8 – Passeando até à Suiça 2012 – La Haute route des Alpes – Col de la Bonette

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4 de Agosto de 2012 – continuação

A princípio a estrada é quase banal, escarpa aqui, monte ali e nada mais denuncia o que ela será mais à frente! Eu nunca tinha feito a “ponta” sul por isso tinha de ir atenta, mas a estrada é fácil de encontrar e de seguir, porque está muito bem sinalizada e, mesmo quando a gente não tem a certeza se fez a boa escolha num entroncamento, uma nova placa aparece logo à frente a desfazer as dúvidas!

Então vamo-nos afastando de Nice e vamo-nos aproximando da beleza da natureza em estado puro!

E há momentos de dilema, curtir a estrada ou apreciar os encantos da paisagem? Vou tentando fazer um pouco de tudo, tirando fotos pelo meio!

A estrada é suficiente longa para permitir um pouco de atenção a tudo o que nos vai rodeando mas, por vezes, tive de parar abruptamente porque um recanto da paisagem me prendeu pelo canto do olho!

No seculo XIX viviam nestas casas cerca de 800 soldados que defendiam a zona fronteiriça, é o Camp des Fourches. No inverno apenas um pequeno grupo de homens ficava ali isolado do mundo pela neve e só conseguiam passar de casa em casa por tuneis feitos na neve alta e densa com tabuas de madeira. Chamavam-lhes “les Dilabes Bleus” (os diabos azuis) pela sua coragem e audácia de ali ficarem e caçarem e viverem!

A estrada parece traçada nos recantos mais bonitos da cordilheira!

Há momentos em que olhamos para trás e vemos o caminho percorrido, serpenteando pelo monte acima!

Então chegamos ao cume

A estrada é mítica para ciclistas e às vezes temos a sensação de que eles sentem que ela lhes pertence! Tive de pedir para se afastarem um pouco para fotografar o “menir” que assinala o ponto máximo mas, mesmo assim, tive de gramar com as biclas lá encostadas!

Mas o encanto contínua, numa nova sequencia de curvas e encantos

A estrada continuava a serpentear por ali fora, linda!

E fui surpreendida pelo primeiro acidente da viagem. Vi as pessoas ao longe e não percebi o que se passava, até passar perto… uma moto de pernas para o ar e um casal meio em mau estado na berma… Eu não teria tirado a foto se soubesse o que se passava, mas não apanhei os feridos, o que foi menos mal…

Mais à frente fica o Forte de Tournoux encrustado no monte. É conhecido por lembrar os templos do Tibete mas, na realidade, é uma construção do fim do sec XVIII e tinha como finalidade proteger a França contra os Italianos.

Tem visitas guiadas e deve ser interessante visita-lo, mas subir todo o monte por escadas estava fora de questão!

E lá andavam os ciclistas por tão belas paisagens a pedalar

A estrada torna-se perigosa quando deixa de ser “cadenciada” por curvas e os condutores se entusiasmam com as retas, sem pensarem que, depois de uma reta há sempre uma curva!

Depois há momentos em que ela parece uma linha num bolso, de tanta volta que dá sobre si própria!

E quanto mais voltas dá mais bonita é a paisagem!

E cheguei a Briançon, onde passaria a noite.

Briançon pertence ao Departamento dos Altos-Alpes e é a cidade mais alta de frança e a segunda mais alta da Europa, depois de Davos na Suíça.

Porque fica ali tão perto da Itália é uma cidade bastante fortificada, com uma cidadela cheia de interesse e edifícios classificados pela Unesco.

Fui para o hotelzinho, onde rapidamente a minha motita arranjou uma filinha de amigas!

Comi uma pizza divinal e brinquei um pouco com a minha máquina, que as nuvens acima da montanha estavam inspiradoras!

Fim do sexto dia de viagem!

6 – Passeando até à Suiça – de Montpellier até Nice… cheia de receios!

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3 de Agosto de 2012

O hotelzinho onde fiquei era muito simpático e o patrão estava mesmo preocupado se eu tinha quem me ajudasse com a moto, senão ele mesmo encontraria um stand da Honda para me levar lá!

Mas não foi preciso, o meu amigo Charles Formosa lá estava à hora marcada, mais a sua Pan, para me acompanhar ao senhor doutor!

Ao princípio a minha motita engasgou um pouco, mas depois parecia que nada se tinha passado no dia anterior! E eu acompanhei o Charles sem qualquer dificuldade!

De repente parecia que iria ver as entranhas à minha moto todos os dias!

E tudo para ouvir a mesma coisa! A moto não tinha nada! Tudo funcionava como um relógio, nem dava para perceber que era uma moto com tantos quilómetros!

Mas a minha preocupação mantinha-se! Que adiantava que ela não tivesse nada na frente de toda a gente se, mal se visse sozinha comigo, começasse a falhar de novo?

Não sabia o que fazer, se seguir para a frente, e continuar a viagem, se voltar para trás e acabar com as inseguranças! E diz-me o “manda-chuva” do stand: “Vá para a frente sem medo! Afinal vai andar em países civilizados, a qualquer momento se a moto falhar, chama a assistência em viagem e vai para casa, não sem antes ter feito pelo menos parte da viagem!”

O Charles era da mesma opinião, aliás ele reforçava a sua ideia de que a Magnífica chegaria ao fim da viagem sim senhor! E eu lá fui…

Já não é a primeira vez que eu tenho planos para explorar a zona da Provença e algo me impede de faze-lo! Começo a pensar que tenho de lá ir direta com a única finalidade de a catar de ponta a ponta ou acho que nunca a conseguirei ver como quero!

Ainda dei umas voltas pela zona industrial de Montpellier e pela entrada da cidade a ver se algo acontecia enquanto estava perto da oficina…

Nada aconteceu, era como se ontem nada tivesse acontecido!

Então apanhei a via-rápida e fui por ali fora cheia de cautelas, como evitar permanecer na faixa de ultrapassagem, pois a moto podia engasgar de vez e deixar-me no meio da rua!

Mas nada disso aconteceu…

Eu não gosto de viajar por autoestradas nem vias-rápidas, por isso acabei por sair em Aix-en-Provence…

A moto estava normal mas eu não me aventurei muito pelo centro! Apenas passei e segui o meu caminho junto ao Mont de Saint Victoire, o monte que Sezanne tanto pintou quando ali viveu!

Não tinha vontade de parar, nem de ver nada, apenas chegar a Nice e ter a certeza que a moto estava bem e que não me abandonaria! A Provença? Não faltarão oportunidades para eu a catar de ponta a ponta!

Cheguei a Nice e enfiei-me na pousada de juventude, que por acaso era bem divertida e com uma paisagem bem bonita!

Fiquei ali a conversar com uns e com outros, pois toda a gente ficava, primeiro surpreendida por eu estar ali de moto, depois por a moto estar partida! Ofereceram-me cerveja, e tive um serão de horas de paleio!

E foi o fim do 5º dia de viagem, com direito a comida japonesa e muita conversa!

4 – Passeando até à Suiça – de Jaca até Andorra la Vella

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1 de Agosto de 2012

Normalmente é ao 3º dia que o corpo se habitua definitivamente à sua nova condição de viajante! Sim, que o hábito de um ano não chega até ao outro! É também no 3º dia que eu começo verdadeiramente a sentir-me em viagem!

Há uma leve euforia que se apodera de mim e que, de repente me faz querer ver tudo, por ruas e ruelas, até ao sol se pôr!

Ora eu acordei em Jaca, perto de tanta coisa para ver e a montanha ali ao lado, que comecei por um destino que pretendia conhecer há já algum tempo!

Depois da voltinha matinal por Jaca, em que o forte estava fechado mas a catedral não!

Um edifício lindíssimo a Catedral de San Pedro de Jaca, que é uma das mais antigas construções românicas do país!

Com o “casco antíguo” em seu redor.

Fui até ao Monasterio de San Juan de la Peña, uma construção belíssima encravada por baixo de uma grande rocha, que é afinal todo um monte!

Quem o vê nas fotos parece pequenito, quase uma construção à dimensão de crianças!

Na realidade não é muito grande mas é bem maior do que o que parece!

É uma construção fantástica, anterior à nossa nacionalidade

Que cresceu adaptando-se à forma e ao espaço cedido pelo penhasco

O claustro é uma obra extraordinária que facilmente nos faz pensar no quanto era importante um espaço destes para meditação!

Pequenino e fofinho que parece também ele de brincar!

Diz a lenda que o Santo Graal esteve guardado neste mosteiro por muito tempo!

Aliás, segundo as lendas o Santo Graal “passou” em diversos mosteiros espanhóis!

E lá está ele, encolhido por baixo da escarpa, desde o séc. XI, espantoso!

Depois de uma infinidade de tempo a cuscar todos os recantos do Mosteiro, deixei-me ir passeando pelos Pirenéus, que ali não faltam paisagens bonitas, nem é preciso procura-las!

As estradas de montanha são sempre fascinantes de fazer, embora por andarmos perto das nuvens corremos o risco de enfiar a cabeça nelas!

Sobe-se e encontram-se mais terrinhas!

Há sempre um Col à nossa espera! Ainda bem que eu fiz o Col de Marie Blanque no dia anterior com sol, porque as nuvens cobriam-no quando voltei a passar e aquelas estradas têm piada se a gente as vir!

Claro que a névoa também pode dar um certo ar de mistério às situações, porque lá mesmo no local sentia-se isso também!

Já não é a primeira vez que passo no Château de Mauvezin, um castelo medieval com origem lá pelo séc. XI, mas ainda não foi desta que o fui visitar por dentro!

Pelo menos desta vez aproximei-me mais um pouco que o costume, mas como só faço o que me apetece… não me apeteceu entrar!

Também vi lá ao fundo Sainte-Bernard de Comminges, mas só tirei fotos, não me aproximei! Também sabe bem apreciar os conjuntos históricos de longe, por vezes a gente luta para chegar perto, com trânsito e ruelas e de perto não tem qualquer interesse!

E cheguei a Saint Béat, uma terrinha na borda do rio Garonne, um rio cheio de coisas que eu quero ver! Um dia destes vou fazer um Passeando pelo Garonne, já prometi à minha nova motita!

Não é uma daquelas terrinhas de visita obrigatória, mas quando a gente passa é simpática para se parar um pouco!

Mais à frente Luchon, de que ouvira vários motards falarem… não tem outro interesse senão as esplanadas, o movimento das pessoas e mais esplanadas… cada qual gosta do que gosta !

E engrenei pelo Vale d’Arán que é muito bonito e se pode visitar repetidamente pois os seus encantos não têm fim!

Tudo o que sobe tem de descer, e há descidas fantásticas! Pena é a plantação de postes por aqueles lados que arruína grande parte da beleza do local!

O que eu gosto da montanha!

E é no meio das montanhas que fica Andorra la Vella. A Pousada de Juventude fica mesmo na encosta, a gente sobe, sobe e pronto, é lá em cima!

Depois foi descer, descer e vir cá abaixo comer! eheheh

Ali lembrei-me que o meu amigo Elísio me pediu fotos com vacas com maminhas grandes por isso tirei uma foto aquela vaquinha « classe » !

Andorra é muito mais calma à noite e até tem perspetivas giras para se fotografar !

E fui dormir, que amanhã era outro dia com tantas coisas bonitas para ver e fazer !

Fim do terceiro dia de viagem!