18 de agosto de 2017
As manhãs eram frescas por aquelas bandas, mas nada que assustasse uma motociclista equipada, por isso o meu ambiente de pequeno almoço era inspirador para fazer planos de viagem, no pátio do hostel.
Quantas vezes terei de voltar à Noruega para ver tudo o que quero?
Essa era a pergunta que eu fazia a mim própria a cada vez que tinha de seguir caminho e a vontade era de ficar! E lá estava eu, mais uma vez a fazer desenhos no meu mapa para traçar o meu percurso até Bodø, imaginando todas as paisagens que me surgiriam pelo caminho. Mas eu iria primeiro explorar um pouco de Trondheim, que ainda não o fizera e tudo indicava que não estaria cheia de gente àquela hora da manhã.
As ruinhas pitorescas começavam logo ali, ao lado do hostel, e desciam até ao rio Nidelva, ladeadas de casinhas encantadoras, revestidas de madeira e pintadas de cores claras.
Ali é o Bakklandet, o bairro feito de construções de madeira antigas, pertencentes originalmente à classe trabalhadora e hoje património da Unesco.
Então chega-se ao rio, onde as casas pintadas de cores vivas formam o cenário mais encantador que apetece fotografar até à exaustão.
E era uma paz por ali! Não havia ninguém a perturbar os meus momentos zen de apreciação da alma de um local!
Os cais em redor permitem perspetivas perfeitas sobre toda a beleza do local!
Depois atravessa-se a ponte pedonal e logo a seguir fica a Catedral de Nidaros, a maior e mais importante construção gótica da Noruega!
A construção é espantosa e meio inesperada, depois de tanta pequena igreja de madeira!
Estava fechada e eu não iria esperar que abrisse, por isso andei em seu redor apreciando os seus pormenores exteriores.
Uma catedral cheia de historia, erigida sobe a égide de um rei e onde muitos outros se coroaram. Tinha gostado bastante de a ver por dentro, mas ao mesmo tempo não me apetecia esperar por mais de uma hora para o fazer… uma pena!
O ambiente é simpático por ali e a paisagem encoraja a caminhar um pouco!
E do lado de cá do rio eu podia ver o lado onde estivera antes, e como eram as casinhas vista de cá.
As casas do cais estão a ser restauradas e ocupadas com museus e estabelecimentos ou gabinetes de diversas coisas.
E o ambiente que elas provocam em seu redor é bonito e cheio de cor!
Estava na hora de voltar para a moto e partir, por muito que me apetecesse ficar mais um pouco.
Uma ultima perspetiva do rio, um ultimo esboço no caderninho e mais uma promessa de voltar….
As paisagens que eu encontraria no caminho ajudar-me-iam a seguir em frente sem remorsos do que deixava para trás, é sempre assim!
Os pormenores de cada local sempre me encantam, sobretudo quando são característicos de onde estou e diferentes do que existe na minha terra, como as acolhedoras igrejas de madeira lacada de branco…
… ou como os suportes para as caixas de correio, com telhadinho de musgo, lindas…
..ou as perspetivas de um cais de casas de madeira, ao estilho das de Trondheim mas em Namsos…
Pormenores que me encantam!
A ideia de que as estradas podiam ser de terra batida em qualquer lugar ia-se generalizando!
E logo a seguir comecei a encontrar os sinais de “perigo renas por perto”. Wow, será que eu iria ver renas mesmo?
A dada altura já só havia eu na estrada! Eu encontrara alguns motociclistas num ferry atrás, mas não os vi mais, uns eles seguiram rapidamente para a frente, outros ficaram para trás, provavelmente num destino anterior, e a paisagem arrebatadora ficara apenas para mim!
E o que eu me divirto por estrada tão inspiradoras!
Quando de repente, eu que dizia a toda a hora que estava a caminho do norte, encontrei a grande placa, quase uma fronteira, a anuncia-lo!
De alguma forma tudo se tornou meio mágico a partir dali!
Talvez porque o céu se tornava mais sombrio e cinzento e as águas mais sombrias, ou talvez porque as paisagens se iam esvaziando e tornando mais impressionantes aos meus olhos!
Apenas parar na berma da estrada era o suficiente para me sentir parte daquele mundo!
Mo i Rana estava cheia de festa, por isso foi só comer algo e seguir, depois de tanta paz não apetecia nada enfiar-me na confusão!
Logo a seguir voltei a encontrar mais um grande troço de estrada em obras. Há muitos por lá e eu já vinha quase viciada com eles. Entrava em terra batida com a mesma naturalidade com que passaria de estrada de alcatrão para estrada de paralelo, por isso mais um enorme troço em obras significava apenas mais diversão!
E a trapalhada era tanta, isto de não saber ler a língua deles não ajuda nada, que eu já nem sabia onde estava a estrada e onde estava a via alternativa!
Só percebi que tinha falhado o desvio quando dei comigo no meio da obra com os trabalhadores muito espantados a olhar para mim. Bora lá fazer meia volta que o caminho é por outro lado!
E a estrada boa estava logo além, com paisagens belas e solitárias. Vou sempre recordar aquelas estradas pela sua paz, solidão e beleza!
Foi com o céu mais etéreo e a paisagem mais serena que cheguei ao Circulo Polar Ártico! Fiquei ali parada a olhar em redor como se tivesse chegado a outro planeta e quisesse guardar na memória toda aquela atmosfera fantástica, para sempre!
Ali ao lado fica o Centro do Circulo Ártico… confesso que fui até lá quase por obrigação, pois a vontade de ver gente, e souvenirs e tretas do género, era nenhuma!
Há esculturas, marcos de acontecimentos e outras curiosidades, mas eu nem me afastei da moto. Fiz apenas um pequeno reconhecimento exterior e voltei para a estrada.
Honestamente, estava a fascinar-me mais o céu por trás, com as fantásticas nuvens a transparecerem luz em cambiantes translucidas de cor.
Eu preferi seguir e parar a cada quilómetro, apenas para olhar em redor!
Não havia nada para além do perfil ondulado da paisagem e o céu nublado em camadas transparentes de nuvens e, no entanto, eu sentia-me rodeada de uma das paisagens mais belas de toda a viagem!
Até as perspetivas da estrada me faziam parar e observar!
A sensação era que que os pedaços de neve estavam tão perto de mim, os montes não são muito elevados por ali!
Quanta beleza no nada de uma paisagem!
Eu simplesmente não queria que a estrada acabasse!
O dia estava a acabar e nunca mais escurecia!
Uma coisa que me surpreendeu foi constatar que o pôr-do-sol não era muito mais tarde do que em Portugal, quando eu supusera que entardeceria muito mais tarde! Na realidade o sol pôs-se a uma hora normal para aqueles dias de verão!
Tudo ficou azulado com o anoitecer, como num filme fantástico!
E muito tempo depois, apesar do sol se ter ido embora há muito tempo, a noite teimava em ser ainda dia e a luminosidade mantinha-se!
Como se o dia me quisesse acompanhar até casa, sem deixar que a noite me perturbasse o caminho!
E só muito tempo depois de chegar ao meu destino a noite se fechou definitivamente. A minha casa naquele dia seria, de novo, num parque de campismo, numa pequena casinha de madeira, com direito a aquecimento e a café quente e o som das arvores e dos pássaros como fundo.
Amanhã continuaria o meu caminho do norte!
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Fantásticas suas fotos e suas aventuras!
Às 10 da noite poder apreciar paisagens magnificas ainda com luz natural, tem realmente outro sabor…
Fantástico e obrigado pela partilha
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