15 de agosto de 2017
Finalmente a chuva apanhara-me!
Aos dias que eu estava à espera de a encontrar e lá estava ela a lixar-me o dia todo! Afinal Bergen é a mais chuvosa a cidade da Europa onde, segundo estatísticas, chove em 300 por ano!
Enfim, só me restava passear pela bela cidade de Begen, já que visibilidade seria pouca para andar a passear de moto em busca de paisagens meio invisíveis no meio do temporal. Uma pena!
Dizem que Bergen é a cidade mais bonita da Noruega e deverá ser também a mais turística! Pelo menos a sensação era de que toda a gente que visitava o país por aqueles dias estava concentrada lá!
E o quarteirão de Bryggen é o mais antigo e típico da cidade, e estava na maior confusão de gente a fotografar, explorar e preencher todos os pequenos recantos.
As casas de madeira, pintadas em cores fortes, são um encanto. Mantêm-se até hoje como testemunhas únicas de um dos mais antigos grandes portos comerciais do Norte da Europa.
Mesmo com a confusão de gente e o tempo húmido fiz um registo ou dois, enquanto me ia apercebendo que a quantidade de gente por ali só iria aumentando e nunca diminuindo!
Por entre as casinhas os caminhos parecem corredores do tempo que nos levam para trás uns 3 ou 4 séculos.
Os telhados quase se tocam, lá no topo, e tudo é de madeira antiga em redor.
As velhas casas do cais forma convertidas em lojas o que permite visita-las por dentro ou, pelo menos, espreitar pelas janelas. Passeia-se pelos caminhos de madeira como se passeia por ume museu ao ar livre!
Depois há os pequenos largos calcetados que me faziam caminhar mais à vontade, sem aquela sensação de estar a pisar madeira antiga que, inevitavelmente, se vai desgastando com tanto pisar.
Atrás das casas de madeira ficam os antigos armazéns.
E anda-se por todo o pado explorando corredores, subindo escadas, percorrendo balcões e alpendres.
Tão difícil encontrar um recanto sem ninguém por ali e tão bonitos são todos eles, assim, vazios!
A multidão adensara-se e eu não tinha mais vontade de andar por ali a acotovelar-me como tanta gente. Acho que o mau tempo fazia com que as pessoas se amontoassem pelas ruelas, num refugio encantador que se tornava demasiado estreito e pequeno para tanta gente, e assim as coisas perdem a piada e tornam-se desconfortáveis, por isso com imensa pena afastei-me.
Fui caminhando por ali, tentando ver as coisas de outros ângulos onde ninguém se metia. E sim, por ali tudo é bonito!
Foi quando consegui apanhar uma moto de instrução mais em pormenor. Eu já vira varias, mas não conseguira ainda confirmar alguns pormenores curiosos, como o guiador na parte traseira da moto, para um instrutor poder controla-la a partir do lugar do pendura! Fantástico!
Ainda dei uma vista de olhos à igreja, mas desisti logo a seguir! Mau tempo e milhares de pessoas em todo o lado estava a tirar-me a vontade de andar por ali, como me passeasse no meio de tanta gente! Não iria fazer fila para subir no funicular até ao fiord, não iria fazer fila par fortaleza nem igreja!
De repente só me apetecia sair dali e voltar a encontrar-me com o mar e com os lagos. Como eu me sentir abem até ali no meio da quietude e como apenas me apetecia continuara no mesmo ambiente! Por isso peguei no mapa de decidi partir na direção onde chovia menos!
E os lagos e os fiords estavam logo ali!
E toda a paz a que o país já me habituara!
E não havia nada mais reconfortante e agradável do que fazer um picnic junto a um lago só meu, mesmo com alguns pingos a refrescar e a regar o ambiente!
Oh Bergen, prometo que voltarei para te dedicar toda a atenção, mas agora a beleza está toda na natureza, para mim!
E o céu carregado enchia tudo de mistério e fantasia!
Apesar de ter o fato de chuva vestido e de nunca o tensionar tirar, fui seguindo na direção da luz, esperando que o tempo não estivesse terrível e a visibilidade se mantivesse para me permitir ver algo no horizonte, que não apenas chuva e nevoa!
E, se tudo o que eu visse fossem lagos e montes, eu seria feliz!
“A dimensão dos fiordes perde -se, quando não há pontos de referência e não se entende muito bem o quanto são altos. Então caminho um pouco e apercebo-me do quanto tudo e grandioso pela pequena dimensão da minha moto ao longe. Um ponto insignificante junto de toda a grandiosidade. Precisava de todo o tempo do mundo para descobrir os segredos desta imensidão…”
In Passeando pela vida – a Página
Confesso que me sentia uma criança num parque infantil de tão feliz que estava por ali, sozinha, a explorar o que me surgia sem pensar em mais nada nem ninguém!
Os fios de água caíam de qualquer monte, como se jorrassem de paredes, em perspetivas irreais!
A vantagem de se andar por tais caminhos sozinha é que eu posso parar as vezes que quiser, caminhar em redor, fazer fotos aos milhares e desenhar tudo o que me apetecer, sem me afligir com nada nem ninguém! É a sensação mais próxima da liberdade absoluta, estar por conta própria!
“Aquela paz cativou-me tanto! Mais que os sítios incontornáveis, onde toda a gente vai, o silêncio e a imensidão preencheu o meu espírito e o meu coração e eu parava no meio da chuva, como quem pára no meio de uma catedral imensa, sem querer ir a mais lado nenhum, apenas ficar…”
In Passeando pela vida – a Página
E fui dar ao fiord de Flåm!
Há muitos cruzeiros a partir ou a chegar ali a todo o momento, eu podia vê-los ao longe.
E, no entanto, não havia ninguém nas ruas!
Naquela altura eu não pensava na chuva há tempos, embora ela continuasse a cair certinha! E parava, sem nem tirar o capacete, para me deslumbrar mais uma vez e outra!
Cheguei a Aurlandsvangen debaixo de chuva…
Era mesmo disso que eu estava a precisar, uma cidadezinha para explorar e esquecer a porcaria da chuva que não me deixava em paz! Comecei logo enfiando-me na igreja para dar um pouco de paz ao corpo, para me aquecer e secar!
A Vangen kirke é uma igreja do séc. XIII fantástica! Um gótico fascinante, porque me fascina descobrir como eram as coisas noutros países ao mesmo tempo que no nosso!
Aquele é uma das mais antigas e mais bonitas igrejas de pedra do país!
Fascinante!
Cá fora o campanário de madeira era encantador e tinha o nome mais esquisito que se possa imaginar! Fui eu abrir a net para entender o que queria dizer Klokkestøpul para perceber que não era mais do que torre sineira!
O tempo não melhoraria, por isso fiquei por ali passeando e descobrindo pequenos encantos da cidadezinha.
E sim, eles secam bacalhau como nós, não o comem apenas fresco!
As casinhas eram tão lindinhas, de madeira pintada em cores vivas e pormenores verdadeiramente “mimis” nos jardins muito verdes!
Depois havia os caminhos entre as casas, em terra batida que, embora parecesse um contrassenso combinava perfeitamente com o encanto natural de cada local!
E o cuidado com os pormenores faziam cada jardim parecer um pedaço de sonho!
Logo ali ficava o fiord!
O tempo chuvoso dava-lhe um toque de mistério majestoso que quase intimidava!
O tempo que eu fiquei ali a olhar! Não valia a pena subir até ao miradouro, que visibilidade não seria boa, mas valia a pena apreciar todas as perspetivas possíveis até o alcance do olhar o permitir!
O regresso a Bergen foi feito de paragens por tudo e por nada em todo o lugar!
Passei pela pequena aldeia de Flåm, “terra plana”, que fica no extremo interior do Aurlandsfjorden e deve o seu nome ao facto de ser plana no meio de montes. Tinha de ver o ponto de partida de tanto ferry e cruzeiro famoso!
As perspetivas são vertiginosas a partir da aldeia!
E os barcos, barquinhos, cruzeiros e ferrys não param de chegar e partir!
O ancoradouro chamou-me mais a atenção do que a ideia de embarcar também. Tudo bonito e simples, como se se tratasse apenas de um pequeno ponto de partida para barquitos de pesca! Fascinou-me a forma como mantem a simplicidade das coisas, mesmo em pontos onde passam pessoas de todo o mundo a todo o momento!
Não há muitas estradas por ali, mas há sempre aquela que é quase um carreiro quase invisível que chamava a minha atenção e por onde eu ia metendo a moto!
Por momentos eu nem sabia mais se teria saída ou se iria desembocar num quelho de terra batida e lama, sem saída!
De qualquer maneira isso nem era importante, pois o que eu visse até lá teria valido a pena de qualquer maneira!
E a coisa mais curiosa era encontrar montes com neve tão baixos! A sensação era de que tudo estava ao alcance de quem quisesse caminhar apenas um pouco!
E voltava a parar e a ficar hipnotizada a olhar. Tudo era tão bonito que, por aquele andar, eu nunca mais chegaria a Bergen de novo!
Cataratas na beira da estrada, tudo normal para aquele país!
E sem turistas aos magotes em gritinhos e corridinhas de selfie em selfie! Tudo normal para aquele país!
Casas com uma catarata no quintal! Tudo normal ainda!
Um dia de chuva muito especial, sem duvida!
Quando cheguei a Bergen a cidade continuava na maior luta com a chuva desde de manhã! Definitivamente passear fora a melhor decisão que eu tomara, porque ficar por ali todo o dia teria sido uma frustração!
Amanhã seguiria para norte com a certeza que um dia iria voltar ali!
Pingback: 23. Escandinávia 2017 – Bergen, Flåm e a chuva — Passeando pela vida… | O LADO ESCURO DA LUA
Fotos fantásticas! Gostei mesmo de as ver e ler o que escreveu…
Um bom Natal e um bom Ano.
Cumprimentos
Obrigada
Bom Natal também 😉
Mais uma vez um excelente relato!
Obrigada!
Bom Natal