26 de Agosto de 2012 – continuação
Luxemburgo é um país surpreendente que ainda hei de catar devidamente um dia destes. Naquele dia eu apenas queria dar uma volta pela cidade de Luxemburgo, que conhecia apenas de passagem e sabia que tinha encantos que mereciam ser visitados!
Como a catedral de Notre-Dame, do início do séc. XVII, num estilo gótico tardio já com elementos renascentistas.
Estava em missa, mas ninguém impedia as pessoas de entrarem e admirarem a construção.
A igreja é muito bonita, sendo já uma mistura de estilos contem elementos decorativos curiosos que não existiram se fosse apenas gótica.
Muito bonita e eu ainda não a tinha visto por dentro por a ter encontrado sempre fechada!
Depois andei pela zona antiga da cidade, que circunda a catedral. Uma zona muito animada e cheia de turistas, o que contrastava com a última vez que ali estivera e que não havia vivalma na cidade!
Luxemburgo é uma cidade encantadora com o mesmo nome do país de que é capital e lá, na zona baixa da cidade, fica o também encantador Chemin de la Corniche, um percurso pedestre, conhecido como “a varanda mais bonita da Europa”. Era lá que eu queria ir!
Passeia-se por ali, por caminhos ora escavados nas rochas, ora pela borda do rio Alzette ao longo das muralhas da cidade velha e das fortificações construídas pelos espanhóis e austríacos no século XVII.
Lá em baixo no vale de la Corniche a perspetiva do desnível é deslumbrante, enquanto se passeia por entres as casas de pescadores de outros tempos.
Cá em baixo fica o Grund, um dos distritos de Luxemburgo, que se divide em duas zonas sendo a outra a zona alta da cidade.
A Abadia de Neumünster domina a paisagem, cá em baixo. Inicialmente românica, mas depois de diversas destruições e reconstruções, chega até nós numa mistura de estilos!
No “meio” entre o Grund e a cidade alta, fica uma série de cavernas, caminhos escavados e as Casemates, que são património da Humanidade, cá de baixo podem-se ver as aberturas nas rochas.
Enquanto as pessoas se apinhavam lá em cima nos percursos e nas casemates, eu passeei-me cá em baixo, completamente só no sossego da margem encantada do rio Alzette.
A abadia é também um centro cultural e ainda tive direito a visitar os seus claustros e uma belíssima exposição de fotografia de viagem!
Voltei a subir à cidade alta, porque o meu fascínio estava lá em baixo e de outra perspetiva é sempre encantador!
De cima podia ver os caminhos que percorrera cá em baixo na margem do rio e a abadia e o centro cultural.
Adorei a cidade vista desta perspetiva! Valeu a pena dar a volta ao meu caminho e passar por lá!
Mas o meu objetivo ao desviar-me não era apenas este destino… havia algo que eu queria ver ainda, mais à frente e num contexto completamente diferente!
Há 2 anos andei a passear por campos de batalha da Segunda Grande Guerra, desta vez andaria por campos de batalha da Primeira: Verdun!
Ainda parei em Esch-sur-Alzette, pois sabia que lá existia uma catedral espetacular… mas estava fechada!
A cidade é bonita e uma das maiores do país, mas o tempo estava uma bosta, o ambiente sombrio e desértico e eu deixei para visitar noutra altura… coisas que me dão!
A minha Magnífica a espreitar para mim por trás de uma arvore! 😀
Peguei nela e segui para o sol e para a guerra…
A Batalha de Verdun foi uma batalha terrível, entre franceses e alemães, que durou quase todo o ano de 1916.
Andar por ali teve em mim um efeito próximo do que teve visitar Auschwitz… cheira a morte, quase 100 anos depois e os monumentos, marcos, lapides e todo o tipo de memórias de morte, multiplicam-se por quilómetros e quilómetros da área que foi o grande campo de batalha…
Aldeias “destruídas” na batalha são relembradas em capelas e placas…
Fiquei chocada quando, ao seguir as placas que indicavam uma aldeia destruída e ao chegar lá…
Tudo fora reduzido a placas e a espaços nus por entre a relva… como se cada casa desaparecida tivesse dado lugar a terra queimada onde nada nasce, nada cresce!
E tudo é silêncio por ali ainda hoje!
Na época calculava-se que tivessem morrido mais de 700.000 homens, entre franceses e alemães…
O que faria uma média de 70.000 mortos por cada mês de guerra…
Numa batalha que foi a mais longa e a mais sangrenta daquela guerra e de toda a história militar!
Hoje pensa-se que o número de mortos foi mais elevado que o estimado na época… para mais 250.000…
O Ossuário está em restauro, bem como o extenso cemitério militar… não entrei no Ossuário…
“A batalha de Verdun – 21 de Fevereiro – 18 de Dezembro 1916, 300 dias e 300 noites de combates ferozes, terríveis. 26.000.000 obuses disparados pela artilharia, sendo 6 obuses por metro quadrado, milhares de corpos mutilados, cerca de 300.000 soldados franceses e alemães considerados desaparecidos.”
“O ossuário mantém dentro de si os restos de soldados mortos no campo de batalha, a fim de preservar sua memória.”
Ali ao lado fica um monumento para os soldados muçulmanos que morreram na batalha.
Por todo o lado é frequente encontrarmos zonas de relvado ondulado que são trincheiras, espaços ocos, onde os homens se protegiam…
E o Fort de Douaumont, o maior da região de entre os 38 fortes construídos nos últimos 25 para proteger a linha fronteiriça numa área de 40km em redor de Verdun… era novo quando começou a batalha de Verdun…
Ao entrar ali percebe-se que ser soldado não era muito diferente de se ser prisioneiro!
500 homens viviam ali, por baixo de terra, sem grandes condições e numa guerra permanente, já que os ataques alemães eram intensos!
A “Tourelle de 155mm”
As casas de banho…
e uma cidade subterrânea e húmida…
e podia-se descer mais pelo abismo!
Os lavatórios, cheios de estalactites do tempo e da humidade!
Ao fundo a capela…
Atrás da cruz branca estão os corpos de 400 soldados franceses e 30 alemães mortos no forte…
O ambiente torna-se pesado, não pelo cheiro ou pela humidade, pois curiosamente não cheira a nada nem sequer à humidade! É a história que pesa no coração da gente!
Cá fora estava sol e subi ao topo do forte, que não é muito alto…
E por ali se entende o ondulado da relva, sabendo o que está por baixo!
As Tourelles…
Furos de balas nas carapaças das Tourelles…
Ainda passei por outra aldeia destruída, Vaux…
E fui-me embora, por entre mais memoriais e mais lápides de mais trincheiras…
Até só ver cemitérios de quando em quando…
Depois foi o vazio e a imensidão e fui andando, ainda com o coração oprimido pela viagem ao passado, tão presente ali…
Uma paisagem infinita e infinitamente bela serena-me sempre o coração e naquele momento era tudo o que eu precisava!
E parei para dormir em Troyes…
E foi o fim do vigésimo oitavo dia de viagem… sem conseguir evitar de falar e mostrar tanto de um dia que me ficou para sempre na memória… sorry!
Mais um bonito relato com belas fotos!
Triste a parte que relatas da Batalha de Verdun, “a morte”…
Obrigada pela partilha!
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Antes de mais, parabéns pela enorme viagem que fez sozinha, por entre aventuras e desventuras. Eu tenho vindo a ler os vários relatos à taxa de 2 a 3 por almoço… e acho que vou ter saudades do ritual quando chegar ao fim.
Agora, sobre este post em si. Até eu, ao ver as fotos e ler a sua descrição, sinto o vazio pesado que devem ser esses campos de batalha, as aldeias que já não existem… os cemitérios a perder de vista… enfim. Mas por outro lado, só com a existência de lugares como estes podemos tomar consciência do mal que o ser humano é capaz de fazer. A minha esperança é que esta geração e as futuras nunca mais tenham necessidade de construir espaços destes.
Continuação de óptimas curvas e venham mais posts 😉
Filipe
Obrigada pela visita e pelas suas palavras!
Eu viajo praticamente sempre sozinha, a melhor forma de eu conseguir ver e viver tudo o que quero sem outra preocupação para alem disso! Quando levo alguém levo também uma preocupação acrescida, pois eu tenho muita resistência, consigo conduzir e visitar uma infinidade de coisas sem me cansar nem precisar de parar a cada esquina!
A Europa está cheia de coisas que eu quero ver e a história, os vestígios do passado sempre me fascinam… Os campos de batalha, os campos de concentração… devem ser visitados, como eu digo, para que a memória não se perca e o erro não se repita!
Quando acabar de ler esta crónica eu tê-la-ei acabado também, pois falta-me um pouco! E ai basta seguir outra que esteja no topo da página, pois há varias a cada ano, desde 2008, quando as comecei a fazer e colocar aqui!
Cumprimentos!
Eu tenho-as “devorado” [as crónicas] a pouco e pouco… É a minha forma de viajar também. Por enquanto apenas pode ser assim, no entanto, a vida pode e deve ser comandada pelo sonho, por isso, sonho um dia poder vir a pegar numa máquina capaz de palmilhar kms atrás de kms; assim tenha eu tanta resistência, eheheheh.
Provavelmente já lhe terão dito isto, mas mais uma vez não faz mal… Nunca pensou em compilar os relatos das suas viagens? Tudo isto junto daria um belo roteiro da Europa… e ainda mais sendo pensado para motociclistas.
Cumprimentos e votos de grandes e boas viagens!
Filipe
Acabei agora mesmo a cronica de Agosto passado eu parecia que nunca mais tinha fim, de tanta coisa que vi e visitei!
Sim, já me falaram muitas vezes de escrever um livro mas, a bem dizer, não tenho nem tempo nem paciência para voltar atras a cada viagem! Mal acabo uma cronica começo a desenhar uma próxima viagem e deixo ara trás o que está para trás!
Pode ser que, quando eu for velhota e já nem conduza mais uma moto, viaje de avião e escreva as minhas memorias e recordações de viagem, nas salas de espera dos aeroportos!