurante/café muito interessante e chega-se à capelinha, estava por ali muita gente também, num ambiente simpático.

Em que as pessoas tentavam desesperadamente tirar fotografias umas às outras com a cidade como cenário de fundo, sem entenderem que não era possível com os equipamentos básicos que tinham, já que com flash apanhavam as pessoas e o fundo negro, sem flash ficava tudo tremido, sem gente nem fundo que se aproveite! Eheheh

Ao lado da capela há uma descida, que é também a outra saída do monte, se a descermos um pouco, com cuidado pois os gregos adoram pavimentos em mármore e aquela treta escorrega para caramba, mesmo com o chão seco, chega-se a um patamar onde Atenas nos enche os sentidos…

Oh a Acrópole ali no meio provocou uma sensação…

Ali sim, fiquei em silêncio, não estava mais ninguém além de mim e soube tão bem….

E fui para casa, era o fim do meu 21º dia de viagem…

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