Arte abstracta e narrativa

A pintura abstracta conta, ela própria, a sua história. Também tem ela a sua narrativa, a sua acção. Sem se servir do verbo para caracterizar a acção, descreve-a ou deixa-a transparecer pela “movimentação” causada pela direcção da pincelada, pela vibração da cor, pelo movimento da pincelada.

Não é apenas a pintura figurativa, ou a literatura que podem conter narração. Para que a narração exista é necessária uma modalidade de acção. Em Kandinsky, a forma da luz, a direcção vermelha, o pacto negro, implicam acção, modalidade activa!

Se a obra implica uma acção, ou uma intenção em relação a outras obras, à parede onde se expõe, ou a ela mesma, a narrativa está com ela!

A arte de contar tem um poder que interessa ao poder, por isso todas as formas de poder se apropriam de todas as formas de contar.

A igreja usou e valorizou a narrativa da vida dos seus fiéis santos e inventou a confissão, onde o pecador narra os seus pecados, as suas faltas.

A polícia cria os seus arquivos e os processos dos seus criminosos, narrativas dos factos agrupados formando um poder.

É preciso que a vida normal seja tirada dela mesma pelo toque do fabuloso…

“Le moment est venu ou une société a prêté des mots, des tournures et de phrases, des rituels de langage à la masse anonyme des gens pour qu’ils puissent parler d’eux-mêmes"  

(Michel Faucault)

Na arte abstracta não é preciso contar-se uma história para que a narrativa aconteça, a própria atitude de pincelar pode-o conter e transmitir!

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