30. Passeando por caminhos Celtas – Land’s End…até ao fim da terra!…

21 de agosto de 2014

Entre alguns erros frequentes que cometo estupidamente em viagem, está o esquecer-me de pensar em quilómetros quando leio milhas, e isso aconteceu-me naquele dia, tudo me pareceu mais perto do que realmente era, e não processei logo que as cerca de 500 milhas que faria naquele dia eram, na realidade, quase 800 km!

Claro que quando dei conta, nada mudou nos meus planos e continuei alegremente o meu caminho, apenas passando ao lado de algumas pequenas coisas que gostaria de ter visto, para poder chegar onde queria! Nada que me matasse de cansaço ou infelicidade, portanto, e fui até ao fim da terra, Land’s End!

Esta viagem ficaria marcada, entre outras coisas, pelos estádios que visitei e aqueles onde passei à porta, definitivamente! E o hostel onde eu pernoitava era bem em frente do estádio do Cardiff, o Milénium Stadium, da sala de estar eu podia ver a minha bonequinha em frente da janela, com o estádio do outro lado do rio Taff!

Ora naquele dia eu rumaria para sul, muito para sul, milhas e milhas a sul…

Sair de Cardiff em direcção a sul é aquela seca de dar uma grande volta. Em torno do recorte que a terra faz em torno do Bristol Chanel até ao river Severn, onde fica finalmente a primeira ponte para começar a descer o mapa!

E a estrada é uma seca, ao estilo de uma via rápida mas, na realidade, não se podem passar as 50 m/h (80km/h), o que torna a coisa lenta e morosa para caramba, dado que a estrada até é rápida e larga e a paisagem nada tem de inspirador!

Quando finalmente sai daquele carrossel chato, tratei rapidamente de me meter pelas ruelas do costume, aquelas que  parece que são de apenas um sentido mas na realidade são de dois!

Porque havia por ali uma vilazinha que eu queria visitar desde a minha ultima visita ao Reino Unido! Uma vila piscatória, por isso a costa seria o meu percurso de encanto!

E as perspectivas do mar ali de cima eram paradisíacas!

Clovelly é uma vilazinha piscatória no Devon.

Eu sabia que ela era encantadora, senão teria desistido de a visitar logo à chegada, ao perceber que tinha de pagar bilhete para entrar… mas além de eu saber que valeria a pena, as pessoas foram verdadeiramente simpáticas comigo, oferecendo-me espaço para deixar o capacete e o blusão e poder visitar tudo descontraidamente.

Então depois veio a descida, e que descida! A vilinha fica lá no fundo, depois de um percurso por ruelas a pique, pavimentadas em pedras redondas do mar, que nos fazem caminhar “ a travar” todo o tempo, sob o risco de escorregar e descer aquilo tudo de rabo pelo chão.

E tem degraus e nenhum veiculo ali pode circular, a não ser uma espécie de tobogãs, como na ilha da Madeira, que deslizam por ali abaixo com as cargas. Para as pessoas, só resta caminhar ou descer de burro! E chega-se ao ponto em que, numa curva apertada que passa por baixo de uma casa, se vê lá em baixo o portinho!

Parei e, não fosse o tempo fresco que por ali se fazia sentir, a sensação fazia lembrar a visita às Cinque Terre em Itália, no ano passado. Que bonito tudo por ali!

Tudo parece artificialmente perfeito ali, desde as casinhas, as ruelas, o porto e o próprio mar!

Pessoas de idade sofriam para chegar até ali, descendo com dificuldade a rua íngreme, pavimentada com pedras redondas que magoavam os pés!

Mas a descida valia a pena! Lá em baixo o ambiente era sereno, com as pessoas relaxadamente sentadas junto ao mar!

Do cais a perspetiva da vila, pelo monte acima, é vertiginosa e parte do casario não se pode mesmo ver cá de baixo!

Sentei-me empoleirada no mais alto degrau de pedra e tentei desenhar um pouco, mas havia muita gente atenta ao que eu estava a fazer, afinal ali no meio de toda a cor, eu parecia o zorro, toda vestida de preto, só me faltava a capa, e isso despertava as atenções!

Não estava calor nenhum, uns 17 ou 18 graus, mas aquela gente está habituada a aproveitar o sol e o bom tempo!

O pormenor da “areia” sempre me fascina! Olha-se para a praia e tem-se a sensação de se estar a olhar para a areia com uma grande lupa, pois ela não é mais que um mar de calhaus redondinhos!

E os visitantes enchiam o ambiente de cor…

Tinha de começar a subida… e isso já me estava a deixar cansada, mesmo antes de começar!

Dá-se a volta por trás das casas em frente à praia e volta-se a descer à areia, do outro lado!

E foi ali, depois da grande rampa de descida dos barcos, que eu me pus a fazer o meu montinho de pedras!

“Material” não faltava para fazer o montinho! Podia até decidir a sua dimensão pela escolha das pedrinhas apropriadas!

Havia lá outros já feitos, mas o meu ficou muito mais bonitinho!

E então, finalmente, comecei a subida! Não podia adiar mais se queria ir longe depois!

Os pormenores de cada casa eram encantadores!

Casinhas de brincar, era o que pareciam!

Como eu imaginara ao descer, a subida era vertiginosa e as casas vistas de baixo acentuavam essa sensação!

Tudo ali mereceu o bilhete que tive de pagar para visitar!

É um verdadeiro privilégio viver-se ali e vir-se à rua e ela ser assim!

Há ali hotéis, mas hospedar-me ali isso assustou-me um pouco! Como conseguiria eu hospedar-me numa vila onde a minha motita não poderia entrar?

E cá em cima, à saída da vila, encostei-me ao muro e pus-me a recuperar energias comendo amoras! Naquele país há tanta amora, coisa que adoro!

E então seguir para a Cornualha, o ultimo reduto celta do Reino Unido, para mim, que vinha de norte!

Eu tinha vontade de ir a Tintagel, uma outra pequena vila na costa atlântica, onde fica, segundo a lenda, o castelo do rei Artur! O caminho para lá valeu a pena, ruinhas estreitas, ladeadas de muros feitos de terra revestida a palha acabada de cortar e onde dois carros mal passavam um pelo outro!

Mas acabei por desistir de visitar o castelo! Ele ficava longe da vila e eu teria de caminhar até ele. A disposição para caminhar era pouca e o tempo menos ainda… por isso segui pelas ruelas até ao mar, numa praia de rocha dura, entre Treknow e Trebarwith. Em frente eu podia ver o Gull Rock, aquela pedrinha no meio do mar!

Eu precisava de tempo para ficar…

É naqueles momentos que eu tenho a sensação que nem que eu vivesse varias idas seguidas, nunca conseguiria ver e viver tudo o que queria… e eu tinha de ir embora, se queria ir até ao fim, naquele dia!

Voltei à estrada nacional, onde muitas coisas acontecem!

E depois de quilómetros de estrada, seguindo em filas de carros que seguiam para destinos no caminho do meu destino, cheguei!

“Cheguei a Land’s End ao anoitecer, o ponto mais ocidental da Cornualha e de toda a ilha. Um ponto mítico no Reino, usado frequentemente para definir eventos beneficentes com percursos entre os dois extremos, desde o norte – John O ‘Groats, até ao sul – Land’s End, de “end-to-end”. O céu era uma luta de nuvens que deixavam transparecer uma luminosidade quase surreal. Havia gente por ali, e festa e tudo, mas ninguém parecia reparar naquele céu deslumbrante! O fim da Inglaterra estava lindo!”

(in Passeando pela Vida – a página)

Ao longe podia ver a famosa “última casa da ilha”!

E junto a mim a famosa placa!

Não resisti, como não gosto de selfies, que deformam a cara toda à gente por serem tiradas de muito perto, depois de montes de pessoas me pedirem para lhes tirar fotos, pedi eu também que me tirassem uma foto a mim!

E captei uma imagem para fazer conjunto com a placa de John o’Groats!

Por ali não faltava festa, coisas para comprar e gente a passear, apesar do frio e do vento!

Também não faltavam registos de eventos passados, personalidades que foram até ali!

E o registo da distância entre Land’s End e a terra de cada viajante que ali se desloque! Fiz uma rodinha vermelha na foto…

… e ampliando a coisa, na rodinha vermelha que eu fiz na foto, lá estamos nós: Faro, Lisboa e Porto!

Captei uma última perspectiva do local, estava a noitecer e eu tinha de voltar a subir até Cardiff… O cenário tornou-se perfeito para mim, a placa, a ultima casa, as nuvens inspiradoras! Foi um bom momento, aquele em que me despedi!

Atravessei a festa de piratas que havia por lá,

E fui encontrar a minha bonequinha acompanhada por uma BMW americana de Oregon que, pelo aspeto e pelos autocolantes, já percorreu mais de meio planeta!

E tinha um autocolante de Portugal!
Uma pena não ter encontrado o condutor que, pelos 2 capacetes visíveis, estaria acompanhado com pendura! Provavelmente estariam hospedados no hotel, já não estava ninguém com aspeto de motard por ali em volta!

Para memória futura, a minha bonequinha e o Hotel Land’s End!

Mais à frente encontrei os vestígios celtas que faltavam para marcar a tradição!

Lá estavam as célebres cruzes!

E tinha quase 400 km para fazer até Cardiff, podia vê-los no GPS!

Cheguei de noite a casa, depois de algumas peripécias na estrada, que me deixaram a sensação de que receberia mais dia, menos dia uma multa de excesso de velocidade em casa… até hoje não chegou, mas ainda pode vir a caminho… ainda pode vir!

E foi o fim do 24º dia de viagem

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