24. Passeando por caminhos Celtas – subindo até John o’ Groats

16 de agosto de 2014

Não se pode fugir eternamente da chuva, ela acaba sempre por nos apanhar, mais aqui ou mais ali. E pelas terras altas é mesmo assim, o sol é uma sorte que temos de aproveitar bem. Isto para dizer que uma bela bosta de tempo me esperava, justamente quando eu me preparava para subir o país até ao topo norte.

E eu queria passar em alguns sítios com calma e bom tempo… nada feito!

A minha motita dormira ao relento e espreitava para mim, por entre a folhagem do jardim com um “vamos lá embora?”

Eu fizera amigas naqueles dias, gente boa com quem eu falei sei lá quantas línguas. Mulheres que viajavam sozinhas, tal como eu, arrastando as suas malas e mochilas pelo reino fora. É tão gratificante falar com gente inteligente que viaja para ver, visitar e descobrir! Fomos constatando que eu via tanta coisa mais que qualquer uma delas num dia apenas! O facto de eu ter rodas próprias permitia-me andar por todo o lado ao sabor da minha vontade, sem esperar por transporte ou caminhar por distâncias demasiado longas e sem interesse, para alcançar algo imperdível mais à frente!

Uma delas teve direito a selfie e tudo, depois de um belíssimo pequeno-almoço para aquecer a alma e nos preparar para a luta com o mau tempo!

O plano para aquele dia era subir, subir e subir, pelo mapa acima!

O sol não conseguia romper as nuvens e o espectáculo que dava na travessia da ponte de Skye era surreal!

“Hoje, ao passar a ponte de Skye, o tempo ainda não se decidira se iria estar bom ou mau e o espetáculo que a sua indecisão dava era deslumbrante! Parei a moto numa nesga na berma da estrada e captei um pouco do que os meus olhos viam… Belíssima ilha, belíssimo pais, belíssimo momento!”

(in “Passeando pela vida” – a página)

Fui andando em direcção a Invernes por caminhos que eu sabia eram lindos mas tudo o que via eram paisagens de mistério! Ok, lindas na mesma, mas misteriosas!

Há sempre um sentimento de desolação quando o tempo está tão encoberto, como se eu me sentisse perdida no meio de lado nenhum, sem muita noção de onde ir!

Acabei por ir passear para Invernes, embora não tivesse a certeza se valeria a pena!

Mas valeu!

Estava cheia de gente e animação o que me aconchegou o coração depois de tantos quilómetros de solidão no meio da chuva e nevoeiro!

Dediquei a minha atenção aos pormenores, pessoas que tocavam realejo, pessoas que faziam esculturas de areia no chão, jovens marinheiros que participavam numa campanha solidária de angariação de fundos….

Adorei o ambiente da cidade, tão diferente do ambiente que ali encontrei 3 anos antes, mesmo na época tendo estado ali com sol, a cidade estava bem menos viva!

O rio Ness, que liga o Loch Ness ao mar, atravessando Invernes… será aquela porta que permite ao Nessy ir passear para longe do lago a cada vez que o tentam captar no fundo das águas e não o encontram! Acho que o mistério existe porque o bichinho é muito inteligente! 😀

E fui até ao castelo, onde fiz amizade com uns rapazes acrobatas que estavam a ensinar a um grupo de miúdos habilidades de Parkour. Fartei-me de os fotografar!

O castelo fica no meio do movimento da cidade com o rio de um lado e a estrada do outro. Nada de coisa isolada no topo de uma colina distante!

Em frente fica a estátua de Flora MacDonald, a heroína escocesa que eu visitei no cemitério em Skye, descobria eu na época:

“Mas o que faz este cemitério ser famoso é o jazigo de Flora MacDonald, que viveu no séc. XVIII e ficou na história como uma heroína porque ajudou Charles Edward Stuart, conhecido por “Bonnie Prince Charlie”, quando este tentou reclamar o trono de Inglaterra. Não foi bem-sucedido e Flora foi presa na Torre de Londres. Mais tarde foi libertada e emigrou para a América, mas foi morrer à sua terra, onde é até hoje aclamada pela sua coragem.

Diz-se que no seu funeral estiveram presentes 3.000 pessoas (uma enormidade para uma ilha tão deserta ainda hoje) e que estas pessoas beberam 300 litros de whisky, há que afogar a dor!”

(in Passeando até à Escócia – 2011)

O rio visto dali é muito bonito, com a cidade de ambos os lados…

Coisas giras que fui encontrando pela cidade. Reajo sempre que encontro a nossa bandeira, claro!

Desta vez num bar onde tomei mais um pequeno-almoço! É um pormenor que eu aprecio, o facto de servirem pequenos-almoços durante todo o dia, o que é uma grande coisa, considerando que ele é composto por comida consistente, tipo almoço e se não houver mais nada que agrade para comer, um pequeno-almoço composto de tanta coisa é muito bem-vindo!

Lá me fui preparando para seguir viagem, olhando para tras e pensando na pena que era não ter um pouco de sol!

Então passei junto da catedral e constatei que nunca lá tinha entrado!

Um grupo de turistas ingleses estava a descer do seu autocarro e fizeram-me uma festa, a mim e à moto. Aproveitei a algazarra e parei ali mesmo, em cima do passeio.

A Saint Andrew Cathedral of Invernes é neogótica, do séc. XIX e é linda! Construída em pedra vermelha, no exterior e granito no interior

Consegui entrar e visitar antes que os turistas enchessem aquilo tudo!

Aquela foi a primeira catedral a ser construída na Grã-Bretanha depois da Reforma! Histórica por isso!

E vesti de novo o fato de chuva e segui para norte!
Havia réstias de sol, ou seria a cor das searas que fazia parecer?

A verdade é que aquele amarelo provocava cenários fantásticos com o céu cinzento a contrastar! O tempo de chuva pode proporcionar momentos únicos, se a atmosfera se mantiver límpida e foi o que aconteceu a partir de Invernes, o sol nunca veio com força, mas a chuva também não e as paisagens tornaram-se inesquecíveis e únicas!

E sim, uma nesga de sol lá aparecia de vez em quando!

“Invernes sempre será um nome que provoca efeito sobre mim, a cada vez que o repita na minha mente, a cada vez que passe na cidade. Um nome que existe no meu imaginário desde sempre e que demorei a conhecer de perto. Capital da região de Highland, tão mítica para mim quanto a cidade. Desta vez eu segui para norte, ali onde a estrada ladeia o mar por quilómetros sem fim. O céu estava cheio de nuvens inspiradoras e a luminosidade era surreal. A Escócia sempre me recebe com momentos incomparáveis de rara beleza, e ali não foram apenas momentos foram horas e quilómetros de encantamento absoluto!”

(in “Passeando pela vida” – a página)

Pude tirar o fato de chuva logo a seguir, o tempo estava a ajudar!

Então ao longe algo prendeu a minha atenção!

Eu sabia que a Escócia tinha petróleo perto e até que Aberdeen era conhecida como “capital do petróleo da Europa”, porque tem explorações no Mar do Norte e tal, mas não esperava ver poços de petróleo ali, assim, olhando da estrada para o mar, tão perto de Invernes!

Eu nem fazia ideia que ali também se explorava o bendito ouro negro!

Por isso fiquei a olhar quando apareceu aquela enorme construção flutuante, num braço de mar que me pareceu tão estreito!

Que bizarra combinação, um poço de petróleo com uma zona do planeta tão bonita e tão pouco intervencionada pelo ser humano, se pensarmos nas poucas estradas que por ali existem e na pouca população que aquele país tem.

Fiquei a olhar, como uma criança que descobre que o homem do saco afinal existe!

Fui-me enfiar no Dunrobin Castle para encher a minha memória de encanto outra vez e esquecer o petróleo!

O senhor da entrada foi-me dizendo para eu ir direta ao jardim para ver a apresentação dos falcões. Não sabia se tinha entendido bem o que ele me dissera mas ao ser recebida pelos simpáticos bichinhos, percebi logo que entendera sim!

Falcão, águia, gavião, milhafre e por ai fora, para não falar dos mochos e corujas… são aves que me fascinam!

Eles ficavam tão quietinhos que consegui desenhar rapidamente um!

Desenhei este passarinho de olhos grandes! Claro que tive de retocar tudo de memória depois, mas foi tão giro, ele ali quietinho a olhar para mim…

Podia ver o castelo lá ao longe, para lá das pessoas e dos voos rasantes das aves!

O castelo é imponente visto dos jardins, eu sempre me maravilho com um castelo…

O mar fica logo ali atrás, quase irreal para lá dos portões!

O castelo é conhecido como uma jóia das Highlands, e embora tenha origens medievais, o aspeto que tem hoje é renascentista de inspiração francesa.

Não se pode fotografar lá dentro, não sei porquê! Roubei uma ou outra foto e deixei-os para lá com os seus interiores infotografáveis!

Vê-se claramente que aquilo tudo vem de épocas em que não existia protectora dos animais nem qualquer preconceito em caça-los e depena-los!

Mas o museu, no jardim, ainda é mais chocante nesse aspeto!
Eu fui lá para ver as pedras gravadas dos Pictos, mas fui ficando chocada com os animais embalsamados que ali existem!

Foi da maneira que eu entendi que sou bem mais pequena que o pescoço de uma girafa!

O tempo não melhorava de novo, por isso despedi-me do local com mais um ou dois postais e segui caminho!

O castelo é muito mais bonito visto da parte de trás do que na entrada!

Enquanto esperava que a chuva parasse…

E voltou a brincadeira entre o sol e a chuva, que me foi permitindo curtir o caminho, cheio de paisagens encantadoras!

As casinhas a encantarem-me e a enriquecer a minha colecção de exemplares de todos os lados onde vou!

Então a estrada “chega-se” à berma do mar e segue por ali acima em sucessões de paisagens deslumbrantes!

Havia momentos em que eu tinha de parar, pois a sensação era de que atravessava um cenário quase artificial de tão bonito que era!

E a vantagem do tempo húmido é que, quando há sol à espreita, cria momentos únicos como arcos-íris que se movem connosco até se tornarem irreais!

Isso foi o que aconteceu a dado momento quando um arco-íris se formou na minha frente e, naturalmente, se afastava à minha aproximação até se “enfiar” no mar!

Deslumbrei-me!

“A natureza presenteia-nos com os espetáculos mais deslumbrantes quando menos esperamos. Quantos arcos-íris eu já vi na minha vida? Quanto eu já vi nesta viagem? Quantos eu vi hoje? Mas aquele foi de cortar a respiração! Eu via-lhe o fim, como se ele tivesse sido ali colado para mim! Parei de repente, olhei em volta, e não havia mais ninguém por perto a presenciar tal espetáculo. Que coisa linda! A escassos quilómetros do mítico John O’ Groats, tudo conspirava para que a minha visita ao local fosse inesquecível… e foi mesmo!”

(in “Passeando pela vida” – a Página)

Então cheguei…

John o’ Groats é uma aldeiazinha no topo das Highlands que é considerada o ponto mais a norte de toda a Grã-Bretanha, no entanto não é! Esse ponto fica ali perto em Dunnet Head.

Desta vez eu queria ir ali! Queria passear por aquelas falésias, sentar e parar de pensar!

Na próxima vez que ali for, quando eu for embarcar para visitar as ilhas a norte, aí eu visitarei Dunnet Head….

E depois de horas a catar as falésias lá fui conhecer a famosa placa que indica que estamos no princípio ou no fim de um caminho, dependendo de onde vimos de para onde vamos!

E não, não paguei para ter uma foto junto da placa que é de pôr e tirar apenas para sacar as librar aos turistas!

Interessou-me mais a John o’ Groats House”, mesmo ali ao lado!

E fui para casa, que naquele dia era em Thurso, e foi o fim do 19º dia de viagem.

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