36. Passeando por caminhos Celtas – Uma corrida da Grã-Bretanha até à Bretanha!

26 de agosto de 2014

Não sei porquê mas, da primeira vez que fui passear para o Reino Unido foi o circular ao contrário o que me baralhou as ideias, de resto tudo foi de adaptação fácil, mas desta vez se o circular ao contrário não me perturbou nada, já as distâncias fizeram-me errar alguns cálculos! Por diversas vezes me esqueci que estava a trabalhar em milhas e por isso 400milhas queria na realidade dizer 640 e tal quilómetros, por exemplo! Ora eu naquele dia tinha 419 milhas pela frente, o que queria dizer quase 675km… e isso queria dizer também que, com a travessia, eu iria ficar sem tempo para catar o que quer que fosse até chegar à Bretanha, a ultima zona celta até chegar a Espanha!

Por outro lado com o tempo ranhoso e cinzento que se mantinha, certamente não perderia grande coisa! Por isso enchi-me de comida, no último pequeno-almoço britânico, composto de bacon, salada de tomate, ovos estrelados, feijoada, cogumelos frutas, sumo e chá, entre outras coisas que a senhora me foi trazendo depois, como pão, queijo e manteiga! A dada altura eu já achava que ela nunca pararia de me encher de comida e eu não pararia de comer!

“you have to eat, you’re too skinny and the motorbike is too big!”

Eu adoro quando me chamam magrinha, sobretudo quando estou gordinha como nunca estive antes!

“I’m skinny?” eheheh

Eu podia habituar-me a ter tal tratamento todos os dias de manhã!

O mar estava bravo e o céu quase assustador lá fora! Equipei-me para a guerra com o tempo e fiz-me ao caminho!

Não valeria a pena parar em lado nenhum com um tempo tão feio, deixei para trás Margate e a sua Clock Tower …

E segui para Dover para atravessar o canal!

Havia já bastantes carros em diversas filas, para o embarque,mas não se avistava qualquer moto!

Os guardas daquilo tudo foram tão simpáticos comigo que me fizeram entrar no barco bem antes de começarem a mandar entrar os carros! Tão queridos, não me quiseram deixar ali à chuva e eu pude ver o porão completamente vazio!

Uma sensação curiosa! Ainda por cima quando do nada apareceu logo um senhor para amarrar a minha motita ao chão, como se de uma princesa se tratasse, com direito a tratamento VIP exclusivo!

E lá ficou ela toda catita, bem na frente do porão completamente vazio, pronta para ser a primeira a sair mal a enorme porta se abrisse!

O porão estava todo por conta dela…

E o barco todo por minha conta! Que sensação esquisita!

Escolhi o melhor lugar para mim, junto de uma janela que não estivesse muito suja e se visse vem para fora. E demorou quase uma eternidade até as pessoas começarem a entrar e outra eternidade até começar tudo a mover-se!

Não podia deixar de me sentir um pouco triste ao deixar o Reino, havia ainda tanta coisa que eu queria ver por ali e já tinha de me ir embora, ainda por cima com um tempo tão triste!

Barcos iam e barcos vinham, aquele canal é quase uma estrada de barcos que fazem a travessia a todo o momento!

A travessia não é muito longa nem demorada, pouco mais de uma hora, e eu estava de volta ao porão, para o encontrar repleto! Eu nem via mais a minha bonequinha, que estava completamente sozinha na frente de todos aqueles carros matulões e ameaçadores!

Mas ela tinha feito amizade com os vizinhos e ninguém lhe tinha feito qualquer mal!

O tempo tenebroso mantinha-se no lado de França, em Calais!

Ao contrário da última vez que conduzi pelo Reino Unido e voltei a entrar na França, não me custou nada voltar a conduzir pela direita. Mas, por via das dúvidas, há sinais a lembrar os mais distraídos para não se esquecerem de que lado da estrada devem circular!

Contornei o centro de Calais pelo lado do canal e segui por aquele lado mesmo, não valeria a pena explorar mais uma vez a cidade, pois já o fizera aquando da minha última travessia em 2011. E encontrei a église Notre-Dame de Calais!

L’église Notre-Dame de Calais, uma igreja construída entre o séc. XIV e XVI, é completamente diferente de todas as igrejas francesas, porque foi construída segundo o estilo Tudor inglês. Ali se casou Charles de Gaulle em 1921, mas o que me despertou o interesse foi o seu interior visivelmente degradado.

Questionei-me sobre o que se teria passado ali, para que o órgão estivesse espalhado às peças, ao longo da nave lateral direita e eu nem conseguisse descobrir onde ele devia estar. Não era um restauro o que lhe estavam a fazer, portanto! Perguntei a uma senhora que se aproximou de mim, atraída pelo meu interesse pelo edifício… a resposta chocou-me! A igreja estava mutilada desde os violentos bombardeamentos da 2ª Guerra Mundial e estava a ser ainda recuperada aos poucos… Eu não esperava que o passado estivesse ainda tão presente…

E havia peças de pedra amontoadas nos cantos, e havia buracos nas paredes, onde antes deviam encaixar as bigas de suporte do coro…

E toda a construção prometia estar em trabalhos de restauro por muito tempo ainda…

Aquele era de certa forma o prelúdio de um passeio pelos vestígios da 2ª Guerra mundial, ao longo da Normandia, que eu iria começar no dia seguinte…

A igreja fica numa porção de terra quase completamente rodeada de água, embora fique plenamente em terra. Um canal cerca quase completamente o pedaço de chão naquele ponto.

E ao longe eu via a torre vermelha do Hôtel de Ville de Calais.

“O Hôtel de Ville de Calais é uma construção lindíssima! Dá-se umas voltas pela cidade sem se encontrar o edifício da câmara, que normalmente está junto do centro, e vamos encontra-lo mais além, sem que se perceba porquê! Então a história conta tudo como foi, na realidade no final do séc. XIX duas terras foram fundidas, Calais e Saint-Pierre, e a câmara foi então construída numa zona deserta entre as duas populações! Num estilo que conjuga o estilo renascentista francês e o estilo Tudor inglês, ela surpreende e encanta, para lá de um jardim cuidado onde só peca o estacionamento que não permite uma visão totalmente limpa do conjunto!”

(on Passeando pela vida – a página)

E lá estava a Torre!

“Um pormenor de construção que sempre me fascina são as torres! Torres de castelos, igrejas ou casas levam-me em sonhos de infância, histórias de encantar, filmes fantásticos. E nunca me deixam indiferente! Torres de sonhos, de arquitetura arrojada, de história de épocas em que a vida de uma construção passava pelo seu encanto exterior, decorativo e romântico. Sempre olho para cada torre como quem olha para uma obra de arte lá no topo, onde só quem é atento toma atenção… um pormenor que é, afinal, a “raça” de um edifício!”

(in Passeando pela vida – a página)

O tempo estava a melhorar e eu tinha mais de 600 km pela frente! Que belo dia para apreciar estrada atrás de estrada, com nuvens inspiradoras que mudavam de forma e tom a cada quilómetro.

Quando percorro grandes distâncias, conduzindo seguido, tenho a sensação de que estou a atravessar o mundo, vicio-me no ato de conduzir e vou apenas apreciando a paisagem que muda a cada quilómetro, como quem olha para um documentário.

Naquele caminho imaginava que paisagens estavam para lá do que via… eu sabia que do meu lado direito começaria a passar a zona da batalha da Normandia e por ali fora as praias do desembarque…
Eu já estivera ali e agora voltava para reviver tudo de novo, amanhã, depois de uma bela noite de sono!

E foi o fim do 29º dia de viagem…

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6 thoughts on “36. Passeando por caminhos Celtas – Uma corrida da Grã-Bretanha até à Bretanha!

  1. Querida amiga Gracinda!
    Preciso chama la assim porque você me faz um bem tao grande, minha alma fica tao feliz por poder segui la por todos os cantos desse planeta lindo e me maravilhar com as cenas que me encantam me deixam totalmente atordoada fico literalmente nas nuvens e até demoro umas horas para voltar a realidade. Você mais do que ninguém deve me entender. Já estive em alguns poucos lugares por onde você passa amei demais e por isso essa admiração. Queria ter essa sua coragem ! Parabéns, você tem uma fã uma admiradora incondicional!

    • Olá

      Obrigada pelas suas lindas palavras!

      Gostei tanto do que me escreveu que quero publicar no meu Facebook (sem a sua identificação)! Posso?

      Fico tão contente que os sonhos que vou realizando vão realizando os sonhos de outras pessoas! Só por isso vale a pena ter trabalho a mostrar e relatar um pouco do que vejo e vivo numa viagem!

      E sim, pode-se ser amiga de quem não se conhece pessoalmente, apenas pelas coisas que se tem e se sentem em comum!

      Beijucas mil

  2. Tivemos então o mesmo número, se bem que eu pouco as tenho utilizado em viagens longas. O tempo é pouco e as chatices e os compromissos muitos, o filme do costume…

    Mas é coisa que me encanta. E encanta-me a visão de uma senhora (ou menina) de moto. Tenho várias colegas de trabalho que praticam a arte aqui na Noruega (devia descontar as das Harleys a quem digo por piada que conduzem um tractor) e bem gostaria ver mais em Portugal. É assim que a modos de ver passar por nós a liberdade e as manhãs frescas…

    Lembra-se desta página do clássico de Robert Pirsing «The zen and the art of motorcycle maintenance»?

    https://ancorasenefelibatas.files.wordpress.com/2011/01/2010_0815fotos0005.jpg?w=640&h=735

    Com um abraço agradecido de cá,

    • Bam, eu nessas 6 motos fiz os tais 800.000 km que estarão completos assim que a moto atual atingir os 81.000 km.
      Ora isso deverá acontecer amanhã mesmo pois faltam só uns 20 ou 20 km para lá chegar!
      Vou fazer uma festa para celebrar! 😉

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