Hoje, com a condição de trazer a assinatura de um grande artista, um par de botas vale o mesmo que Shakespear e tudo em conformidade: Uma BD que combina uma intriga palpitante com belas imagens, vale o mesmo que o Romano de Nabokol, o que as Lolitas têm vale o mesmo que a Lolita; um slogan publicitário eficaz, vale o mesmo que uma melodia de Ruke Ellington; um bom jogo de futebol vale o mesmo que um bailado de Pina Baush; um grande costureiro vale o mesmo que Manet, Picasso e Miguel Ângelo. O futebolista e o cenógrafo, o pintor e o costureiro, o escritor e o visualizador, são, com o mesmo direito CRIADORES!
A instauração desta equivalência, que se faz com base num ecletismo que se apoderou de toda a sociedade, conduz à situação inédita e paradoxal de se conceber a cultura, não como um instrumento de emancipação, mas como aquilo de que afinal é preciso libertar-se, num momento em que tudo se transforma em cultura. Só um gesto pode não o ser: o de recusar tal designação ao que quer que seja e então, quando o rio da cultura se torna ele mesmo cultura, a vida, como o pensamento, perde todo o significado…