1 de Setembro de 2014
E este era o meu ultimo dia de viagem, o dia em que eu iria embora, aquele em que a minha casa, ao fim do dia, seria mesmo em casa.
Há sempre uma vontade de voltar e rever o meu canto, o meu moçoilo, parar e nada fazer para além de apreciar o estar! Mas há sempre também uma enorme vontade de continuar, de seguir explorando, descobrindo. É tão difícil lidar com a sensação de urgência, de necessidade de continuar fora do banal e da rotina do dia-a-dia…
O meu mapa seria o mais simples e menos criativo, como um ponto final pode ser…
Estava fresquinho ali em cima, mas eu tomei o pequeno almoço cá fora, com a minha motita como companhia e a paisagem inspiradora a alegrar a minha despedida!
Sotres estava particularmente solarenga e colorida, o que era uma inspiração para a minha ultima passeata por aqueles montes!
E de novo a estrada serpenteante, desde o topo dos montes, me fez querer continuar a conduzir eternamente pela montanha.
Cabrales lá ao fundo…
Mas eu não iria embora já, eu queria subir até Bulnes antes de partir e, demorasse quanto demorasse, eu iria faze-lo!
Antes de ser construído o funicular, o acesso à aldeia lá em cima era difícil, por caminhos irregulares e nem sempre acessíveis. Mas agora tudo é simples!
Entra-se naquela espécie de autocarro em degraus…
E sai-se lá em cima, junto da aldeia!
Uma pequena placa anuncia o nosso ponto de chegada!
“Bulnes (La Villa), como aparece designada na placa que nos recebe quando chegados ao pueblo vindos do funicular, é uma aldeia encantadora a mais de 600 metros do nível do mar, com a montanha gigantesca a servir de paisagem e protecção! E, para lá da montanha que fica mesmo em cima, fica o Naranjo de Bulnes, imponente, como uma entidade que tudo vê, tudo observa, lá em cima. Este pequeno pueblo já foi o mais isolado de toda a Espanha mas agora conta com o funicular que se tornou uma ponte tão pratica e bem-vinda, para turistas, alpinistas e habitantes. E foi nele que eu subi até ao paraíso. A calma e a paz tomou conta de mim mal cheguei lá acima, e a vontade era de ficar, caminhar, escrever, desenhar… fechar os olhos e reter para sempre aquela sensação. Subi um pouco o monte, nunca poderia ir até ao Naranjo, mas podia ficar lá em cima mais um pouco, no meio de vacas e riachos e ruídos feitos de silencio como só a natureza sabe fazer…”
(in Passeando pela vida – a página)
A aldeia é um encanto, com ruinhas estreitinhas e casinhas que parecem de brincar!
Passeei por ali sem qualquer pressa, afinal as coisas bonitas não têm tempo para ser apreciadas!
Pormenores que enchem de encanto o que já é encantador!
Tem ali mesmo, na berma do riacho, um restaurante lindo e eu decidi que iria almoçar ali. Seria o meu local de despedida da aldeia e da viagem, depois eu iria para casa contente e com uma belíssima memória!
Mas antes eu iria subir o monte!
Não muito, mas iria subir enquanto me apetecesse subir, para ver e ficar um pouco pelo caminho a apreciar o momento!
As perspectivas da aldeia eram sempre encantadoras, sobretudo quando me afastava e ela ia ficando para trás… lá para baixo…
O caminho é empedrado, o que facilita a sua descoberta no meio da vegetação e a sua escalada.
Mas à medida que ia subindo ele ia ficando cada vez mais torto e escavacado! Alguém andava a revirar as pedras que o calcetavam!
A subida ingreme valia a pena, pela paisagem que ia proporcionando e pela paz do silêncio que me permitia experimentar.
Sentava-me na berma do caminho e olhava em volta. Havia casitas pela encosta, refúgios ou apenas casebres de armazenamento de materiais, que tornavam o enquadramento perfeito!
Fiz zoom e percebi que eram mesmo casinhas habitadas!
Eu não tinha água nos meus pinceis de reservatório, uma falha minha que não os enchera lá em baixo, mas podia ouvir o restolhar da água por ali. Se a água fosse limpa poderia enche-los com água da montanha!
Lá estava ela! Não era muita, podia-se ver que o pequeno lago habitualmente suportaria muito mais água, mas o verão ia adiantado por isso já se perdera muita!
E sim, era bem limpa e sem impurezas! Eu podia encher os meus pinceis sem temer que alguma poeira entupisse a passagem da água do reservatório para o pincel em si!
Ora com os pinceis prontos já podia fazer umas aguarelas simples por ali!
Então eu vi de novo o Naranjo!
E enquanto olhava para ele um avião completou o quadro com uma linha branca. Que coisa bonita!
O pico é verdadeiramente impressionante!
Ouvia chocalhar perto de mim, no meio do silêncio da montanha, uma vaquinha pastava placidamente.
Vaquinhas de alta montanha que escalam os caminhos e lhes reviram as pedras! Entendi de repente quem dava cabo do caminho que eu vinha percorrendo!
Ouviam-se chocalhos mais em baixo e mais alem, havia vacas a pastar por ali sem que eu entendesse de onde vinham ou para onde iam!
E as suas pegadas de repente tornavam-se tão obvias por entre as pedras do caminho!
Comecei a descida, não tinha interesse em ir muito mais longe pois não iria caminhar até ao pico nem voltaria para Sotres por ali. Eu iria voltar a Bulnes, comer e descer o funicular!
Varias grupos de pessoas começavam a subir quando eu estava já a descer. Deviam ficar intrigados questionando-se de onde vinha eu de chapéu e blusão debaixo do braço, quando todos os que encontrei subindo iam equipados com roupas próprias para caminhar!
E, tal como decidira à chegada, fui almoçar, tudo aquilo a que tenho direito por aquelas terras, onde se come tão bem!
As mesas na esplanada são encantadoras, com flores por perto e o riacho a correr ao lado.
Havia gente do outro lado a comer sandes e eu não tive inveja nenhuma delas, pois o meu menu prometia ser bom!
A minha ultima refeição de viagem era composta por entradas de patê com tostas e vinho! Trouxeram-me uma garrafa inteira de vinho só para mim!!!
Depois uma bela fabada asturiana!
E foi só aí que me lembrei de fazer uma (tão na moda) selfie!
A seguir veio carne com batatas. Valha-me Deus, aquela gente não parava de me trazer comida!
E por fim ainda tive direito a sobremesa e café e não me apetecia andar, só rolar…
Não sei quanto tempo fiquei ali a curtir uma barriga cheia de comida, até que me obriguei a levantar da mesa e ir embora!
O funicular fica por ali, no meio dos montes…
E desci sozinha, àquela hora as pessoas queriam subir, não descer!
E fiz-me à estrada, sem vontade de parar em lado nenhum!
Afinal se eu tinha de voltar para casa, que fosse logo, não valeria a pena andar a catar as proximidades, pois essas eu cato a qualquer momento!
Cheguei a casa cedo, o moçoilo esperava-me na garagem para me dar as boas-vindas e me tirar as ultimas fotos da viagem.
A minha motita, mais uma vez, portou-se muito bem nesta viagem, sempre fiel e amiga, agora ficaria sem malas a dormir na sua casa depois de mais de um mês de estrada.
E eu cheguei ao meu escritório a tempo de ver o pôr-do-sol na minha janela…
E foi o fim do ultimo dia de viagem…
Cheguei a casa depois de:
34 dias
16.500 km
15.600 fotos
850 litros de gasolina
1.250.50 € em gasolina
629 € em dormidas
244€ Ferrys
Despesa total: 2.615.48 €
O que me faltou?
Um pouco mais de tempo para explorar tanta beleza que tive de deixar para trás!
O que sobrou?
Encantamento ao percorrer terras antigas cheias de lendas e vestígios de um passado que me fascina, como é o celta.
O que valeu a pena?
Tudo valeu a pena, porque depois das chuva os céus são lindos e límpidos e as nuvens da Escócia contrastam de uma forma deslumbrante esse azul…
O que teria dispensado?
Alguns momentos de frustração que a chuva provocou, quando começou a interferir com o mp3 e com a maquina fotográfica!
O que me apetece dizer ainda?
Esta viagem foi deslumbrante e variada o suficiente para ter deixado uma sensação de que ficou muito para ver!
Adeus e até ao meu próximo regresso à estrada!
Admiro te, adorava fazer te companhia Gracinda, um dia…
Obrigada! 😀
Fantástica viagem!!
Obrigada por esta viagem nas tuas memórias!
Até já.. espero que seja para breve o inicio de mais um regresso à estrada!
E que o faças muitas vezes ao longo da tua vida!
Beijinho
Obrigada! 😀
Quem lê estas crónicas, sente-se companheiro das tuas viagens.
Obrigado por nos levares à pendura nas tuas deambulações.
Bjitos
Sérgio Sousa
Obrigada!
Também já fui a Bulnes, pena foi o preço do funicular ser um pouco caro, mas de resto as vistas compensam. 🙂 É sempre um prazer ler as tuas viagens. 🙂
Obrigada!
Quanto ao Funicular, mais vale pagar que escalar! eheheheh