10. Passeando por caminhos Celtas – o condado de Galway

5 de agosto de 2014

Havia tanta coisa que eu queria ver por ali e, de repente, apercebi-me que era tudo cemitérios, ruinas, castelos e mar!

“valha-me Deus, pareço um rato de cemitério a catar tumbas!”

Que se lixe, cada um gosta do que gosta e eu não podia deixar de ver o que tanto me atraia naquele país! Ok, de uma próxima visita verei outras coisas, nesta vou às cruzes!

Pronto, também não vi só ruinas e cemitérios! As casinhas por ali continuavam a fascinar-me, então as de telhado de colmo eram deliciosas! Consegui desenhar umas quantas para juntar à minha coleção de janelas, castelos e cruzes!

E havia-a sofisticadas mas também simples e fofinhas, como casinhas de bonecas!

Dirigia-me a Kinvarra, uma pequena vila piscatória que tem um castelinho muito fofinho à entrada!

O Dunguaire Castle é uma construção do séc. XVI que fascina pela sua beleza simples e pela sua localização encantadora, sobre a baia de Galway!

Há histórias e lendas associadas ao castelo e ao seu lord, uma lenda conta que o rei, King Guaire, era muito generoso e que, mesmo depois da sua morte, o continuou a ser e que um mendigo que ele sempre ajudara visitou o seu tumulo murmurando “King Guaire, even you cannot help me now.” e naquele momento a mão do rei deixou cair algumas moedas aos pés dele, como sempre fizera em vida!

Mas a lenda que me cativou mais foi aquela que diz que, ainda hoje, se uma pessoa fizer uma pergunta junto do portão da frente, ela terá uma resposta no final do dia. Não experimentei… de repente eu não tinha nenhuma pergunta para fazer, como é possível?!

Está aberto no verão, não se paga nada e não tem muito o que ver lá dentro, apenas o pátio e a torre. Mas é bonitinho sim senhor!

Logo a seguir fica a vila e o castelo é visível da berma da estrada por algum tempo!

A gente pára um pouco e tudo é bonitinho por ali!

E a vila é um sossego, com a baía do outro lado da estrada, que inspira para parar e relaxar!

“Quantas vezes parei, quantas vezes fiquei quietinha na berma de uma estrada, de um rio, de um lago, apenas a contemplar? O segredo é não pensar, não me preocupar com o que há mais para fazer para além disso mesmo, contemplar! Porque há momentos únicos, que não se repetirão numa viagem, mesmo que eu volte a passar no mesmo sítio por qualquer motivo. É assim e pronto, o espirito vai-se, a sensação perde-se e a surpresa já não existe. Por isso cada momento deve ser vivido como se nunca mais se voltasse a repetir, porque não se repetirá mesmo!”

Fixando bem, ao longe, do outro lado da água…

Lá estava ele…

Finalmente decidi-me a seguir para algures, claro que sempre escolhendo grandes avenidas com ótimo piso… ao ponto de temer voltar-me de pernas para o ar com a qualidade do alcatrão!

Quando, quilómetros depois, passei por uma placa que falava de um tal Cloonacauneen Castle! “Boa, vou lá vê-lo!” e segui por caminhos e ruínhas estreitinhas, entre campos de cultivo e pequenas localidades, sempre me maravilhando com umas coisas e outras até chegar a ele.

Era tão lindo, bem enquadrado, com a torre forrada a heras, um sonho! Mas era um restaurante, uma espécie de quinta para eventos e eu não podia visita-lo. Que pena! Andei por ali a espreitar por cima dos muros. Um castelo normando do séc. XV simplesmente encantador!

Paciência, não dá para ver de mais perto vê-se de mais longe! Depois não faltam coisinhas lindas para ver, casa por exemplo, que eu adoro!

… e os cemitérios…

São tão frequentes os cemitérios com uma abadia em ruinas no meio que a dada altura eu já não pararia em todos, ou ainda por lá andaria a cata-los! Mas há ali uma atmosfera que me fascina, isso há!

A Annaghdown Cathedral é do séc. XII e só tem as paredes em pé, mas tem uma janela românica espantosa!

Parece que ficou em ruinas há muitos séculos, entre guerras e lutas…

E lá estavam elas, as cruzes, cheias de liquens que as tornavam ainda mais espantosas!

Escrevia eu no meu Facebbok:

“A Cruz Celta sempre me fascinou, tão anterior ao cristianismo e no entanto uma cruz! Podem-se encontrar por todas a zonas celtas, mas a Irlanda está cheia delas, desde as originais até às versões mais recentes. E são lindas! A cruz do sol, dedicada ao deus Odin pode representar os 4 elementos. Hoje está também associada à religião cristã, afinal os celtas também se foram convertendo ao cristianismo. Para mim será sempre a «cruz daqui»!”

E então o perfil do cemitério relvado, com as cruzes incertas, em contraste com o céu cheio de nuvens sugestivas, foi o êxtase total para mim! Sentei-me numa tumba e desenhei, pois então!

Há por ali mais vestígios das construções da abadia a completar o quadro, com uma relva que quase parece almofadas debaixo dos nossos pés, de tão fofa e espessa que é!

Lá voltei às ruelas e ruínhas e segui até ao lago, o Loch Corrib!
A bem dizer eu nunca sabia se o que via era mar ou lago, porque ali há de tudo e por todos os lados! E o lago dali é simplesmente enorme, de perder de vista!

Pus-me a desenhar barcos, pus-me a desenhar tudo! Afinal eu nem queria ir muito longe, apenas queria curtir o estar ali!

E tem um castelinho e tudo! Pelo menos onde eu andava, porque do outro lado deverão haver outros, já que aquilo é tão grande e os antigos sempre gostavam de pôr os seus castelos ou em cima das colinas, ou na berma dos lagos! Dizem que o condado de Galway tem mais de 200 castelos!

Fui procura-lo, queria vê-lo mais de perto!

Mas não dava, era privado e não dava para aproximar, uma pena!
Castelos privados, é o que há mais por ali! Como será ser proprietário de um castelo, só nosso, privado?

Acho que a mim me bastaria ser proprietária de uma pequena casinha encantadora, de telhado de colmo! Grande nau, grande tormenta e sustentar um castelo não há-de ser barato!

Voltei a parar, voltei a desenhar, que coisinha linda!

E sim, logo a seguir havia outro!

Um castelinho branco! Embora à primeira vista possa parecer que terá sido adulterado, isso não é verdade. O castelinho, é do séc. XVI e foi restaurado de acordo com o aspeto que ele teria na época!

Na realidade ele é uma torre/casa fortificada que tinha como finalidade proteger os seus habitantes e não uma população!

E as mansões sucediam-se! Vive-se bem naquele país!

De repente uma ruina por trás das mansões! Cruzes, o que é aquilo, sem qualquer indicação? Se fosse na Inglaterra teria uma dúzia de placas a indicar o monumento, mas ali não tinha nada!

Eu até podia nem descobrir o que era, mas iria até o mais perto que pudesse! Segui por carreiros de cabras enquanto a moto passou, até chegar a um portão. “Ok, mais uma propriedade privada!”

Pousei a moto, avancei a corrente que fazia de porta e fui caminhando pelos campos.

Ao olhar para trás podia ver a minha motita a ficar longe, perdida no meio do verde!

E lá estava ela, uma abadia em ruinas, imponente!

Então, quando estava a chegar perto… havia um riacho que não me deixava ir até ela..

Bolas… amuei, sentei-me por ali, tirei um milhão de fotos iguais umas às outras e fui embora.

Acabei por descobrir depois que se chama Abbey Ross, que pode ser visitada, mas não indo do lado que eu fui. É do séc. XV, é franciscana e é uma das ruinas mais bem conservadas da irlanda, do tempo em que a religião católica era oprimida na irlanda.

Bela bosta, a visitar será de uma outra vez…

Segui pelo mapa acima ainda por alguns quilómetros até Castlebar, sem ver nada de especial para além de ruínhas e ruelas encantadoras.

Parei para fazer um picnic num jardim muito bonito com direito a rio e tudo.

Com gente gira a passear os cachorros!

Então, quando já não pensava em mais nada senão no meu caminho lindo, na música nos meus ouvidos e no prazer de conduzir, uma torre redonda despertou-me do meu piloto automático!

Puxa, uma torre redonda!

O que eu gosto daquelas torres tão típicas por aquelas terras!

As Irish round towers são aquela coisa que eu apenas vira em livros e sites da internet e eu tinha previsto ver algumas, mas não ali, não naquele dia e estava ali uma! Wow!

Em irlandês chamam-se “Cloigthithe” o que quer dizer “torre do sino” e são torres medievais, lá pelos séc. IX e XII, o que as leva para o românico e não se tem muita certeza da sua finalidade, se eram mesmo sineiras, ou refugio protetor ou de vigia contra os Vikings.

Uma coisa é certa, estão sempre junto de igrejas e muitas vezes a sua presença ajuda a descobrir igrejas desaparecidas, basta procurar perto da torre que estarão lá as fundações!

Adorei aquele momento inesperado, voltei a sentar-me numa tumba e apreciei o momento, com a minha motita lá ao fundo na estrada a olhar para mim…

Logo ali à frente fiz amizade com uns meninos muito engraçados!

Gostaram de mim, chegaram-se perto e tudo. Fiquei a saber que gostam de chocolate, era tudo o que eu tinha e dei-lhes um bocadinho!

Cheguei a Ballina sem vontade alguma de visitar cidades ou ver gente! Chovia, as pessoas estavam encolhidas nas entradas das lojas e eu segui com uma ou duas fotos gerais do rio e mais nada!

E fui embora para casa, que naquele dia era em Galway.

E foi o fim do 8º dia de viagem…

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4 thoughts on “10. Passeando por caminhos Celtas – o condado de Galway

  1. Gostei imenso.
    As duas rodas são abençoadas pelos anjos já que nos permitem ver estas fotos maravilhosos que a autora tira.
    Gracinda, os meus Parabéns!
    Continue e BOS CURVAS,
    lídia pires

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