6 de Abril de 2012
As nossas motitas dormiram em cima do passeio em frente ao hotel, com um guadião a tomar conta delas. Escusado será dizer que de dia haveria outro guardião a pedir mais uns dirhams por as guardar durante o dia! Naquele país a gente paga por tudo e para tudo!
Até para estacionar em cima do passeio nos pedem dinheiro!
As motos ficariam ali estacionadas durante a manhã, enquanto iriamos de carro até à Medina.
Passamos pelo Palácio Real, passamos sempre pois eles têm muito orgulho nele e, quando apanhamos um meio de transporte para ir a qualquer lado ali, levam-nos sempre às portas do palácio! Ainda o hei-de visitar por dentro!
Aquelas portas se fossem cá, já tinham sido roubadas pelo bronze!
E lá fomos visitar a Medina mais antiga do pais!
Não entramos pela porta grande, acho mesmo que entramos pela porta do cavalo!
As ruelas são estreitas e os transportes são feitos com burros, os maiores, ou asnos, os mais pequenitos. Sim por ali também circulam algumas mobiletes e pequenas scooters, mas nada como em Marrakech!
A Medina de Fes foi fundada no sec IX, o que faz uma quantidade de seculos! Há uma série de estatísticas sobre ela, sobre quantas ruas, quantas mesquitas e por aí fora…
A mim bastou-me o que vi! Descobri que lá há livros sobre o país em Português, coisa quase impossível de encontrar em Espanha, por exemplo, e a mais é o nosso país irmão!
Descobri que ali também se come caracóis, pelo menos há quem os arranje no meio da praça publica na Medina!
Pelo aspeto ranhoso que tinham acho que não seria capaz de os comer por muito bem cozinhados que fossem…
As portas decoradas e recortadas têm frequentemente um pau que une os dois lado, pouco acima do meio, o que quer dizer que se alguém vier a correr distraído, dará ali uma cambalhota monumental, pois vai-lhe bater com a testa!
A Medina de Fes não teve em mim o efeito que teve a de Marrakech… eu sei que muita coisa estava fechada por ser sexta-feira e porque tudo abre meio tarde naquele país, mas mesmo assim…
Havia ali uma desolação que não senti na outra, um abandono quase antipático…
Entrando por uma portinha insignificante, pelo meio de lojas de peles e subindo sempre…
O cheio forte recebia-nos e facilmente percebemos onde estávamos a chegar. Lá em cima, do terraço da loja, pudemos ver a Tannerie
“Nas Tanneries de Fes curte-se o couro de forma tradicional utilizando urina de gado e fezes de pomba. Ali se vive envolto num cheiro nauseabundo, trabalha-se com as mãos e pés nus, nos líquidos e tintos, e produzem-se os mais belos couros que se possa imaginar. Curiosamente estudos revelam que aqueles homens vivem uma vida saudável Estivemos lá apenas há 3 dias e o tempo de chuva que se vinha sentindo deve ter sido nosso amigo e o cheiro nem era muito forte! Imagino como seria se estivesse sol e calor!”
Acho que tivemos sorte por ter chovido naqueles dias, senão o cheiro teria sido bem mais nauseabundo, se estivesse sol, se estivesse calor…
Por outro lado não tivemos tanta sorte com a cor das curtições que estavam a fazer, só havia duas ou três cores!
Quem inventou de chamar curtir a dar um beijos ou apreciar musica, não faz ideia do cheiro que tem a curtição!
Estávamos lá pelo meio da Medina e podia-se ver por cima dos muros o “mundo lá fora” e imaginar o que seria viver perto daquele cheiro! Eu sei que numa Medina eles distinguem a zona habitacional da zona comercial, mas o cheiro não será capaz de o fazer!
Descemos dali pelo interior da loja, que é o único acesso. Tudo bem que o cheiro não era muito forte, mas era horrível na mesma!
Os gatos são habitantes bem-vindos na Medina, impedem que ela fique infestada de ratos!
No entanto os cães não são muito numerosos, porque devem afastar os gatos, digo eu! São animais impuros, em casa onde há cão não se pode rezar!
Há ruelas tão estreitas por ali que as mais fininhas chegam a ter apenas 50 cm! Coitado de quem é gordo!
Aquilo é mesmo labiríntico, mas continuo a achar que o nosso guia não nos mostrou o melhor!
As portas sempre me encantam, velhas mas decoradas e recortadas!
Depois da zona dos curtumes seguíamos pela Medina meio desértica
com recantos curiosos
Fes tem uma belíssima coleção de palácios catalogados com interesse histórico
Seguramente não fomos visitar os mais bonitos e os que vimos da porta mas não podíamos visitar é que eu queria ver!
A confusão de uma Medina pode por uma pessoa louca, mas o silêncio e o vazio também é triste!
Então encontramos uma tinturaria artesanal como eu nunca vira na vida! Fiquei impressionada com o que se pode fazer num espaço tão exíguo!
Os alunos estavam mesmo interessados, talvez inspirados pelo Rui, um especialista na matéria!
Mais à frente, no meio da imundice, uma fonte no chão!
O ar de espanto do João a olhar para a água e a comentar como era possível no meio daquilo tudo a agua ser tão transparente! Presumo que eles terão nascentes de água límpida, digo eu!
Um velhinho e o seu burro proporcionaram-me uma das fotografias mais interessantes desta visita!
Aquela era a zona dos tintos e dos tingimentos.
Então chegamos a um espaço arejado, depois de tanto aperto nas ruínhas e ruelas da Medina. De repente o espaço aberto parecia uma grande praça!
E é nesta praça que fica a universidade mais antiga do mundo árabe, a universidade Kairaouine.
A escadaria azul da Biblioteca Kairaouine, que apenas os muçulmanos podem subir! Uma chatice, o que eu queria mesmo era ir ver!
Depois vieram os tapetes. Graças a Deus lojas a gente pode visitar todas…
Mas esta loja eu gostei de visitar!
Ali havia uma infinidade de belíssimos tapetes de lã que custam uma fortuna. “Os tapetes marroquinos são uma arte ancestral que vem desde o seculo XIII e desde sempre até hoje, continuam a ser carregados de significado para qualquer nível de sociedade.”
São frequentemente oferecidos como dote ou grande prenda e usados em tudo e em todo o lado!
E do topo da loja pudemos ver a Medina!
Vimos a mesquita Kairaouine aos nossos pés!
E o mar de antenas parabólicas bem democraticamente distribuídas em todos os telhados!
(continua)
Olá Gracinda, parabens por mais este pedaço bem passado aqui no teu blog. Mais um bom relato e boas fotografias!
Aguardo pelo resto da crónica. 😉
Beijinho
Gostei particularmente da plantação de antenas!!!
Na coisa da curtição… terei mesmo de mudar o meu vocabulário… fiquei a pensar: Na India e outros países acusam as tinturarias e tratamentos de peles da curta vida dos trabalhadores… aí dizem que dá vida?!?!
Dizem que os métodos utilizados são naturais! Se calhar são diferentes dos utilizados na India, não?
Aqui não dizem que dá vida, dizem que os trabalhadores são saudaveis! 😀