14. Passeando pela Grécia/Balcãs – subindo a Bulgária até Pleven

1 de setembro de 2022

Hoje iria subir a Bulgária.
As saudades que eu tinha de passear por aquele país! Lembrava-me que a ultima vez que andara por ali, e estivera em Plovdiv, tivera sensações muito agradáveis, com a simpatia do povo, os caminhos solitários ladeados por campos cultivados e as paisagens rurais com aldeias quase escondidas entre a vegetação. Por isso agora tinha em mente explorar outros sítios e outros percursos, assim a minha mão mo permitisse…

Ao pequeno almoço pude encontrar-me com o pessoal do alojamento. De entre aquela gente simpática havia quem, efetivamente, se lembrasse de mim e da minha moto preta.
“Ah, já não tenho essa moto preta, agora é branca!”
“Pois, já passaram alguns anos teve de trocar por outra.”
 “Bem, na realidade esta é a seguinte à que tive a seguir à preta…”
E vieram ver o meu ultimo modelo!
Entretanto, tal como da ultima vez que ali estive, o gatão veio tomar o pequeno almoço no meu colo! Há coisas que não mudam!

Considerando que eu estive ali há 6 anos, o bichano terá pelo menos uns 7 ou 8 anos. Lá ficou todo contente no meu colo enquanto eu errefecia o meu pulso febril e tomava o meu café. Eu gosto de gatos!

Plovdiv, uma das cidades mais antigas da Europa, tem um imenso significado histórico como uma encruzilhada cultural que remonta aos tempos antigos. O antigo centro histórico de Plovdiv é um tesouro de património arquitetónico que reflete o rico passado e as diversas influências da cidade.

Na subida para a parte mais alta da cidade, perto da porta medieval de Hisar Kapia, fica a Casa Kuyumdzhioglu, uma casa do sec. XIX que é hoje o Museu Etnográfico Regional de Plovdiv. Só pude visitar por fora pois estava fechada. Mas é tão linda que valeu na mesma o tempo que lhe dediquei!

O antigo Centro Histórico de Plovdiv possui uma mistura única de estilos arquitetónicos, incluindo arquitetura romana, bizantina, otomana e renascentista búlgara. 

Quando eu volto a uma cidade sempre procuro ver o que ainda não vi e deixo sempre algo para ver quando voltar a lá passar. Desta vez eu queria subir até Nebet tepe, uma das colinas da cidade. Nada de especial em termos de caminhada, já que eu estava alojada perto dali.

Ali foi onde a antiga cidade foi fundada. Os primeiros assentamentos em Nebet Tepe datam de 4.000 aC.

Dali de cima pode-se ver toda a cidade, desde os vestigios romanos até às collinas no horizonte. Dizem que as colinas de Plovdiv são sete! (lembrei-me que Lisboa também é uma cidade de 7 colinas!)

No entanto, sendo um ponto tão importante para a cidade e um monumento cultural de importância nacional, com tanta história acumulada por tantos séculos, pareceu-me bastante negligenciado e abandonado a si próprio! Uma pena…

As icónicas ruas estreitas de parelo irregular, ladeadas por casas coloridas do século XIX, com distintos andares superiores salientes, são emblemáticas do charme da região. 

As casinhas são tão fofas com fachadas ornamentadas e pisos superiores suspensos sobre estruturas de madeira, que só apetece fotografar e desenhar até à exaustão! E a cor das paredes, com o reflexo da luz forte do sol, tornava cada ruela estreitinha num “tunel de beleza”!

A porta medieval de Hisar Kapia é imponente, com as casas em redor de cores fortes a tornar o conjunto verdadeiramente único!

Lembro-me que a primeira vez que cruzei aquela porta de moto, estava com a minha CrossTourer preta, assustei-me com a irregularidade das pedras do chão. Eu tinha tido motos mais baixas por tanto tempo que tive medo que, se me desequilibrasse com o saltitar da moto, não chegasse a tempo com os pés ao chão para me segurtar de pé!

Claro que acabei por me rir de mim própria, como podia eu ter medo de cair com uma moto tão mais leve do que a que eu tinha antes? Qualquer pésada ao chão me equilibraria muito facilmente! E lá continuei o meu caminho pelas ruelas todas tortas da cidade, toda contente.

Depois do piso torto do centro histórico, qualquer paralelo parecia alcatrão lisinho!
Eu sempre digo que, depois de experimentar o pior, qualquer coisa parece melhor!

A Bulgária pode não ser um país rico e ter algumas estradas em mau estado,(todos os paises têm) mas, num geral, pode-se circular com bastante conforto pelo país. Na realidade a maioria das estradas que já percorri no país, (e foram muitas) estavam em bom estado. E desta vez não foi diferente.

Outra curiosidade que sempre me agradou no país é que, embora seja exigida uma vinheta para se circular nas autoestradas/vias rápidas, essa exigência não se aplica às motos.

Lembro-me de andar pelo país e, embora sem conseguir ler uma palavra de búlgaro, perceber pelas figurinhas em placas, que estavam por todo o lado, que precisava de uma vinheta. Preocupada em poder ser intercetada pela policia e não ter a dita cuja, assim que vi uma cabine de venda da coisa, fui tratar de comprar uma para mim. Qual não foi a minha surpresa quando a senhora me diz “Moto free!”

Ainda perguntei se era free naquela estrada mas ela, fazendo gestos de negação com as mãos, respondeu: “motos free in all Bulgaria!”

Wow! E eu habitada a que a moto pagasse para tudo no meu país!

O meu destino era Veliko Tarnovo, uma cidade com uma importância significativa na história búlgara.

Não havia onde deixar a moto. Ainda andei para baixo e para cima, na rua, à procura de um cantinho para a pôr, mas nada! Então recorri à minha estratégia mais básica, subir o passeio e perguntar ao senhor da cabine de entrada se havia um sitio por ali onde pousar a minha motita para ir visitar a fortaleza. Claro que havia, ali mesmo!

E lá ficou ela, quase no meio do caminho, onde ele me indicou, de forma que ele a pudesse ver! Não são fantásticos os búlgaros?

Para visitar a Fortaleza de Tsarevets é preciso comprar um bilhete. Oh valha-me Deus, além de ir derreter a mioleira caminhando colina acima debaixo do calor, ainta tenho de pagar por isso!

A Kaca sempre me faz sorrir!

E lá estava ela, a Fortaleza de Tsarevets, também conhecida como “Cidadedos Czares”.

É uma fortaleza histórica construída durante o Segundo Império Búlgaro, possui até hoje um imenso significado histórico e atrai visitantes de todo o mundo.

As coisas que eu estudei e descobri sobre a Bulgária aparecem ali tão bem situadas!

O leão tem uma presença significativa na cultura oficial dos búlgaros e é um símbolo do poder do Estado, também sendo integrado no brasão nacional. A palavra antiga para leão, lev, é utilizada para denominar a moeda da Bulgária.

E à medida que se sobe, as perspetivas sobre a cidade são muito bonitas.

Toda a colina era cidade, cercada por densas florestas e altos picos. Era certamente bastante impressionante, sobretudo pelo seu poder e imponência, que na época seriam bem maiores!

A localização estratégica da cidade, nas falésias sobranceiras ao rio Yantra, tornou-a numa fortaleza natural e num símbolo de força e resiliência.

Olha-se para os desenhos dos mapas e olha-se em redor, e está lá tudo! O rio Yantra a dar a volta a tudo de uma forma que apenas um drone conseguiria registar!

No ponto mais alto da colina, fica a Igreja Patriarcal da Ascensão, que foi construida sobre os vestígios de uma igreja cristã antiga, do século V.

Durante o império búlgaro no século XIII, esta igreja era considerada a principal igreja do país, fazendo parte do patriarcado da igreja ortodoxa da Bulgária. Não haveria Czar sem o patriarcado, daí a grande importância desta igreja na época.

Hoje, depois de restaurada, não funciona mais como igreja e não conserva, certamente, grande parte das suas caraterísticas originais, mas é um espaço bonito e intrigante, pela decoração que ostenta.

Ui, estava tão fresquinho ali dentro que só faltava um banco ou uma cadeira para eu ficar por horas lái dentro!

Sair dali era como cair no mundo real, depois de ter relembrado trechos da
história da Bulgária que trazia comigo para me orientar, desde a cabine da
entrada.

Bora lá, que para baixo todos os santos ajudam.

 

Pleven está localizada numa região agrícola na planície do Danúbio, eu já lá andara perto quando fizera o Rio da nascente até ao delta, mas explorara a redondeza deixando a cidade para ver mais tarde.

Ora o “mais tarde” seria hoje, por isso siga para lá que tenho fome e quero ver coisas e comer sem pressas!

A praça principal de Vazrazhdane é o “centro do mundo” ali!

A gente começa a caminhar e parece que toda a praça foi preenchida por uma enorme fonte sem fim, que passa, ora por baixo ora por cima dela! Está por todo o lado!

Com desníveis, cascatas e repuxos de vários tipos e estilos, aquilo dá caminhos criativos em varias direções, com gente que se senta um pouco em qualquer lado a ler ou a conversar.

Há um clima curioso e diferente por ali!

Ao passear ao longo da enorme fonte encontrei os 3 famosos sapinhos de Pleven sobre uma pedra.
Ao que parece alguém tentou “sequestrar” um deles danificando a simpática obra escultórica.
Um cidadão anonimo conseguiu evitar o sequestro tornando-se oficialmente o seu salvador.  

Sempre que me passeio pelos paises de leste tenho aquela sensação de caminhar pelas histórias da História que estudei na escola, por isso memoriais sempre me chamam a atenção, pois podem referir-se a eventos que eu já conheci! E assim era, outra vez, naquele momento!

Aquele é o monumento “Bratska Mogila” que foi construído nos anos 70 em memória dos combatentes caídos contra o fascismo e o capitalismo. Hoje também glorifica os soldados búlgaros que morreram na Guerra Russo-Turca.

A câmara da cidade ao fundo

Lá estava a Capela-mausoléu de São Jorge, o Conquistador.

O mausoléu foi dedicado aos soldados russos e romenos que morreram durante o cerco de Pleven em 1877 e é chamado de São Jorge, em homenagem ao padroeiro dos soldados. E eu a pensar que estava lá dentro o santo!

Muitos dos restos mortais dos soldados foram depositados no local. O edifício faz parte do brasão da cidade.

E era hora de ir para casa…

O meu quarto ficava lá bem no alto, o que me proporcionava uma perspetiva bem bonita da cidade… ou antes, daquele lado da cidade!

Davam chuva para amanhã, por isso eu estava a preparar-me mentalmente para o banho e a escolher as visitas de interiores, já que na rua provavelmente não daria para ver grande coisa.

Amanhã seguirei para a Sérvia…

13. Passeando pela Grécia/Balcãs – Bulgária e a bela Plodiv

31 de agosto de 2022

Foi com uma profunda sensação de perda que eu acordei e sai para a rua…

Eu sempre detesto quando as pessoas começam a chamar “regresso” à minha viagem, mas a realidade é que aquele era o ponto em que até eu sentia que começava a regressar…

Se nada me tivesse acontecido o meu caminho seguiria para a Turquia e eu teria uma infinidade de coisas para descobrir ainda. Mas na realidade era hora de seguir para a Bulgária e deixar a Turquia para outra viagem, tentando ignorar que estava a menos de 500km de Istambul.

Depois de 3 PanEuropeans e 2 Crosstourers com veio de transmissão, ter uma moto com corrente deixava-me um bocado apreensiva. Eu já inspecionara se o Scottoiler tinha óleo e se a corrente estava em boas condições, mas não há nada mais persistente que uma cisma e, quando vi um stand da Honda, fui lá pedir para darem uma olhada à saúde da minha motita.

“Ter uma moto com corrente, e que deu um trambolhão há pouco tempo, requer que lhe dedique alguns mimos. Vamos ver se esta tudo bem…”

Na época havia muito poucas motos novas nos stands e muita gente estava há meses à espera da sua NT1100, mas ali havia uma toda vaidosa na montra!

“Uma mana da minha Penélope à venda, novinha ❤️
A minha motita estava ótima, não precisava de nada, apenas eu não consigo ver direito a pressão dos pneus, com esta mão marota a não ajudar nada.
A minha motita foi recebida com muita admiração por ter 20.000km, ainda não tinham visto uma NT1100 tão rodada! E ao verem a minha incaparidade na mão da embraiagem, quase me pegaram ao colo e me mimaram! Chamaram-me super woman ❤️” in Facebook

Percorrendo a Macedónia grega, aquela que obrigou que a Macedónia país se chame Macedónia do Norte, para que não se confundam!

Logo à frente apareceu Xanthi, a cidade das mil cores, dizem.

A mim pareceu-me uma cidade muito alegre e animada, cheia de sol, de gente e de movimento. O sitio ideal para parar e comer qualquer coisa, que o alojamento não tinha pequeno almoço!

E lá estava a catedral: Καθεδρικός Ναός Αγίας Σοφίας Η Σοφία του Θεού

Sim, este é o nome da catedral de Xanthi! E Xanti escreve-se Ξάνθης

Como não nos sentirmos analfabetos num país daqueles? Será que esta é uma das aflições que deu origem à expressão “viu-se grego”? Pessoalmente eu vejo-me sempre grega naquele país, e dizem que os gregos são eles!

Em língua que se leia o nome da catedral de Xanthi é: Catedral de Santa Sofia a Sabedoria de Deus

As igrejas ortodoxas são sempre fascinantes por dentro, mesmo as mais pequenas e mais modestas, por isso, seguramente, a catedral também tinha de ser linda!

E, mesmo estando a contar com exuberância, eu sempre me espanto! Com as cores vivas, os detalhes decorativos, os muitos desenhos e pinturas e, claro, os dourados!

Felizmente não havia lá ninguém, sempre me sinto incomoda perturbando a orações das pessoas com a minha presença curiosa, mesmo se me tento tornar invisível. Todo aquele ambiente me impressionava, eu tinha de ter tempo para ver tudo com calma.

Os caminhos para Bulgaria não são muitos naquela zona. É preciso decidir entre uma grande volta pela esquerda ou uma grande volta pela direita e eu tinha escolhido ir pela costa do mar Egeu.

Eu sabia que havia lago e mar mas, estranhamente, a sensação que tinha era de circular por um grande lago, com zonas pantanosas!

Logo à frente fica Porto Lagos, tão português escrito numa placa, depois de tanto tempo a ler coisas esquisitas por todos os lados!

Porto Lagos fica na barra que separa o segundo maior lago de toda a Grécia, o Lago Vistonida, do Mar Egeu e eu tinha dificuldade em distinguir um do outro, já que tudo parece lago por ali!

E lá estava o Santo Mosteiro de Agios Nikolaos!
Aquele mosteiro é uma dependência do Mosteiro de Vatopedi no Monte Athos. E é único, pois foi construído sobre duas pequenas ilhotas e parece estar flutuar no Lago Vistonida. 

A sensação de encontrar algo que procuro, algo que vi em fotos, livros ou documentos, e descobrir que tudo é exatamente como eu imaginara, é de puro êxtase!

No primeiro ilhéu encontra-se a igreja de Agios Nicolaos e no outro a capela Panagia Pantanassa.

A igreja foi construída para substituir uma anterior destruída num desastre, é dedicada a São Nicolau porque uma imagem de São Nicolau foi encontrada ali. 

Não consegui deixar de lembrar-me do nosso alentejo ao apreciar as paredes brancas, com janelas contornada a azul!

Uma ponte pedonal de madeira conduz ao primeiro ilhéu e uma segunda ponte liga os ilhéus entre si.

Reza uma lenda que, quando aquela zona estava sob o domínio turco, em Porto Lagos vivia um monge santo asceta que curou a filha do senhor daquelas terras. Este, num gesto de gratidão, ofereceu a área ao mosteiro de Vatopedi, no Monte Athos.

Uma outra lenda mais antiga conta que o mosteiro de Agios Nikolaos foi inaugurado com a presença do Imperador Bizantino Arcadio, para agradecer à Virgem Maria por tê-lo protegido de um naufrágio no regresso a Roma.

Tudo é tão bonito e acolhedor por ali que tinha quase um toque de espaço de recreio e não de oração! Felizmente não estava ninguém por lá enquanto andei a explorar, mas essa realidade estava prestes a mudar, pois ao longe eu podia ouvir autocarros a chegar e muita gente a preparar-se para invadir as pontes até ao mosteiro!

Felizmente as pessoas eram respeitosas e foram-se chegando aos poucos sem perturbarem demais a calma do lugar. Seguramente era turismo religioso, pois havia uma atitude de respeito, que não perturbou o lugar.

E enquanto elas se amontoavam no velário eu pude ainda apreciar em paz todos os recantos que me fascinavam, com direito a picnic em local privilegiado e tudo! Pode-se dizer que foi um picnic sagrado!

Ao longe o mosteiro parecia um pequeno recanto de férias…

Eu adoro conduzir, mas também gosto muito de parar, por tudo e por nada. Estava calor e eu aproveitei para parar numa estação de serviço para me refrescar e tomar um café, que costuma ser bastante decente em terras gregas. Não valia a pena por gasolina naquele momento, já que a gasolina na Grécia era bastante cara e na Bulgária seria bem mais barata. Encostei-me por ali a ver os comentários dos meus amigos facebookianos, que estavam a acompanhar a minha viagem. Então uns fulanos se aproximaram de mim e da minha moto!

“Fico sempre surpreendida quando alguém me vem ensinar a viajar, como se existissem fórmulas decretadas para o efeito! Mas a verdade é que dois tipos meteram conversa comigo e um foi logo criticando isto e aquilo, assim que percebeu que eu tinha planos. Eu tentei dar a conversa por terminada, mas tive de ouvir que é uma parvoíce planear muito, que o certo é ir rolando e curtindo a estrada, dormir no hotel mais perto e aproveitar a vida e tive de ver um vídeo que fez em alta velocidade (140km/h valha-me a santa, se isso é tão alto assim!)
Pois é amigo, para curtir a estrada eu não precisava de vir para a Bulgária, não faltam estradas boas em Portugal, os 40.000km que faço por ano são feitos de todas as maneiras, por todos os lados e como me apetece!
“40.000km? Ninguém faz tanto quilometro num ano!!!!” Exclamou com ar de gozo…
Claro que não, eu compro as motos já com os km feitos 😉” In Facebook

Vamos lá embora para a Bulgária que não me apetece aturar mais maluco nenhum, sobretudo malucos que me vêm ensinar a viajar, mas nunca saíram do seu país!

A perola mais encantadora que recebi foi um “ah, Portugal não é um país grande! A Grécia é muito maior, uma volta por aqui é muito mais que uma voltinha por lá!” disse o super-herói sorrindo.

“Claro que sim, mas eu estou cá neste momento e farei mais de 4.000km só para chegar lá!” – Acho que ele não tinha pensado nisso!

Sempre me sinto privilegiada quando cruzo com uma placa que aponta um país longe de minha casa. Isso fazia-me lembrar da primeira vez que passei por aquela zona, saía da Turquia na direção da Bulgária, e cruzava com uma placa que dizia “Bulgaristão” e experimentei de novo a sensação de euforia que senti da primeira vez, só por estar ali de novo!

O encanto quebrou-se quando alcancei carros em fila, parados! Mas a fronteira ainda era longe, não podia ser fila para lá! Seriam obras? Um acidente? Não me apetecia ficar ali parada, quando havia tanto espaço para ir furando!

E sim, era a fila para a fronteira, vários quilómetros de fila. A cada curva eu podia vê-la sem fim, a perder de vista na curva seguinte, até finalmente chegar verdadeiramente à portagem!

De onde vinha aquela gente toda, se no meu caminho não havia transito nenhum? Ainda pensei que fossem os milhões de istambulenhos a sair de Istambul e a virem passear para a Bulgária, já que a cidade é tão sobrelotada, mas não, eram quase todos búlgaros!

Eu sempre disse que os búlgaros passeiam para caramba!

Era a primeira fronteira física/terrestre que eu atravessava, já que até ali tinha passado fronteiras em portos. Não havia nenhuma moto na fila, apenas eu e a minha motita e, no entanto, quando chegou a minha vez a pergunta da praxe surgiu: Your friends?

Ao tempo que eu não ouvia aquilo! De alguma forma era como se me sentisse em casa!

No friends, i’m alone!

O homem, nitidamente, aproveitou para conversar um pouco e perguntou onde eu ia, eu respondi que ia visitar o seu país a caminho de casa. O seu ar de surpresa, estas a ir para casa por aqui?

Sim, todos os caminhos vão dar a minha casa, senhor, assim eu queira!

“A Bulgária recebeu-me com a maior carga de água, para lavar o lixo da moto.
Normalmente não sou muito contraditória, mas nestas coisas sou:
– Se trago o fato de chuva e não o uso, fico lixada, andei a passea-lo sem o usar!
– Se o trago e o uso, fico lixada por ter de o vestir no calor e andar por aí toda enchouriçada!
– Se o trago, chove e não o visto a ver se a chuva passa, fico lixada porque devia vesti-lo pois para isso o trouxe!
– Se o trago e o visto, porque começa a chover… fico lixada porque a chuva passa!
– Se não o trago, fico lixada comigo porque fui uma inconsciente e a qualquer momento vou levar com uma chuvada na testa!
Tão eu!!! 😀” in Facebook

É claro que segui numa corrida por ali acima até Plovdiv. Entretanto a chuva parou mas, mesmo assim, eu não perdi mais tempo. Percebi que não haveria ninguém na receção no alojamento quando chegasse. Eu já lá tinha estado uns anos antes e tinha sido muito bem-recebida. Na época cumprimentei as pessoas pelo seu acolhimento, mas desta vez não iria ter direito a nada, certamente, mas paciência.

E no entanto!

“Quanto tempo as pessoas se recordarão de nós após a nossa passagem?
A tradição ainda é o que era aqui na Old Town Plovdiv!
Estive aqui em 2016 e fui recebida com mensagem personalizada. Hoje voltou a acontecer, mas tive duas, uma na entrada e outra na porta do quarto. Depois de várias mensagens pelo Telegram, tudo estava perfeito à minha chegada. Eu adoro este hostel” in facebook

Eles lembravam-se de mim! Até o gato era o mesmo!

Cada vez que volto a uma cidade tenho em mente coisas diferentes para ver e fazer. Desta vez queia ir passar o serão à Kapana, o distrito das artes da cidade.

O alojamento fica no topo do centro histórico, a que chamam Old Plovdiv, estão é só ir descendo as ruelas empedradas e apreciando as belas casas coloridas, com debruns bonitos.

Cá em baixo atravessar a estada movimentada e lá está a Kapana!

Kapana, o quarteirão das artes!
Situado no coração de Plovdiv, lá estava o encantador bairro Kapana, um centro vibrante de criatividade e expressão artística. Um bairro que já foi repleto de oficinas de artesãos no século XV

O bairro histórico passou por uma transformação notável nos últimos anos, evoluindo para um próspero bairro artístico que atrai visitantes de perto e de longe. 

Uma das características mais marcantes de Kapana é a infinidade de murais que adornam suas paredes, cada um contando uma história única e aumentando o fascínio da área.

Caminha-se pelas suas ruas de paralelo e somos envolvidos por um ambiente pitoresco e acolhedor

Os murais pintados contribuem significativamente para esse encanto, infundindo cor e vida em cada recanto. 

Desde designs complexos que mostram o folclore local até peças abstratas que despertam a contemplação, esses murais servem como contadores de histórias visuais que cativam tanto residentes quanto turistas.

Artistas locais se reúnem para criar obras impressionantes que refletem o espírito da comunidade. Esta vibrante comunidade artística não só enriquece a paisagem cultural de Kapana, mas também desempenha um papel fundamental na formação da sua identidade como bairro eclético e dinâmico.

O charme do bairro Kapana é inegável.

O bairro é um testemunho do poder transformador da arte

Kapana tornou-se não apenas um destino de visita obrigatória, mas também um exemplo brilhante de como a criatividade pode dar nova vida aos espaços urbanos.

Jantar num ambiente único, onde a arte se fundia perfeitamente com a gastronomia, foi uma experiência fantástica. Estar cercada por murais impressionantes e elementos artísticos elevava a atmosfera a outro patamar! 

Sentei-me numa esplanada ao ar livre, coisa que sempre melhora a experiência e o humor, e permiti-me desfrutar da beleza do ambiente enquanto saboreava um prato de carne deliciosa e um copo de vinho local, bem ao meu gosto.

E pronto, depois era hora de voltar a subir as ruelas até ao alojamento, procurando fazer caminhos diferentes, que não gosto de voltar pelo mesmo caminho que fui.

Vamos lá tomar um banho e dormir que tenho uma mão para por a descansar…

22. Passeando pelos Balcãs… – Meteora… what a beautiful day!

17 de agosto de 2013

Foi por Meteora que fui ali!

Foi por ela que eu reservei 3 noites em Trikala!

“Μετέωρα, ou Meteora,, foi um dos destinos impulsionadores desta viagem! Uma sequência de mosteiros ortodoxos “pendurados” no ar, em grandes blocos de pedra que parecem sair verticalmente do chão, simplesmente deslumbrante! Desde a primeira vez que deparei com uma imagem de Meteora que eu quis cá vir. A princípio pensei que eram apenas imagens manipuladas, arte digital, daquela que faz cenários fantásticos para filmes, mas não, é mesmo real! Hoje visitei 2 mosteiros já, amanhã continuarei a explorar… acho que nunca me cansarei de fotografar isto tudo de todos os ângulos!”

Lembro-me de estar a escolher o hostel para pernoitar e encontrar aquele em que fiquei e ficar deslumbrada pelas fotos que apresentava no site. “Certamente que isto é tudo mentira, devem ter ido tirar as fotos mais abaixo para pôr aqui e só quando lá chegar é que vou ver o que aquilo é mesmo!”. O preço era demasiado baixo para me darem tanto, pensava eu!

Mas a verdade é que, mesmo de noite, quando ali cheguei, eu pressentia a presença dos enormes blocos, no escuro, logo ali! Mesmo sendo muito grandes tinham de estar suficientemente próximos para eu lhes sentir o perfil tão acima do horizonte!

O meu quarto, como todos os do hostel, não dava para um corredor interno como seria previsível, e sim para um terraço que contornava a casa. E, especialmente o meu, ficava voltado para o lado mais bonito da cidade e para o lado mais largo do terraço também, onde havia flores e cadeiras e tudo!

Quando sai a porta… Meteora encheu o meu horizonte de espanto!

A minha motita tinha-se instalado junto de uma amiga que lhe fez companhia durante as 2 noites seguintes.

Curiosamente os donos da moto não saiam nela! Diz-se de Mateora, como de outras cidades no mundo, que ela deve ser visitada a pé mas, mesmo eu andando muito a pé para visitar uma cidade, continuo a dizer que há distancias que se fazem muito melhor de moto!

É o caso ali, as estradas são boas, as paisagens são deslumbrantes, toda a montanha parece envolver-nos em qualquer ponto do percurso, depois é só parar a moto e caminhar!

E os mosteiros começam a aparecer no topo de qualquer penedo gigantesco!

Meteora, dizem que quer dizer “no meio do céu” e eu acrescentaria e “brotado da terra”!

Ali se pode encontrar o maior complexo de mosteiros cristãos, apenas superado por outro complexo religioso, também na Grécia, no Monte Atos, onde eu terei de ir um dia destes!

Na realidade, reza a história que os primeiros mosteiros se foram instalando em cavernas e reentrâncias nas rochas, lá pelo séc XI. Os monges eremitas queriam mesmo ficar longe do mundo e conseguiram-no! Na realidade eles queriam defender-se da ocupação otomana e ali ninguém os poderia alcançar!

Foram construídos posteriormente mais de 20 mosteiros e hoje 6 deles são visitáveis:

1- Megálos Metéoros (Grande Meteoro ou Mosteiro da Transfiguração),
2- Varlaam,
3- Ágios Stéphanos (Santo Estêvão),
4- Ágia Tríada (Santíssima Trindade),
5- São Nicolau Anapausas
6- Roussanou.

Destes 6 visitei 3… que aquilo de escalar escadas dá cabo das pernas à gente e no fim eles acabam por ser meio semelhantes!

Fui visitar o Grande Meteoro, fica mesmo no fim da rua e pareceu-me que não tinha de escalar muitos degraus!

Claro que me enganei, pois o facto de haver uma entrada direta da rua, não impede que se tenha de descer o monte onde estamos, para escalar aquele em que o mosteiro está!

Os monges têm “elevador moderníssimo" para entrarem diretos no mosteiro, mas é só para eles e para todas as mercadorias e tralhas que um mosteiro precisa para se manter! Nós, povo comum curioso, temos de penar para lá chegar! É justo, afinal ninguém nos chamou lá!

Antigamente este acesso direto era feito por redes grossíssimas de corda que eram içadas por roldanas desde a torre dos mosteiros, e por ali subia e descia tudo, inclusive pessoas!

É que os pilares de rocha chegam a ter quase 600 metros de atura a pique!

O mais encantador da subida é a perspetiva que se vai tendo sobre outros mosteiros, que vão aparecendo por entre as escarpas, revelando-se como visões extraordinárias! Só por isso já vale a subida!

Ao lado do Grande Meteoro fica o Varlaam, que não visitei mas que fotografei e desenhei até à exaustão!

À entrada de cada mosteiro existem saias, tipo avental, daquelas que se amarram à cintura, para as mulheres vestirem. A principio não entendi, pois se eu nem de calções estava, o que teria de tapar com as saias?

Um monge simpático só me dizia “ponha-a, é melhor!” e repetia aquilo talvez porque não sabia dizer mais! As saias até eram bonitas e frescas, nem a sentia mais depois de vestida! Eram de seda preta com bolinhas brancas! Não perdi a oportunidade de pedir a alguém que me tirasse uma foto, tinha de registar o momento “griff” da minha visita!

Lá de cima a paisagem é sempre deslumbrante, com o vale contornado pelos blocos de pedra e Trikala lá em baixo!

O mosteiro vizinho perfeitamente visível, mais abaixo, por entre pedras a pique!

Os mosteiros não são completamente visitáveis, porque estão em funcionamento, por isso há ali gente a viver, como num condomínio fechado, onde tudo se faz e muita coisa se produz!

O único sítio onde não se pode tirar fotos é nas igrejas mas, claro, a gente quando tem oportunidade sempre capta uma ou outra perspetiva da coisa, porque são muito bonitas e totalmente pintadas no interior!

Se fizessem um hotel ali o ambiente seria muito agradável e, seguramente, teria muitos hospedes!

Há no Metoron um museu com coisas militares, incluindo imagens das grandes guerras e fardas da época.

Acho sempre curioso ver fardas militares com saias! Não sei como eles se arranjavam a manobrar uma saia plissada daquelas em tempo de guerra!

O mosteiro é grande e cheio de recantos com representações religiosas em que as caras dos santos parecem todas iguais! Deviam estar sempre mal dispostos quando posavam para o mosaico!

Ali havia tudo o necessário para se viver, desde campo cultivado até cozinha perfeitamente apetrechada para cozinhar!

Com direito a ossário e tudo!
Quando vi a placa não entendi o que iria ver! Um cemitério ali?

“O Mosteiro do Grande Meteoron foi o primeiro mosteiro que visitei em Meteora! Uma construção do séc. XIV e um dos poucos que se podem visitar hoje. Desce-se do nível da rua, onde eu deixei ficar a moto, e começa-se a subir a escada encravada na rocha até ao mosteiro que fica no penhasco em frente. Foi uma sensação extraordinária entrar ali, como quem entra numa imagem há muito idealizada na cabeça! Num recanto encontrei uma placa que dizia “ossuary”! Então espreita-se pela abertura, numa porta antiga e robusta de madeira, e lá estão eles! Ossos e crânios arrumados, como livros, em estantes! Curiosa sensação estar perante tal vestígio do passado!”

Na torre pode-se visitar o local de carga e descarga, quando tudo isso se fazia por roldanas e redes de corda que tudo transportavam!

A operação tinha este aspeto vista de fora, naquele “saco” de rede subia e descia gente também!

Tudo muito bonito ali em cima, podia passar ali uns tempos sem sair, apenas a relaxar, numa estadia muito "zen", fotografando em todas as direções e desenhando todo o tempo!

Aquele padre era ortodoxo e vinha da Roménia! Toda uma camioneta de romenos andava a passear por ali comigo. Quando saímos fizeram uma festa ao encontrarem o meu meio de transporte e ainda ficaram mais contentes quando disse que iria seguir a minha viagem até à terra deles!

Até palmas bateram!

“Vais-te apaixonar pela Roménia!” diziam todos “After seeing Romania with your own eyes you will be in love with my country forever!” dizia o monge… e tinha razão!

E segui pela rua que liga todos os mosteiros visitáveis, parando aqui e ali para ver cada um nos seus melhores ângulos!

Lá de cima podem-se ver mais do que os 6 em visita, estão por todos os lados, encavalitados nas rochas que chegam a parecer dedos apontados para o céu!

Cá mais abaixo podia ver o Grand Meteoron, que acabara de visitar e o Varlaam, que fotografara vezes sem conta!

E a estrada lá em baixo, que passa por todo o lado! Pensar que quem visita os mosteiros a pé tem de a fazer subindo, indo de mosteiro em mosteiro, subir degraus e mais degraus e depois voltar caminhando, por uma infinidade de quilómetros de caminho!

Há rochas estrategicamente posicionadas onde toda a gente vai e onde toda a gente pede que lhe tirem fotos, com aquela paisagem como fundo! Tirei fotos a uma infinidade de pessoas que me pediam e, claro, aproveitei e também me tiraram a mim!

Ao fundo, por entre o limite dos rochedos, vê-se Kalabáka, a cidade mais próxima, com o Mosteiro de Agia Tríada, que serviu de cenário ao filme de James Bond, sobre a grande pedra da esquerda!

Só de olhar para ele foi-se a vontade de o visitar! Nem a fama e a história me fazia querer subir todo aquele enorme rochedo para ir lá acima… mas acabaria por me render e não partir sem lá ir, não naquele dia… mais tarde!

Naquele dia fui visitar o único mosteiro de mulheres de entre os 6, o Ágios Stéphanos.

Vestiam de negro, embrulhadas quase até aos olhos, pareciam islâmicas e eram antipáticas! Não pude evitar o sentimento de que eram mulheres “ressabiadas” mas se calhar fui injusta! Repetiram-me vezes sem conta que tinha de vestir uma saia, e eu a vesti-la! "já entendi! abre os olhos, estou a vesti-la não vês?"

O bilhete para visitar qualquer dos mosteiros é de 3€ e vale o dinheiro, se bem que devia ser descontado o esforço da subida no preço do dito!

Como as meninas eram antipáticas e nos tratavam como se fossemos usurpadores do que era seu, como se algum visitante fosse invadir o seu espaço, que afinal elas tinham posto ao dispor da nossa visita, não tive qualquer preconceito em “roubar” as fotos que quis! Elas bem berravam para toda a gente “No photo, no photo!” mas eram burras demais para perceberem que há maquinas que não usam flash e não fazem barulho, como a minha, e só chateavam os inocentes que nem faziam menção de tentar fotografar, deixando-me em paz, mais à frente!

O calor era imenso ali em cima! Cheguei a ter pena das “monjas” porque eu desmaiaria se andasse toda embrulhada em panos pretos! Até dei um desconto ao seu mau-feitio, pois se até os gatos se enfiavam dentro das fontes!

Kalabáka lá em baixo!

E foi onde fui a seguir, visitar a Igreja Bizantina da Assunção da Virgem, do séc. XI!

Sempre tive curiosidade de visitar estas igrejas e aquela estava ali, encostada à montanha, sem ninguém a enche-la de confusão!

Mais uma vez não era permitido fotografar, mas a senhora confiou que se eu tentasse fotografar ouviria a máquina…

De longe a visão de Kalabáka com Meteora sobre si é deslumbrante!

E fui para casa, que tinha todos os atrativos num dia de mais de 40º graus de calor, a começar pela paisagem e seguindo pela simpatia das pessoas!

O meu terraço tinha esta paisagem incrível!


Por isso comprei uma garrafa de vinho e uma série de bugigangas de que gosto muito e fui-me instalar no maior conforto a saborear o paraíso!

Para minha surpresa a dona do hostel “adotou-me” e trouxe-me um belo prato de fruta fresca, entre figos, melão e pêssego! Que coisa deliciosa acompanhada com um vinho da zona delicioso!

Naquele dia eu pesei-me!

Descobri uma balança no quarto e… tinha perdido 7 quilos!

Aquela viagem estava a retirar de mim mais do que devia! Eu simplesmente não podia continuar a perder tanto peso porque, naturalmente, não era gordura o que eu estava a perder! Estava no 19º dia de viagem e ninguém perde 7 quilos em 19 dias! Eu estava a perder tudo e com isso acabaria por perder também massa muscular!

Relembrei a minha alimentação nos últimos tempos e percebi que, mesmo comendo bem, não o fazia com a regularidade necessária, tinha passado dias a beber de tudo e a comer menos do que devia, porque o calor faz isso à gente!

Ficou decidido que iria comer para a mundial naquela noite, pois então!

Entardecia e eu fui subir de novo a montanha para ver aquilo tudo ao pôr-do-sol!

Os rochedos estratégicos estão sempre cheios de gente ao entardecer, não era só eu que queria ver o sol pôr-se!

Um grego, emigrante na França, andava por ali com a sua motinha e encontrava-o a cada vez que parava para ver mais um ângulo da paisagem! Falávamos em francês e voltávamos a encontrar-nos no mosteiro seguinte! Dizia ele que o português e o grego eram povos muito parecidos e que nunca vira uma moto portuguesa por ali! Voltaria a estar com ele no dia seguinte, a ver o pôr–do-sol de todos os ângulos e a partir de todos os mosteiros!

Com uma estrada daquelas quem quer andar por ali a pé?

E fui-me encher de comida, como tinha prometido a mim própria!
Voltei ao restaurante simpático onde jantara no dia anterior. Comi divinalmente com direito a tudo incluindo um ambiente supersimpático de esplanada,

e a Ninfa à porta! Que mais se pode querer da vida?

E foi o fim do 19º dia de viagem!

21. Passeando pelos Balcãs… – 4 países num dia… de Montenegro até à Grécia!

16 de agosto de 2013

E chegava o momento de seguir para um dos grandes destinos desta viagem!
Há sempre um ou dois destinos que me direcionam numa viagem, esses que ditam para que lado ir, e este era na Grécia, o que me faria atravessar 2 países para lá chegar! Por isso naquele dia eu faria quase 700 km por 4 países: Montenegro, Albânia, Macedónia e Grécia!

Embora tivesse uma longa distância para percorrer não me sentia nada preocupada nem pressionada! Há dias assim, em que o calor é mais aflitivo do que os quilómetros e aquele dia prometia ser quente de novo. Lembro-me que durante a noite molhei diversas vezes o meu lenço para limpar o rosto e o pôr sobre a cabeça, como se faz quando as pessoas têm febre, porque o calor era muito e eu sentia-me febril, mesmo com o ar condicionado ligado!

Começava a achar que nunca me livraria do sofrimento do calor e tratava mas era de me mentalizar para ele, como um tropa se prepara mentalmente para uma missão dura!

À hora que me levantei ainda apetecia andar por ali a passear, em redor do hostel, enquanto o pequeno-almoço era preparado!

O edifício é voltado para o rio, que fica do outro lado do caminho que é privado do hostel.

Constatei que andava a passear “pelo quarto de dormir” de uma série de caminhantes que dormiam ao relento, no relvado da berma do caminho do hostel! Constatei também que ali se dá guarida a todo o tipo de viajantes, entre mochileiros que dormiam ali na relva, caravanistas parqueados logo a seguir e gente como eu, muito mais comodista que preferi pagar 20€ e dormir duas noites numa cama de casal fofa, num quarto enorme, com televisão e ar condicionado!

E segui o curso do rio Moraca na direção do Skadarsko jezero, pois a fronteira com a Albânia fica lá pelo meio do lago!

Ao passear-me por ali ficava fascinada com o estado natural em que o rio se conserva, ninguém diria que estamos na capital de um país com uma paisagem destas!

E lá estava o lago Escútare ou Skadarsko jezero, o maior dos Balcãs, que é alimentado pelas águas rio Moraca e desagua no mar Adriático através de um outro rio.

A ruínha que escolhi para ir até ele era, no mínimo, original! Irregular, cheia de altos e baixos, areias e cascalho, de quando em quando, mas cheia de encanto também!

As perspetivas que ia tendo do lago eram encantadoras àquela hora da manhã, ainda com as brumas matinais a encher tudo de encanto!

A estrada nacional parecia uma autoestrada em comparação com a estradinha ziguezagueante que eu fizera!

Cheguei à fronteira da Albânia já a circular num autêntico inferno! O termómetro da moto não deixava de piscar nos 50º, o que queria dizer que não conseguia contar mais do que isso!
Eu já levava o lenço enfiado no vão do vidro para poder limpar a cara, no arranca e pára para passar a fronteira.

E o lago continua pela Albânia!

O lixo pelo chão começa logo ali, a 50 metros da fronteira, veja-se quando parei para ler o mapa do país na berma da estrada!

A estrada parecia uma reta sem fim com construções isoladas, muitas em mau estado e uma série de bombas de gasolina abandonadas, até chegar a uma cidade… uma população… um lugar, sei lá! Sei que era cheio de lixo, confusão…

A fazer lembrar uma cidade marroquina, com burros estacionadas na berma da estrada e tudo!
Nem parei, o calor era infernal, o ambiente cheio de pó e trânsito, de tal maneira que nem parei e poucas fotos tirei.

Segui para Shkodër que, apesar de ter uma “entrada” igualmente desordenada e desarranjada, tem um centro bem fofinho, perto da mesquita!

Eu estava a precisar muito de beber algo fresco e aquele ambiente foi o meu oásis!

Oh, quase me deixei desfalecer numa esplanada tão confortável, agarrada a uma enorme copada de sumo de laranja fresquíssimo!

A mesquita fica num jardim entre a zona trapalhona e a zona turística!

Foi esta cidade que deu o nome ao Lago Escútare que também é
“Skadar” “Shkodër” “Shkodra” dependendo da língua em que é pronunciado!

E segui pelos montes com o rio como paisagem!

Uma pena o lixo por todos os lados, mesmo quando não há casas por perto, ele está lá! O que destoa profundamente com a beleza das paisagens!

Parece que por aquelas terras a água tem sempre cores extraordinárias e quase irreais!

A minha ideia não era propriamente “catar” o país e sim ver como ele é, como são as paisagens, as pessoas, o ambiente! Porque se trata de um dos países mais pobres da Europa, onde grande parte da população é camponesa, e não existe muita informação sobre ele!

Encontrei ciganos, que me acenaram adeus quando parei para fotografar os seus cavalos a pastar selados, como se fossem partir a qualquer momento!

E recantos decrépitos, abandonados e cheios de lixo também…

Na berma das estradas viam-se tendinhas montadas com telhado de folhas de milho, onde miúdos assavam massaroca para vender aos transeuntes e, sobretudo, aos turistas.

Por aquela altura eu já estava morta de sede há umas horas, mas não havia nada onde comprar o que quer que fosse. Até que vi um larguinho na berma da estrada com uma fonte, onde uma série de pessoas lavava as mãos. Não resisti, dei meia volta e fui até lá, peguei na minha garrafa de água, há muito vazia e fui enche-la na fonte. Aquelas mulheres ficaram todas a olhar para mim, lavavam as mãos e a cara com sabonete que estava pousado na berma da fonte, que tinha a forma de dois golfinhos entrelaçados.
Quando olhei para a água dentro da garrafa, que desilusão, era turba!

Voltei-me para as senhoras e perguntei mais por gestos do que por palavras, se aquela água não se podia beber!
Responderam-me todas em coro “no, no, Bar, Bar!” apontando para o bar que ficava logo ali ao lado. Bolas, eu não tinha lekë, como iria pagar a água?

Fui até à moto, tratar de tirar o capacete e buscar euros a ver se conseguia comprar água! Estava eu nessa operação quando uma senhora vem do bar com uma garrafa de água gelada e ma oferece! Fiquei espantada! Fiz o gesto de quem pergunta quanto é, ela respondeu-me com um gesto amplo, com as mãos abertas, significando “nada”.

As pessoas em redor olhavam com satisfação, pelo menos sorriam para mim e para ela! Abri ali mesmo a garrafa e bebi quase metade, a água era deliciosa!

Agradeci mais uma vez, disse adeus àquelas pessoas tão simpáticas e segui o meu caminho tão satisfeita e enternecida “há gente tão boa por este mundo!”

As ruas que fiz eram pavimentadas mas parecia que tinham aluído, olhava-se de repente e não havia buraco algum, mas ao passar era necessário contornar pedaços literalmente engelhados de alcatrão!

Tal como na Bósnia vêm-se pequenos altares na berma das estradas, em honra de mortos em acidentes de viação!

Já andava atenta às estações de serviço há um bom pedaço, tentando encontrar alguma com o sinal de cartão de crédito, quando encontrei uma mandei abastecer e… quando fui pagar não aceitava cartão nenhum! Oh raios partam o azar! Claro que acabei por pagar em euros ou não sei como seria! O homem deu-me o troco em lekë, e eu que estava a sair do país fiquei com um nota para gastar!

Mais uns quantos quilómetros e estava a chegar à fronteira com a Macedónia. Bem, agora que tinha dinheiro fui mas é beber qualquer coisa antes de sair do país.

Pedi cerveja e água e ainda bem que não pedi mais nada porque um senhor que estava lá sentado numa mesa pagou tudo o que pedi! Puxa, aqueles albaneses são todos boas pessoas? Fui-me sentar numa mesa enquanto toda a gente olhava para mim com uma curiosidade simpática, já que sorriam para mim!

Ao despedir-me disse adeus a toda a gente e recebi um caloroso adeus com direito a acenos e tudo, enquanto alguns vinham até à porta ver-me partir!

Tenho de voltar à Albânia!

Logo a seguir à fronteira acaba o lixo por todos os lados!

A Macedónia foi também um país que apenas atravessei, estava demasiado calor para eu parar aqui e ali, mas deu para ver que é um país lindo que terei que visitar mais demoradamente um dia que volte àqueles lados.

Desta vez parei apenas em Ohrid, com o seu lago que prometia alguma frescura no inferno de calor que eu vinha a atravessar há horas!

Ohrid é a cidade maior na borda do lago com o seu nome. Ohrid, que em português é Ácrida, é uma cidade turística e simpática que só consegui visitar depois de parar junto ao lago e molhar os pés e as mãos e quase enfiar a cabeça dentro dele! Por momentos até a visão da água me pareceu quente, por momentos pensei que não seria capaz de me afastar dali para seguir para a Grécia. Fiquei ajoelhada na berma do cais, como os islâmicos fazem quando rezam, as mãos na água e a cabeça mais baixa que o corpo. A tensão arterial equilibrou e só então fui ver o povo, passear pelas ruas e beber algo bem fresco.

A cidade estava cheia de gente que se passeava com todo aquele calor! Nos jardins tem estátuas de tipos cabeçudos com ar de filósofos. Não consegui perceber quem eram porque a escrita deles é inteligível! Nem o abecedário é parecido com o nosso!

As pessoas comiam gelados sofregamente, eu limitava-me a carregar comigo uma garrafa de água… tenho sempre a sensação de que o gelado por ser doce me deixará ainda mais cheia de cede!

Achei curiosos os altares deles, ortodoxos, cheios de imagens e velinhas!

Quando voltei ao lago estava cheio de ondulação! Be diferente de quando eu chegara!

E voltei a enfiar os pés na água…

e deitei-me um pouco no jardim à sombra, com as pernas das calças todas molhadas e com uma enorme vontade de não me mexer nem mais um passo…

Mas o tempo iria começar a arrefecer um pouco e, animada por essa ideia, lá arranjei coragem para seguir o meu caminho até Trikala na Grécia, que ficava ainda a uma infinidade de quilómetros!

Se eu fico preocupada quando vejo uma vaca a olhar fixamente para mim, imagine-se o que sinto quando vejo uma manada a correr na minha direção!

A minha aventura com as vacas gregas apenas estava a começar! Elas lá passaram a trote por mim, o que não me impediu de parar e pôr o descanso à moto! Nunca confiar em bichos que são maiores que eu e a minha motita!

Cheguei tarde a Trikala mas, só lá é que entendi o quanto era tarde! É que eu não tinha reparado que a hora da Grécia é igual à de Istambul, o que quer dizer 2 horas mais tarde que aqui, e eu pensava que era só uma hora a mais!

Fui comer a um restaurante logo acima do hostel e fui tão bem recebida e servida que iria lá voltar nas noites seguintes.

Fui dormir, pressentindo os montes gigantescos em torno de mim. de repente a vontade que a manhã chegasse rápido era muita, mesmo sabendo que iria sofrer de novo com o calor, eu queria muito ver o que me envolvia naquele que foi um dos destinos impulsionadores desta viagem!

E foi o fim do 18º dia de viagem!

17. Passeando pelos Balcãs… – de Split até Dubrovnik , passando por Mostar

12 de agosto de 2013

O calor começou cedo em Split! Logo pela manhã começava a prometer torrar-me de novo os miolos, mas mesmo assim eu ainda me aventurei a passear um pouco!

Subi ao Monte Marjan de onde se pode ver toda a cidade.

Apenas no trajeto do Monte Marjan até à marina vi 2 carros serem rebocados! Bem, não diria rebocados, pois na realidade foram guindados na frente dos meus olhos! Um policia punha aquelas coisas de metal nas jantes e um guincho prendia nelas, erguia o carro no ar e pimba com ele em cima do reboque! Uma operação de meia dúzia de minutos que a gente quase nem sentia, na fila do trânsito!

Fiquei meio traumatizada pois nunca vira fazer tal coisa! Será que aquilo também funciona assim com as motos?

Depois vi que as motos têm tratamento vip e há sempre uns corredores para os parques por onde apenas elas podem passar sem pagar! Muito simpático! Por isso eu não seria rebocada!

E fui passear um pouco pelo centro da cidade, onde andara no dia anterior. Eu queria visitar a catedral!

A Catedral de St. Svetog Dujma é a catedral mais antiga do mundo! Inicialmente era o mausoléu do imperador Diocleciano, mas foi convertida em catedral no séc. VIII fazendo parte do palácio de Dioclesiano.

Não se podia fotografar lá dentro, por isso lá tive de roubar uns quantos enquadramentos à socapa com a minha máquina silenciosa!

A torre sineira fica ao lado da catedral e é espantosa!

Mais espantoso é vê-la por dentro e subi-la! Para minha surpresa estava um grupo de pessoas amontoadas a alguns degraus do chão, na escada que sobe em caracol, junto ao interior das paredes da torre.

Esperei, pensando que havia fila por qualquer motivo. Talvez a escada em metal não suportasse toda aquela gente de uma vez e tivéssemos de subir aos poucos, mas então aquela gente encostou-se fazendo um esforço para me deixar passar. Só então, ao subir, percebi! As pessoas tinham medo!

A torre é “esquelética” cheia de aberturas e nada que isole o interior, isto é, ao subirmos podemos ver tanto o vazio para o interior da torre, como o vazio para o exterior! Faz um efeito curioso subir assim uma aparente frágil escada no vazio! A paisagem lá de cima é deslumbrante e vale bem a subida àquele que é o símbolo da cidade! Split aos nossos pés!

Vai-se subindo e acompanhando as perspetivas da paisagem pelas inúmeras aberturas

Aberturas ao nosso lado e no ado oposto da torre.

De lá de cima temos uma imagem espantosa de 360º sobre a cidade!

Split é a segunda maior cidade da Croácia e a capital da Dalmacia. Por momentos perguntei-me se os cachorritos dálmatas não viriam de lá, afinal em francês chamam-se “dalacians”!

Então voltei a descer a torre, onde andei sozinha, apenas na descida cruzei com algumas pessoas começavam a subir, o resto permanecia lá em baixo ou desistira!

A meio da descida eu podia ver as pessoas sentadas nas beiras das janelas lá em baixo! Eheheheh

Mas ao olhar para cima era compreensível o medo e a sensação de vertigem que aquelas pessoas deviam sentir!

Uma torre muito bonita!

Depois são as ruínhas estreitas, com esplanadas por todos os cantos

até à Praça do Povo com a Torre Marina, medieval, e o monumento a Marko Marulic, o fundador da literatura croata.

Por esta altura o calor estava mesmo infernal, eu já tinha bebido uma garrafa de 1.5l de água e estava a tratar da segunda!

Saí da cidade e, antes de seguir para sul, passei por Trogir, uma cidadezinha ali ao lado muralhada e muito bonita! Um mimo criado por gregos antes de Cristo e que hoje é uma grande atração turística!

A Katedrala Lovre Sv é encantadora, numa mistura de românico e gótico com a torre a lembrar a torre da catedral de Split!

Como diz a literatura “Trogir possui 2.300 anos de tradição urbana contínua”

A lente da máquina continuava a embaciar com o calor, uma pena pois captava pormenores curiosos de uma cidade que parece de brincar!

Como o recanto dos hippies pintores. Não tenho muita vocação para hippie, mas acabo sempre por meter conversa com quem desenha ou pinta, e ali não foi exceção!

Então segui viagem, não sem parar um pouco para ver de longe a torre sineira da catedral, que sobressai do aglomerado de casinhas, por trás das muralhas!

Eu sei que o caminho pela costa é muito bonito e sei também que é o caminho mais lógico para quem vem de Split para Dubrovnik … mas nem sempre eu vou por lógicas e voltei a fazer o caminho pelo interior!

De novo a Bósnia a despertar a minha curiosidade, mesmo ali ao lado, e foi por lá que eu fui!

Aquilo quer dizer: “Rota do Vinho Herzegovina”. Deu para ver que os Bósnios são muçulmanos mas produzem bons vinhos!

É curioso passar por cemitérios nas bermas das estradas como jardins comuns, sem qualquer resguardo! Dá para ver que não são muito preocupados com isolamentos para os mortos!

E cheguei a Mostar!

Os sinais de destruição provocada pela guerra da Bósnia ainda são um pouco visíveis em edifícios na cidade moderna, mas o centro histórico está lindo, com a sua ponte e ex-libris da cidade perfeitamente reconstruida!

O centro histórico de Mostar é encantador, com as ruelas empedradas com seixos redondos a fazerem-nos cocegas nos pés, e a sua extraordinária Stari Most – a ponte velha, do séc. XVI, sobre o rio Neretva, de águas profundamente esmeralda!

Entrei na Mesquita Koski Mehmed Pasha, que fica mesmo ao lado do rio e tem uma perspetiva extraordinária sobre o rio e o centro histórico!

Para isso tive de subir ao minarete. De novo ainda bem que não sofro de vertigens nem de claustrofobia, porque aquela escadinha não é em caracol, é encaracoladíssima, de tão estreito que é o minarete!

Mas vale a pena subir!

Oh p’rá minha sombra lá em baixo na abobada da mesquita!

E lá estava o rio e a ponte!

E o casario antigo, com telhados de pedra…

Mas os meus olhos não descolavam da ponte, aquela joia lindíssima, sobre o rio esmeralda!

Tirei um milhão de fotos parecidas, simplesmente porque não se consegue evitar de olhar e captar toda aquela beleza!

E por fim lá desci. O minarete era verdadeiramente estreito, podia-se apreciar a sua elegância delgada cá de baixo!

E do jardim da mesquita ainda tirei mais uma série de fotos ao rio e à ponte, era inevitável!

E lá fui ver a ponte de perto.

Ao longe a mesquita de onde eu vira a ponte pela primeira vez!

Agora já cheia de gente, naquele espaço minúsculo, a fotografar em todas as direções como eu fizera!

Há uma tradição na cidade, em que rapazes mergulham desde a ponte para o rio, o que não é coisa fácil já que as águas do Neretva são gélidas e apenas pessoas experientes o devem fazer. Diz-se que esta tradição vem desde o séc. XVII!

Fiquei ali a olhar para a ponte um bom tempo, pensando em quem morreu ali, em quem tudo perdeu e em como tudo parece tão normal, tão pouco tempo depois da catástrofe!

A ponte foi destruída em 1993 e reconstruida por uma série de anos, inaugurada em 2004 e classificado, junto com o centro histórico, como Património Mundial da UNESCO em 2005.

Claro que fiquei ali á fresca muito bem acompanhada por uma cervejinha da terra! E sim, a cerveja Bósnia é muito boa!

Continuei a minha caminhada, com o meu lenço vermelho como apoio, pois o calor era impiedoso e eu transpirava!

A ponte estava agora cheia de mulheres sexies e eu lembrei-me do meu amigo Elísio e tirei uma foto a apanhar algumas!

Nas lojas adjacentes à ponte podem-se ver vídeos da sua destruição em 1993… a gente sabe que aquilo foi tudo abaixo, sabe que toda a zona foi arrasada e, mesmo assim, não consegue deixar de estremecer a cada investida da artilharia de fogo Sérvia e desejar intimamente “parem com isso que a ponte vai cair!” então ela cai e tudo é um monte de escombros em seu redor. É terrível esta sensação de impotência perante a estupidez humana que destrói deliberadamente uma parte da história do seu povo, uma ponte com mais de 400 anos. Hoje ela está lá, perfeita e reconstruida e olho-a com toda a admiração como símbolo de uma cidade martirizada!

 

E fui embora, pelas ruelas às pedrinhas, cheias de lojas de tudo, em que tudo parecia custar um euro!

A Mesquita Nesuh-aga Vucjakovic fica na berma da estrada com o seu cemitério cheio de “mecos” brancos de mármore, em memória de muita gente que morreu na guerra da Bósnia…

A minha motita tinha feito uma amiga italiana carregada de tralhas! Até almofadas ela tinha amarradas ao assento!

Segui em direção a Dubrovnik, por paisagens cheias de curiosidades!

Voltei a encantar-me com a Bósnia!

Até chegar aos seus 8km de praia!

Dubrovnik à vista!

Não fiz muito mais naquela noite, para alem de tomar um bom banho e me esticar de pernas para o ar, depois de um jantar feito mais de bebida do que de comida, pois o calor fora muito e estava visto que o dia seguinte me reservaria ainda muito mais…

E foi o fim do 14º dia de viagem!