27 de agosto de 2014
E pronto, o Reino Unido estava para trás e eu estava de volta à bela França!
Sempre me encanto com os encantos daquele belo país e a Bretanha continua a ser um recanto que me intriga e atrai, pela sua beleza e história.
Eu estava hospedada numa “maison d’hôtes” muito curiosa, num apartamento no sótão de uma casa muito antiga e inspiradora. As vezes que eu fotografei aquelas escadas!
E, tal como eu imaginara ao fazer uma reserva para 3 noites, era o sitio ideal para eu estar só, poder tirar as malas da moto, espalhar todas as minhas coisas por todo o lado e poder cozinhar! Esse pormenor de poder cozinhar fez-me tão feliz, depois de tanto tempo desejando comida de panela decente!
A dona da casa era muito simpática e foi-me dando coisas da horta que cultivava nas traseiras, batatas, cebolas e tomates, e eu fui fazendo os meus petiscos com tanta vontade que quase não precisaria de prato, à quantidade de vezes que ia depenicando da panela!
Depois de muita conversa ilustrada de mapas e prospectos de divulgação turística da zona, eu tinha 3 ou 4 coisas para ver naquele dia.
E a Normandia ficaria para o dia seguinte…
Pipriac era o nome da terra onde eu estava, bem no meio da zona que eu queria explorar naqueles dias. As pessoas ficavam a olhar para mim quando eu passava. Deduzi que não estavam muito habituadas a ver alguém de capacete enfiado a visitar igrejas…
Mas como ninguém me disse nada e eu só queria dar uma espreitadela, foi mesmo de capacete na cabeça que visitei a igreja sim senhor! Acho que não há lei eclesiástica que diga que isso é pecado… digo eu!
E segui para uma terrinha chamada La Gacilly onde decorria um festival de fotografia…
Oh, La Gacilly é uma vilazinha encantadora, com casinhas de pedra, a lembrar as casinhas de xisto do Piódão, com os caixilhos das portas e janelas em corres vivas, e muitas árvores, trepadeiras e jardins por todos os lados!
E como se não bastasse, realiza desde há mais de 10 anos um grande festival de fotografia ao ar livre que estava a decorrer!
E estavam lá fotos de Robert Capa, o grande fotografo que guerra que eu tanto admiro!
E o país convidado era os Estado Unidos, com fotos fantásticas, como as de Steve McCurry!
Perdi-me por ali, a ver a exposição que estava por todos os lados, ruelas e jardins, e a desenhar aqui e ali uma casinha mais encantadora ou um recanto mais pitoresco!
Porque as casinhas são mesmo muito bonitinhas por ali e apetece parar em cada recanto e desenhar!
Depois de horas a catar o mundo da fotografia e as ruelas de casas em xisto, a vilazinha que visitei a seguir ainda me encantou mais!
“Rochefort-en-Terre figura entre os “Plus Beaux Villages de France” e isso é garantia de “coisa bonita” mas ao chegar-se lá, rapidamente se percebe que ela é muito mais que bonita: é encantadora! Há uma harmonia extraordinária entre os diversos estilos arquitetónicos que se foram acumulando e justapondo ao longo dos séculos, desde a formação do local lá pelo séc. XII. Construções góticas, renascentistas e posteriores, convivem perfeitamente para um ambiente idílico de conto de fadas. Andei por ali muito tempo, o dia estava lindo e a vontade de captar tudo não me deixava ir embora. Nem sei quanto desenhos fiz, mas fotos foram tantas!”
(in Passeando pela vida – a página)
Algumas casas ficaram associadas aos desenhos que fiz! Uma sensação curiosa que experimento hoje ao olhar as fotos!
casinhas medievais que “coabitam” com casinhas mais recentes, renascentistas…
Formando um conjunto encantador por toda a povoação!
com direito a castelinho medieval e tudo a completar o conjunto!
A igreja de Notre-Dame-de-la-Tronchaye, numa mistura do estilo românico e gótico, a condizer com a redondeza!
“Sentir que uma viagem se aproxima do fim é sempre penoso para mim! Podem dizer que as saudades de casa têm de apertar, que eu tenho de ter vontade de voltar, que o meu coração tem de estar cá e não lá onde eu quero andar… Mas a verdade é que eu quero sempre continuar, com saudades, com vontades, com tudo, eu apenas quero continuar! Então não perco o entusiasmo, nem a vontade de ver tudo até ao fim e os últimos dias de uma viagem são aproveitados com a mesma intensidade que os primeiros, como quem vive a vida até ao ultimo momento! Assim me aconteceu quando cheguei a Rochefort-en-Terre, depois de um longo percurso de tantos quilómetros e tanta coisa explorada, eu me encantei! E sentei-me na berma de um vaso de flores, que era uma peça só esculpida num bloco de granito, na Place du Puits, e deixei-me ficar, apenas olhando. Desenhei, conversei e quis que aquele momento nunca mais acabasse e ele tornou-se eterno…”
(in Passeando pela vida – a página)
O dia não ficaria sempre assim bonito, por isso eu aproveitei o mais possível aqueles momentos de sol, apreciando as paisagens, conversando com as pessoas e finalmente partindo para uma terra mais à frente! Era cedo e eu tinha vontade de ver mais!
Redon lembra-me sempre o pintor simbolista francês, mas ali era uma cidade, com um centro histórico muito pitoresco!
Aquelas casinhas todas tortas, com os travejamentos exteriores sempre me prendem a atenção!
Fica ali no limite entre 2 províncias, o Loire Atlantique e o Lille et Vilaine e fica também numa confluência dos rios Vilaine e Oust, que mais parecem canais que quase dão a volta à cidade!
E há comportas e eclusas para gerir o fluxo das águas e tudo! Mesmo assim dizem que no inverno não é raro inundar-se aquilo tudo!
A igreja tem uma torre que não lhe pertence! Sim isso existe! Aquela torre está fora da igreja mesmo!
O corpo da igreja é essencialmente românico e a torre é gótica, um grande incêndio acabou por provocar a separação das partes e hoje a torre está ali, sozinha, mas de pé!
Uma beleza natural como eu aprecio, sem grandes intervenções posteriores que impeçam de apreciar a construção original…
O tempo estava a pôr-se ranhoso lá fora e isso impedia-me de explorar pormenores que aprecio, como uma série de grafitis que encontrei num recanto meio abandonado. Sempre provocam em mim aquele efeito da saudade de pegar nas tintas ou nos sprays e desatar a desenhar em grande…
E quando o dia já estava a meter água, passei em Roche-Bernard! Uma pena pois teria apreciado tudo muito melhor sem chuva, claro!
E segui para Guérande, uma cidade medieval que eu queria muito visitar! É conhecida por ter duas paisagens contrastantes, uma branca, por causa das suas salinas, e outra negra por causa da turfa!
O centro histórico é muralhado e é lindo por dentro! Claro que com a chuva que já era muita, fui-me refugiar na igreja!
A origem da igreja é tão antiga que se perde na mistura de restauros e reconstruções posteriores, mas continua linda e mostrando um pouco do românico, do gótico e até de pormenores anteriores!
Com o mau tempo lá fora deu para apreciar alguns pormenores com muita calma!
Mas eu tinha de sair da igreja, por isso à primeira aberta fui explorar as ruelas cheias de gente e guarda-chuvas e outras curiosidades!
Quantas vezes ando à procura de um porquinho mealheiro e não encontro nenhum e ali havia tantos!
Coisas que encontrei por lá e que fizeram tanto sentido!
A muralha é impressionante! Não é muito alta mas é perfeita e muito bem conservada!
E fui embora, meio amuada com o tempo que se voltara contra mim de novo!
E de repente passei por um castelo encantado… ou pelo menos encantador!
“Eu nunca consigo ficar indiferente a um castelo que avisto no meu caminho, paro sempre, olho sempre, tento sempre saber algo mais sobre ele e, se não puder aproximar-me, fico ali como uma adolescente a apreciar o seu ídolo inatingível até a consciência me fazer pegar na moto e seguir o meu caminho! Tudo isso voltou a acontecer quando pelo canto do olho eu vi o Château de la Bretesche “passar” ao longe, para lá de um lago que surgiu no espaço entre as árvores que faziam um muro, do lado esquerdo da rua que eu percorria! É uma construção medieval do séc. XIV que foi restaurado no séc. XIX. Que coisa linda! Mas quando descobri o que ele é hoje ainda fiquei mais fascinada! Ele foi vendido a uma empresa particular que o transformou em diversos apartamentos, onde vive gente! Ui, viver ali seria como viver num conto de fadas todos os dias, com direito a lago, jardins e até um campo de golfe com 18 buracos… céus, eu teria de deixar de viajar, só para desfrutar a sério da minha casa!”
(in Passeando pela vida – a página)
Que coisa linda!
E depois de muito fotografar e desenhar o castelinho lá segui para casa, desejando do fundo do coração que o tempo melhorasse porque no dia seguinte eu queria ir percorrer as praias do desembarque e a chuva não seria boa companhia…
E eu que nem sou grande apreciadora de chocolate, fui-me deliciar com um bom vinho, um jantar à minha maneira e chocolate com avelãs para sobremesa! Como eu gosto da França, onde há tudo o que eu gosto de comer!
E foi o fim do 30º dia de viagem…