9 de agosto de 2014
Quando acordei e vi que o dia estava lindo fiquei impaciente! Uma coisa que a vida me ensinou foi a aproveitar cada dia de sol que me aparece em tempo de chuva, por isso tratei de me pôr a andar antes que alguma reviravolta me levasse a oportunidade de ver o que de mais importante me levou até ali!
Peguei na moto e pus-me a andar para norte, sem inventar de parar aqui e ali. Lá em cima eu tinha coisas demasiado importantes para ver para me permitir perder a oportunidade no cruzamento com uma qualquer nuvem mal disposta!!
O que sempre me fez querer visitar a Irlanda do norte foi a Giants Causeway por isso destinei todo o meu tempo à exploração do local. Falaram-me que deixava a moto não sei onde e caminhava pelo penhasco até encontrar a descida da falésia e tal, visitava a coisa e voltava a subir por ali fora…
Decidi que não iria fazer a coisa como um ladrão que se escapa por entre quem paga bilhete, e fui até ao Giant’s Causeway Visitor Centre. O preço não é muito elevado a visita faz-se como eu gosto, cada um com o seu áudio-guia a passear por conta própria! E a informação e história que nos é contada é interessante, fácil de acompanhar e pertinente!
O edifício é muito interessante, tendo como inspiração clara os blocos verticais da calçada, cria um ambiente simpático a quem chega.
Um casal espanhol chegava na sua scooter e acharam que eu era uma supermulher qualquer por andar por ali de moto sozinha! Eles estavam de roulotte e a scooter era o elo de ligação do seu “caracol” ao mundo, onde não poderiam andar com tal carripana.
E fui passeando e ouvindo histórias, pela rua junto ao mar, em praias de pedras e pedregulhos…
Histórias de nomes que foram dados às pedras, como o camelo que se vê do outro lado da primeira baía.
E vê-se mesmo o dito camelo!
Depois da curva, ao fim da primeira baía, começam-se a ver ao longe as primeiras pedras em “agulha”, para lá da calçada, ao longe.
Na zona há pedras semelhantes às da calçada em vários locais, já que foi um fenómeno de arrefecimento da lava que provocou a formação dos blocos
Fui saindo do caminho alcatroado e passeando pelo meio das pedras junto ao mar, ao som das explicações, bastante interessantes e bem narradas do áudio-guia.
E a calçada foi-se tornando próxima, com os seus blocos impressionantes a fazer muros…
Os blocos hexagonais, às vezes pentagonais ou octogonais, estão tão perfeitamente encaixados entre si, como num puzzle da natureza. A gente sobe por eles, como se degraus fossem e a paisagem é quase surrealista!
Dizem que são mais de 40 000 colunas prismáticas de basalto que por ali há! Não sei como as contaram mas acredito que sejam essas todas já que há tantas e continuam pelo mar dentro!
O fenómeno deu-se há mais de 60 milhões de anos, quando uma erupção vulcânica provocou a disjunção colunar do basalto das grandes massas de lava provocando a calçada que conhecemos hoje. Choques de temperaturas fizeram-na solidificar daquela maneira!
Escrevia eu no meu facebook:
“The Giant’s Causeway ou A Calçada dos Gigantes é aquele pormenor da natureza que eu tinha de ver há tempo demais! Já em 2011 eu queria lá ir e não foi de todo possível, mas desta vez eu vi-a… um encontro quase surrealista para mim, embora eu soubesse muito bem o que iria ver. As pedras brotam do chão como esteios esculpidos pelo homem e diz a lenda que o foram mesmo, mas por um gigante Irlandês que queria confrontar com um gigante escocês! Ora quando o gigante escocês veio até à Irlanda o irlandês pode constatar que ele era enorme e muito mais poderoso do que ele próprio! Pânico total! E foi a sua mulher quem salvou a situação, vestindo-o de bebé, apresentou-o ao gigante escocês como sendo o seu filhote! Ora o outro vendo um filhote tão grande apavorou-se imaginando a dimensão do pai da criança! Pânico para ele também! Então voltou a correr para o seu país, partindo tudo o que podia da calçada para que o outro não pudesse segui-lo! E por isso a calçada se estende sobre o mar até desaparecer, e daí os 40 mil blocos hexagonais de basalto! A história é contada num filme de animação muito engraçado no Visitor’s Center. Acho que tirei por ali umas vinte mil fotos…”
E lá está ela a entrar no mar, na direção da Escócia, como conta a historinha!
“A calçada destaca-se do chão em blocos que atingem vários de metros de altura sobre nós e a gente sobe pelas pedras e caminha sobre ela. É irregular de uns lados e plana de outros, como paralelos hexagonais que se encaixam mas saem aqui e ali. Formam mesmo paredes e desníveis curiosos. Mas quando nos afastamos, percorrendo o caminho que nos leva pela encosta até onde os nossos olhos se perdem entre o mar e a escarpa quase em estado puro, e olhamos para trás… ela lá está ao longe, com pequenos pontos de cor formados pelas pessoas que lhe caminham por cima. Faço zoom com a minha maquina e é espantoso o que ela é, vista assim de longe! E entendo tão bem porque foi chamada de construção de gigantes!”
O que eu caminhei por ali, sempre com a calçada no horizonte!
E no outro lado da baía lá estão eles de novo, os blocos em alinhamentos como esteios, a formar paredes!
Não faltava gente a caminhar por ali comigo. Um percurso longo mas muito bonito e interessante de se fazer!
Depois subi a escarpa, pela escada bem ingreme e voltei para a moto por cima com a falésia sempre ao meu lado!
Ao chegar ao estacionamento o casal espanhol que chegara comigo estava se partida e um grupo de motos chegava! Uma animação, entre uns que se despedem e outros que chegam e se apercebem que eu estou sozinha! Gente boa com direito a muita conversa!
Finalmente, depois de muita conversa do tipo “de onde vens?” ou “ Onde estão os teus amigos?” (esta será para sempre pergunta numero 1 de todas as minhas viagens!) ou ainda “Como chegaste até aqui sozinha com uma moto tão grande e pesada!”, depois de umas gargalhadas, de muitos cumprimentos e apertos de mão, lá segui para leste. Mais à frente, na costa encontra-se a ruina do Dunseverick Castle.
O castelo é muito antigo, do séc. V, e diz-se que já foi visitado por Saint Patrick , o bispo da Irlanda!
Fica numa saliência num recorte da costa, quase uma pequena península, um ambiente muito romântico!
Mas por ali tudo é encantador e algo romântico mesmo!
Praias de areia branca, que não são nada comuns por aqueles lados, enchem de magia todo o percurso!
Localidades bem pequeninas, de casinhas brancas, destacam-se do verde a cada momento, como ilustrações de livros de poemas!
E cheguei a Carrick-a-rede rope bridge…
Quem anda por aqueles lados vai sempre ver a famosa ponte de rede e, como seria de esperar, estava uma bela fila para a visitar. Um motard estava junto da sua moto quando cheguei e foi paleio até dizer chega. Ficou fascinado comigo e com a minha moto, tiramos fotos juntos e tudo, para mostrarmos aos amigos!
Conversa pegada e acabei por decidir deixar a ponte para outra vez. Não me apetecia pagar para caminhar até ela, encontra-la cheia de gente e voltar para trás!
Pus-me a inspecionar a redondeza cheia de encantos
E vi, ao longe, depois das ilhas e das nuvens… a Escócia!
Um pouco de zoom e lá estava ela!
A sensação de ver o outro lado do mar fascinou-me mais do que qualquer ponte. Se pensarmos na dificuldade de se encontrar tempo de sol, com atmosfera suficientemente límpida para se poder ver tão longe, entende-se melhor a minha alegria!
Então andei por ali a passear, por pequenas aldeias piscatórias, voltando agora para Este no mapa. Havia outro castelo que eu queria ver, por isso fui explorando a costa no sentido inverso, deliciando-me com o sol e com as paisagens!
Ballintoy, uma pequena vila que quase vai desaparecendo ao longo dos tempos, tendo cada vez menos população!
Com uma envolvência extraordinária e uma igreja linda!
E então cheguei a mais um dos sítios que eu queria tanto visitar!
O castelo medieval de Dunluce fica logo a seguir a The Giant’s Causeway, foram até usadas pedras da calçada na sua construção e podem-se ver no meio das outras se se olhar com atenção!
É um daqueles castelos que aparece por todo o lado quando se busca pela palavra “castelo” no Google! E lá estava ele, num promontório sobre o mar, a casa do Clan MacDonnell de Antrim. Pensa-se que o Dunluce Castle terá sido a inspiração para Cair Paravel, o castelo dos reis das Crónicas de Nárnia!
Aquele castelo sempre me fascinou e eu fui até ele para o visitar mas, ao olhar para ele, sentei-me a desenhar e não visitei coisa nenhuma! Afinal o mais espetacular dele vê-se de fora!
Está ali, periclitante no limite do penhasco parecendo tão frágil!
Mais uma longa pausa, um desenho ou dois, um milhão de fotos e aquela sensação de estar perante uma celebridade muito antiga…
Eu queria que o sol estivesse de outro ângulo para o poder ver melhor…
Mas não iria esperar até ao entardecer para o sol “se virar” por isso continuei a explorar a costa…
E há mais rios castanhos por aquelas terras, não é só na República da Irlanda!
E os recortes que a terra desenha sobre o mar são fascinantes!
Eu chegava-me perto! Pousava a moto e caminhava até ao precipício, voltava a sentar, voltava a desenhar e a sensação de estar viva e feliz era tão intensa que quase beirava a euforia!
Lá me fui dirigindo para Belfast saboreando as estradinhas mais estreitinhas que fui encontrando! É assim que gosto de viajar!
Então, no meio de lado nenhum, ou antes, no meio de um lugarejo minúsculo, apareceu-me um castelo!
Ui, se eu tivesse de viver num país assim, onde há um castelo em cada esquina, eu não iria parar em casa nunca, até não haver mais nenhum castelo para procurar!
Era o Caulfield castle, do séc XVI, que o que teve de mais encantador foram os enquadramentos que permitiu, com jogos de sombra e luz, com o verde da relva a criar contrastes impressionantes!
O que eu gosto destes momentos solenes!
E o dia estava a chegar ao fim, embora o sol ainda estivesse alto. Tempo para uma pausa junto ao grande Loch Neagh
De baixo do sítio onde parei e me sentei vinha uma restolheira, grande algazarra mesmo! Quando espreitei, era uma grande patada!
Palravam com uma intensidade que parecia mais uma discussão entre eles! Tão giros!
Fiquei ali uma série de tempo a aprecia-los e até desenhei alguns!
Estava já perto de Balfast e podia perceber que as grandes nuvens me esperavam mais à frente!
E foi o diluvio total!
Parei rapidamente numa paragem de autocarro e abriguei-me. É nesses momentos que eu percebo o quanto é importante aproveitar bem o sol… enquanto ele se mostra!
Como uma chuvada tropical, o temporal afastou-se e deixou para trás um lindo arco-iris!
E fui para casa e foi o fim do 12º dia de viagem!
Amei, viajei junto com voce vendo essas fotos e lendo seus textos… lindo demais…