24 de Agosto de 2012 – continuação
Tudo é interessante de ver numa viagem, sobretudo o que desconhecemos, por isso deixar Estrasburgo teve tanto de “triste” como de regresso à aventura!
Dali seguiria para o rio Mosel!
Desde a viagem do ano passado, quando passei em Trier vinda da Escócia, que tinha este rio em mente! Como eu dizia na crónica “ninguém se espante se um dia surgir um «Passeando pelo Mosel» na minha vida!” e pronto, era o que eu ía a caminho de fazer!
Isso faria um longo caminho até ao início da rota dos vinhos do Rio Mosel e depois, uma filinha de pequenas terras vinhateiras!
Logo a seguir não pude deixar de registar uma terra com o nome do meu moçoilo! Não é toda a gente que tem uma terra com o seu nome: Filipesburgo (em português)!
Logo à frente um grande trambolho era transportado, escoltado por um segurança em moto amarela que me fez uma festa!
Ficou ali à conversa comigo e eu a ver o mostrengo a aproximar-se!
Queria saber de onde eu vinha, que potencia tinha a minha moto, onde estavam os meus amigos e até fez pose para a foto! Muito simpático e deslumbrado por eu andar ali sozinha (mal ele sabia ao tempo que eu andava por ali e por acolá!)
E lá vinha a coisa gigante que fazia lembrar uma lata de cerveja monstruosa!
Quilómetros acima no mapa, lá cheguei ao belo rio! O Mosel é um dos maiores afluentes do Rio Reno, com 545km de extensão.
O rio é espantoso pelas curvas que desenha em todo o seu percurso, pelas suas encostas forradas de vinha e pelas aldeias e castelos edificados ao longo de todo o seu caminho e em ambas as margens!
Na realidade ele passa por 3 países: França, Luxemburgo e Alemanha. Mas eu seguiria apenas o seu percurso por terras alemãs.
Ao chegar a Bernkastel-Kues somos recebidos pelo castelo em ruinas no topo de uma colina forrada de vinha.
Mas fôra a cidadezinha medieval que me chamara ali!
Bernkastel-Kues é uma cidade com mais de 700 anos, famosa pelos seus vinhos.
As casinhas de travejamento exterior lembram o quanto a arquitetura da Alsácia é influenciada pela arquitetura alemã!
A Praça do Mercado Medieval é linda, cercada por casas bem conservadas, com os seus travejamentos exteriores que as tornam encantadoras! A Rathaus renascentista construída em 1608, à direita na foto é linda e diferente!
A “Spitzhäuschen”, ou “Casa Pontiaguda”, do séc. XV, é muito conhecida e visitada
É fácil de imaginar como me deliciei a passear-me por ali!
Depois o Mosel continuava na berma do meu caminho, com as vinhas que parecem forrar todas as encostas que o ladeiam!
Em Traven-Trarbach a porta que dá acesso à ponte é do séc. XIX, em arquitetura “romântica” com elementos de Arte Nova, aliás, as construções “Art Nouveau” são comuns ao longo do rio, testemunhas da riqueza que o comércio de vinho deu à região durante o séc. XIX.
Claro que andei para lá e para cá a ver a “coisa” de todos os ângulos!
Depois veio Enkirch…
e Zell, sempre terras que vivem do vinho e da vinha, desde o tempo dos romanos!
Passeei-me por ali, num ambiente em que toda a gente parecia ter saído à rua para beber um copito de vinho!
Mesmo antes de lá chegar eu já sabia da existência desta “casinha de bonecas” que é uma casa particular bem original! Uma casa do Arquiteto Walter Andre que é conhecido pelos seus edifícios orgânicos de poupança e recuperação de energia.
Não me surpreenderia se o proprietário fosse um criador de histórias infantis! 😀
Bullay, logo a seguir
Onde encontrei vários motociclistas acampados num terreno junto ao rio! Curioso como era tão cedo e já estavam abancados junto às tendas, com motos e bagagem como quem já está pronto para pernoitar!
Os enquadramentos que o rio proporciona são lindos, apenas faltou um pouco de sol e céu azul!
Em Bremm fica uma das curvas fantásticas do rio, um “U” bem apertado, que faz qualquer barco “retorcer-se” para dar a volta!
E a seguir Cochem, uma cidade linda e cheia de festa por aqueles dias!
Depois de subir o rio Mosel chega-se a Cochem e lá em cima da colina, bem na berma do rio e da cidade, o Castelo Imperial, impressionante, assim declarado pelo rei Konrad III em 1151. Um castelo que andou um pouco de mão em mão, entre alemães e franceses, acabou destruído e abandonado até ao séc. XIX, quando foi restaurado por um industrial berlinense. Hoje é um imponente marco histórico sobranceiro à cidade, o seu orgulho e o prazer dos visitantes! Por momentos fica-se ali a olhar para ele, como se de um cenário se tratasse. Deslumbrante!
Mas eu estava cheia de fome e tinha de tratar de comer! Cheirava a salsichas assadas e o meu estomago roncou! Puxa, ao tempo que eu não comia! Comprei um cachorro com uma salsicha quatro vezes maior que o pão!
Foi uma luta, tive de puxar do canivete suíço e corta-la aos pedaços para tentar que ela coubesse mais ou menos no pão! Era divinal! Afinal estava na terra das salsichas e não muito longe da cidade onde dizem que nasceram: Frankfurt!
Fui caminhando enquanto lutava com a salsicha e o pão, por ruelas que levavam a um ambiente que se pressentia no ar.
Pois é, eu nem sei alemão, mas pelas imagens de cartazes e pelo ambiente não era difícil entender que havia ali uma festa do vinho!
E na Praça do Mercado lá estava toda a gente e aqueles alemães sabem fazer a festa! O que eu me diverti naquela tarde no meio daquela gente animada!
Havia uns balcões todos enfeitados onde as pessoas estavam a pedir vinho! Ora era mesmo o que me estava a faltar para acompanhar o cachorrão!
A gente comprava o copinho de 2dl por 1.20€ e depois cada vez que o enchia pagava 1€. Tinham 5 vinhos à escolha, desde o mais doce até ao mais seco. Escolhi o do meio, nem muito doce nem muito seco, para nem enjoar nem me agredir o estomago! E era divinal!
Então a música subiu de tom, havia 2 grupos que se tocavam à vez, um mais maltrapilho, outro mais compostinho em uniformes iguais, mas os dois de partir o côco a rir!
Apesar dos seus trajes coloridos e apalhaçados, tocavam bem e cantavam também!
Então entrava o segundo grupo, todo em uniformes iguais e tocando igualmente bem e animadamente!
Por esta altura eu já ía no 2º cachorro e no 2º copito de vinhinho (também era tão pequenino o copito!)
Começaram a meter-se comigo, não os entendia, mas acho que foi porque eu andava de um lado para o outro a rir-me, a fotografar e a comer, pelo menos o homem parecia que queria comer o meu delicioso cachorro! eheheheh
Fui buscar o meu último copito de vinho
As pessoas eram tão simpáticas que não me apetecia sair dali!
Ainda dei uma voltita pela cidade, mas nem pensar em ir visitar o castelo! Ele estará lá quando eu voltar um dia certamente!
E fui-me sentar numa outra praça, junto ao rio, a curtir a festa e a boa disposição, que era minha também!
Lá estava a minha Magnífica na berma da estrada, com o castelo que não visitaria lá em cima! Que se lixe, já bastam as obrigações do tempo de trabalho! Em férias a única obrigação que levo comigo é a de me divertir e fazer o que me apetecer!
Só muito tempo depois é que me decidi continuar o caminho, calmamente e sem preocupações!
Em Treis-Karden voltei a parar, apetecia-me passear um pouco a pé e encontrei uma igreja linda, onde estavam a preparar uma outra festa do vinho! Aquela gente não perde tempo! 😀
A igreja era diferente de tudo o que vira e as senhoras, muito simpáticas, foram acender as luzes para eu a ver melhor!
Continuo a achar os alemães muito simpáticos, contra tudo o que ouço muita gente dizer!
Depois veio Schleuse-Müden, onde toda a gente parecia ter ido para a festa de Cochem, pelo menos não havia vivalma em lado nenhum!
E fui passear para o meio da vinha, encosta acima! Achei tão giro o caxo de uvas desenhado no chão, indicando o caminho do vinho e da vinha!
O que eu gosto destes caminhos! Fiz uma pequena coleção de percursos vinícolas só nesta viagem: França, vários na Suíça e agora Alemanha!
Alken lá ao fundo, uma das cidades mais antigas do vale do Mosel, habitada desde 450 aC pelos Celtas! Lá em cima da encosta o castelo de Thurant, do séc. XII que tenho de visitar um dia, que vá para aqueles lados!
Na cidadezinha de Gondorf, passa-se por baixo do Castelo do príncipe Von der Leyen, do séc. XII. É, na verdade a estrada nacional passa-lhe por baixo, fazendo ele de túnel!
Claro que andei ali para trás e para a frente! É que ele tem uma primeira “porta”, por onde entramos no seu espaço interior e depois tem uma segunda por onde saímos! Curioso!
E o sol abriu finalmente, dando às vinhas uma cor deslumbrante! Tal como os suíços e os portugueses do Douro, os alemães trabalham a vinha até ao topo das encostas mais íngremes! Parece que até as paredes dão vinho para quem sabe “da poda”!
E segui para Koblenz, onde ficava a minha casa naquele dia!
Fim do vigésimo sexto dia de viagem!
Fantástica partilha! 🙂