29 de agosto de 2014
Um belo sol me despertou no dia seguinte! Que bom, para cobrir grandes distâncias a companhia do sol é sempre bem-vinda!
A casa onde eu estava hospedada estava em obras e fui acordada por alguém que esgravatava na parede do lado de fora.
Espreitei e aquilo deu quase uma cena tipo Romeu e Julieta, com o rapaz no andaime a conversar comigo na janela. Simpático, cobriu-se de desculpas por me ter acordado.
“Sem problema senhor, eu tenho mesmo de partir!”
Porque tem de ser tão perturbador o regresso a casa?
Porque não hei-de ser como toda a gente que, a certo momento, está farto de viajar e quer voltar para o ninho?
É claro que eu gosto de voltar a casa mas, a consciência de tudo o que eu gostaria de ver ainda é tão grande, que eu quero sempre continuar mais um pouco!
Naquele dia eu iria apenas descer a França, sem mais nada para fazer ou ver, apenas descer… e não é fácil descer um pais lindíssimo sem parar a cada quilómetro para ver mais um pouco! Por isso eu pus o meu GPS a pensar por mim, a levar-me por estradas secundárias, evitando tudo o que pudesse perturbar o meu caminho, e desci!
Voltei a passar na igreja de Pipriac, por uma questão de, já que não vou ver nada no caminho ao menos vejo a igreja da terrinha!
E aquela visita deu conversa para caramba com os senhores das lojas ali perto a fazerem-me imensas perguntas e a tirarem fotos à minha moto.
E então seguiu-se um percurso cheio de tudo e de coisa nenhuma!
Por entre searas e vinhas, campos e planícies adornadas com nuvens tão inspiradoras que nada mais me apetecia fazer senão conduzir, deixando a moto deslizar em movimento fluido e absorver tudo o que a minha memória conseguisse, porque o que via seria registado no meu mundo das sensações, não no das recordações históricas!
“Paisagem inspiradora é uma estrada cheia de possibilidades, de descobertas para fazer ou de sensações para despertar! E eu queria ter uma estrada no meu caminho, para fazer de novo amanhã, voltar a sentir que as minhas rodas me levam por onde eu quiser, a mim e aos meus sonhos. E quanto tudo parece tão longe e impossível, há sempre uma imagem gravada de espanto na minha memória, quando os céus me inspiraram e o horizonte me acolheu…”
(in Passeando pela vida – a página)
Cognac, quando as paisagens deixam de ser apenas searas e passam a ser também vinhas….
É tão inspirador viajar com paisagens deslumbrantes e céus impressionantes…
Entrei em Cognac, estava na hora de comer qualquer coisa e, para minha alegria, havia no centro um stand Honda!
A minha bonequinha já levava mais de 12.000 km de viagem sem nada pedir para além de gasolina mas, como já é hábito em todas as viagens que faço, uma luz vinha fundida há uma série de quilómetros!
Eu tenho de aprender de uma vez a trocar uma lâmpada, pois é coisa fácil e necessária, já que há sempre uma que me abandona pelo caminho!
“Como sempre a minha bonequinha ficou ceguinha de um olho há uma série de dias! Isso sempre me aconteceu em todas as motos e em todas as viagens! Mas desde que na Áustria fui a um concessionário Suzuki e quase me desmontaram a frente da moto, demoraram 2 horas a trocar a lâmpada, paguei 36€ e ainda levei o recado de que é muito difícil mudar uma lâmpada na minha moto… desta vez esperei por uma oficina Honda!
10 minutos e 6€ depois estava ela toda alegre e radiosa, com uma olhadela às pastilhas, ao óleo e à pressão dos pneus!
Honda é Honda, não há como a casa mãe! <3”
(escrevia eu no meu mural do Facebook)
A simpatia e prontidão com que fui atendida agradou-me bastante, um respeito por quem viaja e tem de continuar o seu caminho, sem que com isso me fizessem pagar excessivamente, como uma taxa de urgência! Apreciei muito!
Gosto de ver a minha bonequinha no meio de outras motos e mesmo assim acha-la a mais linda!
Linda!
E estava na hora de partir de novo…
e vieram mais vinhas, mais planícies, mais searas, até eu chegar a Dax…
Cheguei ao local onde ficaria hospedada e não me apeteceu sair mais.
Eu conheço a sensação de fim, de “não me apetece ver mais senão sinto mais que está a acabar” e foi o que me aconteceu ali. Fechei-me no quarto como uma acção de protesto contra mim mesma, contra a inevitabilidade da vida, contra a sensação de “tenho de amuar e mainada!”
E foi o fim do 32 dia de viagem…
Textos e fotos sempre excelentes e que dão gosto!
Obrigada! 🙂