17. Passeando por caminhos Celtas – do outro lado… a Escócia

11 de agosto de 2014

Foi tudo muito estranho naquela manhã, como eu stresso sempre que tenho de embarcar a moto num ferry, levantei-me cedo para ir com calma até ao porto, que, estupidamente, não me lembrara de procurar no dia anterior! A minha ideia era ter todo o tempo do mundo para o procurar, trocar o papel de reserva pelo bilhete e embarcar sem stress.

Nada disso aconteceu, toda a gente parecia querer conversar comigo ao pequeno-almoço. Fazendo perguntas, querendo saber do que eu já vira na minha viagem e por aí fora! Acho que se tinha espalhado a ideia de que eu era uma grande viajante de moto, que viajava sozinha e já vira “mundos e fundos”. Valha-me Deus, tive de desiludir aquela gente e dizer-lhes que nada de especial se passava, eu apenas estava a fazer uma viagem muito menos impressionante do que outras que já fizera.

Não adiantou nada, continuaram as perguntas e, se eu não me pusesse a andar, ainda estaria lá hoje a contar histórias de tudo o que vira e vivera pela estrada fora!

Gente simpática com quem gostei de falar, não fora o meu stress em descobrir o porto e tratar de tudo a tempo. O caminho que eu faria naquele dia inspirava toda a gente…

Quando finalmente consegui seguir foi tudo uma correria. Primeiro a porta do porto que me aparecia não era aquela onde ficava o meu cais de embarque, depois entrei onde não devia e não conseguia sair! Oh pânico, com o tempo a escoar-se! “calma que é para lá estar 1 hora antes, por isso tenho essa hora a meu favor, posso ser a ultima a embarcar!”

Um guarda viu-me chegar de dentro do porto, e veio ver o que eu queria. O torniquete estava fechado e eu não podia sair! O senhor foi muito simpático, fez o desenho num mapa do caminho que eu tinha de fazer até ao Belfast Port – Victoria Terminal com direito a um livrinho sobre o que ver em Belfast. Muito bom, sobretudo quando eu já prometera a mim mesma lá voltar um dia.

As suas indicações foram tão precisas que eu, que já estava a ficar atrasada, acabei por chegar cedo ao terminal! É sempre assim, por isso eu sempre acho que stressar é uma perda de tempo!

E a minha bonequinha ficou ali sozinha, no meio de um parque infinito!

É assim que eu gosto, chegar cedo e explorar o local com calma, musica nos ouvidos e máquina em punho.

Não chovia por isso deu para eu andar mesmo por todo o lado e meter conversa com as pessoas do porto e tudo!

Quando os carros e os camiões começaram a chegar as perspetivas do parque de embarque eram cada vez mais interessantes. Comecei a perceber que eu seria a única motard a bordo!

Tudo o que eu queria é que o tempo se mantivesse estável do outro lado do mar… não queria nada ser recebida com chuva na Escócia!

Mandaram-me entrar sozinha! Que sensação de “star” só faltava o tapete vermelho!

Tratamento VIP para a minha Ninfa!

E demorou para caramba a começarem a entrar os carros! Parecia que eu seria a única a partir!

“O mar e as águas sempre me fascinam, eu poderia contar aos milhares as fotos que capto desses encontros com paisagens que me cativam com lagos, rios e mares! Naquele dia eu juntava mais um mar e uma travessia ao meu mundo de experiencias inesquecíveis: o Irish Sea. Uma faixa de Atlântico entre as duas ilhas que separa, por vezes, dois climas tão diferentes como se atravessássemos todo um planeta! Naquela travessia assim foi, em Belfast o tempo estava cheio de nuvens inspiradoras, com o sol a espreitar e provocar enquadramentos fantásticos, em Cairnryan e pela Escócia até Glasgow, o céu ameaçava cair com toda a força em cima de mim… o que acabou por acontecer mesmo.
Mas o mar, oh o mar era lindo, quase irreal, uma cor e uma calma inesperada num espaço longo entre duas grandes porções de terra que me tinham feito imaginar turbulência e ondulação fortes. Tenho de explorar melhor aquele mar e as ilhas que nele se encontram…”

(in “Passeando pela vida” – a pagina)

Naquela viagem fiz amizade com 2 senhoras de idade que viajavam sozinhas, eram irmãs e vinham da Austrália. “Não há idade para se conhecer o mundo!” dizia a mais faladora. Muito inspiradora a conversa que mantivemos, fiquei com vontade de ir até à outra ponta do planeta visita-las um dia!

A viagem foi curta e eu podia ver a chuva à minha espera, lá fora. Por isso já sai do ferry, toda empacotada no fato de chuva… uma pena!

Detesto não poder parar e ver o que há, como tudo é. É uma frustração entrar num país e nem poder ver como é a entrada! Já me acontecera isso ao entrar na República da Irlanda, depois na Irlanda do Norte e agora na Escócia! Raios de chuva!

Mas na Escócia a chuva viria a revelar-se bastante inspiradora! Entre umas nuvens e outras eu teria tempo de captar enquadramentos muito curiosos, com nuvens monstruosas, por vezes, o que me agrada sempre!

Logo ali fica Kirkoswald, uma aldeia muito fofinha onde o mau tempo e a ventania pareciam nada perturbar!

Aproveitei uma aberta para desenhar uns cavalos muito simpáticos, de jaqueta vestida, que encontrei num campo. Faltava-me um cavalo na minha coleção de animais, que já contava com ovelhas, vacas normais e vacas cabeludas, patos, cisnes e um esquilo que se metera comigo algures!

E os cemitérios com as suas igrejas em ruinas, continuavam a fascinar-me! Iria visitar mais uns quantos pela Escócia fora!

Mais à frente ficava a Crossraguel Abbey, uma construção do séc. XIII em ruinas. Tinha de pagar bilhete para visitar! Como? Com aquele tempo foleiro, pagar para andar à chuva a ver ruinas? Nem pensar!

Vi-a da rua e pronto! Se eu fosse a pagar para ver todas as ruinas que me aparecessem no caminho, precisaria de um orçamento de viagem inteiro só para isso!

Ok, tive pena porque era muito bonita, mas nem um céu azul eu tinha para fazer umas fotos decentes, por isso, fotografei da rua e segui caminho!

Só parei em Glasgow. O tempo piorara, com chuva mais intensa e rajadas muito fortes de vento, o que tira um bocado o prazer de conduzir.

Glasgow… já fui infeliz ali, quando em 2011 a minha motita avariou e eu fiquei tão desamparada sem ela. Estacionei a Ninfa junto do parque onde a Magnífica colapsou naquela época. Não me apetecia nada pôr esta moto no lugar onde a outra se sentiu tão mal!

O parque era aquele edifício amarelo às riscas e lembro-me de estar lá dentro, espreitar cá para fora e ver um estacionamento para motos, onde havia uma Pan European estacionada. Desta vez foi a minha moto que ficou no estacionamento da rua!

Fiquei hospedada no mesmo hostel onde fiquei há 3 anos e, como quem chega a casa, fui passear pela cidade ao anoitecer. Afinal eu acabei por conhecer bem aquelas ruas em dias de espera que ali passei…

A ponte pedonal sobre o rio Clyde fica particularmente bonita de noite, com iluminação em vermelho!

E o rio, com as luzes da cidade, é sempre tão bonito!

Fui passeando pela zona comercial The City Centre, muito inspiradora com as luzes!

Encontrei edifícios que conhecera durante o dia e que de noite eram bem curiosos!

E the George Square, a praça principal de Glasgow, onde 3 anos antes vira a “lavoura” das filmagens com Brad Pitt do filme dos zombies que estriou há cerca de um ano por cá! !

Acabara por se pôr uma noite bonita e havia gente a passear por ali e a tirar fotos como eu. Lá estava o mausoléu aos heróis de Guerra da cidade.

Eu já fotografara aqueles leões e voltei a faze-lo. São giros!

Eu gosto de fotografar de noite, quando as luzes provocam enquadramentos dramáticos!

“Há 3 anos, quando me passeava pela Queen’s Street, em Glasgow, deparei-me pela primeira vez com a Gallery of Modern Art – GoMA, um edifício neoclássico imponente! Eu gosto bastante daquele estilo, por isso admirei a construção em todos os ângulos! Em frente fica a estátua equestre do Duke de Wellington e ostentava na época um cone de trânsito na cabeça! Pensei que tivesse sido um ato de vandalismo, depois acabei por descobrir que aquilo era arte e desta vez descobri que é um símbolo! Representa a atitude de despreocupação da cidade em relação à autoridade. Aquele cone já foi substituído por diversas vezes para manutenção, já foi pintado para comemorações, (dos jogos olímpicos, por exemplo) e já foi substituído por um chapéu (para honrar patrocínios da equipa de futebol)! Desta vez, ao voltar ali, lá estava o cone às riscas vermelhas e brancas na cabeça do homem e a novidade é que o cavalo também tinha direito a um só para si, em amarelo! Aqueles escoceses batem mal!”

(in “Passeando pela vida” – a Página)

E fui dormir… esperando secretamente que o tempo se mantivesse suficientemente estável para me permitir dar umas voltas por ali e depois seguir para norte sem muita chuva, nem céus depressivos de nevoas até ao chão… Desta vez eu queria ver a Escócia sem preocupações, nem avarias, nem aborrecimentos…

Não seria bem assim, mas eu ainda não sabia!

E foi o fim do 14º dia de viagem!

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One thought on “17. Passeando por caminhos Celtas – do outro lado… a Escócia

  1. Olá Gracinda!
    Estou a adorar viajar contigo!
    Obrigada por tanta beleza que partilhas e tuas palavras que são tão leves, que me transmitem a doce sensação de querer mais fotos e relato!!
    Beijinho

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