8. Passeando por caminhos Celtas – o condado de Cork!

3 de agosto de 2014

Quanta alegria, o dia amanheceu com sol e eu acordei com vontade de devorar o mundo!

Rapei do meu livrinho, e de tudo o que havia para ver por ali nos meus estudos, e parti. Claro que mal a moto começa a rolar eu vou tendo mais noção do que me apetece realmente fazer e ver e, naquele dia, a vontade de ver gente foi diminuindo, à medida que ía entrando nas cidades e tudo estava cheio de festa, turistas e multidões… ok, nem era assim tanta multidão, mas quando a gente não quer ver gente, mais que 4 ou 5 pessoas já chateia!

Enfim, tinha o condado de Cork ao meu dispor e tanta coisa para ver nele!

Uma coisa curiosa e que me agradou foi a cor das casas, poucas têm cores banais e mortiças como cá. Usam-se frequentemente cores quentes e berrantes, o que dá um ar de festa permanente a cada rua! Kinsale foi a primeira a “ferir” os meus olhos!

Mesmo as casas com cores mais “normais” ajudam a alegria cromática do ambiente!

Depois os estabelecimentos, bares, lojas e hotéis, são frequentemente muito enfeitados, com fachadas de madeira pintada e/ou bandeiras e flores!

Logo ali fica o mar, que está quase por todo o lado, com recortes e braços de água a todo o momento, afinal eu estava a contornar o condado pela costa, percorria a West Cork Coastal Route!

E as perspetivas de mar e lagos que fui encontrando eram espantosas!

Então depois do rio Arigideen ficava uma ruina que me prendeu tanto a atenção! A Timoleague Abbey…

Estas coisas sempre têm um grande impacto sobre mim! Uma abadia em ruinas, é como a carcaça de uma história cheia de segredos. Eu tinha de vê-la por dentro e o que me esperava apenas completou a sensação.

É frequente encontrar igrejas e abadias em ruinas que se foram transformando em cemitérios no Reino Unido e por ali não é diferente!

Oh, as cruzes celtas eram espantosas…

Eu queria mesmo fazer uma pequena coleção de cruzes e não ficaria desiludida porque por aquele país elas estão por todos os lados sempre diferentes, sempre espantosas!

A Abadia é do séc. XII e, depois de séculos de história, foi destruída pelos soldados ingleses na época da reforma (séc. XVI) e, embora tenha continuado a ser habitada pelos monges, voltou a ser destruída pelos ingleses uns anos depois quando, não só ela mas também a toda a cidade, foi queimada, de novo pelos ingleses, e assim ficou até hoje…

Acho sempre curioso como as populações vão preenchendo os espaços das igrejas arruinadas com túmulos, por todos os lados, sem qualquer ordem ou sentido.

E, quer se queira ou não, há momentos muito cinematográficos nestes locais! Visitar cemitérios nunca me assusta minimamente, apenas me provoca sensações que vão desde o respeito, até à simples curiosidade, como uma visita ao passado e ao sentido que cada povo dá à morte dos seus! O corvo, num cemitério, tão quietinho, foi o momento magico que se completou definitivamente!

Não consigo deixar de catar todos os recantos de uma coisa daquelas!

Mais à frente fica Clonakilty, Clon para os amigos, e a Church of the Immaculate Conception chamou-me a atenção. Fica num ponto elevado e é imponente!

Havia gente a chegar de carro, com pessoas de idade e dificuldade em andar, que ficaram a olhar para mim.

Claro que quando olham para nós, nós tendemos a olhar de volta, então uma velhinha fez-me sinal para entrar na igreja, e eu entrei!

É muito bonita!

É do final do séc. XIX é neogótica (eu bem digo que naquele país parece que tudo é neo-qualquer coisa!)

E continuei o meu caminho para Baltimore

Naquele momento eu já estava a ficar farta de cidades e casas e pessoas! As localidades começavam a ficar cheias de gente e eu estava a ter uma crise antissocial, por isso comecei a sair das ruas mais largas e a fazer as ruínhas que tanto adoro.

Na realidade eu estava desiludida porque andava à procura de um sitio celta e não o consegui encontrar..

Por isso olhei para Baltimore de longe, onde a confusão e os turistas, banhistas e canoístas não podiam perturbar o meu sossego, e soube-me muito bem essa distância!

E foi quando parei e processei que não queria de todo andar de cidade em cidade! Eu queria fazer caminhos solitários, ruas cheias de curvas, ver paisagens únicas e silenciosas, onde apenas o som do motor da minha moto se ouvisse!

Olhei para o GPS e procurei uma rua cheia de curvas por ali e segui pela que me parecia ir mais para longe… não me arrependi!

Escrevia eu:

“E quando a multidão está por todas as cidades eu subo ao monte, onde não há ninguém para além de mim, a rua que é quase um caminho, e as ovelhas! Estava no sul da Irlanda e não queria mesmo andar no meio das pessoas, olhei para a imagem de estrada do GPS e percebi que havia ali uma estradinha que podia ser interessante, apontava para o monte! À medida que me ia afastando do turismo ia-me embrenhando no mundo dos locais, que me saudavam ao passar com surpresa. Gente simpática aquela! Alguns sorriam, não sei se pensando que eu era louca ou inteligente, pois as paisagens que me esperavam lá em cima superavam qualquer encanto citadino lá de baixo!”

Tudo era tão bonito por ali como incerto! Momentos houve em que eu nem sabia se o alcatrão continuava ou acabaria a qualquer momento, com a agravante de que a cada subida e descida eu simplesmente deixava de ver a ruínha e, por isso, nem sabia o que vinha a seguir!

E quanto mais estreita era a ruela, mais ingreme e pior era o piso, mais bonita era a paisagem!

Até que o encanto se foi quebrando, quando comecei a aproximar-me das populações de novo…

Mas a beleza não tinha de desparecer só porque chegara à população!

Bem pelo contrário! Voltei a parar para curtir um pouco do que me rodeava! Acho que foi o que mais fiz nesta viagem: parar para curtir momentos!

As casas por aquele país fora é que me surpreenderam! Há casas, vivendas, por todos os lados! Parece que não há sequer casas degradadas, como se toda a gente vivesse muito bem!

Em todos os meus caminhos casas de sonho era tudo o que eu encontrava, mesmo no meio de lado nenhum, depois de ruelas mínimas!

Vive-se assim tão bem na Irlanda? Então o país não foi resgatado como o nosso e tudo? Não entendi, mas vou estudar o caso!

E eles sabem escolher onde pôr as suas casas!

A aproximação a Sneem assustou-me! Ali parece que todas as cidades são do topo “risca ao meio” e a rua principal estava cheia de carros e gente a comer e conversar nas esplanadas! Era um ambiente de festa fantástico, mas eu queria tudo menos festa naquele momento!

Por isso passei, espantei olhos, e segui!

Porque havia tanta coisa bonita para ver, sem ser gente a bebericar em esplanadas!

The Ring of Kerry é algo a não perder..

Aproximava-me de Cahersiveen e não queria muito ver mais cidade nenhuma…

As paisagens enchiam-me de encanto e era tudo o que eu queria naquele momento!

Cada enquadramento era mais espantoso do que o outro e variando sempre, entre terra e mar, ao ponto de eu seguir esperando uma surpresa a cada curva do caminho!

Por isso quando Cahersiveen apareceu atravessei-a de uma vez só, sem parar e só parei do outro lado junto da escultura Skellig Monks – ou St. Brendon’s Voyage Sculpture, uma escultura muito interessante com 4 monges num barco em meia-lua, que lembra a viagem dos monges do mosteiro de Skellig Michael pela costa da Irlanda. Eu não visitei o mosteiro e “só por isso” terei de voltar à irlanda. É uma coisa espantosa a não perder, fica numa ilha e é tão antigo (séc VI) e lindo que será de cortar a respiração.

Naquele momento eu parei, olhei para a escultura e decidi: “não hoje, não desta vez, mas eu quero visitar o mosteiro!”

Olhei em volta e a cidade não me atraia, estava cheia de gente, o mosteiro não podia ser visitado naquele dia…

A paisagem atraia-me mais que tudo, por isso segui para Cork por caminhos diferentes, que eu não gosto muito de voltar pelo mesmo lugar!

E o mar voltou a encantar-me e fazer-me parar vezes sem conta!

Que lindo dia foi aquele, que estradinhas deliciosas, que paisagens espantosas!

Voltei para Cork, onde ainda seria a minha casa naquele dia e foi o fim do meu 6º dia de viagem!

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