77 – Passeando até à Suíça 2012 – A França – Lourdes, Espanha, Avis… FIM!

6 de Setembro de 2012

Era o dia de ir para casa… para minha casa mesmo! Não uma casa numa cidade qualquer, mas sim a minha…

Eu não queria!

Eu queria continuar, dar mais umas voltas, visitar mais uma infinidade de cidades aldeias por todo o lado, menos ir já para casa! Mas não havia alternativa, amanhã era dia de me apresentar na escola para a tal reunião…

Depois havia o meu moçoilo que me deixa sempre saudades e me ajuda a querer voltar sem fazer birras dentro de mim. Decidi que não prolongaria mais a agonia, iria passar em Lourdes, dar uma volta por lá, já que estava apenas a uns escassos 40km, e depois seguiria para casa sem parar em lado nenhum em especial! Se é para acabar que acabe!

Este foi o dia em que a minha maquina fotográfica fez algumas habilidades curiosas de que só me dei conta depois de umas quantas fotos! Uma delas que já vinha fazendo e que eu desconhecia em outras maquinas que tive, eram uma espécie de bolas vermelhas, quando o sol se refletia na lente! Um efeito curioso a que não acho muita graça!

Eu não uso despertador em férias. É coisa que só uso para ir trabalhar, pois há uma obrigação a cumprir! Ora viajar é tudo menos uma obrigação, por isso acordo quando acordar e saio quando estiver pronta! A verdade é que às 7.20h estava em Lourdes! (só sei a hora porque a foto regista a hora a que foi tirada! 😀 )

Não faltava gente por lá e foi da maneira que consegui ver os espaços religiosos por dentro, pois normalmente está tudo fechado, ou reservado, ou em oração!

Na realidade ali se juntam, num único conjunto, três construções próximas da Gruta de Lourdes: a Basílica da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, a Basílica de Nossa Senhora do Rosário e a da Cripta.

É muito agradável visitar um recinto destes cedinho da manhã, como visitar Fátima! Sem a enchente, sem confusões nem empurrões, nem filas para sequer tirar um copo de água da fonte!

Eu não sou uma pessoa particularmente religiosa mas a confusão num espaço religioso, numa catedral, num recinto, sempre me deixa estupefacta! Vamos visitar um lugar sagrado em magotes barulhentos e rudes, com miúdos irrequietos? Por isso aprecio o vazio e o silêncio. Deixem-me viver o espaço em paz!

A Notre-Dame-de-Lourdes apareceu ali 18 vezes a Bernadette Soubirous em 1858, na gruta de Massabielle, na margem do rio Gave de Pau.

A Cripta situa-se no Rochedo de Massabielle, por cima da gruta, entre a Basílica Superior e a Basílica do Rosário. A Cripta constitui o primeiro santuário e foi inaugurada em 1866 com capacidade de 120 lugares, embora a gente olhe e pareça mais pequena!

Os corredores estão forrados com lapides de agradecimentos de fieis de todo o mundo. Chega a ser quase deprimente!

Capela de Santa Bernadette há um relicário que não entendi que relíquias contem já que o corpo da santa é um dos corpos incorruptos mais famosos, por se manter intacto e em exposição noutro local, em Nevers, onde ela faleceu!

E então, quando entrei na Basilique de l’Immaculée Conception a minha máquina começou a alucinar e a fazer habilidades que eu ainda lhe desconhecia!

Como eu só olho para o enquadramento quando o faço e depois não confirmo como ficou, demorei um bom bocado a perceber que ela estava alucinada!

Devo confessar que não aprecio estes efeitos sobre as fotos, mas tive de os gramar pois foi o que ela trouxe para mim do trabalho que eu fiz! Por outro lado algumas fotos nem ficaram mal de todo, como esta:

Segui caminho por caminhos já percorridos na ida, no início da viagem. Só os voltei a percorrer porque vira um santuário que me despertara a atenção e já que estava por ali fui investigar. Eram os santuários de Bétharram, onde fica o de Saint Michel Garicïts, aqui registado em mais uma foto alucinada!

Achei piada que, enquanto passei ali, segui viagem e voltei, tinham feito obras na rua em frente! Inacreditável o que se passa num mês!

E foi então que eu olhei bem para a bosta de fotos que a máquina estava a fazer e parei para observar as suas funções. Ui, são tantas que demorei para caramba a descobrir onde tinha carregado para ela alucinar! Voltou ao normal! Puxa, que descanso para os olhinhos!

Um senhor muito simpático achou curiosa a minha curiosidade e fez-me visita guiada ao espaço religioso e contou-me a história do santo!

Este santo, Saint Michel Garicïts, um padre Basco, despertou uma grande simpatia em mim!

«“O que fez o seu santo? ” – perguntam às vezes os visitantes.  É difícil de responder. Ele não fez nada aparentemente brilhante, pelo menos, essas ações brilhantes na fronteira entre o escândalo e o jornalisticamente importante. Mas ele fez muito, para que possamos responder em poucas palavras a uma pergunta dessas.»
Viveu no fim do século XVIII e princípio do séc. XIX e foi contemporâneo das aparições de Lourdes.

Ele dizia que « L’éducation intellectuelle, morale et religieuse, est l’œuvre humaine la plus haute qui se puisse faire.» (A educação intelectual, moral e religiosa, é a mais elevada obra humana que se pode realizar.) e criou escolas e colégios por toda a França, depois pela Europa e do outro lado do Atlântico, na Argentina e no Uruguai. Hoje a sua obra existe como uma fundação.

E a máquina voltou a alucinar!

Ainda por cima sem que eu desse por ela!

Não cheguei a entender como consegui eu, apenas ao pegar-lhe, faze-la entrar numa função que para desativar era preciso entrar no menu e procurar clicando aqui e ali!

Mas foi o que tive de voltar a fazer para ela desalucinar!

Atravessei os Pirenéus passando por alguns pequenos cols, como este Col de Houratate, que dá acesso ao Col de Labays que dá acesso ao de Pierre St Martin. Estradinhas adoráveis com paisagens inesquecíveis…

Cada paisagem era uma despedida, cada foto uma memória para ajudar a passar o inverno que se aproximava…

Ali começava a descer para Espanha onde não deveria parar para nada… não me apetecia de todo voltar a parar…

Navarra à vista, até já Portugal!

Não parei mesmo, apenas o fiz para pôr gasolina. Se tinha de acabar a viagem que acabasse, de nada servia prolongar a “agonia”. Cheguei a casa cedo, antes do meu moçoilo voltar do trabalho.

Desfiz a bagagem, que nunca é muita, estendi-me no sofá cheia de horizonte na memória.

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7 de Setembro de 2012
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No dia seguinte tive a minha reunião! Voltei a casa, pus meia dúzia de coisas na mala e parti para Avis.

Estava a decorrer o Travel Event promovido pela Touratech Portugal, um já tradicional encontro de amigos onde gosto de estar.

A minha Magnífica só ali denunciou o seu estado escacado, espantando os olhos a quem cruzou com ela, parada à “porta” do evento. Muita gente pensou que eu tinha caído em viagem, outros pensaram que eu tinha caído naquele dia…

Encontrei os amigos de sempre, mais os que vejo muito pouco, ainda os que só vejo neste evento e ainda os que conheci pela primeira vez! Só por isso já valeu a pena juntar mais uns 700 quilómetros à já longa quilometragem que acumulara na viagem!

A noite seguiu-se ao dia, a patuscada seguiu-se ao jantar, a cavaqueira e a boa disposição seguiu-se às palestras e ninguém diria que eu tinha tanta estrada em cima de mim!

Momentos alegres com gente simpática de quem eu já tinha saudades!

O grande viajante João Luís que ainda me há-de ensinar a abrir uma garrafa de cerveja com um chinelo de borracha!

E não é que ele as abre umas atras das outras sem problema! Faz jeito tal técnica em viagem, embora o saca-rolhas ande sempre no tablier da moto!

Ainda deu uma vaidosa voltinha com a minha camisola Motoólica viajante!

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8 de Setembro de 2012
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No dia seguinte tenho de confessar que dormi até às tantas!

É curioso como o corpo sabe que já não estou em viagem e aproveita para dormir para a mundial! Em viagem nem despertador é preciso, às 7.00 da manhã acordo e pronto não há mais nada para dormir!

Aquele era o dia mais interessante para mim, pois era o dia das palestras que me despertariam mais, entre elas a do João Luís. Por isso passei o dia a “ dar água sem caneco”, a conviver e a encher-me de comida “portuga”, junto do caracol dos Correias.

Eu nunca experimento motas no Travel Event, por muito que me apeteça e elas me “pisquem o olho”. Chego sempre cansada e acho que os meus reflexos e força podem não estar no seu melhor numa eventualidade, e deixar cair uma moto que não é minha. Na minha é como jogar em casa, venho viciada nela, sabemo-nos muito bem adaptar uma à outra! Mas nas novas e desconhecidas, não arrisco. Tenho um ano inteiro para fazer test-drives.

Por isso passo sempre o tempo por ali, a comer, a beber e a apreciar a paisagem e a presença dos amigos.

E chegou a noite, e chegou a palestra do João Luís!

A sua conversa não interessa e as suas histórias não prendem a atenção de ninguém, como se pode ver pelas fotos!

Ele fica ali a falar…

E as pessoas aqui, simplesmente hipnotizadas a ouvir! 😀

E claro, a claque M&D (Motos e Destinos) muito atenta também!

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9 de Setembro de 2012
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Chegou a última manhã longe de casa.

O amigo Rui Baltazar, organizador do Travel, fez mais uma vez o favor de me arranjar uma cama para eu descansar os ossos, no bungalow do costume, onde eu fiquei com a Magnífica à porta.

A minha menina, a minha grande amiga que estava a clamar por paz, por repouso e cuidados de saúde e beleza, rápidos e profundos…

Despedi-me de tudo e parti de novo, pela última vez, depois de 40 dias longe de casa!

Um amigo me acompanhou e é sempre curioso viajar com alguém depois de tanto tempo por conta própria!

O Filipe Oliveira e a sua GSA foram uma companhia simpática, até ao “porquinho” da Mealhada que despertou de repente uma saudade em mim!

E a minha Magnifica aparece finalmente de frente numa foto, quando o mundo já sabia que ela estava partida. Já nem custava tanto ver as suas feridas, porque em 40 dias eu tinha pensado o suficiente na decisão a tomar.

Não iria gastar nem mais um euro nela!

Teria revisão, teria pneus, teria arranjo de carenagens e teria no fim uma moto com os mesmos 261.000 km…

Por isso eu iria tratar de comprar uma moto nova, mesmo antes de precisar de fazer uma revisão, e dar a Magnifica à troca. Estava decidido.

Por isso 5 dias depois de chegar de viagem eu tinha a sua sucessora nas mãos, com zero quilómetros e muitos quilómetros de vontade! A sua matrícula xx-NF-xx garantiu-lhe o nome, dado que começaram a dizer que eu tinha uma Ninfa! Longa vida para ela…

E cheguei a casa depois de:

40 dias
18.660 km
14.500 fotos
933 litros de gasolina
1.380.84 € em gasolina
620 € em dormidas

Despesa total: 2.550.19 €

O que me faltou?
Um pouco mais de confiança na motita que apesar de tudo me levou e me trouxe em paz!

O que sobrou?
Beleza, espanto, descoberta…

O que valeu a pena?
Não ter desistido de partir, apesar de todos os azares acumulados!

O que teria dispensado?
Todos os pequenos percalços que me foram acompanhando e que nem relatei todos, pois já parecia o rosário das aflições!

O que me apetece dizer ainda?
Quero voltar a partir!

Beijucas e até para o ano!

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FIM
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6 thoughts on “77 – Passeando até à Suíça 2012 – A França – Lourdes, Espanha, Avis… FIM!

  1. Olá Gracinda!
    Foi um prazer poder viajar contigo ao longo destes 40 dias de sonho!
    Cá espero pelas próximas viagens e desejo o melhor para ti e tua companheira Ninfa!
    Que desfrutes como bem sabes fazer 😀 e possas partilhar as tuas fantásticas memórias e fotografias cheias de beleza e encanto!

    Um muito Obrigada amiga! Tudo de Bom! 🙂
    Beijinho

  2. Olá Gracinda, saudações motard.
    😉
    Descobri o seu blog, quando buscava no google relatos de viagens à Escócia.
    Garanto-lhe que fiquei maravilhado com as descrições e as fotos que publica, fruto talvez, desse seu espírito de aventura e desejo de respirar o mundo, sentada no selim da bela ninfa que a transporta.
    Há muito que sonho com uma viagem pela Escócia, de moto. Desde muito jóvem que comecei a ter motos, digo no plural, porque até à última, possuí no total, 23. (sim uma loucura, eu sei)
    No entanto, apesar da vontade imensa, nunca fui além das nossas fronteiras. Agora, que troquei a moto por uma rinite crónica, estou a programar a aquisição de uma autocaravana e para começar, a tal viágem à Escócia.
    A sua crónica de viágem, irá ser-me de grande utilidade.
    Aproveito para lhe perguntar, se sabe como funcionam as carreiras de barco, que atravessam de França para o Reino Unido. Se é necessário adquirir a passagem com antecedência, ou se poderei comprar à chegada. (imagino que o funcionamento não será propriamente como as carreiras da Praça do Comércio para Cacilhas) 😉
    Se me puder fornecer estes elementos, ficar-lhe-ei muito grato.
    Até breve, e os votos sinceros de grandes viagens!

    • Olá!
      Obrigada pela sua visita e pelas suas palavras!
      A Escócia é realmente um destino a não perder e, de preferência, para passar por lá dias suficientes para se viver todo o espaço e encontrar dias de sol, pois quando se vai de passagem pode não se ter a sorte de ter sequer visibilidade!

      A passagem de Calais para Dover, foi a que fiz, pode-se comprar lá, numa bilheteira e sim, é quase como comprar uma passagem da Praça do Comércio para Cacilhas! O que fica é mais barato faze-lo via internet! Mas para quem não tem certezas de datas não há problema, compra lá mesmo no dia!

      Há vários sites na internet onde pode fazer reserva se assim o desejar:

      http://www.aferry.com/?gclid=CJjN9tyFnbUCFYLHtAodanMA3A

      http://www.directferries.pt/

      Boa viagem até à Escócia, um dos países mais fascinantes que conheci! Se puder, passe na Irlanda também, eu não consegui lá ir porque a moto avariou, mas essa visita está em agenda!

      Beijucas

  3. Bom dia Gracinda.
    Agradeço-lhe imenso as informações dos sites, que me forneceu.
    Já pesquisei. Não sabia que existiam carreiras de Espanha para Plymouth, mas vou optar por Calais, porque o tempo de viagem é menor e existem mais carreiras diárias.
    Cumprimentos,
    Frederico

    • Olá!
      Se for fazendo um percurso turístico até Calais, não falta o que ver, pois a França é espantosa! Se tiver pouco tempo, vale a pena ir direto do norte de Espanha para o Reino Unido, pois ganha tempo e o dinheiro da gasolina, que não se gasta, ajuda a pagar a passagem!

      • Foi bem lembrado!
        Há diferentes factores a ter em consideração, um deles o consumo de combustível e o outro, o tempo que demoro a percorrer por terra.
        Colocou-me perante uma equação que terei de resolver, ponderando.
        Mas como tenciono ir em Agosto, vou ter tempo para optar (por vezes, quando viajo com um roteiro pré-definido, acabo por alterar tudo conforme vou avançando na viágem, mas esta, não me parece que seja dada a “invenções”) 😉
        Ainda não possuo a experiência de viajar em autocaravana, mas tanto quanto julgo saber, são “bichinhos” que sofrem de gula. 😉
        Vou ter também de colher informações precisas acerca do trânsito e da localizaçã de parques de campismo, assim como da permissão ou interdição de circular em alguns locais. Viajar de moto dá-nos uma quase total liberdade, ao passo que na autocaravana devem existir um monte de restrições. Assim como o circular em auto-estradas. Estive a ver o mapa e notei que identificam estradas com a designação “M” seguida do nº. Não sei se estão sujeitas ao pagamento de portagem. Não sei também se as portagens podem ser pagas na altura, ou se é necessário possuir um pré-pago.
        Estou a pensar também adquirir uma scooter para transportar na autocaravana e assim poder conhecer locais de mais difícil acesso.
        Vamos ver, vou ter de estudar muito bem a viagem e programa-la com o máximo de conhecimento.
        Obrigado pelas ajudas, Gracinda!
        😉

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