12 de agosto de 2017
Havia tanta coisa que eu queria ver e tão pouco tempo para o fazer! Por isso eu decidira, em casa ainda, deixar para traz tudo o que não fosse possível ver, sem remorsos, e voltar mais tarde para explorar melhor, afinal o sul do país é cheio de interesse, de voltinhas a dar e vilarejos a explorar!
Contra todas as espectativas, a vontade de explorar Oslo não era nenhuma. Lutar com multidões matutinas não me inspirou nem um pouco, por isso simplesmente segui o meu caminho e deixei a cidade para explorar melhor noutra viagem qualquer, quando eu voltar predisposta a levar um banho de multidão.
Qualquer cidade ou aldeia anónima despertava mais o meu interesse naquele momento, a única dificuldade era decidir por onde ir, por isso deixei-me ir, apreciando o que ia aparecendo ao longo da estrada em direção a Kongsberg.
Kongsberg é uma cidade que fica na margem do Numedalslågen, um rio muito nervoso!
Que corre com muita velocidade!
O ar sereno daquelas ruas era tão inspirador, com as casas brancas a refletir toda a luz de um dia maravilhoso para passear!
Era a Heddal que eu queria ir e onde queria passar algum tempo!
A igreja de Heddal foi, desde sempre, uma das atrações que me despertaram naquele país. Uma construção medieval extraordinária, do século XIII, que é também a maior igreja de madeira da Noruega.
E é tão bonita, com o cemitério muito bem tratado em redor. Parece que tudo foi posto ali para encantar!
Havia pouca gente e o ambiente era de serenidade, com jovens vestidos com roupas da época, contado a historia da igreja.
Eu tinha de a ver por dentro e ficar por ali o tempo que me apetecesse.
“Eu podia contar a história da igreja de madeira de Heddal, mas isso qualquer pessoa pode procurar e saber pelo Google! Mas o cheiro a madeira e a fumo, o silêncio no seu interior e a presença quase viva que ela teve sobre mim, isso é o que não vem nos sites e eu vou guardar na minha memória! 7 séculos de história têm sempre o seu poder sobre a gente…”
(in Passeando pela vida – a página)
E os pormenores eram tão encantadores! Dei comigo a apreciar cada centímetro de madeira como se fosse de oiro!
As madeiras no exterior reviam alcatrão, uma forma antiga de preser4va-la contra intempéries e o próprio tempo.
Não sei quantas voltas dei ao cemitério para ver a igreja de todos os ângulos! Dei mesmo comigo encostada a uma lapide a apreciar o momento, tentando guardar na memória todos os pormenores possíveis!
E fiz um desenho!
Não é fácil desenhar uma igreja toda feita de pequenas tabuinhas! Fez-me lembrar quando desenhei as igrejas de madeira na Polónia e nem sabia muito bem por onde começar a sarrabiscar tanta tabua! Mas a experiencia ficou e, embora meio aldrabadito, lá ficou uma ideia do que aquilo é!
E não consegui partir sem voltar a olhar, a fotografar e a apreciar a minha moto junto daquele conjunto fantástico!
Ali ao lado fica o Heddal Bygdetun, um pequeno museu ao ar livre, onde foram colocadas construções que foram transferidas de outros locais e que mostram um pouco da evolução das construções tradicionais norueguesas dos últimos séculos.
Há também um pequeno registo de como eram os bordados, rendas e trajes de épocas antigas.
E os pormenores em redor eram encantadores, de tetos e paredes cuidadosamente pintadas com motivos florais. Muito bonito!
Cada casa era como uma casa de bonecas!
Apetecia ficar por ali o dia todo, em tão bonito local!
Onde até as casitas para os passaritos nas arvores eram lindas!
E logo ali começavam a ver-se as casinhas cabeludas, uma técnica antiga para ajudar a isolar as casas em tempos de frio extremo.
Estava a pouco mais de 200 quilómetros do meu destino se seguisse a direito para lá, mas havia tanta coisa que eu queria ver. Outras cidades, outras construções outros ambientes! Eu queria saber como eram as coisas no sul para depois ver como mudariam, ou não, à medida que subisse o país, por isso desci até à costa.
Cruzei Skien, uma das cidades mais populosas do país. Não era uma cidade que eu fizesse questão de conhecer, mas os pormenores arquitetónicos e do dia-a-dias das pessoas chama-me sempre a atenção!
A igreja luterana, neogótica em tijolo prendeu-me toda a atenção, mas estava fechada. Uma pena, eu gosto muito de entrar em igrejas de outras religiões.
Um grupo de miúdas, em scooters elétricas puseram-se a acompanhar o andamento da minha moto, na faixa para bicicletas. E desenrascavam-se bem!
Mas as coisas simples sempre me atraem mais, como um lago em espelho na região de Gjerstad,a caminho de Risør.
E eu perceberia que, naquele país eu pararia muito mais facilmente no meio de lado nenhum do que no meio de turistas e confusões. Acho que era isso que eu procurava em cada quilometro que fazia, a paz de um país!
Tão bonito um recanto anónimo como um bilhete postal de um grande fotografo!
Felizmente Risør estava posta em sossego! Apesar de ser uma cidade turística, com um porto importante e uma historia rica, não estava repleta de gente como seria de esperar! A sensação ao chegar ao centro e pousar a moto junto ao porto, foi de estar a chegar a uma aldeia, onde as pessoas olham para mim como se nunca tivessem visto nada parecido comigo antes!
Rudo em redor era branco, contrastando vivamente com o azul do mar e do céu, e passear por ali foi o momento de paz e encanto que eu estava a precisar!
As casinhas de madeira pintadas de branco, em ruinhas muito estreitas, eram como um cenário na Disney!
E numa janela qualquer, entre as muitas janelas das casinhas de encantar, encontrei os troféus de alguém que viaja e deverá ter ido desde Portugal até à Rússia, a considerar pelos galos de Barcelos em confraternização com as Matrioskas!
Claro que fui meter a moto pelas ruelas acima, tentando ver a cidade numa outra perspetiva, ante o olhar surpreendido que quem me via passar, provavelmente questionando-se onde iria eu por ai! A lado nenhum, minhas senhoras, apenas dar uma olhada!
E até o cemitério é encantador por ali…
E segui para Grimstad! Não importava a que horas chegasse ao meu destino, eu tinha de ir dar uma olhada ali!
Não havia ninguém nas ruas, o sol refletia nas janelas e nas paredes revestidas de madeira pintada de branco e a luminosidade era inspiradora!
Era sábado, eram sete horas da tarde e não havia ninguém nas esplanadas nem nos cafés! Para que serviriam as esplanadas? Para servir pequenos almoços?
É uma sensação estranha ser a única pessoa a passear pelas ruas de uma cidade! Só experimentei algo parecido no Reino Unido!
A Igreja, lindíssima, estava isolada sem ninguém por perto. Por momentos pensei até que estava abandonada!
E estava na hora de ir para casa, em Evje.
Evje ficava para norte de Grimstad, por entre pequenos lagos que iam aparecendo aqui e ali ao lado da estrada que eu percorria.
E cada um que eu encontrava era mais encantador do que o outro!
Momentos em que a sensação de que o paraíso afinal é na terra mesmo!
Até chegar a Evje, onde ficava o parque de campismo onde se situava a minha casa para duas noites.
Com vista privilegiada para o rio e para o por-do-sol!
Amanhã iria passear em redor, onde tinha duas ou três coisas que eu queria muito ver…
Faz aquilo que muitos sonham (eu também) e vão (vamos) arranjando formas de autojustificação para não fazer.
Deixe-me aqui expressar o meu sentimento de admiração pelos magníficos passeios que tem feito e pela forma como os faz e relata.
Obrigada
Quando a gente quer muito arranja maneira de realizar os sonhos! 😉
Beijinhos